HPV E CÂNCER DE COLO DE ÚTERO: ATUALIZAÇÕES SOBRE A EFICÁCIA DA VACINAÇÃO

HPV AND CERVICAL CANCER: UPDATE ON VACCINATION EFFICACY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505311918


Helena Sasaki1
Lara Brenda Rodrigues de Albuquerque2
Solange Cavalcante Costa3


Resumo

O câncer do colo do útero representa um relevante problema de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento, sendo amplamente associado à infecção persistente pelos tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano (HPV). A vacinação profilática tem se mostrado eficaz na prevenção da infecção e, consequentemente, na redução da incidência dessa neoplasia. Este estudo tem como objetivo analisar a eficácia da vacinação contra o HPV e sua relação com a prevenção do câncer cervical, além de discutir aspectos relacionados à epidemiologia, rastreamento e barreiras na prevenção. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, com abordagem qualitativa. A pergunta de pesquisa foi construída com base na estratégia PICo: (P) mulheres em idade vacinal; (I) eficácia da vacinação contra HPV; (Co) prevenção do câncer de colo do útero. A busca foi realizada nas bases SciELO, PubMed e LILACS, utilizando os descritores “HPV”, “Papilomavírus Humano”, “Vacinação contra HPV” e “Câncer de colo de útero”, combinados com o operador booleano AND. Foram incluídos artigos publicados entre 2014 e 2024, disponíveis na íntegra em português, inglês ou espanhol. Os dados extraídos foram analisados de forma descritiva e qualitativa. Conclui-se que a vacinação contra o HPV é uma estratégia fundamental na prevenção do câncer cervical, embora ainda enfrente barreiras relacionadas à cobertura vacinal, acesso e conscientização da população. O estudo reforça a importância de políticas públicas eficazes e campanhas educativas que ampliem a adesão à imunização.

Palavras-chave: Câncer do colo do útero; HPV; Papilomavírus Humano; Vacinação; Prevenção.

1        INTRODUÇÃO

O câncer do colo do útero constitui um grave problema de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento, sendo a terceira neoplasia mais comum entre mulheres nessas regiões e a sétima mais prevalente em todo o mundo. Sua principal causa é a infecção persistente pelo Papilomavírus Humano (HPV). Trata-se de uma neoplasia que causa milhares de óbitos anualmente, embora seja amplamente evitável por meio de medidas de prevenção e detecção precoce (Rosa et al., 2024).

No Brasil, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres, excluindo-se os tumores de pele não melanoma. Para o triênio 2023–2025, estimam-se 17.010 novos casos anuais, com taxa de incidência de 15,38 por 100 mil mulheres. As regiões Norte (20,48/100 mil) e Nordeste (17,59/100 mil) concentram as maiores taxas, seguidas por Centro-Oeste (16,66/100 mil), Sul (14,55/100 mil) e Sudeste (12,93/100 mil). Em relação à mortalidade, a taxa ajustada mundialmente foi de 4,51 óbitos por 100 mil mulheres no ano de 2021, com a região Norte registrando os maiores índices do país, atingindo 9,07 óbitos por 100 mil mulheres e figurando como a principal causa de morte por câncer nessa população. Nordeste e Centro-Oeste apresentaram o câncer cervical como terceira causa de óbito oncológico entre mulheres, enquanto Sul e Sudeste obtiveram os menores índices (INCA, 2022).

A principal causa das lesões cervicais cancerosas é a infecção persistente pelo Papilomavírus Humano (HPV), um grupo de vírus amplamente disseminado em nível global. Dentre os mais de 100 tipos de HPV identificados, pelo menos 14 são considerados com alto risco oncogênico. Estima-se que os tipos 16 e 18 do HPV sejam responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer do colo do útero (WHO, 2020). A principal via de transmissão do HPV é o contato direto com pele ou mucosas infectadas durante a atividade sexual, mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal. Também é possível a transmissão vertical, embora menos comum (INCA, 2023).

Diversos fatores contribuem para a infecção persistente do HPV e sua evolução para neoplasias, incluindo o início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros sexuais, uso prolongado de contraceptivos orais, tabagismo, imunossupressão e condições socioeconômicas desfavoráveis. Embora a maioria das infecções seja eliminada espontaneamente, a presença desses fatores aumenta o risco de progressão para câncer cervical ao longo dos anos (Bedell et al., 2020).

As estratégias de prevenção do câncer cervical dividem-se em primárias e secundárias.

A prevenção primária visa interromper a transmissão do HPV, principalmente por meio da vacinação e do uso de preservativos. Já a prevenção secundária é baseada no rastreamento e na detecção precoce de lesões precursoras. No Brasil, o exame citopatológico é o método recomendado para mulheres entre 25 e 64 anos que já iniciaram a vida sexual, devendo ser realizado anualmente e, após dois exames consecutivos normais, a cada três anos (Tallon et al., 2020).

A prevenção primária por meio da vacinação contra o HPV foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2014 com a vacina quadrivalente, inicialmente ofertada a meninas de 11 a 13 anos. Desde então, o público-alvo tem sido ampliado progressivamente, abrangendo meninas e meninos de 9 a 14 anos, pessoas vivendo com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos de 9 a 26 anos, além de indivíduos imunossuprimidos de até 45 anos (INCA, 2023). A ampliação da cobertura vacinal e o fortalecimento das ações de rastreamento são fundamentais para a redução da incidência e mortalidade pelo câncer cervical no país.

Diante da relevância do tema, este estudo tem como objetivo analisar a relação entre a infecção pelo HPV e o câncer do colo do útero, com ênfase na eficácia da vacinação e nas estratégias de prevenção adotadas no Brasil, por meio de uma revisão narrativa da literatura.

2        FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

2.1.         Associação entre HPV e câncer de colo de útero

O Papilomavírus Humano (HPV) pertence à família Papillomaviridae, que se subdivide em vários gêneros. A transmissão do HPV ocorre principalmente por contato sexual, sendo uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns no mundo. Estima-se que até 80% da população sexualmente ativa terá contato com o vírus em algum momento na vida (Organização Pan-Americana da Saúde, 2023).

Dentre os mais de 200 tipos já identificados, alguns são classificados como de alto risco oncogênico. Os tipos 16 e 18 são responsáveis por em média 70% dos casos de cânceres de colo de útero no mundo. Além desses, os tipos 31, 33, 45, 52 e 58 aumentam a porcentagem para 90% dos casos. Em contrapartida, os tipos 6 e 11 são classificados como de baixo risco oncogênico. Ademais, os riscos de complicações e persistência das infecções aumentam quando ocorre infecção por diferentes tipos de HPV (Organização Pan-Americana da Saúde, 2023).

A presença do HPV é considerada a principal causa do câncer de colo de útero, embora a infecção viral, por si só, não seja suficiente para desenvolver a doença. A observação da presença do vírus nos casos de câncer de colo de útero, na década de 1970, constituiu a maior associação entre um agente específico e o desenvolvimento de câncer em humanos (Borba, 2023).

A progressão para o câncer necessita de alterações genéticas adicionadas das que ocorrem a partir da infecção viral. Esse processo se inicia quando o vírus penetra nas células epiteliais cervicais em microlesões na região, desenvolvendo um descontrole dos mecanismos de replicação e morte celular. Em sequência, ocorre o surgimento de lesões que, se não detectadas e tratadas, evoluem para a forma invasiva do câncer (Borba, 2023). 

As lesões precursoras do câncer do colo do útero são classificadas de acordo com seu grau de displasia como neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC) de grau I (leve), II (moderada) e III (grave), conforme a profundidade da alteração celular. Essa classificação é essencial para orientar condutas clínicas e terapêuticas de forma mais precisa e individualizada (Mello; Sundstrom, 2023)

2.2.          Rastreamento e diagnóstico de câncer de colo de útero

O câncer de colo de útero, apesar de ser o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres, é uma neoplasia passível de prevenção, por meio de métodos de rastreamento que permite sua detecção ainda em sua fase inicial, aumentando as chances de cura. Para isso, são utilizadas as técnicas morfológicas e os testes moleculares para HPV, que são os mais indicados como ferramenta para rastreio deste tipo de doença (Rocha, 2019).

 O exame citopatológico, também conhecido como Teste de Papanicolau, é o método morfológico mais utilizado no cotidiano para detecção de lesões celulares provocadas pelo HPV. Esse teste avalia se há alterações nas células epiteliais cervicais provocadas pelo vírus, mas não detecta diretamente a presença do HPV. Além disso, esse exame não consegue diferenciar se as alterações detectadas são potencialmente neoplásicas, mesmo sendo uma importante ferramenta para o diagnóstico precoce do câncer cervical (Rocha, 2019).

Por sua vez, os testes moleculares para detecção do HPV são altamente sensíveis e úteis no rastreamento e acompanhamento em pós-tratamentos. Existem variáveis tipos de testes, os mais comuns são os identificadores de DNA ou RNA viral, que quando associados a outros exames de rastreio permitem a identificação de infecções latentes e aumentam a precisão do diagnóstico. Isso mostra que as técnicas moleculares auxiliam na identificação desse vírus em períodos de latência possibilitando uma atenção mais direcionada ao tratamento precoce de câncer de colo de útero. Entretanto, apesar da sua eficácia, o custo é um limitante para utilizar em programas de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento (Rocha, 2019).

2.3.          Eficácia da vacinação do HPV na prevenção do câncer de colo de útero

         Estudos clínicos e observacionais mostraram uma alta eficácia da vacina contra o HPV na prevenção de infecções dos principais vírus oncogênicos responsáveis pelo câncer cervical no mundo, especialmente os tipos 16 e 18 (Organização Pan-Americana da Saúde, 2023).

 Existem, atualmente, três tipos de imunizantes contra o HPV: a Bivalente, a Quadrivalente e a Nonavalente. A comercialização da vacina Bivalente foi interrompida no Brasil em 2021, devido a disponibilidade de outras com cobertura mais ampla, e a Nonavalente só foi disponibilizada nas redes privadas, em 2023 (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2023). 

A Quadrivalente, que inclui os tipos 6, 11, 16 e 18, faz parte do calendário do Programa Nacional de Imunizantes (PNI) no Brasil desde 2014, oferecido pelo SUS. Esse esquema vacinal demonstrou resultados positivos em diversos países, com redução expressiva de lesões precursoras de alto grau, verrugas genitais e infecções persistentes. Outro ponto a ser destacado é que a eficácia é significativamente maior quando a imunização ocorre antes do início da atividade sexual (Roteli-Martins et al., 2024). 

 Além disso, Francelino et al. (2022) destaca dados de países que adotaram programas de estratégias preventivas em larga escala e apresentaram queda dos índices de câncer de colo de útero em mulheres vacinadas ainda na adolescência. Ademais, a vacina garante, com a produção sustentada de anticorpos neutralizantes por vários anos após a administração da última dose, uma elevada imunogenicidade prevenindo infecções virais persistentes. Portanto, adotar esquemas vacinais contra o HPV é a melhor ferramenta preventiva na redução de lesões precursoras e de mortalidade por câncer de colo uterino.  

2.4.          Adesão à vacinação pela população brasileira

Embora a vacina contra o HPV seja altamente eficaz na prevenção de vários tipos de câncer, a adesão à vacinação apresenta variações significativas entre as diferentes regiões do mundo. Em 2019, mais de 65% das meninas vacinadas em todo o mundo estavam concentradas em países de baixa e média renda. No entanto, em 2020, menos de 25% dos países de baixa renda e menos de 30% dos países de renda média-baixa haviam incorporado a vacina contra o HPV em seus calendários nacionais de imunização (Reis et al, 2025).

No Brasil, os dados refletem um cenário de preocupação. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras com idades entre 9 e 14 anos receberam a primeira dose da vacina contra o HPV. Contudo, em 2022, essa cobertura caiu para 75,81%. Entre os meninos, a situação também é alarmante: a taxa de cobertura vacinal passou de 61,55% em 2019 para apenas 52,16% em 2022. Esses números são insuficientes para garantir o impacto preventivo máximo desejado (Reis et al, 2025).

A adesão à vacinação contra o HPV está relacionada ao conhecimento sobre os riscos da infecção, aos benefícios da prevenção do câncer do colo do útero e das verrugas genitais, à idade superior a 14 anos, ao início da vida sexual e ao apoio familiar, especialmente quando há diálogo sobre saúde sexual. Também influenciam positivamente a recomendação de profissionais e professores, a oferta da vacina em escolas, sua inclusão no calendário nacional e o acesso à informação por redes sociais e familiares. Em contrapartida, a não adesão é motivada pela baixa percepção de risco, uso regular de preservativos, ausência de vida sexual, tabagismo, medo de dor ou efeitos adversos, além de crenças religiosas, valores familiares conservadores, baixa escolaridade e barreiras linguísticas. Mesmo com a comprovação da segurança da vacina, a recusa por parte dos pais ainda é um obstáculo relevante (Carvalho et al., 2019).

3        METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura com abordagem qualitativa, cujo objetivo é reunir, descrever e analisar dados relevantes acerca da eficácia da vacinação contra o Papilomavírus (HPV) e sua relação com a prevenção do câncer de colo de útero, além de relacionar aspecto relacionados à epidemiologia, rastreamento e barreiras na prevenção.  Inicialmente, para definição da pergunta de revisão foi utilizado a estratégia PICo, em que (P) representa a população de estudo “mulheres em idade vacinal”, (I) mostra o fenômeno de interesse “eficácia da vacinação contra HPV” e (Co) representa o contexto “prevenção do câncer de colo de útero”. Assim, a pergunta norteadora deste artigo é “Em que medida a cobertura vacinal contra HPV influencia a incidência do câncer de colo de útero e quais são os obstáculos para o alcance de resultados mais eficazes?”

A busca pelos artigos científicos foi realizada entre janeiro e maio de 2025 nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online), PubMed (US National Library of Medicine) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde).

Foram utilizados os seguintes descritores, com base no DeCS (Descritores da Ciências da Saúde): “HPV”, “Papilomavírus Humano”, “Vacinação contra HPV” e “Câncer de colo de útero”. Os termos foram combinados com o operador booleano AND para refinar os resultados.

 Como critérios de inclusão: (I) Estudos que abordassem diretamente sobre a vacinação contra o HPV como estratégia preventiva para o câncer de colo de útero, além de estudos sobre epidemiologia, rastreamento e políticas públicas relacionadas ao tema; (II) artigos publicados nos últimos 10 anos (2015-2025); (III) Estudos disponíveis na íntegra, nos idiomas português, inglês ou espanhol. Como critérios de exclusão: artigos duplicados nas bases de dados, relatos de caso, resumos de congressos, teses não publicadas e estudos que não apresentavam relação direta com o tema central do trabalho.

 Após a leitura dos títulos e resumos, os artigos selecionados foram analisados qualitativamente. Os dados extraídos foram organizados de forma descritiva, buscando evidenciar as contribuições científicas mais relevantes sobre a eficácia da vacinação na redução da incidência e mortalidade pelo câncer de colo de útero.

 Este estudo visa contribuir para a atualização e sistematização do conhecimento sobre a vacinação contra o HPV e sua eficácia na prevenção do câncer de colo de útero. Dessa forma, ao identificar barreiras à adesão vacinal e propor estratégias viáveis baseada em evidências, o artigo busca reforçar a importância da vacinação como ferramenta essencial na redução de incidência da doença, especialmente em contextos de maior vulnerabilidade. 

4        RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A presente revisão evidencia que a vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV) representa a principal estratégia de prevenção primária do câncer do colo do útero, especialmente quando administrada antes do início da atividade sexual. A literatura científica mostra que os imunizantes disponíveis, particularmente a vacina quadrivalente ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), demonstram alta eficácia na prevenção das infecções persistentes pelos tipos oncogênicos 16 e 18, responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer cervical (WHO, 2020; Francelino et al., 2022; Silva; Pereira; Deuner, 2024). Estudos clínicos e observacionais indicam que, em países que atingiram elevada cobertura vacinal, houve redução significativa de lesões precursoras de alto grau, da incidência de câncer e da mortalidade associada à doença (Roteli-Martins et al., 2024; Reis et al., 2025). 

Apesar desse panorama promissor, os dados brasileiros revelam uma realidade preocupante. Embora a vacina esteja disponível gratuitamente desde 2014, a adesão da população à imunização tem diminuído. Entre 2019 e 2022, observou-se queda na cobertura da primeira dose em meninas de 9 a 14 anos, de 87,08% para 75,81%, enquanto entre os meninos, no mesmo período, a taxa passou de 61,55% para 52,16% (Reis et al., 2025). Esses índices estão abaixo do necessário para garantir uma proteção coletiva e enfraquecem o impacto da vacinação como política pública de prevenção.

Diversos fatores contribuem para a baixa adesão vacinal no Brasil, sendo a falta de conhecimento qualificado um dos principais obstáculos. A circulação de informações imprecisas ou distorcidas, especialmente nas redes sociais, alimenta receios infundados quanto à segurança da vacina, como supostos riscos de infertilidade, estímulo à iniciação sexual precoce e reações adversas graves, todos sem respaldo científico (Carvalho et al., 2019; Lopes et al., 2024). A fragilidade das estratégias de comunicação institucional agrava esse cenário, diante da ausência de campanhas educativas permanentes, acessíveis e culturalmente adequadas. Além disso, estudos indicam que a hesitação vacinal está frequentemente associada à insegurança, à percepção de baixo risco da doença e à falta de recomendação ativa por parte dos profissionais de saúde (Carvalho et al., 2019). Nesse sentido, a capacitação de médicos, enfermeiros e agentes comunitários para o diálogo direto com adolescentes e responsáveis pode ser decisiva para aumentar a cobertura vacinal.

Outro aspecto relevante é a desigualdade regional no acesso à vacinação e ao rastreamento. As regiões Norte e Nordeste do Brasil apresentam as maiores taxas de incidência e mortalidade por câncer de colo do útero, concentrando populações mais vulneráveis devido a barreiras de acesso aos serviços de saúde,e desigualdades socioeconômicas (INCA, 2022; Tallon et al., 2020). Essas disparidades reforçam a importância de uma atuação mais intensa da Atenção Primária à Saúde (APS), promovendo ações educativas, superando barreiras culturais e territoriais e ampliando o acesso aos serviços preventivos.

No que se refere à prevenção secundária, o exame citopatológico continua sendo a principal ferramenta de rastreamento adotada pelo SUS. Apesar de ser amplamente utilizado, apresenta limitações relacionadas à sensibilidade e à necessidade de seguimento contínuo (INCA. 2016; Rocha, 2019). Os testes moleculares, capazes de identificar o DNA do HPV com maior precisão, configuram-se como uma alternativa mais sensível, inclusive em casos de infecção latente (Bedell et al., 2020). No entanto, o alto custo ainda impede sua ampla implementação na rede pública, tornando necessária a avaliação de estratégias de incorporação progressiva dessas tecnologias. 

Portanto, a presente análise reforça que, embora a vacinação contra o HPV seja uma ferramenta altamente eficaz e segura, sua efetividade em nível populacional depende da ampliação da cobertura vacinal, do enfrentamento à desinformação, do fortalecimento das ações em saúde pública e da redução das desigualdades regionais. A integração entre vacinação, rastreamento de qualidade e ações educativas contínuas constitui o caminho mais promissor para a eliminação do câncer do colo do útero como problema de saúde pública no Brasil.

5        CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão atinge os objetivos propostos ao analisar a influência da cobertura vacinal contra o HPV na incidência do câncer de colo do útero e identificar os principais obstáculos para a eficácia das estratégias preventivas no Brasil. Confirma-se que a vacinação em larga escala, especialmente antes do início da atividade sexual, reduz significativamente a incidência de lesões precursoras e casos da doença. No entanto, a baixa adesão à imunização, motivada por desinformação, hesitação vacinal e desigualdades regionais, compromete a efetividade populacional da vacina. 

A pesquisa contribui ao evidenciar a necessidade de fortalecer campanhas educativas, capacitar profissionais da atenção básica e integrar a escola e a comunidade nas ações de promoção à saúde. A associação entre rastreamento eficiente e cobertura vacinal elevada desponta como caminho viável para eliminar o câncer cervical como problema de saúde pública. Como limitação, destaca-se a natureza narrativa da revisão, que não permite análise quantitativa dos dados. Para estudos futuros, recomenda-se a realização de investigações de base populacional que avaliem o impacto direto das políticas de vacinação e rastreamento nas diferentes regiões do país.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Bacharelado em Medicina da Universidade Estadual de Roraima – Campus Boa Vista. e-mail: helena.sasaki@alunos.uerr.edu.br
2Discente do Curso Superior de Bacharelado em Medicina da Universidade Estadual de Roraima – Campus Boa Vista. e-mail: lara.albuquerque@alunos.uerr.edu.br
3Docente do Curso Superior de Bacharelado em Medicina da Universidade Estadual de Roraima – Campus Boa Vista. Graduada em medicina. e-mail: solbv31@gmail.com