IMPACTO DO CONTEXTO SÓCIO POLÍTICO-ECONÔMICO NA SAÚDE  MENTAL DO INDIVÍDUO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8248093


Kluska, Miscelene Nunes dos Santos1
Morais, Wanderson Rodrigues2


Resumo 

A abundância de informações disponíveis na internet e a crescente percepção das necessidades  das pessoas, expressas principalmente nas interações sociais, espaços públicos e pesquisas  institucionais, têm contribuído significativamente para o aumento do sofrimento psíquico,  especialmente entre os grupos mais vulneráveis. Questões políticas ultrapassam os limites da  tolerância e se entrelaçam com problemas como a pobreza e a desigualdade social, resultando  em uma violência explícita que leva os indivíduos ao limite de sua capacidade e resistência  emocional. No contexto em que vivemos, as relações de poder tendem a marginalizar certos  grupos que continuamente sofrem com práticas de dominação e opressão. É de suma  importância aprofundar a discussão sobre o sofrimento psíquico, e neste trabalho isso é  realizado através da apresentação de dados que comprovam os impactos das políticas  governamentais e outros fatores sociais na vida das pessoas. Esses dados foram coletados das  principais fontes de notícias do país e, em seguida, analisados criticamente para fundamentar  as conclusões apresentadas. A convivência complexa inerente aos grupos humanos é resultado  de inúmeras variáveis do contexto social e político-econômico, o que cria circunstâncias que  transformam a existência nos agrupamentos humanos em um verdadeiro ato de bravura, quase  sobre-humano, para garantir a sobrevivência. Este trabalho destaca a polarização existente no  campo político brasileiro, a qual se manifesta até mesmo através de demonstrações de extrema  violência em diversas instituições, alimentando a desconfiança em relação aos poderes  executivo, legislativo e judiciário. Essa situação tem como consequência o comprometimento  da saúde mental da sociedade brasileira e das gerações futuras. Nesse sentido, o objetivo deste  trabalho é explicar o processo saúde-doença e suas relações com o contexto atual. 

Palavras-chave: Desigualdade. Polarização. Violência. Política. Saúde Mental. 

Abstract 

The abundance of information available on the internet and the growing awareness of people’s  needs, mainly expressed in social interactions, public spaces, and institutional research, have  significantly contributed to the increase of psychological suffering, especially among the most  vulnerable groups. Political issues surpass the bounds of tolerance and intertwine with problems  such as poverty and social inequality, resulting in explicit violence that pushes individuals to  the limits of their emotional capacity and resilience. In the context in which we live, power  dynamics tend to marginalize certain groups that continuously experience practices of  domination and oppression. It is of utmost importance to delve deeper into the discussion about  psychological suffering, and in this work, it is achieved by presenting data that demonstrate the  impacts of governmental policies and other social factors on people’s lives. This data has been collected from the country’s primary news sources and then critically analyzed to underpin the  presented conclusions. The complex coexistence inherent in human groups is a result of  numerous variables within the social and political-economic context, creating circumstances  that turn existence within human communities into a true act of bravery, almost superhuman,  to ensure survival. This work highlights the polarization present in the Brazilian political  landscape, which even manifests through displays of extreme violence in various institutions,  fueling mistrust towards the executive, legislative, and judicial powers. This situation results in  the compromise of the mental health of Brazilian society and future generations. In this sense,  the objective of this work is to explain the health-disease process and its relations with the  current context. 

Keyword: Inequality. Polarization. Violence. Politics. Mental Health.

INTRODUÇÃO  

Trata-se de um tema recorrente e atual que está inserido no dia a dia de todos, pois o  sofrimento psíquico em virtude do excesso de cobrança e do bombardeamento de informações  diárias é uma realidade para boa parte da população mundial. A polarização da política  brasileira especialmente em época de campanhas eleitorais, a intolerância relacionada a  questões de gênero, raça e diversas outras inclusive misoginia e o agravamento da pobreza com  o aumento do número de pessoas que passam fome, são exemplos de causas e efeitos de  políticas que atingem a sociedade de maneira corrosiva e deixam graves sequelas na saúde  mental do indivíduo. 

Na abordagem sobre a polarização da política brasileira esta está muito centrada na  questão do voto e não tanto nas opiniões e atitudes políticas. A escassez de dados sobre esse  tema nos obriga a ter uma visão apenas panorâmica e exploratória com base em pesquisas  internacionais elaboradas pela Latin American Public Opinion Project (Lapop) que é um  projeto mantido pela Universidade de Tenesse nos EUA desde meados de 2004 e faz pesquisa  de opinião em 11 países da América Latina, e o World Values Survey (WVS), também americano  que se expandiu para 120 países com o objetivo de analisar valores, crenças e normas das  pessoas em uma perspectiva comparativa e transnacional (ORTELLADO, RIBEIRO E ZEINE,  2022). 

Questões de misoginia e LGBTQfobia são fatores cruciais no debate político nacional e  internacional. Junta-se a estas outras demandas raciais que engrossam o conjunto que compõe  as medidas de base das campanhas em todo o país. Candidatos aos principais cargos brasileiros  evitam manifestar publicamente suas opiniões sobre estes temas que dividem opiniões e  consequentemente podem incorrer em redução de votos.

Em nosso contexto as relações de poder tendem a negar essas questões identitárias  colocando às margens alguns sujeitos que sofrem de forma recorrente com práticas de  dominação e violência (CORTEZ, SOUZA, SALVADOR, OLIVEIRA, 2019). De acordo com  a Fiocruz (2021) a desigualdade de renda e a pobreza no Brasil aumentaram. No final de 2019,  o Brasil havia sido destaque no relatório de desenvolvimento humano divulgado pelo Programa  das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Segundo o estudo, o país era o sétimo mais  desigual do mundo, atrás apenas de nações africanas. Em março de 2020, com a economia  impactada, a desigualdade de renda bateu recorde. Em matéria publicada pelo jornal Folha de  São Paulo em junho de 2022 afirma que 47,3 milhões de brasileiros terminaram o ano de 2021  na pobreza, o que equivale a 22,3% da população. Deste total, as pessoas de zero a 17 anos são  os mais prejudicados e a parcela da população que mais sofreu com esse agravamento, 73% do  total, é negra (Folha de São Paulo, 2022). 

Nesse sentido, este trabalho visa fomentar esta discussão sobre o sofrimento psíquico  decorrente de políticas governamentais e demais fatores sociais que interferem diretamente na  vida das pessoas e no modo como elas enxergam e lidam com o presente e o porvir. Para atingir  o que é proposto serão elencados os impactos destas ações na saúde mental da população, será  apresentado também dados que corroboram estes impactos, retirados das principais fontes de  notícias do país e posteriormente, através de análise crítica do exposto, será feita uma conclusão  calçada nas informações apresentadas.  

É importante que o debate não se torne esquecido entre os acadêmicos e pessoas  envolvidas, para que a população se mantenha esclarecida e se sinta mais preparada para lidar  com seu sofrimento psicológico, munidas de informações de qualidade e calçadas por conteúdos práticos e objetivos focados em resultados. Para a realização deste trabalho, será  conduzida uma pesquisa online utilizando fontes de informação renomadas, como jornais, revistas e sites de alcance mundial. Essas fontes serão selecionadas com base em seu  reconhecimento e credibilidade na comunidade acadêmica, garantindo a qualidade e  confiabilidade dos dados utilizados. 

IMPACTOS DO CONTEXTO SOCIOECONÔMICO NA SAÚDE MENTAL: TEORIAS  E EVIDÊNCIAS 

A convivência complexa inerente aos grupos humanos é resultante de inúmeras  variáveis do contexto social, político-econômico que resultam em circunstâncias que tornam a existência nos conjuntos formados pelo homo sapiens, quase um ato de bravura no limite da  sobrevivência. 

No trecho citado pelo sociólogo Zygmunt Bauman em sua obra “Modernidade Líquida”,  ele diz que “não há dúvidas de que, se quisermos viver, temos de arriscar. Precisamos ser  bravos. Precisamos ter coragem” (BAUMAN, 2001). Aqui o autor explora a complexidade das  relações humanas na sociedade contemporânea. Na complexa tessitura destas relações, em meio  aos desafios e adversidades, é preciso recordar estas sábias palavras. A citação destaca a  necessidade de coragem e bravura para enfrentar os desafios inerentes à convivência nos grupos  humanos. 

É de se verificar que os preconceitos estruturais determinam quais grupos étnicos,  culturais devem sobreviver nos conglomerados urbanos e rurais, entretanto muitas vezes a  maioria das práticas excludentes é camuflada e não denunciam que tipo de política mortal é  praticada em detrimento das possibilidades de participação digna de determinados conjuntos  sociais no centro das melhores oportunidades existentes no meio, em consonância com essas  ideias desnudas, é plenamente aplicável alguns posicionamentos de mundo externalizados pelo  Psicólogo Social, Ignácio Martín-Baró, uma vez que ele defendeu que existe a prevalência  nefasta de pensamentos desumanizantes, despersonalizantes que desvirtuam a subjetividade do  indivíduo e conduzem a um caminho cada vez mais alienante “da vida como ela é”, nesse  sentido podemos citar o seguinte trecho do livro do intelectual supracitado, intitulado “Crítica  e Libertação na Psicologia”: 

“Tal como no caso do “caráter latino-americano” a pretensão explicativa da cultura da pobreza para a síndrome fatalista incorre em uma sutil psicologização. Afirma-se  que, uma vez estabelecido o traço ou o estilo de vida, o fatalismo adquire uma autonomia funcional que o mantém e reproduz. O pressuposto implícito é o de que, mesmo quando evoluem as condições sociais, o indivíduo manterá sua indolência fatalista. Em outras palavras, uma vez estabelecida “a cultura da pobreza”, ela será a causa do fatalismo da população, independentemente das condições sociais mudarem ou não. O fatalismo teria suas raízes mais no psiquismo das pessoas do que no funcionamento das estruturas econômicas, políticas e sociais”. (MARTÍN-BARÓ, 2017, P. 221- 222). 

Indubitável é que existe toda uma construção racional no sentido de afirmar que as  pessoas que pertencem às minorias são desprovidas de qualidades sábias e, ainda, de capacidade  para estabelecer um raciocínio mais apurado, pois elas não cultivam dentro de si o traço de vida  inclinado para a constante melhoria da forma de existir “fazendo”, visto que o simples fato de  “existir” não é válido dentro de uma sociedade que valoriza a apropriação das forças da natureza a qualquer custo.

Não se perder de vista a depreciação da organização formal mínima com total  desconsideração dos valores que prestigiam a dignidade humana, nesse contexto podemos  observar a polarização no campo político brasileiro, culminando até mesmo com demonstração  de extrema violência com assassinatos por motivo torpe e insistentemente exibidos nos meios de comunicação, conforme reportagem extraída do portal G1 (G1-GLOBO, 2022) que trata do  homicídio do brasileiro, Marcelo Arruda, tendo como autor um Agente Penitenciário Federal,  Jorge Garanho, brasileiro também, ambos separados, apenas por questões políticas divergentes,  por meio dessa amostra ingrata é possível aferir a magnitude da intolerância e polarização no  sistema político nacional e instalação de uma espécie de “clima de guerra”.  

A guerra, para Martín-Baró, deve ser entendida por aquilo que conforma e altera na  dinâmica social, tendo três vetores que se retroalimentam: (a) violência; (b) polarização social e (c) mentira (Martín-Baró, 2017a). Sobre a primeira, não se pode compreendê-la como comportamento individual, fruto de mecanismos psíquicos  (auto)destrutivos, mas inerente ao capitalismo, tendo um caráter estrutural. Remetendo a Fanon, “a violência imposta pelo colonizador é introjetada pelo  colonizado, ficando ancorada em sua musculatura como uma tensão reprimida e em  sua mente como culpa assumida” (Martín-Baró, 2017b, p. 193). Por conta disso, a violência perpetrada contra os explorados e oprimidos deve ser diferenciada da que  estes produzem quando se voltam contra a ordem, isto é, a violência revolucionária,  que passa a possuir um papel humanizador (Martins & Lacerda Júnior, 2014).  Ademais, se com o prolongamento da guerra temos a normalização da violência, ao  invés de uma anomalia, poderíamos pensar se a naturalização e o caráter sistêmico da  violência já não configurariam um contexto de guerra, mesmo que não formalmente.  Para Martín-Baró, pelo menos, já seria uma condição (COSTA, 2020). 

Além dessa lamentável constatação de confronto, é importante destacar o  acompanhamento da CPI dos atos antidemocráticos, que está investigando os acontecimentos  extremistas ocorridos em 8 de janeiro de 2023. Estes eventos envolveram a invasão e  depredação de instituições fundamentais para o país: o Palácio do Planalto, o Congresso  Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). A mídia amplamente cobriu esses  acontecimentos, que agora estão sendo minuciosamente investigados pelas autoridades  competentes. 

Uma ilustração dessa situação pode ser encontrada em um artigo publicado no site  oficial do Senado (SENADO NOTÍCIAS, 2023). A invasão e destruição dessas instituições não  apenas representam atos de extremismo e intolerância política, mas também repercutem como  símbolos preocupantes. Infelizmente, tais manifestações de extremismo e polarização política  têm uma história recorrente e desoladora na América Latina. 

As matérias jornalísticas com um viés bélico incorporadas neste trabalho refletem a  profunda polarização da política brasileira. Essa polarização não apenas tem efeitos na esfera política, mas também afeta a saúde mental da população e as oportunidades de acesso a formas  mais saudáveis de desenvolvimento.  

A influência social exercida por pequenos grupos é um fenômeno amplamente estudado  na psicologia, e sua presença pode ser observada em nossa tendência à conformidade,  obediência à autoridade e comportamento em grupo. Esses aspectos foram abordados no estudo  científico de Rodrigues, que contribui para a compreensão desses processos sociais, conforme  podemos depreender do escrito científico de Rodrigues (2018): 

As ciências sociais, incluindo a Psicologia Social, têm demonstrado que somos uma espécie que parte de uma situação inicial de vida de extrema dependência  não para a completa independência, porém para a interdependência entre adultos.  Podemos dizer que nenhuma criança se torna humana a não ser entre humanos, e  ninguém se tornará adulto – capaz de agir conforme a interdependência saudável  para todos – a não ser sob a influência de adultos que promovam esta igualdade.  Com isso, torna-se fundamental estudar os processos de influência social a que nós estamos sujeitos, visando a compreender as condições psicossociais para o bem-estar subjetivo. Para isso, adotamos primeiramente, neste ensaio, o  referencial teórico de um autor que devota toda sua vida acadêmica ao estudo e aplicação dos processos de influência social (p.2). 

A pesquisa de Rodrigues, assim como outros estudos relevantes nessa área, fornece uma  base científica para entender como a influência social afeta nossas atitudes, comportamentos e interações sociais. Ao examinarmos os resultados dessas pesquisas, podemos compreender  melhor os mecanismos psicológicos subjacentes à conformidade e à obediência, bem como sua  relevância no contexto do comportamento grupal. 

Aprofundando no aspecto do comportamento grupal, é correto afirmar que os desafios  aversivos que permeiam a vida dos brasileiros são tão opressivos e semelhantes às  características danosas de outros países latino-americanos. De acordo com uma pesquisa  realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgada no Portal G1 (G1, 2022), estima-se  que em 2021, cerca de 33 milhões de pessoas no Brasil viviam com menos de R$ 289,00 por  mês. Esses dados alarmantes ilustram a realidade da pobreza e da desigualdade social no país,  refletindo as adversidades enfrentadas pela população e seus efeitos no comportamento  coletivo. 

Embora não existam dados específicos sobre a saúde mental do povo brasileiro, mas  considerando os dados socioeconômicos supracitados e também o corte de verbas destinadas à saúde mental no ano 2020, conforme explanação do Psicanalista Christian Dunker, a respectiva decisão executiva reacende o descaso destinado às pessoas que sofrem de transtornos mentais, uma vez que o investimento em saúde mental implica em cuidados multifatoriais e continuados  e não apenas em internações.

Mister se faz ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou em  junho/2022 sua maior revisão mundial sobre saúde mental, conforme exposto no site oficial do  Ministério da Saúde, em 2019, quase um bilhão de pessoas, sendo 14% dos adolescentes do  mundo viviam com um transtorno mental. Por conseguinte, nos termos da pesquisa mundial o  suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes, tendo ainda que ser relevado o  fato de que 58% dos atos de autoextermínio ocorreram com indivíduos antes de eles alcançarem 50 anos de idade. Seguindo este viés é importante destacar que, segundo a Organização Pan americana da Saúde (OPAS) as condições de saúde mental são responsáveis por 16% do total  de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos e o suicídio é a terceira principal  causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos. Fatores como abuso ou violência, mudanças  físicas que provocam mudanças emocionais e exposição à pobreza são apontados como  impulsionantes dos transtornos que contribuem para esses números. 

Assinale, ainda, que no documento emitido pela OMS existe o alerta sobre o peso que  as desigualdades sociais e econômicas, guerras constituem componentes com essência de  nitroglicerina, ou seja, com alto poder ofensivo ao tecido social. 

Posta assim a questão, é de se dizer que segundo Vygotsky, o homem não nasce humano  ele vai se humanizar, a partir do contato do ser em desenvolvimento com a cultura com o grupo  social no qual ele está inserido e é através desse contato da criança que se desenvolve as funções  psicológicas superiores. Ao pensarmos, num contexto de vida limitado e hostil, o  desenvolvimento da criança será restringido pelas variáveis do ambiente imposto, uma vez que  cada ser humano é datado, geograficamente marcado também, assim não é possível pensar num  indivíduo universalizado.  

Ao ensejo da conclusão deste item as ideias teóricas defendidas por Martin- Baró, a  partir da sua visão de Psicologia latino-americana estão mais próximas da realidade de um povo  marcado pelo sistema colonialista, pois, ainda persistem muitas práticas desfavoráveis a  construção de sistema social saudável. Ademais, não podemos ignorar o entendimento do  indivíduo como um ser resultante do seu meio, conforme a teoria clássica de Vygotsky, partindo  do pressuposto sociocultural. 

O CONTEXTO POLÍTICO NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE MENTAL

O cenário político brasileiro exerce uma influência de grande magnitude sobre a saúde  mental da população. A dinâmica política, incluindo mudanças governamentais e debates  intensos, pode ter um impacto emocional profundo nas pessoas, gerando implicações significativas para seu bem-estar psicológico. Especialmente notável é o papel da polarização,  que se tornou uma característica proeminente do panorama político brasileiro nas últimas  décadas. A intensa divisão ideológica tem o potencial de estabelecer um ambiente de  hostilidade, tensão e conflito, resultando em um aumento dos níveis de estresse, ansiedade e  preocupação. 

A convivência dentro de um contexto político polarizado contribui para a disseminação  de sentimentos de desconfiança, medo e incerteza acerca do futuro. Essa atmosfera de incerteza,  por sua vez, exerce um impacto significativo sobre o estado emocional e mental dos indivíduos.  Um exemplo concreto dessa dinâmica pode ser observado em um artigo publicado na revista  Exame em 15 de outubro de 2018, durante um período de acirrada disputa presidencial no  Brasil. Nesse contexto, pessoas buscavam consultórios psiquiátricos devido à sensação de medo  e preocupação relacionados ao desfecho das eleições naquela ocasião. 

O problema é exacerbado pelo cenário de polarização nas redes virtuais, onde ocorre a  formação de bolhas de opinião e a falta de diálogo construtivo entre os diferentes grupos  (ALBUQUERQUE, 2018). Além disso, eventos políticos turbulentos, como crises  institucionais, escândalos de corrupção e instabilidade governamental, abalam a confiança tanto  na classe política quanto nas instituições democráticas. Essa erosão da confiança pode culminar  em sentimento de frustração, desesperança e desilusão, contribuindo negativamente para a  saúde mental das pessoas. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Indubitável é que o ser humano é resultante da influência dos fatores biológicos,  psicológicos e socioculturais, a cada nova interação o organismo adquire novas habilidades ou  abandona outras, isso tudo ocorre de acordo com o contexto vivenciado. 

Tenha-se presente que neste trabalho constatamos que a teorização pessimista sobre o  rumo das questões sócio político-econômico no Brasil, não constituem ideologias, mas sim a  realidade expressa e tristemente ignorada, por pessoas que muitas vezes não tiveram acesso a  políticas públicas assertivas e integrativas, porém de forma escancarada são elas as principais  vítimas de políticas excludentes, e nem percebem quando são afetadas pelo adoecimento mental  e até mesmo podem interpretar que a culpa pela enfermidade psicológica é exclusivamente  delas, quiçá não souberam lidar com os desafios do mundo. O indivíduo é afetado pelo que o  cerca.

Em virtude das ideias desenvolvidas neste trabalho é possível expressar que o indivíduo  submetido a condições sócio político-econômica indignas, é destituído de recursos favoráveis  que garantam a integridade do seu sistema biopsicossocial, sendo extremamente suscetível ao  comprometimento da sua saúde como um todo, especialmente as enfermidades psíquicas. 

Longe de ser apenas uma questão política, o adoecimento psíquico no Brasil é uma  questão de saúde pública bastarda de navegar apenas no meio acadêmico e sair do campo dos debates e ganhar forma no campo das efetividades e da realidade na vida de todos os cidadãos.  A vida é tida como o bem mais precioso, porém, através do exposto aqui e das evidências e  fatos apresentados observa-se que o acesso aos meios de preservação e manutenção da vida é  reservado a um grupo muito seleto. 

A atenção dada a casos de grande importância é mínima e são avaliados em épocas  de campanhas eleitorais e disseminados imediatamente ao findar esse período. A precarização  da vida através da exclusão “natural” feita através de práticas camufladas culminam na  segregação de classes, prática que acaba sendo considerada coerente diante da sociedade em  virtude dos costumes e crenças impostas através de um pacto social firmado desde o nascimento  do indivíduo. 

Frise-se mais, como remate que a saúde e seus determinantes não necessariamente  estão vinculados, apenas a sociedades mais ricas, pois nem sempre riqueza é sinônimo de  melhores níveis de saúde, mas especificamente em prol de uma visão mais sistêmica e vinculada  ao ideal de coesão social com mais igualdade entre todos os membros, unidos simplesmente  pelo bem-estar geral, ainda que modo utópico e nos termos do princípio da beneficência, pois  constitui uma obrigação ética em qualquer ciência maximizar o benefício e minimizar questões  que depreciam a vida e sonhos. 

RECOMENDAÇÕES 

Diante do exposto, sabe-se que é complexa a questão dos impactos causados pelo  contexto socioeconômico na saúde mental da população. Por isso torna-se importante a adoção  de políticas públicas que sejam eficazes na redução dos efeitos desfavoráveis. Tais questões  devem ser abordadas de forma multidisciplinar e envolvendo diversos setores da sociedade tais  como ONGs e outras entidades, além do poder público. É importante que a população e  educadores também façam parte do processo. 

É essencial que haja aumento do investimento em programas de saúde mental  compreendendo o acesso às psicoterapias pela população carente, tratamento com medicação, quando for necessário, e atenção plena àqueles que estão em situação de vulnerabilidade social.  Programas de educação e atenção às crianças e jovens podem ser incluídos no currículo escolar  a fim de combater as diversas vias de violências emanadas nesse ambiente.  

No combate à pobreza, pode ser fomentada a geração de emprego através de parcerias  com empresas multisetoriais para contratação de mão-de-obra local e valorização do comércio  de cada município. Criação de cursos de qualificação desta força de trabalho e orientações  práticas de como atuar nos diversos setores tais como vendas, agro, recursos humanos, contábil,  etc. É fundamental o incentivo ao diálogo dentro das organizações de trabalho melhorando as  relações interpessoais dos trabalhadores, com respeito às diferenças e promoção do  entendimento mútuo contribuindo para uma melhor produtividade e manutenção da saúde  mental durante o período laboral. 

No campo institucional, o fortalecimento das instituições democráticas, a promoção da  transparência e a luta contra a corrupção contribuem para um ambiente mais confiável e  previsível, fazendo com que a comunidade se sinta mais segura na participação de programas  sociais e se envolva com mais afinco nas questões que dizem respeito ao comunitário. 

A criação de políticas e programas específicos para pessoas e classes vulneráveis como  uma condição prioritária, tais como crianças e adultos em situação de rua, pessoas LGBTQ+ e minorias étnicas, inserindo estas pessoas em programas sociais de apoio à saúde mental e combate aos diversos tipos de discriminação sofridos por elas. 

Promoção de campanhas de conscientização sobre saúde mental e combate à percepção  negativa que se tem sobre os transtornos mentais, com vistas à promoção da acessibilidade e do  respeito para com as pessoas portadoras de necessidades especiais. É importante que se faça  uma avaliação contínua dos impactos, eficácia e eficiência destas políticas praticadas, com  dados atualizados periodicamente, para que sejam feitos ajustes quando necessário e se define  novas estratégias, evitando assim que ao longo do tempo tais ações caiam no esquecimento. 

Por fim, é crucial que as políticas públicas e intervenções sejam baseadas em evidências  científicas sólidas e adaptadas à realidade sociocultural brasileira, garantindo a continuidade  dos serviços prestados e a manutenção de um ambiente saudável e inclusivo, fatores essenciais  para enfrentarmos desafios presentes e futuros relacionados ao impacto do contexto  socioeconômico na saúde mental do nosso povo.

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1Graduanda do curso de psicologia do Centro Universitário São Lucas. E-mail:  miscelenekluska@gmail.com
2Graduando do curso de psicologia do centro Universitário São Lucas. E-mail:  wandersonrm@outlook.com.br