REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12769360
Luiz Eduardo Rodrigues Lima¹; Camila Ferreira Silva Leonel²; Bruno Mori³; Regismeire Viana Lima4; Celsa Moura Souza5; Mateus Rossato6.
Resumo:
Este estudo revisou a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados (AUPs) e a síndrome metabólica (SM) em adolescentes (10-19 anos). A busca identificou 326 estudos, dos quais sete de alta qualidade foram analisados, totalizando 21.183 participantes. Cinco estudos mostraram associação significativa entre AUPs e SM (OR=1,79-12,14, IC 95%), enquanto dois relacionaram-se a desfechos secundários. A qualidade metodológica foi considerada boa. Conclui-se que há associação positiva entre AUPs e SM em adolescentes, embora sejam necessários estudos adicionais, especialmente ensaios clínicos randomizados, para confirmar e entender melhor essas conclusões.
Número de registro do PROSPERO: CRD42021227770
Palavras-chave: Adolescente; alimentos industrializados; síndrome metabólica.
Abstract:
This study reviewed the association between the consumption of ultraprocessed foods (UPFs) and metabolic syndrome (MS) in adolescents (10-19 years old). The search identified 326 studies, of which seven high-quality studies were analyzed, totaling 21,183 participants. Five studies showed a significant association between UPFs and MS (OR=1.79-12.14, 95% CI), while two were related to secondary outcomes. The methodological quality was considered good. It is concluded that there is a positive association between UPFs and MS in adolescents, although additional studies, especially randomized controlled trials, are needed to confirm and better understand these conclusions.
PROSPERO Registration Number: CRD42021227770
Keywords: Adolescent; processed foods; metabolic syndrome.
Resumen:
Este estudio revisó la asociación entre el consumo de alimentos ultraprocesados (AUP) y el síndrome metabólico (SM) en adolescentes (10-19 años). La búsqueda identificó 326 estudios, de los cuales se analizaron siete de alta calidad, con un total de 21,183 participantes. Cinco estudios mostraron una asociación significativa entre AUP y SM (OR=1,79-12,14, IC del 95%), mientras que dos se relacionaron con resultados secundarios. La calidad metodológica se consideró buena. Se concluye que hay una asociación positiva entre AUP y SM en adolescentes, aunque se necesitan estudios adicionales, especialmente ensayos clínicos aleatorizados, para confirmar y comprender mejor estas conclusiones.
Número de registro en PROSPERO: CRD42021227770
Palabras clave: Adolescente; alimentos industrializados; síndrome metabólico.
Introdução
A síndrome metabólica (SM), caracterizada por distúrbios metabólicos, tem uma prevalência global de 20-25%, notadamente em crianças e adolescentes (O’NEILL; O’DRISCOLL, 2015). Uma revisão recente apontou que 4,8% dos adolescentes, aproximadamente 35,5 milhões, sofrem de SM (NOUBIAP et al., 2022). O diagnóstico considera adiposidade central e critérios específicos (ALBERTI; ZIMMET; SHAW, 2005). Hábitos alimentares, incluindo o consumo de alimentos ultraprocessados (AUPs), estão associados ao desenvolvimento da SM em adolescentes (EAPEN et al., 2009; SANTOS et al., 2020). O aumento nas taxas de sobrepeso/obesidade correlaciona-se ao crescente consumo de AUPs (RAUBER et al., 2020). Em adultos, o alto consumo de AUPs está associado a problemas de saúde, como obesidade e diabetes (MONTEIRO et al., 2019). Entre adolescentes, evidências indicam associações com alterações lipídicas e início do diabetes tipo 2 (SHIN et al., 2018). Contudo, não há síntese de evidências sobre a relação entre consumo de AUPs e SM em adolescentes, sendo este o objetivo desta revisão.
Metodologia
O protocolo foi submetido ao Registro Internacional de Revisões Sistemáticas Prospectivas (PROSPERO) registrado sob o número CRD42021227770 (http://www.crd.york.ac.uk/PROSPERO). Esta revisão sistemática seguiu as diretrizes estabelecidas no Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA, 2020).
Pergunta da pesquisa
O acrônimo (PECO) (População, Exposição, Comparação, Resultado)(CHICAGO UNIVERSITY LIBRARY, 2019) foi utilizado para descrever todos os componentes relacionados ao problema identificado e estruturar a questão de pesquisa: Os adolescentes com alto consumo de AUPs têm maior probabilidade de desenvolver SM do que os adolescentes com baixo consumo de AUPs?
Quadro 1. Descrição da estratégia PECO para formular a questão de pesquisa Acrônimo Definição Descrição
Acrônimo | Definição | Descrição |
P | População | Adolescentes |
E | Exposição | Alto consumo de AUPs |
C | Comparador | Baixo consumo de AUPs |
O | Desfecho | Síndrome metabólica |
Critérios de inclusão e exclusão de estudos
Foram incluídos estudos observacionais em adolescentes (10-19 anos), sem restrições de etnia ou gênero, abordando o consumo de AUPs (OMS, 2010). Critérios de exclusão: relatos de casos, cartas editoriais, revisões, estudos em animais, resumos e estudos sem dados disponíveis. A definição de AUPs abrangeu processos que modificam alimentos do estado natural, considerando índices ou sistemas de classificação que levam em conta o processamento industrial. O grupo comparador consistiu em adolescentes com baixo consumo de AUPs sem intervenção. Desfechos: Síndrome Metabólica e componentes (obesidade abdominal, dislipidemia, hipertensão, hiperglicemia, resistência à insulina).
Estratégia de busca
Realizamos buscas abrangentes nas bases de dados PubMed, Embase, Bireme/Lilacs (VHL) e Cochrane Library até 31 de março de 2022, utilizando descritores MeSH, Emtree e DeCS. Termos como “Adolescentes,” “Alimentos Ultraprocessados,” “Fast Food,” e “Síndrome Metabólica” foram combinados usando OR e AND. A busca ultrassensível abarcou todas as bases para assegurar a identificação completa de artigos relevantes. Consultamos o Open Grey (www.opengrey.eu) para literatura cinzenta. Detalhes das estratégias de busca estão no material suplementar, incluindo descritores oficiais e sinônimos adaptados para cada base de dados. Complementamos com busca manual nas referências dos estudos pertinentes.
Seleção de estudos
Usamos o Mendeley Reference Manager para gerenciar referências e eliminar duplicatas. Após a busca, transferimos todas as referências para o software Rayyan QCRI 27. Dois revisores (LL e CL) fizeram seleções independentes, seguindo critérios de elegibilidade. Discordâncias foram resolvidas por discussão, com um terceiro pesquisador (RL) intervindo em casos de desacordo (OUZZANI et al., 2016; ELSEVIER, 2013).
Extração de dados
Os estudos incluídos tiveram seus dados extraídos utilizando um formulário previamente preparado no Microsoft Office Excel®. Os dados foram extraídos de forma independente por LL e CL e revisados por RL, e incluíram informações descritivas do estudo (autores, ano de publicação, período de coleta de dados do estudo, desenho do estudo, país onde o estudo foi conduzido, número de participantes, gênero, faixa etária), intervenção/exposição (alimentos consumidos), instrumentos utilizados para coleta de dados sobre a ingestão alimentar (Questionário de Frequência Alimentar – QFA e Recordatório de 24 horas – R24h), informações sobre o desfecho, informações sobre desfechos secundários.
Qualidade dos estudos
Dois revisores (LL e CL) utilizaram a ferramenta de Avaliação Crítica do Instituto Joana Briggs (JOANNA BRIGGS INSTITUTE, 2017) para avaliar o risco de viés em estudos de coorte e transversais. A pontuação ≥8 para estudos de coorte e ≥6 “sim” para estudos transversais indicaram alta qualidade. As Tabelas 2 e 3 detalham a qualidade dos estudos.
Avaliação do nível de certeza das evidências
A avaliação da certeza das evidências sobre a relação entre consumo de AUPs e desfecho usou o sistema GRADE (GUYATT et al., 2011), classificando como: A) evidência alta; B) evidência moderada; C) evidência baixa; e D) evidência muito baixa. Estudos observacionais começam com evidência baixa (C) e fatores como magnitude do efeito e qualidade metodológica influenciam a classificação. Viés de publicação, imprecisão e inconsistência podem diminuir a certeza. Em discordância, o terceiro revisor (RL) deu a decisão final.
Análise de dados
Devido ao limitado número de estudos e variação nas exposições e medidas dos resultados, não foi possível conduzir uma metanálise quantitativa. Em vez disso, adotamos uma síntese narrativa, destacando informações essenciais de cada estudo, como autor, ano, país, desenho do estudo, tamanho da amostra, parâmetros avaliados, método de exposição, detalhes e resultados.
Resultados
A Figura 1 detalha o processo de seleção dos estudos.
Características dos Estudos Incluídos
A Tabela 1 destaca as características de 7 estudos abrangendo Brasil, Irã, México e Coreia do Sul, publicados entre 2008 e 2021, totalizando 21.183 participantes (MELO et al., 2017; TAVARES et al., 2011; ASGHARI et al., 2015; AZEMATI et al., 2018; KELISHADI et al., 2008; RAMÍREZ-LÓPEZ et al., 2019; OH et al., 2021). Compreendendo seis estudos transversais e um de coorte, os métodos de avaliação de exposição variaram, sendo o questionário de frequência alimentar (QFA) o mais comum em cinco artigos. As classificações dos alimentos ultraprocessados (AUPs) divergiram, utilizando diferentes sistemas como “Banco de Dados de Nutrientes Coreanos”, “Padrões Alimentares” (DP3), “junk food“, Guia Alimentar Brasileiro, “Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)” e sistema NOVA.
Os métodos de avaliação do consumo de AUPs incluíram porcentagem de energia total em tercis e quartis, com diferentes frequências de consumo relatadas (diária a mais de uma vez por dia) em estudos como AZEMATI et al., 2018; MELO et al., 2017; ASGHARI et al., 2015. Apesar de variações metodológicas, esses estudos oferecem insights sobre padrões globais, destacando a necessidade de abordagens mais uniformes.
Relação entre o consumo de Alimentos Ultraprocessados (AUPs) e a Síndrome Metabólica (SM) (Desfecho primário)
O impacto dos Alimentos Ultraprocessados (AUPs) na Síndrome Metabólica (SM) foi examinado em vários estudos, revelando divergências nos resultados. Enquanto alguns não encontraram uma associação direta (AZEMATI et al., 2018; MELO et al., 2017), outros indicaram uma relação significativa. Por exemplo, Oh et al. (2021) evidenciaram que adolescentes com padrões alimentares ricos em AUPs tinham quase 1,8 vezes mais chances de desenvolver SM em comparação com consumidores menos frequentes (OR = 1,79; IC 95%: 1,11-2,87). Asghari et al. (2015) associaram o consumo de AUPs a uma maior incidência de SM (OR 2,96; IC 95%: 1,02-8,63; p < 0,001).
Ramírez et al. (2019) indicaram que alimentos como fast food, bebidas açucaradas e doces estavam associados à SM (OR 12,14; IC 95%: 1,66-89,05), com maior prevalência entre os adolescentes com alto consumo de AUPs. Tavares et al. (2011) descobriram que o consumo diário acima de 1.245 g de AUPs também estava associado à presença de SM.
Examinando componentes específicos, Kelishadi et al. (2008) identificaram que o consumo de gordura hidrogenada sólida, fast food e doces, especialmente entre as meninas, aumentava o risco de SM (meninos: OR 1,2, IC 95%: 1,07-1,3; meninas: OR 1,3, IC 95%: 1,1-1,5). O consumo de alimentos para lanches também se associou ao risco de SM em ambos os sexos (meninos: OR 1,2, IC 95%: 1,04-1,5; meninas: OR 1,2, IC 95%: 1,05-1,3).
Relação entre o consumo de Alimentos Ultraprocessados (AUPs) e componentes da Síndrome Metabólica (SM) (Desfecho secundário)
A associação entre um padrão alimentar caracterizado por alimentos ultraprocessados (AUPs) e desfechos secundários foi investigada em vários estudos. Em um estudo conduzido por Oh et al. (2021)(OH et al., 2021), adolescentes que consumiam AUPs apresentaram níveis elevados de insulina, HOMA-IR e triglicerídeos, além de redução do HDL-C (p < 0,000). Após ajuste para algumas variáveis, o consumo de AUPs mostrou uma associação positiva com o desenvolvimento de resistência à insulina (OR = 2,11; IC 95%: 1,23-3,64) e escores de IMC ≥ 2 (OR = 1,67; IC 95%: 1,01-2,76).
Autores como Asghari et al. (2015)(ASGHARI et al., 2015) afirmaram que o consumo de AUPs está associado à hipertrigliceridemia (OR = 2,82; IC 95%: 1,01-7,87; p = 0,037) e obesidade abdominal (OR = 2,58; IC 95%: 1,01-6,61; p = 0,009). No entanto, alguns estudos mostraram que o consumo de AUPs não está relacionado com a síndrome metabólica (SM). Em um estudo de Azemati et al. (2018)(AZEMATI et al., 2018) sobre o consumo de AUPs e a SM, não foi encontrada associação significativa com o desfecho primário (SM). No entanto, os resultados indicaram uma associação positiva entre o consumo de AUPs e o desenvolvimento de hipertensão (OR = 1,23; IC 95%: 1,09-1,39), sobrepeso (OR = 1,22; IC 95%: 1,08-1,39) e obesidade (OR = 1,14; IC 95%: 1,04-1,25). Em um estudo conduzido por Melo et al. (2017)(MELO et al., 2017), foi observada uma associação com a prevalência de sobrepeso (OR = 1,13; IC 95%: 1,01-1,26; p = 0,03).
Quanto aos possíveis fatores de confusão na associação de interesse, os estudos de Asghari et al. (2015)(ASGHARI et al., 2015), Oh et al. (2021)(OH et al., 2021) e Tavares et al. (2011)(TAVARES et al., 2011) ajustaram para fatores socioeconômicos, história familiar, idade, gênero, ingestão de energia e nível de atividade física. Apenas o estudo de Kelishadi et al. (2008)(KELISHADI et al., 2008) não deixou claro se houve ajuste para possíveis covariáveis, mas mostrou uma relação com pelo menos um dos componentes da SM, como hipertensão e obesidade.
Tabela 1. Características dos estudos incluídos.
Legenda: Questionário de Frequência Alimentar (QFA); Registro Alimentar (RA); Tercil (T); Quartil ou Quintil (Q).
Avaliação da qualidade metodológica
Avaliamos a qualidade metodológica dos estudos utilizando a lista de verificação do Instituto Joanna Briggs para estudos transversais (Tabela 2) e de coorte (Tabela 3). Dentre os estudos incluídos, três deles obtiveram a pontuação máxima, com todas as respostas indicando “sim” na análise da ferramenta de avaliação utilizada (ASGHARI et al., 2015; OH et al., 2021; TAVARES et al., 2011)(ASGHARI et al., 2015; OH et al., 2021; TAVARES et al., 2011). Por outro lado, dois estudos apresentaram incerteza em relação ao domínio “critérios objetivos e padronizados para medir a condição” (AZEMATI et al., 2018; DE MELO et al., 2017). Além disso, quatro estudos não relataram a identificação de fatores de confusão ou suas estratégias para lidar com eles (AZEMATI et al., 2018; DE MELO et al., 2017; KELISHADI et al., 2008; RAMÍREZ-LÓPEZ et al., 2019). Um estudo também deixou de mencionar se foram utilizadas estratégias para abordar o seguimento incompleto (KELISHADI et al., 2008). Os principais fatores de confusão identificados, que podem influenciar as medidas analisadas, foram idade, gênero, ingestão de energia e nível de atividade física.
A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada usando a lista do Instituto Joanna Briggs. Três estudos obtiveram pontuação máxima, indicando “sim” em todas as respostas (ASGHARI et al., 2015; OH et al., 2021; TAVARES et al., 2011). Dois estudos tiveram incerteza no domínio “critérios objetivos e padronizados para medir a condição” (AZEMATI et al., 2018; MELO et al., 2017). Quatro estudos não relataram identificação de fatores de confusão ou estratégias para lidar com eles (AZEMATI et al., 2018; KELISHADI et al., 2008; MELO et al., 2017; RAMÍREZ-LÓPEZ et al., 2019), e um não mencionou estratégias para seguimento incompleto (KELISHADI et al., 2008). Principais fatores de confusão incluíram idade, gênero, ingestão de energia e nível de atividade física.
Na classificação geral, quatro estudos apresentaram baixo risco de viés (ASGHARI et al., 2015; OH et al., 2021; RAMÍREZ-LÓPEZ et al., 2019; TAVARES et al., 2011), enquanto três foram classificados com risco moderado (AZEMATI et al., 2018; KELISHADI et al., 2008; MELO et al., 2017). Não foram identificados estudos com alto risco de viés. Detalhes estão nas tabelas 2 e 3.
Tabela 2. Avaliação do risco de viés com a lista de verificação do (JOANNA BRIGGS INSTITUTE, 2017) para estudos transversais analíticos.
D 01- Os critérios de inclusão na amostra foram claramente definidos? D 02- Os sujeitos do estudo e o contexto foram descritos em detalhes? D 03- A exposição foi avaliada de forma válida e confiável? D 04- Foram usados critérios objetivos e padronizados para medir a condição? D 05- Os fatores de confusão foram identificados? D 06- Foram estabelecidas estratégias para lidar com os fatores de confusão? D 07- Os resultados foram medidos de forma válida e confiável? D 08- Foi utilizada uma análise estatística apropriada?
Tabela 3. Avaliação do risco de viés com a lista de verificação do (JOANNA BRIGGS INSTITUTE, 2017) para estudos de coorte.
D 01- Os dois grupos eram semelhantes e foram recrutados da mesma população? D 02- As exposições foram medidas de forma semelhante para designar pessoas para os grupos expostos e não expostos? D 03- A exposição foi medida de forma válida e confiável? D 04- Os fatores de confusão foram identificados? D 05- Foram estabelecidas estratégias para lidar com os fatores de confusão? D 06- Os grupos/participantes estavam livres do resultado no início do estudo (ou no momento da exposição)? D 07- Os resultados foram medidos de forma válida e confiável? D 08- O tempo de acompanhamento foi relatado e suficientemente longo para que os resultados ocorressem? D 09- O acompanhamento foi completo e, se não foi, os motivos da perda de acompanhamento foram descritos e explorados? D 10- Foram usadas estratégias para lidar com o acompanhamento incompleto? D 11- Foi utilizada uma análise estatística apropriada
Análise do nível de certeza das evidências
A Tabela 4 resume a análise da qualidade das evidências usando o sistema GRADE. O nível de certeza foi considerado muito baixo para os desfechos primário e secundário devido à natureza observacional dos estudos (CITAÇÃO). Todos iniciaram com evidência baixa (C), dada a natureza observacional. Evidências indiretas, possibilidade de viés de publicação, alta inconsistência e imprecisão nos estudos sobre AUPs e Síndrome Metabólica são destacados (CITAÇÃO). Quatro estudos não estabeleceram estratégias para lidar com fatores de confusão (AZEMATI et al., 2018; KELISHADI et al., 2008; MELO et al., 2017; RAMÍREZ-LÓPEZ et al., 2019), e um não os apresentou (KELISHADI et al., 2008), resultando em rebaixamento do nível de evidência. O estudo de Kelishadi et al. (2008) não explicou a perda de seguimento, contribuindo para o rebaixamento do nível de evidência (CITAÇÃO). As classificações no sistema GRADE foram muito baixas (CITAÇÃO).
Tabela 4. Avaliação do nível de evidência da associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a síndrome metabólica em adolescentes.
Explicações
¹: (Obesidade abdominal; Dislipidemia; Hipertensão; Hiperglicemia; Resistência à insulina).
a. As estimativas mostraram maior variabilidade entre os estudos
b) Dois estudos não mostraram os fatores de confusão
c) Detectou-se viés significativo de publicação
d. Não foram estabelecidas estratégias para lidar com fatores de confusão nos dois estudos
Discussão
Acreditamos que esta revisão sistemática tenha sido a primeira tentativa de sintetizar as evidências sobre a relação entre o consumo de Alimentos ultraprocessados (AUP) e a Síndrome Metabólica (SM) em adolescentes. O aumento global do consumo de AUP está associado a doenças crônicas (LOUZADA et al., 2018a; MARRÓN-PONCE et al., 2018; MONTEIRO et al., 2019; MOUBARAC et al., 2017). Estudos em adultos indicam associações positivas entre certos AUPs e doenças crônicas (IMAMURA et al., 2015; VERNOOIJ et al., 2019; Betal et al., 2018). Em adolescentes, o alto consumo de AUP está relacionado a alterações metabólicas e dislipidemias (ANDRADE; PEREIRA; SICHIERI, 2003; LIMA et al., 2018).
Síndrome Metabólica
A revisão destaca associações entre Alimentos Ultraprocessados (AUP) e Síndrome Metabólica (SM) em adolescentes, mostrando aumento de ingestão calórica e riscos metabólicos. Estudos como Tavares et al. (2011), Oh et al. (2021), e Ramírez-López et al. (2019) evidenciam relação com circunferência abdominal, hipertensão, hipertrigliceridemia e resistência à insulina. O consumo elevado de AUP está associado a menor qualidade nutricional (CORNWELL et al., 2018), contribuindo para distúrbios metabólicos em crianças, adolescentes e adultos. Alimentos Minimamente Processados estão relacionados a menor sobrepeso/obesidade e SM. Estudos indicam associação entre tipos específicos de AUP e gordura corporal em adolescentes (COSTA et al., 2019). Tavares et al. (2011) encontraram associação significativa entre alto consumo de AUP e maior prevalência de SM em adolescentes. Melo et al. (2017) não observaram associação com sobrepeso, hipertensão ou circunferência abdominal elevada em adolescentes, destacando a necessidade de mais pesquisas para entender os mecanismos biológicos (TAVARES et al., 2011; OH et al., 2021; RAMÍREZ-LÓPEZ et al., 2019; CORNWELL et al., 2018; NASREDDINE et al., 2018; MELO et al., 2017; COSTA et al., 2019).
Hipertensão arterial
A revisão destaca a associação positiva entre alimentos ultraprocessados (AUP) e hipertensão arterial (HAS) em adolescentes (AZEMATI et al., 2018). Estudos indicam que o consumo desses alimentos aumenta a probabilidade de desenvolver HAS (OR 1.23, IC 95%: 1.09-1.39)(AZEMATI et al., 2018). A prevalência global de HAS em crianças e adolescentes é estimada em 4%, com aumento nas últimas décadas (SONG et al., 2019). A obesidade infantil e a HAS tendem a persistir na adolescência e idade adulta (LIU et al., 2020; THEODORE et al., 2015). Pesquisas confirmam a relação entre AUP e HAS, atribuindo-a aos altos níveis de sódio nesses alimentos (LOUZADA et al., 2018; MONTEIRO et al., 2018). O consumo de AUP também está associado a baixas ingestões de nutrientes essenciais, aumentando o risco de diabetes mellitus e hipertensão (LOUZADA et al., 2018). Estudos específicos mostram que o aumento do consumo de bebidas açucaradas está relacionado a elevações na pressão arterial em adolescentes (DE BOER et al., 2018), e a hipertensão diastólica está associada ao consumo frequente de alimentos salgados, como pizza e batata frita (PÉREZ-GIMENO et al., 2020).
Hiperglicemia
Nossos resultados evidenciam que o consumo de alimentos ultraprocessados (AUPs), como bebidas açucaradas e lanches, associam-se a níveis glicêmicos elevados. Estudos indicam que AUPs, com baixo poder de saciedade, causam respostas glicêmicas mais altas que alimentos integrais (FARDET, 2016; HOBBS et al., 2015; SHIN et al., 2018). Carne processada e bebidas açucaradas, componentes de AUPs, são reconhecidos como fatores de risco para diabetes mellitus tipo 2 (DM2), impactando a saúde metabólica (FOROUHI et al., 2018). Ensaios clínicos evidenciam que dietas ricas em AUPs aumentam a ingestão de energia, associando-se ao risco de DM (HALL et al., 2019; SROUR et al., 2020). O debate sobre os mecanismos específicos continua (FOROUHI et al., 2018).
Dislipidemia
O consumo de alimentos ultraprocessados está associado à deterioração do perfil lipídico em adolescentes (SANTOS et al., 2013). Bebidas açucaradas e carnes processadas contribuem para dislipidemias, obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 (BENDSEN et al., 2011; BONACCIO et al., 2022; WANG et al., 2022). Esses alimentos elevam a lipogênese, a secreção de VLDL e o acúmulo de ácidos graxos (RAUBER et al., 2015). Gorduras saturadas e trans neles impactam negativamente o perfil lipídico (BESERRA et al., 2020; SANTOS et al., 2013), e a baixa ingestão de fibras agrava os resultados (LOUZADA et al., 2018; NETO et al., 2012; TAVARES et al., 2011). Intervenções são necessárias para prevenir dislipidemias nesse grupo.
Sobrepeso e obesidade.
O consumo de alimentos ultraprocessados está associado a um maior índice de massa corporal (IMC) e maior prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes (LOUZADA et al., 2015). A relação entre alimentos ultraprocessados e esses problemas de saúde é destacada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que enfatizam os riscos para doenças cardiovasculares, câncer e mortalidade (ZINÖCKER; LINDSETH, 2018; OPAS, 2015).
Estudos em crianças e adolescentes mostram associação direta entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a obesidade, especialmente em grupos de maior renda (COSTA et al., 2019; LEFFA et al., 2020; RAUBER et al., 2015; ENES; CAMARGO; JUSTINO, 2019). Dados da OPAS indicam que em países com menor consumo de alimentos ultraprocessados, como Peru e Bolívia, o IMC médio é inferior aos padrões de sobrepeso e obesidade, ao passo que em nações com maior consumo, como Chile e México, o IMC tende a ser mais alto (OPAS, 2015).
Esses achados reforçam a urgência de políticas públicas para desencorajar o consumo de alimentos ultraprocessados, intervindo em sua produção, marketing e publicidade, e promovendo o retorno a uma dieta saudável.
Pontos fortes e limitações do estudo
Este estudo inovador sobre o uso de AUPs em adolescentes, embora rigoroso, possui limitação geográfica a quatro países, exigindo cautela na interpretação global. Futuras pesquisas devem ampliar a investigação para maior robustez. Apesar de contribuir à literatura, destaca-se a necessidade de estudos adicionais para compreender abrangentemente o impacto do consumo de AUPs na saúde dos adolescentes.
Considerações finais
Embora os resultados sugiram uma associação positiva entre o consumo de alimentos ultraprocessados (AUPs) e o aumento do risco de síndrome metabólica (SM), é importante observar que a certeza desses resultados é limitada devido à natureza dos estudos utilizados, que foram principalmente observacionais, como estudos transversais e de coorte. Portanto, esses achados devem ser interpretados com cautela. São necessárias mais pesquisas usando métodos mais rigorosos, como estudos controlados e randomizados, para estabelecer uma relação de causa e efeito mais sólida e elucidar os mecanismos subjacentes. Esses estudos futuros fornecerão evidências mais robustas e conclusivas sobre os efeitos do consumo de AUPs na saúde e no desenvolvimento da síndrome metabólica em diferentes populações.
Referências
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¹Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO). Avenida Constantino Nery, 3470, Chapada, Manaus-AM, CEP: 69010-160. E-mail: eduardordgz1@gmail.com
²Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Faculdade Estácio do Amazonas. Avenida Constantino Nery, 3693, Chapada, Manaus-AM, CEP: 69025-315. E-mail: camilanutri.cf@gmail.com
³Doutor em Imunologia Básica e Aplicada. Univ0ersidade Federal do Amazonas (UFAM). Instituto de Saúde e Biotecnologia, Estrada Coari-Mamiá, Bairro Nazaré Pinheiro, Coari-AM, CEP: 69460-000. E-mail: bruno.mori@hotmail.com
4Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. Universidade Federal do Amazonas. Avenida General Rodrigo Octavio, 1200, Coroado I, Manaus-AM, CEP: 69067-005. E-mail: meirevi@hotmail.com
5Doutora em Saúde Baseada em Evidências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Universidade Federal do Amazonas. Avenida General Rodrigo Octavio, 1200, Coroado I, Manaus-AM, CEP: 69067-005. E-mail: celsa22@hotmail.com
6Doutor em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Universidade Federal do Amazonas. Avenida General Rodrigo Octavio, 1200, Coroado I, Manaus-AM, CEP: 69067-005. E-mail: rossato.mateus@gmail.com