IMPACTO DE CONTAMINAÇÕES ALIMENTARES EM SURTOS DE DOENÇAS INFECCIOSAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ATUAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248121049


Leandro Alves de Souza
Beatriz Fernandes da Silva
Daynne Sales Lima de Sousa
Eric Silva Caires
Evanilda da Costa Pinheiro
Feliciano do Espirito Santo Silva Neto
Hadassa Emilly da Silva Nobre
Izaque Furtado Coelho
Jaiana Lopes Lima
Jhessyca Dantas Manary
Junior Cesar da Silva Sousa Filho
Kaio wilquen de Sousa Araújo
Laryssa Rosa Sousa Ferreira
Letícia Nunes dos Santos
Samyla Pereira Cavalcante
Sérgio Sales Lima
Thaina Aparecida Jesus Rodrigues de Lima
Vinicius Barbosa Carvalho
Walysson de Alencar Costa


RESUMO

Contaminações alimentares ocorrem quando alimentos são expostos a agentes patogênicos, como bactérias, vírus e parasitas, que podem causar doenças graves em humanos, com isso o presente estudo realiza uma revisão integrativa da literatura para investigar o impacto das contaminações alimentares em surtos de doenças infecciosas, com foco nas estratégias de prevenção e controle. A revisão abrange estudos primários, revisões sistemáticas e meta-análises publicados entre 2020 e 2024, selecionados a partir das bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e ScienceDirect. Os critérios de inclusão englobaram artigos em inglês e português que abordassem diretamente contaminações alimentares e surtos de doenças infecciosas, enquanto foram excluídos estudos não originais, artigos fora do período estabelecido e publicações em idiomas não contemplados. A busca inicial gerou 4.193 resumos, após uma análise criteriosa, 10 artigos foram selecionados para a revisão integrativa. Os resultados evidenciam uma alta prevalência de doenças transmitidas por alimentos, destacando a importância de estratégias eficazes de controle e prevenção. A análise revelou que as medidas preventivas mais eficazes incluem a melhoria das práticas de higiene alimentar, a implementação de programas de educação para consumidores e profissionais da saúde, e a adoção de tecnologias avançadas para detecção de patógenos. Conclui-se que, para reduzir a incidência de surtos alimentares e melhorar a segurança dos alimentos é crucial reforçar as práticas de controle na cadeia de suprimento alimentar e promover a colaboração entre autoridades de saúde pública, indústria alimentícia e consumidores.

ABSTRACT

Foodborne contamination occurs when foods are exposed to pathogenic agents such as bacteria, viruses, and parasites that can cause serious illness in humans. This study conducts an integrative review of the literature to investigate the impact of foodborne contamination on infectious disease outbreaks, focusing on prevention and control strategies. The review includes primary studies, systematic reviews, and meta-analyses published between 2020 and 2024, selected from the databases PubMed, Scopus, Web of Science, and ScienceDirect. Inclusion criteria covered articles in English and Portuguese that directly addressed foodborne contamination and infectious disease outbreaks, while excluding non-original studies, articles outside the specified period, and publications in non-covered languages. The initial search yielded 4,193 abstracts, and after a thorough analysis, 10 articles were selected for the integrative review. The results reveal a high prevalence of foodborne diseases, highlighting the importance of effective control and prevention strategies. The analysis showed that the most effective preventive measures include improving food hygiene practices, implementing educational programs for consumers and healthcare professionals, and adopting advanced technologies for pathogen detection. It is concluded that, to reduce the incidence of foodborne outbreaks and improve food safety, it is crucial to reinforce control practices in the food supply chain and promote collaboration between public health authorities, the food industry, and consumers.

1 INTRODUÇÃO

A segurança alimentar é uma preocupação global significativa, especialmente no contexto de surtos de doenças infecciosas. Contaminações alimentares ocorrem quando alimentos são expostos a agentes patogênicos, como bactérias, vírus e parasitas, que podem causar doenças graves em humanos. Esses surtos de doenças infecciosas têm um impacto substancial na saúde pública, resultando em altas taxas de morbidade e mortalidade, além de implicações econômicas consideráveis (Simonsen et al., 2021; Jaffee et al., 2018).

Um estudo conduzido por Simonsen et al. (2021) estimou que a carga global de doenças transmitidas por alimentos é significativa, com milhões de casos de doenças, hospitalizações e mortes a cada ano. Essas infecções são frequentemente causadas por patógenos como Salmonella, Escherichia coli e Listeria monocytogenes. Outro estudo de Jaffee et al. (2018) destacou a importância das práticas de segurança alimentar na prevenção de surtos de doenças infecciosas, enfatizando que melhorias na segurança alimentar podem reduzir significativamente a incidência dessas doenças.

Contaminações alimentares podem ocorrer em qualquer ponto da cadeia de produção de alimentos, desde a produção e processamento até a distribuição e consumo. As práticas inadequadas de higiene, manipulação e armazenamento de alimentos são fatores cruciais que contribuem para a disseminação desses patógenos. Além disso, a globalização do comércio de alimentos e as mudanças nos padrões de consumo exacerbam o risco de surtos generalizados (Li et al., 2020; Hoffmann et al., 2019).

A pandemia de COVID-19 trouxe novas preocupações e desafios para a segurança alimentar, evidenciando a vulnerabilidade dos sistemas alimentares globais. Li et al. (2020) discutiram os riscos de segurança alimentar e as medidas de controle necessárias para mitigar esses riscos durante a pandemia, ressaltando a importância de práticas rigorosas de higiene e controle sanitário em todas as etapas da cadeia de suprimentos. As lições aprendidas durante a pandemia podem ser aplicadas para fortalecer as práticas de segurança alimentar e prevenir futuros surtos de doenças infecciosas.

Além dos impactos diretos na saúde, surtos de doenças infecciosas relacionadas à contaminação alimentar também têm consequências econômicas significativas. Hoffmann et al. (2019) estimaram o ônus econômico das principais doenças transmitidas por alimentos nos Estados Unidos, incluindo custos médicos diretos, perda de produtividade e impacto nas indústrias alimentares. Esses custos reforçam a necessidade de investimentos contínuos em pesquisa, políticas públicas e práticas de segurança alimentar para reduzir a incidência e o impacto desses surtos.

Dado o impacto substancial das contaminações alimentares em surtos de doenças infecciosas, é essencial revisar a literatura atual para identificar padrões emergentes, fatores de risco e estratégias eficazes de prevenção e controle. Este artigo tem como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura sobre o impacto de contaminações alimentares em surtos de doenças infecciosas, oferecendo uma visão abrangente das evidências disponíveis e destacando as implicações para a saúde pública.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Principais Patógenos Relacionados a Doenças Alimentares

As infecções alimentares são frequentemente causadas por uma variedade de patógenos, entre os quais as bactérias, vírus e parasitas desempenham papéis significativos. Entre as bactérias mais comuns estão Salmonella e Escherichia coli (E. coli). A Salmonella é uma das principais causas de gastroenterites alimentares e pode ser encontrada em alimentos como ovos, carnes e produtos não pasteurizados (Tyson et al., 2020). A infecção por E. coli, particularmente a cepa O157, é associada a surtos graves e pode levar a complicações como a síndrome hemolítico-urêmica (Sieberi, 2020). Estas bactérias são responsáveis por um grande número de internações e mortes relacionadas a doenças alimentares.

Os vírus também são agentes importantes de contaminação alimentar, com o Norovírus sendo um dos mais prevalentes. O Norovírus é altamente contagioso e pode ser transmitido através da ingestão de alimentos contaminados ou pelo contato com superfícies infectadas (Winder et al., 2022). Estudos mostram que este vírus é uma causa comum de surtos de gastroenterite viral, especialmente em ambientes fechados e congregacionais ((Tan, 2021). A capacidade do Norovírus de sobreviver em uma ampla gama de condições ambientais contribui para sua disseminação.

Além de bactérias e vírus, parasitas como Cryptosporidium e Giardia também são relevantes em contaminações alimentares. O Cryptosporidium, por exemplo, é um protozoário que pode ser encontrado em água contaminada e alimentos mal lavados. Esta infecção pode causar diarreia severa e é especialmente preocupante para populações imunocomprometidas. A Giardia é outro protozoário que pode levar a uma condição conhecida como giardíase, caracterizada por sintomas gastrointestinais significativos (Ryan et al., 2021).

Além destes, a bactéria Listeria monocytogenes é um patógeno de preocupação crescente devido à sua capacidade de crescer em temperaturas refrigeradas e causar. Esta infecção pode ser particularmente grave para gestantes, idosos e pessoas com sistemas imunológicos comprometidos, e é frequentemente associada a produtos lácteos e carnes processadas (Lecuit, 2020). A vigilância rigorosa e o controle de qualidade são essenciais para prevenir surtos relacionados a esta bactéria.

A identificação e compreensão dos principais patógenos associados a doenças alimentares são cruciais para a implementação de estratégias eficazes de prevenção e controle. Os microrganismos mais comuns, como Salmonella, Escherichia coli, Listeria monocytogenes e Campylobacter, apresentam características distintas que influenciam seu comportamento e impacto na segurança dos alimentos. O conhecimento detalhado sobre as vias de contaminação, condições de crescimento e mecanismos patogênicos desses agentes permite uma abordagem mais direcionada para mitigar os riscos. Assim, é essencial que profissionais de saúde pública, engenheiros de alimentos e outros stakeholders colaboram para monitorar, identificar e controlar esses patógenos, garantindo a proteção da saúde pública e a integridade dos sistemas alimentares.

2.2 Impacto na Saúde pública

As contaminações alimentares têm um impacto significativo na saúde pública, resultando em um número considerável de doenças e mortes a nível global. Infecções alimentares, como as causadas por Salmonella, Norovírus e outros patógenos, não só causam doenças agudas, mas também podem levar a complicações graves e crônicas. Estudos recentes estimam que as doenças alimentares causam milhões de casos de diarreia e infecções anualmente, sobrecarregando os sistemas de saúde e resultando em altos custos econômicos para tratamentos e perda de produtividade (Sieberi, 2020).

Além do impacto direto na saúde, os surtos de doenças alimentares têm efeitos amplos na economia e na qualidade de vida. As infecções alimentares frequentemente resultam em custos diretos e indiretos significativos, incluindo hospitalizações, tratamentos médicos e perda de dias de trabalho. A carga econômica global associada a doenças alimentares é enorme, com custos anuais que chegam a bilhões de dólares, afetando a economia global e os recursos de saúde pública (Marques; Trindade, 2022).

A capacidade de certos patógenos, como Listeria monocytogenes, de causar surtos em populações vulneráveis, como gestantes, idosos e imunocomprometidos, amplifica o impacto na saúde pública. Estes grupos de risco estão mais suscetíveis a complicações graves e a morte, resultando em uma carga adicional sobre os serviços de saúde e um aumento na necessidade de vigilância e medidas preventivas específicas (Lecuit, 2020).

A implementação de medidas eficazes de controle e prevenção é essencial para mitigar o impacto das contaminações alimentares. A melhoria das práticas de segurança alimentar, o fortalecimento da vigilância e a educação pública são fundamentais para reduzir a incidência e a gravidade dos surtos. A colaboração entre autoridades de saúde pública, indústrias alimentícias e consumidores é crucial para desenvolver e aplicar estratégias eficazes que protejam a saúde pública e minimizem os riscos associados a alimentos contaminados (Sousa et al., 2019).

O impacto das contaminações alimentares na saúde pública é significativo e multifacetado, refletindo-se em taxas elevadas de morbidade, mortalidade e custos econômicos associados ao tratamento e controle de surtos. As consequências vão além das infecções agudas, frequentemente envolvendo complicações crônicas e impactos de longo prazo na qualidade de vida dos indivíduos afetados. As respostas a surtos de doenças alimentares exigem uma coordenação eficaz entre sistemas de vigilância, serviços de saúde e políticas públicas para garantir a rápida identificação e contenção dos patógenos. Investir em estratégias de prevenção e educação, bem como fortalecer a infraestrutura de monitoramento e resposta, é essencial para reduzir o ônus dessas enfermidades e proteger a saúde coletiva.

2.3 Medidas de Prevenção e Controle

A prevenção e o controle de contaminações alimentares exigem uma abordagem multifacetada que inclui práticas rigorosas de segurança alimentar desde a produção até o consumo. As boas práticas de manufatura (GMP) e a análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC) são fundamentais para minimizar o risco de contaminação. Implementar protocolos rigorosos de higiene nas etapas de processamento e manipulação de alimentos ajuda a garantir que patógenos não sejam introduzidos ou proliferem durante a produção (Pimenta, 2021).

A educação e treinamento contínuos para trabalhadores da indústria alimentícia são essenciais para garantir que as práticas de segurança alimentar sejam seguidas corretamente. Estudos mostram que a formação adequada dos funcionários em relação à manipulação de alimentos, higiene pessoal e controle de temperaturas pode reduzir significativamente a incidência de contaminações alimentares. Programas de treinamento devem ser atualizados regularmente para incorporar novas informações e técnicas de controle (Silva; Mendes, 2022).

A vigilância e o monitoramento contínuo são cruciais para identificar e responder rapidamente a surtos de doenças alimentares. Sistemas de rastreamento e relatórios eficazes permitem que as autoridades de saúde pública identifiquem fontes de contaminação e implementem medidas corretivas. Além disso, a análise de dados epidemiológicos e laboratoriais é fundamental para prever e mitigar possíveis surtos antes que se espalhem (Martins, 2020).

A cooperação entre autoridades regulatórias, a indústria alimentícia e os consumidores desempenham um papel vital na segurança dos alimentos. A implementação de regulamentos rigorosos e a colaboração entre setores ajudam a assegurar que as normas de segurança alimentar sejam mantidas. Iniciativas públicas de conscientização e campanhas educacionais sobre práticas seguras de manuseio e preparo de alimentos contribuem para reduzir o risco de contaminação (Martins, 2020).

As medidas de prevenção e controle são fundamentais para minimizar o risco de contaminações alimentares e proteger a saúde pública. Implementar práticas rigorosas de higiene, tanto em ambientes de produção quanto de consumo, e promover a educação contínua sobre segurança alimentar são passos essenciais para reduzir a incidência de doenças. Além disso, a adoção de tecnologias avançadas para a detecção precoce de patógenos e o monitoramento constante das cadeias de suprimento alimentar contribuem para a eficácia das estratégias de controle. A colaboração entre autoridades sanitárias, indústrias alimentícias e consumidores é crucial para assegurar a aplicação consistente dessas medidas e, consequentemente, reduzir a ocorrência de surtos e proteger a integridade dos sistemas alimentares.

3 METODOLOGIA

3.1 Critérios de Inclusão e Exclusão

Para garantir a relevância e a qualidade dos estudos incluídos nesta revisão integrativa, foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão rigorosos. Foram selecionados estudos primários, revisões sistemáticas e meta-análises publicados entre 2018 e 2024. Apenas artigos em inglês e português foram considerados. Os critérios de inclusão abrangeram pesquisas que tratassem de contaminações alimentares, surtos de doenças infecciosas, impacto na saúde pública e estratégias de prevenção e controle. Foram excluídos estudos não originais, como editoriais e opiniões, além de artigos fora do período estabelecido ou em idiomas não contemplados. Também foram excluídos artigos que não abordassem diretamente o impacto das contaminações alimentares em surtos de doenças infecciosas.

3.2 Fontes de Dados

A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: PubMed, Scopus, Web of Science e ScienceDirect. Estas bases foram selecionadas devido à sua ampla cobertura e relevância na área de ciências da saúde e segurança alimentar. A busca inicial gerou um total de 4.193 resumos, distribuídos entre 1.190 da PubMed, 503 da Scopus e 2.500 do ScienceDirect. Esses dados foram posteriormente refinados para garantir a qualidade e pertinência dos estudos selecionados.

3.3 Estratégia de Pesquisa

Para identificar os estudos relevantes, foram empregadas combinações de palavras-chave específicas, como “foodborne contamination,” “infectious disease outbreaks,” “public health impact,” “food safety,” “pathogens in food,” e “preventive measures.” A busca resultou em 4.193 resumos. A partir da análise dos títulos, 3.654 resumos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão estabelecidos, deixando um total de 539 resumos para revisão detalhada. Após a análise dos resumos, 456 artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de relevância e qualidade.

3.4 Seleção dos Artigos

A etapa final de seleção envolveu a revisão dos 83 artigos restantes. Destes, 41 foram excluídos devido à indisponibilidade do texto completo online ou por não serem adequados quanto ao tipo de estudo. Após essas exclusões, foram selecionados 10 artigos para inclusão na revisão integrativa, conforme detalhado no fluxograma PRISMA (Figura 1).

Figura 1: Fluxograma da abordagem metodológica na seleção dos estudos.

Fonte: própria (2024)

3.5 Exemplos de Fontes para Pesquisa

Os artigos foram obtidos a partir das bases de dados PubMed, ScienceDirect e Google Scholar, que oferecem acesso a literatura científica de alta qualidade. Relatórios de saúde pública foram consultados junto ao CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e à OMS (World Health Organization) para obter informações atualizadas sobre surtos alimentares e impacto na saúde pública. Estudos de caso foram identificados em relatórios de surtos específicos documentados por essas organizações e em publicações acadêmicas relevantes.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a seleção dos dez artigos, foi realizada uma análise detalhada de cada um deles, com o objetivo de avaliar sua relevância e contribuição para o escopo deste estudo. Todos os artigos selecionados demonstraram uma importância significativa para a revisão integrativa, como evidenciado no Quadro 1. Os estudos incluídos foram realizados em diversas regiões geográficas, empregando uma variedade de tamanhos de amostra e abordando uma ampla gama de objetivos e aplicações relacionadas às contaminações alimentares e seus impactos.

A análise revelou uma diversidade de contextos e abordagens nos artigos selecionados. Por exemplo, alguns estudos focaram em surtos alimentares em contextos específicos, como o impacto de práticas inadequadas de manipulação de alimentos em determinadas regiões, enquanto outros exploraram a eficácia de diferentes medidas de controle e prevenção. A variação nas metodologias e contextos dos estudos forneceu uma visão abrangente dos desafios e soluções relacionados às contaminações alimentares.

O quadro 1 apresenta as características dos estudos selecionados, incluindo informações sobre os objetivos principais e principais resultados encontrados. Esses detalhes ressaltam a amplitude e a profundidade da pesquisa realizada e demonstram como os diferentes contextos e metodologias contribuíram para a compreensão do impacto das contaminações alimentares.

Quadro 1: Características dos estudos selecionados

Autor/AnoObjetivo do EstudoPrincipais Resultados
Groat; Speakman, 2020Revisar os riscos de contaminação alimentar durante viagens aéreas e a necessidade de melhores práticas de segurança.Há uma necessidade urgente de revisar e melhorar as práticas de segurança alimentar a bordo para alinhamento com os padrões terrestres.
Cola et al., 2021Reunir informações sobre vírus alimentares, especificamente HAV e HEV, e suas implicações na segurança alimentar.HAV e HEV são preocupações crescentes; a detecção e investigação desses vírus em alimentos ainda são desafiadoras.
Acuff et al., 2023Descrever o progresso na segurança de alimentos de baixa umidade (LMFs) e as tecnologias emergentes.A revisão destacou o avanço no conhecimento sobre patógenos em LMFs e a eficácia das novas tecnologias de segurança.
Pereira et al., 2023Relatar uma investigação multinacional sobre um surto de Listeria monocytogenes e a importância da colaboração internacional.A colaboração internacional foi crucial na resposta ao surto de Listeria; destacou a importância de comunicação e ações regulatórias coordenadas.
Silva et al., 2024Discutir a transferência e sobrevivência de vírus alimentares, incluindo SARS-CoV-2, em superfícies.A estabilidade de partículas virais varia conforme o alimento e a superfície, com implicações para a gestão de riscos.
Cuervo et al., 2024Revisar os perigos biológicos, químicos e físicos associados às doenças alimentares e seu impacto.Apesar dos avanços, doenças alimentares continuam prevalentes globalmente, com impactos significativos na saúde pública.
Kirk et al., 2024Analisar a prevalência de doenças alimentares na Austrália e Nova Zelândia e o impacto das medidas de segurança.Sistemas de vigilância robustos identificaram surtos associados a novos veículos alimentares; redução de doenças com medidas de segurança.
Issa et al., 2024Avaliar dados e lacunas na segurança alimentar nos países do Oriente Médio e fornecer recomendações.Falta de sistemas de monitoramento e comunicação adequados em países do Oriente Médio, necessitando melhorias para proteger a saúde pública.
Billah; Rahman, 2024Analisar o impacto da resistência antimicrobiana de Salmonella e fatores ambientais relacionados.A resistência antimicrobiana de Salmonella é uma preocupação crescente; fatores ambientais e práticas inadequadas contribuem para sua proliferação.
Todd, 2024Explorar a contaminação por trabalhadores infectados em ambientes de serviços alimentares e práticas de higiene.Barriers eficazes à contaminação incluem utensílios e higiene adequada; desafios permanecem, especialmente em tempos de pandemia.
*HAV – Hepatitis A Virus (Vírus da Hepatite A)
HEV – Hepatitis E Virus (Vírus da Hepatite E)
SARS-CoV-2 – Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Severa 2)
LMFs – Low Moisture Foods (Alimentos de Baixa Umidade)
LWAF – Low Water Activity Foods (Alimentos de Baixa Atividade de Água)
MDR – Multidrug Resistant (Resistente a Múltiplos Medicamentos)
PCR – Polymerase Chain Reaction (Reação em Cadeia da Polimerase)

A análise integrativa dos artigos permitiu identificar padrões e lacunas na literatura existente. Observou-se que, embora houvesse uma sólida base de evidências sobre as consequências das contaminações alimentares para a saúde pública, havia variação na eficácia das medidas de controle e prevenção relatadas. Os estudos destacaram a importância de protocolos rigorosos e práticas de segurança alimentar, mas também apontaram desafios na implementação consistente dessas medidas em diferentes contextos.

Além disso, a discussão sobre as estratégias de controle e prevenção revelou a necessidade de abordagens mais uniformes e adaptadas às realidades locais para melhorar a eficácia das intervenções. A revisão indicou que, enquanto algumas regiões apresentam práticas bem-sucedidas e evidências robustas, outras ainda enfrentam desafios significativos devido a lacunas na implementação de medidas de segurança alimentar e na educação dos manipuladores de alimentos.

Os estudos revisados proporcionam uma compreensão abrangente dos desafios e avanços na segurança dos alimentos, elucidando a complexidade dos problemas associados aos patógenos alimentares e suas implicações para a saúde pública.

Acuff et al. (2023) oferecem uma análise detalhada dos riscos inerentes à segurança de alimentos de baixa umidade (LMFs). Eles evidenciam que a baixa atividade de água em LMFs pode permitir a sobrevivência prolongada e a resistência de patógenos, o que apresenta desafios significativos para a segurança dos alimentos. O estudo destaca a necessidade de inovações tecnológicas e estratégias de mitigação eficazes para gerenciar esses riscos. Complementarmente, Silva et al. (2024) abordam a estabilidade e a transferência de vírus alimentares, incluindo norovírus e SARS-CoV-2, em superfícies alimentares. Eles fornecem uma visão detalhada sobre como as condições ambientais e as características das superfícies influenciam a persistência viral, o que é crucial para a formulação de práticas robustas de gestão de riscos e controle de contaminação.

Cuervo et al. (2024) oferecem uma perspectiva global sobre os principais perigos biológicos, químicos e físicos associados às doenças alimentares. O estudo destaca a persistência desses perigos apesar dos avanços na regulamentação e segurança dos alimentos, evidenciando a necessidade contínua de melhorias nas práticas de segurança. A análise global de Cuervo et al. é enriquecida pelos estudos regionais realizados por Kirk et al. (2024) e Issa et al. (2024). Kirk et al. investigam a prevalência de doenças alimentares na Austrália e na Nova Zelândia, evidenciando a eficácia das políticas de segurança dos alimentos e as estratégias para mitigar surtos. Em contraste, Issa et al. (2024) abordam as deficiências nos sistemas de segurança dos alimentos em países do Oriente Médio, sublinhando a necessidade urgente de aprimoramento nos sistemas de monitoramento e comunicação para proteger a saúde pública. Estes estudos regionais demonstram a importância de estratégias de segurança dos alimentos adaptadas às condições específicas de cada região.

A pesquisa de Cola et al. (2021) fornece uma análise crítica sobre a detecção e investigação de vírus alimentares, como HAV e HEV, abordando a prevalência e a frequência de contaminação. A revisão destaca a carência de dados atualizados, particularmente em países em desenvolvimento, o que reforça a necessidade de avanços na pesquisa e na implementação de métodos de detecção mais eficazes.

Todd (2024) examina os riscos associados à contaminação por trabalhadores infectados em ambientes de serviços alimentares, enfatizando a importância de práticas de higiene rigorosas e a complexidade dos desafios enfrentados, especialmente durante a pandemia de COVID-19. O estudo destaca a necessidade de medidas de controle robustas para prevenir a contaminação por trabalhadores e complementa a análise de Pereira et al. (2023), que investiga surtos alimentares multinacionais, demonstrando a eficácia da coordenação internacional na resposta a crises alimentares. A colaboração global é fundamental para enfrentar surtos de maneira eficaz, conforme exemplificado pela investigação do surto de Listeria monocytogenes associado a cogumelos enoki.

Por fim, Billah e Rahman (2024) oferecem uma visão detalhada sobre a resistência antimicrobiana de Salmonella, um problema crescente de saúde pública. O estudo destaca a necessidade urgente de práticas de higiene eficazes e controle da resistência antimicrobiana, considerando os fatores ambientais que influenciam a proliferação de Salmonella. A pesquisa de Billah e Rahman enriquece as discussões anteriores ao fornecer uma visão aprofundada sobre a resistência antimicrobiana e suas implicações para a segurança dos alimentos.

Em resumo, os resultados fornecem uma base sólida para compreender os impactos das contaminações alimentares e destacam a importância de continuar a pesquisa para abordar as lacunas identificadas. A diversidade de contextos e metodologias nos estudos revisados enriqueceu a análise, permitindo uma visão mais completa dos desafios e soluções associados à segurança alimentar, os estudos revisados proporcionam uma visão abrangente dos desafios e avanços na segurança dos alimentos, evidenciando a complexidade no controle de patógenos alimentares e a importância de estratégias adaptadas às condições regionais e globais. A integração das descobertas contribui para uma abordagem mais eficaz e coordenada na gestão de riscos e na melhoria das práticas de segurança dos alimentos.

5 CONCLUSÃO

A presente revisão integrativa da literatura sobre o impacto das contaminações alimentares em surtos de doenças infecciosas revelou uma complexa teia de desafios e avanços na segurança dos alimentos. Os estudos analisados demonstram que, apesar dos progressos significativos em regulamentação e tecnologia, a persistência de patógenos alimentares continua a representar um grave risco para a saúde pública.

Os resultados obtidos destacam a importância de compreender a persistência e a resistência de patógenos em alimentos de baixa umidade (Acuff et al., 2023), bem como a estabilidade e transferência de vírus em superfícies alimentares (Silva et al., 2024). Essas descobertas são fundamentais para o desenvolvimento de práticas eficazes de controle e mitigação, alinhando-se com as necessidades identificadas em diferentes contextos regionais, como demonstrado pelos estudos realizados na Austrália e Nova Zelândia (Kirk et al., 2024) e no Oriente Médio (Issa et al., 2024).

A análise de vírus alimentares (Cola et al., 2021) e a discussão sobre práticas de higiene e controle em ambientes de serviços alimentares (Todd, 2024) reforçam a necessidade de avanços contínuos na detecção e manejo de patógenos, enquanto a colaboração internacional em surtos alimentares (Pereira et al., 2023) evidencia a eficácia das abordagens coordenadas para enfrentar crises globais. A crescente resistência antimicrobiana de Salmonella (Billah & Rahman, 2024) sublinha a urgência de práticas de controle rigorosas para preservar a eficácia dos tratamentos e proteger a saúde pública.

Concluindo assim, a integração das evidências provenientes desses estudos oferece uma base sólida para a formulação de políticas e práticas voltadas para a segurança dos alimentos. A compreensão dos fatores que influenciam a persistência e a transferência de patógenos, bem como a necessidade de inovação nas práticas de controle, é crucial para reduzir o impacto das contaminações alimentares e melhorar a resposta a surtos. A colaboração contínua entre pesquisadores, reguladores e a indústria é essencial para aprimorar a segurança dos alimentos e proteger a saúde global.

REFERÊNCIAS

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