HISTERECTOMIA LAPAROSCÓPICA VERSUS VAGINAL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS

LAPAROSCOPIC VERSUS VAGINAL HYSTERECTOMY: A COMPARATIVE ANALYSIS OF EPIDEMIOLOGICAL DATA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202409141742


Luís Henrique Andrade Medina1
Larissa Santiago Ramos Oliveira1
Estefany Azevedo Mendonça Cruz1
Gilmara Vasconcelos de Souza2


Resumo

Introdução: a histerectomia é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção total ou parcial do útero, sendo um dos procedimentos ginecológicos mais realizados no mundo. Atualmente existem as técnicas laparoscópica, vaginal, robótica, abdominal e cirurgia endoscópica transluminal de orifício natural vaginal (vNOTES).  Não há critérios específicos que possam ser usados para escolher a via de histerectomia, entretanto, a via de escolha deve ser individualizada. Objetivo: identificar a taxa de mortalidade, o custo-eficácia e o tempo de permanência hospitalar entre as técnicas de histerectomia vaginal e laparoscópica.  Métodos: trata-se de um estudo ecológico, de caráter transversal, quantitativo, com dados agregados, do tipo série temporal, realizado através da coleta de dados na plataforma do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no período de janeiro de 2014 a dezembro de 2023. Resultados: No período analisado, houve 6.502 histerectomias laparoscópicas realizadas. Em relação aos óbitos por procedimento, foram contabilizados 41 óbitos na histerectomia vaginal e 2 na histerectomia laparoscópica. O custo para realização dos procedimentos apresentou uma discrepância, porém, justificada pela taxa de realização de cada técnica. Conclusão: a histerectomia laparoscópica é uma inovação, e que a cada ano vem se tornando mais frequente na prática cirúrgica, além de se tornar mais acessível, o que pôde ser comprovado pelo aumento considerável do número de realizações do procedimento após o ano de 2022. A taxa de óbitos na técnica videolaparoscópica se mostrou menor, porém, o tempo de permanência hospitalar e o custo por procedimento da técnica vaginal se mostraram menores.

Palavras-chave: Histerectomia. Histerectomia videolaparoscópic. Histerectomia vaginal.

1 INTRODUÇÃO

A histerectomia é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção total ou parcial do útero, sendo um dos procedimentos ginecológicos mais realizados no mundo. Nos Estados Unidos é o segundo procedimento mais comum, depois da cesariana e sua taxa máxima de realização está entre 40 e 49 anos com idade média de 46,1 anos.(“TRATADO DE GINECOLOGIA BEREK & NOVAK 2014”, [s.d.])  A indicação da histerectomia pode ser por condições malignas ou benignas sendo mais de 70% dos procedimentos realizados para condições benignas como: leiomioma, endometriose, adenomiose, hiperplasia de endométrio, dismenorreia severa, displasia cervical e prolapso uterino.(DEDDEN et al., 2017; “TRATADO DE GINECOLOGIA BEREK & NOVAK 2014”, [s.d.])

Atualmente existem as técnicas laparoscópica, vaginal, robótica, abdominal e cirurgia endoscópica transluminal de orifício natural vaginal (vNOTES), entretantonão há critérios específicos que possam ser usados para escolher a via de histerectomia, sendo a via de escolha individualizada.(LI; HUA, 2020; “TRATADO DE GINECOLOGIA BEREK & NOVAK 2014”, [s.d.]) Tanto a técnica vaginal quanto a laparoscópica estão relacionadas a menos dor, menor perda sanguínea e recuperação pós-operatória mais rápida, entretanto, devido a algumas limitações da via vaginal, a rota laparoscópica é preferível em determinados casos.(DEDDEN et al., 2017; PICKETT et al., 2023; “TRATADO DE GINECOLOGIA BEREK & NOVAK 2014”, [s.d.])

Desde que a histerectomia laparoscópica surgiu, vem demonstrando alguns benefícios comparada a outros tipos de histerectomia como: maior satisfação da paciente, retorno precoce ao trabalho, menor perda sanguínea, possibilidade de diagnosticar e tratar outras doenças pélvicas. Por outro lado, a técnica laparoscópica possui alguns entraves, incluindo alto custo, longo tempo de operação e a necessidade de ferramentas tecnológicas sofisticadas.(GÜVEN et al., 2023)Porém, não existem dados na literatura que comparem os desfechos entre as técnicas no Brasil, além de não existirem estudos ecológicos sobre o tema.

A histerectomia vaginal e laparoscópica apresentam menor tempo de internação hospitalar, recuperação pós-operatória mais rápida e menor morbidade febril em comparação com a histerectomia abdominal.(“TRATADO DE GINECOLOGIA BEREK & NOVAK 2014”, [s.d.]) Esse estudo visa fornecer uma análise abrangente e comparativa das técnicas de histerectomia laparoscópica e vaginal, com o objetivo de comparar a taxa de realização, o custo-eficácia e o tempo de permanência hospitalar entre elas, no Brasil, entre os anos de 2014 e 2023. Ademais, poderá beneficiar equipes cirúrgicas na decisão da melhor técnica para realização da histerectomia.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo ecológico, de caráter transversal, quantitativo, com dados agregados, do tipo série temporal, realizado através da coleta de dados na plataforma do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no período de janeiro de 2014 a dezembro de 2023. 

Os dados coletados foram arquivados e analisados utilizando a plataforma do Microsoft Excel, o qual foi utilizado para confecção de gráficos e tabelas. O desfecho primário foi a análise do número de internações das técnicas de histerectomia vaginal e laparoscópica, e a média de tempo de permanência hospitalar das mesmas no Brasil, no período de 2014 a 2023. O desfecho secundário foi a comparação do custo-eficácia das técnicas e dos óbitos. As variáveis analisadas foram óbitos, Autorização de Internação Hospitalar (AIH), custo, caráter de atendimento e tempo de permanência hospitalar. Os dados coletados foram apresentados por distribuição de frequência.

Não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, visto que se trata de um estudo com dados secundários, sem a identificação dos participantes.

3 RESULTADOS

No período de 2014-2023, houve 6.502 histerectomias laparoscópicas realizadas, sendo que, destas, 37,4% foram realizadas nos anos de 2022 e 2023. Além disso, foram realizadas 74.956 histerectomias por via vaginal, sendo que, no período de 2014 a 2019 houve uma linearidade na taxa de realização da técnica, porém, de 2019 para 2020 houve uma queda de 56,79%, que teve um novo aumento expressivo em 2022 com um crescimento de 105% (Figura 1).

Figura 1. Distribuição da taxa de Autorização de Internação hospitalar para realização de histerectomia videolaparoscópica e vaginal, no período de 2014 a 2023

Fonte: Tabnet – DataSUS, 2024.

Em relação aos óbitos por procedimento, foram contabilizados 41 óbitos após a histerectomia vaginal e 2 após a histerectomia laparoscópica em 10 anos. Ademais, vale ressaltar que 87,3% dos procedimentos realizados pela via laparoscópica foram em caráter eletivo e apenas 12,7% em caráter de urgência, enquanto a histerectomia vaginal teve 82% de eletivas e 18% de urgências. O custo para realização dos procedimentos apresentou certa discrepância, enquanto a técnica vaginal apresentou um custo de r$ 45.166.487,3, a técnica laparoscópica apresentou um custo de R$ 4.091.964,72 (figura 2), justificado pela diferença na taxa de realização de uma técnica para outra. O tempo de permanência hospitalar médio após histerectomia vaginal e laparoscópica foi muito semelhante, sendo respectivamente: 2,3 dias e 2,6 dias.

Figura 2 – Análise dos custos por ano, derivado de cada técnica de histerectomia

Fonte: Tabnet – DataSUS, 2024.

4 DISCUSSÃO

Baseado nos resultados do presente estudo, pôde-se notar um aumento da prevalência de histerectomias videolaparoscópicas nos anos de 2022 e 2023, e uma queda no número de histerectomias vaginais no período de 2019-2021.

Em relação aos custos para realização das técnicas, a histerectomia por via vaginal apresentou um custo total muito superior, devido a maior realização da mesma, porém, quando avaliado o custo por procedimento, a técnica laparoscópica se mostrou mais custosa, assim como evidenciado em outro estudo.(LEE et al., 2019)

Outro desfecho analisado foi o tempo de permanência hospitalar, o qual apresentou leve discrepância no estudo, mas que também foi evidenciado em outro estudo, sendo a histerectomia vaginal a de menor tempo de recuperação pós-operatório.4 além disso, ambas as técnicas são capazes de promover uma alta hospitalar no mesmo dia de pós-operatório, porém, alguns pacientes podem necessitar de um tempo maior de internação, fazendo com que a média de tempo de permanência hospitalar seja em torno de 2,3/2,6 dias.(DEDDEN et al., 2017)

O número de óbitos também foi analisado nesse estudo, o qual foi maior na técnica vaginal, porém, o número de procedimentos realizados nessa técnica foi superior ao da técnica laparoscópica, tendo uma taxa de óbitos de 1:1.828, enquanto a técnica laparoscópica apresentou uma taxa de óbitos de 1:3.251. Outro ponto que deve-se levar em conta quando analisa-se os óbitos é o caráter de atendimento em que as técnicas foram aplicadas, 87,3% dos procedimentos realizados pela via laparoscópica foram em caráter eletivo e apenas 12,7% em caráter de urgência, enquanto a histerectomia vaginal teve 82% de eletivas e 18% de urgências.

Por fim, o custo-eficácia da técnica videolaparoscópica se mostrou superior a técnica vaginal, pois mesmo tendo um custo superior, apresentou uma menor taxa de mortalidade.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise dos resultados, pôde-se concluir que a histerectomia laparoscópica é uma inovação no meio cirúrgico, e que a cada ano a mesma vem se tornando mais frequente na prática cirúrgica, além de se tornar mais acessível, o que pôde ser comprovado pelo aumento considerável do número de realizações do procedimento após o ano de 2022. A taxa de óbitos na técnica videolaparoscópica se mostrou menor, porém, o tempo de permanência hospitalar da técnica vaginal se mostrou mais curto, demonstrando que a escolha da técnica é relativa e deve se basear na experiência do cirurgião e as indicações já bem estabelecidas de cada técnica. Porém, em relação ao custo para o sistema público de saúde, a técnica videolaparoscópica se mostrou mais custosa, mesmo não tendo benefícios tão pronunciados.

REFERÊNCIAS

BEREK, Jonathan S.; BEREK, Deborah L. Berek & Novak Tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2016. E-book. ISBN 9788527738392. Acesso em: 04 set. 2024.

DEDDEN, S. J. et al. Vaginal and Laparoscopic hysterectomy as an outpatient procedure: A systematic review. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, v. 216, p. 212–223, set. 2017.

GÜVEN, C. M. et al. Surgical outcomes of intraabdominal versus vaginal approach for uterine manipulation during total laparoscopic hysterectomy. Medicine (United States), v. 102, n. 22, p. E33927, 2 jun. 2023.

LEE, S. H. et al. Comparison of vaginal hysterectomy and laparoscopic hysterectomy: a systematic review and meta-analysis. BMC women’s health, v. 19, n. 1, p. 83, 24 jun. 2019.

LI, C.; HUA, K. Transvaginal natural orifice transluminal endoscopic surgery (vNOTES) in gynecologic surgeries: A systematic review. Asian Journal of Surgery, v. 43, n. 1, p. 44–51, jan. 2020

PICKETT, C. M. et al. Surgical approach to hysterectomy for benign gynaecological disease. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 2023, n. 8, 29 ago. 2023.


1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Zarns Campus Salvador-BA e-mail: estefanymendonca34@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Zarns Campus Salvador-BA. Mestre em Medicina e Saúde Humana. e-mail: Gilmara.sousa@medicinaftc.com.br