IMPACT OF CLIMACTERIC ON SEXUAL FUNCTION OF WOMEN FROM THE COASTAL PLAIN
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12524414
Victória Pereira Vieira1; Sulamita Agna Maria Silva1; Viviane De Carvalho Aragão1 Júlia Rodrigues Santos1; João Lucas Peres dos Santos1; Lívia Maria Ribeiro Rodrigues1; Guilherme Pertinni de Morais Gouveia2; Samara Sousa Vasconcelos Gouveia2
RESUMO
Introdução: A função sexual é essencial para o envelhecimento saudável e a qualidade de vida, portanto é necessária uma abordagem abrangente para compreender o impacto do climatério na função sexual. Com isso, este estudo busca analisar o impacto do climatério na função sexual de mulheres na Planície Litorânea do Piauí. Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo transversal de caráter quantitativo, na qual mulheres climatéricas foram avaliadas utilizando um formulário estruturado, que incluiu o Índice Menopausal de Blatt e Kupperman (IMBK), o Índice de Função Sexual Feminina (IFSF) e o Questionário Utian Quality of Life (UQOL). Resultados: Participaram do estudo 82 mulheres, com média de idade de 51,19 anos, maioria casada, parda e com ensino médio completo. Cerca de 69,5% relataram vida sexual ativa. Em relação à menopausa, 50% não tinham ciclos menstruais e 31,7% estavam em pós-menopausa tardia. A maioria (85,4%) não fazia terapia de reposição hormonal. Infecções ginecológicas foram comuns (39% candidíase), e 45% passaram por cirurgias ginecológicas. O IMBK teve média de 34,73, IFSF teve escore médio de 17,42, com 79,3% apresentando risco de disfunção sexual e o UQOL apresentou escore médio de 81,22, indicando boa qualidade de vida. Conclusão: Os resultados indicam que a atividade sexual está associada a melhor função sexual e ocorre mais frequentemente em mulheres mais jovens. Mulheres com preditivos para disfunção sexual apresentam piores escores de qualidade de vida. Não houve diferenças significativas nos sintomas climatéricos entre mulheres com e sem vida sexual ativa.
Palavras-chave: Climatério. Sexualidade. Saúde da Mulher. Qualidade de Vida.
Abstract
Introduction: Sexual function is essential for healthy aging and quality of life, thus a comprehensive approach is necessary to understand the impact of menopause on sexual function. Therefore, this study aims to analyze the impact of menopause on the sexual function of women in the Coastal Plain of Piauí. Materials and Methods: This is a quantitative cross-sectional study in which menopausal women were assessed using a structured questionnaire, including the Blatt and Kupperman Menopausal Index (BKMI), the Female Sexual Function Index (FSFI), and the Utian Quality of Life Questionnaire (UQOL). Results: A total of 82 women participated in the study, with a mean age of 51.19 years, mostly married, of mixed race, and with completed high school education. Approximately 69.5% reported having an active sexual life. Regarding menopause, 50% had no menstrual cycles, and 31.7% were in late postmenopause. The majority (85.4%) were not undergoing hormone replacement therapy. Gynecological infections were common (39% had candidiasis), and 45% had undergone gynecological surgeries. The BKMI had a mean score of 34.73, the FSFI had a mean score of 17.42, with 79.3% at risk for sexual dysfunction, and the UQOL had a mean score of 81.22, indicating good quality of life. Conclusion: The results indicate that sexual activity is associated with better sexual function and occurs more frequently in younger women. Women with predictors for sexual dysfunction have poorer quality of life scores. There were no significant differences in menopausal symptoms between women with and without active sexual life.
Keywords: Climacteric. Sexuality. Women’s Health. Quality of Life.
1 INTRODUÇÃO
O climatério é um período caracterizado por um estado fisiológico de hipoestrogenismo progressivo, que geralmente inicia-se por volta dos 40 anos e podendo se estender até os 65 anos, marcando a transição entre os períodos reprodutivo e não reprodutivo (CRUZ; NINA; FIGUERÊDO, 2017). Este período abrange transformações psicossociais, afetivas, sexuais, familiares e ocupacionais. As alterações hormonais decorrentes deste período desencadeiam um conjunto de sinais e sintomas desconfortáveis, como ondas de calor, sudorese, irritabilidade, dor de cabeça, atrofia genital, insônia, palpitações, tontura, fadiga e dores nas articulações. Além desses sinais físicos, existem sintomas neuropsíquicos, como depressão, ansiedade, fadiga e diminuição da libido (NOGUEIRA et al., 2022).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde sexual é definida como “um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade; não é apenas a ausência de doença, disfunção ou enfermidade’’. A função sexual feminina é um fenômeno biopsicossocial complexo que envolve diversos fatores biológicos, socioculturais, psicológicos e interpessoais (HERREZUELO et al., 2020).
Na fase do climatério, as mulheres tornam-se mais vulneráveis às disfunções sexuais, em virtude das consequências do hipoestrogenismo, bem como por alterações da libido e aspectos psicológicos e socioculturais (AQUINO et al., 2018). A disfunção sexual feminina é comum, afetando 25–43% das mulheres, uma porcentagem que aumenta acentuadamente durante os anos do climatério (KHOIRI et al., 2023).
A função sexual faz parte de um envelhecimento saudável e com qualidade de vida (GONÇALVES et al., 2023). Deste modo, compreender o impacto do climatério na função sexual exige, portanto, uma abordagem abrangente que considere a interconexão desses diversos fatores.
Diante dessa realidade, este estudo tem como objetivo geral analisar o impacto do climatério na função sexual de mulheres residentes na Planície Litorânea do Piauí. Através de uma investigação profunda, busca-se compreender como essas transformações influenciam suas vidas e bem-estar, contribuindo para um melhor entendimento da sexualidade feminina durante o climatério e para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de cuidado e apoio a essas mulheres. Os objetivos específicos são traçar o perfil demográfico e epidemiológico da população-alvo; identificar quais disfunções sexuais são apresentadas pelas mulheres na fase do climatério; verificar a sintomatologia decorrente do climatério no público-alvo; avaliar a qualidade de vida e função sexual de mulheres climatéricas da Planície Litorânea e correlacionar a sintomatologia do climatério com as disfunções sexuais e dados sociodemográficos das mulheres da Planície Litorânea do Piauí.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Desenho do estudo
Trata-se de um estudo transversal de caráter quantitativo, em que a seleção das participantes ocorreu por meio de abordagem eletrônica, utilizando a plataforma Google Forms®, bem como presencialmente em Unidades Básicas de Saúde (UBS) localizadas em Parnaíba, PI. A coleta de dados foi realizada entre 28 de maio de 2024 e 16 de junho de 2024, na região da Planície Litorânea do estado do Piauí. Ocorreu divulgação através de postes virtuais com o título desta pesquisa, convidando as supostas voluntárias fazer o preenchimento do formulários e questionários.
Essa pesquisa seguiu os preceitos do checklist Strobe, composto por 22 itens desenvolvidos para recomendar tópicos essenciais em cada seção de um estudo com os desenhos abrangidos pela ferramenta (PACHECO et al., 2017).
2.2 População e amostra
A pesquisa contemplou 82 voluntárias com idades entre 40 e 65 anos, em fase de climatério e residentes da Planície Litorânea do estado do Piauí. A figura 1 apresenta um fluxograma das participantes do estudo.
Figura 01: Fluxograma do desenho do estudo
2.3 Critérios de inclusão, exclusão e retirada
Foram incluídas no estudo mulheres na faixa etária compreendida entre 40 e 65 anos em diferentes fases do climatério, conforme Estágio Menopausa STRAW: prémenopausa (sem alterações menstruais), perimenopausa inicial (irregularidades menstruais sem amenorreia por 12 meses), perimenopausa tardia (irregularidades menstruais persistentes após 12 meses de amenorreia), pós-menopausa inicial (período após a última menstruação até o fim da vida) e pós-menopausa tardia (período após a pós-menopausa inicial) (LEAL et al., 2020) e que se dispuseram a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice A).
Foram excluídos da pesquisa os questionários com dados incompletos, assim como voluntárias que solicitem, a qualquer momento, sua retirada da pesquisa via contato por e-mail ou telefone, constando o seu código de pesquisa.
2.4 Instrumentos e procedimentos para a coleta
Os dados foram coletados por meio da aplicação e preenchimento de um formulário estruturado e validado, destinado à avaliação da função sexual e de outros parâmetros pertinentes, disponibilizado online através da plataforma Google Forms® e aplicado de forma presencial nas Unidades Básicas de Saúde situadas na cidade de Parnaíba. O formulário foi composto por 04 questionários diferentes com perguntas objetivas e subjetivas. O primeiro questionário consistiu na ficha de avaliação contendo 27 perguntas, com opções de respostas variadas. O segundo questionário que avaliou a sintomatologia climatérica, contém 11 itens com 3 opções de resposta. O terceiro questionário que avaliou a função sexual é composto por 19 itens com cinco a seis opções de resposta para cada item. O último questionário analisou a qualidade de vida e é composto por 23 perguntas com cinco opções de resposta. O tempo de resposta do formulário foi de aproximadamente 20 minutos. A abordagem dos questionários teve quatro domínios, sendo eles: sociodemográfico, clínico-sintomatológico, função sexual e qualidade de vida.
Antes de ser aplicado à população-alvo do estudo, o questionário passou por um pré-teste para garantir sua qualidade e adequação. Ele foi enviado para 7 pessoas de níveis socioculturais diferentes, entre homens e mulheres, com o intuito de avaliar os seguintes parâmetros: clareza, adequação e pertinência das perguntas. O número mínimo de sujeitos adotados para a realização do pré-teste ocorreu por conveniência, sem a necessidade de cálculo amostral.
2.4.1 Ficha de Avaliação e Identificação
A ficha de avaliação e identificação consistiu em um formulário desenvolvido pelos pesquisadores com intuito de traçar o perfil demográfico e epidemiológico da população-alvo, abordando dados de identificação e sociodemográficos, histórico ginecológico/obstétrico, dados do climatério, doenças associadas e hábitos e estilo de vida. Na identificação e perfil sociodemográfico foram colhidos: data de nascimento, idade, telefone, município de residência, situação conjugal, etnia, escolaridade, renda individual e familiar e atividade laboral.
No que se refere ao histórico ginecológico/obstétrico, foram coletadas informações sobre a idade da menarca, número de gestações e abortos, tipo de parto, idade da primeira e última gestação, idade da primeira relação sexual, situação sexual atual (ativa ou inativa), data da última menstruação, ciclos menstruais, idade de ocorrência dos primeiros sintomas do climatério, uso de terapia de reposição hormonal e cirurgias ginecológicas.
A informação sobre doenças associadas incluiu: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, osteoporose, doenças da tireoide, doença respiratória, labirintite, câncer, doença sexualmente transmissível, cardiopatias, infecções do trato urinário, entre outras. E, por fim, no Apêndice B, informações sobre hábitos e estilo de vida: tabagismo, etilismo e prática de atividade física regular foram coletadas.
2.4.2 Avaliação da Sintomatologia Climatérica
O Índice Menopausal de Blatt e Kupperman (IMBK) foi utilizado para a avaliação da intensidade e do grau da sintomatologia do climatério. Este índice foi criado pelos médicos alemães Blatt e Kupperman, baseando-se na observação clínica de pacientes em 1953. Desde então, passou a ser utilizado como referência para avaliar os sintomas climatéricos de pacientes. O índice compreende 11 sintomas ou queixas, sendo: vasomotores, parestesia, insônia, vertigem, nervosismo, depressão, fadiga, artralgia/mialgia, cefaleia, palpitações e zumbido no ouvido.
Os critérios avaliados pelo IMBK – Anexo A, recebem ainda uma classificação pela sua intensidade, podendo chegar a leve, moderado ou severo. O mesmo é estabelecido um peso diferente a depender da escolha, sendo, 1, 2 e 3 respectivamente e que será multiplicado por um escore específico para cada sintoma, os quais são: vasomotores, peso 4, parestesia, distúrbios do sono e irritabilidade, peso 2 e os demais pesos 1. Ao final, obtém-se o índice global pela soma dos escores alcançados em cada sintoma, que leva a seguinte classificação: intensidade leve ≤19, intensidade moderada ≥ 20 e ≤35 e intensidade severa >35 (ARAÚJO et al., 2015).
2.4.3 Avaliação da Função Sexual da Mulher
O Índice da Função Sexual Feminina (Female Sexual Function Index) – ANEXO B, foi aplicado para avaliar a função sexual das participantes inclusas na pesquisa e consistiu em um questionário autoaplicável que visa analisar a resposta sexual feminina nas fases ou componentes da resposta sexual. Essa ferramenta avalia seis domínios: desejo sexual, excitação, lubrificação vaginal, orgasmo, satisfação e dor. Cada domínio recebe uma pontuação, e as opções de resposta variam de 0 a 5, refletindo a ocorrência da função sexual questionada. No domínio da dor, a pontuação é invertida. Ao somar as pontuações de cada domínio, é necessário multiplicá-las por um fator que homogeneíza a influência de cada um, chegando à pontuação total. Essa pontuação varia de 2 a 36, sendo que quanto maior o escore final, melhor a função sexual (FAUSTO et al., 2023). Escore igual ou inferior a 26,5 é considerado indicativo de alto risco de disfunção sexual (CRUZ; NINA; FIGUERÊDO, 2017). Suas esferas e subitens foram baseados na classificação de disfunção sexual feminina da American Foundation for Urologic Disease (AFUD) (TRINDADE; DAMASCENO, 2019).
2.4.4 Avaliação da Qualidade de Vida
Foi ainda anexado no formulário, o questionário Utian Quality of Life (UQOL), que foi traduzido e adaptado para aplicação no Brasil. Apresenta alta aplicabilidade para mulheres climatéricas de diferentes culturas. É considerado um instrumento completo e de validade abrangente pois permite avaliações das esferas ocupacional, emocional, sexual e de saúde. Constitui-se de 23 perguntas, que são respondidas através de escala tipo Likert, cujas possibilidades de resposta variam de 1 (“não verdadeiro para mim”) a 5 (“muito verdadeiro para mim”) Anexo 03 (LISBOA et al., 2015).
2.5 ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram digitados em um banco de dados utilizando o software Microsoft Office Excel 2010, empregando-se estatísticas descritivas de acordo com as variáveis pesquisadas. Foram realizados os testes de normalidade e homogeneidade e, a partir destes, foram escolhidos os testes que avaliaram as variáveis categóricas, nominais e regressão logística. Os dados foram apresentados na forma de gráficos e tabelas.
2.6 ASPECTOS ÉTICOS
A pesquisa foi realizada seguindo princípios éticos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, respeitando os quatro referenciais básicos: a autonomia, não maleficência, beneficência e justiça (AMORIM, 2019).
Os pesquisadores explicaram os objetivos e os passos da execução da pesquisa aos sujeitos que atenderam aos critérios de inclusão do trabalho. Em seguida, àqueles que aceitaram participar, foram fornecidos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para leitura e assinatura.
2.7 RISCOS E BENEFÍCIOS
Esta pesquisa gerou uma sensação de desconforto a sintomatologia memorizada do climatério, como angústias decorrentes da possível disfunção sexual, uma vez que constou de técnicas como a entrevista, que fez a paciente buscar em sua memória disfunções sexuais relacionadas ao climatério, bem como sensações de sintomatologia da condição clínica em estudo.
Caso as participantes apresentassem qualquer desconforto, foi oferecido todo o suporte necessário, incluindo encaminhamento psicoterápico via lista de espera, para posterior atendimento no Centro de Especialidades em Saúde (CES) do município de Parnaíba-PI, e acompanhamento fisioterapêutico nas clínicas credenciadas no SUS, dentro do município de Parnaíba-PI, para maiores esclarecimentos e tratamento, conforme termo acordado entre as partes, ANEXO D e E.
A pesquisa serviu como base para a adoção de medidas preventivas e de promoção à saúde das mulheres climatéricas
3 RESULTADOS
Participaram do estudo 82 mulheres, com média de idade de 51,19±6,56 anos, predominantemente, residentes em Parnaíba, estando em situação conjugal casada (39%), autodeclaradas pardas (58,5%) e nível escolar com ensino médio completo (43,9%). Os demais dados e os relacionados à função laboral, renda familiar e individual dentre outros, encontram-se na tabela 1.
Tabela 1: Frequências sobre características gerais de mulheres climatéricas em Parnaíba – PI, 2024.
A análise das variáveis ginecológicas revelou dados importantes sobre a saúde sexual e reprodutiva das participantes. A maioria (69,5%) relatou ter vida sexual ativa. Dentre as inativas, a duração da inatividade variou significativamente, com 14,6% inativas entre 1 a 5 anos. Em termos de frequência sexual, 32,9% relataram relações sexuais menos frequentes que três vezes por mês, e 30,5% não possuem atividade sexual.
No que tange ao ciclo menstrual, 32,9% apresentaram ciclos normais, enquanto 50% não possuem ciclos, refletindo uma possível prevalência de menopausa, confirmada pela alta porcentagem de pós-menopausa tardia (31,7%). A maioria das participantes (85,4%) não tem histórico de terapia de reposição hormonal (TRH).
Infecções ginecológicas foram reportadas por 43,9%, destacando-se a candidíase (39%) como a infecção mais comum. Cirurgias ginecológicas foram realizadas em 45%, com a ligadura tubária sendo o procedimento mais frequente (15,9%).
Quanto ao status menopausal, houve uma distribuição significativa em todas as fases, com destaque para a fase de pós-menopausa tardia (31,7%). O Índice Menopausal de Blatt e Kupperman indicou sintomas severos de menopausa em 46,3% das participantes. Finalmente, 79,3% foram consideradas com risco preditivo para disfunção sexual, o que indica uma alta prevalência de questões relacionadas à saúde sexual entre as participantes. Os dados detalhados encontram-se na tabela 2.
Tabela 2: Frequências sobre as variáveis relativas à saúde sexual das mulheres em estudo, Parnaíba – PI, 2024.
Os dados analisados revelaram a média e o desvio padrão (DP) de diversas variáveis relacionadas à saúde ginecológica e reprodutiva. A média de idade das participantes foi de 51,19 anos (DP = 6,56). A menarca ocorreu, em média, aos 13,3 anos (DP = 1,73). A média de idade para a primeira relação sexual foi de 18,74 anos (DP = 5,53), e a primeira gestação ocorreu, em média, aos 19 anos (DP = 7,78). A média de idade da última gestação foi de 24,93 anos (DP = 10,76).
Os sintomas climatéricos começaram, em média, aos 45,9 anos (DP = 5,03). As participantes relataram uma média de 2,46 partos (DP = 1,76), com 1,87 partos normais (DP = 1,88) e 0,54 cesáreas (DP = 0,88). A média de abortos foi de 0,46 (DP = 1,13).
O escore médio no Índice Menopausal de Blatt e Kupperman foi de 34,73 (DP = 9,51), enquanto o escore no Índice da Função Sexual Feminina (IFSF) foi de 17,42 (DP = 10,03). A pontuação média total no Questionário Utian Quality of Life (UQOL) foi de 81,22 (DP = 13,15). No domínio sexual, o escore médio foi de 10,67 (DP = 3,1), no domínio emocional foi de 21,67 (DP = 4,78), no domínio saúde foi de 21,23 (DP = 6,01), e no domínio ocupacional foi de 27,65 (DP = 5,5). Esses resultados oferecem uma visão detalhada das características demográficas e da saúde sexual e reprodutiva da amostra estudada. Os dados detalhados encontram-se na tabela 3.
Tabela 3: Variáveis descritivas das mulheres climatéricas de Parnaíba – PI, 2024.
Em relação à vida sexual ativa, a média de idade das mulheres foi significativamente menor (49,79 anos, DP = 6,07) em comparação com aquelas sem vida sexual ativa (54,4 anos, DP = 6,63), com p = 0,003, indicando uma diferença estatisticamente significativa. Já o escore médio no Índice da Função Sexual Feminina (IFSF) foi significativamente mais alto para mulheres com vida sexual ativa (23,16, DP = 5,85) em comparação com aquelas sem vida sexual ativa (4,33, DP = 1,63), com p < 0,0001.
Em relação aos escores do Índice Menopausal de Blatt e Kupperman entre mulheres com vida sexual ativa (34,19, DP = 9,79) e sem vida sexual ativa (35,96, DP = 8,91), não houve diferença significativa com p = 0,442.
Ainda, as diferenças nos escores do Questionário Utian Quality of Life (UQOL) e nos domínios ocupacional, saúde, emocional e sexual não foram estatisticamente significativas, com p variando entre 0,265 e 0,801, respectivamente.
Tabela 4: Relação entre vida sexual ativa, preditivo para disfunção sexual e variáveis demográficas e questionários específicos da saúde da mulher climatérica em Parnaíba – PI, 2024.
* Diferença estatisticamente significante. Comparação de médias por meio do teste t independente. Todas as variáveis analisadas tinham distribuição normal.
4 DISCUSSÃO
Embora o climatério se configure como parte do processo natural de envelhecimento da vida da mulher, seus sintomas podem afetar a saúde, o bem-estar, a sexualidade, e consequentemente, a qualidade de vida. Alguns dos sintomas mais comuns, são: cefaleia, sintomas vasomotores, parestesia, queixas psicológicas e artralgia. Sintomas vaginais e problemas sexuais, se fazem recorrentes nesse período, sendo considerado um dos mais críticos na vida das mulheres. E a longo prazo, distúrbios cardiovasculares e osteoporose, decorrentes deste período, também podem ocorrer (MOEZ et al., 2023).
Participaram da pesquisa 82 mulheres com média de idade de 51,19±6,56 anos, e no período pós-menopausa tardia. Maioria casada e autodeclaradas parda. O presente estudo indicou um grau considerável de educação formal, onde grande parte concluíram o ensino médio. Quando relacionado à renda, um percentual considerável não possuía renda própria e a renda familiar predominante na população do estudo é de um salário-mínimo à um salário mínimo e meio. Os dados deste estudo foram estatisticamente similares aos de Fonseca et al. (2021), onde a maioria das participantes eram casadas, alfabetizadas e possuíam renda de um a dois salários mínimos. Resultados observados por Cruz, Nina e Figuerêdo (2017) também demonstraram semelhanças relevantes com os achados deste estudo em relação às características sociodemográficas da amostra. A amostra analisada neste estudo apresentou uma média de idade de 51,44 anos. Além disso, a maioria das participantes estava no período de pós-menopausa, autodeclarou-se parda e cerca de metade não possuía renda mensal. Esses dados são consistentes com as características demográficas verificadas na presente pesquisa.
Sabidamente, o climatério é um período de diversas mudanças hormonais caraterizada por um declínio nos hormônios ovarianos, ocasionando diversos sintomas fisiológicos, como ciclos menstruais irregulares, ocorrência da interrupção menstrual, atrofia do sistema geniturinário, ressecamento vaginal, dispareunia e queixas femininas, das quais se destacam: cefaleia, sintomas vasomotores, parestesia, insônia, vertigem, artralgia, etc. (ARAÚJO et al., 2015). No presente estudo, a severidade dos sintomas do climatério foi classificada de acordo com Índice Menopausal de Blatt e Kupperman como moderada (pontuação total do IMBK >=20 e <35) em 48,8% das participantes, no qual começaram, em média, aos 45,9 anos. Este achado é consistente com os resultados descritos por Cruz, Nina e Figueiredo (2017). Um resultado similar foi observado no estudo de Campos, Fernandes e Mendonça (2017), onde 45% da amostra apresentou sintomas de intensidade moderada.
O estudo de Lian et al. (2023), associa os sintomas do climatério como motivador da baixa frequência sexual, diminuição da prática de atividade física e diminuição da qualidade de vida, podendo também estar relacionado, com a redução do nível de saúde física e mental, e ainda pode estar associado a risco aumentado de osteoporose e síndrome geniturinária. Esses estudos corroboram para a importância da autonomia das mulheres, quando relacionada a sua saúde sexual, e o dever dos profissionais da saúde em promover educação em saúde e movimentos relacionados a sexualidade feminina.
As disfunções sexuais nas mulheres, estão associadas a diversos fatores, como idade, fase reprodutiva, saúde física e mental, além de fatores psicossociais, como estresses no ambiente familiar e de trabalho, insatisfação com o relacionamento amoroso e sexual com seu parceiro, e insegurança com sua aparência física e estética (FAUBION, 2020). Além disso, a transição fisiológica do período reprodutivo para o não reprodutivo na mulher, traz consequências relacionadas às mudanças na composição corporal e diminuição da performance física (KHOUDARY et al., 2019), assim como, disfunções sexuais, tais quais: baixo desejo sexual, má lubrificação e dispareunia, decorrentes da diminuição dos níveis de estrogênios e andrógenos, desempenhando um importante déficit da resposta sexual (SCAVELLO et al., 2019). Quando relacionado a função sexual das participantes do estudo, 79,3% apresentaram disfunções sexuais, com maiores prevalências na redução da excitação, orgasmo, desejo, lubrificação, dor e satisfação, respectivamente. Esses dados indicam que o período climatérico trouxe mais prejuízos à sexualidade da população estudada em termos de questões fisiológicas do que psicossociais.
Em um estudo realizado no sudoeste baiano por Mota, Matos e Amorim (2021), com uma amostra de 99 mulheres, foram observados dados semelhantes em relação à função sexual avaliada através do Índice de Função Sexual Feminina (IFSF). Foi reportado um escore médio do IFSF de 18,47 (DP = 6,67), com 69% das participantes apresentando disfunção sexual. O domínio de excitação foi o principal contribuinte para o baixo escore, conforme também observado no presente estudo, onde a maioria das mulheres voluntárias apresentou disfunção sexual, com um escore médio do IFSF de 17,42 (DP = 10,03). Resultados semelhantes foram observados no estudo de Herrezuelo et al. (2020), que relatou um escore médio do IFSF de 18,22 (DP = 10,60), sendo indicativo de disfunção sexual.
A avaliação da qualidade de vida durante o climatério requer uma abordagem complexa e multifacetada, considerando os diversos fatores biopsicossociais que influenciam essa etapa da vida das mulheres (SOUZA, 2019). Em um estudo realizado no Rio Grande do Norte (LISBOA et al., 2015) com mulheres entre 45 e 65 anos na fase de climatério observou-se que a pontuação média no UQOL de foi de 80,9 (±1,31), indicando uma boa qualidade de vida entre as participantes inclusas no estudo. Souza (2019), encontrou resultados semelhantes na mesma faixa etária apresentando pontuação média do escore total de 88,60 (±11,11) no UQOL. Um estudo internacional conduzido na Sérvia (DOTLIC et al., 2018), demonstrou que mulheres no climatério apresentaram boa qualidade de vida, com ênfase no domínio ocupacional e menor escore no domínio da saúde, corroborando com os achados deste estudo. Em pesquisa epidemiológica e prospectiva realizada por Miranda; Ferreira; Corrente (2014), com mulheres em fase de climatério atendidas na Atenção Primária, também indicou boa qualidade de vida, avaliada por meio do questionário SF-36.
Os resultados dos estudos revisados convergem para a conclusão de que, apesar dos desafios físicos e emocionais associados ao climatério, muitas mulheres relatam uma experiência positiva em termos de qualidade de vida nessa fase. Entretanto, é crucial reconhecer que a experiência do climatério pode variar significativamente entre as mulheres. Um estudo realizado por Serpa et al. (2016), utilizando o questionário SF-36, concluiu que o aumento da idade, a presença de doenças crônicas e o uso de medicamentos deterioram a qualidade de vida durante o climatério. Esses achados destacam a necessidade de uma abordagem personalizada para tratar da saúde e bem-estar das mulheres nessa fase da vida. Portanto, é fundamental considerar os múltiplos aspectos que podem influenciar a qualidade de vida de mulheres em climatério.
A sexualidade é uma característica inerente ao ser humano, influenciando a percepção de saúde, bem-estar, autoestima e qualidade de vida. Por isso, a avaliação da função sexual feminina é uma questão relevante para o cuidado em saúde da mulher. No entanto, é um tema que carece de exploração científica e que, muitas vezes, ainda é visto como tabu na sociedade (MAGNO; FONTES-PEREIRA; NUNES, 2011). Segundo Scavello et al., (2019), uma pequena percentagem de mulheres, tem discutido sobre sua saúde sexual, dentro de ambientes ambulatoriais, e que há barreiras adicionais, ao acesso de mulheres de meia-idade a educação em saúde sexual, e ajuda profissional ao que diz respeito a sua sexualidade. Em outro âmbito, temos uma baixa hormonal de andrógenos, reguladores essenciais da saúde sexual feminina, tornando a relação entre sexualidade e manifestações climatéricas multifatorial e difícil compreensão, visto que, podem sofrer influências psicossociais, culturais, religiosas e fisiológicas. Portanto, se faz necessário mais pesquisas que relacionem a sexualidade de mulheres aos sintomas climatéricos.
Limitação do estudo e pontos positivos
A pesquisa apresentou algumas limitações como o tamanho amostral e representatividade, dados autorrelatados, desenho transversal, falta de dados longitudinais, viés de seleção. Entretanto, os pontos positivos foram a diversidade de variáveis analisadas, dados quantitativos detalhados, relevância clínica e social, utilização de escalas padronizadas, foco em aspectos importantes da vida das mulheres e enfoque multidimensional.
5 CONCLUSÃO
Os resultados indicam que a atividade sexual está significativamente associada a uma melhor função sexual e ocorre mais frequentemente em mulheres mais jovens. Além disso, mulheres no climatério, com preditivos para disfunção sexual apresentam piores escores em vários domínios de qualidade de vida, incluindo saúde geral, emocional e ocupacional. Não houve diferenças significativas nos sintomas climatéricos entre mulheres com e sem vida sexual ativa. Esses achados sugerem a importância da manutenção da saúde sexual e a identificação precoce de fatores de risco para disfunção sexual, visando a melhoria da qualidade de vida. Desta forma, sugere-se mais pesquisas sobre a temática, objetivando elucidar outras questões relacionadas à temática.
REFERÊNCIAS
AMORIM, K. P. C. Ética em pesquisa no sistema CEP-CONEP brasileiro: reflexões necessárias. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 3, p. 1033–1040, mar. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/GVpthgx8Qf5vYtRFMLt5CJN/. Acesso em 11 de junho de 2024.
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1 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar.
2 Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar.