IMPACTO DA PNEUMONIA NA MORTALIDADE INFANTIL: ANÁLISE HOSPITALAR NO ESTADO DA BAHIA

IMPACT OF PNEUMONIA ON INFANT MORTALITY: HOSPITAL ANALYSIS IN THE STATE OF BAHIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411172040


Gabriela Rocha Souto Silva1,
Lorena Rita Nunes Silva1,
Orientador: Professora Katiane De Cássia Trés2


RESUMO

Introdução: A pneumonia é uma infecção respiratória grave, frequentemente causada por bactérias, vírus ou fungos, que afeta principalmente os pulmões e pode comprometer a troca gasosa, gerando dificuldades respiratórias. No Brasil, a pneumonia representa um desafio significativo para a saúde pública, com um impacto particular em crianças menores de cinco anos. Esse problema é ainda mais evidente no estado da Bahia, onde a taxa de mortalidade infantil por pneumonia é uma das mais altas do país. As causas dessa alta mortalidade estão ligadas a uma combinação de fatores como a falta de acesso a cuidados médicos adequados, baixa cobertura vacinal, condições de vida precárias, superlotação das residências e a qualidade do ar insuficiente. Objetivos: O presente estudo tem como objetivo principal analisar o impacto da pneumonia na mortalidade infantil no estado da Bahia, com foco na análise hospitalar de dados entre 2020 e 2024. A pesquisa busca identificar as tendências epidemiológicas da doença, compreender os fatores de risco associados e incentivar a implementação de políticas públicas que possam reduzir a mortalidade infantil causada pela pneumonia. Justificativa. A pesquisa é relevante para a saúde pública, pois destaca a persistente alta mortalidade infantil por pneumonia, um problema crítico em áreas de vulnerabilidade social. O estudo contribui para a compreensão dos fatores sociais, econômicos e de acesso à saúde que afetam a população infantil na Bahia, fornecendo dados essenciais para políticas de saúde pública mais eficazes. Metodologia: O estudo é de caráter epidemiológico, com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados a partir dos registros de casos de pneumonia infantil fornecidos pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) e pelo DATASUS, abrangendo o período de 2020 a 2024. Foram analisados dados sobre incidência, mortalidade, características demográficas idade, sexo, cor/raça, e condições regionais. A análise foi realizada por meio de estatísticas descritivas e técnicas como o cálculo de taxas de mortalidade e identificação de fatores de risco. Resultados e discussão: Os dados revelaram que, entre janeiro de 2020 e setembro de 2024, ocorreram 295 óbitos por pneumonia em crianças na Bahia. A maior mortalidade foi observada nas faixas etárias menores de 1 ano (33,6%) e de 1 a 4 anos (37,3%), indicando uma vulnerabilidade extrema dessas faixas etárias à doença. Além disso, a mortalidade por pneumonia foi mais alta em crianças de cor/raça parda (76,3%), refletindo desigualdades socioeconômicas e de acesso à saúde, principalmente em áreas periféricas e rurais. Também foi observada uma ligeira predominância de óbitos entre meninas, mas a diferença entre os sexos foi pequena (2,37%). Conclusão: Este estudo evidencia as desigualdades sociais e regionais que contribuem para a alta mortalidade infantil por pneumonia na Bahia, com destaque para as dificuldades de acesso a serviços de saúde em áreas mais vulneráveis. A análise revelou que as crianças menores de 5 anos, especialmente as menores de 1 ano, são as mais afetadas. Para reduzir esses índices, é urgente implementar políticas públicas focadas na melhoria do acesso à saúde, ampliação da cobertura vacinal e fortalecimento das condições de vida nas áreas mais carentes da Bahia.

Palavras-chave: Infantil. Mortalidade. Pneumonia.

ABSTRACT

Introduction: Pneumonia is a severe respiratory infection, often caused by bacteria, viruses, or fungi, that primarily affects the lungs and can impair gas exchange, leading to respiratory difficulties. In Brazil, pneumonia presents a significant public health challenge, with a particular impact on children under five years of age. This issue is especially evident in the state of Bahia, where the infant mortality rate due to pneumonia is one of the highest in the country. The causes of this high mortality are linked to a combination of factors such as lack of access to adequate medical care, low vaccination coverage, poor living conditions, overcrowded homes, and insufficient air quality. Objectives: The main objective of this study is to analyze the impact of pneumonia on infant mortality in the state of Bahia, focusing on hospital data analysis between 2020 and 2024. The research aims to identify the epidemiological trends of the disease, understand the associated risk factors, and encourage the implementation of public policies to reduce infant mortality caused by pneumonia. Justification: This research is relevant to public health because it highlights the persistent high rates of infant mortality due to pneumonia, a critical issue in socially vulnerable areas. The study contributes to understanding the social, economic, and healthcare access factors affecting the child population in Bahia, providing essential data for more effective public health policies. Methodology: The study is of an epidemiological nature, using a quantitative approach. Data were collected from records of pediatric pneumonia cases provided by the Health Department of the State of Bahia (SESAB) and DATASUS, covering the period from 2020 to 2024. Data on incidence, mortality, demographic characteristics (age, sex, race/ethnicity), and regional conditions were analyzed. The analysis was performed using descriptive statistics and techniques such as calculating mortality rates and identifying risk factors. Results and Discussion: The data revealed that between January 2020 and September 2024, there were 295 deaths due to pneumonia in children in Bahia. The highest mortality was observed in the age groups under 1 year (33.6%) and 1 to 4 years (37.3%), indicating extreme vulnerability of these age groups to the disease. Additionally, pneumonia mortality was higher among children of mixed-race (parda) background (76.3%), reflecting socioeconomic and healthcare access inequalities, particularly in peripheral and rural areas. A slight predominance of deaths among girls was also observed, though the gender difference was small (2.37%). Conclusion: This study highlights the social and regional inequalities contributing to high infant mortality from pneumonia in Bahia, emphasizing the difficulties in accessing healthcare services in more vulnerable areas. The analysis revealed that children under 5 years of age, especially those under 1 year old, are the most affected. To reduce these rates, it is urgent to implement public policies focused on improving healthcare access, expanding vaccination coverage, and strengthening living conditions in the most underserved areas of Bahia.

Keywords: Infant. Mortality. Pneumonia.

1 INTRODUÇÃO

A pneumonia é uma infecção respiratória aguda, geralmente causada por bactérias, vírus ou fungos, que afeta principalmente os pulmões, comprometendo a troca gasosa e causando dificuldades respiratórias (Pereira et al., 2023). Nesse âmbito, é uma das principais causas de morbidade e mortalidade infantil no mundo, especialmente em países em desenvolvimento (Megiani et al., 2024).

Apesar dos avanços no tratamento e na prevenção, a pneumonia continua a ser um desafio significativo para a saúde pública, com um impacto particular em crianças menores de cinco anos (Souza et al., 2024).

No Brasil, a pneumonia é responsável por uma alta taxa de internações e óbitos, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde as condições socioeconômicas e o acesso a serviços de saúde ainda são precários (Fernandes et al., 2023). No estado da Bahia, por exemplo, a taxa de mortalidade infantil por pneumonia é uma das mais altas do país, com destaque para municípios do interior (Pereira et al., 2023). Isso pode ser atribuído a fatores como a falta de acesso a cuidados médicos adequados, a baixa cobertura vacinal, e a persistência de condições ambientais inadequadas, como a má qualidade do ar e a superlotação de residências.

A pneumonia se transmite principalmente por gotículas respiratórias expelidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala, representando um risco significativo para as crianças, que possuem o sistema imunológico mais vulnerável (Souza et al., 2024).

Os desafios no combate à pneumonia infantil incluem a dificuldade no diagnóstico precoce, especialmente em áreas mais carentes e a falta de equipamentos adequados para o tratamento em hospitais regionais. Além disso, a desnutrição e a falta de imunização são fatores que contribuem para o agravamento da doença e para as altas taxas de mortalidade infantil (Oliveira et al., 2022).

Contudo, a situação pode ser mitigada com políticas públicas focadas na melhoria da infraestrutura de saúde, na ampliação da cobertura vacinal e na conscientização sobre as medidas de prevenção (Vieira et al., 2022).

A implementação de estratégias eficazes de monitoramento e diagnóstico precoce, bem como a melhoria do atendimento hospitalar, são fundamentais para reduzir os índices de mortalidade infantil por pneumonia. O uso de antibióticos adequados e a ventilação assistida, quando necessário, são essenciais no tratamento da pneumonia grave (Quirino et al., 2024).

Neste contexto, o presente estudo busca analisar o impacto da pneumonia na mortalidade infantil no estado da Bahia, com foco na análise hospitalar de dados nos últimos anos. O objetivo é identificar as tendências epidemiológicas da doença, compreender os fatores de risco associados e propor o incentivo para a implementação de políticas públicas e estratégias de saúde voltadas à redução da mortalidade infantil causada por pneumonia.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo epidemiológico sobre o impacto da pneumonia na mortalidade infantil no estado da Bahia, no período de 2020 a 2024, com uma abordagem quantitativa e epidemiológica.

A coleta de dados foi realizada a partir de registros de casos de pneumonia infantil disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), bem como por meio de informações obtidas do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram analisados dados sobre a incidência da doença, os índices de mortalidade e as características demográficas das crianças afetadas, incluindo dados como faixa etária e sexo, em diferentes regiões do estado.

As variáveis coletadas foram organizadas em planilhas no Microsoft Excel 2013, um software amplamente utilizado para processamento e análise de dados, permitindo uma gestão eficaz das informações. Com isso, os dados foram tabulados e analisados utilizando técnicas estatísticas, como o cálculo das taxas de incidência e mortalidade, identificação de fatores de risco e análise de tendências temporais.

A análise descritiva foi aplicada para ilustrar as características da população afetada pela pneumonia no estado da Bahia, destacando a distribuição dos casos conforme as variáveis investigadas, e sublinhando a urgência de implementar estratégias de prevenção e intervenção. A investigação também permitiu identificar os grupos mais vulneráveis, fornecendo dados fundamentais para embasar o desenvolvimento de políticas públicas de saúde focadas na redução da mortalidade infantil associada à pneumonia.

Importante ressaltar que o estudo não necessitou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que os dados utilizados são secundários, de acesso público, e não identificam individualmente os pacientes, conforme os parâmetros estabelecidos pelo DATASUS.

3  RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Bahia é um dos estados mais populosos do Brasil, com uma grande diversidade social, econômica e geográfica (Costa et al., 2022). Segundo Epitácio et al., (2024) mortalidade por pneumonia na infância pode refletir tanto as características do sistema de saúde local quanto fatores socioeconômicos e ambientais que afetam a população em geral, o que fica evidente na quantidade de óbitos no período analisado pela tabela 1.

Tabela 1 – Óbitos por Pneumonia na faixa etária menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 9 anos e 10 a 12 anos (Jan/2020 – Set/2024)

Fonte: SESAB (2024) e DATASUS (2024).

Os dados mostram que ocorreram 295 óbitos por pneumonia na faixa etária infantil entre janeiro de 2020 e setembro de 2024 na Bahia. A população vulnerável no estado da Bahia, como crianças é particularmente afetada pela falta de acesso a cuidados adequados de saúde, especialmente nas zonas rurais ou em áreas periféricas de grandes cidades (Luquetti et al., 2024).

Embora a Bahia tenha avançado em diversas áreas da saúde pública, ainda existem desafios significativos, como a disparidade no acesso aos serviços médicos em diferentes regiões do estado (Lins et al., 2022).

As áreas mais periféricas ou rurais possuem menor cobertura de serviços de saúde e menor acesso a unidades de tratamento intensivo (UTI) e hospitais com capacidade para tratar pneumonia grave. Além disso, a falta de cobertura vacinal e as condições de vida precárias em algumas regiões também são fatores que contribuem para a alta taxa de mortalidade (Nunes et al., 2024).

A pobreza e as condições de vida precárias em muitas partes da Bahia também são fatores que influenciam diretamente a mortalidade por doenças como pneumonia (Freitas et al., 2022). Os fatores socioeconômicos como falta de saneamento básico, superlotação em moradias, e dificuldade no acesso à alimentação adequada e a serviços de saúde criam um ambiente propenso ao agravamento de doenças respiratórias, especialmente entre crianças e idosos (Paiva et al., 2022).

A análise estatística desses dados alerta para uma possível necessidade de políticas públicas focadas em melhorar a qualidade de vida e o acesso à saúde nessas áreas vulneráveis, principalmente nas faixas etárias mais acometidas como visível na tabela 2.

Tabela 2- Óbitos por pneumonia distribuídos pelas faixas etárias. (Jan/2020 – Set/2024)

Fonte: SESAB (2024) e DATASUS (2024)

A tabela 3 revela uma clara distribuição desigual entre as diferentes faixas etárias. A maior parte dos óbitos ocorre nas faixas etárias menores de 1 ano e de 1 a 4 anos, com 99 óbitos (33,6%) e 110 óbitos (37,3%), respectivamente. Essas duas faixas etárias juntas representam 70,9% do total de óbitos por pneumonia na Bahia, o que indica uma vulnerabilidade extrema de crianças muito novas a essa condição. Por outro lado, as faixas etárias mais velhas, como 5 a 9 anos (15,6%) e 10 a 14 anos (13,6%), apresentam um número consideravelmente menor de óbitos.

Crianças pequenas, especialmente menores de 1 ano, têm o sistema imunológico em desenvolvimento, o que as torna mais suscetíveis a infecções respiratórias. A pneumonia, sendo uma infecção pulmonar, pode rapidamente se tornar grave, levando à morte, especialmente em casos onde não há diagnóstico rápido ou tratamento adequado.

O fato de que cerca de 70% dos óbitos ocorrem em crianças menores de 4 anos pode estar relacionado à dificuldade de acesso a cuidados médicos adequados e a deficiências nos cuidados de saúde primária, especialmente em áreas rurais e periféricas da Bahia.

A falta de prevenção através de vacinas e tratamentos adequados nas primeiras semanas de vida também é um fator crítico. Em muitas áreas, faltam orientações em saúde, como a importância da amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida, o que poderia reduzir as infecções respiratórias.

As taxas de vacinação, especialmente contra doenças como a pneumonia pneumocócica, ainda são insuficientes em algumas regiões da Bahia, o que contribui para o número elevado de óbitos entre as crianças mais novas. Assim, a educação em saúde e campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação devem ser ampliadas para alcançar essas áreas mais remotas e a distribuição por sexo mais acometida pela doença como observado na tabela 3.

Tabela 3- Óbitos por pneumonia por sexo com base na faixa etária menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 9 anos e 10 a 12 anos na Bahia. (Jan/2020 – Set/2024)

Fonte: SESAB (2024) e DATASUS (2024)

No total, ocorreram 295 óbitos, sendo 144 (48,81%) no sexo masculino e 151 (51,18%) no sexo feminino, o que indica uma diferença percentual de apenas 2,37%, com um leve predomínio de óbitos entre as meninas. Essa distribuição sugere que, nesse caso específico, a mortalidade por pneumonia não apresenta grandes disparidades de gênero, o que pode indicar que ambos os sexos estão igualmente expostos aos fatores de risco para essa doença.

Além disso, a ligeira predominância de óbitos entre as meninas é um ponto a ser investigado mais a fundo. Os fatores biológicos, sociais e mesmo diferenças no acesso ao cuidado médico podem contribuir para essa disparidade (Farias et al., 2024). No entanto, a diferença é pequena e não é suficiente para gerar uma conclusão definitiva.

Em relação à mortalidade infantil por pneumonia, é fundamental que se reforce a importância das estratégias de prevenção, como a vacinação infantil, o fortalecimento da atenção básica à saúde e melhorias nas condições de higiene e saneamento (Prestes et al., 2023). O acompanhamento adequado das crianças, especialmente na faixa etária de menor de 1 ano, deve ser uma prioridade, visto que esta é a faixa etária mais suscetível a complicações fatais causadas por doenças respiratórias (Oliveira et al., 2022).

Esses dados refletem a carga da pneumonia sobre a saúde infantil na Bahia, como também ressaltam a necessidade de políticas públicas mais eficazes na prevenção e no tratamento das doenças respiratórias. Sendo assim, melhorar o acesso a serviços de saúde, garantir que todas as crianças tenham acesso à vacinação e promover ações educativas sobre cuidados básicos de saúde são medidas essenciais para reduzir os óbitos evitáveis e melhorar a qualidade de vida das crianças baianas (Dorigatti et al., 2024).

A tabela 4 revela mais dados que ressaltam a necessidade de uma melhor avaliação das características epidemiológicas da população acometida.

Tabela 4- Óbitos por pneumonia por cor/raça com base na faixa etária menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 9 anos e 10 a 12 anos na Bahia. (Jan/2020 – Set/2024)

Fonte: SESAB (2024) e DATASUS (2024)

Dos 295 óbitos registrados, 225 (76,3%) ocorreram entre crianças identificadas como pardas, o que representa uma grande proporção em relação às outras categorias de cor/raça. Esse dado é um reflexo das desigualdades sociais e estruturais que marcam a realidade da população parda no Brasil, especialmente nas regiões mais vulneráveis, como a Bahia (Braga et al., 2020).

A presença significativa de óbitos entre crianças de cor parda aponta para uma possível correlação entre fatores socioeconômicos, acesso a cuidados de saúde e as condições de vida dessa população. As crianças pardas, muitas vezes, enfrentam dificuldades em termos de acesso a serviços de saúde adequados, condições de moradia e alimentação (Richter et al., 2023).

A pobreza e a falta de infraestrutura básica, como saneamento e acesso a hospitais, agravam a vulnerabilidade dessas crianças e fatores como a desnutrição e a maior exposição a ambientes insalubres também contribuem para uma maior incidência de óbitos por pneumonia (Guimarães et al., 2023).

Outro dado relevante é a quantidade de óbitos sem informação sobre a cor/raça, que soma 45 casos (15,3%). A falta dessa informação dificulta a análise mais detalhada das desigualdades raciais no contexto da mortalidade por pneumonia (Cunha et al., 2024). Isso pode indicar falhas no sistema de coleta de dados ou em alguns casos, a resistência de pais ou responsáveis em declarar a cor/raça de suas crianças, o que prejudica a análise mais aprofundada das desigualdades raciais e sociais na saúde infantil (Machado et al., 2020).

As crianças de cor/raça branca (11 óbitos, ou 3,7%) apresentam números bem menores em comparação com as crianças pardas, o que reforça a ideia de que as desigualdades raciais têm um impacto direto na mortalidade infantil. No Brasil, a população negra e parda, historicamente marginalizada, enfrenta uma realidade de desigualdade em diversos aspectos, incluindo acesso à saúde de qualidade que é um fator determinante para as disparidades observadas (Queiroz et al., 2022).

Em síntese, a mortalidade infantil por pneumonia na Bahia é fortemente influenciada pela cor/raça, com uma concentração alarmante de óbitos entre crianças pardas. Esse dado reflete a desigualdade social e racial presente no estado, onde fatores como a pobreza, o acesso desigual à saúde e as condições de vida precárias aumentam a vulnerabilidade de uma parcela significativa da população infantil.

4 CONCLUSÃO

Este estudo evidencia o impacto significativo da pneumonia na mortalidade infantil na Bahia, destacando as desigualdades sociais e regionais que afetam as crianças, principalmente nas faixas etárias mais vulneráveis. Os dados analisados apontam que, embora a pneumonia seja uma doença tratável, ela continua a ser uma das principais causas de óbitos infantis no estado, refletindo as dificuldades estruturais e socioeconômicas da região.

A análise dos óbitos por faixa etária revelou que as crianças menores de 1 ano e de 1 a 4 anos são as mais afetadas, somando juntas 70,9% do total de mortes, o que confirma a alta vulnerabilidade dessas faixas etárias. Isso está intimamente relacionado à imaturidade do sistema imunológico dessas crianças, ao difícil acesso a cuidados médicos adequados em regiões periféricas e à escassez de infraestrutura de saúde em áreas periféricas e rurais da Bahia.

A grande maioria dos óbitos ocorreu entre crianças identificadas como pardas, o que reforça a ideia de que fatores socioeconômicos e raciais estão diretamente ligados à mortalidade infantil por pneumonia. A pobreza, a falta de acesso a serviços de saúde de qualidade, a desnutrição e as condições de vida precárias são fatores que agravam a situação de vulnerabilidade das crianças pardas, uma população historicamente marginalizada.

A falta de informações sobre a cor/raça em uma parte significativa dos óbitos também foi um ponto importante, pois isso dificulta uma análise mais detalhada das desigualdades raciais e sociais na saúde infantil, prejudicando a implementação de políticas públicas mais eficazes.

Portanto, os resultados deste estudo reforçam a necessidade urgente de políticas públicas focadas na melhoria do acesso à saúde, na ampliação da cobertura vacinal, no fortalecimento da atenção básica à saúde e na redução das desigualdades socioeconômicas e raciais. Logo, a melhoria das condições de vida, o acesso a cuidados médicos de qualidade, especialmente nas regiões mais vulneráveis da Bahia, a promoção de ações de prevenção, como campanhas de vacinação e a orientação sobre práticas de cuidado infantil são essenciais para reduzir a mortalidade infantil por pneumonia e melhorar a qualidade de vida das crianças no estado.

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1Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.

2Médica, Pediatra. Professor orientador. Docente do Curso de Medicina
da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.