REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504111014
Sofia Carraro Mathias1
Gabrielly Fernanda Acioli Denobi2
Daniele Fernanda Felipe3
RESUMO
A psoríase é uma doença crônica da pele que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que no Brasil 1,3% da população é afetada, casos oriundos principalmente das regiões sul e sudeste do país. A doença apresenta um amplo espectro de manifestações clínicas e desafios diagnósticos que podem afetar tanto a saúde mental quanto física dos pacientes. Mediante a isso, esse estudo teve como objetivo analisar o impacto da psoríase na qualidade de vida dos pacientes. A metodologia adotada foi uma revisão integrativa de literatura, conduzida pela busca de artigos científicos publicados de 2019 -2024 nas bases de dados da biblioteca virtual em saúde, Pubmed e na Scientific Eletronic Library Online (Scielo). Com esta pesquisa, foi possível elencar os principais fatores que contribuem na baixa qualidade de vida desses pacientes, foi possível observar uma elevada incidência em pacientes com psoríase de transtornos mentais como ansiedade e, sobretudo, depressão, afetando sua qualidade de vida. Assim, profissionais de saúde devem não apenas tratar os sintomas diretos da doença, mas também utilizar recursos terapêuticos para melhorar a saúde mental, e consequentemente, a qualidade de vida de tais pacientes.
Palavras-chave: Qualidade de vida; Psoríase; Tratamento.
ABSTRACT:
Psoriasis is a chronic skin disease that affects millions of people worldwide. In Brazil, 1.3% of the population is affected, with cases coming mainly from the south and southeast regions of the country. The disease presents a broad spectrum of clinical manifestations and diagnostic challenges that can affect both the mental and physical health of patients. With this in mind, the general aim of this study was to analyze the impact of psoriasis on patients’ quality of life. The methodology adopted was an integrative literature review, conducted by searching for scientific articles published from 2019-2024 in the databases of the virtual health library, Pubmed and the Scientific Electronic Library Online (Scielo). With this research, it was possible to list the main factors that contribute to the low quality of life of these patients, it was possible to observe a high incidence in patients with psoriasis of mental disorders such as anxiety and, above all, depression, affecting their quality of life. Thus, health professionals should not only treat the direct symptoms of the disease, but also use therapeutic resources to improve mental health, and consequently, the quality of life of such patients.
Keywords: Quality of life; Psoriasis; Treatment.
1. INTRODUÇÃO
A psoríase é uma enfermidade prevalente em muitos países. No Brasil chega a 1,3% da população, casos oriundos principalmente das regiões sul e sudeste do país (Fernandes et al, 2024). Kamiya et al. (2019) define como uma doença de pele inflamatória crônica caracterizada pela presença de placas eritemato descamativas imunomediadas por linfócitos T, principalmente TH1 e TH17 (Brandão et al, 2024). Os autores também destacam os fatores que influenciam na patogenia, são eles: etnia, fatores ambientais e genéticos, sendo este último o mais importante deles. Dentre os fatores genéticos há um destaque para um segmento do principal complexo de histocompatibilidade no cromossomo 6p21 e para o alelo HLA-Cw6, este se associa a início precoce e manifestações graves e instáveis da doença. Ainda sim, os indivíduos com predisposição genética devem se expor a fatores de risco como estresse, infecção, beta bloqueadores e fatores sazonais para dar início a afecção (Kamiya et al, 2019). Estudos mostram que também há uma relação da psoríase com diversas doenças. Dentre as doenças autoimunes, pode-se destacar a artrite reumatoide, artrite psoriática, doença celíaca e vitiligo. Ao mesmo tempo, síndrome metabólica, diabetes melito, doença de Crohn, doença hepática gordurosa, hipertensão, doenças cardiovasculares, doença inflamatória intestinal, asma e distúrbios psiquiátricos (principalmente depressão e ansiedade) também estão frequentemente associadas à psoríase (Brandão et al, 2024; Fernandes et al, 2024; Kamiya et al, 2019).
Segundo Brandão et al. (2024), as lesões costumam aparecer depois da quarta década de vida. Caso surja ainda mais tarde, após os 60 anos, tende a ser uma doença mais branda, atingindo uma extensão corporal menor e sem envolvimento ungueal ou articular. Ela pode atingir mucosas, articulações e unhas. É comum que estes pacientes também apresentem sintomas depressivos, sinais de fragilidade física devido a idade e síndrome metabólica em uma frequência maior do que aqueles que não possuem psoríase. Com base nisso, para avaliar a gravidade da doença usamos o PASI (Psoriasis Area Severity Index), um escore útil para avaliar a extensão das lesões, com pontuação variando de 0-72 pontos. Nele, pacientes com PASI ≤ 10 são considerados casos leves, enquanto PASI > 10 são formas moderadas/graves da doença.
O diagnóstico da psoríase é clínico e deve levar em consideração a morfologia e duração das lesões, que incluem placas eritemato escamosas de diferentes tamanhos, com bordas bem definidas e acúmulo de escamas branco-prateadas, além da distribuição anatômica e história do paciente. As lesões características da psoríase vulgar são simétricas e tipicamente encontradas nas superfícies extensoras dos joelhos, cotovelos, região lombossacra e couro cabeludo. Quando essas escamas são removidas da lesão elas podem deixar pontilhados sanguinolentos, adicionando um aspecto distintivo ao quadro clínico. Ademais, em casos atípicos ou de dúvida diagnóstica faz se necessário biópsia para confirmação da doença (Brasil, 2019). Devido a isso, ele é importante para iniciar o tratamento, uma vez que atrasos nos cuidados com a doença podem levar a manifestações graves e envolvimento sistêmico como a artrite psoriática e doenças cardiovasculares. Enquanto o subtratamento pode trazer consequências psicossociais que prejudicam a autoimagem e, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes (Khanna; Khanna; Desai, 2023).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (2019) a terapia farmacológica para psoríase envolve uma abordagem multifacetada, considerando tanto a gravidade da condição quanto as comorbidades associadas. As mais comuns incluem o uso de medicamentos tópicos, sistêmicos, biológicos ou com o uso de fototerapia. Enquanto os tópicos são aplicados diretamente na pele e podem ser utilizados isoladamente ou em combinação com outras terapias, os sistêmicos e biológicos são reservados para casos mais graves e resistentes. A fototerapia UVB de banda estreita envolve exposição à luz ultravioleta e é eficaz para muitos pacientes, sendo mais recomendada para tratar a psoríase em placas. (Armstrong et al, 2020).
Para o tratamento inicial de psoríase leve é recomendado o uso de agentes tópicos como corticosteroides análogos a vitamina D e inibidores de calcineurina. Em contrapartida, os casos moderados a graves utilizam medicamentos biológicos, pois são a opção de primeira linha devido à sua eficácia e segurança. Esses medicamentos incluem inibidores de TNF-alfa, como Etanercepte e Adalimumabe, bem como outros biológicos que visam diferentes citocinas, como IL-17 e IL-23 (Armstrong et al, 2020).
Em 2022, com a constante evolução e introdução de novas opções terapêuticas duas adições notáveis foram aprovadas no mercado brasileiro, o Tremfya (Guselcumabe) produto biológico destinado ao tratamento de adultos com psoríase em placas moderada a grave e o Otezla (Apremilaste), medicamento sintético indicado tanto para psoríase crônica quanto em placas, moderada a grave, oferecendo uma alternativa para pacientes que não obtiveram resposta ou apresentaram intolerância a outras terapias (Brasil, 2022). Ademais, estudos recentes exploram a inter-relação entre psoríase, inflamação e disbiose da microbiota intestinal, sugerindo que probióticos e prebióticos possam proporcionar melhorias na atividade da doença (Buhas et al, 2023). Paralelamente, investigações sobre o uso de inibidores da bomba de prótons (IBP), como o Esomeprazol, revelaram resultados promissores na redução da gravidade da psoríase (Bafutto et al, 2019). Contudo, esses medicamentos ainda possuem limitações como a diminuição da eficácia ao longo do tempo e potenciais efeitos adversos. Diante disso, a terapia com células-tronco vem emergindo como uma promissora alternativa, envolvendo o uso de células somáticas para combater a fonte da doença (Naik, 2022).
Diante desse contexto, o trabalho apresentado desempenha um papel crucial na conscientização e no combate eficaz da psoríase. Ao fornecer estudos epidemiológicos, com a incidência e prevalência na população, é possível orientar os esforços de rastreamento e prevenção. Ademais, ao abordar detalhes sobre o diagnóstico da doença, capacita-se os indivíduos a reconhecerem os sintomas precocemente, buscando o tratamento adequado. O trabalho também é relevante por incluir informações sobre novos estudos e estratégias terapêuticas, o que contribui para o avanço contínuo no tratamento da psoríase e suas complicações, podendo oferecer melhor qualidade de vida para os pacientes.
O tema foi escolhido por se tratar de uma doença de alta prevalência no mundo todo, mas principalmente na região sul e sudeste do Brasil. Identifica-se que a falta de conhecimento sobre a psoríase ainda leva a sub-diagnósticos e a tratamentos desatualizados que prejudicam a qualidade de vida para os pacientes. Por isso, com este trabalho busca-se disseminar conhecimento para a população em geral sobre as características da doença para que os indivíduos afetados procurem atendimento médico e, assim, recebam os cuidados adequados de acordo com a gravidade da afecção. Também poderá contribuir ampliar os conhecimentos para profissionais da saúde a fim de melhorar a qualidade de assistência a esses pacientes. Desta forma, a presente pesquisa teve como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre o impacto da psoríase na qualidade de vida dos pacientes.
2. METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão integrativa de literatura, através das bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde, PubMed (mantido pela National Library of Medicine) e na Scientific Eletronic Library Online (SciELO). A partir dos descritores em Ciência da Saúde selecionados (psoríase, dermatologia, qualidade de vida) foi realizada a busca e a filtragem dos artigos sobre psoríase e suas condições associadas. Para isso, foram levantados artigos em português, inglês e espanhol, publicados no período de 2020-2024. Foram utilizados critérios de inclusão e exclusão, a partir de leitura do título, discussão e, por fim, da leitura da íntegra desses artigos. Posteriormente, os artigos selecionados foram organizados em forma de tabela, contendo a fonte e os resultados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 mostra os principais trabalhos pesquisados sobre o impacto da psoríase na qualidade de vida dos pacientes.
Tabela 1. Principais trabalhos pesquisados sobre o impacto da psoríase na qualidade de vida dos pacientes.



Fonte: elaborado pelos autores (2025).
Após análise dos artigos, observa-se que o cerne da psoríase se encontra no estresse. Akamine et al. (2021) relata que um ambiente difícil é capaz de estimular um estado pró-inflamatório por aumentar a expressão de citocinas inflamatórias e dos receptores CRH, o que culmina em um queratinócito imunologicamente ativo. Para o autor, o sexo feminino está mais propenso a manifestar a doença por estar mais exposto a situações adversas. Ele cita separação parental, negligência emocional e violência doméstica como as experiências negativas mais associadas ao início da doença.
Da mesma forma, para Zhang et al. (2024) o estresse é responsável por aumentar a incidência de afecções dermatológicas, sendo um fator de risco não só para a psoríase, como também para alopecia areata e dermatite atópica. Trata-se de uma condição multifatorial, mas, basicamente, a experiência emocional negativa (isolamento, medo, perda familiar ou de amigo próximo, instabilidade financeira) associado a uma alteração no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e outros mecanismos como os neuroendócrinos que permitem o agravamento das doenças citadas.
Mediante a um estímulo, este eixo é ativado pelos hormônios libertadores de corticotropina no núcleo hipotalâmico paraventricular (HPV). Ao mesmo tempo, temos a interação do córtex cingulado anterior com o córtex pré frontal regulando as vias neuroendócrinas e, consequentemente, as respostas inflamatórias. Hipocampo, amígdala e a área tegmental ventral também regulam as respostas ao estresse. A sinalização continua através dos glicocorticoides, norepinefrina e neuropeptídeos de forma a regular a resposta.
O controle ocorre pela capacidade dos neurotransmissores de gerar ativação, diferenciação e apoptose das células imunes. Os receptores beta 2-adrenérgicos, por exemplo, tem uma função imunossupressora ao inibir células dendríticas, células T e linfócitos, incluindo a via do Fator Nuclear Kappa-Beta (N-F-Kappa-B, mas, ao mesmo tempo, promove a síntese de citocinas e o desenvolvimento de macrófagos. Em contrapartida, os receptores alfa 2-adrenérgicos estimulam a produção do fator de necrose tumoral (TNF) pelos macrófagos).
O estudo feito em ratos, mostrou que o estresse crônico é capaz de lesionar córtex cingulado anterior, hipocampo e amígdala, além de destruir astrócitos. O fracasso social também foi avaliado nos animais, trazendo como resultado disfunção intestinal e aumento de TNF principalmente. Em humanos, o estresse é capaz de desregular as regiões límbicas como a amígdala e o hipocampo. Ao mesmo tempo, ele desregular o córtex sensorial, amplificando a percepção de dor e diminui a relação de centros cognitivos superiores, como o córtex pré-frontal, com a substância cinzenta periaquedutal, reduzindo o limiar de ativação dos mastócitos, acentuando o prurido. Da mesma forma, a prolactina, a ocitocina e os opioides regulam a imunidade nas periferias.
Na psoríase, o estresse age aumentando os níveis de catecolaminas, glicocorticoides e opioides, desequilibrando as células T e as citocinas. Com a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, temos a liberação dos hormônios do estresse e de CRH, sendo que este último aumenta a expressão de VEGF, importante na patogênese da doença. Ele também se relaciona com a presença do 5-hidroxitriptamina (5-HT), um neurotransmissor envolvido com a cognição e as emoções, principalmente estresse e ansiedade.
Neste contexto, Zhang et al. (2024) também aborda sobre os estigmas que a psoríase é capaz de produzir, levando o paciente a ciclos viciosos de estresse psicológico, capaz de desestabilizar ainda mais o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal já citado. Complementando o autor, Kuryllo e Mojs (2024) descreve que este cenário abre caminho para questões como comportamento suicida e abuso de álcool nos adultos. Para ele, a ansiedade e a depressão também podem ser encontradas nos adultos, mas estão ainda mais evidentes nos adolescentes, representadas pelo aumento da incidência de fobia social e transtorno do pânico (BRANDI et al., 2024).
Ao mesmo tempo, um estudo realizado em 2022 buscou analisar a relação entre psoríase, sintomas depressivos e suicídio em pacientes adultos em um ambulatório da policlínica Sant’ Orsola-Malpighi localizada na Itália. Na pesquisa foram utilizadas diversas ferramentas como o questionário de saúde do paciente (PHQ-9) e escalas referentes ao Índice de Área e Gravidade da Psoríase (PASI), Área de Superfície Corporal (BSA) e Índice de Qualidade de Vida em Dermatologia (DLQI) que resultaram em uma prevalência de sintomas depressivos de 14,9% em paciente com psoríase e 6,3% de risco de suicídio. Sendo mais elevada nos casos moderados a graves e em mulheres, sem relação com a idade. Por outro lado, o risco de suicídio foi maior em pacientes mais jovens, sem apresentar relação com a gravidade do caso (BARDAZZI et al., 2022).
Somando a isso pacientes com psoríase tendem a apresentar inibição emocional, o que dificulta a expressão de sentimentos e contribui para a alta prevalência de alexitimia na condição, com índices entre 36,2% e 67,7%, superiores aos 10% observados na população em geral. A dificuldade em lidar com o estresse parece favorecer estratégias de enfrentamento focadas na evitação de conflitos, uma característica comum entre esses pacientes. Um estudo realizado em 2024 destaca que a estratégia de fuga e evitação é amplamente usada, sendo relacionada a altos níveis de ansiedade e a uma maior sensação de incapacidade. Além disso, muitos pacientes recorrem a outros mecanismos prejudiciais para lidar com o estresse, como o consumo excessivo de álcool, tabagismo e alimentação desregulada. Esses comportamentos refletem um enfrentamento destrutivo que pode impactar ainda mais a qualidade de vida e agravar os sintomas de psoríase e problemas emocionais (KRSTANOVIĆ et al., 2024).
Os distúrbios do sono representam uma preocupação significativa em grupos que convivem com doenças crônicas como a psoríase. Segundo Halioua et al., (2022) a investigação sobre os distúrbios é crucial, já que o sono tem um impacto direto na saúde física e mental, além de ser essencial para o desenvolvimento e cognição. Estudos indicam que a gravidade da psoríase é diretamente proporcional aos problemas de sono, devido a isso, profissionais de saúde devem realizar uma avaliação detalhada dos sintomas, investigando a duração e os impactos diários desses distúrbios e aplicando questionários específicos como o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI), onde se tem uma análise detalhada sobre o tempo para adormecer, duração e eficiência do sono, se há algum distúrbio frequente e uso de medicamentos para dormir (HALIOUA ET AL., 2022). A investigação e diagnóstico precoce de distúrbios relacionados ao sono serve como prevenção principalmente para quadros depressivos e ansiosos, em casos mais severos como suspeita de apneia do sono ou síndrome das pernas inquietas é fundamental o encaminhamento a um especialista (HALIOUA et al., 2022).
Blauvelt et al. (2024) estudou sobre o impacto dos diferentes imunobiológicos disponíveis para tratamento da psoríase em relação à saúde mental dos pacientes. Seu estudo mostra que Bimekizumab, biológico que bloqueia a função da interleucina 17, tem resposta duradoura, eficácia e segurança superior quando comparado ao Adalimumabe, Ustecinumabe e Secuquinumabe. Ao mesmo tempo, Secuquinumabe e Ixequizumabe, medicações que tem como alvo a interleucina 17A, também trazem resposta satisfatória das lesões sem aumentar o risco de suicídio acima do esperado. Enquanto isso, Brodalumabe, um antagonista biológico do receptor A anti interleucina 17, ainda não tem segurança comprovada pelos estudos. Além disso, segundo estudo realizado por Krstanović et al. (2024), tratamentos biológicos anti-TNF-alfa. que agem bloqueando o fator de necrose tumoral (TNF-alfa), podem ter um impacto positivo na estabilização de transtornos afetivos. Isso ocorre pois o TNF-alfa está associado a transtornos depressivos maiores e bipolares, e a sua inibição pode favorecer esses quadros.
De acordo com Yeroushalmi et al. (2022) a prática de atividades físicas também pode ser prejudicada, visto que a mesma causa desconforto nos indivíduos portadores de psoríase. Embora o exercício físico possa trazer benefícios significativos ao quadro, incluindo a redução da inflamação, pacientes com psoríase costumam praticar menos atividades físicas em comparação com pessoas sem a condição. A pesquisa demonstrou que mesmo o envolvimento da área de superfície corporal (ASC) não ter mostrado correlação direta com a prática de exercícios, a percepção dos próprios pacientes sobre a gravidade da psoríase mostrou-se determinante para a quantidade de atividade física moderada ou vigorosa que realizaram. No estudo de 104 pacientes com psoríase grave, 40% evitavam esportes devido à doença, ilustrando como a autopercepção e o desconforto em expor a pele podem impactar o comportamento de autocuidado.
Ademais, outro estudo transversal apontou que a qualidade de vida e os sintomas relacionados a psoríase como dor, prurido e limitações no uso de roupas, influenciaram negativamente os níveis de atividade física. Barreiras como sensibilidade da pele, desconforto durante o lazer e aumento de prurido ao se exercitar contribuíram para essa inatividade, que impactaram diretamente no bem estar físico e social desses indivíduos (YEROUSHALMI et al., 2022).
Mediante ao exposto, pacientes com psoríase, principalmente os que apresentam casos moderados a graves de acometimento ou prejuízo na qualidade de vida devem ser submetidos a avaliação de saúde mental, a fim de realizar um diagnóstico mais precoce e direcionar intervenções adequadas para promover a redução dos sintomas (BARDAZZI et al., 2022). Kurillo e Mojs (2024) também abordam sobre a importância de olhar para a qualidade de vida desses pacientes. Em seu estudo foi observado uma relação da psoríase com declínio cognitivo, marcado, principalmente, pela redução da memória e dificuldade de concentração, sendo que a longo prazo, aumenta o risco de doença demencial.
Outro ponto abordado por Read et al. (2020) é que a saúde mental dos pacientes também está diretamente relacionada com a satisfação dos mesmos com o atendimento médico recebido. Observou-se que aqueles que apresentam sofrimento psicológico, como a ansiedade e a depressão, tendem a sentir-se menos satisfeitos com seus médicos, comparados a pacientes sem essas comorbidades. Esse dado sugere que fatores emocionais podem influenciar diretamente a percepção do paciente sobre o cuidado médico, influenciando na adesão ou abandono do tratamento. Por este motivo, é essencial que os profissionais de saúde assumam uma postura acolhedora e compreensiva durante o atendimento, já que terão como objetivo melhorar a experiência do paciente e sua adesão ao tratamento.
Vieira et al. (2023), também considera o atendimento médico acolhedor importante no processo saúde-doença. Em seu estudo, os participantes destacaram a relevância de uma postura acolhedora por parte dos profissionais no processo de aceitação de todas as mudanças que a psoríase traz para o cotidiano do indivíduo afetado, ressignificando a forma como ele vê a doença em sua pele. Eles também foram encorajados a desenvolver consciência de si e a identificar quando não estivessem bem por algo físico ou psíquico, o que reforça a importância da saúde mental no contexto das doenças de pele.
A alimentação balanceada também colabora para a melhora na qualidade de vida dos pacientes, já que existe uma relação entre psoríase e obesidade. Garbicz et al., (2021) ressalta que o excesso de peso aumenta a inflamação no organismo, intensificando os sintomas da doença. Em sua pesquisa indica que dietas de baixa caloria, com ingestão controlada entre 800 e 1000 kcal diárias não apenas auxiliam na perda de peso, como também reduzem significativamente as lesões cutâneas, apontando a dieta como um recurso terapêutico importante no controle da doença.
Além disso, a escolha dos tipos de gordura na dieta tem também impacto no quadro. Gorduras saturadas, encontradas em produtos de origem animal, tendem a elevar o risco de doenças cardiovasculares, enquanto ácidos graxos insaturados como ômega-3 atuam contra a inflamação. Dessa forma, antioxidantes, como vitaminas A, C e E e betacaroteno, presentes em frutas e vegetais , protegem a pele dos danos causados pelos radicais livres e podem acelerar a cicatrização das lesões. Outro ponto relevante é a maior incidência de doença celíaca em pessoas com psoríase, o que torna dietas sem glúten uma opção viável para a melhora dos sintomas dermatológicos. Com isso, uma abordagem alimentar personalizada, ajustada às necessidades do paciente, mostra-se fundamental para aliviar os sintomas da doença e melhorar a qualidade de vida dos afetados (GARBICZ et al., 2021).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste da presente pesquisa, foi possível identificar vários fatores que levam a uma baixa qualidade de vida nos pacientes com psoríase, sendo principalmente doenças que afetam a saúde mental dos pacientes. Tem-se uma elevada incidência em pacientes com psoríase de transtornos mentais como ansiedade e, sobretudo, depressão. Além disso, tais pacientes também podem apresentar perda de memória e dificuldade de concentração, afetando sua qualidade de vida. Assim, profissionais de saúde ao tratarem pacientes com psoríase devem não apenas tratar os sintomas diretos da doença, mas também utilizar recursos terapêuticos para melhorar a saúde mental, e consequentemente, a qualidade de vida de tais pacientes.
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1Acadêmica do Curso de Medicina, Campus Maringá-PR, Universidade Cesumar – UniCesumar, E-mail: sofiacarraromathias@gmail.com
2Acadêmica do Curso de Medicina, Campus Maringá-PR, Universidade Cesumar – UniCesumar. E-mail: gabriellydenobi@gmail.com.
3Orientadora, Docente do Programa de Pós-graduação em Promoção da Saúde, UniCesumar. E-mail: daniele.felipe@unicesumar.edu.br