HUMANIZATION, ETHICS AND BIOETHICS IN HEALTHCARE ESTABLISHMENTS: A CRITICAL REFLECTION ON BLADDER CATHETERIZATIONS PERFORMED BY NURSES AND PATIENTS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10462312
Rebeca Ferreira de Souza1
Nathália Vasconcelos Marra1
Suellen Rodrigues Mendonça1
Ana Letícia Rodrigues de Morais1
Dayse Edwiges Carvalho2
Ludmila de Paula Zago2
Iolanda Alves Braga3
Lia Vieira Bino4
Paula Carolina Bejo Wolkers5
Newton Ferreira de Paula Júnior2
RESUMO
Introdução: A Enfermagem intervém, a partir da promoção do cuidado e da assistência, na manutenção do conforto, recuperação e cura, seja do paciente-cliente-usuário, da família ou da coletividade, de forma individual, contextualizada e holística. Algumas dessas competências exigem da equipe de Enfermagem, especificamente do enfermeiro, o exercício de habilidades e do pensamento crítico, como por exemplo, a execução do cateterismo urinário. Objetivo: Compreender por meio de uma revisão bibliográfica, como a humanização, a ética e a bioética se apresentam nos estabelecimentos de saúde, como se correlacionam à profissão de Enfermagem e a maneira que são aplicados no procedimento de cateterismo urinário realizado por enfermeiros e pacientes. Revisão bibliográfica: A comunicação e a relação interpessoal, como respeito à cultura do paciente e das famílias, propiciam a aproximação do profissional com a família e a formação de vínculo e confiança, isso permite potencializar aspectos da saúde e da qualidade de vida do paciente. Para que as técnicas utilizadas como estratégias de saúde sejam efetivamente aplicadas, torna-se necessário que o profissional gestor e educador estejam embasados cientificamente para a sua execução, de forma a atender as reais necessidades do paciente, como privacidade, conforto, segurança, para promoção da autonomia e autoestima, o que poderá favorecer a independência fisiológica. Considerações finais: Faz-se necessário investir em ações e pesquisas de humanização por meio da adoção de boas práticas na educação continuada no procedimento de cateterismo urinário, de modo a promover qualidade e segurança do paciente, respaldando sua integridade física e moral.
Palavras-chave: Humanização; Cateterismo urinário; Enfermeiro; Segurança do paciente.
ABSTRACT
Introduction: Nursing intervenes, through the promotion of care and assistance, in maintaining comfort, recovery and healing, whether for the patient-client-user, the family or the community, in an individual, contextualized and holistic way. Some of these competencies require the Nursing team, specifically the nurse, to exercise skills and critical thinking, such as performing urinary catheterization. Objective: To understand how humanization, ethics and bioethics are presented in healthcare establishments, how they correlate with the Nursing profession and the way they are applied in the urinary catheterization procedure performed by nurses and patients. Bibliographical review: Communication and interpersonal relationships, with respect for the culture of the patient and families, bring professionals closer to the family and form bonds and trust, enabling aspects of the patient’s health and quality of life to be enhanced. For the techniques used as health strategies to be effectively applied, it is necessary for the professional manager and educator to be scientifically based for their implementation, in order to meet the patient’s real needs, such as privacy, comfort, safety, promoting autonomy and self-esteem, favoring physiological independence. Final considerations: It is necessary to invest in humanization actions and research through the adoption of good practices in continuing education in the bladder catheterization procedure, in order to promote patient safety, supporting their physical and moral integrity.
Keywords: Humanization; Urinary Catheterization; Nurse; Pacient safety.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, muito se discute acerca da necessidade de humanizar os cuidados prestados nos serviços de saúde. A partir da procura pela qualidade e integralidade dos cuidados prestados ao paciente, os enfermeiros vêm buscando, cada vez mais, a adoção de políticas de humanização, que possam prevenir situações desagradáveis de exposição, conflitos e incidentes. Entre as competências na jurisprudência do enfermeiro, destacam-se os procedimentos de cateterismos urinários, técnica invasiva que envolve diferentes níveis de complexidade e avançada prática e percepção clínica, onde são imprescindíveis a humanização, qualidade e segurança do paciente (MAZZO et al., 2017).
A técnica de inserção de um tubo fino e flexível na bexiga através da uretra a fim de drenar urina da bexiga é conhecida como cateterismo urinário, sendo caracterizado como um procedimento extremamente complexo e comum nas atribuições de rotina dos enfermeiros. Esse tipo de cateterismo pode ser usado em várias situações, como aliviar a retenção urinária, monitorar a quantidade e qualidade de produção de urina e facilitar o acesso à bexiga durante cirurgias e procedimentos médicos. De acordo, com Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2013), trata-se uma técnica invasiva, que está sujeita a complicações, requerendo cuidados de Enfermagem de maior complexidade, base cientifica e capacidade de avaliação e tomar decisões rápidas baseadas no pensamento crítico (FONSECA; RODRIGUES; MISHIMA, 2015).
A esse respeito, torna-se evidente a relação entre aspectos subjetivos e humanos da vida, a ética e a bioética nesse procedimento. Responsabilidades, posicionamento e tomada de decisões são capazes de estimular uma consciência moral interna e promover melhora na situação de saúde do paciente, onde guiam ações e práticas de Enfermagem, que se relacionam com a proteção, segurança, direitos, escolhas e autonomia das três partes: paciente, profissional e família (SILVA et al., 2021). Entretanto, notam-se baixos investimentos na qualificação de trabalhadores e formação de profissionais de saúde distantes da realidade que deveria ser adotada nas unidades, isto é, percebem-se ações consideradas desumanizadas na relação aos cuidados oferecidos nos serviços de saúde.
A minimização dos riscos quanto a realização desse procedimento pode ser atenuada levando em consideração a capacitação profissional dos enfermeiros, visando que o colaborador seja consciente da alta complexidade e seriedade do cuidado prestado. A conexão desses profissionais quanto a capacitação teórica e prática é de suma importância para traçar o plano assistencial dos clientes, uma vez que cada paciente necessita de atendimento individualizado que atenda integralmente as suas necessidades. O aprimoramento desse conhecimento coloca em vigor a realização de uma técnica estéril, que tornem as unidades de saúde ambientes que estejam capacitados a realização, preconizando terapêuticas que reduzam riscos tanto para ao indivíduo quanto para a unidade, no que tange a redução de índices de infecções do trato urinário que se relacionem à assistência à saúde, bem como gastos com prolongamento das internações (TEIXEIRA et al., 2017).
As principais atribuições da equipe de Enfermagem quanto ao cateterismo urinário envolvem a reflexão das indicações em conjunto com a equipe multidisciplinar, prevenção de complicações, a assistência ao paciente em todo o processo, bem como o esclarecimento e retirada de dúvidas e medos durante esse processo. Além disso, é importante ressaltar a segurança do paciente como foco no processo de instalação, manutenção e remoção, que devem seguir um protocolo baseado em evidências, humanizado e ético, respeitando o princípio na realização da técnica, visando a redução do tempo de internação e de exposição ao ambiente hospitalar. A esse respeito, deve-se refletir acerca desses procedimentos nos estabelecimentos assistenciais de saúde e como a falta de capacitação da equipe e quebra de protocolos e da ética profissional colaboram para um ambiente desacolhedor que compromete a integridade física e metafísica do paciente, além de gerar intercorrências quanto a gestão de qualidade do serviço e do atendimento prestado (TORRES et al., 2023).
Nesse contexto o objetivo da pesquisa é compreender por meio de uma revisão bibliográfica, como a humanização, a ética e a bioética se apresentam nos estabelecimentos de saúde, como se correlacionam à profissão de Enfermagem e a maneira que são aplicados no procedimento de cateterismo urinário realizado por enfermeiros e pacientes. Nesse sentido, esta pesquisa baseou-se na seguinte questão norteadora: “Como as questões da ética, bioética e humanização se apresentam na realização dos cateterismos urinários pelo profissional enfermeiro e pelo próprio paciente?”
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A palavra humanização advém da necessidade de compreensão do homem do seu papel e atuação na sociedade. Esse termo vem sendo utilizado na saúde para referir-se a ações que tornam o ambiente de saúde e o cuidado mais humano e acolhedor, associado a práticas que possibilitem a prestação de uma assistência que minimize os danos ao máximo. O termo surgiu com a corrente filosófica humanista buscando a compreensão do homem no contexto social, trazendo em seguida uma questão subjetiva pautada na psicanálise, e no aspecto moral surge entrelaçado ao respeito e a empatia. O pós-modernismo aponta a temática como um movimento que trabalha para a recuperação dos valores do homem nas inúmeras mudanças que a sociedade sofreu no início da modernização e da globalização (CHENICHARO; SILVA; FERREIRA, 2014).
A área da saúde começou a se preocupar com a temática somente no final do século XX, após os terríveis acontecimentos das grandes guerras e das atrocidades médicas cometidas. A luta pelo fim dos enclausuramentos dos manicômios e do carácter mais humanista nos partos são marcos históricos do processo de humanização da saúde, trazendo ao ambiente hospitalar atividades que almejavam tirar a tensão do ambiente e promover maior aderência dos processos realizados. A humanização prestada pela Enfermagem, nesse contexto, surge com a elaboração e implementação de práticas que aproximem a equipe e o paciente, estreitando laços e estimulando que confiança e segurança sejam sentimentos que unam ambas as partes e corroborem para a assistência de maior qualidade (CHENICHARO; SILVA; FERREIRA, 2014).
Dentro do contexto hospitalar a Política Nacional da Humanização (PNH), traz consigo princípios que visam estabelecer a confiança nas relações, de modo a atender as demandas com humanização nos cuidados prestados. As categorias que se relacionam a essa abordagem abrangem a satisfação da pessoa, o protagonismo do usuário, qualidade do cuidado e o acolhimento. A temática dedica-se em apoiar sua base ética no cuidado centrado no diálogo e na compreensão de como esse é proporcionado na assistência; uma vez que o conceito de dignidade passa a ser compreendido e pautado na ética que gira em torno das relações entre a equipe e com o paciente (MORAIS, 2016).
A Política Nacional de Humanização (PNH) foi introduzida pelo Ministério da Saúde em 2003, com o propósito de integrar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) na rotina dos serviços, assegurando-se a transformação das práticas de gerenciamento do cuidado. Em consonância com o prenunciado, a PNH se fundamenta em três princípios: a) transversalidade, que prega a inserção da humanização em todas as políticas e programas do SUS; b) indissociabilidade entre atenção e gestão, tendo em vista, cativar o paciente na responsabilidade por sua saúde, promovendo decisões compartilhadas e o entendimento dos processos dos serviços de saúde; c) protagonismo, a corresponsabilidade e o empoderamento dos sujeitos e grupos, reconhecendo cada indivíduo como um cidadão detentor de seus direitos e encorajando-o com a sua participação na promoção da sua saúde (RAMOS et al., 2018).
Destaca-se, que atualmente existem vários desafios para implementação de tal prática, que são percebidos como situações desumanizadas que humilham e ferem o caráter do paciente, como filas e tempo de espera longos; insensibilidade dos trabalhadores perante o sofrimento das pessoas; tratamentos desrespeitosos; fragmentação nos processos de trabalho; falta de condições de trabalho; carência de qualificação dos trabalhadores, entre outros. De modo geral, a humanização é um processo demorado, amplo e complexo, no qual é visto resistência, pois envolve várias mudanças de comportamentos que são atrelados a inseguranças e a uma conjuntura bem estabelecida (MELO; CIAMPA; ARAÚJO, 2014). Logo, uma formação profissional humanista é necessária, pois propõe além da prática, a pesquisa, o ensino, a extensão e a sociabilização, tendo como objetivo a investigação cientifica e como orientação, a cidadania. Desse modo, Corbellini et al. (2010), cita que, “a humanização deve fazer parte da filosofia de Enfermagem e tornar o aluno capaz de criticar e construir uma realidade mais humana” (SOUZA, 2012).
Na profissão de Enfermagem, questões como a ética e a bioética interligam-se aos aspectos subjetivos e humanos da vida como a saúde, valores, responsabilidades, posicionamento e tomadas de decisões, que são capazes de estimular uma consciência moral interna, onde guiam ações e práticas no saber fazer, que se relacionam com a proteção, segurança, direitos, escolhas e autonomia das três partes: paciente, profissional e família. Ressalta-se que os problemas éticos e bioéticos ligados a profissão estão relacionadas as deficiências do sistema e do atendimento, como também, as condições de infraestrutura, ambiente e as fragilidades em volta das relações individuo, família e equipe, equipe e equipe, ou equipe e gestão (SILVA, et al., 2021).
Neste contexto, existem princípios básicos e bioéticos que orientam a conduta dos profissionais de saúde, no que se refere aos pacientes, onde o profissional deve ser condutor, orientador e amigo, sempre esclarecendo dúvidas sobre problemas de saúde, agravantes e o devido tratamento, ofertando auxílio ao paciente e respeitando sua autonomia. Esses princípios devem ser a veracidade, a privacidade e a confidencialidade, que diz respeito sobre a garantir de preservação dos documentos e das informações do paciente; e a fidelidade, que aborda sobre a lealdade profissional (MELO; CIAMPA; ARAÚJO, 2014).
Na assistência, o profissional e o paciente devem trabalhar em conjunto para identificar necessidades e carências, de modo a minimizar os riscos e sentimentos de medo e estresse em relação ao modo como as demandas se apresentarão no futuro, e através da confiança, a cooperação é facilitada. Posto isto, os autores apresentam que a capacitação do enfermeiro se faz necessária ao se deparar com queixas no que tange a dificuldade de expressão do paciente, sendo importante a criação de vínculos estáveis (ANJOS et al., 2019). Ademais, enfatiza-se que as estratégias utilizadas em educação em saúde permeiam aspectos da comunicação e da relação interpessoal, como também o respeito à cultura das famílias e, assim, propiciam a aproximação do profissional, a formação de vínculos e confiança, permitindo potencializar aspectos da saúde e da qualidade de vida do paciente nesse processo (CIPRIANO et al., 2013).
A esse respeito, quando se leva em consideração a realização de procedimentos invasivos de Enfermagem, é importante se atentar ao modo como o paciente se sente frente a exposição física e mental que tais práticas exigem. Nesse sentido, Moura et al. (2020), trazem que “a constante exposição a procedimentos invasivos resulta em malefícios para os usuários, como a internação prolongada, elevado risco de mortalidade e desenvolvimento de infecções multirresistentes, que ocasionam período de altos custos hospitalares e a dispersão de microrganismos multirresistentes”. Dessa forma, a equipe multiprofissional responsável por tal técnica, em destaque a equipe de Enfermagem, são agentes importantes da prevenção e educação quanto a esses riscos (MOURA et al., 2020).
Neste sentindo, a Resolução do Cofen N°450 de 11 de dezembro de 2013 normatiza o procedimento de cateterismo vesical de alívio e de demora no âmbito do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, como atividade privativa do enfermeiro. Desse modo, é competência do enfermeiro o papel de educador e integrador, em que, além de prestar cuidado no ensino da técnica do cateterismo vesical, deve interagir com os clientes no planejamento desse cuidado e autocuidado necessários ao paciente. Através dessa técnica, os pacientes podem obter sucesso na terapêutica, incluindo motivação, destreza e habilidade mental (CIPRIANO et al., 2013).
Na realização dessa prática, cuidados são necessários e devem ser realizados antes da passagem do cateter vesical, como avaliação prévia do paciente para identificar a necessidade do procedimento e se há condições clínicas que possam contraindicar o procedimento, orientação para o cliente, obtenção de seu consentimento, verificação da prescrição médica, providenciar um lugar tranquilo e reservado, com todos os materiais ao alcance, e certificar que o paciente esteja na posição correta e confortável. Atentando-se que é uma técnica estéril e invasiva que exige precauções especificas para prevenir infecções e desconforto do paciente, sendo, portanto, importante seguir os protocolos de higiene, segurança e bem-estar do mesmo (FONSECA; RODRIGUES; MISHIMA, 2015).
A esse respeito, um estudo descritivo realizado em 9 hospitais na cidade de Ribeirão Preto – São Paulo, nos anos de 2008 a 2012, relatou que cinco representantes das instituições entrevistadas não mencionaram na descrição do procedimento a abordagem do paciente; três informaram a preocupação com a privacidade e dois relataram que realizam a orientação do paciente antes do cateterismo urinário. Nesse sentido, nota-se baixo investimento na qualificação de trabalhadores e formação de profissionais de saúde distantes da realidade que deveria ser adotada nas unidades (MAZZO et al., 2012). Uma outra pesquisa publicada em 2016, teve como objetivo discutir e modificar os itens baseados no conhecimento das experiências e práticas clínicas (ISCQ) de 178 mulheres (108 com transuretral e 70 com cateteres suprapúbicos), identificaram a dificuldade na técnica do procedimento e o constrangimento dos pacientes; revelando a falta de aproximação entre os pacientes que executam e os profissionais que necessitam orientar esse procedimento (BENÍCIO et al., 2018).
O aumento potencial da resiliência entre pacientes e cuidadores que praticam o cateterismo vesical intermitente limpo (CVIL) está associado aos conhecimentos desses aspectos, bem como à dor e a sensação de perda, à falta de conhecimento em relação a anatomia feminina, à disfunção da bexiga e ao uso de cateteres, mas também, a estigmas negativos, aversão psicológica, embaraço e mecanismos de enfrentamento. Sob outra análise, a complexidade do procedimento está relacionada aos equívocos, aos temores, à vergonha, à falta de motivação, qualidade e continuidade do cuidado profissional e, por fim, ao estresse e à preocupação quando os pacientes aprenderam a realizar o procedimento de forma autônoma (BENÍCIO et al., 2018).
Nesse sentido, apesar de não serem observados padronização ou até mesmo consenso entre os profissionais e instituições quanto às etapas do CVIL, o Center for Disease Control and Prevention (CDC), no Guideline for Prevention of Catheter Associated Urinary Tract Infections, publicou em 1981 algumas recomendações que objetivam a prevenção da Infecção do Trato Urinário (ITU). Vale ressaltar que ainda existe uma lacuna na literatura sobre a temática no que se refere aos fatores associados ao conhecimento de pacientes e cuidadores acerca dos cateterismos urinários, exigindo, desta forma, investigação, a fim de fornecer mais subsídios para profissionais e pacientes que praticam o CVIL, e ao mesmo tempo favorecer a proposição de estratégias por gestores de saúde que possibilitem melhorias na qualidade de vida dos pacientes, baseando-se em evidências científicas (BENÍCIO et al., 2018).
Outro estudo realizado nas UTI I e II de um hospital no interior da Bahia, entrevistou 20 enfermeiros, que mostraram preocupações quanto aos cuidados prestados aos pacientes que utilizam e necessitam da passagem do cateter vesical (MELO et al., 2014). Vale ressaltar que os entrevistados destacaram a importância de olhar o paciente em sua integralidade, isto é, ter uma visão holística, caracterizada pela assistência humanizada. Destacaram, que apesar de ser um procedimento técnico, não se deve deixar de entender que o paciente é um ser humano e tem família, como também, que o objetivo maior é aliviar a dor desse paciente, utilizando uma técnica que é aparentemente simples, mas que mudam todo o contexto, uma vez que a humanização não é apenas cumprimentar a pessoa, mas prestar uma assistência de qualidade, assistindo o paciente como um ser biopsicossocial e espiritual (MERCES et al., 2013).
Dentro dessa temática, a Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau aborda que a postura dos profissionais de enfermagem se relaciona diretamente no modo como o paciente irá se portar durante a assistência no processo terapêutico, em relação aos seus pensamentos, comportamentos e até aprendizado. O uso da comunicação é abordado como um instrumento que aproxima as relações, estabelecendo um vínculo que traz aceitação perante a escuta de modo que o cuidado é viabilizado. O foco da teorista é as relações entre cuidador e pessoa que recebe o cuidado, gerando experiências e crescimentos que, fora dos laços de confiança, não poderiam ser viáveis (OLIVEIRA; RIVEMALES, 2021).
Florence Nightingale, por sua vez, desempenhou um papel crucial ao estabelecer conceitos de ventilação, distribuição de pacientes, iluminação e higiene nas enfermarias, sendo suas ideias adotadas até os dias atuais nas instituições de saúde que são vistas como humanizadas (COSTEIRA, 2014). Assim, Enfermagem atua nas relações estabelecendo conexões que sejam baseadas em confiança e altruísmo, onde a assistência se pauta no cuidado que busque atenuar o impacto da doença sobre a pessoa, trazendo o cuidado para além da técnica. A teoria de Peplau, fundamenta o relacionamento baseado na aproximação entre as pessoas de modo a trazer ao paciente momentos que minimizem os impactos da estadia. A importância da relação entre a equipe e o paciente no que tange a empatia, o respeito e a presença de um indivíduo próximo na relação, são imprescindíveis para a confiança e adesão à terapêutica (LIMA; SANTOS NETO; XAVIER, 2019).
Para avaliar todas as técnicas utilizadas como estratégias de saúde, é necessário que o profissional educador esteja embasado cientificamente para a sua implementação, de forma a atender as reais necessidades do paciente, como privacidade, conforto, segurança, promovendo autonomia e autoestima, favorecendo a independência fisiológica e humanizando o processo. A construção do vínculo de confiança na relação entre enfermeiro-paciente, ameniza as experiências negativas e dolorosas a que estão enfrentando, e os papéis assumidos pelo enfermeiro e evidenciados por Peplau partem da aceitação desse relacionamento (BIONDI et al., 2019).
Em suma, observa-se muitas questões que permeiam aspectos subjetivos dos pacientes, como a vergonha, exposição e conceitos éticos de dignidade, que variam de indivíduo para indivíduo, indo muito além da execução de uma técnica. Torna-se evidente, também, que estas questões subjetivas vêm sendo negligenciadas pelos estabelecimentos assistenciais de saúde. Logo, cabe ao profissional enfermeiro, em seu cargo tanto de gestão, quanto de assistência, atentar-se à essas individualidades de forma humanizada no momento da abordagem, execução, manuseio e manutenção desse procedimento amplamente executado por essa classe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido, para que os enfermeiros prestem uma assistência integral, torna-se necessário que as evidências científicas no preparo da intervenção, interação, orientação, respeito e humanização ao paciente que irá iniciar o uso do cateter vesical sejam discutidas, reavaliadas e padronizadas nos processos de formação dos profissionais, bem como em ações na educação continuada em conjunto com o binômio paciente-acompanhante. O paciente deve ser orientado considerando seu nível de entendimento, estilo de vida, condições socioeconômicas, quanto à fisiologia miccional e alterações decorrentes da lesão medular, se for o caso, cuidados de higiene íntima e das mãos, manuseio de material estéril e limpo, no caso do CVIL, passo a passo do procedimento, promovendo assim, a autonomia e humanização no processo do cateterismo urinário, contribuindo de maneira significativa para a reintrodução do indivíduo na vida familiar e social, bem como, assegurar a qualidade no saber fazer Enfermagem.
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1Acadêmica do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara.
2Enfermeiro (a) – Docente do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara.
3Enfermeira – Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).
4Técnica de Enfermagem – Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).
5Enfermeira – Docente do curso de Medicina – Universidade Federal de Catalão (UFCAT).
Autor correspondente: Rebeca Ferreira de Souza. UEG-UnU Itumbiara. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7266423501704902. ORCID ID: https://orcid.org/0009-0005-7291-4762.