“IMPACTO DA COVID-19 NA EDUCAÇÃO MÉDICA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A  IMPLEMENTAÇÃO DO ENSINO A DISTÂNCIA E PBL”

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202408292044


Fernando Victor Chaves Nunes Madruga1, Thaís Chaves Nunes Madruga1, Maria Isadora Fernandes Dias1, Camilo de Souza Bessa1.


RESUMO 

O surto de COVID-19, causado pelo SARS-CoV-2, impôs desafios significativos  às instituições de ensino superior, especialmente na área de medicina. Com o  objetivo de manter a continuidade educacional durante a pandemia, o ensino a  distância (EAD) foi adotado amplamente. Este artigo discute a aplicação do EAD  como solução emergencial, destacando suas vantagens, como a flexibilidade e a  compensação pela ausência de estrutura física, e suas desvantagens, como a falta  de interação e a necessidade de maior motivação dos alunos. Além disso, explora se a viabilidade da metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) no  contexto do EAD. Estudos indicam que, embora os estudantes de medicina tenham  mostrado satisfação com o e-learning, há limitações na implementação completa do  PBL online, especialmente em disciplinas que exigem práticas laboratoriais e  clínicas. Este estudo faz uma revisão bibliográfica acerca da implementação do PBL  a distância e o impacto do ensino durante o período de isolamento social, analisando  sua eficácia, funcionalidade e impacto no processo de aprendizagem virtual à  distância. 

Palavras-chave: COVID-19, Ensino a Distância, E-learning, Aprendizagem Baseada em  Problemas (PBL), Educação Médica, Pandemia, Metodologias Ativas, Extensão, Vacinação, Imunologia. 

INTRODUÇÃO 

Coronavírus é uma grande família de vírus de RNA que podem ser isolados em diferentes  espécies de animais (PERLMAN; NETLAND, 2009). Esses patógenos são capazes de  atravessar barreiras entre espécies e causar, em humanos, doenças que variam de um  resfriado comum a uma doença mais grave, como SARS e MERS (CASCELLA et al., 2020). 

A epidemia que se iniciou em 2019, pelo SARS-CoV2, o sétimo vírus da família coronavírus  descoberto, teve início em Wuhan, na China, e se espalhou para diversos países do globo  (LIPSITCH; SWERDLOW; FINELLI, 2020). 

Os aspectos clínicos da doença variam de formas assintomática ou sintomáticas com  condições caracterizadas pela insuficiência respiratória, a qual necessita de ventilação  mecânica (CASCELLA et al., 2020). Em um dos primeiros relatos do SARS-CoV2 (HUANG  et al., 2019) verificou que os pacientes estudados apresentavam febre, mal estar, tosse seca  e dispneia. Todavia, cerca de 80% dos casos de Covid-19, analisados pelo CDC da China  foram classificados como leves ou moderados, que não levaram ao desconforto respiratório  (KONG et al., 2020). Em estudo histopatológico de uma biópsia de paciente morto por  COVID19, (ZHANG et al., 2020), foi observado dano pulmonar elevado, com lesão alveolar  difusa e congestão capilar. Nos achados de imagens (GUAN et al., 2020) observou-se que  cerca de 80% dos exames radiológicos apresentaram resultados anormais, com maior  prevalência de sombreamento irregular bilateral e opacidade em vidro fosco. 

A transmissão do SARS-CoV2 ocorre pelas vias aéreas, por intermédio de pequenas  gotículas expelidas pelo nariz ou pela boca de portadores da virose, e pode ocorrer de  pessoa para pessoa (CHAN et al., 2020). Segundo estudo recente, o período de incubação  do vírus é de aproximadamente 4 dias, podendo variar entre 2 e 8 dias. (GUAN et al., 2020).  É válido ressaltar também que o novo vírus da família coronavírus tem uma estabilidade  muito elevada em relação ao SARS-CoV em seu tempo de permanência, de forma ativa, em  superfícies como o plástico e o aço, podendo permanecer por até 72 horas (VAN  DOREMALEN et al., 2020), facilitando um possível contagio indireto. Com isso, vários  governos em diferentes partes do mundo decretaram o isolamento social como a forma mais  eficaz de achatar a curva de progressão da epidemia/pandemia. 

DESENVOLVIMENTO 

Nesse contexto, o ensino a distância (EAD) ou o e-learning mostra-se como solução para o  absenteísmo nas escolas e nas universidades. O EAD apresenta diferentes definições  apresentadas por vários pesquisadores e instituições, mas adotaremos o conceito dado pela  Comissão Europeia (2001), a qual descreve o EAD como o uso de novas tecnologias  multimídias e da Internet para aumentar a qualidade de aprendizado, facilitando tanto o  acesso às instalações e aos serviços quanto às trocas e as contribuições de informação  entre locais distantes. Vale ressaltar que Oblinger e Hawkins (2005) observaram o fato de  que o e-learning mudou o conceito de um curso totalmente online para o de uso da  tecnologia para ofertar parte ou todo o curso, independentemente do tempo e do local. 

Entretanto, existem trabalhos científicos, como os de Oblinger e Hawkins (2005) e Dublin  (2003), que afirmam a não existência de definição comum para o termo. No mundo, o marco do início do uso do EAD foi a anunciação de um curso pela Gazeta de  Boston, na edição de 20 de março, o qual oferecia material para ensino e tutoria por  correspondência (ALVES, 2011). Com o decorrer da história, uma série de outros sistemas  de e-learning foram sendo criados até chegar aos dias atuais, permitindo, assim, a  implementação de novas tecnologias e da própria Internet, a qual é um marco da era da  comunicação. Atualmente, existem universidades próprias para essa modalidade de ensino,  como exemplo temos a Universidade a Distância de Hagen, que iniciou seu programa com  material escrito em 1975 e em 2009 passou a oferecer material didático em áudio e  videocassetes, videotexto interativo e videoconferências (BERNARDO, 2009). No Brasil, a aparição e a consolidação do e-learning ocorreu de forma mais lenta. O evento  que denotou sua chegada ao país foi a declaração em 1904 do Jornal do Brasil registrando,  na primeira edição da seção de classificados, um anúncio que oferecia profissionalização  por correspondência para datilógrafo (ALVES, 2011). Em 1996, é criada a Secretaria de  Educação a Distância (SEED), pelo Ministério da Educação, dentro de uma política que  privilegia a democratização e a qualidade da educação brasileira. É neste ano também que  a Educação a Distância surge oficialmente no Brasil, sendo as bases legais para essa  modalidade de educação, estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação  Nacional n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, embora somente regulamentada em 20 de  dezembro de 2005 pelo Decreto n° 5.622 (BRASIL, 2005), consolidando a prática do EAD, o  qual hoje é adotado por várias universidades brasileiras. 

De fato, a discussão acerca da utilização de tecnologias modernas de informação e de  comunicação em universidades é muito importante, visto que a Internet, segundo Richard e  Haya (2009), tornou-se um meio vital de disponibilizar aos professores e aos alunos  recursos para pesquisa e aprendizado, permitindo o uso pessoal ou o compartilhamento  dessas informações. Nesse sentido, o EAD engloba o uso da Internet e de outras  tecnologias para produzir materiais para a aprendizagem, ensinar os alunos e coordenar os  cursos em uma organização (FRY, 2001). Com isso, existe uma série de vantagens e de  desvantagens em relação a sua implementação e adoção. Ambos os pontos, positivos e  negativos, serão ressaltados nos parágrafos seguintes. 

As vantagens, conforme Arkorful e Abaidoo (2015), baseiam-se em flexibilização do horário  e do local, aprimoramento da eficácia do aprendizado e da qualificação, disponibilização de  perspectivas extras de interatividade entre alunos e professores (WAGNER et al., 2008),  compensação da ausência de estrutura universitária e individualização do ritmo de estudo  devido ao modelo assíncrono do e-learning. É importante salientar que esse assincronismo permite que cada aluno estude no seu próprio tempo e velocidade, lentamente ou  rapidamente, aumentando a satisfação e diminuindo o estresse (AMER, 2007). As principais desvantagens são o distanciamento, a falta de interação e a desatenção,  necessitando de forte motivação e de habilidade de gerenciamento para serem evitadas.  Segundo Arkorful e Abaidoo (2015), outros pontos negativos do EAD exemplificam-se na  menor eficácia em relação aos esclarecimentos, as explicações e as interpretações, na  diminuição de capacidade de socialização dos alunos, consequentemente, o não  aperfeiçoamento das habilidades de comunicação, na existência de limitações no tocante ao  uso desse método em certas disciplinas e na possibilidade de levar ao congestionamento ou  ao uso pesado de alguns sites. 

No âmbito da utilização do ensino a distância em universidades de medicina, coloca-se em  pauta a possibilidade de aplicação do aprendizado baseado em problemas (ABP) na forma  de e-learning. Ademais, existe, também, a dúvida relacionada à capacidade de adaptação  dessa complexa metodologia de ensino e de aprendizagem para meios virtuais e  tecnológicos. 

​O ABP embasa-se na apresentação de problemas, como casos clínicos, problemas  epidemiológicos e dilemas éticos, os quais são realísticos, complexos e mal estruturados,  permitindo por meio de discussões em pequenos grupos a busca ativa pela construção do  conhecimento (BRIDGES; LAW; WHITEHILL, 2014; HMELO-SILVER; BARROWS, 2008).  Dessa forma, um dos princípios do ABP fundamenta-se na promoção da ativação de  conhecimentos prévios do estudante e da reestruturação deles com os novos  conhecimentos da busca ativa. Entretanto, não se restringindo ao âmbito individual de  aprendizagem, mas almejando conjuntamente com os outros membros da tutoria o  intercâmbio científico, social e cultural, ampliando dessa forma os horizontes da construção  do conhecimento (HMELO-SILVER, 2004; VERSTEGEN et al., 2016). Como síntese,  podemos observar que no ABP é suposta uma aprendizagem autodirigida, construtiva,  contextualizada e colaborativa (DOLMANS et al., 2005; Mok, 2009). 

​Diferentes literaturas acerca do tema mostram que os estudantes de medicina estão muito  satisfeitos com o e-learning e desejam ver isso como parte de sua educação. Além da  satisfação, algumas das vantagens do e-learning mencionadas pelos estudantes na  literatura são sua contribuição para o autodesenvolvimento do aluno, oportunidades de  autoavaliação, e acesso mais rápido aos recursos educacionais (CITAK et al., 2007; CORTE  et al., 2005; EDIRIPPULIGE et al., 2006; GOTTHARDT et al., 2006; THAKORE et al., 2006;  YAGHOUBI, 2008). Por outro lado, em um estudo a respeito do e-learning em uma  faculdade de medicina no Paquistão durante o surto de COVID-19 observou-se que dos  382 alunos da pesquisa: 77.4% tiveram percepções negativas do EAD, dos quais 86% sentiram que o EAD tem pouco impacto no seu aprendizado, e a maioria deles preferiram o  ensino presencial. O principal resultado do artigo demonstrou que os estudantes não  estavam prontos para o e-learning. Tal fato pode ser justificado pela implementação de um  ensino totalmente online e, consequentemente, limitações no que diz respeito aos aspectos  práticos da aprendizagem no laboratório e no ambiente clínico. Isso é consistente com o  comportamento dos alunos em muitos outros países, como China, Malásia, Cingapura etc  (ABBASI et al., 2020). 

​A respeito do ABP no contexto do EAD, a maioria das obras científicas relatam o uso do e learning como suporte a prática presencial do ABP. Segundo Gurpinar et al. (2009), dois  terços dos estudantes ficaram muito satisfeitos com a experiência deles com o EAD. Essa  satisfação foi justificada pelas seguintes afirmativas: “era mais fácil acessar conhecimento  via site do que pesquisá-lo em uma biblioteca via livros “, “o ambiente de aprendizagem  baseado na internet disponibilizado foi útil para alcançar meus objetivos de aprendizado ” e ”  foi agradável aprender através do site “. As afirmativas foram confirmadas respectivamente  por 71.2%, 64.9% e 60.1% dos alunos. Ademais, mais da metade da amostra obteve, com o  uso do EAD, economia de tempo e contribuições para o aumento de notas em testes. Nesse estudo de Gurpinar et al. (2009), um efeito positivo do e-learning sobre a  performance de aprendizado dos alunos foi observado, mediante notas nas provas. Houve  aumento significativo dos desempenhos dos alunos nos exames do módulo ABP apoiado  pelo EAD quando comparados aos desempenhos nos exames anteriores dos módulos PBL  sem suporte EAD. Entretanto, essa implementação foi acompanhada de alguns problemas,  como a situação de 37 estudantes que nunca visitaram o ambiente de aprendizagem  baseado na internet, a qual pode ser devido a falta de computadores ou de internet no local  de moradia, ou a escassez de computadores na própria faculdade de medicina. 

CONCLUSÃO 

Em resumo, a possibilidade de acessar mais conhecimento de maneira fácil e divertida em  um período mais curto, sem dependência da sala de aula, do professor e de determinados  horários, pode ter causado a alta satisfação e o desejo de ver aplicações semelhantes no  futuro com o ambiente de aprendizagem baseado na internet. E como a grande maioria dos  estudantes gosta de passar o tempo com computadores e internet, estudando com as  ferramentas que eles gostam e usam com competência, tal fato pode aumentar sua  motivação para aprender com o EAD. Com os resultados desse trabalho, a aplicação do e learning como suporte ao aprendizado baseado em problemas (ABP) é encorajada, mas  devendo-se sempre ter cautela em relação diferenças entre recursos de universidades,  perfis de estudantes, serviços de informática e internet, necessitando para sua correta  implementação investimentos dos alunos e da própria faculdade (GURPINAR et al., 2009).

Em decorrência da pandemia do COVID-19, diversos estados do Brasil decretaram  isolamento social por intermédio da quarentena, acarretando o fato de que todos os serviços  não essenciais e as universidades parassem de funcionar. Com essa determinação,  diversas universidades, dentre elas a Unichristus, tiveram de alterar os métodos de  aprendizagem para dar continuação ao cronograma padrão do curso de medicina. Com isso,  o EAD demonstrou-se devido a certas vantagens, como a compensação da ausência de  estrutura universitária e a flexibilização do horário e do local das aulas, uma alternativa para  evitar a completa suspenção da educação médica continuada. Entretanto, com restrições  para a aplicação do e-learning para certas disciplinas práticas, com excessão da  metodologia ativa, praticada por intermédio do ABP (PBL), a qual mostrou-se capaz de ser  aplicada pelo EAD e passou a ser ministrada, com algumas pequenas mudanças  necessárias para adequação, a distância, via internet. 

Em suma, realizou uma revisão bibliográfica acerca da implementação do PBL a  distância e o impacto do ensino durante o período de isolamento social, analisando  sua eficácia, funcionalidade e impacto no processo de aprendizagem virtual à  distância. 

REFERÊNCIAS 

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1Acadêmico de Medicina, Centro Universitário Christus, Endereço: R. João Adolfo Gurgel,  133, Cocó, – Fortaleza, Ceará, CEP: 60190-180