REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411132208
Emanuelly Clara Ambrósio de Lucena1
Mayra Emanuelly Silva Balbino1
Victória Júlya Alves de Albuquerque1
Antônio Gustavo Sobral Lima1
Eduardo Nunes de Lima Cavalete1
Heraldo Cordeiro Barros Sobrinho2
Resumo
O presente artigo busca analisar as consequências da gravidez precoce, que é um problema significativo de saúde pública. Ele foca nas repercussões socioeconômicas, culturais e educacionais desse fenômeno e nas questões associadas, como prematuridade, baixo peso ao nascer e mortalidade infantil. O estudo conclui que a gravidez na adolescência é amplamente influenciada por condições sociais desfavoráveis e pela falta de educação sexual acessível e abrangente. Além disso, relata a necessidade de políticas públicas voltadas para a educação sexual e campanhas preventivas, especialmente para adolescentes em situação de vulnerabilidade, a fim de reduzir as taxas de gravidez precoce e seus impactos na saúde e na vida dessas jovens.
Palavras-chave: Gravidez. Adolescente. Impactos. Covid-19.
1. INTRODUÇÃO
O termo “adolescência” provém da palavra adolescente, que tem origem latina e define-se como “crescimento” ou “processo de crescimento até a maturidade” (Grossklans, 2019). É um período de crescimento e transformações, que se caracteriza quanto por maturação biológicas, sociais e psíquicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde define que adolescência é a fase da vida que decorre entre os 10 e os 19 anos de idade (Brasil, 2018).
Nascimento et al (2014) afirmam que o exercício da sexualidade está iniciando cada vez mais cedo, que pode gerar grandes consequências dentre elas a gravidez indesejada que leva as adolescentes a ingressarem na vida adulta rapidamente mesmo não estando preparadas psicologicamente. Conforme os números apontam, a gestação precoce é uma realidade relevante na sociedade brasileira, uma vez que a juventude tem sido precoce em apresentar comportamentos inerentes à vida adulta, com destaque aos sexuais (Borovac et al., 2019).
Para Ribeiro et al (2016) a gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde pública que leva a grandes problemas econômicos, gastos com saúde, interrupções dos estudos, além de ser um período delicado para o binômio (mãe e bebê). A gestação nesta faixa etária encontra-se associadas às situações de prematuridade, baixo peso ao nascer, morte perinatal, eclampsia, aborto espontâneo, além de mortes na primeira infância (Queiroz et al, 2014). Ressaltando que os riscos da gestação na adolescência também estão relacionados à baixa frequência às consultas de pré-natal e comprometimento em seguir as orientações dos profissionais de saúde (Queiroz et al, 2014). Algumas literaturas relatam que as adolescentes grávidas são mais pobres, de baixa escolaridade, alto índice de evasão escolar, dão pouca importância à assistência às consultas de pré-natal, filhos com maiores taxas de baixo peso ao nascer e de mortalidade neonatal e infantil.
Com este cenário tem motivado vários estudos à procura de respostas que esclareçam a que se deve a maior causa e consequências de gravidez na adolescência. Espera-se com esta pesquisa contribuir para ampliar o conhecimento acerca da temática gravidez na adolescência.
2. METODOLOGIA
De acordo com Lakatos e Marconi (2021, p. 44) pesquisa é uma prática realizada para a verificação de problemas teóricos ou práticos, empregando métodos científicos, e que se justifica pela busca de respostas, utilizando procedimentos científicos já conhecidos e consagrados pela comunidade acadêmica e científica.
O estudo em questão tem uma abordagem exploratória, utilizando uma metodologia de revisão integrativa. Foram utilizados os seguintes critérios de elegibilidade: estudos sobre o impacto e os fatores de risco da gravidez na adolescência na faixa etária entre 10 e 19 anos, artigos disponíveis na íntegra e publicados no período de 2005 a 2024 nos idiomas inglês (EUA) e português (Brasil). Os critérios de exclusão foram artigos que não fazem correlação direta sobre o tema proposto, artigos parcialmente disponibilizados e revistas não científicas.
Para a localização dos artigos, foram utilizados os seguintes descritores da base de dados: LILACS, PubMed, SciELO, DATASUS Tabnet e Google Acadêmico; que foram selecionadas devido a sua abrangência e relevância na área da saúde. As palavras chave utilizadas na busca foram “gravidez na adolescência”, “fatores de risco”.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Fatores biológicos, demográficos e sociais, são um dos fatores que possui grande influência na gravidez na adolescência, a qual é vista como um grave problema de saúde pública. De acordo com Santo, Maraschin e Caldeira (2007), a gravidez na adolescência além de ser um problema de saúde pública, necessita de uma discussão entre os profissionais de saúde e pela sociedade, tendo em vista a compreensão da vivência dos adolescentes e dos cuidados humanizados que lhe deverão ser prestados. A seguir, será pontuado sobre os principais impactos que afetam as mães adolescentes, e o que as fazem se tornarem mães jovens.
3.1 Perfil socioeconômico
O perfil socioeconômico impacta significativamente a gravidez na adolescência através de diversos fatores inter-relacionados, sendo aquelas populações mais vulneráveis as mais afetadas. Segundo Martinez et al (2011), em experiências clínicas, algumas adolescentes relatam que escolheram a gravidez precoce para abandonar os pais e procurar melhores condições de vida, devido às condições precárias a que estavam submetidas, portanto acabam ampliando ainda mais essa dificuldade de sobrevivência vivida.
Os adolescentes que vivem a vida sexual não autorizada, aumenta cada vez mais a dificuldade para obter informação, dificuldades essas que vão desde quais seriam os meios para evitar a gravidez até como conseguir acesso a eles (Oliveira, 1998).
Ademais, a desinformação sobre educação sexual reforça ainda mais as normas sociais e culturais, visto que tabus e estigmas permanecem inseridos nesse assunto, dificultando assim a busca por informações e apoios corretos. Segundo Bezerra e Matos (2022), esses adolescentes não possuem diálogo aberto com sua família e também não são ensinados sobre o assunto, deixando-os expostos às informações repassadas por qualquer pessoa do seu convívio social, principalmente os colegas, que muitas vezes estão desinformados quanto a eles.
3.2 Prematuridade e baixo peso ao nascer
Devido as adolescentes ainda estarem em processo de desenvolvimento, o aparecimento de uma gestação é algo preocupante, visto que provoca vários desafios, principalmente no que concerne ao momento do nascimento, de modo que pode ocorrer o parto prematuro em decorrência do corpo da pubescente ainda não estar completamente formado, ocasionando um recém-nascido com baixo peso, além de crianças com atraso no crescimento (Organização Mundial da Saúde, 2020).
De acordo com Oliveira e Gonçalves (2016) a idade materna é um fator significativo na ocorrência de partos prematuros e baixo peso ao nascer (BPN), especialmente entre adolescentes (menores de 20 anos). Mulheres jovens têm um risco substancialmente maior de partos prematuros, como evidenciado por um estudo em Feira de Santana-BA, onde o risco aumentou até 10 vezes para mães com até 16 anos. Esse grupo também é mais propenso a ter bebês com BPN, pois a prematuridade está fortemente ligada ao baixo peso ao nascer.
3.3 Mortalidade infantil e perinatal
O acompanhamento pré-natal é de extrema importância para haver o monitoramento e identificação da saúde da mãe e do bebê durante a gestação, facilitando assim o acompanhamento precoce de qualquer complicação que venha a surgir. Desse modo, o acompanhamento pré-natal se constitui em um conjunto de procedimentos educativos e clínicos, que visam vigiar a evolução de uma gestação, parto e cuidado com o recém-nascido, além de oferecer esclarecimentos sobre esses pontos (Bezerra, Matos; 2022).
Segundo Fonseca et al (2004). nos países em desenvolvimento, a mortalidade perinatal é alta, sendo a mortalidade perinatal e neonatal grande parte desse número, sendo as principais causas a prematuridade, asfixia, infecções intrauterinas, toxemia gravídica e malformações.
Além disso, ainda segundo Fonseca et al (2004), em regiões menos favorecidas, berçários enfrentam limitações como falta de equipamentos, espaço restrito e escassez de pessoas capacitadas, o que aumenta o risco de infecções neonatais e, consequentemente, a mortalidade. Essas infecções, junto com a prematuridade, afetam a qualidade de vida dos sobreviventes e geram um peso social considerável.
3.4. Gravidez na Adolescência e Pandemia Covid-19:
Com o início da Pandemia da Covid-19 em 2020 no Brasil, período de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). Houve mudanças nas estratégias de saúde pública e educação. Muitos serviços de saúde e escolas ficaram temporariamente fechados ou semiabertos.
Segundo Cupertino (2022) a população foi impulsionada a permanecer em isolamento social em suas casas e procurar a assistência nos casos de emergência, como medida para evitar a contaminação. Este fato atípico pode justificar o discreto aumento dos números de nascidos vivos na adolescência naquele ano, pois que há uma relação com a violência sexual, geralmente ocorrida no âmbito doméstico.
Através dos dados disponíveis no Sistema Nacional de Nascidos Vivos – SINASC/TABNET/PE, percebemos uma discreta curva de crescimento de nascidos vivos (NV) de mães adolescentes entre 10 e 19 anos, residentes em Garanhuns PE, entre 2019 e 2023.
Tabela 1 – Número de nascidos vivos em mães adolescentes entre 10 e 19 anos nos anos de 2019 a 2023.
Ano | Total de Nascidos Vivos |
2019 | 310 |
2020 | 327 |
2021 | 301 |
2022 | 253 |
2023 | 234 |
Fonte: Adaptado de SINASC/TABNET/PE
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gravidez na adolescência constitui um relevante problema de saúde pública, amplamente associado a fatores socioeconômicos, culturais e educacionais. O perfil socioeconômico desfavorável, somado à carência de programas de educação sexual abrangente, expõe as adolescentes a maiores riscos de gravidez precoce. Em muitos contextos, a sexualidade ainda é tratada como um tabu, o que dificulta o acesso a informações adequadas e o estabelecimento de diálogos abertos sobre prevenção. A falta de conhecimento sobre métodos contraceptivos e a inexistência de orientação apropriada aumentam a probabilidade de gestações indesejadas. Diante desta peculiaridade da gravidez na adolescência, deve ser levado em consideração como um aspecto importante pelos profissionais de saúde e durante a assistência ao pré-natal, parto e puerpério, personalizando o seu atendimento de acordo com as características de cada gestante.
Diante desse cenário, conclui-se que as evidências científicas são de suma importância, uma vez que devem servir de embasamento para a criação e/ou fortalecimento de políticas públicas focadas na prevenção, com ênfase em educação sexual formal e em programas de apoio à saúde. Sendo assim, é imprescindível realizar campanhas com o objetivo de disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência principalmente para o grupo de maiores vulnerabilidades.
REFERÊNCIAS
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1Discente do curso de Medicina da Autarquia do Ensino Superior de Garanhuns-AESGA, e-mail:emanuelly.24110173@aesga.edu.br
2Docente do curso de Medicina da Autarquia do Ensino Superior de Garanhuns-AESGA, heraldocordeiro@aesga.edu.br