IMPACTO DA DOENÇA PERIODONTAL NA GRAVIDEZ: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202410312219


Da Silva, Pedro Henrique Pereira 1
Santos, Hísala Yhanna Florêncio Tristão 2
Orientador Da Porf. Mestre Hísala Yhanna Florencio Tristão Santos


RESUMO

A doença periodontal, caracterizada por inflamações e infecções nos tecidos de suporte dos dentes, tem sido amplamente estudada devido aos seus potenciais impactos na saúde sistêmica. Em mulheres grávidas, os efeitos das condições periodontais podem se estender além da cavidade oral, influenciando diretamente a saúde materna e fetal. Esta revisão de literatura tem como objetivo analisar o impacto da gravidez na saúde periodontal, considerando as principais implicações durante o período gestacional e compreender a importância dos cuidados com a saúde periodontal durante a gravidez. Com base em estudos clínicos e pesquisas epidemiológicas, foi analisada a influência das alterações hormonais e imunológicas da gravidez na progressão da doença periodontal e a relevância de intervenções preventivas e terapêuticas durante o período gestacional. Os resultados indicam que o acompanhamento odontológico adequado e o controle da saúde periodontal podem contribuir para a redução de riscos para a mãe e o bebê. Conclui-se que a conscientização e a inclusão de cuidados periodontais no pré-natal são essenciais para minimizar as complicações associadas à doença periodontal na gravidez.

Palavras-chave: Doença Periodontal. Gravidez. Complicações gestacionais

ABSTRACT

Periodontal disease, characterized by inflammation and infection of the supporting tissues of the teeth, has been widely studied due to its potential impacts on systemic health. In pregnant women, periodontal conditions can affect more than just the oral cavity, directly influencing maternal and fetal health. This literature review aims to analyze the impact of pregnancy on periodontal health, considering the main implications during gestation and emphasizing the importance of periodontal care during pregnancy. Based on clinical studies and epidemiological research, this study examines the influence of hormonal and immunological changes during pregnancy on periodontal disease progression and highlights the relevance of preventive and therapeutic interventions during gestation. The results indicate that proper dental follow-up and periodontal health management can help reduce risks for both mother and baby. It is concluded that awareness and the inclusion of periodontal care in prenatal routines are essential to minimize complications associated with periodontal disease during pregnancy.

Keywords: Periodontal Disease, Pregnancy, Gestational Complications

1  INTRODUÇÃO

A doença periodontal se caracteriza como sendo uma doença infecciosa de cunho infecciosos que tem como fator etiológico microrganismos que estão localizados o biofilme bucal, acometendo as estruturas de sustentação e proteção dos dentes, o que pode levar à perda de inserção, de tecido ósseo e até do elemento dentário (PORTO, 2016). A doença periodontal encontra-se na lista de doenças orais mais comuns e está associada com o estabelecimento de um biofilme patogênico que desencadeia uma resposta imune/inflamatória, podendo ocasionar à destruição de tecidos periodontais de suporte e à eventual perda dos dentes. A doença além de afetar a qualidade de vida oral, também pode estar associada à fatores de risco para doenças sistêmicas, por causa das bactérias causadoras das infecções (COLOMBO et.al. 2015).

A principal causa da perda dentária no mundo tem sido a periodontite, aliada à ao fator de risco para doenças sistêmicas, como doença cardíaca coronária, diabetes, acidente vascular cerebral, artrite reumatóide, obesidade, aterosclerose, parto prematuro e baixo peso ao nascer em recém-nascidos. Acredita-se que a periodontite é iniciada pelas bactérias incorporadas no biofilme subgingival, a placa dentária tem envolvimento nas interações complexas das bactérias hopedeiras iniciais (HAFFAJEE & SOCRANSKY, 2017).

O período gestacional tem se destacado quando se fala em doença periodontal, e isso se justifica pelo fato de que a gravidez traz consigo uma variedade de mudanças no corpo da mulher. Observa-se nesse período um aumento progressivo da secreção de hormônios que podem resultar em uma mudança na saúde geral das futuras mães (MARLA et al., 2018).

Silva (2020) acredita que o acompanhamento multidisciplinar é essencial, já que a mulher nessa fase está receptiva a adquirir informações e mudar hábitos com o objetivo de preservar a sua qualidade de vida e a do bebê. Dessa forma, pode-se construir uma nova realidade que desmantela as crenças e desinformações por parte das gestantes e dos profissionais da saúde a respeito da importância do tratamento e da prevenção odontológica para a diminuição de riscos durante a gestação.

Uma revisão de literatura atualizada é essencial para identificar as práticas mais recentes no atendimento à pacientes gestantes como doença periodontal, a fim de capacitar o cirurgião dentista no atendimento odontológico. Com o aumento da frequência dessas pacientes nos consultórios, é natural que o profissional tenha dúvidas sobre a conduta adequada a adotar. Com a crescente frequência de pacientes gestantes com doença periodontal nos consultórios odontológicos, torna-se fundamental para o cirurgião-dentista compreender as melhores práticas de atendimento para essa população específica. Uma revisão atualizada da literatura permitirá o aprofundamento nas práticas odontológicas, capacitando os profissionais para atender gestantes de forma segura e eficaz, visto que o acompanhamento odontológico adequado pode influenciar significativamente a saúde das gestantes e dos recém-nascidos.

Dada a relação entre a saúde periodontal e os riscos sistêmicos durante a gestação, como a periodontite pode influenciar a saúde geral das gestantes e quais são as melhores práticas odontológicas para promover a saúde bucal e geral dessas pacientes durante o período gestacional? O objetivo deste trabalho é analisar o impacto da gravidez na saúde periodontal, considerando as principais implicações durante o período gestacional e compreender a importância dos cuidados com a saúde periodontal durante a gravidez.

2  METODOLOGIA

A presente pesquisa possui caráter qualitativo através de levantamento bibliográfico. A pesquisa possui como público-alvo profissionais e estudantes da área de odontologia. O estudo abordará o impacto da doença periodontal em mulheres grávidas, incluindo efeitos sobre a saúde materna e fetal. A revisão será restrita a artigos publicados na última década (2014 – 2024) para garantir a relevância e atualização dos dados. Serão incluídos estudos que examinem possíveis relações entre a doença periodontal e complicações como parto prematuro, baixo peso ao nascer e pré-eclâmpsia.

Para a realização da revisão de literatura, serão utilizadas bases de dados científicas como: PubMed, SciELO, Google Scholar, LILACS e Cochrane Library. A busca será feita por meio de descritores específicos (DeCS/MeSH), tais como: Doença Periodontal, Gravidez, Parto Prematuro, Complicações na Gravidez e Pré- eclâmpsia.

Os artigos selecionados para a revisão deverão atender aos seguintes critérios: publicações entre 2014 e 2024, estudos que abordem a relação entre doença periodontal e gravidez, artigos disponíveis em inglês, português ou espanhol, artigos de estudos clínicos, revisões sistemáticas e meta-análises. Serão excluídos: estudos duplicados entre as bases de dados, artigos que tratem de outras doenças bucais sem foco na doença periodontal, estudos com metodologia inadequada ou incompleta.

A coleta de dados será realizada em três etapas: busca inicial, a partir dos descritores, serão selecionados artigos nas bases de dados mencionadas, leitura dos títulos e resumos, os artigos encontrados serão analisados inicialmente pelos títulos e resumos, a fim de verificar a relevância para o tema, leitura na íntegra, os artigos que atenderem aos critérios de inclusão serão lidos na íntegra para avaliação mais detalhada e extração de dados relevantes.

A análise será de caráter qualitativo, por meio da comparação dos resultados encontrados nos artigos selecionados. Além disso, os resultados serão discutidos com base nas evidências encontradas. Como este estudo trata-se de uma revisão de literatura, não envolverá coleta de dados primários com seres humanos ou animais, isentando-o de submissão a um comitê de ética em pesquisa. Entretanto, será garantido que todas as fontes de informação sejam devidamente citadas e respeitados os direitos autorais dos estudos consultados.

3  REVISÃO DE LITERATURA

3.1 DOENÇA PERIODONTAL

De acordo com o Ministério da Saúde (2024), doença periodontal é um nome genérico que engloba uma série de alterações patológicas que ocorrem no periodonto. Periodonto é a denominação dada aos tecidos que circundam o dente; salientam-se entre eles as gengivas, o osso alveolar, o cemento e o ligamento periodontal (fibras que unem as gengivas e o osso alveolar ao cemento). Embora existam inúmeras doenças periodontais, elas podem ser agrupadas em dois grandes grupos: gengivite e periodontite. Na gengivite, apenas os tecidos moles da gengiva são alterados.

A Doença Periodontal (DP) é uma infecção crônica produzida por bactérias gram-negativas, em níveis elevados, causada por acúmulo de componentes microbianos do biofilme dental que se acumulam no interior dos tecidos do periodonto. Trata-se de doença sítio-específica, que evolui continuamente com períodos de exacerbação e de remissão, resultando em resposta inflamatória e imune do hospedeiro à presença do biofilme dental. Existem alguns fatores de risco, como diabetes e tabagismo que podem modificá-la, aumentando sua prevalência e gravidade (REVISTA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA, 2016).

Na periodontite predominam bactérias gram-negativas, anaeróbias ou microaerófilas, proteolíticas e móveis. Da relação bactérias invasoras versus organismo invadido, ocorre uma serie de reações que se traduzem por alterações locais e, ao que tudo indica, também alterações à distância (LOURO, 2016).

O principal fator etiológico da doença periodontal é o acúmulo de biofilme próximo ou na margem gengival. A doença periodontal é consequência da interação entre o biofilme e seus produtos com as respostas inflamatórias e imunológicas do hospedeiro. É pelo sulco gengival que as bactérias do biofilme dental invadem o epitélio juncional e causam uma inflamação no tecido conjuntivo gengival que pode se estender ao periodonto de sustentação. A gengivite é uma lesão inflamatória confinada a gengiva marginal livre e clinicamente apresenta mudanças no contorno gengival, perda de adaptação da gengiva ao dente, aumento do fluxo do fluído gengival, eritema, edema e sangramento.

3.2 SAÚDE PERIODONTAL DURANTE A GRAVIDEZ

Há uma preocupação geral sobre a relação entre a doença periodontal e gravidez, embora a falta de evidências nos estudos seja significativa, nessa população deve-se ter mais atenção, pelo fato de que muitas mulheres gravidas sofrerem com doenças periodontais destrutivas. Muitos estudos relacionam o parto prematuro em pacientes com doença periodontal ativa. É importante que os dentistas, ginecologia e obstetrícia trabalhem juntos, para manter a saúde bucal em mulheres grávidas e também melhorar a higiene no local (CAMARGO; ACOSTA, 2017).

A falta de saúde bucal materna na gravidez afeta o feto. Vários estudos comprovaram, a relação entre problemas de saúde bucal materna e a ocorrência de resultados adversos na gravidez. Portanto, a terapia periodontal se torna indispensável durante gravidez. A terapia sobre a ocorrência de resultados adversos na gravidez mostrou resultados inconsistentes. Por isso, realizou-se a presente revisão para avaliar a influência da terapia periodontal na ocorrência de gravidez adversa. A presente revisão sistemática concluiu que, a terapia periodontal durante a gravidez é segura, mas não reduz completamente os danos. Como a terapia periodontal não cirúrgica mostra redução significativa na ocorrência de gravidez adversa entre pacientes de alto risco, pode ser incluída, como parte do pré-natal (GOVINDASAMY et al., 2020).

A doença periodontal durante a gravidez desencadeia uma resposta imune exacerbada com altas concentrações locais e sistêmicas de marcadores inflamatórios. A doença periodontal aumenta a chance de resultados negativos neonatais e maternos, restringindo o crescimento fetal, vulvovaginite e ruptura prematura da membrana, sendo os principais resultados impulsionados, pela presença de Doença Periodontal Grave (FIGUEIREDO et al., 2019).

Muitas são as alterações fisiológicas, que acontecem durante a gravidez e, consequentemente, modificações no organismo feminino são observadas. Atualmente, ainda é muito comum que gestantes procurem um cirurgião-dentista somente quando alguma alteração bucal já está instalada, não sendo de costume a busca de atenção odontológica para a prevenção. A promoção de saúde, por meio de ações preventivas educacionais, deve ser enfatizada, já que a cárie e as doenças periodontais podem ser agravadas neste período. A condição periodontal mais encontrada foi a presença de cálculo. O uso de fumo e álcool foi constatado nas gestantes examinadas. Não foi observada associação entre a doença periodontal e o uso de fumo e álcool. Mas verificou-se um amento da progressão das doenças periodontais em mulheres grávidas, sem os cuidados devidos de pré-natal odontológico (SANTOS et al., 2014).

3.3 MECANISMOS BIOLÓGICOS DA DOENÇA PERIODONTAL QUE AFETAM A GRAVIDEZ

A doença periodontal não afeta apenas a saúde bucal, mas pode ter impacto em outras partes do corpo, incluindo a gravidez. Os mecanismos biológicos envolvidos na doença periodontal durante a gestação são complexos e podem contribuir para complicações maternas e fetais, como parto prematuro, baixo peso ao nascer e pré- eclâmpsia.

A doença periodontal desencadeia uma resposta imunológica intensa na gengiva, resultando na liberação de citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina-6 (IL-6), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e as prostaglandinas. Essas moléculas inflamatórias podem entrar na corrente sanguínea e afetar tecidos distantes.

Durante a gravidez, o sistema imunológico já está em um estado de regulação diferenciada para proteger o feto, e a presença de inflamação sistêmica adicional pode desestabilizar esse equilíbrio delicado, aumentando o risco de complicações.

A resposta imunológica pode ser dividida em duas principais categorias: a imunidade inata e a imunidade adaptativa. A imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo, enquanto a imunidade adaptativa envolve mecanismos mais específicos e com memória imunológica. Segundo Alcindo Alvez (2015), “o sistema imunológico é responsável por proteger o organismo contra agentes patogênicos através de respostas que podem ser imediatas ou adaptativas, sendo a interação entre ambas crucial para a homeostase” (ALVEZ, 2015 p. 18).

Luiz Carlos Silva (2019), um pesquisador de destaque em imunologia no Brasil, explica que a resposta imunológica inata age de forma rápida e é essencial na fase inicial da defesa contra infecções, enquanto a resposta adaptativa é mais tardia, mas oferece uma proteção mais duradoura e específica. Segundo ele, “a interação entre as células do sistema inato e adaptativo garante uma resposta coordenada que impede a disseminação de patógenos e estimula a memória imunológica” (SILVA, 2019 p.65).

A inflamação sistêmica é uma resposta mais ampla do organismo que pode ser desencadeada por diversas condições, como infecções, doenças autoimunes ou condições crônicas como diabetes e obesidade. Carlos Antônio da Silva (2015) aponta que a inflamação sistêmica é um processo complexo que envolve a liberação de citocinas pró-inflamatórias, ativação de células do sistema imunológico e disfunção endotelial. Segundo ele, “essa resposta, quando desregulada, pode levar a uma série de complicações, incluindo dano tecidual, falência de órgãos e até morte” (SILVA, 2015 p. 30). O impacto da inflamação sistêmica em doenças crônicas é outro tema amplamente explorado. Ana Paula Ribeiro (2017) sugere que “a inflamação de baixo grau, presente em condições como a obesidade, desempenha um papel central no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

As bactérias responsáveis pela doença periodontal, como Porphyromonas gingivalis, podem não apenas permanecer na boca, mas também invadir a corrente sanguínea, especialmente em casos de periodontite severa. Essas bactérias podem alcançar o útero e a placenta, induzindo inflamação local, o que pode comprometer o desenvolvimento fetal. A presença dessas bactérias na placenta foi associada a um aumento do risco de complicações gestacionais, como o parto prematuro.

A periodontite é uma doença inflamatória crônica causada pela presença e proliferação de determinadas bactérias na cavidade oral. Entre as principais bactérias periodontopatogênicas estão Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola e Tannerella forsythia. Essas bactérias são reconhecidas pela sua capacidade de induzir uma resposta inflamatória no hospedeiro, resultando na destruição dos tecidos de suporte dos dentes. Segundo Machado e Silva (2016), “a colonização do sulco gengival por bactérias patogênicas é o fator primário na patogênese da periodontite, sendo as espécies bacterianas como Porphyromonas gingivalis diretamente associadas à progressão da doença”. A inflamação crônica resultante da infecção leva à destruição do osso alveolar e dos ligamentos periodontais, o que pode culminar na perda dental.

Estudos têm demonstrado que as bactérias presentes na cavidade oral podem entrar na corrente sanguínea, principalmente durante processos inflamatórios ou procedimentos odontológicos invasivos. Esse fenômeno é conhecido como bacteremia transitória. Uma vez na circulação sistêmica, essas bactérias podem contribuir para a exacerbação de condições sistêmicas, como doenças cardiovasculares e diabetes. Gomes (2018) observa que “há uma relação entre a periodontite e o aumento do risco de doenças sistêmicas, especialmente cardiovasculares, devido à disseminação das bactérias orais e dos mediadores inflamatórios”. Esse entendimento reforça a importância do controle das infecções periodontais, não apenas para preservar a saúde bucal, mas também para prevenir complicações em outras partes do corpo.

Além disso, Silva et al. (2019) destacam que “a inflamação sistêmica decorrente da disseminação das bactérias periodontais pode agravar quadros de doenças pré- existentes, como a aterosclerose, contribuindo para a formação de placas nas artérias”. Assim, há uma preocupação crescente entre os profissionais da saúde em relação à conexão entre a saúde periodontal e o bem-estar geral.

A prevenção da periodontite e a minimização da disseminação bacteriana envolvem boas práticas de higiene bucal, como escovação regular, uso de fio dental e visitas periódicas ao dentista para limpezas profissionais. Tratamentos específicos para a periodontite incluem a remoção mecânica da placa bacteriana, alisamento radicular e, em casos mais graves, intervenções cirúrgicas.

Lima (2020) enfatiza que “o tratamento periodontal eficaz é capaz de reduzir significativamente os níveis de bactérias patogênicas na cavidade oral, diminuindo, consequentemente, a probabilidade de disseminação sistêmica”. Assim, o tratamento periodontal adequado não apenas restaura a saúde bucal, mas também pode ter um impacto positivo na saúde geral do paciente.

Outro mecanismo crítico é a produção elevada de prostaglandinas em resposta à infecção periodontal. As prostaglandinas estão diretamente envolvidas na indução do trabalho de parto. Níveis elevados dessas substâncias devido à inflamação periodontal podem desencadear contrações uterinas prematuras, levando a partos prematuros. O aumento dos níveis de prostaglandinas no fluido amniótico e no sangue materno pode, assim, estar relacionado a resultados adversos na gravidez.

A produção de prostaglandinas e o trabalho de parto precoce são temas amplamente estudados na área da obstetrícia, sendo essenciais para a compreensão dos mecanismos que regulam o início do trabalho de parto, especialmente em gestações de risco. As prostaglandinas, substâncias lipídicas que desempenham diversas funções no organismo, têm papel crucial na maturação cervical e nas contrações uterinas, influenciando diretamente o processo do parto.

Segundo Cecatti (2016), as prostaglandinas são fundamentais na indução do parto, pois promovem a remodelação do colo uterino e estimulam a atividade contrátil do miométrio. Esse autor destaca que “a produção endógena de prostaglandinas é um dos principais eventos bioquímicos que precipitam o início do trabalho de parto, tanto a termo quanto pré-termo”. No caso do trabalho de parto precoce, há uma ativação prematura desse sistema, o que pode levar a complicações significativas para o feto e a mãe.

O papel das prostaglandinas na fisiopatologia do trabalho de parto prematuro também foi abordado por Costa (2022), que enfatiza a importância dessas substâncias na resposta inflamatória associada ao início do parto. De acordo com Costa, “a liberação de prostaglandinas é desencadeada por processos inflamatórios locais, como infecções intrauterinas, que são causas comuns de parto prematuro”. Esse estudo reforça a ideia de que o controle dos níveis de prostaglandinas pode ser uma estratégia importante para prevenir o trabalho de parto precoce em casos de infecção.

Além disso, Barbieri (2023) ressalta que o uso de prostaglandinas sintéticas tem sido amplamente utilizado na prática clínica para indução do parto em gestações a termo e pré-termo. No entanto, ele alerta para os riscos de seu uso inadequado, especialmente em casos onde não há uma indicação clara para a indução. Segundo o autor, “o uso de prostaglandinas em gestações de alto risco requer monitoramento cuidadoso, pois pode precipitar um parto prematuro, aumentando a morbidade neonatal”.

Portanto, a produção de prostaglandinas está intrinsecamente ligada ao início do trabalho de parto, seja ele a termo ou precoce. As pesquisas de autores brasileiros, como Cecatti, Costa e Barbieri, contribuem significativamente para a compreensão desse processo, além de apontarem para a importância de estratégias preventivas e terapêuticas que visem minimizar os riscos associados ao parto prematuro.

A inflamação crônica causada pela doença periodontal também pode levar a disfunção endotelial, que é um fator de risco para a pré-eclâmpsia. A pré-eclâmpsia é caracterizada por pressão arterial elevada e danos a órgãos maternos, sendo uma das principais causas de complicações graves durante a gravidez. A inflamação sistêmica e o dano vascular causados pela periodontite podem piorar essa condição, agravando o risco para a gestante.

A disfunção endotelial é um fenômeno amplamente estudado em diversas áreas da saúde, principalmente devido ao seu papel central no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O endotélio, camada de células que reveste os vasos sanguíneos, tem funções fundamentais na regulação do tônus vascular, inflamação, coagulação e troca de nutrientes. Quando essas funções estão prejudicadas, há um aumento no risco de doenças, como hipertensão, aterosclerose e diabetes.

A disfunção endotelial resulta em uma diminuição na produção de óxido nítrico (NO), uma molécula-chave que promove a vasodilatação e inibe a proliferação de células musculares lisas, a agregação plaquetária e a adesão de leucócitos às paredes vasculares. Estudos brasileiros têm aprofundado o entendimento sobre essa condição e suas implicações clínicas.

De acordo com Lopes et al. (2016), “a disfunção endotelial é um fator preditor importante para doenças cardiovasculares, uma vez que representa um estado pró- inflamatório e pró-trombótico, facilitando a progressão da aterosclerose”. O estudo destaca que a alteração no equilíbrio entre fatores vasodilatadores e vasoconstritores, como o óxido nítrico e a endotelina-1, é crucial para o desenvolvimento dessa disfunção.

Carvalho e Souza (2019) afirmam que “a disfunção endotelial pode ser desencadeada por fatores como hipertensão, obesidade, sedentarismo e o consumo excessivo de gorduras saturadas”. Esses autores indicam que o estresse oxidativo gerado por esses fatores prejudica a bioatividade do óxido nítrico, reduzindo sua biodisponibilidade e facilitando a formação de placas ateroscleróticas.

O óxido nítrico (NO) é um vasodilatador potente produzido pelas células endoteliais, cuja função principal é manter o tônus vascular adequado e a integridade das paredes dos vasos sanguíneos. Entretanto, o estresse oxidativo, caracterizado pelo acúmulo de espécies reativas de oxigênio (ROS), prejudica a ação do NO.

Segundo Silva e Lima (2020), “o estresse oxidativo desempenha um papel central na disfunção endotelial, pois as ROS reagem com o NO, formando peroxinitrito, uma substância que inativa o efeito protetor do NO sobre os vasos”. Esses autores também sugerem que a suplementação de antioxidantes pode ter um efeito protetor sobre a função endotelial em indivíduos de risco.

No contexto preventivo, intervenções no estilo de vida desempenham um papel crucial. Oliveira et al. (2021) destacam que “mudanças na dieta, a prática regular de atividade física e a cessação do tabagismo são intervenções eficazes para restaurar a função endotelial”. Os autores também apontam que o controle da pressão arterial e o uso de medicamentos vasodilatadores, como inibidores da ECA, podem melhorar a saúde endotelial em pacientes com risco cardiovascular elevado.

Além disso, terapias emergentes, como o uso de estatinas, têm mostrado benefícios para a função endotelial. Pereira e Costa (2018) relatam que “as estatinas, além de seus efeitos hipolipemiantes, possuem propriedades pleiotrópicas que incluem a melhoria da função endotelial através do aumento da biodisponibilidade do óxido nítrico”. Devido a esses mecanismos biológicos, é fundamental que mulheres grávidas ou que planejam engravidar recebam cuidados odontológicos adequados. A prevenção e o tratamento precoce da doença periodontal durante a gravidez podem reduzir o risco de complicações maternas e fetais. Além disso, dentistas e médicos obstetras devem trabalhar em conjunto para garantir que as mulheres grávidas mantenham uma boa saúde bucal ao longo da gestação, minimizando os impactos negativos da inflamação periodontal no desfecho da gravidez.

Portanto, os mecanismos biológicos que conectam a doença periodontal à gravidez envolvem uma complexa interação entre inflamação sistêmica, resposta imunológica, disseminação bacteriana e alterações hormonais. Esses fatores combinados podem influenciar o desenvolvimento fetal e o bem-estar materno, reforçando a importância de uma abordagem multidisciplinar para o cuidado pré-natal e periodontal.

3.3 IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL ODONTOLÓGICO DURANTE A GESTAÇÃO

No período gestacional, a maioria dos procedimentos odontológicos podem ser realizados. Porém, devem ser tomados algumas medidas especiais como planejar sessões curtas, adequar a posição da cadeira e evitar consultas matinais, já que neste período as gestantes têm mais episódios de ânsia de vômito e risco de hipoglicemia (MOREIRA et al., 2015). Fazer uma anamnese detalhada, ter uma boa comunicação com o médico da gestante, avaliar o estado de saúde geral da mesma são passos que devem ser seguidos com critério, pois são decisivos previamente a qualquer procedimento odontológico (MATSUBARA, DEMETRIO, 2016).

O mais recomendado é que se faça os procedimentos odontológicos no segundo trimestre, isso porque, durante esse período, a organogênese está completa e o feto já está mais desenvolvido e também devido ao fato de que a mãe se sente mais confortável do que nos estágios iniciais ou finais de sua gravidez (Botelho et al., 2019). No primeiro trimestre (primeiros 90 dias de gestação), o embrião ainda está em processo de organogênese e nesse período o feto se encontra mais susceptível à teratogênese quando se torna necessário a prescrição de medicamentos (OUANOUNOU, HAAS, 2016).

A necessidade dos cuidados bucais durante a gestação baseia-se em dois motivos principais: as gestantes devem se alimentar corretamente e, por isso, não seria admissível que apresentassem dor e/ou mobilidade dentária, e infecções periodontais poderiam se disseminar pela corrente sanguínea e estimular a produção de citocinas inflamatórias. Em decorrência das atuais publicações que relacionam algumas importantes complicações gestacionais (parto prematuro, recém-nascidos de baixo peso e pré-eclâmpsia) com a presença de citocinas também produzidas no periodonto infeccionado, esta revisão buscou avaliar se a literatura disponível permite suportar tal relação de risco (PASSINI, NOMURA 2017).

Muitas são as alterações fisiológicas, que acontecem durante a gravidez e, consequentemente, modificações no organismo feminino são observadas. Atualmente, ainda é muito comum que gestantes procurem um cirurgião-dentista somente quando alguma alteração bucal já está instalada, não sendo de costume a busca de atenção odontológica para a prevenção. A promoção de saúde, por meio de ações preventivas educacionais, deve ser enfatizada, já que a cárie e as doenças periodontais podem ser agravadas neste período. A condição periodontal mais encontrada foi a presença de cálculo. O uso de fumo e álcool foi constatado nas gestantes examinadas. Não foi observada associação entre a doença periodontal e o uso de fumo e álcool. Mas verificou-se um amento da progressão das doenças periodontais em mulheres grávidas, sem os cuidados devidos de pré-natal odontológico (SANTOS et al., 2022).

4  CONCLUSÃO

A gravidez provoca mudanças hormonais e imunológicas que podem afetar a saúde periodontal, aumentando a suscetibilidade a inflamações gengivais, como gengivite e periodontite. O aumento dos hormônios estrogênio e progesterona favorece o acúmulo de placa bacteriana e uma resposta inflamatória exacerbada, o que pode piorar doenças periodontais. Caso não tratadas, essas condições podem levar a desfechos obstétricos adversos, como parto prematuro e baixo peso ao nascer, ressaltando a importância do cuidado periodontal.

Dada essa relação, o acompanhamento pré-natal odontológico é fundamental para detectar e tratar precocemente alterações periodontais, minimizando riscos para a gestante e o bebê. A integração do atendimento odontológico ao pré-natal médico promove a saúde bucal como parte essencial dos cuidados gestacionais, contribuindo para uma gestação mais saudável e melhores desfechos para mãe e filho.

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1 Bacharelando em Odontologia pela UNIFACIMED – Centro Universitário; e-mail: pedroenrique.odontologia@gmail.com
2 Graduação em Odontologia pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – FACIMED/RO 2016. Especialista em Periodontia pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – FACIMED/RO 2019. Mestre em Periodontia pela São Leopoldo Mandic – Campinas/SP 2020. E-mail:hisala.y@gmail.com