IMPACTO DA TELEMEDICINA NA GESTÃO DE PACIENTES EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10713414


Matheus Dal Bosco Macari1; Raul Bernardo Ribeiro2; Myrian Goes Vasconcelos3; Graziela Giongo da Silva4; Isabela Vasconcelos Barbosa5; Cinira Mello Santana6; Ádria Lorrana dos Santos Ferreira7; Osvaldo Alves Ribeiro Neto8


RESUMO

Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), a telemedicina vem se mostrando uma incógnita para a medicina moderna, sem estabelecer até onde ela ajuda. Nesse artigo visam desvendar esses mistérios, através de uma busca sistemática de fontes confiáveis. 

Bem estabelecemos a Telemedicina como um acesso remoto a especialistas da área médica podendo haver monitoramento contínuo. Embora ainda enfrente desafios, como limitações na avaliação física e questões éticas. A implementação equilibrada é destacada como essencial para garantir benefícios sem comprometer a segurança na UTI. O artigo explora as perspectivas futuras da telemedicina, enfatizando seu papel no contexto da saúde brasileira.

Duas pesquisas sobre telemedicina são discutidas no artigo. A primeira, realizada em 2012 nos hospitais Albert Einstein e Moysés Deutsch, introduziu a telemedicina com conexão sincrônica, a segunda pesquisa, conduzida em 30 unidades de terapia intensiva brasileiras, é o estudo TELESCOPE, que avalia a eficácia de visitas multidisciplinares diárias (DMRs) conduzidas por um intensivista remoto via telemedicina.

INTRODUÇÃO

A Lei nº 14.510, de 27 de dezembro de 2022, representa um marco importante para a telessaúde no Brasil. Ao autorizar e regulamentar a prática em todo o país, a legislação facilita o uso de tecnologias para diagnósticos, tratamentos e monitoramento remoto de pacientes. Com diretrizes claras sobre privacidade e confidencialidade, a lei integra a telessaúde no SUS, visando eficiência e redução de desigualdades regionais. Destaca-se a necessidade de formação adequada dos profissionais de saúde, garantindo qualidade e segurança nos serviços. A legislação impulsiona uma medicina mais acessível, adaptada aos desafios atuais, fortalecendo a equidade e melhorando a qualidade da assistência médica no Brasil.

Os serviços oferecidos pelo Núcleo Telessaúde incluem Teleconsultoria e Telediagnóstico. A Teleconsultoria envolve consultas registradas e realizadas entre trabalhadores, profissionais e gestores da saúde, utilizando instrumentos de telecomunicação bidirecional. O objetivo é esclarecer dúvidas sobre procedimentos clínicos, ações de saúde e questões relacionadas ao processo de trabalho, com respostas baseadas em evidências científicas e adaptadas às características locorregionais. Há três tipos de teleconsultoria: clínica, de processo de trabalho/coordenação/gestão e com intenção de encaminhamento, executadas em formatos síncrono e assíncrono. O Telediagnóstico visa facilitar o acesso do cidadão aos resultados de exames e laudos por meio do STT, disponibilizando informações ao médico requisitante, médico executor e profissionais de saúde para melhor atender ao paciente. (MINGHELLI; NATHALIA BERGER WERLANG; BARBARA BALBIS GARCIA, 2023)

A aplicação da telemedicina na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) oferece vantagens notáveis, como o acesso remoto a especialistas, monitoramento contínuo e redução de custos, proporcionando uma tomada de decisões mais ágil em situações críticas. No entanto, essa abordagem enfrenta desafios, incluindo limitações na avaliação física, possíveis falhas técnicas, considerações éticas e jurídicas, bem como obstáculos relacionados ao acesso tecnológico e à necessidade de treinamento apropriado para os profissionais de saúde.

Apesar de representar uma ferramenta valiosa para aprimorar a eficiência e qualidade do atendimento, a implementação da telemedicina na UTI exige uma abordagem equilibrada. É crucial garantir benefícios substanciais sem comprometer a segurança e a integridade do cuidado intensivo. Neste artigo, exploraremos as perspectivas futuras e o que já foi alcançado da telemedicina, destacando seu papel no enfrentamento de diversas situações na saúde brasileira.

MÉTODOS

Realizamos pesquisas em diversas bases de dados renomadas, como Arca (Fiocruz), Scielo, Periódicos Capes e PubMed, com foco específico na interseção de Telemedicina AND UTI, Telemedicina  AND Unidade de Atenção Intensiva e Telemedicina AND emergência. A seleção abrangeu artigos científicos, revisões bibliográficas, metanálises, estudos randomizados, além de consultas a livros publicados no período de 2010 a 2023. Este processo de busca abrangente proporcionou uma ampla visão da literatura científica disponível sobre a relação entre a Telemedicina e suas resoluções durante este intervalo de tempo.

DISCUSSÃO

Em uma pesquisa conduzida em janeiro de 2012 no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e no Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch (HMMD) por STEINMAN, M. et al. 2015, foi introduzido o conceito de telemedicina com conexão sincrônica. O sistema implementado incluiu um Comando Central de Telemedicina (CCT) que estabeleceu uma rede sem fio para garantir transmissão de sinal de qualidade nas áreas de pronto-socorro e UTI adultos.

O CCT proporcionou cobertura 24/7, disponibilizando consultores no pronto-socorro e na UTI, abrangendo todas as especialidades médicas. Dezesseis médicos foram selecionados com base em critérios como motivação, especialização em medicina intensiva ou de emergência, habilidade para enfrentar desafios e domínio dos protocolos do serviço. Os critérios de inclusão para telemedicina foram determinados pelo médico de UTI ou pronto-socorro remoto. Cada paciente selecionado passou por avaliação via teleconferência com um consultor experiente no comando central.

Foram elaborados 36 protocolos clínicos, abrangendo diversas doenças encontradas na UTI e pronto-socorro. Quatro protocolos prioritários foram destacados devido à sua alta prevalência e gravidade: sepse, síndromes coronarianas agudas, acidente vascular cerebral e trauma.

Durante as teleconsultas, foram coletados dados específicos, como RG do paciente, nomes dos profissionais envolvidos, queixa principal, data e horário da consulta, tipo de consulta, exames discutidos, dúvidas a serem solucionadas, tempo gasto e recursos utilizados, problemas técnicos, diagnóstico e encaminhamento ou orientação e tratamento. A telemedicina foi incorporada aos algoritmos de suporte à decisão em emergências como trauma, sepse, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio com elevação do segmento ST.

Após a implementação da telemedicina, todos os pacientes no pronto-socorro com diagnóstico neurológico elegíveis para transferência para um centro terciário foram submetidos a consultas por telemedicina com um neurologista do HIAE. Essa prática resultou em uma redução de 25,9% nas avaliações neurológicas externas após um ano da implementação do programa.

Ao comparar a mortalidade hospitalar um ano antes e um ano depois da implementação da telemedicina para infarto agudo do miocárdio, sepse severa e acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico, não foram encontradas diferenças significativas. No entanto, observou-se uma tendência à redução da mortalidade hospitalar entre os pacientes que utilizam a telemedicina em comparação com aqueles que não o fizeram após a implementação do programa.

Como fator de limitação, o autor destaca que, apesar de ter sido observada uma tendência de redução da taxa de mortalidade hospitalar no grupo de pacientes submetidos à consulta por telemedicina, os pacientes não foram comparados em relação aos índices de gravidade. Em última análise, o autor ressalta o papel da telemedicina como um vetor para a transformação da cultura hospitalar, com impacto sobre a segurança e a qualidade do cuidado.

Em um plano de estudo conduzido por RANZANI, O. et al. 2010, foi examinada a eficácia de visitas multidisciplinares diárias realizadas por um intensivista por meio de telemedicina em unidades de terapia intensiva brasileiras, abrangendo 30 unidades no total.

As Rondas Multidisciplinares Diárias (DMRs) representam uma abordagem destinada a otimizar a prestação de cuidados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Essas DMRs consistem em discussões sistemáticas centradas no paciente, com o objetivo de estabelecer metas terapêuticas conjuntas para os próximos 24 horas de cuidados na UTI. No entanto, ainda não foi identificado o método mais eficaz para conduzir a análise das DMRs.

O ensaio TELE-Critical Care versus usual Care On ICU PErformance (TELESCOPE) tem como objetivo avaliar se uma intervenção que inclui DMRs orientadas por um especialista remoto (intensivista) por meio de telemedicina, juntamente com feedback de auditoria sobre o desempenho do cuidado, pode reduzir a duração da permanência na UTI (LOS) em comparação com um grupo de controle.

O autor destaca que a demanda por cuidados críticos fornecidos em unidades de terapia intensiva (UTIs) está aumentando em todo o mundo, sobrecarregando os sistemas de saúde de países de baixa e média renda com considerável pressão e estresse. Países de baixa e média renda frequentemente enfrentam escassez de leitos de UTI ou lidam com disparidades regionais significativas, além do envelhecimento da população sem controle adequado dos principais determinantes de saúde.

Uma abordagem para enfrentar o aumento na demanda por atendimento a pacientes gravemente enfermos é melhorar a eficiência da UTI, em vez de simplesmente aumentar o número de leitos de UTI.

Além disso, afirma-se que as rondas multidisciplinares diárias (RMDs) representam uma abordagem para otimizar os cuidados na UTI. Elas consistem em discussões sistemáticas centradas no paciente, com o objetivo de estabelecer metas terapêuticas conjuntas para as 24 horas seguintes de cuidado na UTI. No entanto, ainda não existe o método ideal para realizar as RMDs.

O ensaio TELECritical Care versus Care On ICU PErformance (TELESCOPE) visa avaliar se uma intervenção envolvendo RMDs guiadas por um especialista remoto (intensivista) por meio de telemedicina, juntamente com feedback de auditoria sobre o desempenho dos cuidados, reduzirá o tempo de internação (TI) em UTI em comparação com um grupo controle. O ensaio encontra-se atualmente em fase de coleta de dados, e em breve fornecerá uma conclusão sobre o tópico.

Com o intuito de apresentar a análise estatística atualizada e finalizada do ensaio TELESCOPE, destaca-se como um estudo verdadeiramente promissor e de alta confiança.

CONCLUSÃO

Em conclusão, os estudos analisados oferecem perspectivas interessantes sobre o papel da telemedicina na otimização dos cuidados em unidades de terapia intensiva (UTIs) no contexto brasileiro. O primeiro estudo, realizado no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e no Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch (HMMD), destacou a implementação bem-sucedida da telemedicina com conexão sincrônica. A introdução de rondas multidisciplinares diárias (DMRs) guiadas por especialistas remotos mostrou potencial para melhorar a eficiência e a qualidade do atendimento na UTI, especialmente quando combinada com feedback de auditoria sobre o desempenho dos cuidados.

Os resultados da pesquisa no HIAE e HMMD indicam benefícios tangíveis, como a redução das avaliações neurológicas externas e uma tendência à diminuição da mortalidade hospitalar em certos casos após a implementação da telemedicina. No entanto, a necessidade de comparações mais aprofundadas em relação aos índices de gravidade destaca um ponto de consideração importante.

O segundo estudo, conduzido por RANZANI, O. et al., foca na avaliação da eficácia das DMRs orientadas por especialistas remotos por meio de telemedicina em UTIs brasileiras. A abordagem busca otimizar a prestação de cuidados, reconhecendo os desafios enfrentados pelos sistemas de saúde de países de baixa e média renda.

A conclusão do estudo TELESCOPE, atualmente em fase de coleta de dados, promete contribuir significativamente para a compreensão do impacto das RMDs guiadas por especialistas remotos na redução da duração da permanência na UTI. Este ensaio representa uma abordagem promissora para enfrentar a crescente demanda por cuidados críticos, destacando a importância da eficiência na gestão das UTIs.

Em conjunto, esses estudos indicam que a telemedicina, quando aplicada de maneira equilibrada e adaptada às necessidades específicas das UTIs, pode ser uma ferramenta valiosa na transformação da cultura hospitalar, impactando positivamente a segurança e a qualidade do cuidado intensivo no contexto brasileiro.

REFERÊNCIAS

STEINMAN, M. et al. Impact of telemedicine in hospital culture and its consequences on quality of care and safety. Einstein (São Paulo), v. 13, n. 4, p. 580–586, 11 dez. 2015.

RANZANI, O. et al. Plano de análise estatística de um ensaio clínico randomizado em cluster em unidades de terapia intensiva geral adulto no Brasil: TELE-critical care verSus usual Care On ICU PErformance (TELESCOPE). Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 34, n. 1, p. 87–95, 2010.

BRASIL, LEI Nº 14.510, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2022. para autorizar e disciplinar a prática da telessaúde em todo o território nacional. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2022.

BRASIL. Organização Pan-Americana de Saúde. COVID-19 E TELEMEDICINA: ferramenta de medição do nível de maturidade das instituições de saúde para implementar serviços de telemedicina. 3. ed. Brasília, 2020. 14 p. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/file:///C:/Users/mathe/Downloads/covid19-telemedicine-ratool-pt.pdf. Acesso em: 31 jan. 2024.

MINGHELLI, M.; NATHALIA BERGER WERLANG; BARBARA BALBIS GARCIA. A autodeterminação informativa como contexto normativo para elaboração de diretrizes para a construção de um Relatório de Impacto à Proteção de Dados Pessoais: a proposta de um modelo humanizador para a telemedicina. Reciis, v. 17, n. Ahead-of-Print, 12 set. 2023.

MOROSINI, L. Tecnologia a serviço da saúde: adotada em caráter emergencial na pandemia, entenda o que é telemedicina, se ela veio para ficar e como pode ajudar a ampliar o acesso à saúde. www.arca.fiocruz.br, 2021. Acesso em: 31 jan. 2024.


1Medicina – UNINASSAU/CACOAL
2Medicina  – Universidade Federal do Cariri
3Medicina – São Lucas-Afya
4Medicina – São Lucas-Afya
5Medicina – Centro universitário Aparício Carvalho – FIMCA
6Interdisciplinar em Saúde – Universidade Federal da Bahia
7Medicina – Centro Universitário Uninorte
8Medicina – Centro Universitário Uninorte