IMPACTO DO TRATAMENTO DA DISBIOSE INTESTINAL NA EVOLUÇÃO CLÍNICA DA ALOPECIA ANDROGENÉTICA: ESTUDO DE CASOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506180504


Juliana Santos Amaral
Danilo da Silva Chequito
Orientadora: Profa Dra Aline Francielle da Silva dos Santos


RESUMO 

Este estudo observacional analisou a influência do tratamento da disbiose intestinal como  estratégia complementar no manejo da alopecia androgenética. Seis voluntários participaram de  um protocolo capilar padrão, sendo três deles submetidos, adicionalmente, à investigação clínica  e à modulação da microbiota intestinal. Os resultados demonstraram que os indivíduos que  trataram a disbiose apresentaram melhora clínica significativa em comparação àqueles que  realizaram apenas o protocolo capilar. A análise descritiva reforça a importância do eixo intestino pele na saúde capilar e aponta para a necessidade de abordagens terapêuticas integrativas. 

Palavras-chave: Alopecia androgenética, Disbiose intestinal, Eixo intestino-pele, Terapias integrativas, Microbiota. 

1. INTRODUÇÃO 

A alopecia androgenética (AGA) é a forma mais prevalente de perda capilar progressiva  em homens e mulheres, caracterizada pela miniaturização dos folículos pilosos sob influência  genética e hormonal, especialmente androgênica. Tradicionalmente considerada uma condição de  base endócrina, inflamatória e hereditária, novas investigações apontam para a influência de  fatores sistêmicos, como o estado imunológico, o estresse oxidativo e, mais recentemente, o  estado da microbiota intestinal como modulador da saúde capilar (Trüeb, 2009; Patel & Sharma,  2021). 

O intestino humano hospeda trilhões de microrganismos que exercem funções cruciais na  digestão, imunorregulação, produção de vitaminas, metabolismo hormonal e modulação da  inflamação. A ruptura desse ecossistema — conhecida como disbiose intestinal — tem sido  implicada em uma ampla gama de doenças crônicas inflamatórias, incluindo condições  dermatológicas como acne, rosácea, dermatite atópica, psoríase e, mais recentemente, distúrbios  relacionados à saúde do couro cabeludo e dos folículos pilosos (Salem et al., 2018; Eppinga et  al., 2021). 

A literatura emergente sobre o eixo intestino-pele propõe que há comunicação bidirecional  entre o trato gastrointestinal e o sistema tegumentar por meio de mediadores imunológicos, metabólitos bacterianos, neuropeptídeos e citocinas. Alterações na microbiota intestinal podem  promover permeabilidade intestinal aumentada (“leaky gut”), liberando endotoxinas e  promovendo inflamação crônica de baixo grau, com efeitos sistêmicos que impactam  negativamente tecidos periféricos, como a pele e o couro cabeludo (Eloe-Filho et al., 2023). 

Além disso, a disbiose compromete a absorção de nutrientes fundamentais para a síntese  proteica e regeneração tecidual — como ferro, zinco, vitamina B12, biotina, vitamina D,  magnésio e ácidos graxos essenciais — todos já implicados na fisiopatologia da queda capilar e  na desaceleração do ciclo de crescimento folicular (Rossi et al., 2020). 

Paralelamente, crescem os estudos clínicos e empíricos que apontam que a modulação da  microbiota intestinal, por meio de probióticos, prebióticos, simbióticos, compostos bioativos e  ajustes dietéticos, pode gerar efeitos positivos na recuperação capilar e na resposta aos  tratamentos tópicos e injetáveis tradicionais. Pesquisas experimentais demonstram que cepas  específicas de Lactobacillus e Bifidobacterium têm capacidade de modular a inflamação  periférica e estimular a regeneração epitelial, além de impactar positivamente a barreira cutânea  (Kang et al., 2021). 

Neste cenário, a proposta de integrar o tratamento da disbiose intestinal aos protocolos  convencionais de alopecia representa uma fronteira promissora e ainda pouco explorada da  ciência capilar. Este estudo clínico observacional tem como objetivo avaliar os impactos dessa  abordagem integrativa, comparando a resposta terapêutica entre indivíduos que receberam  exclusivamente o protocolo capilar e aqueles que, adicionalmente, passaram por modulação  intestinal orientada por exames laboratoriais e prescrição médica personalizada. 

2. OBJETIVOS 

2.1 Objetivo Geral 

Investigar os efeitos da modulação da microbiota intestinal sobre a resposta clínica ao  tratamento capilar em pacientes com alopecia androgenética, avaliando se a abordagem  integrativa potencializa os resultados terapêuticos tradicionais.

2.2 Objetivos Específicos 

  • Comparar a evolução clínica entre indivíduos tratados exclusivamente com protocolo  capilar e aqueles submetidos à associação com tratamento da disbiose intestinal;
  • Avaliar a adesão terapêutica e a percepção subjetiva dos pacientes em ambos os grupos;
  • Descrever os protocolos de suplementação, exames laboratoriais e intervenções tópicas  utilizados; 
  • Analisar os resultados clínicos por meio de classificação semiquantitativa e documentação  fotográfica seriada. 

3. METODOLOGIA 

3.1 Tipo de Estudo 

Trata-se de um estudo clínico observacional, longitudinal e comparativo, com abordagem  quantitativa descritiva e caráter exploratório. A investigação foi realizada em ambiente de estágio  supervisionado, entre fevereiro e maio de 2025, envolvendo pacientes com diagnóstico de  alopecia androgenética submetidos a protocolo terapêutico estético e funcional. 

3.2 Participantes 

Foram incluídos seis voluntários adultos, de ambos os sexos, com histórico compatível  com alopecia androgenética e ausência de doenças autoimunes do couro cabeludo. Os  participantes foram divididos em dois grupos: 

  • Grupo 1 (n=3): submetidos ao protocolo capilar convencional + avaliação médica  completa + tratamento da disbiose intestinal com base em exames laboratoriais;
  • Grupo 2 (n=3): submetidos exclusivamente ao protocolo capilar, sem suporte clínico médico nem suplementação. 

Todos os participantes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido.

3.3 Protocolo Capilar 

Aplicado a ambos os grupos, o protocolo incluiu: 

  • Microagulhamento quinzenal com Dermapen (1 mm) associado à aplicação de ativos  fitoterápicos manipulados; 
  • Laserterapia com capacete de luz vermelha (680 nm) durante 10 minutos por sessão;
  • Alta frequência com pente capilar condutor por 10 minutos; 
  • Home care diário, com uso de shampoo e tônico capilar fitoterápico contendo óleos  essenciais e extratos vegetais (aloe vera, alecrim, menta, tea tree, entre outros). 

3.4 Tratamento da Disbiose (Grupo 1) 

O grupo submetido à modulação intestinal foi atendido pela médica especialista Dra.  Daniela Borges Leal (CRM 183529-SP), que realizou anamnese detalhada e solicitou exames  laboratoriais, incluindo: 

  • Hemograma, ferro sérico, zinco, vitamina D3, vitamina B12, biotina, ferritina, TSH, T4  livre, PCR, cálcio iônico, testosterona total, vitamina E, vitamina A, entre outros;
  • Testes intestinais: permeabilidade intestinal, teste respiratório de hidrogênio (H2) e  antibiograma fecal. 

A prescrição seguiu um plano em duas etapas: 

Etapa 1 (30 dias): 

  • Probióticos multicepas (Biointestil); 
  • Fibra alimentar composta (psyllium, goma guar, inulina, betaglucana, simeticona);
  • Nitazoxanida 500 mg (por 3 dias); 
  • Corebiome® (ácido butírico microencapsulado); 
  • Vitamina D3 (10.000 UI/dia).

Etapa 2 (30 dias): 

  • Simbióticos (repetição do probiótico); 
  • Ácido fólico + Vitamina E; 
  • Sulfato ferroso; 
  • Nova dose de vitamina D (4.000 UI); 
  • Manutenção com Biointestil. 

3.5 Avaliação de Desfechos 

A resposta clínica foi analisada por meio de documentação fotográfica padronizada (antes  e após cada mês de tratamento) e categorizada em três níveis: 

  • 0 = sem resposta clínica visível; 
  • 1 = melhora discreta (aumento de densidade leve ou localizada); 
  • 2 = melhora significativa (densidade visivelmente aumentada em regiões acometidas). 

Todos os participantes foram acompanhados ao longo de quatro meses de intervenção, e  a sequência das etapas terapêuticas seguiu um protocolo integrativo estruturado, descrito no  Fluxograma 1.

Figura 1 – Fluxograma do protocolo integrativo proposto para o  tratamento da alopecia androgenética

4. Resultados 

Participaram deste estudo seis voluntários adultos, com idades entre 30 e 65 anos (média  = 46,1 anos; DP = 13,2), sendo três do sexo feminino e três do sexo masculino. Todos os  participantes aderiram corretamente ao protocolo capilar, que incluiu sessões quinzenais de  microagulhamento, laserterapia, alta frequência e uso domiciliar de shampoo e tônico  fitoterápico. A principal variável que distinguiu os dois grupos foi a realização ou não da  investigação médica e modulação da disbiose intestinal

4.1 Caracterização dos grupos 

  • Grupo 1 (n=3): voluntários que receberam o tratamento capilar padrão combinado com  consulta médica, exames laboratoriais e suplementação personalizada para correção da  disbiose intestinal. 
  • Grupo 2 (n=3): voluntários que receberam exclusivamente o tratamento capilar, sem  suporte médico, exames ou suplementação intestinal. 

4.2 Avaliação da resposta clínica 

A resposta ao tratamento foi analisada com base em registros fotográficos padronizados  e relatos técnicos, classificados de forma semiquantitativa: 

  • 0 = sem resposta clínica; 
  • 1 = melhora discreta; 
  • 2 = melhora significativa. 

O Grupo 1 apresentou melhora significativa em todos os casos, com média de  resposta clínica de 2,0 (DP = 0,0). No Grupo 2, observou-se melhora discreta em apenas um  caso e ausência de resposta nos demais, com média de 0,66 (DP = 0,58).

4.3 Comparação entre os grupos

4.4 Representação gráfica dos dados 

Os gráficos comparativos a seguir ilustram visualmente a superioridade clínica do grupo  que recebeu a intervenção integrativa: 

  • Adesão Total ao Tratamento (%): ambos os grupos com 100% de participação  protocolar; 
  • Voluntários com Melhora Visível (%): todos os participantes do Grupo 1 apresentaram  evolução clínica perceptível, enquanto apenas um do Grupo 2 demonstrou resposta;
  • Resposta Clínica Média: diferença marcante entre os grupos, sugerindo o impacto  positivo da modulação intestinal. 

Esses achados indicam que, mesmo com protocolos capilares idênticos, a inclusão do  tratamento da disbiose intestinal pode representar um fator decisivo na obtenção de resultados  clínicos mais expressivos e consistentes em pacientes com alopecia androgenética (Tabela 1). 

Tabela 1: Dados clínicos e resposta ao tratamento dos participantes. Resumo das características  dos voluntários e dos resultados clínicos após a intervenção.

O Grupo com suporte médico e intervenção intestinal (V01–V03) apresentou melhora  visual evidente, com aumento da cobertura capilar e densidade, confirmado pelas fotos clínicas (Figura 2). O Grupo sem suporte médico (V04–V06) apresentou resposta modesta ou mínima,  com persistência de rarefação, apesar da aplicação capilar semelhante.

Figura 2 – Evolução clínica de pacientes com alopecia androgenética submetidos a  tratamento capilar associado à modulação da disbiose intestinal. As imagens ilustram os  resultados de três participantes (V01, V02, V03), com melhora visível na densidade e  distribuição capilar após quatro meses de tratamento integrado. Observa-se crescimento de  novos fios, preenchimento de áreas de rarefação e restauração parcial da linha frontal,  evidenciando a eficácia da abordagem combinada com suporte nutricional e simbiótico.

Todos os participantes receberam protocolos capilares baseados em microagulhamento,  laserterapia e cuidados domiciliares. No entanto, apenas os participantes do grupo 1 (V01–V03)  foram submetidos a investigação de disbiose intestinal e receberam suporte médico com  suplementação personalizada e simbióticos. 

A análise das fotos clínicas demonstrou uma evolução capilar visivelmente superior no  grupo com intervenção intestinal, evidenciada pelo aumento da densidade, regularização da linha  frontal e reversão parcial das áreas de rarefação.  

Já o grupo 2 (V04–V06), que não realizou investigação ou tratamento da disbiose,  apresentou respostas clínicas discretas ou ausentes, mesmo seguindo protocolo capilar semelhante (Figura 3). 

Figura 3: Avaliação clínica de pacientes com alopecia androgenética tratados exclusivamente  com protocolo capilar, sem intervenção intestinal. As imagens mostram os resultados dos  participantes V04, V05 e V06 após quatro meses de tratamento tópico convencional. Observa-se  resposta limitada, com manutenção de áreas de rarefação e apenas discreto aumento na espessura  ou número de fios. A ausência da modulação intestinal pode ter influenciado negativamente a  resposta clínica, sugerindo que a atuação sobre o eixo intestino-pele representa um diferencial  relevante no manejo da alopecia androgenética.

Esse achado sugere fortemente a contribuição da modulação da microbiota intestinal como  coadjuvante fundamental no tratamento da alopecia androgenética. Esses dados são consistentes  com estudos recentes, como os de Ghoreschi et al. (2021) e Rodrigues et al. (2022), que reforçam  a conexão entre microbiota intestinal, inflamação perifolicular e metabolismo de hormônios  androgênicos. 

5. DISCUSSÃO 

A alopecia androgenética (AGA) é uma condição dermatológica multifatorial que  acomete uma proporção significativa da população mundial, afetando cerca de 50% dos homens  e até 40% das mulheres ao longo da vida (Alonso & Bárbara, 2020). Classicamente atribuída à  ação de andrógenos sobre folículos geneticamente predispostos, a AGA passou a ser considerada  nos últimos anos como um reflexo de processos sistêmicos mais amplos, incluindo inflamação  crônica de baixo grau, estresse oxidativo e desequilíbrios nutricionais (Trüeb, 2009; Ho et al.,  2023).

O presente estudo observacional reforça a tese de que o tratamento da AGA pode ser  otimizado quando associado a estratégias sistêmicas, especialmente aquelas voltadas à modulação  da microbiota intestinal. Os resultados obtidos indicam que pacientes submetidos ao tratamento  da disbiose intestinal apresentaram melhora clínica mais consistente e precoce, mesmo quando  submetidos ao mesmo protocolo capilar que os demais participantes. Esses dados fortalecem a  hipótese de que a saúde intestinal desempenha papel central na fisiopatologia e na resposta  terapêutica da alopecia. 

A literatura científica contemporânea destaca o papel do chamado eixo intestino-pele,  uma rede de comunicação neuroimunoendócrina entre o trato gastrointestinal e o sistema  tegumentar. Disbiose intestinal, caracterizada por redução da diversidade microbiana e  proliferação de bactérias oportunistas, tem sido associada a diversas dermatoses inflamatórias,  como dermatite atópica, acne, rosácea e psoríase (Salem et al., 2018; De Pessemier et al., 2021).  Mais recentemente, a alopecia androgenética também passou a ser incluída nesse espectro de  condições com potencial conexão microbiana. 

Estudos demonstram que a disbiose promove aumento da permeabilidade intestinal  (“leaky gut”), facilitando a translocação de lipopolissacarídeos (LPS) bacterianos para a  circulação, o que ativa vias inflamatórias sistêmicas, como NF-κB e TNF-α, com repercussões  em tecidos periféricos, inclusive nos folículos capilares (Eppinga et al., 2021; Shreiner et al.,  2015). Tais mediadores inflamatórios podem comprometer a fase anágena do ciclo capilar,  favorecendo a miniaturização dos fios. 

Além do impacto inflamatório, a disbiose compromete a biodisponibilidade de nutrientes  essenciais para a saúde capilar. Vitaminas como B12, biotina, ácido fólico, além de minerais como  ferro, zinco, selênio e magnésio, dependem da integridade da microbiota e da mucosa intestinal  para adequada absorção (Rossi et al., 2020; Scharschmidt et al., 2017). A deficiência desses  micronutrientes está bem estabelecida como fator agravante ou desencadeador da queda capilar. 

Em contrapartida, estudos com intervenções probióticas têm demonstrado que cepas  específicas de Lactobacillus e Bifidobacterium são capazes de modular a inflamação sistêmica e  melhorar a função da barreira intestinal. Kang et al. (2021) demonstraram que a administração  oral de Lactobacillus reuteri em modelos murinos levou ao aumento da densidade capilar e à maior expressão de marcadores de crescimento folicular. Outro estudo, conduzido por Levkovich  et al. (2013), mostrou que simbióticos combinados restauraram a função imune cutânea em  modelos de dermatite. 

A vitamina D, incluída no protocolo dos participantes deste estudo, também exerce papel  duplo como nutriente essencial e como regulador imune. Sua deficiência é amplamente  documentada em pacientes com alopecia, e sua reposição pode restaurar a expressão do receptor  de vitamina D nos queratinócitos da papila dérmica, contribuindo para a reativação do ciclo  anágeno (Gilhar et al., 2013; Richey et al., 2022). 

Os resultados do presente estudo estão em consonância com essas evidências. Todos os  participantes que realizaram a intervenção intestinal apresentaram melhora significativa na  densidade capilar, enquanto aqueles que não receberam suporte metabólico mostraram resposta  parcial ou ausente. A diferença entre os grupos não pode ser atribuída à adesão, pois todos os  participantes seguiram corretamente o protocolo capilar. 

Esse achado sugere que o microambiente sistêmico — incluindo fatores nutricionais,  metabólicos e imunológicos — pode ser determinante para o sucesso dos tratamentos tópicos. Em  outras palavras, o mesmo protocolo capilar aplicado em diferentes contextos fisiológicos pode  produzir desfechos clínicos totalmente distintos.A ciência translacional tem avançado na  compreensão das vias moleculares envolvidas na regeneração folicular. Fatores de crescimento  como IGF-1 e VEGF, citocinas como IL-6 e TNF-α, além do papel do sistema endocanabinoide  no folículo piloso, são todos modulados por sinais originados no intestino e na microbiota (Aguh  & Schweiger, 2022; Ramasamy et al., 2021). 

Do ponto de vista clínico, a abordagem proposta neste estudo representa uma mudança de  paradigma: a alopecia androgenética não é apenas uma condição localizada, mas sim um reflexo  de desequilíbrios sistêmicos que afetam a pele como órgão terminal. O tratamento integrado,  portanto, deve considerar a saúde intestinal como componente central da saúde capilar. 

Estudos clínicos controlados com maior amostragem e tempo de acompanhamento  poderão validar os achados aqui descritos. Ainda assim, a reprodutibilidade das respostas clínicas no Grupo 1, a coerência biológica com os mecanismos descritos e a segurança do protocolo  aplicado conferem robustez aos resultados. 

Também é importante considerar a segurança e a individualização dessas intervenções. O  tratamento da disbiose deve ser guiado por avaliação médica, com base em exames laboratoriais,  a fim de evitar suplementações empíricas que possam causar efeitos adversos ou interações  medicamentosas. Este estudo contribui para o crescente corpo de evidências que sustentam a  abordagem funcional e integrativa das dermatoses crônicas, especialmente aquelas de natureza  inflamatória e multifatorial como a AGA. Mais do que tratar os sintomas, essa abordagem busca  restaurar a fisiologia do organismo como um todo. 

Dessa forma, os resultados aqui apresentados reforçam a necessidade de incluir a  investigação da saúde intestinal na prática clínica estética e dermatológica, não como adjuvante  secundário, mas como eixo terapêutico fundamental na restauração da saúde capilar. 

5.1 Mecanismos Prováveis Envolvidos 

Os resultados observados neste estudo podem ser interpretados à luz de múltiplos  mecanismos fisiológicos interdependentes, que justificam o impacto positivo da modulação  intestinal na resposta clínica da alopécia androgenética. A intervenção no eixo intestino-pele não  atua de forma isolada, mas sim como um modulador sistêmico que influencia diretamente  aspectos nutricionais, inflamatórios, hormonais, imunológicos e endócrinos — todos  fundamentais para a homeostase folicular. 

Do ponto de vista nutricional, a restauração da microbiota intestinal promove maior  eficiência na digestão e absorção de micronutrientes essenciais para a saúde capilar, como biotina,  ferro, zinco, magnésio e vitamina B12. A disbiose compromete esses processos, contribuindo  para deficiências funcionais mesmo na presença de ingestão adequada (Rossi et al., 2020). A  intervenção simbiótica contribui para a normalização da biodisponibilidade e transporte desses  nutrientes aos tecidos periféricos.

No aspecto inflamatório, a correção da disbiose está associada à redução da translocação  de lipopolissacarídeos (LPS) e à diminuição da ativação de vias pró-inflamatórias, como TNF-α,  IL-6 e NF-κB, frequentemente exacerbadas em pacientes com alopecia de padrão inflamatório  (Salem et al., 2018). A redução dessa carga inflamatória sistêmica pode favorecer a recuperação  do microambiente folicular e a progressão do ciclo anágeno. 

Sob a ótica hormonal, a microbiota intestinal influencia a metabolização de andrógenos,  modulando enzimas envolvidas na conversão de testosterona em diidrotestosterona (DHT) — principal agente etiológico da AGA. Estudos recentes mostram que alterações na flora intestinal  podem impactar os níveis circulantes de DHT e o balanço entre testosterona livre e ligada a  proteínas (Ramasamy et al., 2021). No plano imunológico, a modulação intestinal também está  implicada no reequilíbrio das subpopulações de linfócitos T, em especial a relação Th17/Treg. A  predominância de células Th17 está associada à inflamação autoimune e à ativação de  mecanismos citotóxicos perifoliculares, enquanto a indução de T reguladores (Treg) favorece a  tolerância imunológica e a reparação tecidual (Eppinga et al., 2021). Probióticos específicos têm  demonstrado capacidade de induzir esse perfil regulador. Por fim, no eixo endócrino-folicular,  diversos estudos apontam que a microbiota intestinal influencia a expressão de fatores de  crescimento como o IGF-1 (Insulin-like Growth Factor 1), diretamente envolvidos na ativação da  fase anágena e na manutenção da saúde dos folículos pilosos. A produção de ácidos graxos de  cadeia curta por cepas benéficas (como Faecalibacterium prausnitzii e Bifidobacterium  adolescentis) também está associada à sinalização regenerativa e à homeostase epitelial (Kang et  al., 2021). 

A tabela 2 resume os principais eixos fisiológicos envolvidos na modulação intestinal e  seus efeitos potenciais sobre a saúde capilar. 

Tabela 2: Dados clínicos e resposta ao tratamento dos participantes. Resumo das características  dos voluntários e dos resultados clínicos após a intervenção.

Esses mecanismos sugerem que a alopecia androgenética, embora classicamente  considerada uma condição periférica e hormonal, é sensível à modulação sistêmica da saúde  intestinal e metabólica. A abordagem terapêutica proposta neste estudo oferece, portanto, uma  nova perspectiva baseada na fisiologia integrada e na biologia de sistemas. 

6. PERSPECTIVAS FUTURAS 

A presente investigação fornece evidências iniciais promissoras de que a modulação da  microbiota intestinal pode amplificar os efeitos clínicos do tratamento capilar na alopecia  androgenética. Contudo, diante do caráter observacional e da amostra reduzida, recomenda-se  que estudos futuros busquem consolidar esse modelo terapêutico integrativo com maior robustez  metodológica e amplitude analítica. 

Ensaios clínicos randomizados, controlados e com seguimento prolongado seriam o  próximo passo natural para validar a eficácia do protocolo proposto. A estratificação dos  participantes por sexo, faixa etária, padrão de alopecia e presença de distúrbios gastrointestinais  diagnosticados poderia permitir uma análise mais detalhada da efetividade da intervenção em  subgrupos específicos. 

Além disso, recomenda-se a incorporação de análises laboratoriais mais sofisticadas para  o estudo da microbiota intestinal. Técnicas de sequenciamento de nova geração (NGS), como o  sequenciamento de DNA 16S rRNA, permitirão caracterizar o perfil taxonômico da microbiota  dos participantes antes e após a intervenção, possibilitando correlações mais precisas entre  abundância microbiana, marcadores inflamatórios sistêmicos e resposta capilar (Lynch &  Pedersen, 2016; Turnbaugh et al., 2007; Gloor et al., 2017). 

Também seria relevante monitorar parâmetros bioquímicos inflamatórios, hormonais e  nutricionais ao longo do tratamento, como TNF-α, IL-6, proteína C reativa, testosterona livre,  ferritina e vitamina D, a fim de compreender melhor os mecanismos fisiológicos associados à  resposta terapêutica (Salem et al., 2018; Trüeb, 2009; Richey et al., 2022). 

Outro campo de interesse é a investigação da relação entre o microbioma cutâneo e o  microbioma intestinal. Estudos recentes sugerem que alterações na microbiota do couro cabeludo  podem também refletir disbiose intestinal, levantando a hipótese de um eixo microbioma-microambiente folicular que merece ser explorado (Eppinga et al., 2021; Scharschmidt &  Fischbach, 2013; Dagnelie et al., 2022). 

Adicionalmente, a pesquisa translacional poderá incluir o uso de organoides de folículo  piloso ou modelos de cultura 3D in vitro para estudar, em ambiente controlado, os efeitos de  metabólitos bacterianos — como o ácido butírico e o indol — sobre a proliferação de células da  papila dérmica e queratinócitos capilares (Kang et al., 2021; Kachur & Thompson, 2022; Stojanov  et al., 2020). 

Por fim, há espaço para desenvolver versões customizadas desse protocolo em função de  características clínicas e genéticas individuais dos pacientes. A integração de dados genômicos,  hábitos alimentares, estado do microbioma e exames laboratoriais pode permitir o  desenvolvimento de tratamentos verdadeiramente personalizados para alopecia androgenética  (Ramasamy et al., 2021; Armstrong et al., 2021; Lee & Wu, 2017). 

Dessa forma, o presente estudo não apenas contribui com dados clínicos preliminares  relevantes, como também abre um campo fértil de investigação interdisciplinar entre tricologia,  imunonutrição, microbiologia, dermatologia funcional e medicina de precisão. 

7. CONCLUSÃO 

Os achados deste estudo clínico observacional indicam que a modulação da disbiose  intestinal pode exercer um impacto relevante na resposta terapêutica da alopecia androgenética,  quando associada a protocolos capilares tradicionais. A intervenção integrativa, baseada em  avaliação médica, exames laboratoriais e suplementação personalizada, resultou em melhora  clínica significativa em todos os voluntários do grupo tratado, enquanto os participantes  submetidos apenas ao protocolo capilar apresentaram resposta limitada. 

Esses resultados corroboram a hipótese de que o eixo intestino-pele desempenha um papel  ativo na fisiopatologia da alopecia androgenética, influenciando mecanismos nutricionais,  inflamatórios, imunológicos e endócrinos. A saúde intestinal parece ser determinante para o  microambiente capilar, condicionando a eficácia dos tratamentos tópicos e a capacidade  regenerativa dos folículos pilosos.

Embora o tamanho reduzido da amostra e a ausência de randomização limitem a  generalização dos resultados, a consistência observada entre os casos tratados, aliada à coerência  com a literatura atual, confere solidez às conclusões. Além disso, o estudo contribui para o avanço  de uma perspectiva terapêutica mais sistêmica e personalizada no tratamento de distúrbios  capilares. 

Diante disso, conclui-se que estratégias terapêuticas voltadas à restauração da microbiota  intestinal representam uma via promissora e potencialmente decisiva no manejo clínico da  alopecia androgenética. A adoção de abordagens integrativas, baseadas em ciência translacional,  pode oferecer aos profissionais da saúde capilar novas ferramentas para tratar não apenas os  sintomas, mas as causas sistêmicas subjacentes da perda capilar. 

Estudos futuros, com maior número de participantes, metodologia controlada e integração  com técnicas de sequenciamento do microbioma, serão fundamentais para consolidar essa  vertente terapêutica emergente. Este trabalho inaugura, assim, uma ponte entre a tricologia clínica  e a medicina funcional, promovendo uma visão mais ampla, precisa e eficaz sobre o cuidado com  a saúde dos cabelos. 

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

AGUH, C.; SCHWEIGER, E. S. Alopecia: A Multidisciplinary Approach. Clinics in  Dermatology, 2022. 

ALONSO, R.; BÁRBARA, S. Epidemiology and burden of alopecia in Latin America.  International Journal of Trichology, 2020. 

ARMSTRONG, A. W. et al. Integrating genomic and microbiome analyses in dermatology:  Emerging trends and future directions. JAMA Dermatology, 157(4), 426–434, 2021. 

BERNARDI, L. A.; MANZOTTI, E.; BOZONI, J. S. Uso da suplementação com probióticos e  prebióticos em doenças inflamatórias e autoimunes. Revista Brasileira de Nutrição Clínica,  34(1), 41–47, 2019. 

DAGNELIE, G. et al. Gut-skin axis: Current knowledge and new perspectives in alopecia.  Experimental Dermatology, 31(5), 637–645, 2022. 

DE PESSEMIER, B. et al. Gut–Skin Axis: Current Knowledge of the Interrelationship between  Gut Microbiota and Skin in Inflammatory Skin Disorders. Frontiers in Microbiology, 2021.

EPPINGA, H. et al. The microbiome and dermatology: Exploring the role of gut dysbiosis in skin  disorders. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, 35(3), 578–588,  2021. 

GILHAR, A. et al. The role of vitamin D in hair loss. Dermato-Endocrinology, 5(4), 290–296,  2013. 

GLOOR, G. B. et al. Microbiome datasets are compositional: And this is not optional. Frontiers  in Microbiology, 8, 2224, 2017. 

HO, C. H. et al. Beyond DHT: Modern Perspectives on Androgenetic Alopecia. Journal of  Investigative Dermatology Symposium Proceedings, 2023. 

KACHUR, M. E.; THOMPSON, K. G. Organoids in dermatological research and personalized  medicine. Experimental Dermatology, 31(12), 1866–1873, 2022. 

KANG, B. S. et al. Effect of oral administration of Lactobacillus on hair growth in mice. Journal  of Microbiology and Biotechnology, 31(3), 370–378, 2021. 

KAUFMAN, K. D. Androgen metabolism as it affects hair growth in androgenetic alopecia.  Dermatologic Clinics, 23(4), 501–512, 2005. 

LEE, C. H.; WU, C. Y. Integrative medicine and personalized treatment strategies in dermatology.  Dermatologic Therapy, 30(3), e12447, 2017. 

LEVKOVICH, T. et al. Probiotic bacteria induce a ‘glow of health’. PLoS One, 8(1): e53867,  2013. 

LYNCH, S. V.; PEDERSEN, O. The human intestinal microbiome in health and disease. New  England Journal of Medicine, 375(24), 2369–2379, 2016. 

MESSENGER, A. G.; SINCLAIR, R. Follicular miniaturization in androgenetic alopecia:  clinicopathological correlations. British Journal of Dermatology, 145(1), 2006. 

PATEL, A.; SHARMA, A. Hormonal and non-hormonal treatment options for androgenetic  alopecia. Journal of Dermatological Treatment, 32(7), 753–763, 2021. 

RAMASAMY, R.; WALSH, T. J.; LAMB, D. J. Microbiome and male reproductive health: The  emerging link. Nature Reviews Urology, 18(6), 368–389, 2021. 

RICHEY, K. J. et al. Vitamin D and the Hair Follicle: Clinical Evidence. International Journal  of Dermatology, 61(1), 31–38, 2022. 

ROSSI, A. et al. Nutritional deficiency and telogen effluvium: A real connection. Dermatologic  Therapy, 33(3), e13283, 2020.

SALEM, I. et al. The Gut Microbiome and Inflammatory Skin Disorders. Frontiers in  Microbiology, 9, 1459, 2018. 

SCHARSCHMIDT, T. C.; FISCHBACH, M. A. What lives on our skin: ecology, genomics and  therapeutic opportunities of the skin microbiome. Cell Host & Microbe, 13(4), 375–384, 2013. 

SHREINER, A. B.; KAO, J. Y.; YUAN, C. L. The gut microbiome in health and in disease.  Current Opinion in Gastroenterology, 31(1), 69–75, 2015. 

STOJANOV, S. et al. The role of short-chain fatty acids in microbiota–gut–brain communication.  Nature Reviews Gastroenterology & Hepatology, 17(8), 461–478, 2020. 

TRÜEB, R. M. The impact of oxidative stress on hair. International Journal of Trichology, 1(1),  6–14, 2009. 

TURNBAUGH, P. J. et al. The human microbiome project. Nature, 449(7164), 804–810, 2007.