REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202501102212
José Hermes Rodrigues Filho,
Tais Freitas Soares da Silva,
Orientadora: Profª. Drª. Mércia Aleide Ribeiro Leite
RESUMO
Introdução: A humanização da assistência de enfermagem nas unidades de terapia intensiva de adultos é indispensável para equilibrar o impacto das tecnologias, assegurando que o paciente seja visto e cuidado como um ser humano integral, com necessidades que abrangem dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais. A implementação de práticas de humanização na unidade de terapia intensiva envolve desafios e oportunidades que impactam diretamente a qualidade do cuidado oferecido aos pacientes. Objetivo: identificar na literatura científica os fatores que facilitam e dificultam a implementação da humanização da assistência de enfermagem na unidade de terapia intensiva de adultos. Metodologia: revisão integrativa da literatura realizada nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde, na Lilacs Plus e no Portal Capes, de artigos publicados no período de 2019 a 2024, em português, inglês e espanhol. Resultados: Os resultados revelaram que todos os estudos possuem abordagem qualitativa, sendo 40% publicados em 2024, 20% em 2023, 20% em 2022 e 20% em 2019. Todos apresentam nível de evidência IV. Os fatores dificultadores apontados incluíram a escassez de recursos humanos, materiais, a sobrecarga de trabalho enfrentada pelos profissionais e as barreiras organizacionais, como falhas de comunicação e ambientes de trabalho hierarquizados. Por outro lado, os fatores facilitadores identificados foram o bom relacionamento interpessoal, a colaboração multiprofissional e a adoção de estratégias voltadas para o fortalecimento dos vínculos entre pacientes, familiares e profissionais. Considerações Finais: A superação dos fatores dificultadores identificados e o fortalecimento dos fatores facilitadores dependem de mudanças estruturais e organizacionais que priorizem a dignidade, o respeito e a integralidade no cuidado.
Descritores: Humanização da assistência; enfermagem; unidades de terapia intensiva; implementação; /fatores facilitadores; /fatores dificultadores.
1 INTRODUÇÃO
A Unidade de terapia intensiva (UTI), por sua própria natureza, é um espaço em que o tratamento frequentemente envolve intervenções invasivas, monitoramento constante e o uso de tecnologia avançada, voltada para o atendimento de pacientes críticos. Embora essas ferramentas sejam indispensáveis para salvar vidas e garantir estabilização clínica, elas podem, inadvertidamente, criar uma atmosfera fria e despersonalizada (Santos et al., 2018). Nesse contexto, a humanização se torna indispensável para contrabalançar o impacto das tecnologias, garantindo que o paciente seja tratado não apenas como um corpo biológico, mas como um ser humano integral, com necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais (Nascimento; Lima; Passos, 2023).
A UTI têm se tornado um espaço em que a técnica frequentemente se sobrepõe aos aspectos relacionados ao cuidado, uma vez que os profissionais que atuam nesse contexto baseiam grande parte de suas ações em dispositivos tecnológicos. Essa realidade ressalta a importância de discutir o cuidado humanizado nesse cenário. A adoção de tecnologias nos serviços de saúde deve complementar, e não substituir, o contato direto entre o profissional de enfermagem e o paciente, já que o cuidado interpessoal é uma prática essencial da enfermagem, e as tecnologias devem ser vistas como aliadas nesse processo (Nascimento, 2021).
A humanização da assistência de enfermagem é um princípio essencial na prestação de cuidados em saúde, especialmente na UTI, um ambiente que combina alta complexidade tecnológica com demandas intensas de cuidado físico e emocional. Nesse cenário, os profissionais de enfermagem desempenham um papel fundamental ao equilibrar o uso de recursos tecnológicos com práticas que priorizem a dignidade, o conforto e o bem-estar dos pacientes e de seus familiares (Nascimento; Lima; Passos, 2023).
Humanizar a assistência em enfermagem na UTI é um desafio constante, mas a adoção de tecnologias leves, que promovem o diálogo, a escuta ativa e o acolhimento, contribui significativamente para a aplicação de valores humanitários no cuidado (Nascimento, 2021). Apesar das dificuldades inerentes a um ambiente de alta complexidade, existem inúmeras possibilidades de desenvolver uma assistência que respeite a individualidade e dignidade dos pacientes, transformando a prática em um atendimento mais humanizado e significativo.
A humanização da assistência de enfermagem no Sistema Único de Saúde (SUS) baseia-se em princípios norteadores estabelecidos na Política Nacional de Humanização (Brasil, 2023), que buscam promover um atendimento mais acolhedor, respeitoso e centrado nas necessidades das pessoas. De acordo com o documento, esses princípios incluem: a valorização da dimensão subjetiva e social dos pacientes; o fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional e a construção de redes cooperativas; a promoção da autonomia e o protagonismo das pessoas e coletivos; além do incentivo ao controle social e à democratização das relações de trabalho.
Diante disso, surge uma questão que norteia este estudo: Quais são as barreiras e os facilitadores identificados na literatura para a implementação da humanização da assistência de enfermagem em unidades de terapia intensiva de adultos?
Abordar a humanização na UTI, bem como as barreiras ou dificuldades e as facilidades na sua implementação, é relevante por permitir a compreensão das particularidades intrínsecas à assistência de enfermagem nesse setor hospitalar. Além disso, essa abordagem contribui para reforçar que a assistência humanizada é um processo que envolve a integração de conhecimentos, práticas e tomadas de decisão, com o intuito de promover e recuperar a saúde dos pacientes internados em estado crítico (Santos et al., 2018).
O conhecimento dos fatores que facilitam e dificultam a humanização é essencial para a formulação de estratégias que possam melhorar a qualidade da assistência de enfermagem, promovendo um ambiente que favoreça a dignidade, o respeito e a empatia nas interações entre profissionais e pacientes.
Este estudo tem como objetivo identificar na literatura científica os fatores que facilitam e dificultam a implementação da humanização da assistência de enfermagem na unidade de terapia intensiva de adultos.
2 METODOLOGIA
A metodologia utilizada nesse estudo é a revisão integrativa (RI), que é um método que possibilita a análise e síntese de evidências científicas sobre um determinado tema, permitindo uma visão crítica sobre o assunto (Souza; Silva; Carvalho, 2010). Para esta pesquisa, a revisão integrativa será focada na identificação e descrição das evidências científicas relacionadas aos fatores facilitadores e dificultadores à humanização da assistência de enfermagem em unidades de terapia intensiva de adultos, com o intuito de relacionar os dados para interpretação. As principais etapas da RI são: identificação do problema ou questão de pesquisa; busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos selecionados; discussão dos resultados; apresentação da revisão integrativa (Souza; Silva; Carvalho, 2010).
Na primeira etapa da revisão integrativa, foi criada a pergunta usando-se a estratégia PICO para estruturar a questão de pesquisa de forma clara e objetiva. PICO é um acrônimo que significa: P: Paciente, problema ou população; I: Intervenção; C: Comparação (opcional); O: Desfecho (outcome). (Santos; Pimenta; Nobre, 2007; Galvão; Pereira, 2014; Araújo, 2020). A estratégia PICO foi elaborada da seguinte forma:
- P (População): Profissionais de enfermagem em unidades de terapia intensiva de adultos.
- I (Intervenção): Implementação de práticas humanizadas na assistência de enfermagem.
- C(Comparação): Não aplicável neste estudo.
- O (Resultado): Fatores facilitadores e dificultadores da implementação da humanização da assistência de enfermagem.
Portanto, a pergunta estruturada usando a estratégia PICO é: ” Quais são os fatores facilitam e dificultam a implementação da humanização da assistência de enfermagem em unidades de terapia intensiva de adultos?”
Após a definição da pergunta, a segunda etapa foi a primeira busca, e ela foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) no dia 09 de novembro de 2024. Foram utilizados os descritores: (“Humanização da Assistência”) AND (enfermagem) AND (“Unidades de Terapia Intensiva”), em português, inglês e espanhol. Foram encontrados 201 artigos na BVS e 149 na Lilacs Plus.
A partir dos 201 artigos inicialmente encontrados na BVS e 149 artigos na Lilacs Plus, realizou-se a primeira triagem pela filtragem por texto completo, restando 174 artigos na BVS e 128 na Lilacs Plus. Após a leitura dos títulos, 137 artigos da BVS foram excluídos por não serem condizentes com a temática da pesquisa ou por estarem fora do período de publicação estabelecido (2019 a 2024) e 128 títulos da Lilacs Plus foram excluídos por estarem duplicados na BVS, resultando em 37 artigos da BVS selecionados para leitura na íntegra. Desses, 33 foram eliminados por apresentarem temáticas divergentes da proposta do estudo, restando quatro artigos que foram incluídos na análise final.
No dia 16 de novembro, foram realizadas a segunda e a terceira busca. A segunda ocorreu novamente na BVS, utilizando os descritores combinados da seguinte forma: (humanização da assistência) AND (unidades de terapia intensiva) AND (‘implementação) AND (enfermagem) AND fulltext: (“1”) AND (year_cluster: [2019 TO 2024]). Essa busca retornou nove artigos sendo cinco na BVS e quatro na Lilacs Plus. Após a triagem inicial pelos títulos, seis artigos foram selecionados (três na BVS e três na Lilacs Plus). Destes, quatro foram excluídos: três por serem duplicados e um por se tratar de uma revisão integrativa. Assim, dois artigos foram selecionados para leitura na íntegra e incluídos no estudo.
A terceira busca, no mesmo dia, foi realizada no Portal CAPES com os descritores combinados da seguinte forma: (humanização da assistência) AND (unidades de terapia intensiva) AND (‘implementação). A busca retornou 11 artigos, todos foram excluídos por apresentarem o seguinte perfil: três eram revisão narrativa, quatro revisões integrativas e quatro abordavam cuidados na neonatologia, temática fora do escopo deste estudo.
A busca realizada é apresentada no fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews Meta-Analyses (PRISMA), uma ferramenta utilizada para, de forma visual e concisa, mostrar o caminho percorrido desde a busca até a seleção final dos estudos (PRISMA, 2021).
A figura 1 mostra o fluxograma Prisma 2020, com a estratégia de busca realizada.
Figura 1 – Fluxograma Prisma 2020 com a estratégia de busca e seleção de artigos. 2024.
A terceira etapa é a coleta dos dados dos artigos selecionados e contou com a utilização de uma planilha previamente elaborada com as informações: autores, ano de publicação, objetivo do estudo, metodologia utilizada, resultados principais, fatores que promovem a humanização, fatores que impedem a humanização e conclusões.
Na quarta etapa da revisão integrativa, a avaliação crítica dos estudos incluídos é essencial para garantir a validade da pesquisa. Essa etapa envolve a análise detalhada dos dados, semelhante à análise em pesquisas convencionais, com o uso de ferramentas apropriadas.
Para a classificação e avaliação do rigor metodológico dos achados utilizou-se a classificação, por nível de evidência científica: Nível I, são as evidências resultantes da metanálise de múltiplos estudos clínicos controlados e randomizados; Nível II, as evidências obtidas em estudos individuais com delineamento experimental; Nível III, as evidências de estudos quase-experimentais; Nível IV, são as evidências de estudos descritivos (não experimentais) ou com abordagem qualitativa; Nível V, são evidências provenientes de relatos de caso ou de experiência; e Nível VI, as evidências baseadas em opiniões de especialistas (Souza; Silva; Carvalho, 2010).
A quinta etapa permitiu a discussão dos resultados encontrados comparando os dados evidenciados levando em consideração as diferentes realidades enfrentadas pelos profissionais de saúde e as implicações para a prática de enfermagem. Na sexta, e última etapa a revisão integrativa é apresentada.
3 RESULTADOS
O Quadro 1 apresenta as características dos estudos utilizados nesta revisão integrativa. Observa-se que 100% dos artigos possuem delineamento qualitativo, sendo 83,3% publicados em português e 16,7% em espanhol. Quanto ao ano de publicação, 40% são de 2024, enquanto 20% datam de 2023, 20% de 2022 e 20% de 2019. Em relação ao nível de evidência, todos os artigos enquadram-se no nível IV, característico de estudos com abordagem qualitativa.
Quadro 1 – Caracterização dos artigos selecionados para o estudo. 2024.
Nível de Evidência | Título, autor e ano | Delineamento do estudo | Objetivo | Resultados principais |
IV | Cuidado de enfermagem humanizado em terapia intensiva em angola: facilidades e dificuldades desveladas (Sili et al., 2024) | Qualitativo. | Descrever as facilidades e dificuldades dos profissionais de enfermagem no cuidado humanizado em terapia intensiva em Angola. | Foram apontadas as facilidades voltadas para as relações interpessoais da equipe de enfermagem e atuação da equipe multiprofissional, enquanto as dificuldades, estão relacionadas à falta de materiais e insumos e à qualificação dos profissionais de enfermagem. |
IV | Implementação de diário em terapia intensiva: percepção de familiares e da equipe de enfermagem (Mussart et al., 2024). | Qualitativo. | identificar a percepção de familiares e da equipe de enfermagem sobre a implementação de um diário de Unidade de Terapia Intensiva à rotina de cuidados do paciente crítico. | Aponta que a Inter profissionalidade melhora a integração e equidade nos cuidados, embora barreiras como comunicação falha e hierarquias dificultem a colaboração. Além disso, o uso de tecnologias pela enfermagem fortalece práticas assistenciais e educacionais, favorecendo a humanização. |
IV | Cuidado humanizado na unidade de terapia intensiva: discurso dos profissionais de enfermagem angolanos (Sili et al., 2023). | Qualitativo. | Analisar a percepção dos profissionais de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva em Angola sobre cuidados humanizados e identificar recursos necessários para sua implementação. | O estudo mostrou a importância do profissional ser empático e aspectos relacionados à tecnologia leve do cuidado. Foram apontados os fatores dificultadores para a consolidação da prática humanizada, como a falta de recursos humanos e materiais. |
Nível de Evidência | Título, autor e ano | Delineamento do estudo | Objetivo | Resultados principais |
IV | Significados de la humanización en cuidado crítico. Vivencias y acciones de profesionales sanitarios en Unidades de Cuidado Intensivo en Bogotá y Cartagena (Colombia). (Sánchez-Alfaro et al., 2022) | Qualitativo. | Analisar os significados atribuídos à humanização no cuidado crítico, a partir das vivências e ações dos profissionais de saúde de Unidades de Cuidados Intensivos de Bogotá e Cartagena. | Os significados atribuídos à humanização no cuidado crítico estão relacionados ao respeito à dignidade humana, ao bom tratamento e ao evitar o sofrimento do paciente. |
IV | Cuidado humanizado no contexto da unidade de terapia intensiva: compreensão da equipe de enfermagem (Sousa et al., 2020). | Qualitativo. | Compreender a percepção da equipe de enfermagem, enfermeiros e técnicos de enfermagem, em relação ao cuidado humanizado prestado ao adulto na unidade de terapia intensiva. | Foram pontuados os desafios para o cuidado humanizado, como falta de recursos, ambiência inadequada, entre outros. |
IV | Percepções da equipe de enfermagem acerca da humanização em terapia intensiva (Castro et al., 2019). | Qualitativo. | Conhecer as percepções da equipe de Enfermagem acerca da humanização da assistência em Unidade de Terapia Intensiva. | Evidenciou-se que os profissionais reconhecem a importância de uma assistência qualificada, embasada em práticas acolhedoras e humanizada e que devem atender às necessidades biológicas dos pacientes com práticas de comunicação com o intuito de promover um cuidado humanizado. |
Fonte: Dados do Estudo (2024).
4 DISCUSSÃO
A humanização da assistência de enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é um imperativo ético, pois essa abordagem não apenas melhora a experiência do paciente, mas também pode contribuir para melhores resultados clínicos (Sánchez-Alfaro et al., 2022). Entretanto, sua implementação ainda enfrenta desafios significativos (Sousa et al., 2020; Castro et al., 2019), a despeito disso, esse estudo identifica o que facilita a sua implementação na prática.
Fatores como a escassez de infraestrutura, recursos humanos e materiais, somados à capacitação profissional insuficiente, destacam-se como os principais dificultadores à humanização da assistência de enfermagem (Sili et al., 2023). Segundo os autores, esses desafios não apenas comprometem a qualidade do cuidado prestado, mas também agravam a sobrecarga dos profissionais, dificultando ainda mais o atendimento às necessidades dos pacientes. Nesse cenário, os autores sugerem a implementação de programas de educação continuada, ajustados às particularidades e limitações de cada contexto, para ampliar o conhecimento teórico dos profissionais, aprimorar as práticas assistenciais e promover um cuidado mais humanizado.
O estudo de Sili et al. (2024) enfatiza a necessidade de investimentos em infraestrutura e na capacitação das equipes de enfermagem como elementos fundamentais para consolidar práticas humanizadas. A ausência de recursos estruturais adequados, segundo eles, combinada à alta demanda por cuidados complexos, sobrecarrega os profissionais, dificultando a oferta de uma assistência que respeite a individualidade e as necessidades dos pacientes. Esses desafios reforçam a importância de políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de trabalho.
Além da carência de recursos e de uma ambiência inadequada, barreiras como falhas de comunicação e estruturas organizacionais rígidas e hierarquizadas dificultam a implementação de práticas humanizadoras na UTI (Sousa et al., 2020; Mussart et al., 2024). Segundo os autores, esses fatores comprometem tanto a interação multiprofissional quanto o relacionamento da equipe com os pacientes, prejudicando a construção de vínculos de confiança e acolhimento. Para superar essas dificuldades, sugerem que seja repensado os modelos organizacionais e que se fomente um ambiente que estimule a comunicação aberta e o trabalho colaborativo.
Outro aspecto importante, também apontado pelos profissionais, no estudo de Sili et al. (2023), incluem a necessidade de recursos materiais, insumos e profissionais qualificados em quantidade suficiente. Nesse aspecto, destaca-se a importância do empenho dos gestores das instituições em garantir os recursos necessários.
A despeito dos fatores que dificultam a implementação da humanização da assistência de enfermagem na UTI, os artigos destacaram também os fatores que facilitam a sua implementação. Na visão de profissionais de enfermagem em Angola, o cuidado humanizado envolve uma abordagem integral e empática, utilizando tecnologias leves para que o cuidado se estenda tanto aos pacientes quanto aos seus familiares (Sili et al. 2023).Segundo os autores, essa abordagem baseia-se na confiança e no cuidado individualizado, considerando aspectos como respeito, conforto e empatia.
Assim, a humanização é compreendida pelos profissionais como um processo que transcende as ações técnicas, integrando aspectos emocionais e relacionais do cuidado, sendo o apoio institucional um pilar fundamental para a concretização do cuidado humanizado (Sousa et al., 2020; Sili et al., 2023).
O bom relacionamento interpessoal entre os membros da equipe de enfermagem, aliado à colaboração multiprofissional, é outro importante facilitador da humanização da assistência nas UTIs. Um ambiente que promova confiança mútua, engajamento e colaboração entre os profissionais é essencial para melhorar os desfechos dos pacientes. Sendo assim, mais uma vez, o apoio institucional desempenha um papel fundamental, oferecendo condições que favoreçam o trabalho em equipe e o respeito mútuo entre os profissionais (Sili et al., 2024).
Mussart et al. (2024), mostraram no seu estudo que a implementação de diários na UTI tem se revelado uma estratégia eficaz para humanizar a assistência de enfermagem, ao facilitar a participação dos familiares e fortalecer os vínculos entre pacientes e a equipe de saúde. Segundo os autores, essa prática permite uma maior personalização do cuidado, promovendo a comunicação entre todos os envolvidos e tornando o ambiente da UTI mais acolhedor e humanizado.
Os significados atribuídos à humanização em cuidados críticos estão relacionados ao respeito à dignidade humana e à redução do sofrimento (Sánchez-Alfaro et al., 2022). Castro et al. (2022) dizem que, práticas como a comunicação eficaz, acolhimento e empatia são essenciais para evitar a despersonalização do cuidado, garantindo que o paciente seja tratado de forma integral. Essas ações evidenciam a importância de um cuidado que priorize a individualidade e os aspectos emocionais do paciente.
Além dos desafios estruturais, é fundamental dar atenção às dimensões emocionais e sociais dos pacientes, que desempenham um papel central na humanização do cuidado. O fortalecimento do vínculo interpessoal, aliado a práticas que respeitem a singularidade e a dignidade de cada pessoa, surge como um fator essencial para a implementação de um cuidado mais humanizado (Sánchez-Alfaro et al., 2022).
É fundamental reduzir as divergências sobre a humanização da assistência de enfermagem nas UTIs e fomentar um diálogo mais proativo e colaborativo entre os profissionais, visando a construção de soluções eficazes para a implementação das práticas humanizadas no cuidado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo possibilitou a identificação dos fatores que facilitam e dificultam a humanização da assistência de enfermagem na UTI de adultos. Entre os fatores dificultadores, os artigos destacaram a escassez de recursos humanos, materiais, a sobrecarga de trabalho enfrentada pelos profissionais e as barreiras organizacionais, como falhas de comunicação e ambientes de trabalho hierarquizados. Essas limitações comprometem a implementação plena de práticas humanizadoras, dificultando a personalização do cuidado e o respeito à individualidade dos pacientes.
A desumanização da assistência de enfermagem na UTI afeta profundamente os enfermeiros, não apenas em termos de bem-estar e satisfação no trabalho, mas também na qualidade do cuidado prestado. O impacto negativo sobre a saúde mental, o estresse, a motivação profissional e os conflitos éticos gerados por um ambiente desumanizado são questões sérias que exigem mudanças estruturais. Para mitigar esses efeitos, é fundamental investir em práticas humanizadoras, melhorar a comunicação entre a equipe e fornecer suporte emocional contínuo, garantindo que a assistência ao paciente e o cuidado aos profissionais de saúde se desenvolvam de maneira mais integradora e respeitosa.
Fatores como o bom relacionamento interpessoal entre os membros da equipe de enfermagem, a colaboração multiprofissional e estratégias voltadas para fortalecer os vínculos entre pacientes, familiares e profissionais foram identificados como facilitadores essenciais para a humanização do cuidado de enfermagem na UTI. A adoção de práticas que promovam a comunicação eficaz, o acolhimento e a empatia têm potencial de transformar o ambiente crítico em um espaço mais acolhedor, ético e centrado no paciente.
Além disso, foi destacada a importância de políticas institucionais que invistam na melhoria das condições de trabalho e na capacitação contínua das equipes de enfermagem, preparando-as para lidar com as especificidades do ambiente de alta complexidade da UTI de maneira integral.
A humanização, portanto, não é apenas um ideal teórico, mas uma prática possível e essencial, que requer o envolvimento de gestores, profissionais de saúde, pacientes e seus familiares. A superação dos fatores dificultadores identificados e o fortalecimento dos fatores facilitadores dependem de mudanças estruturais e organizacionais que priorizem a dignidade, o respeito e a integralidade no cuidado.
A integração de estratégias que contemplem essas dimensões e a participação ativa de todos os envolvidos são essenciais para garantir que a humanização da assistência de enfermagem deixe de ser uma teoria para se tornar uma prática efetiva no cotidiano do cuidado nas unidades de terapia intensiva de adultos.
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