HOSPITALIZAÇÕES DEVIDO À NEOPLASIA MALIGNA DE PRÓSTATA NO PIAUÍ DE 2013 A 2022: UMA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10041826


Mateus Ferro Barros1
Marcos Santiago de Sousa Martins2
Daniel de Paiva Leal3
Antonio Gabriel Coimbra Rocha4
Fernanda Silva Lopes de Macedo5


RESUMO

O câncer de próstata é uma das neoplasias malignas mais comuns entre os homens e representa um importante problema de saúde pública. Este estudo fornece uma análise epidemiológica das hospitalizações por essa patologia no Piauí entre 2013 e 2022. Os dados foram colhidos via DATASUS, acerca da morbidade e mortalidade. Houve 4.485 internações e 247 óbitos (5,51%). A maioria das internações ocorreu entre indivíduos da cor/raça parda (n=4.014; 89,49%). No entanto, a maior taxa de mortalidade foi na cor/raça amarela (27,03%). Houve predomínio na de 60 a 79 anos (n=3.396; 75,71%). A taxa de mortalidade mais alta foi observada na faixa etária de 80 anos ou mais (11,24%). As internações eletivas foram mais comuns (n=3.306; 73,71%), porém sua mortalidade foi de 0,36%, já as internações de urgência, embora em menor proporção, resultaram em uma taxa de mortalidade alarmante de 19,93%. Houve uma tendência geral de diminuição nas internações ao longo dos anos. O estudo conclui que o perfil epidemiológico do paciente internado se trata de homens, idosos, a partir da sexta década de vida, e de cor parda. Já no perfil de morbidade, a maior prevalência foi de homens, de cor amarela, e idosos a partir da oitava década de vida, além disso os pacientes hospitalizados em caráter de urgência têm uma probabilidade muito maior de óbito em comparação com aqueles cujas internações são planejadas.

ABSTRACT

Prostate cancer is one of the most common malignant neoplasms among men and represents a significant public health problem. This study provides an epidemiological analysis of hospitalizations for this pathology in Piauí between 2013 and 2022. The data were collected via DATASUS, about morbidity and mortality. There were 4,485 hospitalizations and 247 deaths (5.51%). The majority of hospitalizations occurred among individuals of brown color/race (n=4,014; 89.49%). However, the highest mortality rate was in the yellow color/race (27.03%). There was a predominance in the age group of 60 to 79 years (n=3,396; 75.71%). The highest mortality rate was observed in the age group of 80 years or more (11.24%). Elective hospitalizations were more common (n=3,306; 73.71%), but their mortality was 0.36%, while emergency hospitalizations, although less frequent, resulted in an alarming mortality rate of 19.93%. There was a general trend of decrease in hospitalizations over the years. The study concludes that the epidemiological profile of the hospitalized patient is men, elderly, from the sixth decade of life, and of brown color. Already in the morbidity profile, the highest prevalence was of men, yellow color, and elderly from the eighth decade of life, besides patients hospitalized on an emergency basis have a much higher probability of death compared to those whose hospitalizations are planned.

INTRODUÇÃO

O câncer de próstata é uma das neoplasias malignas mais comuns entre os homens e representa um importante problema de saúde pública no Brasil (INCA, 2023)3.

No Brasil, a taxa de internação por neoplasias malignas apresentou uma tendência crescente no Sistema Único de Saúde (SUS) no período de 2008 a 2018, com uma variação anual de 10,7%, sendo que, entre os homens, as internações ocorreram majoritariamente por neoplasia maligna de próstata, com uma variação anual de 4,7% (Machado; Machado; Guilhem, 2021). Em 2023, estima-se que haverá 71.730 novos casos de câncer de próstata no Brasil, representando 30% do total de novos casos de câncer em homens (INCA, 2023)3.

Apesar do tratamento do câncer de próstata ser muito desafiador, seu prognóstico geralmente é bom, principalmente porque – ao contrário de muitos outros tipos de câncer – sua progressão é lenta (Telessaúde RS, 2009)6. No entanto, o PSA, um marcador tumoral amplamente utilizado no diagnóstico das neoplasias da próstata, tem sido alvo de vários debates e críticas por não ser uma substância específica para o câncer (Naoum; Rocha, 2016)5. Isso destaca a necessidade contínua de pesquisas para o desenvolvimento de novos marcadores tumorais mais eficazes.

Embora não haja dados específicos disponíveis para o Piauí, a região Nordeste apresentou a maior variação anual (13,5%; p < 0,001) nas taxas de internação por neoplasias malignas entre 2008 e 2018 (Machado; Machado; Guilhem, 2021)4. Isso sugere que o Piauí pode estar enfrentando desafios semelhantes em termos do aumento da incidência e das hospitalizações por câncer de próstata.

Em síntese, este estudo pretende fornecer uma análise detalhada das tendências epidemiológicas das hospitalizações por neoplasia maligna de próstata no Piauí entre 2013 e 2022. Os resultados deste estudo podem ajudar a informar estratégias futuras para a prevenção e controle do câncer de próstata na região.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de desenho ecológico, de abordagem transversal e documental, com dados secundários coletados a partir da plataforma DATASUS, no item indicadores epidemiológicos, na aba do Sistema de Informações Hospitalares (SIH).

A amostra foi composta de pacientes hospitalizados devido a complicações relacionadas à neoplasia maligna da próstata atendidos em hospitais públicos e privados do estado do Piauí no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2022 organizados por local de internação, em conformidade com o padrão metodológico preconizado por Pereira et al. (2018)7. As variáveis utilizadas foram cor/raça, faixa etária e mortalidade por internação.

As variáveis utilizadas na extração e tabulação dos dados foram: o número de internações e o sexo masculino, sendo correlacionandas com características como ano de processamento, região, idade, etnia, média de permanência e taxa de mortalidade.

Utilizou-se estatística descritiva simples para examinar os dados, proporcionando uma visualização das tendências e padrões observados nas internações. Os achados deste estudo são exibidos através de tabelas e gráficos para simplificar a compreensão dos dados, com o auxílio do software Google Planilhas.

A condução deste estudo seguiu a resolução nº 510, datada de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que estabelece que pesquisas que utilizem informações de domínio público não necessitam ser registradas ou avaliadas pelo sistema Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), conforme a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Brasil, 2016)2. Como o SIH já disponibiliza dados em conformidade com a resolução, não houve necessidade de submeter o estudo ao CEP/CONEP .

RESULTADOS e DISCUSSÃO

Os dados coletados de 2013 a 2022, revelam informações significativas sobre as hospitalizações devido à neoplasia maligna de próstata no Piauí. Durante o período, houve um total de 4.485 internações, resultando em 247 óbitos, o que representa uma taxa de mortalidade de 5,51%.

Quadro 1 – Distribuição total de número de internamentos por neoplasia prostática maligna por cor/raça. Piauí, 2013 a 2022.

Cor/raçaNÓbitosMortalidade
Branca9966,06%
Preta14885,41%
Parda4.0141904,73%
Amarela371027,03%
Sem informação1873317,65%
Total4.4852475,51%

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

A análise por cor/raça mostra que a maioria das internações ocorreu entre indivíduos da cor/raça parda, com 4.014 internações e 190 óbitos, resultando em uma taxa de mortalidade de 4,73%.

Gráfico 1 – Distribuição em colunas das internações por neoplasia prostática maligna por cor/raça. Piauí, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

Os indivíduos da cor/raça amarela apresentaram a maior taxa de mortalidade (27,03%) com 37 internações e 10 óbitos.

Gráfico 2 – Distribuição em colunas da taxa de mortalidade por internações anuais devido à neoplasia prostática maligna por cor/raça. Piauí, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

Ao analisar as hospitalizações e óbitos por faixa etária, observou-se que a maioria ocorreu entre indivíduos na faixa etária de 60 a 79 anos (75,71%), com 1.677 internações e 76 óbitos (taxa de mortalidade de 4,53%) para aqueles entre 60 e 69 anos, e 1.719 internações e 91 óbitos (taxa de mortalidade de 5,29%) para aqueles entre 70 e 79 anos.

Gráfico 3 – Distribuição em colunas das internações por neoplasia prostática maligna por faixa etária. Piauí, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

A taxa de mortalidade mais alta foi observada na faixa etária de 80 anos ou mais, com 507 internações e 57 óbitos, resultando em uma taxa de mortalidade de 11,24%. Para as faixas etárias mais jovens (menor de 1 ano até 29 anos), houve poucas internações (n=7) e nenhum óbito registrado.

Gráfico 4 – Distribuição em colunas da taxa de mortalidade por internações anuais devido à neoplasia prostática maligna por faixa etária. Piauí, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

Em relação ao caráter de atendimento, a maioria das internações ocorreu em caráter eletivo, com 3.306 internações e 12 óbitos, resultando em uma taxa de mortalidade de apenas 0,36%. Por outro lado, as internações em caráter de urgência, embora menos frequentes (n=1.179), resultaram em um número significativamente maior de óbitos (n=235), com uma taxa de mortalidade alarmante de 19,93%. Esses resultados indicam que os pacientes que são hospitalizados em caráter de urgência têm uma probabilidade muito maior de óbito em comparação com aqueles cujas internações são planejadas (eletivas).

Gráfico 5 – Distribuição em pizza das internações devido à neoplasia prostática maligna conforme caráter de atendimento. Piauí, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

Ao longo dos anos, ocorreu uma tendência geral de diminuição nas internações. Em 2013, houve um total de 600 internações, que diminuíram para 412 em 2022. No entanto, o número de óbitos não seguiu uma tendência clara durante o mesmo período.

Gráfico 6 – Evolução das internações por neoplasia prostática maligna ao longo dos anos. Piauí, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

O número mais alto de óbitos foi registrado em 2014 com 45 mortes, enquanto o menor número foi registrado em 2020 com 10 mortes. O número de óbitos tem apresentado alternância entre picos e baixas, porém os picos têm sido cada vez menores, indicando uma tendência geral de queda ao longo do tempo.

Quadro 2 – Distribuição total de número de internamentos por neoplasia prostática maligna ao longo dos anos. Piauí, 2013 a 2022.

Ano de atendimentoInternaçõesÓbitosTaxa mortalidade (%)
2013600325,33
2014574457,84
2015511438,41
2016478224,6
2017436245,5
2018413163,87
2019398184,52
2020256103,91
2021351133,7
2022412215,1

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

O mesmo comportamento tem se observado na taxa de mortalidade por internação anual, porém uma possível reversão nessa tendência, devido ao último ano (2022; 5,1%) ter apresentado pico superior ao anterior (2019; 4,52%).

Gráfico 7 – Evolução dos óbitos por neoplasia prostática maligna ao longo dos anos. Piauí, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Piauí (datasus.gov.br).

CONCLUSÃO

Em síntese, o perfil epidemiológico do paciente internado por neoplasia maligna no Piauí se trata de homens, idosos, a partir da sexta década de vida, e de cor parda. Já no perfil de morbidade, a maior prevalência foi de homens, de cor amarela, e idosos a partir da oitava década de vida.

A tendência geral de diminuição nas internações ao longo dos anos é um indicativo positivo, reforçando o impacto das campanhas de prevenção, detecção precoce e tratamento da doença.

No entanto, a falta de uma tendência clara no número de óbitos e a alternância entre picos e baixas ao longo dos anos indicam que é necessária vigilância contínua desses pacientes. A recente reversão na tendência de queda da taxa de mortalidade por internação anual reforça essa observação.

As diferenças observadas nas taxas de mortalidade entre diferentes cor/raça e faixas etárias destacam a necessidade de estratégias direcionadas para grupos específicos, como os indivíduos da cor/raça amarela e idosos com 80 anos, pois ambos apresentaram os piores indicadores.

Além disso, a discrepância marcante nas taxas de mortalidade entre as internações em caráter eletivo e urgência sugere que o acesso precoce ao tratamento pode ser um fator crucial na diminuição da morbidade nesses pacientes.

Apesar do progresso do Piauí no tratamento das doenças malignas da próstata, os resultados indicam que ainda são necessários reforços nas políticas públicas e medidas educativas para prevenção secundária e terciária dessa patologia.

REFERÊNCIAS

  1. BRASIL. Banco de dados do Sistema Único de Saúde – DATASUS. Ministério da Saúde. Disponível em:<http://www.datasus.gov.br>. Acesso em: 14 out. 2023.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Diário Oficial da União, n. 98, p. 44-46, 2016.
  3. INCA. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. [site da Internet]. Disponível em: <https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/>. Acesso em: 14 out. 2023.
  4. MACHADO, Analy da Silva; MACHADO, Anaely da Silva; GUILHEM, Dirce Bellezi. Perfil das internações por neoplasias no Sistema Único de Saúde: estudo de séries temporais. Revista de Saúde Pública, v. 55, 2021.
  5. NAOUM, S.; ROCHA, MS. Marcadores tumorais utilizados no diagnóstico do câncer de próstata: antígeno prostático específico (PSA) e novas perspectivas. Rev. Oswaldo Cruz, São Paulo, v. 12, n. 4, 2016.
  6. NÚCLEO DE TELESSAÚDE RIO GRANDE DO SUL. Quais os sintomas e complicações do câncer de próstata? BVS Atenção Primária em Saúde, 21 ago. 2009. Disponível em: <aps-repo.bvs.br>. Acesso em: 14 out. 2023.
  7. PEREIRA, A. S. et al. Metodologia da pesquisa científica. UFSM. 119p. 2018.
  8. SILVA, André Luiz et al. Análise das características epidemiológicas e hospitalares da neoplasia maligna da próstata referente aos casos registrados no Brasil nos últimos 5 anos. Research, Society and Development, v. 12, n. 4, p. e28412441386-e28412441386, 2023.

1,2,3,4 Acadêmicos de Medicina do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina-PI

5 Médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI;