IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E SOLUÇÕES PARA EDIFICAÇÕES EM SOLOS ENCHARCADOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411161446


CARVALHO, Henrique Oliveira de1
GONÇALVES, Paulo Henrique Alcântara2


RESUMO: A construção em solos encharcados impõe desafios técnicos e econômicos substanciais à engenharia civil, exigindo soluções adequadas para garantir a estabilidade e a durabilidade das edificações. Esses terrenos, frequentemente caracterizados pela baixa capacidade de suporte e alta compressibilidade, são propensos a recalques diferenciais e outras patologias estruturais graves, como rachaduras e desalinhamentos. Este estudo examina as principais técnicas de intervenção utilizadas para enfrentar esses problemas, incluindo métodos de identificação geotécnica, estratégias de drenagem, técnicas de reforço de fundações e práticas de impermeabilização. A revisão de literatura e a análise de estudos de caso destacam que a aplicação de sistemas de drenagem eficazes – como drenos profundos e bombas de recalque – é crucial para reduzir a saturação do solo e controlar o acúmulo de água, minimizando deformações prejudiciais. Além disso, técnicas de reforço, como o uso de estacas profundas e radier, são exploradas como alternativas para transferir a carga da estrutura a camadas mais estáveis do solo, prevenindo problemas de recalque e assegurando maior segurança para a construção. A impermeabilização, por sua vez, é abordada como medida preventiva essencial para proteger materiais estruturais da umidade, evitando a corrosão de armaduras e a degradação do concreto. A análise de custo-benefício das soluções propostas revela que, embora os custos iniciais possam ser elevados, os benefícios econômicos são evidentes a longo prazo, uma vez que essas técnicas reduzem a necessidade de reparos e prolongam a vida útil das edificações. A pesquisa conclui que a construção em solos encharcados exige uma abordagem integrada, onde o diagnóstico e as intervenções são planejados em conjunto para enfrentar as condições adversas desses terrenos, garantindo, assim, a segurança e a sustentabilidade das edificações. 

Palavras-chave: Solos encharcados, Recalque diferencial, Drenagem, Fundações, Patologias estruturais 

1. INTRODUÇÃO  

A construção de edificações em solos encharcados apresenta desafios consideráveis para a engenharia civil, especialmente em termos de estabilidade estrutural e durabilidade das fundações. Esses terrenos, muitas vezes compostos por solos argilosos e moles, apresentam uma capacidade de suporte limitada e uma propensão a recalques diferenciais, que podem comprometer a integridade da estrutura ao longo do tempo (Ferreira Júnior, 2016). Nos solos saturados, o problema do recalque diferencial se torna mais grave, pois a presença de água entre os grãos de solo reduz sua capacidade de suportar cargas e aumenta a vulnerabilidade às deformações permanentes (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008). 

A questão é especialmente relevante em regiões onde os solos apresentam alta heterogeneidade de consistência e propriedades, como é comum no Brasil. Sem um planejamento geotécnico adequado e medidas de drenagem específicas, o solo saturado pode se comportar de maneira imprevisível, resultando em problemas estruturais variados e de diferentes graus de severidade, desde trincas e fissuras superficiais até problemas de desalinhamento e riscos de colapso parcial da construção (Oliveira, 2020; Santos, 2014). Nesses casos, a construção em solos saturados exige soluções preventivas específicas e a adoção de técnicas de drenagem, reforço e impermeabilização que minimizem o impacto das propriedades físicas adversas desses terrenos (Correa et al., 2016). 

No centro dessa discussão está a questão do recalque diferencial, uma patologia comum e particularmente perigosa em solos encharcados. Esse fenômeno se caracteriza pela acomodação desigual das fundações, o que provoca um desnível na estrutura e compromete sua estabilidade. Estudos apontam que, em muitos casos, o recalque diferencial é exacerbado pela falta de drenagem adequada, que impede o escoamento do excesso de água e mantém o solo em um estado de saturação constante, aumentando o risco de deformações (Paula et al., 2017). Em solos argilosos, onde o escoamento da água é mais lento, o recalque pode se estender por um longo período, tornando-se um processo contínuo que degrada a estrutura aos poucos (Rebello apud Santos, 2014). 

Este estudo investiga, assim, as práticas e estratégias para a construção em solos encharcados, examinando as técnicas que permitem diagnosticar e mitigar os problemas estruturais associados a esses terrenos. O problema de pesquisa busca responder como identificar e aplicar as melhores soluções para as fundações de edificações em solos saturados, de forma a garantir a estabilidade e a segurança da estrutura ao longo de sua vida útil. A escolha do tema é justificada pelo impacto direto que o recalque diferencial e outros problemas relacionados ao solo têm sobre a durabilidade das construções, elevando os custos de manutenção e representando um risco para a segurança pública (Silveira e Silva, 2021). 

Além disso, a relevância da questão ultrapassa o âmbito técnico, destacando-se como uma problemática que expõe, de forma crítica, a fragilidade das práticas construtivas tradicionais em face de um ambiente natural imprevisível. Em regiões com lençol freático elevado ou em áreas sujeitas a inundações sazonais, a necessidade de técnicas de drenagem contínua torna-se imperativa para evitar que o solo saturado se torne um fator de risco permanente (IBDA, 2022). Em última instância, esses desafios forçam a engenharia a desenvolver soluções mais sofisticadas, que vão desde sistemas de poços e bombas de drenagem até fundações profundas e técnicas de estabilização do solo, que visam adequar as condições geotécnicas para suportar cargas estruturais sem deformações excessivas (Velloso & Lopes, 2004). 

O objetivo geral deste artigo é examinar criticamente as práticas adotadas para mitigar os efeitos dos solos saturados em edificações, questionando a eficácia e a viabilidade dessas soluções e apresentando recomendações baseadas em estudos de caso relevantes. Especificamente, busca-se identificar métodos de diagnóstico de solo e de patologia estrutural, analisando como diferentes técnicas de drenagem, reforço de fundações e impermeabilização podem ser aplicadas para lidar com os desafios geotécnicos desses terrenos (Dias e Chaves, 2020; Reis e Garcia, 2020). 

A delimitação do tema se concentra nas edificações de pequeno e médio porte, onde os impactos dos recalques diferenciais e das patologias estruturais são mais notórios e desafiadores de se mitigar, considerando os recursos limitados em comparação com grandes obras de infraestrutura. O foco é, portanto, em edificações que compõem o tecido urbano e rural comum, as quais são frequentemente afetadas pela ausência de estudos geotécnicos detalhados e de sistemas de drenagem adequados, realidade amplamente observada em diversas cidades brasileiras (Franco e Niedermeyer, 2017). 

A estrutura do artigo acompanha a lógica do processo construtivo, iniciando com a caracterização dos solos encharcados e as patologias estruturais típicas que surgem em tais contextos. Em seguida, são abordadas as técnicas de diagnóstico e identificação de patologias, que permitem avaliar o estado do solo e prever eventuais recalques. Posteriormente, discutem se as estratégias de drenagem e estabilização de fundações, consideradas cruciais para a adaptação do solo ao peso estrutural e para a minimização de recalques (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008). 

Na seção de impermeabilização, explora-se o papel das técnicas de proteção das fundações contra a umidade e a corrosão, medidas essenciais para garantir a durabilidade da construção em contato com um ambiente constantemente saturado (CAMPANTE e BAÍA, 2003). Finalmente, a análise inclui estudos de caso secundários, como o da Escola Municipal O Pequeno Príncipe, onde a aplicação de técnicas de drenagem e reforço foi monitorada e os resultados evidenciaram uma estabilização significativa da estrutura após a instalação de sistemas adequados de escoamento de água (Silveira e Silva, 2021). 

Esse enfoque multifocal nas soluções adotadas permite observar a relação direta entre a intervenção técnica e a integridade estrutural de edificações em solos saturados, questionando se as práticas atualmente adotadas são realmente eficazes ou apenas medidas paliativas para lidar com uma realidade geotécnica que, muitas vezes, exige uma abordagem mais criteriosa e comprometida com a segurança e a longevidade das construções. 

2. REFERENCIAL TEÓRICO 

2.1 Solos encharcados e suas características geotécnicas 

Os solos encharcados, especialmente os argilosos e moles, apresentam um comportamento geotécnico que os torna desafiadores para a construção civil, uma vez que suas propriedades físicas são alteradas pela presença contínua de água. Em solos saturados, os poros entre as partículas do solo são preenchidos com água, reduzindo significativamente a resistência ao cisalhamento e a capacidade de suporte do solo. A saturação também aumenta o risco de deformações permanentes, especialmente quando ocorrem variações sazonais no nível de umidade, que provocam movimentos de expansão e contração no solo, afetando diretamente a estabilidade das fundações (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008). 

O comportamento desses solos, por sua vez, está intimamente ligado ao tipo de partículas que o compõem. Solos argilosos, por exemplo, possuem partículas extremamente pequenas e são altamente coesivos, o que facilita a retenção de água e os torna suscetíveis a variações volumétricas. Em áreas com alta precipitação ou lençol freático elevado, o solo argiloso pode permanecer saturado durante longos períodos, o que, na ausência de sistemas adequados de drenagem, resulta em recalques diferenciais – uma patologia comum e indesejada em construções (Correa et al., 2016). A literatura geotécnica aponta que solos com tais características requerem intervenções específicas e meticulosas, como o uso de fundações profundas ou técnicas de reforço e estabilização para garantir a segurança e a durabilidade das estruturas (Ferreira Júnior, 2016). 

Em termos geotécnicos, o parâmetro de compressibilidade dos solos moles é outro fator crítico a ser considerado. A compressibilidade indica a capacidade de um solo de deformar-se sob uma carga constante, e solos saturados tendem a apresentar alta compressibilidade. Como resultado, edificações construídas em solos moles podem sofrer afundamentos não uniformes, afetando a estrutura e levando ao aparecimento de rachaduras e fissuras, que não apenas prejudicam a estética, mas comprometem a estabilidade estrutural. Essas características ressaltam a importância de se considerar a geologia local e de realizar investigações geotécnicas detalhadas antes de qualquer empreendimento em solos com alto teor de umidade (Paula et al., 2017). 

2.2. Patologias estruturais associadas a solos encharcados 

Edificações construídas sobre solos encharcados estão suscetíveis a uma série de patologias estruturais que, quando não tratadas adequadamente, podem comprometer a integridade e a durabilidade das construções. As patologias mais comuns incluem fissuras, rachaduras, recalques diferenciais e desalinhamentos, que surgem principalmente devido à capacidade reduzida de suporte dos solos saturados. Em solos argilosos e moles, onde a presença de água entre as partículas reduz a coesão e aumenta a compressibilidade, o solo torna-se mais suscetível a deformações não uniformes, resultando em danos estruturais frequentes (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008). 

O recalque diferencial, uma das patologias mais graves associadas a solos encharcados, ocorre quando há uma acomodação desigual da estrutura, que pode levar a um desnível perigoso e irreversível na fundação. Esse problema é especialmente comum em solos argilosos de alta compressibilidade, que tendem a se compactar de forma desigual sob a carga estrutural, produzindo rachaduras e fissuras que se espalham pela estrutura. Rebello (2014) observa que esses recalques, além de desestabilizarem a construção, aumentam a necessidade de reparos corretivos, onerando significativamente os custos de manutenção e podendo, em casos extremos, comprometer a segurança dos ocupantes. 

Outro aspecto relevante é a degradação de materiais, como concreto e aço, devido à exposição constante à umidade em solos saturados. Em ambientes encharcados, a água no solo pode conter agentes químicos agressivos que aceleram a corrosão do aço e a lixiviação do concreto, especialmente quando não há medidas adequadas de impermeabilização. A corrosão das armaduras de aço dentro das fundações e pilares, por exemplo, reduz a resistência e compromete a integridade estrutural, o que torna indispensável o uso de revestimentos e técnicas de proteção em construções sobre esses solos (Campante e Baía, 2003). 

Estudos sobre manifestações patológicas em fundações de solos encharcados indicam ainda que a ausência de sistemas de drenagem eficientes agrava as patologias estruturais, uma vez que o acúmulo de água aumenta a saturação do solo, intensificando as deformações e recalques (Santos, 2014). Diante dessas condições, a prevenção de patologias em solos encharcados requer uma análise geotécnica rigorosa, bem como a aplicação de técnicas de drenagem e reforço de fundações que reduzam os riscos de movimentação diferencial e a degradação dos materiais estruturais. 

2.3 Métodos de diagnóstico e identificação de solos encharcados 

A identificação e análise precisa de solos encharcados antes da construção é uma etapa essencial para prever e mitigar problemas estruturais. Métodos de diagnóstico geotécnico, como sondagens, ensaios de permeabilidade e testes de compressibilidade, são fundamentais para caracterizar a condição do solo e identificar sua capacidade de suporte em relação ao nível de saturação. A sondagem a percussão, um dos métodos mais utilizados, permite avaliar a resistência do solo em profundidade e é especialmente útil em solos moles ou saturados, fornecendo dados sobre as camadas do subsolo e detectando possíveis áreas de baixa resistência que podem causar recalques diferenciais (Santos, 2014). 

Os ensaios de permeabilidade também são cruciais para entender o comportamento dos solos encharcados, especialmente em solos argilosos que retêm água com facilidade e escoam lentamente. Esse tipo de teste permite estimar o coeficiente de permeabilidade, ou seja, a capacidade do solo de transmitir água, que é essencial para prever o acúmulo de umidade e identificar áreas onde a drenagem será mais necessária. Em solos de baixa permeabilidade, o excesso de água pode permanecer retido por longos períodos, aumentando a probabilidade de saturação e tornando o solo mais suscetível a deformações indesejáveis (Velloso & Lopes, 2004). 

Outros métodos de análise, como os ensaios de compressibilidade e de resistência ao cisalhamento, são igualmente importantes. Esses ensaios permitem prever a deformabilidade do solo sob a carga estrutural e a estabilidade do solo ao suportar o peso das edificações. Solos com alta compressibilidade, como os argilosos saturados, apresentam uma tendência a recalques acentuados, o que compromete diretamente a estrutura da edificação (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008). Além disso, a resistência ao cisalhamento é um parâmetro crucial para medir a coesão do solo e sua capacidade de resistir a deslizamentos e falhas de suporte. 

A ausência de uma investigação geotécnica detalhada antes da construção é um fator de risco elevado para patologias estruturais. Estudos indicam que a implementação de métodos de diagnóstico eficazes reduz significativamente os custos de manutenção e aumenta a segurança estrutural das edificações em solos saturados (Correa et al., 2016). Ao identificar as características geotécnicas e a saturação do solo, engenheiros e construtores podem planejar soluções específicas, como sistemas de drenagem e reforço de fundações, para mitigar os riscos associados à construção em solos encharcados. 

2.4. Estratégias de drenagem para solos encharcados 

A drenagem é uma das estratégias fundamentais para a construção segura em solos encharcados, pois controla o acúmulo de água no subsolo e reduz a saturação, aumentando a estabilidade do terreno. Em terrenos sujeitos a umidade constante, como áreas com lençol freático elevado ou de alta precipitação, sistemas de drenagem são indispensáveis para evitar recalques diferenciais e a degradação das fundações. Diversas técnicas de drenagem podem ser aplicadas, incluindo drenos profundos, poços de drenagem e bombas de recalque, cada uma com suas particularidades e aplicações específicas conforme o tipo e a extensão da saturação do solo (Paula et al., 2017). 

Drenos profundos, como drenos verticais e horizontais, são comumente empregados para reduzir a pressão de água nos solos moles e argilosos, promovendo um escoamento controlado da água subterrânea e melhorando as condições de suporte do solo. Esses sistemas permitem que o solo atinja um estado de equilíbrio em menor tempo, reduzindo os recalques e estabilizando o terreno (Santos, 2014). Os drenos verticais, em particular, são recomendados em solos de baixa permeabilidade, onde o acúmulo de água é mais persistente, pois ajudam a escoar a água das camadas mais profundas do solo para as mais superficiais, onde é mais fácil de ser drenada. 

Os poços de drenagem e as bombas de recalque são soluções empregadas principalmente em situações emergenciais, onde o acúmulo de água é muito elevado e ameaça diretamente a estrutura da edificação. Essas técnicas são altamente eficazes, mas exigem monitoramento constante e manutenção regular para evitar que a água retorne ao solo e cause novos problemas de saturação. Estudos de caso em locais como Matão/SP demonstram que o uso de poços e bombas de recalque pode ser essencial para a manutenção da estabilidade estrutural, especialmente em áreas onde o lençol freático se encontra muito próximo à superfície (Ferreira Júnior, 2016). 

Além das técnicas tradicionais, outras alternativas como o uso de barreiras impermeabilizantes ao redor das fundações têm sido exploradas para evitar que a água atinja as camadas mais profundas do solo. Essas barreiras limitam a infiltração, protegendo diretamente a fundação contra a umidade, e são recomendadas em áreas onde a drenagem completa do solo seria impraticável ou economicamente inviável (Campante e Baía, 2003). Assim, a drenagem não apenas minimiza a presença de água no solo, mas também contribui para aumentar a vida útil dos materiais estruturais, prevenindo patologias como a corrosão de aço e a degradação de concreto. 

Portanto, as estratégias de drenagem para solos encharcados não são meramente preventivas, mas também atuam como elementos essenciais de adaptação da construção às características geotécnicas do local. A escolha da técnica mais adequada deve considerar o tipo de solo, a profundidade do lençol freático e as especificidades da edificação. Com sistemas de drenagem bem planejados e mantidos, é possível não apenas reduzir os riscos de recalques e rachaduras, mas também assegurar a estabilidade e a segurança das edificações a longo prazo (Velloso & Lopes, 2004). 

3. METODOLOGIA  

Este estudo é desenvolvido com base em uma pesquisa exploratória e descritiva, de abordagem qualitativa, focada em reunir e analisar informações sobre técnicas e práticas aplicadas para construção em solos encharcados. O objetivo principal da metodologia é compreender como as estratégias de diagnóstico, drenagem, reforço de fundações e impermeabilização podem ser utilizadas para assegurar a estabilidade e durabilidade das edificações em terrenos saturados. Como a pesquisa não envolve coleta de dados primários, utiliza-se a análise de estudos de caso extraídos da literatura e artigos científicos para fundamentar o entendimento teórico e técnico. 

A revisão integrativa deste estudo foi conduzida com o propósito de reunir e sintetizar conhecimentos sobre a construção em solos encharcados, um campo que, embora tradicional, apresenta desafios técnicos significativos e exige o constante aprimoramento das práticas e tecnologias aplicadas. Ao integrar a literatura científica recente e estudos de caso, a revisão proporciona uma visão ampla das melhores práticas para mitigar os problemas de instabilidade e patologias estruturais associados aos solos saturados, oferecendo subsídios teóricos para a tomada de decisão em projetos de engenharia. 

O processo de revisão foi estruturado em cinco etapas principais: definição do problema de pesquisa, identificação das bases de dados, seleção de estudos relevantes, avaliação da qualidade das fontes e síntese das evidências. Primeiramente, definiu-se a questão central – identificar as principais técnicas para a construção segura e estável em terrenos encharcados –, visando destacar tanto os avanços recentes quanto as limitações das abordagens tradicionais. A partir disso, consultaram-se bases de dados reconhecidas, como a ScienceDirect, Google Scholar, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e o portal de periódicos da CAPES, para assegurar a relevância e atualidade das publicações selecionadas. 

Na seleção dos estudos, foram incluídos artigos, dissertações, livros e relatórios técnicos publicados nos últimos dez anos, embora algumas obras clássicas e referências anteriores tenham sido mantidas para fundamentar aspectos teóricos essenciais. Priorizaram-se estudos que abordavam temas como recalques diferenciais, drenagem, reforço de fundações e patologias estruturais em solos saturados, especialmente aqueles que apresentavam estudos de caso detalhados ou revisões sistemáticas. Autores como Milititsky, Consoli e Schnaid (2008) foram fundamentais para a compreensão da mecânica dos solos saturados, enquanto pesquisas mais aplicadas, como as de Paula et al. (2017), forneceram dados empíricos sobre a eficácia das técnicas de drenagem e reforço em terrenos de baixa capacidade de suporte. 

A avaliação das fontes incluiu a análise crítica dos métodos e resultados apresentados, considerando tanto a aplicabilidade prática quanto às limitações de cada abordagem. Estudos como o de Santos (2014), que documenta o uso de sondagens e ensaios de compressibilidade para avaliar a estabilidade de solos encharcados, contribuíram para identificar os métodos mais precisos de diagnóstico. Esses estudos indicam que a realização de análises geotécnicas prévias reduz significativamente os riscos de patologias estruturais ao prever o comportamento do solo sob condições de carga e umidade. 

A síntese das evidências revelou que as estratégias mais eficazes para lidar com solos encharcados incluem sistemas de drenagem profundos, drenos verticais, impermeabilização e o reforço de fundações com estacas profundas. Ferreira Júnior (2016) destaca a importância do uso de poços de drenagem e bombas de recalque em locais de lençol freático elevado, demonstrando que esses métodos não apenas minimizam a saturação do solo, mas também proporcionam uma maior estabilidade estrutural a médio e longo prazo. De forma complementar, estudos sobre impermeabilização, como o de Campante e Baía (2003), apontam que a proteção contra a umidade nas fundações previne a corrosão de materiais e evita patologias que afetam a durabilidade da construção. 

Além das técnicas de intervenção direta, a revisão integrativa identificou a relevância da avaliação de custos e benefícios para cada tipo de solução. Métodos mais onerosos, como as fundações profundas, são frequentemente compensados pela redução nos custos de manutenção e pela prevenção de problemas estruturais graves, conforme demonstrado nos estudos de Velloso & Lopes (2004) e Franco & Niedermeyer (2017). Por outro lado, em casos onde o orçamento é restrito, a escolha de técnicas de drenagem pontuais e de fácil manutenção, como drenos horizontais, pode representar uma alternativa viável para controlar a saturação do solo e evitar recalques diferenciais. 

Em síntese, a revisão integrativa destaca que a escolha de técnicas de construção em solos encharcados depende de fatores como o tipo de solo, a profundidade do lençol freático, o porte da edificação e as limitações orçamentárias. Embora a literatura recomende abordagens combinadas – incluindo sistemas de drenagem, impermeabilização e reforço de fundações –, observa-se que a eficácia de cada método varia conforme as condições específicas de cada projeto. A integração dessas evidências oferece uma visão mais completa e prática para engenheiros e projetistas, que podem, assim, fundamentar suas decisões em um panorama que abarca tanto os avanços técnicos quanto as restrições e desafios da construção em solos saturados. 

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS   

4.1 Recalque diferencial e instabilidade em solos saturados 

O recalque diferencial é uma das principais manifestações patológicas associadas à construção em solos encharcados, sendo responsável por diversas anomalias estruturais em edificações. Esse fenômeno ocorre quando o solo, saturado e incapaz de suportar uniformemente a carga da estrutura, cede de maneira desigual, causando desníveis que comprometem a integridade e a segurança da construção (Ferreira Júnior, 2016). Em solos argilosos, caracterizados pela alta compressibilidade e pela retenção de água, o recalque diferencial tende a ocorrer de forma mais acentuada, pois esses solos apresentam grande variação volumétrica ao se expandirem e contraírem conforme a umidade (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008). 

A instabilidade causada pelo recalque diferencial não apenas compromete a segurança estrutural, mas também implica elevados custos de manutenção, uma vez que fissuras, rachaduras e desalinhamentos exigem intervenções frequentes para evitar o agravamento da situação. Rebello (2014) observa que os custos com reparos de recalques diferenciais em solos encharcados representam uma carga financeira considerável, especialmente quando a edificação não foi projetada com um sistema adequado de drenagem e reforço de fundações. Esse cenário ressalta a importância de considerar o comportamento do solo desde a fase de planejamento do projeto, uma vez que o recalque diferencial, uma vez iniciado, é difícil de corrigir sem medidas significativas de estabilização e reforço. 

Estudos indicam que a prevenção do recalque diferencial em solos saturados depende da implementação de técnicas de drenagem que controlem o nível de água no solo, reduzindo a saturação e, consequentemente, a compressibilidade do terreno. Em áreas onde o lençol freático se encontra em nível elevado, o uso de drenos verticais e horizontais, bem como de sistemas de bombeamento, pode ser crucial para minimizar a deformação do solo e garantir que a carga da edificação seja distribuída de maneira uniforme (Velloso & Lopes, 2004). 

Além dos sistemas de drenagem, a escolha das fundações é um fator decisivo para mitigar os efeitos do recalque diferencial. Em solos moles e saturados, as fundações superficiais são insuficientes para suportar as cargas de maneira segura, o que torna recomendável o uso de fundações profundas, como estacas, que transferem a carga para camadas mais estáveis do solo. Paula et al. (2017) explicam que fundações profundas são especialmente adequadas para solos de baixa resistência, pois atingem camadas onde o impacto da saturação é menor, oferecendo suporte mais estável e reduzindo os riscos de recalque diferencial. 

Apesar das técnicas disponíveis, a literatura ressalta que o recalque diferencial em solos saturados é um problema que, em muitos casos, só pode ser controlado e não completamente eliminado. Isso ocorre porque, mesmo com a drenagem, o solo pode retomar a saturação devido a fatores externos, como chuvas intensas ou flutuações do lençol freático. Portanto, o monitoramento contínuo do comportamento do solo é uma medida essencial para assegurar que os sistemas de drenagem e reforço das fundações estejam funcionando adequadamente e que o recalque diferencial permaneça dentro de limites aceitáveis (Santos, 2014). 

Em síntese, o recalque diferencial é uma manifestação que exige uma abordagem preventiva e integradora, combinando análise geotécnica, sistemas de drenagem eficientes e fundações projetadas para suportar as particularidades dos solos saturados. A prevenção e o controle desse fenômeno não apenas evitam danos estruturais graves, mas também contribuem para a segurança e a longevidade da construção. 

4.2 Técnicas de reforço de fundações para solos encharcados 

A escolha das fundações adequadas em solos encharcados é fundamental para assegurar a estabilidade e a durabilidade das edificações. Em terrenos com alta saturação, onde as camadas superficiais do solo apresentam baixa resistência e elevada compressibilidade, as fundações superficiais frequentemente não são capazes de oferecer o suporte necessário para suportar o peso da construção. Nesse contexto, técnicas de fundações profundas, como o uso de estacas, estacas-prancha e até fundações em radier, se destacam como alternativas eficazes para transferir a carga estrutural a camadas mais profundas e estáveis do solo (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008). 

O uso de estacas é amplamente documentado como uma das soluções mais eficazes para solos saturados, uma vez que essas fundações alcançam camadas de solo menos afetadas pela saturação e pela variabilidade de umidade. Estudos indicam que estacas cravadas e estacas hélice contínua são particularmente eficazes em terrenos argilosos, pois evitam que a carga da estrutura seja absorvida pela camada superficial de baixa resistência. Paula et al. (2017) destacam que estacas de concreto armado, que resistem melhor à corrosão em ambientes úmidos, são especialmente recomendadas em solos encharcados. 

Outra técnica relevante é o uso de estacas-prancha, que combinam o reforço da fundação com a contenção do solo, especialmente em áreas sujeitas a deslizamentos ou movimentações laterais. A literatura sobre geotécnica observa que as estacas-prancha são eficazes na contenção de solos moles e encharcados, pois, além de distribuir a carga, criam uma barreira física que limita a movimentação do solo ao redor da estrutura. Santos (2014) observa que, ao impedir o deslocamento do solo, as estacas-prancha reduzem os recalques diferenciais e estabilizam o terreno ao redor da construção. 

O radier também é uma técnica empregada em solos com baixa capacidade de carga, pois distribui a carga da edificação sobre uma área maior. Esse tipo de fundação é indicado para construções leves a médias, onde o peso da estrutura pode ser distribuído de maneira homogênea, minimizando a pressão sobre o solo encharcado e reduzindo os riscos de recalque. Ferreira Júnior (2016) descreve o radier como uma opção viável para edificações de pequeno e médio porte em solos argilosos saturados, especialmente quando combinado com sistemas de drenagem adequados para controlar a umidade ao redor das fundações. 

Essas técnicas de reforço de fundação são essenciais não apenas para suportar o peso das edificações, mas também para proteger a estrutura contra os efeitos de recalques diferenciais e da saturação prolongada. A escolha entre estacas, estacas-prancha ou radier deve considerar as características geotécnicas específicas do solo, a profundidade do lençol freático e as condições de umidade que afetam a compressibilidade e a resistência do solo. Embora sejam técnicas mais onerosas, os custos iniciais são frequentemente compensados pela redução das necessidades de manutenção e pela prevenção de patologias estruturais que surgem com a instabilidade dos solos encharcados (Correa et al., 2016). 

4.3 Técnicas de impermeabilização em estruturas construídas sobre solos encharcados 

A impermeabilização é uma medida preventiva essencial em edificações construídas sobre solos encharcados, uma vez que protege as fundações e demais elementos estruturais contra a infiltração de água e o efeito corrosivo da umidade constante. A presença de água no solo em contato com as fundações pode acelerar a degradação de materiais, como a corrosão do aço e a lixiviação do concreto, prejudicando a durabilidade e a integridade estrutural da construção (Campante e Baía, 2003). Soluções de impermeabilização adequadas não apenas previnem essas patologias, mas também asseguram que a estrutura mantenha sua estabilidade ao longo do tempo. 

A aplicação de membranas impermeabilizantes ao redor das fundações é uma das estratégias mais comuns para evitar a infiltração de água. Essas membranas formam uma barreira protetora que impede que a umidade do solo entre em contato com os elementos estruturais, minimizando o risco de corrosão e degradação. Estudos de Santos (2014) ressaltam que membranas de alta resistência e flexibilidade são recomendadas em solos encharcados, pois suportam melhor as variações de umidade e a movimentação do solo. 

Além das membranas, o uso de revestimentos impermeabilizantes aplicados diretamente sobre o concreto das fundações é outra técnica amplamente empregada. Esses revestimentos protegem as superfícies expostas à umidade e criam uma camada resistente à água, que ajuda a evitar a penetração da umidade nas camadas internas da estrutura. Em regiões onde o solo é permanentemente úmido, revestimentos de alta aderência e elasticidade são essenciais para prevenir o desgaste prematuro e garantir a longevidade do concreto (Ferreira Júnior, 2016). 

Outro recurso importante é o uso de aditivos impermeabilizantes na própria mistura de concreto, uma técnica que aumenta a resistência à água e reduz a porosidade do material. Essa abordagem é eficaz especialmente em construções onde a umidade do solo é persistente e de difícil controle. A literatura recomenda que, em solos saturados, os aditivos sejam combinados com sistemas de drenagem adequados para proporcionar uma proteção completa das fundações contra a infiltração. Paula et al. (2017) observaram que essa prática, ao reduzir a necessidade de manutenção preventiva, também reduz os custos associados a reparos futuros. 

Além das técnicas aplicadas diretamente nas fundações, barreiras impermeabilizantes podem ser instaladas em torno da edificação, criando uma zona seca ao redor da construção. Essas barreiras, também chamadas de cortinas de impermeabilização, evitam que a água do solo se aproxime das fundações e são particularmente eficazes em terrenos onde o lençol freático é elevado. Velloso & Lopes (2004) argumentam que as barreiras de impermeabilização são essenciais para a estabilidade das fundações, pois permitem que o solo ao redor permaneça seco, minimizando os recalques diferenciais. 

Portanto, as técnicas de impermeabilização representam uma camada de proteção essencial para qualquer edificação sobre solo encharcado, complementando as estratégias de drenagem e reforço de fundação. A seleção da técnica mais apropriada depende das características do solo, do grau de saturação e da vulnerabilidade dos materiais estruturais, bem como do orçamento disponível. Em conjunto com outras práticas preventivas, a impermeabilização assegura que as fundações resistam aos efeitos corrosivos da umidade e prolonga a vida útil da estrutura, reduzindo os riscos de patologias estruturais. 

4.4 Análise de custos e benefícios das técnicas de intervenção 

A análise de custos e benefícios das técnicas de intervenção em solos encharcados é um aspecto crucial para a viabilidade de qualquer projeto de construção. Em solos saturados, onde os desafios geotécnicos são elevados e as necessidades de estabilização e drenagem são contínuas, o custo inicial de implementação das técnicas pode ser considerável. No entanto, estudos apontam que os investimentos em técnicas adequadas para drenagem, impermeabilização e reforço de fundações, embora elevados, são frequentemente compensados pela redução dos custos com reparos corretivos e pela maior durabilidade da estrutura (Ferreira Júnior, 2016). 

O uso de sistemas de drenagem, como drenos profundos e bombas de recalque, implica em um custo inicial de instalação e em despesas periódicas de manutenção, mas reduz significativamente os riscos de recalques diferenciais e protege a estrutura contra a infiltração de água. Paula et al. (2017) observaram que a drenagem eficiente pode minimizar a necessidade de correções estruturais ao longo da vida útil da edificação, o que, a longo prazo, representa uma economia considerável, especialmente em construções de médio e grande porte. Além disso, em áreas onde o lençol freático é elevado, a drenagem reduz a saturação do solo e aumenta sua capacidade de suporte, evitando recalques e, consequentemente, custos elevados com reparos estruturais. 

O reforço das fundações, por meio de estacas ou radier, é uma técnica que geralmente apresenta um custo superior em comparação às fundações superficiais. Contudo, esse custo adicional é justificado pela segurança e estabilidade que essas fundações proporcionam em terrenos de baixa resistência. Velloso & Lopes (2004) destacam que, para projetos de edificações em solos moles ou saturados, a implementação de fundações profundas reduz os riscos de recalque diferencial e aumenta a durabilidade da estrutura, o que representa uma vantagem econômica ao minimizar a necessidade de intervenções corretivas. Em construções onde o orçamento é restrito, o uso de estacas em locais estratégicos ou o reforço das camadas superficiais pode ser uma alternativa para equilibrar custo e desempenho estrutural. 

A impermeabilização, embora não ofereça diretamente uma solução para a saturação do solo, previne patologias relacionadas à umidade, como a corrosão do aço e a degradação do concreto. Campante e Baía (2003) argumentam que o uso de membranas e revestimentos impermeabilizantes representa uma medida preventiva eficaz, pois reduz a frequência de reparos e aumenta a vida útil dos materiais estruturais, resultando em economia a longo prazo. Além disso, a utilização de aditivos impermeabilizantes no concreto, apesar de ter um custo inicial mais elevado, reduz a porosidade do material e melhora sua resistência à água, o que é essencial em solos encharcados. 

Por outro lado, é importante observar que o custo-benefício de cada técnica pode variar significativamente conforme as condições geotécnicas específicas do terreno e as características do projeto. Em alguns casos, a combinação de métodos, como a drenagem associada ao uso de barreiras impermeabilizantes, pode representar um custo mais elevado inicialmente, mas fornecer uma solução de proteção abrangente, que minimiza riscos e previne patologias. Santos (2014) observa que, em terrenos com condições de alta saturação, essas combinações de técnicas podem ser decisivas para evitar futuros gastos com reparos estruturais, tornando-se a escolha mais econômica ao longo da vida útil da edificação. 

Essa análise de custos e benefícios, portanto, deve ser realizada com base em um estudo geotécnico detalhado, que permita ao engenheiro determinar as técnicas que melhor equilibram os custos com a eficácia e a durabilidade exigidas pelo projeto. Cada técnica de intervenção em solos encharcados traz consigo uma série de vantagens e limitações, e o planejamento econômico é essencial para assegurar que os recursos sejam alocados de forma estratégica, visando a máxima proteção estrutural e a minimização de despesas futuras. 

CONCLUSÃO   

A construção em solos encharcados demanda uma abordagem geotécnica rigorosa e soluções técnicas que vão além das práticas convencionais, devido aos riscos significativos de instabilidade e patologias estruturais que tais terrenos oferecem. O presente estudo evidenciou a importância da integração de métodos de diagnóstico, drenagem, reforço de fundações e impermeabilização para garantir a segurança e durabilidade das edificações em solos saturados. As características geotécnicas desses solos, especialmente dos argilosos e moles, apresentam desafios substanciais para a construção civil, sendo os recalques diferenciais e a degradação de materiais as manifestações mais comuns e problemáticas (Milititsky, Consoli e Schnaid, 2008).  

A análise das técnicas de intervenção revelou que a aplicação de sistemas de drenagem eficientes, como drenos profundos e bombas de recalque, é fundamental para controlar a saturação do solo e prevenir deformações que comprometem as fundações. Embora as soluções de drenagem exijam um investimento considerável e manutenção periódica, elas são essenciais para manter a estabilidade do terreno e reduzir a probabilidade de patologias estruturais a longo prazo (Paula et al., 2017). Além disso, as técnicas de impermeabilização e o uso de aditivos no concreto garantem proteção adicional contra a umidade, prevenindo a corrosão do aço e o desgaste precoce do concreto, que são comuns em ambientes de solo saturado (Campante e Baía, 2003). 

As técnicas de reforço de fundação, como estacas e radier, demonstraram-se eficazes para transferir a carga da estrutura a camadas mais estáveis, mitigando o risco de recalques diferenciais e aumentando a segurança da construção. No entanto, a escolha da técnica de fundação mais adequada depende das condições específicas do solo e das características da edificação, exigindo uma análise geotécnica detalhada para determinar a solução que melhor equilibra custos e durabilidade (Ferreira Júnior, 2016). 

O estudo conclui que, apesar dos altos custos iniciais associados a essas técnicas de intervenção, o investimento em estratégias preventivas oferece um retorno positivo, minimizando despesas futuras com manutenção e garantindo a longevidade da estrutura. A análise de custo-benefício demonstrou que métodos de reforço e impermeabilização, quando combinados com sistemas de drenagem adequados, não apenas reduzem a necessidade de reparos corretivos, mas também representam uma economia a longo prazo para o proprietário e para o gestor do empreendimento (Santos, 2014). 

Assim, a construção em solos encharcados requer uma visão integrada, onde o diagnóstico geotécnico, a escolha das fundações e as técnicas de drenagem e impermeabilização trabalhem de maneira sinérgica. O sucesso de projetos em terrenos saturados depende de uma combinação de abordagens que garantam a adaptação do solo às cargas estruturais e minimizem os efeitos da umidade no solo e nos materiais de construção. Portanto, é recomendável que projetos em solos encharcados sigam uma abordagem que integre essas técnicas desde o planejamento inicial, considerando as especificidades geotécnicas de cada local e as demandas estruturais da edificação. 

O presente estudo também reforça a necessidade de pesquisas futuras que explorem novas tecnologias de construção em solos saturados, incluindo o desenvolvimento de materiais com maior resistência à umidade e métodos de monitoramento mais precisos para avaliar o comportamento do solo ao longo do tempo. Em um cenário onde a urbanização expande-se para áreas com condições geotécnicas desafiadoras, como regiões de solo encharcado, a engenharia civil precisa investir em soluções inovadoras que combinem eficiência, sustentabilidade e acessibilidade. Em última análise, a construção em solos encharcados é um lembrete do papel essencial da geotécnica na adaptação das edificações ao ambiente natural, promovendo segurança e durabilidade para edificações em condições adversas. 

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1UniBRASÍLIA, henriqueoliveiradecarvalho2@gmail.com
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