IMPACTO DAS COINFECÇÕES E COMORBIDADES NA HANSENÍASE: ENFOQUE EM HIV/AIDS, TUBERCULOSE E DIABETES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202507072329


Thiago de Sousa Farias, Pedro Pereira de Carvalho Sá Júnior, Patrícia dos Santos Silva Queiroz, Jocinaria Moreira da Conceição, Ule Hanna Gomes Feitosa Teixeira, Daiany Costa Santos Oliveira, Marcos Farias Carneiro, Flavia Adriana Moreira Silva Lopes, André Luiz Pagotto Vieira, Alexandre Martins Xavier, Lucas José Vaz Schiavao


RESUMO

A hanseníase permanece um desafio de saúde pública, especialmente em populações vulneráveis, onde as coinfecções e comorbidades agravam seu quadro clínico e dificultam o manejo terapêutico. Este trabalho aborda o impacto das principais coinfecções e comorbidades associadas à hanseníase, com destaque para HIV/AIDS, tuberculose e diabetes mellitus. São discutidos os efeitos dessas condições na resposta imunológica, no diagnóstico, na evolução da doença e nas complicações decorrentes, bem como as implicações para a assistência integral ao paciente. A integração dos programas de controle dessas doenças e a capacitação das equipes de saúde são apontadas como estratégias fundamentais para o enfrentamento efetivo e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. A análise evidencia a necessidade de políticas públicas que considerem a complexidade dessas inter-relações para promover a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.

Palavras-chave: Hanseníase; Coinfecções; Comorbidades; HIV/AIDS; Tuberculose; Diabetes Mellitus.

INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, que afeta primariamente a pele e os nervos periféricos. Apesar de ser tratável, a presença de coinfecções e comorbidades pode alterar significativamente o curso clínico da doença, impactando no diagnóstico, na resposta ao tratamento e no prognóstico dos pacientes. Entre essas condições, destacam-se o HIV/AIDS, a tuberculose e o diabetes mellitus, todas com elevada prevalência em contextos de vulnerabilidade social o mesmo ambiente em que a hanseníase persiste como problema de saúde pública (Macedo et al., 2023).

A coinfecção da hanseníase com o HIV/AIDS representa um desafio clínico importante. A infecção pelo HIV compromete progressivamente o sistema imunológico, o que pode modificar a resposta imune contra o Mycobacterium leprae. Em indivíduos coinfectados, observa-se maior propensão a reações hansênicas graves, especialmente a reação tipo 1, além de apresentações clínicas atípicas que podem dificultar o diagnóstico precoce. A imunossupressão também pode mascarar sinais clássicos da hanseníase, levando ao atraso no início do tratamento e ao aumento do risco de sequelas neurológicas. Ademais, o manejo terapêutico precisa ser cauteloso, pois a poliquimioterapia utilizada na hanseníase e a terapia antirretroviral no HIV podem interagir, exigindo monitoramento rigoroso para minimizar efeitos adversos (Costa et al., 2024).

No contexto da tuberculose, outra infecção micobacteriana de grande relevância, a coinfecção com a hanseníase, embora menos comum, traz implicações clínicas significativas. Ambas as doenças compartilham fatores de risco sociais e ambientais, como a pobreza, a superlotação habitacional e a desnutrição. A utilização da rifampicina no tratamento de ambas pode representar um risco para o desenvolvimento de resistência bacteriana, caso o esquema terapêutico não seja adequadamente planejado. Além disso, o estado inflamatório crônico associado à tuberculose pode potencializar o dano neural provocado pela hanseníase, favorecendo a evolução para incapacidades físicas permanentes (Sousa et al., 2022).

O diabetes mellitus, por sua vez, é uma comorbidade metabólica que agrava sobremaneira o prognóstico da hanseníase. A hiperglicemia crônica compromete a função imunológica e dificulta a cicatrização de lesões cutâneas, fatores que, associados à neuropatia hansênica, aumentam o risco de infecções secundárias, úlceras plantares e amputações. Pacientes com hanseníase e diabetes necessitam de um plano de cuidados individualizado, que inclua o controle rigoroso da glicemia, a educação em autocuidado, a inspeção frequente dos pés e o tratamento precoce de quaisquer sinais de infecção ou lesão (Santos et al., 2022).

A abordagem desses casos exige uma estratégia de atenção integral e interdisciplinar, que considere o contexto social, econômico e ambiental do paciente. Investir em ações de vigilância ativa, capacitação das equipes de saúde, acesso facilitado a exames diagnósticos e fortalecimento dos programas de controle de doenças infecciosas é fundamental para mitigar o impacto dessas associações e promover a reabilitação integral dos indivíduos afetados. Esse estudo tem o objetivo de investigar como coinfecções e comorbidades, como HIV/AIDS, tuberculose e diabetes mellitus, influenciam o curso clínico, o diagnóstico e o tratamento da hanseníase.

MÉTODO

A revisão integrativa da literatura científica é uma metodologia que visa sintetizar e analisar estudos sobre um tema específico, oferecendo uma visão abrangente do conhecimento existente. Ela inclui tanto estudos teóricos quanto empíricos e permite identificar lacunas no conhecimento, sugerindo direções para novas pesquisas.

Este estudo é de natureza qualitativa, com enfoque exploratório, desenvolvido por meio de uma revisão integrativa da literatura científica publicada entre 2022 e 2024. A revisão integrativa foi escolhida por permitir a síntese abrangente de estudos relevantes sobre a temática, proporcionando uma análise crítica do conhecimento existente. A pesquisa foi realizada nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) utilizando os descritores controlados “hanseníase”, “coinfecção”, “comorbidade”, “HIV/AIDS”, “tuberculose” e “diabetes mellitus”, combinados com operadores booleanos (“AND” e “OR”) e adaptados conforme as particularidades de cada base.

Os critérios de inclusão envolveram artigos originais de pesquisa, revisões sistemáticas, diretrizes de órgãos oficiais e documentos técnicos disponíveis em texto completo, publicados em português, inglês ou espanhol, que abordassem especificamente a interação da hanseníase com as coinfecções ou comorbidades selecionadas. Foram excluídos artigos duplicados, resumos de eventos científicos, editoriais, cartas ao editor e revisões narrativas sem rigor metodológico, bem como estudos que não apresentassem resultados relevantes para a análise da influência de coinfecções ou comorbidades no curso clínico da hanseníase

A seleção dos artigos ocorreu em três etapas sequenciais: leitura dos títulos e resumos para triagem inicial, leitura na íntegra dos textos potencialmente elegíveis e análise crítica e extração de dados utilizando um protocolo padronizado. As informações extraídas foram organizadas em categorias temáticas que envolveram impacto clínico, implicações terapêuticas, influência prognóstica e estratégias de manejo em saúde pública. A análise dos dados seguiu uma abordagem temática, visando identificar padrões, lacunas de conhecimento e recomendações práticas para o cuidado integral dos indivíduos acometidos. Para assegurar a qualidade metodológica dos estudos incluídos, foram utilizados instrumentos de avaliação crítica adaptados da escala PRISMA para revisões sistemáticas e dos critérios STROBE para estudos observacionais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A revisão integrativa realizada identificou que as coinfecções e comorbidades, especialmente HIV/AIDS, tuberculose e diabetes mellitus, exercem influência decisiva sobre o curso clínico, o diagnóstico, o manejo terapêutico e o prognóstico da hanseníase. A presença concomitante dessas condições compromete de forma significativa a resposta imunológica dos indivíduos acometidos, favorecendo apresentações clínicas mais graves e atípicas, que dificultam o reconhecimento precoce da doença (Costa et al., 2024).

Do ponto de vista terapêutico, a coexistência de múltiplas patologias implica em desafios adicionais, como a necessidade de ajustes nos esquemas medicamentosos para evitar interações medicamentosas prejudiciais e o monitoramento mais rigoroso de efeitos adversos. No prognóstico, essas associações elevam o risco de incapacidades físicas permanentes, desfechos desfavoráveis e pior qualidade de vida. Além dos impactos clínicos, observa-se a intensificação de fatores sociais de vulnerabilidade, como a estigmatização, a exclusão econômica e as barreiras no acesso aos serviços de saúde, configurando um cenário que perpetua a transmissão da hanseníase e dificulta a efetividade das estratégias de controle e eliminação.

Contudo, o enfrentamento da hanseníase em contextos de coinfecção e comorbidades exige uma abordagem ampliada, que integre o cuidado clínico interdisciplinar com ações voltadas para os determinantes sociais da saúde, promovendo a integralidade do cuidado e a redução das iniquidades.

HIV/AIDS E HANSENÍASE

A interação entre HIV/AIDS e hanseníase é complexa e apresenta implicações clínicas, imunológicas e terapêuticas relevantes. O vírus da imunodeficiência humana (HIV) compromete a resposta imune mediada por células T, fundamental para o controle da infecção pelo Mycobacterium leprae. Como consequência, pacientes coinfectados tendem a apresentar formas multibacilares da hanseníase, especialmente a forma virchowiana, caracterizada por grande carga bacilar, disseminação extensa de lesões cutâneas e menor resposta inflamatória. Este quadro clínico dificulta o reconhecimento precoce da doença, contribuindo para atrasos no diagnóstico e aumentando o risco de incapacidades físicas (Nascimento, 2021).

Além disso, a introdução da terapia antirretroviral (TARV) em indivíduos com HIV pode desencadear a Síndrome de Reconstituição Imune (IRIS), fenômeno caracterizado pela exacerbação de respostas inflamatórias contra infecções pré-existentes, incluindo a hanseníase. A IRIS pode manifestar-se por meio de reações hansênicas graves, como a reação reversa intensa, que, se não tratada adequadamente, pode causar danos neurológicos irreversíveis. Essa sobreposição de reações inflamatórias representa um desafio adicional no manejo clínico desses pacientes, exigindo acompanhamento rigoroso e intervenções terapêuticas específicas, como o uso criterioso de corticosteroides (Costa et al., 2024).

Do ponto de vista terapêutico, embora o tratamento padrão da hanseníase a poliquimioterapia (PQT) permaneça eficaz em pacientes HIV positivos, há necessidade de atenção redobrada quanto à adesão ao regime terapêutico, monitoramento de eventos adversos e ajuste de condutas frente a possíveis interações medicamentosas entre a PQT e a TARV. Estudos recentes apontam que, apesar das diferenças na apresentação clínica, o desfecho final da hanseníase em coinfectados pode ser semelhante ao de indivíduos não HIV positivos, desde que o tratamento seja iniciado precocemente e a gestão das reações inflamatórias seja eficaz (Costa et al., 2024).

No aspecto social, a dupla carga de estigma associada ao HIV/AIDS e à hanseníase agrava a discriminação e a exclusão social dos indivíduos afetados, prejudicando o acesso aos serviços de saúde e a continuidade do cuidado. Tal cenário reforça a necessidade de abordagens integradas e humanizadas, que combinem ações de diagnóstico precoce, tratamento conjunto das condições e intervenções psicossociais para mitigar os efeitos do estigma e promover a reintegração social dos pacientes.

TUBERCULOSE E HANSENÍASE

A associação entre tuberculose e hanseníase representa um desafio importante na prática clínica e na saúde pública, sobretudo em contextos marcados por vulnerabilidade social. Ambas são doenças infecciosas crônicas causadas por micobactérias — Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium leprae, respectivamente —, que compartilham fatores de risco semelhantes, como pobreza, desnutrição, moradias insalubres e condições de vida superlotadas. Estes determinantes sociais não apenas favorecem a sobreposição das duas infecções em indivíduos e comunidades vulneráveis, como também dificultam o diagnóstico precoce e o tratamento adequado (Nascimento, 2021).

Do ponto de vista imunológico, a coinfecção entre tuberculose e hanseníase é complexa. Embora ambas as doenças dependam da resposta imune mediada por células T para o controle da infecção, a ativação de vias imunológicas específicas pode gerar competições e desequilíbrios. Alguns estudos recentes sugerem que a infecção prévia ou simultânea por M. tuberculosis pode modular negativamente a resposta imune contra o M. leprae, predispondo os indivíduos a formas mais disseminadas e graves da hanseníase. Além disso, a inflamação crônica sistêmica associada à tuberculose ativa pode exacerbar o risco de reações hansênicas, aumentando o potencial de dano neural irreversível (Costa et al., 2024).

O manejo terapêutico da coinfecção também apresenta desafios. A rifampicina, fármaco essencial tanto no tratamento da tuberculose quanto da hanseníase, impõe a necessidade de ajustes cuidadosos nos esquemas terapêuticos para evitar resistência bacteriana e garantir a eficácia do tratamento. A utilização simultânea de esquemas de poliquimioterapia para hanseníase e para tuberculose exige acompanhamento rigoroso para a prevenção de hepatotoxicidade e outros efeitos adversos, frequentemente potencializados em indivíduos já fragilizados nutricionalmente e imunologicamente (Nascimento, 2021).

A nível epidemiológico, a coinfecção dificulta o controle das duas doenças, já que o tratamento prolongado e a sobrecarga medicamentosa podem impactar negativamente a adesão dos pacientes, favorecendo a ocorrência de abandonos e recaídas. Além disso, a estigmatização social é amplificada, uma vez que tanto a hanseníase quanto a tuberculose historicamente carregam forte estigma, associado a preconceito e exclusão social, o que agrava as barreiras ao diagnóstico e ao tratamento.

Nesse cenário, a integração de programas de controle da hanseníase e da tuberculose é fundamental para otimizar recursos, melhorar o rastreamento de casos e ampliar o acesso ao tratamento. Protocolos clínicos integrados, capacitação de equipes multiprofissionais e estratégias comunitárias de educação em saúde são essenciais para lidar com a complexidade da coinfecção e para promover uma abordagem centrada no paciente e nas suas necessidades globais de saúde (Fava, 2020).

DIABETES MELLITUS E HANSENÍASE

A coexistência de diabetes mellitus e hanseníase constitui uma associação clínica de grande relevância, especialmente no que tange ao agravamento das complicações neurológicas e ao aumento da morbidade associada. O diabetes mellitus, doença metabólica crônica caracterizada pela hiperglicemia persistente, compromete diversas funções do sistema imunológico, particularmente a atividade fagocítica, a função dos neutrófilos e a resposta mediada por células T, elementos fundamentais para o controle da infecção pelo Mycobacterium leprae. Esta imunossupressão funcional facilita a progressão da hanseníase para formas mais graves e disseminadas, aumentando a carga bacilar e o risco de reações hansênicas intensas (Costa et al., 2024).

Uma das principais interfaces clínicas entre as duas doenças é o impacto cumulativo sobre o sistema nervoso periférico. Tanto o diabetes quanto a hanseníase são condições que, independentemente, levam à neuropatia periférica. Em conjunto, potencializam os danos neuronais, resultando em manifestações mais severas, como a perda acentuada da sensibilidade protetora, fraqueza muscular, deformidades visíveis e maior propensão à formação de úlceras plantares crônicas. Esta situação eleva substancialmente o risco de infecções secundárias, amputações e incapacidades físicas permanentes, impactando drasticamente a qualidade de vida dos pacientes (Macedo et al., 2023).

Do ponto de vista terapêutico, o manejo dos pacientes com hanseníase e diabetes mellitus é complexo e requer cuidados específicos. A hiperglicemia crônica interfere negativamente na resposta aos corticosteroides, medicamentos essenciais para o controle das reações hansênicas e das neurites agudas. O uso prolongado desses imunossupressores em indivíduos diabéticos pode exacerbar o descontrole glicêmico, aumentando o risco de complicações agudas e crônicas do diabetes, como nefropatia, retinopatia e doença cardiovascular. Assim, torna-se imprescindível o monitoramento rigoroso dos níveis glicêmicos e, muitas vezes, o ajuste de esquemas antidiabéticos durante o tratamento da hanseníase (Santos et al., 2022).

Além das implicações clínicas, a associação entre diabetes e hanseníase acentua os desafios sociais enfrentados pelos pacientes, sobretudo no que se refere ao acesso contínuo a serviços de saúde qualificados, à adesão terapêutica e à superação do estigma. Muitos indivíduos acometidos residem em regiões de difícil acesso ou apresentam limitações econômicas que dificultam a continuidade do tratamento e o acompanhamento das complicações crônicas.

Diante desse cenário, torna-se fundamental adotar uma abordagem multiprofissional e integrada, que contemple o manejo clínico conjunto das duas condições, ações de promoção da saúde, educação em autocuidado, reabilitação funcional e fortalecimento das redes de apoio social. Estratégias como a triagem sistemática de diabetes em pacientes com hanseníase e o acompanhamento neurológico precoce são medidas essenciais para reduzir as incapacidades e melhorar os desfechos em saúde (Sousa et al., 2022).

IMPACTOS SOCIAIS E DE SAÚDE PÚBLICA NA HANSENÍASE

As coinfecções e comorbidades associadas à hanseníase não apenas agravam o quadro clínico da doença, mas também reforçam o ciclo de exclusão social, estigma e discriminação historicamente vinculados aos indivíduos acometidos. Pacientes que enfrentam múltiplas condições crônicas, como HIV/AIDS, tuberculose e diabetes mellitus, tendem a apresentar pior qualidade de vida, maiores dificuldades de acesso contínuo e qualificado aos serviços de saúde e menor suporte social. Essas vulnerabilidades, somadas à sobreposição de estigmas, contribuem para a perpetuação da transmissão da hanseníase, o agravamento das incapacidades físicas e psicossociais e o comprometimento das estratégias de controle e eliminação da doença como problema de saúde pública (Penna et al., 2023).

O isolamento social, as limitações para o autocuidado e a fragilização dos vínculos comunitários ampliam as barreiras para o tratamento oportuno e para a reabilitação integral. Nesse contexto, a revisão integrativa realizada evidencia a necessidade urgente de uma abordagem multiprofissional, interdisciplinar e integrada no manejo dos pacientes acometidos. Estratégias como o rastreamento sistemático para infecções como HIV e diabetes mellitus em indivíduos diagnosticados com hanseníase, a integração dos programas de controle da tuberculose e da hanseníase e a ampliação das ações de educação em saúde, com foco na promoção do autocuidado e na redução do estigma, mostram-se essenciais para a obtenção de melhores desfechos clínicos, funcionais e sociais (Custosa, 2020).

Ademais, torna-se imprescindível o fortalecimento de políticas públicas que abordem de maneira intersetorial os determinantes sociais da saúde, garantindo o acesso oportuno ao diagnóstico, tratamento, reabilitação e reinserção social. A construção de redes de apoio comunitário, associada à capacitação contínua das equipes de saúde para a detecção precoce, o manejo integrado de doenças crônicas e a promoção dos direitos humanos, constitui um eixo estratégico para a promoção da equidade em saúde e para a superação das iniquidades históricas que marcam a trajetória dos indivíduos acometidos pela hanseníase (Silva, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hanseníase, enquanto doença infecciosa crônica e negligenciada, revela sua complexidade quando associada a coinfecções e comorbidades, como HIV/AIDS, tuberculose e diabetes mellitus. Essas condições não apenas agravam o curso clínico da hanseníase, como também dificultam o diagnóstico, o tratamento e o controle da doença, exigindo uma abordagem integral e interdisciplinar no cuidado ao paciente.

A coinfecção hanseníase-HIV, por exemplo, altera a resposta imune do organismo e pode mascarar sinais típicos da doença, retardando o diagnóstico e aumentando o risco de complicações. Já a associação com a tuberculose representa um desafio epidemiológico relevante, dada a sobreposição de fatores socioeconômicos e ambientais e o impacto conjunto na saúde pública. O diabetes mellitus, por sua vez, contribui para a vulnerabilidade imunológica e a piora dos quadros de neurite e incapacidades físicas, aumentando a complexidade do cuidado clínico.

Nesse contexto, é essencial que os serviços de saúde incorporem protocolos de rastreamento ativo para essas condições associadas, promovendo a integração das ações de controle da hanseníase com os programas de atenção ao HIV, tuberculose e diabetes. A capacitação das equipes de saúde, especialmente na atenção primária, torna-se estratégica para o diagnóstico precoce, o manejo adequado das comorbidades e a redução do estigma, ainda fortemente presente.

Portanto, compreender o impacto das coinfecções e comorbidades na hanseníase é passo fundamental para fortalecer as políticas públicas de enfrentamento à doença, reduzir as desigualdades em saúde e garantir um cuidado mais efetivo, humano e integral à população afetada.

REFERÊNCIAS

COSTA, R. D. S., et al. Coinfections in leprosy patients: impacts on treatment and clinical outcomes.BMC Infectious Diseases. v.24, n.1,p. 112, 2024.

MACEDO, D. C. S., et al. Clinical and epidemiological profile of leprosy-HIV coinfection: A systematic review.PLoS Neglected Tropical Disease,v.17,n.5, e0011472, 2023.

SANTOS, V. S., et al. Tuberculosis and leprosy co-infection: systematic review with meta-analysis.Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.55, n.8, e0396-2022, 2022.

SOUSA, M. I., et al. Association between diabetes mellitus and leprosy: a cross-sectional study. Frontiers in Medicine (Infectious Diseases).v. 9,n.1,e 853679, 2022.

PENNA, M. L. F., et al. Leprosy and comorbidities: A neglected association. International Journal of Dermatology, 2023, v.62, n.8, e.1010–1017.

LUSTOSA, A. A. et al. Impacto do HIV na apresentação clínica da hanseníase: uma revisão integrativa. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 53, e20190333, 2020.

NASCIMENTO, L. B. et al. Hanseníase e tuberculose: coinfecção negligenciada em área hiperendêmica. Revista Pan-Amazônica de Saúde, Ananindeua, v. 12, e202201167, 2021..

SILVA, R. A. R. et al. Diabetes mellitus como fator de risco para reações hansênicas: estudo de coorte em centro de referência. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. 9, e00128818, 2019.

FAVA, V. M. et al. Genetic risk factors for leprosy: insights into host-pathogen interaction and implications for comorbidities. The Lancet Infectious Diseases, London, v. 20, n. 5, p. e164–e172, 2020.