IMPACTO DA TROMBÓLISE COM ALTEPLASE NOS DESFECHOS CLÍNICOS EM PACIENTES COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ISQUÊMICO DE UM HOSPITAL DO MEIO OESTE DE SANTA CATARINA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8014799


Mariana Siqueira Leite;
Rodrigo Esteves Lagares;
Maria Luísa Rocha Dadalt;
Alberto José Rodriguez Rengifo Valmorbida.


Resumo

Introdução: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é caracterizado como um comprometimento neurológico súbito, seja ele global ou focal, com sinais clínicos e sintomas persistentes por mais de 24 horas ou até que pode levar ao óbito, sendo de provável origem vascular. Dentre os tipos de AVE, o mais comum é o isquêmico (AVEi) representando 85% dos casos agudos. A terapia trombolítica com a alteplase é amplamente utilizada nos casos de AVEi, respeitando-se uma janela de tempo adequada para obter benefícios terapêuticos e minimizar os eventos adversos. Objetivos: O presente estudo teve como objetivo avaliar os desfechos clínicos e o impacto do uso da alteplase nos pacientes diagnosticados com AVEi, além de traçar um perfil sociodemográfico destes pacientes. Metodologia: Este estudo foi conduzido utilizando uma abordagem observacional, exploratória, transversal e retrospectiva, com base na revisão de prontuários médicos. Resultados e discussão: Foram identificados um total de 67 pacientes que possuíam um diagnóstico de AVEi. Destes, 14 pacientes foram selecionados, baseados nos critérios de inclusão, sendo observado um predomínio de homens (78,57%) com uma média de idade de 57,7 anos. As principais comorbidades encontradas foram a Hipertensão Arterial Sistêmica (57,14%), e Diabetes Mellitus (28,57%). A média de tempo entre ao início dos sintomas até a infusão do medicamento foi de 3h, e a média de dias de internação pós trombólise foi de 114,72 horas. Dentre os principais desfechos, a porcentagem de hemorragias pós infusão da alteplase chegou a 14,28% sendo os mesmos pacientes que evoluíram a óbito (14,28%). Todos os pacientes que tiveram desfecho fatal compartilhavam dos mesmos fatores de risco, sendo eles sexo masculino, idade acima de 55 anos, histórico de Hipertensão, Diabetes Mellitus, e tabagismo. Conclusões: Mesmo com todos os riscos, fica claro o impacto positivo do uso da alteplase nos desfechos clínicos a médio e longo prazo, quando dentro da janela terapêutica de segurança. Foi observado uma melhora no prognóstico em uma relevante taxa de casos, ,recuperação parcial e/ou total dos déficits produzidos pelo AVEi, além de baixas taxas de hemorragias e óbitos. Por fim, podemos concluir que os fatores de risco incrementam para a ocorrência de eventos tromboembólicos, e devem ser prevenidos, quando possível.

Palavras-chave

Acidente Vascular Encefálico; Alteplase; Trombólise; Acidente Vascular Encefálico Isquêmico;

Abstract

Introduction: Stroke, known as Cerebrovascular Accident (CVA), is characterized by a sudden neurological impairment, whether global or focal, with clinical signs and persistent symptoms lasting for more than 24 hours or leading to death, with a probable vascular origin. Among the types of stroke, ischemic stroke (IS) is the most common, accounting for 85% of acute cases. Thrombolytic therapy with alteplase is widely used in IS cases, adhering to a suitable time window to obtain therapeutic benefits and minimize adverse events. Objectives: The present study aimed to evaluate the clinical outcomes and impact of alteplase use in patients diagnosed with IS, as well as to outline a sociodemographic profile of these patients. Methodology: This study was conducted using an observational, exploratory, cross-sectional, and retrospective approach based on the review of medical records. Results and Discussion: A total of 67 patients with a diagnosis of IS were identified. Among them, 14 patients were selected based on the inclusion criteria, with a predominance of males (78.57%) and a mean age of 57.7 years. The main comorbidities found were Systemic Arterial Hypertension (57.14%) and Diabetes Mellitus (28.57%). The mean time from symptom onset to medication infusion was 3 hours, and the average length of post-thrombolysis hospital stay was 114.72 hours. Among the main outcomes, the percentage of post-alteplase infusion hemorrhages reached 14.28%, with the same patients progressing to death (14.28%). All patients with fatal outcomes shared the same risk factors, including male gender, age above 55 years, a history of hypertension, diabetes mellitus, and smoking. Conclusions: Despite all the risks, the positive impact of alteplase use on medium- and long-term clinical outcomes is evident when within the safe therapeutic window. Improvement in prognosis, partial and/or total recovery of deficits caused by IS, as well as low rates of hemorrhages and deaths, were observed. In conclusion, risk factors contribute to the occurrence of thromboembolic events and should be prevented whenever possible.

Keywords

Stroke; Alteplase; Thrombolysis; Ischemic Strokes;

Introdução

Os distúrbios cerebrovasculares são um grupo heterogêneo de patologias com história natural bastante variável. Dentre elas se destaca o Acidente Vascular Encefálico (AVE). Dados mundiais registraram que o AVE é a segunda maior causa de óbitos e de incapacidade, sendo no Brasil, entre 2007 e 2016 registrados 998.529 óbitos (KURIAKOS, XIAO, 2020; COSTA, ROMEO, 2021;).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o AVE como sendo um comprometimento de caráter neurológico, global ou focal de início súbito, com persistência de sinais clínicos e sintomas além de 24 horas ou até o óbito, com provável origem vascular. Ele pode ser subdividido em hemorrágico (AVEh), no qual inclui hemorragia intracerebral e subaracnóidea, e isquêmico (AVEi) sendo este último responsável por aproximadamente 71% de todos os AVEs a nível global. (WHO, 2006; CAMPBELL et al, 2019; BHASKAR et al., 2018).

Diversos estudos e ensaios clínicos ilustram a eficácia da terapia de reperfusão, através do uso de trombolíticos, no tratamento do AVEi. Essa classe de substâncias tem como mecanismo de ação principal a dissolução de coágulos sanguíneos por meio da ativação do plasminogênio, em uma enzima proteolítica ativa, chamada de plasmina. As três principais classes de trombolíticos são: tPA, representada pela alteplase, estreptoquinase e uroquinase (LEE, OH, YOON, 2019; BERGE et al, 2016; ANDERSON et al, 2016).

Embora a alteplase seja o tratamento farmacológico de escolha para trombólise, ela está longe de ser uma terapia segura. Além de ter uma janela terapêutica de segurança estreita (4,5h), os seus efeitos adversos incluem hemorragia, angioedema, anafilaxia e febre, além de ser contraindicada nos casos de hemorragias cerebrais, sangramentos, traumatismo craniano recente (últimos três meses) e hipertensão arterial sistêmica descompensada, podendo aumentar mais ainda o risco de sangramento (TOYODA et al.,2019).

No Brasil ainda há uma escassez de estudos que avaliem as complicações e os eventos pós- reperfusão com a alteplase, portanto, o presente estudo teve como objetivo avaliar os desfechos clínicos e o impacto do uso da alteplase em pacientes com diagnóstico de AVEi, submetidos ao procedimento.

Metodologia

Este estudo foi conduzido utilizando uma abordagem observacional, exploratória, transversal e retrospectiva, com base na revisão de prontuários médicos, realizada no Hospital Maicé, município de Caçador, estado de Santa Catarina. A população-alvo consistiu em pacientes que foram diagnosticados AVEi, no período de dezembro de 2021 a maio de 2023, e que receberam tratamento trombolítico utilizando o fibrinolítico alteplase.

A coleta de dados foi realizada por meio da revisão dos registros eletrônicos dos prontuários, levando em consideração os seguintes critérios de inclusão: a) pacientes de ambos os sexos, b) idade acima de 18 anos, c) diagnóstico de AVEi c) pacientes submetidos ao tratamento trombolítico com alteplase. Foram excluídos aqueles que apresentaram outros distúrbios neurológicos, que não se enquadrassem no diagnóstico clínico de AVEi, e casos de AVEi não tratados com alteplase.

As informações foram coletadas de forma individualizada, utilizando uma ficha de coleta de dados padronizada, que incluía o número de prontuário, idade, sexo, estado civil, naturalidade, raça/cor, comorbidades, tempo decorrido desde o início dos sintomas, sintomas relatados, alterações identificadas nos exames de neuroimagem, duração da internação após o procedimento trombolítico, ocorrência de óbito (sim/não), uso prévio de medicamentos, presença de hemorragia pós-intervenção (sim/não) e outros eventos pós-procedimento.

Todos os procedimentos de coleta seguiram os preceitos éticos, com aprovação prévia através do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), sob parecer número 6.077.654. Os dados coletados foram analisados utilizando o software Microsoft Excel®, sendo tabulados e apresentados em forma de tabelas para fins de comparação, melhor elucidação e discussão.

Resultados

Durante o período compreendido entre dezembro de 2021 e maio de 2023, foram registrados um total de 67 casos de (AVEi) atendidos no hospital pesquisado, dos quais 14 casos preencheram totalmente os critérios de inclusão estabelecidos. A média de idade dos participantes foi de 57,7 anos, sendo que 78,57% destes eram do sexo masculino. Dentre as características sociodemográficas (Tabela 1), 57,14% dos participantes eram casados, 28,57% solteiros, 7,14% divorciados e 7,14% viúvos. Quanto à composição étnica, a maioria (64,2%) dos participantes era de origem caucasiana, enquanto 35,7% eram de origem parda. Ademais, 35,71% dos participantes eram tabagistas e 14,28% eram consumidores frequentes de álcool.

Quanto às condições prévias de saúde, verificou-se que 28,57% dos participantes não apresentavam comorbidades, sendo as principais comorbidades identificadas a hipertensão arterial sistêmica (HAS), em 57,14% dos casos, a Diabetes Mellitus (28,57%), cardiopatias (24,42%) e câncer (14,28%). Do total de pacientes analisados, dois apresentaram eventos tromboembólicos prévios, como Acidente Isquêmico Transitório (AIT) e um AVEi anterior.

Em relação aos dados clínicos e desfechos, a média de tempo decorrido desde o início dos sintomas até a chegada do serviço médico foi de 2 horas, enquanto a média de tempo entre a chegada do serviço médico e o início do tratamento trombolítico foi de 3 horas. Observou-se uma média de tempo de internação pós-infusão da terapia trombolítica de 114,72 horas (4,78 dias).

Sobre o acometimento de leito vascular, 85,71 % dos casos foram de circulação anterior e 14,28% de circulação posterior e em 21,42% dos casos houve evolução para quadro hemorrágico após a administração do trombolítico, além de uma incidência de óbito de 14,28%. Por outro lado, foi possível constatar desfechos favoráveis, sem complicações ou sequelas, em 50% dos participantes, enquanto os demais 50% apresentaram alta hospitalar com algum tipo de sequela física, déficit cognitivo ou afastamento das atividades laborais por mais de 90 dias.

Tabela 1: Características sociodemográficas

Características sociodemográficas
Pacientes internados com AVEiN= 67 (100%)
Pacientes que receberam AlteplaseN=14 (20,89%)
Idade médiaMédia (Anos)
25-8157,7 anos
Estado civil(%)
Casado57,14%
Solteiro28,57%
Viúvo7,14%
Divorciado7,14%
Raça(%)
Caucasiano64,2%
Pardos35,7%
Fatores de Risco modificáveis(%)
Tabagista35,71%
Etilista14,28%
Comorbidades(%)
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)57,14%
Diabetes Mellitus (DM)28,57%
Outras comorbidades14,29%
SexoNúmero de pacientes(%)
Homens1178,57%
Mulheres321,4%

Tabela 2: Dados Clínicos

Dados ClínicosMédia (Horas)
Média de horas até desde início dos sintomas a chegada ao serviço2,04 horas
Média de Tempo porta-agulha3 horas
Média de dias de internação pós-trombólise114,72 horas
Pós-trombólise química(%)
Hemorragia pós-trombólise14,28%
Óbitos14,28%
Desfecho favorável, sem intercorrência e sem sequelas50%
Pacientes com sequelas físicas, déficit cognitivo, afastamento das atividades laborais por mais de 90 dias50%
Leito vascular acometido(%)
Infarto de circulação anterior85,71%
Infarto de Circulação posterior14,28%

Fonte: Os autores, 2023.

Discussão

Foi observado que menos da metade (20,89%) dos pacientes foram submetidos a terapia trombolítica. Isso se deu, em sua maioria, devido ao tempo porta-agulha excedido e também devido a presença de contraindicações para o uso da alteplase, como risco aumentado de hemorragia. De acordo com a entidade American College of Chest Physicians (ACCP), a administração de rtPA é benéfica naqueles pacientes com AVEi agudo, se o tratamento for feito em até 4,5 horas do início dos sintomas. Esta janela de tempo vem sendo bastante discutida, pois diversos estudos mostram que há uma segurança e um impacto positivo no uso da alteplase em pacientes selecionados, mesmo com uma janela de até 6 horas (MURUET et al., 2018; SANDERCOCK et al., 2012).

Neste estudo, todos os casos dos pacientes internados e que receberam a terapia trombolítica estavam dentro da janela de tempo porta-agulha preconizado, obtendo a média de 3h. Uma meta-análise de dados particulares demonstrou que a trombólise com alteplase aumenta significativamente as chances de um resultado excelente em três meses, com tratamento precoce quando administrado dentro das três primeiras horas. Também apresenta benefícios de 3 para 4,5 horas, porém menores que o tratamento iniciado dentro do intervalo de 3 horas (BERGE et al., 2021).

Uma meta-análise de 12 ensaios clínicos envolvendo um total de 7.012 pacientes recebendo alteplase dentro de 6 horas após o início do AVEi mostrou melhora significativa no resultado favorável com melhores taxas de independência funcional e sobrevida. Esta análise ressalta a importância de tratar os pacientes o mais cedo possível e sugere que alguns pacientes podem se beneficiar do uso de alteplase até 6 horas após o AVE (SANDERCOCK et al., 2012; WARDLAW et al., 2012).

O tempo médio de internação após o uso da alteplase em pacientes varia dependendo de diversos fatores como idade, gravidade do AVE, presença de comorbidades, tempo de tratamento com alteplase, entre outros. De acordo com um estudo publicado no periódico “Stroke” em 2018, intitulado “Length of Hospital Stay After Stroke and Its Predictors”, o tempo médio de internação hospitalar após o tratamento com trombolíticos em pacientes com AVEi foi de 9,8 dias. Um outro estudo multicêntrico realizado por Li et al,. (2019) que avaliou a eficácia e a segurança do tratamento com alteplase em pacientes com AVEi agudo em hospitais australianos obteve um tempo médio de internação hospitalar de aproximadamente 7 dias. Comparando esses dados com os resultados obtidos na presente pesquisa, observamos um menor tempo de internação (7,78 dias) o que é um resultado excelente, visto que quanto menor o tempo de internação, menor a chance de complicações relacionadas a permanência estendida no hospital.

O perfil sociodemográfico da amostra coletada evidencia uma média de idade entre 57 anos, uma média consideravelmente baixa, mas que estavam associadas a várias comorbidades que incrementavam o risco tromboembólico nesses pacientes. Houve uma predominância do sexo masculino, algo condizente com diversos estudos prévios, como no estudo de Kumar et. al (2023) que observou uma predominância do sexo masculino, cerca de 60% dos casos, e 53,3% da amostra tendo idade acima dos 60 anos. O estudo de Ramos-Lima et al. (2018) também obteve resultados semelhantes, onde 68,7% eram homens com predomínio de pacientes com idade acima dos 65 anos.

A maior incidência de AVEi no sexo masculino pode ser atribuída a uma combinação de fatores biológicos, associados ao estilo de vida, comportamentais e genéticos. Diferenças hormonais, como níveis mais elevados de andrógenos, especialmente testosterona, tornam a parede arterial mais endurecida e aumentam a coagulação sanguínea, aumentando assim o risco de AVEi. Comportamentos não saudáveis, como tabagismo e etilismo, e a presença mais frequente de comorbidades, como HAS e DM, contribuem para essa disparidade de gênero. Além disso, há evidências fortes de que o sono ruim pode ser um fator de risco adicional para a incidência de AVEi, e a apneia do sono é mais comum em homens do que em mulheres (LI et al. 2020; MATSUI et al., 2021)

Uma meta-análise realizada na China, em 2022 (YUAN et al., 2022) avaliou um total de 1.984.552 indivíduos, em 40 coortes prospectivas, com diversas características individuais, observou que características demográficas como a idade avançada, presença de doenças pré-existentes como HAS, histórico de doença cardiovascular, diabetes mellitus, obesidade, bem como estilos de vida pouco saudáveis, incluindo tabagismo e sono prolongado (>7,5 horas), estão todos associados a um maior risco de acidente vascular cerebral.

A hipertensão é identificada como o fator de risco modificável mais significativo para o desenvolvimento de AVE , estando associada a mais de 50% de todos os casos em âmbito global. Kumar et al. (2023) avaliou os perfis clínicos dos pacientes com AVEi e também concluiu que HAS estava presente em 40% dos casos. Ainda, a Diabetes Mellitus também foi observada em 40% dos casos de AVEi e 22,5% de AVEh, dados que corroboram com o evidenciado no presente artigo. Parte superior do formulário

No presente artigo, foi identificada uma porcentagem relevante de pacientes tabagistas (35,71%) e etilistas (14,28%), o que ressalta ainda mais a importância da prevenção primária por meio da redução dos fatores de risco modificáveis, principalmente aqueles que conferem maior risco, para a redução do risco de ocorrência de um primeiro evento de AVE.

Existem disparidades raciais bem documentadas no AVE. Os afro-americanos correm o dobro do risco de acidente vascular cerebral quando comparados aos brancos e têm maior mortalidade associada ao AVE. Em nossos resultados verificamos uma prevalência majoritariamente de pessoas brancas, o que pode ser explicado devido a região Sul do Brasil, de acordo com o censo demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentar uma população predominantemente branca, sendo composta por pessoas de ascendência europeia. De acordo com o censo, cerca de 79,1% da população da região se autodeclarou branca, enquanto que 16,3% se autodeclarou parda, 3,7% preta e 0,9% indígena (BOEHME et al.,2017).

Segundo Bergue et al. (2021), a European Stroke Organization (ESO), analisou duas pesquisas que incluíram pacientes com uma variedade de idades e gravidades, sendo uma revisão sistemática e uma meta-análise de dados. Tanto a revisão sistêmica em nível de estudo e a meta-análise de dados individuas demonstrou que rtPA aumentou as chances de hemorragia intraparenquimatosa e de hemorragia intracraniana fatal em 7 a 10 dias.

Esses dados evidenciam que os pacientes com AVEi que são tratados com alteplase e sobrevivem à fase aguda têm uma probabilidade maior de obter benefícios em termos de sobrevida a médio prazo, o que compensa qualquer aumento inicial na mortalidade devido a complicações hemorrágicas. Esse benefício na sobrevida pode ser atribuído ao fato de que os sobreviventes de AVE, que apresentam menor incapacidade funcional como resultado do tratamento com alteplase, vivem mais tempo após o evento tromboembólico. Além disso, é possível que esses benefícios na sobrevida se acumulem ao longo do tempo (WHITELEY et al.,2014; BERGUE et al.,2021).

No presente estudo, foi identificado uma prevalência de 14,28% de hemorragia pós administração de alteplase, os quais evoluíram para óbito. Ao analisarmos os perfis dos pacientes que vieram a óbito, percebeu-se que todos compartilhavam dos mesmos fatores de risco, sendo eles homens, com idade acima de 55 anos, histórico de HAS, DM e tabagismo. De acordo com o estudo “Thrombolysis-related Mortality: A Multicenter Retrospective Study” de Cappellari et al. (2017), a mortalidade relacionada ao uso de alteplase é importante nos primeiros 10 dias após a administração da medicação, tendo como principal causa de óbito a hemorragia intracraniana. Foi analisado dados de 3.010 pacientes tratados com alteplase em 12 centros de AVEi na Itália, e foi identificado uma taxa de mortalidade de 6,0% nos primeiros 10 dias após a administração, e 4,2% dos pacientes tiveram desfecho fatal devido a hemorragia intracraniana.

Uma meta-análise que avaliou um total de 6.756 participantes de nove ensaios clínicos, sendo que do total de participantes, 3.391 receberam alteplase, enquanto 3.365 foram designados para o grupo controle. Verificou-se a ocorrência de hemorragia parenquimatosa em até 7 dias após o tratamento em 231 pacientes (6,8%) do grupo que recebeu o trombolítico versus 44 pacientes (1,3%) do grupo controle (EMBERSON et al., 2014)..

Houve também registro de óbito por hemorragia parenquimatosa em até 7 dias após o tratamento em 91 pacientes (2,7%) do grupo que recebeu alteplase e em 13 pacientes (0,4%) do grupo controle. É importante ressaltar que dados de acompanhamento em longo prazo são necessários para verificar se o efeito da alteplase em pacientes que sobrevivem à primeira semana após o AVE reduz o risco de morte a longo prazo (EMBERSON et al., 2014).

Os desfechos positivos ou parcialmente positivos devem ser levados em consideração, uma vez que os resultados deste estudo em questão demonstram que o uso do trombolítico resultou em recuperação total em 50% dos casos, e nos outros 50% a recuperação não foi completa, tendo em sua maioria comprometimento motor, com chances de retorno das funções através do acompanhamento junto a fisioterapia.

Considerações finais

Anualmente, ocorre um número significativo de AVEs em todo o mundo, estimado em cerca de 22 milhões de casos. Os resultados obtidos reforçam a importância do tratamento com alteplase dentro da janela terapêutica ideal para a busca de melhores desfechos clínicos. Foi observada uma baixa taxa de mortalidade e um tempo de internação consideravelmente baixo, o que indica melhor prognóstico e baixas taxas de intercorrências relacionadas ao uso da medicação.

Embora este estudo tenha sido conduzido com um número limitado de pacientes, os resultados obtidos estão em concordância com a literatura científica atual. Ficou bastante evidente a dificuldade da população em buscar o serviço de saúde de forma rápida, o que acabou resultando em um número significativo de pacientes fora da janela terapêutica preconizada.

Para avaliar os desfechos a longo prazo, é necessário um acompanhamento contínuo dos pacientes após a alta hospitalar, o que sugere a continuidade deste projeto para o enriquecimento dos dados já obtidos.

Este estudo contribuiu para o conhecimento atual sobre o uso de alteplase no tratamento do AVEi, fornecendo informações importantes para a prática clínica. a fim de melhorar os desfechos clínicos e reduzir o impacto dessa condição como um grave problema de saúde pública.

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