IMPACTO DO USO DE TELAS EM EXCESSO NA SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS DE 6 A 10 ANOS NO BRASIL: UMA BREVE REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502031352


Branco, Cândida Kerli de Andrade Castelo[1]
David, Giovanna Fernandes[2]
Salgueiro, Nathagna Tayná Pereira[3]
Fonseca, Nathiele Almeida[4]
Oliveira, Wélio Madeira[5]
Tourinho, Luciano de Oliveira Souza[6]


RESUMO 

Introdução. O uso excessivo de telas por crianças de 6 a 10 anos tem gerado preocupações sobre seus impactos na saúde mental e no desenvolvimento social e cognitivo. Estudos mostram que o tempo prolongado em dispositivos eletrônicos pode estar associado a transtornos como ansiedade, insônia, irritabilidade e dificuldades de regulação emocional. Além disso, a exposição excessiva pode reduzir o tempo destinado a atividades essenciais, como brincadeiras, interações sociais presenciais e sono, afetando o desenvolvimento de habilidades como memória, criatividade e linguagem. (Nobre et al., 2021). Para mitigar esses efeitos, é fundamental estabelecer limites no tempo de tela, priorizar conteúdos educativos e incentivar atividades que promovam interações sociais e bem-estar físico. Recomendações de órgãos oficiais, como o Ministério da Saúde, incluem restringir o uso a até duas horas diárias, evitando dispositivos nos quartos e adiando a posse de smartphones. O tema reforça a necessidade de ações conjuntas entre pais, educadores e profissionais de saúde para assegurar o desenvolvimento saudável das crianças. Objetivos. O presente estudo tem por objetivo investigar como o uso excessivo de tela/celulares impacta a saúde mental, o desempenho social e o desempenho acadêmico de crianças de 6 a 10 anos, considerando a influência de fatores familiares, escolares e socioeconômicos no Brasil, a fim de identificar padrões, desafios e possíveis estratégias de mitigação dos efeitos negativos e, como objetivos específicos, analisar a relação entre o tempo de uso excessivo de celulares e a incidência de transtornos de saúde mental, como ansiedade e déficit de atenção, em crianças de 6 a 10 anos; avaliar o impacto do uso excessivo de celulares no desempenho acadêmico das crianças, considerando aspectos como concentração, participação em sala de aula e resultados escolares; examinar a influência do uso de celulares nas habilidades sociais das crianças, incluindo interação com colegas, familiares e professores; investigar o papel da supervisão parental no uso de celulares e seus efeitos sobre a saúde mental e o desempenho acadêmico das crianças; identificar como práticas pedagógicas e políticas escolares podem mitigar ou intensificar os efeitos do uso excessivo de celulares no ambiente educacional; explorar as diferenças no impacto do uso de celulares em crianças de contextos socioeconômicos variados, considerando fatores como acesso à tecnologia e alternativas de lazer; propor estratégias e recomendações para pais, educadores e formuladores de políticas públicas que promovam um uso mais equilibrado e saudável de celulares por crianças. Justificativa. O estudo é importante socialmente devido ao aumento de transtornos de saúde mental entre crianças, ajudando a entender o impacto do uso excessivo de tecnologia. Cientificamente, visa analisar como isso afeta o desenvolvimento infantil e oferecer orientações a pais e educadores sobre o uso equilibrado da tecnologia, protegendo a saúde mental. Além disso, investiga a influência do uso de celulares na concentração e aprendizado, com o objetivo de preservar o desempenho acadêmico e promover práticas saudáveis no ambiente digital e social. Metodologia. Trata-se de uma revisão narrativa de literatura, com abordagem descritiva e qualitativa, sem sistematização dos resultados. Para isso, utilizou-se bases de dados online nacionais e internacionais Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), U.S National Library os Medicine (PubMed), e Google Acadêmico. A pesquisa tem por objetivo investigar como o uso excessivo de celulares impacta a saúde mental, o desempenho social e o desempenho acadêmico de crianças de 6 a 10 anos no ensino fundamental I, considerando a influência de fatores familiares, escolares e socioeconômicos no Brasil, a fim de identificar padrões, desafios e possíveis estratégias de mitigação dos efeitos negativos. Resultados/discussão. Com tal pesquisa de dados espera-se encontrar como o uso em excesso de aparelhos celulares e tela tem impactado e alterado comportamentos de crianças. Desse modo, será possível compreender os aspectos social, acadêmico e familiar envolvidos, além de embasar poderes para implementação de estratégias que norteiam a conduta familiar e de escolas, garantindo que o uso orientado e supervisionado não atrapalhe na formação pessoal, profissional e permita cuidado com a saúde mental. Conclusão. Este estudo busca entender o efeito do uso excessivo de celulares e telas na saúde mental de crianças de 06 a 10 anos. Assim, entre o término de 2024 e 2025, serão recolhidas informações sobre o tema de forma atual e com o suporte científico necessário para tornar essa pesquisa eficaz e validada. Em seguida, essas pesquisas serão estruturadas em texto e divulgadas em uma revista científica no ano de 2025.

Palavraschave: Saúde Mental. Uso de celulares. Desempenho Acadêmico. Ansiedade.

ABSTRACT 

Introduction. The excessive use of screens by children aged 6 to 10 years has raised concerns about their impacts on mental health and social and cognitive development. Studies show that prolonged time on electronic devices can be associated with disorders such as anxiety, insomnia, irritability, and difficulties with emotional regulation. In addition, excessive exposure can reduce the time allocated to essential activities, such as play, face-to-face social interactions, and sleep, affecting the development of skills such as memory, creativity, and language. (Nobre et al., 2021). To mitigate these effects, it is essential to set limits on screen time, prioritize educational content, and encourage activities that promote social interactions and physical well-being. Recommendations from official bodies, such as the Ministry of Health, include restricting use to up to two hours a day, avoiding devices in bedrooms and postponing the possession of smartphones. The theme reinforces the need for joint actions between parents, educators and health professionals to ensure the healthy development of children. Goals. The present study aims to investigate how excessive use of screens/cell phones impacts the mental health, social performance and academic performance of children aged 6 to 10 years, considering the influence of family, school and socioeconomic factors in Brazil, in order to identify patterns, challenges and possible strategies to mitigate the negative effects and,  as specific objectives, to analyze the relationship between the time of excessive use of cell phones and the incidence of mental health disorders, such as anxiety and attention deficit, in children aged 6 to 10 years; evaluate the impact of excessive cell phone use on children’s academic performance, considering aspects such as concentration, classroom participation and school results; examine the influence of cell phone use on children’s social skills, including interaction with peers, family members, and teachers; to investigate the role of parental supervision in the use of cell phones and its effects on children’s mental health and academic performance; to identify how pedagogical practices and school policies can mitigate or intensify the effects of excessive use of cell phones in the educational environment; explore the differences in the impact of cell phone use on children from different socioeconomic backgrounds, considering factors such as access to technology and leisure alternatives; propose strategies and recommendations for parents, educators and public policy makers that promote a more balanced and healthy use of cell phones by children. Justification. The study is socially important due to the increase in mental health disorders among children, helping to understand the impact of excessive technology use. Scientifically, it aims to analyze how this affects child development and offer guidance to parents and educators on the balanced use of technology, protecting mental health. In addition, it investigates the influence of the use of cell phones on concentration and learning, with the aim of preserving academic performance and promoting healthy practices in the digital and social environment. Methodology. This is a narrative literature review, with a descriptive and qualitative approach, without systematizing the results. For this, national and international online databases Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), U.S National Library of Medicine (PubMed), and Google Scholar were used. The research aims to investigate how the excessive use of cell phones impacts the mental health, social performance and academic performance of children aged 6 to 10 years in elementary school, considering the influence of family, school and socioeconomic factors in Brazil, in order to identify patterns, challenges and possible strategies to mitigate the negative effects. Results/discussion. With such data research, it is expected to find how the excessive use of cell phones and screens has impacted and changed children’s behaviors. In this way, it will be possible to understand the social, academic and family aspects involved, in addition to supporting powers for the implementation of strategies that guide family and school conduct, ensuring that guided and supervised use does not hinder personal and professional training and allows mental health care. Conclusion. This study seeks to understand the effect of excessive use of cell phones and screens on the mental health of children aged 6 to 10 years. Thus, between the end of 2024 and 2025, information on the subject will be collected in a current way and with the necessary scientific support to make this research effective and validated. Then, this research will be structured in text and published in a scientific journal in 2025.

Keywords: Mental health. Use of cell phones. Academic Performance. Anxiety.

1 INTRODUÇÃO

A expansão do uso de telefones móveis e telas entre crianças de 6 a 10 anos no Brasil tem suscitado questionamentos sobre as consequências dessa exposição exagerada na saúde mental. Pesquisas indicam que o uso contínuo de aparelhos móveis pode estar associado a distúrbios como ansiedade, déficit de atenção e problemas de socialização, além de afetar o crescimento emocional e cognitivo. No ambiente escolar, o uso do telefone móvel pode favorecer o aprendizado ou comprometer a atenção e o rendimento escolar. Neste contexto, surge a pergunta: de que maneira o uso excessivo de telas/telefones afeta a saúde mental e o rendimento social e acadêmico de crianças, levando em conta aspectos familiares, escolares e socioeconômicos no Brasil? 

Este estudo visa auxiliar e suscitar questões acerca das intercorrências que acontecem em crianças que estão expostas a telas digitais e que afetam o seu crescimento socioemocional, analisando a relação entre tempo de tela em dispositivos móveis e transtornos de ansiedade e TDAH no Brasil. A inspiração para discutir este tema também vem da necessidade de abordar o tema, considerando que estamos cada vez mais imersos em computadores, tablets, smartphones, televisões, entre outros, tendo o estudo como objetivo fundamentar-se através da pesquisa bibliográfica. Esses aparelhos digitais de comunicação permanecerão conosco para sempre e, ao longo do tempo, sempre se aprimoram e se atualizam conforme as necessidades. No entanto, a conexão entre a tecnologia e crianças tem se intensificado nos tempos modernos.

 A ausência de controle parental sobre o uso de celulares pode intensificar os impactos negativos na saúde mental e no desempenho social e escolar das crianças. Essa falta de supervisão está frequentemente associada à redução do tempo dedicado a interações sociais, brincadeiras físicas, sono e outras atividades essenciais ao desenvolvimento saudável. Além disso, crianças que utilizam celulares por longos períodos enfrentam maior dificuldade de concentração e apresentam menor desempenho acadêmico em comparação àquelas que possuem um tempo de uso limitado e supervisionado. 

Outro fator relevante são as condições socioeconômicas: crianças provenientes de contextos mais vulneráveis tendem a ser mais expostas ao uso excessivo de celulares devido à escassez de alternativas de lazer e à falta de supervisão adequada, o que pode agravar os impactos negativos na saúde mental e social. Em relação à importância social, a pesquisa é motivada pelo aumento da prevalência de distúrbios de saúde mental em crianças. Isso possibilita entender como o uso excessivo de tecnologia afeta questões mentais, sendo crucial para incentivar intervenções precoces e estratégias preventivas. No âmbito científico, a pesquisa tem como objetivo auxiliar na avaliação do impacto do tema no desenvolvimento infantil, auxiliando na elaboração de políticas educacionais mais eficientes. Além disso, oferece subsídios para capacitar pais, responsáveis e educadores a lidar de maneira saudável com o uso da tecnologia, balanceando os benefícios e os perigos.

 O estudo apresenta um caráter acadêmico, pois permite identificar como o uso de celulares influencia a concentração, o aprendizado e a interação em sala de aula, impactando diretamente o rendimento escolar, visto como o alicerce do desenvolvimento infantil. O objetivo é prevenir práticas danosas ao desenvolvimento e criar estratégias que possibilitem o equilíbrio de comportamentos infantis, tanto no ambiente digital quanto social, incentivando a saúde mental. 

A pesquisa busca compreender a influência de fatores familiares, escolares e socioeconômicos sobre esses efeitos, com a finalidade de identificar padrões, desafios e estratégias eficazes para mitigar os possíveis impactos negativos. Para atingir esse objetivo amplo, foram delineados objetivos específicos que detalham os aspectos fundamentais a serem explorados. O primeiro foco é analisar a relação entre o tempo excessivo de uso de celulares e a incidência de transtornos de saúde mental, como ansiedade e déficit de atenção, em crianças dessa faixa etária. Outro ponto central é avaliar como o uso prolongado de dispositivos afeta o desempenho acadêmico, considerando fatores como concentração, participação em sala de aula e os resultados escolares.

Além disso, pretende-se examinar o impacto do uso de celulares nas habilidades sociais das crianças, especialmente na interação com colegas, familiares e professores. Nesse contexto, a pesquisa também investigará o papel da supervisão parental, verificando como o controle exercido pelos pais influencia os efeitos sobre a saúde mental e o desempenho acadêmico. Identificar como as práticas pedagógicas e políticas escolares podem atuar na mitigação ou intensificação dos efeitos do uso excessivo de celulares no ambiente educacional é um dos objetivos específicos do estudo.

 Para ampliar o entendimento, será explorada a influência das condições socioeconômicas, avaliando como o acesso à tecnologia e as alternativas de lazer variam entre diferentes contextos e afetam os resultados observados.

Por fim, a pesquisa buscará propor estratégias e recomendações direcionadas a pais, educadores e formuladores de políticas públicas, com o intuito de promover um uso mais equilibrado e saudável dos celulares, assegurando o desenvolvimento integral e o bem-estar das crianças. Esse conjunto de objetivos específicos contribui para uma abordagem abrangente e fundamentada, capaz de gerar resultados relevantes tanto para a academia quanto para a sociedade.

  Várias pesquisas indicam prejuízos cognitivos e linguísticos ligados ao uso excessivo de telas na primeira infância, período crucial para a estruturação estrutural e a plasticidade cerebral, especialmente em crianças menores. Em geral, a postura das crianças em relação às telas é passiva. 

Por causa do uso excessivo de aparelhos eletrônicos, as relações familiares passam por mudanças significativas. A interação e a socialização familiar diminuíram consideravelmente, e os pais, que são os principais mediadores entre a criança e os estímulos do ambiente, foram substituídos pelas telas (PETRI, 2020). A presença dos pais nesse estágio de desenvolvimento cognitivo do filho é crucial para que possam intermediar o processo, tornando-o seguro, saudável e adequado (BRITO, 2018).

Entre as várias gerações que já utilizavam telas, as crianças do século XXI são conhecidas como “nativas digitais”. Desde o nascimento, as crianças estão em contato indireto com uma cultura dominada pelas tecnologias. Ao longo do crescimento, desde os primeiros meses de vida, as telas se tornam cada vez mais presentes, sendo introduzidas pelos pais e se tornando essenciais na formação do “novo brincar” (TOMÁS, 2019).

No estudo “Fatores determinantes no tempo de tela de crianças na primeira infância”, Nobre et al (2019) examinam o período total que a criança passa diante de todas as telas, incluindo a televisão e as mídias interativas. O estudo, disponível no site da Scielo, é transversal, descritivo e exploratório, conduzido com 180 crianças de 2 a 4 anos, divididas em Grupo 1 (para exposição à tela inferior a duas horas diárias) e Grupo 2 (para exposição à tela de duas a quatro horas diárias). 

Nobre et al (2019) investigam em seu estudo “Fatores determinantes no tempo de tela de crianças na primeira infância” o tempo total pelo qual a criança permanece exposta a todas as telas, incluindo televisão e mídias interativas. A pesquisa que foi encontrada no site da Scielo é transversal, descritiva e exploratória, realizada com 180 crianças de 2 a 4 anos de idade, separadas em Grupo 1 (para exposição à tela inferior a duas horas/dia) e Grupo 2 (exposição à tela igual/superior a duas horas/dia). Nobre et al (2019) realizaram uma análise bivariada e de regressão logística binária. Os fatores determinantes no tempo de tela analisados foram os recursos do ambiente familiar, investigado por meio do Inventário de Recursos do Ambiente Familiar; fatores socioeconômicos; estado nutricional e status do desenvolvimento infantil.

Cada vez mais cedo, as crianças estão tendo acesso a aparelhos como telefones celulares, smartphones, laptops e computadores. Isso acaba prejudicando as atividades ao ar livre e a magia do brincar, além do convívio com outras crianças. De acordo com a pesquisa TIC KIDS ONLINE BRASIL 2019 (Estudo sobre o Uso da Internet por Crianças e Adolescentes no Brasil), em 2019, 89% da população de 9 a 17 anos fazia uso da internet, o que representa aproximadamente 24 milhões de crianças e adolescentes. Desses, 95% utilizavam o celular como meio de acesso à internet.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou o documento com o objetivo de prevenir os principais problemas resultantes do uso impróprio das tecnologias digitais e promover hábitos saudáveis nesses novos recursos entre a população pediátrica. Neste, são reunidas diretrizes adequadas para as diversas idades, definindo limites e a exigência de mediação e supervisão competente de um adulto responsável durante a utilização de telas como meio de entretenimento.

De acordo com Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, em seu livro “A fábrica de cretinos digitais”, os aparelhos tecnológicos impactam gravemente o desenvolvimento de crianças e jovens. O escritor declara em sua obra que os filhos nascidos na era digital são os primeiros a apresentar um QI inferior ao dos pais. Depois de milhares de anos de progresso, a humanidade está agora em declínio cognitivo e nas habilidades intelectuais, devido à exposição excessiva a telas.

Durante seus primeiros anos de vida, a estrutura cerebral da criança sofre mudanças significativas até cerca dos três anos. Neste estágio, seu crescimento acelera devido à neuroplasticidade, a habilidade do sistema nervoso de se adaptar ao longo do crescimento, alcançando um peso de 70% até o terceiro ano de vida. Ao nascer, a criança ainda tem o cérebro em desenvolvimento e não tem as habilidades necessárias para se autogerir, necessitando, portanto, dos pais para se desenvolver. O desenvolvimento cerebral se intensifica nos três primeiros meses de vida, impulsionado por estímulos externos e interações interpessoais. É nesse período que as sinapses se multiplicam rapidamente, formando conexões e ampliando o conjunto de habilidades variadas da criança (CRESPI; NORO; NÓBILE, 2020).

A criança é um ser em processo de humanização, portanto, é essencial desenvolver atividades pedagógicas que estimulem a criatividade. Diversos teóricos do campo reconhecem que o processo necessário para o desenvolvimento da imaginação está ligado a uma série de interações com o que a criança deseja aprender. De acordo com as ideias de Moreira (1999), é a fonte que gera um ponto de vista, um universo irreal, onde as fantasias retratam a realidade.

Desde o século 21, os progressos tecnológicos se aceleraram exponencialmente, estamos em uma era onde a tecnologia é essencial em todas as circunstâncias e instantes. A comodidade de possuí-la e poder carregá-la transforma viagens familiares, refeições, momentos de diversão e interação, pois o telefone móvel e o tablet são dispositivos que acompanham as crianças, absorvendo grande parte de sua atenção (SOUZA, 2019).

Desde o nascimento, já são apresentados e expostos a momentos em frente às telas, o que os qualifica como uma geração conhecida como “nativos digitais” (CANAAN; RIBEIRO; PAOLLA, 2017). 

O assunto deste estudo foi escolhido levando em conta sua atualidade e importância para refletir sobre a infância no futuro. O objetivo não é condenar a tecnologia ou tentar excluí-la da vida das crianças, mas destacar a relevância do uso responsável e com conteúdo apropriado para cada idade. Atualmente, nota-se que a utilização de telas não é muito monitorada por pais e tutores. Isso ocorre porque, frequentemente, os adultos acreditam nos efeitos benéficos das telas ou devido a contextos socioculturais sensíveis (MAZIERO; RIBEIRO; REIS, 2016). Portanto, é bastante desafiador manter as crianças dentro dos limites estabelecidos pela AAP quando os pais também se envolvem em períodos de tela excessiva (NOBRE et al., 2021)

Os filhos não são responsáveis pelo uso de aparelhos eletrônicos – os principais fatores para esses altos índices são o acesso facilitado e a ausência de orientação dos pais. Os pais não conseguem guiar seus filhos devido à escassez de informações sobre o tema ou até mesmo à facilidade de controlar o comportamento infantil através das mídias. Portanto, o objetivo desta revisão literária foi contribuir para a disseminação de conhecimento sobre o tema, tanto destacando a necessidade de mais informações sobre o tema, quanto alertando os adultos sobre a relevância de reconsiderarmos nossa relação com a tecnologia e a forma como a disponibilizamos para as crianças. Destaca-se a relevância de abordar o tema no cotidiano, para sensibilizar sobre um uso tão automático nos dias de hoje. É responsabilidade dos adultos responsáveis supervisionar o uso e o consumo das crianças em frente às telas, já que é um elemento que se tornou crucial para a proteção da infância.

Abrantes e Almeida (2018) indicam que as crianças que crescem em uma cultura dominada pela tecnologia tendem a substituir facilmente o brincar criativo, ao ar livre e a interação social pelo uso de telas. Nascidas após 2010, são conhecidas como “geração alpha”, crianças que nasceram em um mundo avançado e cresceram em meio à tecnologia, sentindose confortáveis com ela. Esta geração atual tem abandonado as atividades sensoriais e interativas, portanto, atividades como correr, pular, imaginar e trocar experiências com outras crianças estão ficando para trás. Ao longo dos anos, a tendência é que as brincadeiras se atualizem e as crianças passem a interagir mais com brinquedos eletrônicos e tecnológicos. Os pais, na agitação do dia agitado, acabam utilizando esses aparelhos como forma de entreter os filhos, ou para prevenir que eles causem bagunça, chorem e se desesperem em espaços públicos (MAZIERO; RIBEIRO; REIS, 2016).

Atualmente, antes mesmo de serem alfabetizados, os indivíduos já experimentam a “alfabetização digital”, memorizando gestos, expressões faciais, sons e vários outros elementos usados para assegurar a interação com os recursos e aplicativos disponibilizados nas telas dos dispositivos digitais (SOUSA, 2017). Przybylski e Weinstein (2017) constataram que o uso diário de telas cresceu de forma constante com a idade, enquanto Hinkley et al. (2019) alcançaram resultados semelhantes: em sua pesquisa, a cada ano adicional, o tempo de tela aumentou em média nove minutos por dia.

Essas tecnologias presentes no contexto social/cultural também se manifestam nas escolas, gerando “novas dinâmicas de ensino/aprendizagem” (ALONSO, 2008, p. 749 citado por ALMEIDA, 2018) e lançando “desafios significativos para a educação e seus principais participantes” (DEMO, 2009, p.3, citado por ALMEIDA, 2018).

Nesse contexto, Cury (2014), um pesquisador com vinte anos de experiência na formação de pensamentos, esclarece que, por causa de um mecanismo conhecido como Síndrome do Pensamento Acelerado – SPA, ativado pelo excesso de estímulos (atividades, brinquedos, publicidade, uso de smartphones, videogames, TV e informações escolares), jovens e crianças “não formulam suas experiências que envolvem perdas e frustrações” (CURY, 2014, p. 118). De acordo com Cury (2014), “as crianças necessitam de infância, desenvolver, estruturar, aprofundar suas emoções, colocar-se na posição do outro, refletir antes de agir, tranquilizar a mente; caso contrário, desenvolverão emoções instáveis, insatisfeitas, irritadas, intolerantes à contrariedade e, é claro, hiperpensantes”.

Em virtude da vulnerabilidade e sensibilidade do cérebro em formação, sugere-se que a tecnologia seja limitada nos primeiros anos. A Organização Mundial da Saúde faz um apelo para que os pequenos sejam estimulados de outras formas que não seja por meio das telas. Jogos interativos, alterações na posição do bebê durante o dia e exercícios físicos realizados pelos pais ou responsáveis promovem um desenvolvimento saudável, postergando também a introdução da tecnologia que pode ocorrer aos cinco anos (MAZIERO; RIBEIRO; REIS, 2016).

De acordo com o manual da Organização Mundial da Saúde (2019), o tempo livre pode ser usado para leituras, contação de histórias e momentos em que a criança é estimulada pelos pais, resultando assim na troca de carinho e afeto entre ambos. O uso excessivo de ferramentas tecnológicas contribui para a privação do sono, já que as crianças passam muitas horas diante das telas, seja durante o dia ou à noite. Esta prática impacta o descanso e a criança começa a demonstrar cansaço, desânimo, além de ser afetada cognitivamente, apresentando problemas de concentração e, consequentemente, uma diminuição no desempenho escolar. 

Mougharbel e Goldfield (2020) observaram que meninas pré-adolescentes que passam muito tempo na frente do computador exibem níveis mais elevados de sintomas depressivos, ao passo que esses sintomas são mais brandos ou até inexistentes nos meninos. Os escritores propõem que as meninas são mais afetadas pela cobrança de padrões de beleza inatingíveis, pois acabam se comparando e se depreciando com base no que observam na internet. Esses dados se referem a meninas um pouco mais velhas do que a idade analisada neste estudo, no entanto, considerou-se relevante abordar o tema, pois ainda não há dados suficientes para estudos mais aprofundados sobre esses efeitos em crianças do sexo feminino. Sugere-se a realização de estudos para ampliar a compreensão sobre o efeito do conteúdo das redes sociais nas crianças, especialmente nas meninas, visto que elas são cada vez mais jovens expostas a padrões de beleza extremamente prejudiciais à saúde. 

Alguns estudos (OSWALD et al., 2020; MOUGHARBEL; GOLDFIELD, 2020 e HINKLEY et al., 2018) identificam o sono como um fator crucial para o bem-estar das crianças. Oswald et al. (2020) observaram que o sono insuficiente, juntamente com a ausência de exercício físico e menos interações sociais, foi visto como um dos fatores mais prejudiciais ao bem-estar das crianças. Simultaneamente, Mougharbel e Goldfield (2020) identificaram uma ligação entre sono insuficiente, tempo de tela e fatores que afetam o bem-estar infantil. Ver televisão teve uma correlação inversa com a quantidade e a qualidade do sono infantil (HINKLEY et al., 2018), uma vez que crianças que assistem televisão à noite tendem a dormir mais tarde do que o recomendado. 

A ausência de sono suficiente e de boa qualidade pode afetar a habilidade da criança de manter a calma, afetando sua habilidade de ser cordial e emocional, aspectos cruciais para o desenvolvimento de competências sociais (HINKLEY et al., 2018). O sono inadequado impacta negativamente a saúde humana. Os Transtornos do Sono e Vigilância têm como fatores ambientais a irregularidade no horário de descanso. Qualquer desequilíbrio causa uma mudança. (APA, 2014, disponível em 21 de janeiro. de 2025). Segundo Santos e Barros (2017, acesso em 15 de janeiro de 2025), o isolamento social é uma das maiores questões do século XXI e se apresenta como um dos fatores de risco para o surgimento de distúrbios depressivos. Os dispositivos eletrônicos estimulam a dependência do indivíduo, que se afasta do mundo real, gastando tempo e energia desproporcionalmente no universo virtual.

A geração Alpha se distingue pela desconexão com o mundo real. As crianças que utilizam telas se deparam com um universo fantástico que as atrai, fazendo com que parte delas se concentre exclusivamente nele. Isso geralmente resulta em problemas de relacionamento interpessoal, especialmente na família. (EISENSTEIN; ESTEFENON, 2011, consulta realizada em 15 de janeiro. de 2025). Em nossa sociedade, as atividades recreativas estão seriamente ameaçadas pelos interesses e ideologias das classes dominantes e pela escassez de tempo dedicado às crianças. Assim, é responsabilidade dos pais, da escola e dos educadores incentivar a brincadeira infantil, contribuindo para a formação de memórias significativas na infância. Ao brincar, não apenas assimilamos conteúdos escolares, mas também aprendemos sobre a vida e os variados sentimentos e experiências que ela nos proporciona.

Colman e Proença (2020) concordam que, com o avanço acelerado da tecnologia, pais e filhos estão cada vez mais envolvidos com aparelhos eletrônicos. Eles afirmam que “não podemos negar que habitamos um universo midiático e que as novas gerações são criadas em meio às tecnologias”.

Conforme Jordão (2016), a tecnologia está impactando cada vez mais a vida das gerações mais jovens. Impactando de duas maneiras, trazendo vantagens e desvantagens. De acordo com esse escritor, no passado, cada geração durava aproximadamente 25 anos, mas nos últimos 50 anos observou-se uma diminuição do tempo entre uma geração e outra. Atualmente, já é possível falar de uma nova geração a cada década.

A geração Alpha, que inclui as crianças da primeira infância, surgiu em um cenário global onde as tecnologias emergentes estão consideravelmente mais avançadas do que há dez anos. Essas crianças são extremamente curiosas, inteligentes e antenadas em tudo ao seu redor; provavelmente terão o mais alto nível educacional de todas as gerações; iniciarão seus estudos mais cedo; serão as pioneiras na implementação de um novo sistema educacional, mais personalizado e híbrido (online e offline), centrado na independência do estudante e no aprendizado, fundamentado em projetos para aprender através de situações do dia a dia; e terão o maior conhecimento tecnológico já registrado (JORDÃO, 2016).

O ambiente familiar é a base e os pais servem como referências para a criança. Nos primeiros anos de vida, a criança depende inteiramente dos pais, necessitando que estes proporcionem um ambiente propício para seu crescimento (SILVA; SANTOS, 2018). Câmara et al. (2020), em um estudo realizado com 52 pais atendidos na Clínica de Educação para Saúde em Tocantins, relatam que 47% da amostra proporciona e compartilha momentos de lazer com seus filhos, sendo que apenas 30% planejam passeios e atividades recreativas.

Conforme Souza (2019), é crucial escolher momentos de diversão em família, mesmo que a criança ainda tenha um grande interesse por aparelhos eletrônicos. É crucial preservar os primeiros anos de vida e oferecer experiências com estímulos apropriados, para que a tecnologia seja introduzida no momento certo e apropriado para a criança.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura, com abordagem descritiva e qualitativa, sem sistematização dos resultados. Para isso, utilizou-se bases de dados online nacionais e internacionais Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), U.S National Library os Medicine (PubMed), e Google Acadêmico. A pesquisa tem por objetivo investigar como o uso excessivo de celulares impacta a saúde mental, o desempenho social e o desempenho acadêmico de crianças de 6 a 10 anos, considerando a influência de fatores familiares, escolares e socioeconômicos no Brasil, a fim de identificar padrões, desafios e possíveis estratégias de mitigação dos efeitos negativos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

  O progresso tecnológico e o acesso cada vez maior a aparelhos móveis têm levantado questões acerca dos efeitos do uso excessivo de telas na saúde mental infantil. Pesquisas recentes apontam que crianças entre 6 e 10 anos, que estão em pleno desenvolvimento cognitivo e emocional, são especialmente suscetíveis aos impactos negativos dessa exposição prolongada. Entre as principais questões encontradas, destacam-se o crescimento de sintomas de ansiedade, insônia, irritabilidade e problemas na gestão das emoções (Recien, 2021).

 A literatura também indica que a utilização exagerada de telas pode afetar o progresso cognitivo e as competências sociais das crianças. Estudos indicam que a exposição contínua a aparelhos eletrônicos pode diminuir o tempo destinado a atividades cruciais para o crescimento saudável, como jogos ao ar livre, interações sociais presenciais e a prática de esportes, atividades ao ar livre, interações sociais presenciais e um sono restaurador. Isso pode levar a falhas na memória, na criatividade e na habilidade de solucionar problemas, além de retardamentos no progresso da linguagem (Jornal USP, 2022). 

 O Ministério da Saúde brasileiro recomenda o uso de telas por crianças de 6 a 10 anos por até uma a duas horas por dia, sempre sob supervisão e dando preferência a conteúdos educativos. Ademais, deve-se evitar o uso de aparelhos nos quartos. Manter o uso de smartphones até uma idade mais avançada e postergar a aquisição até uma idade mais avançada são táticas que podem reduzir os efeitos adversos (Ministério da Saúde, 2023). 

A nova geração de crianças tem acesso a dispositivos de tela desde muito cedo. Apesar de a televisão continuar sendo o meio mais prevalente durante a infância (Nobre et al., 2021), o uso de dispositivos móveis interativos, como tablets e smartphones, também se tornou bastante comum na vida de bebês e crianças (Hiniker, Radesky, Livingstone, & Blum-Ross, 2019).  

Gerenciar a influência das telas é um desafio contemporâneo para as famílias, uma vez que esses dispositivos se tornaram parte integral do dia a dia de adultos e crianças, captando o interesse delas desde os primeiros anos de vida. Com frequência, as telas são empregadas para acalmar os pequenos (Kabali et al., 2015; Radesky, Peacock-Chambers, Zuckerman, & Silverstein, 2016), como ferramentas educacionais ou para entreter as crianças enquanto os responsáveis desempenham suas atividades profissionais e domésticas. Por outro lado, estudos revelam que mães e pais manifestam preocupações sobre os efeitos dessa exposição precoce, sentindo-se muitas vezes culpados pelo consumo excessivo de tecnologia na vida dos filhos (Bentley, Turner, & Jago, 2016).

Diversas abordagens teóricas dentro da psicanálise enfatizam a importância crucial dos primeiros anos de vida e das interações iniciais para o desenvolvimento das crianças (Nobre et al., 2021). De um modo geral, a psicanálise sublinha que os cuidados recebidos pelo recémnascido durante essa fase inicial são essenciais para a formação de sua saúde mental, caracterizando-se como um período fundamental para a sua estrutura psíquica. Durante esses primeiros momentos, é esperado que o cuidador adote uma atitude de adaptação proativa às demandas do bebê, o que só é possível através de uma relação autêntica e interpessoal (Bentley, Turner, & Jago, 2016). Isso requer que o cuidador principal esteja presente, tanto física quanto emocionalmente, para reconhecer, acolher e interpretar os sinais enviados pela criança. 

Portanto, autores contemporâneos da psicanálise enfatizam a relevância de não usar as telas de forma acidental, especialmente nos primeiros anos de vida, período em que se dá início ao processo de formação da personalidade (Jerusalinsky, 2017, Guedes 2020). De acordo com Guedes (2020), o uso precoce de telas pode privar os bebês do que mais necessitam: a interação com um ser humano que tenha significado para eles e que os alimente da experiência de falta e diferença.

Neste contexto, pesquisas identificaram ligações entre a exposição excessiva a telas na infância e problemas cognitivos e linguísticos, problemas de autorregulação (Cerniglia, Cimino, & Ammaniti, 2020) e comportamento sedentário e sobrepeso (Guedes, 2020).

No entanto, esses resultados negativos também podem estar ligados a elementos como a condição socioeconômica, o sedentarismo e uma alimentação inadequada além da redução de outras atividades cruciais para o desenvolvimento infantil, como atividades físicas, interação social com colegas e um bom sono (Ashton & Beattie, 2019).

Outras investigações sugerem que a utilização cuidadosa de dispositivos móveis interativos, que possibilitam o toque na tela e a interação do usuário com o conteúdo, pode trazer benefícios para o desenvolvimento cognitivo, linguístico e motor das crianças (Anderson & Subrahmanyam, 2017; Nobre et al., 2020); Contudo, tais possíveis vantagens dependem do tempo de utilização e da idade da criança, do tipo de conteúdo exposto, sem tem acompanhamento parental e qual finalidade (Nobre et al., 2021). 

Conforme Frizzo (2022), as pesquisas sobre o impacto das telas na infância inicialmente enfatizavam a relação entre o tempo de uso e os resultados no desenvolvimento infantil. No entanto, atualmente, a literatura indica que essa questão é bastante complexa, considerando não apenas o tempo de uso, mas também fatores como o tipo de conteúdo visto, uso passivo ou ativo, segurança digital e a mediação de um adulto. Por outro lado, Tandon (2021) destacam a importância de mais pesquisas que utilizem várias amostras em delineamentos de alta qualidade, capazes de apoiar intervenções e diretrizes efetivas no uso de telas na infância.

No entanto, apesar dos achados de pesquisas indicando danos às telas no desenvolvimento infantil, algumas diretrizes têm sido estabelecidas e divulgadas em diretrizes de organizações de saúde (American Academy of Pediatrics (AAP), 2016; Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), 2019). 

Normalmente, as organizações de pediatria aconselham que bebês evitem o contato com telas durante os dois primeiros anos de vida, e que crianças de 2 a 5 anos evitem passar mais de uma hora por dia diante de dispositivos eletrônicos. A SBP, em 2019, sugere que crianças de 6 a 10 anos sejam expostas a, no máximo, uma a duas horas diárias, sob a supervisão dos pais.

Embora essas orientações sejam recomendadas, estudos indicam que a utilização de telas nos primeiros anos de vida é comum, e sua introdução ocorre de maneira precoce. Hiniker et al., 2019).

É importante destacar que o uso de telas na infância aumentou consideravelmente durante a pandemia de covid-19 (Tandon, 2021), incluindo a exposição de crianças pequenas para a execução de tarefas escolares. Este crescimento pode estar ligado a potenciais danos, como indicam os achados de algumas pesquisas. Ademais, houve um aumento considerável na temperatura corporal das crianças, resultando em reações cognitivas desadaptativas, preconceito e um aumento na impulsividade. A situação se torna ainda mais complexa, já que 90% das crianças e adolescentes no Brasil participam desse grupo, utilizando as telas como principal fonte de entretenimento (YouTube, jogos, entre outros) (NOBRE et al., 2021). 

Por exemplo, Frizzo (2022) observaram que o uso contínuo de mídias digitais durante a pandemia resultou, de acordo com a visão dos pais, na dependência de crianças de 3 a 6 anos em relação aos aparelhos móveis, impactando seu processo de socialização, sua cognição e seus comportamentos. Por outro lado, a pesquisa de Tandon, Zhou, Johnson, Gonzalez, & Kroshus (2021) revelou que crianças que se envolveram mais tiveram um desempenho escolar superior, se destacando em relações com atividades físicas.

Estudos complementares sugerem que muitos cuidadores desconhecem as diretrizes das associações de pediatria sobre o uso de telas na infância e não recebem orientação de profissionais da saúde sobre o assunto (Pretorius, 2019). No entanto, mesmo o acesso a tais informações pode não ser o bastante para promover mudanças nas práticas educacionais dos filhos. Por exemplo, segundo a pesquisa de Brown e Smolenaers (2018), muitos pais concordaram com a recomendação de não expor os bebês com menos de dois anos às telas, mas viram isso como um grande desafio para sua execução.

Dessa forma, este artigo pretende compreender como o uso de telas na infância vem sendo abordado por especialistas para investigar como o uso excessivo de tela/celulares impacta a saúde mental, o desempenho social e o desempenho acadêmico de crianças de 6 a 10 anos, considerando a influência de fatores familiares, escolares e socioeconômicos no Brasil, a fim de identificar padrões, desafios e possíveis estratégias de mitigação dos efeitos negativos.

4 CONCLUSÃO

  Neste trabalho, abordamos o uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças, destacando os impactos psicológicos desse comportamento. Com base nas descobertas de estudos recentes, foi observado que crianças estão expostas precocemente a esses dispositivos, o que pode levar a consequências negativas para seu bem-estar psicológico. Além disso, essa realidade pode influenciar negativamente o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, reduzindo oportunidades de interação social e aprendizado no mundo real. 

No entanto, durante a análise desses estudos, foram identificadas algumas lacunas importantes. Primeiramente, a necessidade de estudos longitudinais que acompanhem o desenvolvimento das crianças ao longo do tempo em relação ao uso de dispositivos eletrônicos, permitindo uma compreensão mais completa dos efeitos a longo prazo. 

Além disso, embora os estudos tenham enfatizado o papel dos pais na regulamentação do tempo de tela, é importante investigar estratégias eficazes que os pais podem adotar para promover um uso saudável de dispositivos eletrônicos por seus filhos. Também é crucial desenvolver e avaliar intervenções específicas para abordar problemas relacionados ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças. 

Ao analisar os efeitos digitais e/ou midiáticos que podem afetar, o investigador deve levar em conta que tanto o progresso quanto o aprendizado podem ser intensificados e prejudiciais se utilizados de maneira desregrada. Portanto, é essencial a realização de uma pesquisa. A escola, em parceria com a família, tem a responsabilidade de educar e orientar as crianças de 6 a 10 anos, cuidando do seu bem-estar, para que não substituam a brincadeira e a infância pelo tempo gasto em frente às telas. A questão em discussão não se restringe apenas à saúde, mas também tem origem em um campo distinto, a preocupação social, que afeta toda a sociedade. Os riscos aos quais as crianças estão sujeitas e os desafios da “geração digital” constituem questões que ainda precisam ser consideradas. Para futuras pesquisas, sugere-se a realização de estudos longitudinais que explorem mais profundamente os impactos a longo prazo do uso excessivo de dispositivos eletrônicos em crianças. Além disso, faz-se necessário desenvolver estudos que lancem um olhar cuidadoso sobre as melhores práticas para a implementação de programas de intervenção que abordem problemas relacionados ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos. Por fim, é essencial continuar a pesquisa sobre o equilíbrio entre o uso de dispositivos eletrônicos e as interações do mundo real, buscando promover um desenvolvimento psicológico saudável em crianças em nossa sociedade moderna.

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[1] Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.

[2] Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.

[3] Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.

[4] Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.

[5] Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.

[6] Titulação. Professor orientador. Docente do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.