IMPACTO DA CONDIÇÃO PERIODONTAL NA OSSEOINTEGRAÇÃO DE IMPLANTES DENTÁRIOS E NA ESTABILIDADE DAS PRÓTESES

IMPACT OF PERIODONTAL CONDITION ON OSSEOINTEGRATION OF DENTAL IMPLANTS AND STABILITY OF PROSTHESES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11001653


Louise Bárbara Azevedo da Silva1
Maria Gabriela de Souza Andrade Brandão2
Joab Gabriel do Nascimento Santos3
Pio Moerbeck Filho4
Valquiria de Souza Oliveira5
Keycila Rodrigues Souza6
Lara Gomes Serpa dos Santos7
Brennda Lys Silva Lima8
Mallany Coimbra Melo9
Ellen Nunes de Melo10
Júlia Oliveira Chaves da Silva11
Sabrina Adrielly Santos Lopes12
Juliana Macari Conde13
Lucas Santos Novato14
Emilayne Rodrigues Silva15


Resumo

A osseointegração é um fator fundamental para o sucesso de tratamentos com implantes dentários. No entanto, a saúde periodontal dos pacientes pode acometer significativamente esse processo. A periodontite, uma doença inflamatória crônica das gengivas e estruturas de suporte dos dentes, pode comprometer a saúde óssea e a qualidade do tecido gengival ao redor dos implantes, podendo inclusive levar a sua perda. Além disso, a presença de inflamação gengival e reabsorção óssea na área dos implantes pode comprometer o suporte e a estabilidade das próteses. Com base na importância desse conhecimento para odontologia, esta pesquisa objetivou avaliar a conexão entre doença periodontal, implantes dentários e reabilitações protéticas, além de informar formas de prevenção e tratamento das patologias relacionadas. Este estudo trata-se de uma revisão da literatura, de caráter descritivo, embasada em artigos científicos dispostos nas bases de dados PubMed/Medline, LILACS e BVS, em que foram aplicados os descritores “Doenças periodontais”, “Implantes Dentários”, “Osseointegração”, “Prótese Dentária” e “Longevidade”.Foram incluídos 13 artigos, publicados entre 2000 e 2024, sendo excluídos artigos duplicados e que fugiam do tema central da pesquisa.Estudos científicos têm demonstrado que a presença de periodontite está associada a uma maior taxa de falha dos implantes dentários, devido à redução da estabilidade óssea e à inflamação crônica dos tecidos peri-implantares, levando a perda óssea, comprometendo a osseointegração. Por fim, um processo inflamatório nas áreas dos implantes também inviabiliza o sucesso na reabilitação protética, levando a erros na oclusão, desconforto do paciente e possíveis complicações a longo prazo. Portanto, é essencial que os cirurgiões-dentistas levem em consideração a condição periodontal dos pacientes antes, durante e após a colocação de implantes dentários, a fim de garantir uma osseointegração adequada e a estabilização efetiva das futuras próteses. 

Palavras-chave: Doenças periodontais. Implantes Dentários. Osseointegração. Prótese Dentária. Longevidade. 

1  INTRODUÇÃO

A periodontite é uma doença inflamatória crônica que afeta as estruturas de suporte dos dentes, incluindo as gengivas, os ligamentos periodontais e o osso alveolar. É geralmente causada por uma resposta imunológica exagerada às bactérias presentes na placa bacteriana, uma película pegajosa que se forma continuamente nos dentes (PAPANOU et al., 2018).

A doença periodontal começa como uma gengivite, considerada uma inflamação reversível, caracterizada por vermelhidão, inchaço e sangramento durante a escovação ou uso do fio/fita dental. Se não tratada, a gengivite pode progredir para periodontite. Nessa fase mais avançada, ocorre destruição da tábula óssea alveolar e dos ligamentos periodontais que fixam os dentes ao osso. Isso pode levar a sintomas como mobilidade dentária, retração gengival, formação de bolsas periodontais e, eventualmente, à perda dentária (CORTELLI et al., 2009).

A osseointegração ou osteointegração é um processo fisiológico que consiste na fusão do osso à superfície do implante, proporcionando estabilidade e suporte para a futura prótese dentária. Seu desenvolvimento pode ser dificultado em pacientes com doença periodontal, pois para que ocorra a integração, as células ósseas precisam aderir à superfície do implante, formando uma conexão direta entre osso e implante, fato que não ocorre nos pacientes supracitados. Portanto, é essencial que os pacientes com histórico de doença periodontal sejam cuidadosamente avaliados antes da colocação de implantes dentários (ELIAS, 2011). 

Assim sendo de extrema importância o tratamento adequado da condição periodontal pré-existente e a manutenção de uma boa saúde bucal, afim de promover a osseointegração bem-sucedida dos implantes dentários.

Posto isto, o objetivo principal deste estudo científico foi analisar a influência da saúde periodontal no processo de osteointegração de implantes dentários e consolidação das futuras reabilitações protéticas. Como também, indicar as melhores formas de prevenção e tratamento das patologias periodontais associadas.  

2  REVISÃO DA LITERATURA

Os critérios estabelecidos pela Academia Americana de Periodontia (The American Academy of Periodontology) e pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) para a detecção da doença periodontal são utilizados como diretrizes para identificar a presença e a gravidade da patologia em um paciente. Esses critérios são baseados em medidas clínicas como perda de inserção periodontal e profundidade de sondagem, que são indicadores de inflamação e destruição dos tecidos periodontais. A perda de inserção periodontal ≥ 3mm, em dois ou mais dentes não adjacentes, indica uma perda de suporte dos tecidos periodontais em múltiplas áreas da boca, sugerindo a presença de doença periodontal difusa. Já a perda de inserção periodontal ≥ 5mm, em 30% ou mais dos dentes (essa medida considera a extensão da perda de inserção periodontal em relação ao número total de dentes presentes na boca) indica uma distribuição mais generalizada da doença. E por fim, a perda de inserção periodontal ≥ 6mm, em dois ou mais sítios proximais, indica a presença de áreas específicas com perda significativa de suporte periodontal entre os dentes adjacentes. A profundidade de sondagem ≥ 5mm, em um ou mais sítios proximais, revela a presença de bolsas periodontais profundas, que são espaços entre os dentes e as gengivas e se formam devido à inflamação e destruição dos tecidos periodontais (NEWMAN et al., 2020).

Esses critérios auxiliam os profissionais de saúde bucal a avaliar a gravidade da doença periodontal e a determinar o plano de tratamento mais apropriado para cada paciente. A doença periodontal não tratada é considerada um fator de risco para contaminação da superfície do implante dentário, por meio de bactérias periodontopatógenas, com destaque para as Porphyromonas Gingivalis, Aggregatibacter Actinomycetemcomitans, Tannerella Forsythia, Treponema Denticola e Fusobacterium Nucleatum, tornando o paciente mais suscetível à periimplantite quando comparado a pacientes periodontalmente saudáveis (GLAUSER et al., 2001).

A osseointegração é um processo crucial para o sucesso dos implantes dentários e envolve a formação de uma conexão biológica direta entre o osso circundante e a superfície do implante. Para que essa união ocorra de forma eficaz, se faz necessária a integridade do tecido ósseo, ou seja, o osso ao redor do implante deve estar saudável e livre de doenças ósseas, como a periodontite (GUGLIELMOTTI, OLMEDO & CABRINI, 2019). 

Somado a isso, o processo cicatricial, em que as células ósseas migram para a superfície do implante e depositam, por meio dos osteoblastos, um novo osso, deve ocorrer de forma adequada após a inserção do implante, afim de que haja uma osteointegração bem-sucedida. A superfície do implante deve ser projetada para promover a adesão e a proliferação das células ósseas. Superfícies tratadas com técnicas como jateamento de partículas de titânio, anodização e revestimentos de hidroxiapatita têm demonstrado maior facilidade para a osseointegração. Por fim, a estabilidade primária é fundamental para promoção de um ambiente favorável à formação de osso em torno do implante (MARTINS et al., 2011).

Os processos da osseointegração precisam de uma interação complexa entre a superfície do implante, o osso circundante e fatores biológicos e sistêmicos do paciente. Quando todos esses elementos estão favorecidos e em condições adequadas, a integração ocorre proporcionando estabilidade e sucesso a longo prazo para o implante dentário (GUGLIELMOTTI, OLMEDO & CABRINI, 2019). 

3  METODOLOGIA 

Esta revisão bibliográfica foi produzida embasada em dados científicos das bases de dados MEDLINE via PubMed (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). 

Para realizar a seleção dos artigos foram utilizadas, como critérios de inclusão, pesquisas científicas que estivessem dentro da abordagem temática, disponíveis na íntegra e de forma gratuita, nos idiomas inglês, português e espanhol, datando de 2000 a 2024. E para busca desses estudos foram utilizadas as palavras-chave “Doenças periodontais”, “Implantes Dentários”, “Osseointegração”, “Prótese Dentária” e “Longevidade”, indexadas aos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS).

4  RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A peri-implantite e a mucosite peri-implantar são duas complicações associadas aos implantes dentários que podem ocorrer após a osseointegração. A peri-implantite é uma condição caracterizada pela inflamação que afeta os tecidos que circundam o implante dentário e, em estágios avançados, pode levar à mobilidade e perda do implante. Esse quadro é semelhante a periodontite, porém ocorre em torno dos implantes ao invés dos dentes naturais. A principal causa da peri-implantite é a presença de placa bacteriana e biofilme na região, que podem levar a uma resposta inflamatória do organismo (LINDHE & LANG, 2018). A mucosite peri-implantar é uma inflamação reversível da mucosa ao redor do implante dentário. Ela é caracterizada por vermelhidão, inchaço e sangramento na gengiva que circunda o implante, sem perda óssea associada (RENVERT et al., 2014).

Após a confirmação do diagnóstico, o tratamento da peri-implantite e da mucosite periimplantar envolve a remoção da placa bacteriana e biofilme através de raspagem e alisamento da superfície do implante, além de medidas para controlar a inflamação e promover a cicatrização dos tecidos. Em casos mais avançados de peri-implantite, pode ser necessário realizar procedimentos cirúrgicos para tratar a perda óssea e restaurar a saúde dos tecidos afetados, com o objetivo eliminar a infecção e reconstruir os tecidos perdidos no curso da doença (OPPERMANN & ROSING, 2013).

A presença de infecções locais na região do implante pode interferir no seu sucesso e longevidade, portanto é importante que o local esteja livre de doenças bacterianas, a fim de permitir a cicatrização e a integração óssea adequada. É de grande valia orientar o paciente sobre os cuidados pós-operatórios adequados, após a colocação do implante, com relação a manutenção da higiene oral, o uso de medicamentos prescritos e abstenção de evitar atividades que possam comprometer a integração do implante (SILVA et al., 2023).

O sucesso no implante dentário é fundamental para uma boa estabilidade da reabilitação protética, garantindo a capacidade da prótese de permanecer firmemente fixada na boca, permitindo ao paciente falar, mastigar e sorrir com saúde. A falta de retenção adequada pode resultar em desconforto, dificuldade na mastigação e fonação, bem como em uma redução significativa na qualidade de vida do paciente (DAVARPANAH et al., 2013)

Desse modo, se o implante se integra firmemente ao osso circundante através do processo de osseointegração, proporciona uma base sólida e estável para a prótese. A partir disso, a prótese dentária é moldada e produzida para se encaixar perfeitamente sobre o implante. É essencial que a prótese seja projetada com precisão, a fim de garantir uma distribuição uniforme da carga durante a mastigação e a fala. É importante asseverar que a prótese não se mova ou desaloje durante as atividades diárias. Além da função, a relação entre o implante e a prótese também desempenha um papel crucial na estética do sorriso. A prótese deve ser confeccionada para se integrar harmoniosamente com os tecidos circundantes e ter uma aparência natural (MISCH, 2006).

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A condição periodontal exerce um impacto significativo na osseointegração de implantes dentários e na estabilidade das próteses. É essencial que os pacientes mantenham uma saúde periodontal adequada antes, durante e após o tratamento, por meio de uma higiene oral rigorosa, acompanhamento odontológico regular e tratamento precoce de qualquer condição periodontal existente. A colaboração entre dentista e paciente é fundamental para devolver qualidade de vida ao paciente e obter resultados satisfatórios a longo prazo, proporcionando ao paciente uma restauração funcional e estética dos dentes ausentes.

REFERÊNCIAS

CORTELLI, Sheila Cavalca et al. Clinical status and detection of periodontopathogens and Streptococcus mutans in children with high levels of supragingival biofilm. Brazilian Oral Research, v. 23, p. 313-318, 2009.

DAVARPANAH, M. et al. Manual de Implantodontia Clínica Tradução: Eunice Gruman e Júlia Gruman Martins. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

ELIAS, Carlos Nelson. Factors affecting the success of dental implants. Implant dentistry: a rapidly evolving practice. Rijeka: InTech, p. 319-64, 2011.

GUGLIELMOTTI, María B.; OLMEDO, Daniel G.; CABRINI, Rómulo L. Research on implants and osseointegration. Periodontology 2000, v. 79, n. 1, p. 178-189, 2019.

GLAUSER, Roland et al. Immediate occlusal loading of Brånemark implants applied in various jawbone regions: a prospective, 1‐year clinical study. Clinical implant dentistry and related research, v. 3, n. 4, p. 204-213, 2001.

LINDHE, J.; LANG, N. P. Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral. 6. Ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, janeiro de 2018.

MARTINS, Vinícius et al. Osseointegração: análise de fatores clínicos de sucesso e insucesso. Revista odontológica de Araçatuba, v. 32, n. 1, p. 26-31, 2011.

MISCH, C. E. Prótese sobre Implantes. São Paulo: Santos, 625 p., 2006.

NEWMAN, M. G. et al. Newman e Carranza, Periodontia Clínica. 13. Ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, janeiro de 2020.

OPPERMANN, R. V.; ROSING, C. K. Periodontia para todos: da prevenção ao implante.1. Ed. São Paulo: Napoleão, p. 39-91, 2013.

PAPAPANOU, Panos N. et al. Periodontitis: Consensus report of workgroup 2 of the 2017 World Workshop on the Classification of Periodontal and Peri‐Implant Diseases and Conditions. Journal of periodontology, v. 89, p. S173-S182, 2018.

RENVERT, Stefan et al. Factors related to peri‐implantitis–a retrospective study. Clinical oral implants research, v. 25, n. 4, p. 522-529, 2014.

SILVA, Alexandre Chaves da. et al. Fatores que afetam a osseointegração: uma revisão integrativa. Brazilian Journal of Health Review, v. 6, n. 4, p. 18412-18423, 2023.


1Discente do curso superior de Odontologia do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) –Campus Graças, Recife – PE, Brasil. E-mail: louiseazevedo.odonto@gmail.com;

2Discente do curso superior de Odontologia do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) –Campus Boa Viagem, Recife – PE, Brasil. E-mail: mgabrielacontato@gmail.com;

3Discente do curso superior de Odontologia do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) – Campus Graças, Recife – PE, Brasil. E-mail: gabriel1999nsm@gmail.com;

4PHD em Implantodontia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) – Campus São Paulo, São Paulo – SP, Brasil. E-mail: piomoerbeck@hotmail.com;

5Formada no curso superior de Odontologia pela Universidade de Cuiabá – Campus Tangará da Serra, Tangará da Serra – MT, Brasil. E-mail: valquiria.odontologia@outlook.com;

6 Discente do curso superior de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) – Campus Valonguinho, Niterói – RJ, Brasil. E-mail: keycilasouzaa@gmail.com;

7Discente do curso superior de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) – Campus Valonguinho, Niterói – RJ, Brasil. E-mail: laraserpa@id.uff.br;

8 Discente do curso superior de Odontologia do Centro Universitário Facol (UNIFACOL) – Campus Vitória de Santo Antão, Vitória de Santo Antão – PE, Brasil. E-mail: brenndalys@hotmail.com;

9Formada no curso superior de Odontologia pelo Centro Universitário Tiradentes (Unit) – Campus Recife, Recife – PE, Brasil. E-mail: mallanycoimbra@gmail.com;

10Discente do curso superior de Odontologia da Universidade de Pernambuco (UPE) – Campus Arcoverde, Arcoverde – PE, Brasil. E-mail: ellen.nunes@upe.br;

11 Discente do curso superior de Odontologia pelo Centro Universitário Tiradentes (Unit) – Campus Farolândia, Aracaju – SE, Brasil. E-mail: juliacheves@hotmail.com;

12 Discente do curso superior de Odontologia do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) – Campus Aracaju, Aracaju – SE, Brasil. E-mail: adrissntos@hotmail.com;

13Formada no curso superior de Odontologia pela Universidade Federal do Paraná – Campus Ciências biológicas, Curitiba – PR, Brasil. E-mail: ju.macaric@gmail.com;

14 Formado no curso superior de Odontologia pela Universidade de Uberaba – Campus Uberaba, Uberaba – MG,Brasil. E-mail: lucasnovato@live.com;

15Discente do curso superior de Odontologia do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) – Campus Mossoró, Mossoró – RN, Brasil. E-mail: emilaynerodrigues08@gmail.com.