REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8076410
Cristiana Marinho Martins Barroso1; Renata Marques da Silva1; Pamela Nery do Lago1; Marilza Alves de Souza1; Karine Alkmim Durães1; Juliana Lagreca Pacheco1; Darlan dos Santos Damásio Silva2; Hilma Keylla de Amorim2; Christiane Renata Hoffmeister Ramires3; Kelly Monte Santo Fontes4; Rafaela Bezerra Gama Guimarães4; Kelly Franciane Lima Alves4; Letícia Lacerda Marques5; Ana Teresa Gonçalves de Souza6; Priscila Maria da Silva Burégio Melo6; Irene Aparecida da Consolação e Silva7; Sandra Aparecida Sales Gomes7; Samanntha Lara da Silva Torres Anaisse8; Maria Izabel Gonçalves de Alencar Freire9; Adelmo Barbosa de Miranda Junior9; Luciene Maria dos Reis10; Juliane Guerra Golfetto11; Antonia Gomes de Olinda12; Júlio César Gerevini Junior13; José Wellington Cunha Nunes13; Maria Fernanda Silveira Scarcella14; Eliseu da Costa Campos15; Maria Artunilda Bezerra Pinho16
RESUMO
A hipodermóclise consiste em uma técnica antiga que tem como objetivo realizar a infusão de fluidos e medicamentos por via subcutânea, sobretudo em pacientes que necessitam de internações prolongadas e na terminalidade da vida, cenários em que a rede venosa do paciente tende a ser cada vez de mais difícil acesso. Tornando-se a hipodermóclise uma alternativa de vida simples e segura na assistência à saúde. Este estudo objetivou conhecer os desafios da equipe de enfermagem para a utilização da hipodermóclise na prestação dos cuidados aos pacientes. Metodologicamente, trata-se pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, realizada na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e analisados entre os meses de agosto e novembro de 2022, utilizando os descritores: hipodermóclise, infusões subcutâneas, cuidados de enfermagem, cuidados paliativos. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo proposta por Bardin. Foram encontrados 45 artigos para a leitura na íntegra, após aplicação dos critérios de elegibilidade, a saber: artigos publicados no idioma português, dos últimos cinco anos, completos e que abordaram integralmente o tema, resultou em um total de sete estudos incluídos neste trabalho. Os resultados nos apresentaram que após análise desses dados foram identificadas duas categorias norteadoras: “Escassez de estudos sobre a técnica de hipodermóclise” e “Complicações relacionadas à hipodermóclise devido à falta de conhecimento dos profissionais sobre a técnica”. Através desse estudo foi possível identificar quais são os maiores entraves relacionados à prática da hipodermóclise. A hipodermóclise é uma ferramenta utilizada pela equipe de enfermagem, para promover ao paciente conforto e qualidade de vida, porém ainda pouco difundida no meio acadêmico e profissional. Ficando neste sentido aberto um campo vasto de oportunidades para novos e aprofundados estudos.
Palavras-chave: Hipodermóclise. Infusões subcutâneas. Cuidados de enfermagem. Cuidados paliativos.
ABSTRACT
Hypodermoclysis consists of an old technique that aims to infuse fluids and drugs subcutaneously, especially in patients who require prolonged hospitalizations and at the end of life, scenarios in which the patient’s venous network tends to be increasingly more difficult to access. Making hypodermoclysis a simple and safe alternative in health care. This study aimed to understand the challenges of the nursing team for the use of hypodermoclysis in providing care to patients. Methodologically, this is an exploratory research, with a qualitative approach, carried out in the Virtual Health Library (VHL) database and analyzed between August and November 2022, using the descriptors: hypodermoclysis, subcutaneous infusions, nursing care, care palliatives. Data were analyzed using the content analysis proposed by Bardin. 45 articles were found for reading in full, after applying the eligibility criteria, namely: articles published in Portuguese, in the last five years, complete and fully addressing the theme, resulting in a total of seven studies included in this work. The results showed us that after analyzing these data, two guiding categories were identified: “Scarcity of studies on the hypodermoclysis technique” and “Complications related to hypodermoclysis due to lack of knowledge of professionals about the technique”. Through this study it was possible to identify which are the biggest obstacles related to the practice of hypodermoclysis. Hypodermoclysis is a tool used by the nursing team to promote patient comfort and quality of life, but it is still not widespread in academic and professional circles. In this sense, a vast field of opportunities for new and in-depth studies is opened.
Keywords: Hypodermoclysis. Subcutaneous infusions. Nursing care. Palliative care.
1. Introdução
A hipodermóclise (HD) ou terapia subcutânea é uma prática muito antiga utilizada para reposição de fluidos, hidratação e como forma de administração de medicamentos pela via subcutânea (SC) (BONIZIO et al., 2021). Devido alguns problemas relacionados à técnica, tais como, a infusão de soluções hipertônicas, de medicamentos vesicantes, em volume excessivo ou por administração rápida, ao uso inadequado e a falta de conhecimento, caiu em desuso (PEDREIRA, 2009). No Brasil houve retorno formal da HD no ano de 2009, com a publicação pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) do Manual de Terapia Subcutânea (BONIZIO et al., 2021).
A hipodermóclise tem como benefício ser uma prática segura, minimamente invasiva e eficaz. Quando comparada a outras vias de administração de medicamentos, têm demonstrado melhor relação custo-benefício em situações clínicas que não requeiram emergência, uma vez que seu uso é simples e de fácil manuseio, tanto pelos profissionais de saúde quanto pelos cuidadores familiares. Porém, ainda existem questionamentos quanto à sua utilização, tais como, medicamentos e fluidos que podem ser segurados, velocidade de infusão, dentre outros aspectos (GODINHO; SILVEIRA, 2017; LAGO; SOUZA; SOUZA, 2021).
No que abrange aos princípios fisiológicos, sabe-se que a pele é responsável por manter a integridade do corpo, por proteger contra agressões externas, por absorver e por excretar líquidos, por regular a temperatura e por metabolizar vitaminas. A pele é constituída por epiderme, derme e hipoderme. A hipoderme, também conhecida como tecido subcutâneo, possui como principal função o depósito nutritivo de reserva energética, funcionando como isolante térmico e protetor mecânico do organismo às pressões e aos traumatismos externos (BRASIL, 2009).
O tecido SC é composto de carregadas conexões e tecido adiposo, contendo vasos sanguíneos, linfáticos, glândulas e nervos. E por possuir vasos sanguíneos, faz com que se torne uma via favorável, pois, medicamentos e fluidos administrados neste local são absorvidos por meio de difusão capilar, através da ação hidrostática e osmótica, e transportados à microcirculação. A vascularização do tecido SC abriga em torno de 6% do débito cardíaco que atinge concentrações séricas menores, mas com tempo de ação prolongado e superior ao das vias intravenosa e intramuscular. Com isso, inibindo a absorção rápida pelo fígado, originando uma concentração sérica estável do medicamento, evitando efeitos colaterais indesejáveis por consequência de picos plasmáticos (VIDAL et al., 2015).
Estudos mostram que a escolha do material, tamanho da agulha e angulação a ser usada, deve ser levado em consideração, e também o perfil do paciente, principalmente em relação ao peso corporal. É importante também levar em conta que, em pacientes desnutridos, pode ocorrer a diminuição da espessura do tecido subcutâneo. E em relação ao sítio de punção, devem ser avaliadas as características clínicas de cada paciente, considerando, o conforto, a mobilidade e independência do indivíduo. As punções, em sua maioria, são realizadas em região torácica e região abdominal, pois são consideradas áreas de maior absorção. As áreas indicadas para punção possuem capacidades diferentes de absorção possibilitando a administração de volume máximo de até 1500mL em 24 h por sítio de punção, sendo viável a realização de mais de um sítio distintos que totalizam 3000mL por dia. Podem ser utilizados os seguintes locais de punção e os respectivos volumes em cada sítio, região abdominal 1000ml, região torácica 250ml, deltóide 250ml, região escapular 1000ml, anterolateral da coxa 1500ml (VASCONCELLOS, MILÃO, 2019).
Ao realizar a punção do cateter subcutâneo deve-se considerar a direção da drenagem linfática, para diminuir a possibilidade de formação de edemas (VASCONCELLOS, MILÃO, 2019).
Os profissionais de enfermagem são responsáveis pela punção da hipodermóclise, local correto, dispositivo mais adequado, medicações compatíveis, vazão correta, e pelos cuidados, que são essenciais para manter uma via segura e confortável para o paciente e reduzir os efeitos indesejáveis na pele, porém, para se realizar tal técnica, o profissional deve ser treinado, capacitado e suas habilidades devem ser sempre validadas por meio da educação permanente (AZEVEDO, 2017).
A hipodermóclise é uma via SC alternativa para os pacientes em cuidados paliativos, pois permite ao enfermo o domínio sobre os sintomas comumente presentes nesse final da vida. Visto que, este indivíduo quando treinado e possui habilidades técnicas, tem a autonomia no manuseio do cateter para ser utilizado em ambiente domiciliar, que pode oferecer ao paciente melhor liberdade para suas atividades diárias (QUAGLIO et al., 2018).
Cuidados paliativos são oferecidos às pessoas que estão no final da vida, sem distinção de idade que, devido a doenças graves, enfrentam sofrimento intenso relativo à saúde. O objetivo é oferecer cuidados holísticos ativos (oferta de cuidados em pacientes com intenso sofrimento relacionado à saúde, proveniente de uma doença grave) e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares (LAGO; SOUZA; SOUZA, 2021).
Sabe-se que a enfermagem tem papel crucial na interação com os pacientes e com a equipe médica, responsável pela prescrição da hipodermóclise, a fim de esclarecer e de auxiliar na escolha da terapêutica. Porém a maioria das instituições de saúde não realizam capacitações sobre essa terapia por via SC, sendo assim, os profissionais não sabem manusear ou mesmo direcionar os cuidados com a mesma, resultando na falta de adesão à técnica (JUSTINO et al., 2013).
O interesse pelo estudo surgiu porque foi identificado uma fragilidade no conhecimento dos profissionais de saúde relacionados ao uso da hipodermóclise e aumento do número de pacientes hospitalizados necessitando de medicações parenterais (VASCONCELLOS, MILÃO, 2019).
A pesquisa auxiliará os profissionais de saúde sobre o uso da hipodermóclise em pacientes que estão em cuidados paliativos e em outros cuidados, trazendo habilidades nas técnicas de punção, locais adequados e possíveis complicações (BRASIL, 2009).
Descrever os benefícios e conhecer as dificuldades dos profissionais de enfermagem para a utilização dessa técnica na prestação dos cuidados paliativos e em outros cuidados é primordial. Diante disso, quais os desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem para o uso de hipodermóclise nos cuidados com os pacientes?
2. Metodologia
Pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, do tipo revisão integrativa de literatura. A pesquisa exploratória é um tipo de pesquisa realizada quando o tema escolhido é pouco explorado, sendo difícil a formulação e operacionalização de hipóteses. Muitas vezes esse tipo de estudo constitui-se em um primeiro passo para a realização de uma pesquisa mais aprofundada (ZANELLA, 2013).
Já a pesquisa qualitativa é o tipo de pesquisa que preocupa em descrever o entendimento de fenômenos complexos específicos, os resultados são expressos na forma de transcrição de entrevistas, em narrativas, declarações, documentos dentre outras formas de coleta de dados e informações, é descritiva e não considera aspectos numéricos (ZANELLA, 2013).
A revisão integrativa promove os estudos de revisão em diversas áreas do conhecimento, mantendo o rigor metodológico das revisões sistemáticas, é um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
O levantamento dos artigos na literatura se deu no período de agosto a novembro de 2022 através dos Descritores em Ciência da Saúde (DECS/MeSH) e foi realizada uma criteriosa busca na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para tal, os descritores utilizados foram: hipodermóclise, infusões subcutâneas, cuidados de enfermagem, cuidados paliativos. Após a montagem das chaves com os descritores citados acima, obteve-se os cruzamentos e o resultado das buscas, conforme o Quadro 1.
Como critérios de inclusão foram selecionados artigos publicados no idioma português, dos últimos cinco anos, gratuitos e que abordaram integralmente o tema. Foram excluídos artigos de revisão bibliográfica e os que não atingiram o objetivo do estudo.
Quadro 1: Cruzamentos dos descritores:
1° Cruzamento | (“cuidados de enfermagem”) and (“hipodermóclise”) and (“infusões subcutâneas”) | 3 Artigos | Pós filtro: 1 | Selecionado 1 |
2° Cruzamento | (“cuidados de enfermagem”) and (“infusões subcutâneas”) | 31 Artigos | Pós filtro: 1 | Selecionado: 0 |
3° Cruzamento | (“hipodermóclise”) and (“infusões subcutâneas”) | 17 Artigos | Pós filtro: 6 | Selecionado 3 |
4° Cruzamento | (“cuidados de enfermagem”) and (“hipodermóclise”) | 23 Artigos | Pós filtro: 7 | Selecionado: 1 |
5° Cruzamento | (“cuidados de enfermagem”) and (“hipodermóclise”) and (“infusões subcutâneas”) and (“cuidados paliativos”) | 1 Artigo | Pós filtro: 0 | Selecionado: 0 |
6° Cruzamento | (“cuidados de enfermagem”) and (“hipodermóclise”) and (“cuidados paliativos”) | 3 Artigos | Pós filtro: 1 | Selecionado: 0 |
7° Cruzamento | (“cuidados de enfermagem”) and (“infusões subcutâneas”) and (“cuidados paliativos”) | 2 Artigos | Pós filtro: 0 | Selecionado: 0 |
8° Cruzamento | (“cuidados de enfermagem”) and (“cuidados paliativos”) | 3948 Artigos | Pós filtro: 112 | Selecionado: 0 |
9° Cruzamento | (“hipodermóclise”) and (“cuidados paliativos”) | 35 Artigos | Pós filtro: 9 | Selecionado: 2 |
10° Cruzamento | (“infusões subcutâneas”) and (“cuidados paliativos”) | 53 Artigos | Pós filtro: 3 | Selecionado: 0 |
Fonte: Autoria própria
A estratégia de busca identificou um total de 4.116 publicações. Após a exclusão por filtro restaram 140 artigos, onde 45 foram selecionados para a leitura na íntegra, excluídos aqueles que definitivamente não atenderam à questão de pesquisa, ou não estavam disponíveis, resultando em um total de sete estudos incluídos na revisão.
Os artigos encontrados foram analisados por meio da análise de conteúdo proposta por Bardin. Que estrutura essa análise em três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação (BARDIN, 2011).
Segundo Bardin (2011) análise de conteúdo designa:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
3. Resultados
Para melhor delineamento do estudo, empregou-se também o fichamento das publicações que foram selecionadas. O fichamento permite organizar e sistematizar o conhecimento com as principais informações de modo conciso, objetivo e coerente (SILVA; BESSA, 2019).
Quadro 2: Fichamento:
N° | ARTIGO | ANO | BASE DE DADOS | TIPO DE ESTUDO | RESULTADO |
1 | Caracterização de pacientes sob cuidados paliativos \submetidos à punção venosa periférica e à hipodermóclise | 2020 | LILACS, BDENF | Estudo observacional, descritivo e prospectivo | Os profissionais da enfermagem preferem realizar várias tentativas de punção venosa, ao invés de optar pela via SC, isso pode ter relacionado ao fato de que a hipodermóclise é uma técnica ainda pouco difundida no meio profissional e acadêmico (MOREIRA et al., 2020). |
2 | Caracterização do uso de hipodermóclise em pacientes internados em um Hospital Infantil de Belo Horizonte | 2022 | LILACS | Estudo descritivo observacional | Motivos que levaram a suspensão do cateter: sinais flogísticos n=12 (20%) e exteriorização acidental n=10 (16,7%), o principal motivo para a não utilização da hipodermóclise é a falta de experiência e a dificuldade da equipe de enfermagem em receber instruções sobre esta prática (LÚCIO; LEITE; RIGO, 2022). |
3 | Complicações da via subcutânea na infusão de medicamentos e soluções em cuidados paliativos | 2019 | LILACS | Estudo observacional prospectivo | Dos 34,6% pacientes que tiveram complicações, observou-se hiperemia, edema, celulite, sangramento, dor, abscesso, necrose (GUEDES et al., 2019). |
4 | Hipodermóclise para correção de desidratação hiperosmolar e distúrbios eletrolíticos graves: relato de caso | 2020 | LILACS | Estudo de caso | Não encontrados estudos sobre a eficácia da hipodermóclise para tratamentos de distúrbios eletrolíticos e desidratação grave (CINTRA, 2020). |
5 | Pacientes oncológicos sob cuidados paliativos: ocorrências relacionadas à punção venosa e hipodermóclise | 2022 | SciELO | Estudo observacional descritivo | Foram identificadas punções SC apresentando sinais flogísticos e hematomas no local de inserção do cateter devido à falta de conhecimento dos profissionais (21) |
6 | Percepções de cuidadores familiares sobre o uso da hipodermóclise no domicílio | 2020 | SciELO | Estudo descritivo | A falta de conhecimento da técnica gerou aflição nos profissionais durante o manuseio da hipodermóclise (MARTINS, 2020). |
7 | Qualificação da assistência de enfermagem paliativista no uso da via subcutânea | 2020 | SciELO | Relato de experiência | Deve-se repensar em inserir nos conteúdos ainda no âmbito da formação profissional a técnica de hipodermóclise (SANTOS et al., 2020). |
Fonte: Autoria própria, 2022.
De acordo com os resultados distribuídos no Quadro 2 em questão houve um predomínio de artigos descritivos. Houve prevalência da base de dados LILACS. Os artigos 1, 4, 6 e 7 trazem questões referentes à deficiência de estudos relacionados a essa via subcutânea. Os artigos 2, 3 e 5 trazem as questões relacionadas a complicações ao uso da hipodermóclise, devido à falta de conhecimento dos profissionais.
Os artigos selecionados trazem como resposta ao objetivo desta pesquisa duas categorias norteadoras que evidenciam os desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem para o uso de hipodermóclise nos cuidados com os pacientes: Escassez de estudos sobre a técnica de hipodermóclise e Complicações relacionadas a hipodermóclise devido à falta de conhecimento dos profissionais sobre a técnica.
3.1 Escassez de estudos sobre a técnica de hipodermóclise:
Conforme um dos estudos analisados, verificou-se que os profissionais de enfermagem preferem a via endovenosa, em relação à via subcutânea, mesmo após inúmeras tentativas de punções venosas nos pacientes. Este fato pode estar relacionado à ideia de que a hipodermóclise é uma técnica pouco utilizada no meio profissional e acadêmico. Ainda no mesmo estudo evidencia-se, através de números essa discrepância que seria o de número de punções venosas periféricas (87,00%) e hipodermóclise (13,00%), ao longo da internação dos pacientes acompanhados (MOREIRA et al., 2020). Segundo os autores, para reverter este cenário de escassez de conhecimento sobre a técnica, devem se formar recursos humanos que atendam à realidade das necessidades de saúde, extrapolando as técnicas de administração de fármacos mais tradicionais. O domínio da farmacologia também é relevante na prática do enfermeiro, no uso da hipodermóclise, pois, este deve ter conhecimento de quais são os medicamentos que podem ser administrados nessa terapia. Apesar dos benefícios envolvidos na hipodermóclise, estudos apontam que essa técnica ainda é pouco utilizada entre os profissionais da enfermagem, sendo um dos principais motivos a falta de capacitação dos profissionais sobre a técnica (SANTOS et al., 2020).
Destaca a necessidade de ensaios clínicos sobre a eficácia da hipodermóclise no tratamento dos pacientes com indicação dessa técnica. A discussão sobre o tema requer novos estudos e publicações, relatando as experiências do cotidiano nos serviços (18). Com o intuito de melhorar essa realidade sobre hipodermóclise, deve-se repensar quais conteúdos têm sido ministrados em ambientes formais de ensino, de modo que deveriam ser discutidos ainda no âmbito da formação profissional, seja ela superior ou técnica (SANTOS et al., 2020).
No âmbito domiciliar verifica-se o impacto causado por essa escassez de estudos, pois os cuidadores relatam aflição pela falta de habilidade no manuseio da hipodermóclise, os mesmos não têm orientação adequada, que deveriam receber dos profissionais que também não tem esse conhecimento (MARTINS, 2020).
3.2 Complicações relacionadas à hipodermóclise devido à falta de conhecimento dos profissionais sobre a técnica
De acordo com o estudo, a hipodermóclise foi indicada para promover conforto e controle da dor e para o tratamento de infecção bacteriana, e o principal sítio de punção foi à região subclavicular, seguido da região abdominal. Ainda no mesmo estudo, um dos principais motivos que levaram a suspensão do cateter, foi à presença dos sinais flogísticos (20). Em outro estudo, além das punções subcutâneas que apresentaram sinais flogísticos também se destaca a presença de hematoma no local de inserção do cateter (21). Em um terceiro estudo analisado, dentre as punções realizadas, na maioria das vezes, não houve nenhuma complicação, e as punções que tiveram complicações, prevaleceram o edema e a hiperemia (GUEDES et al., 2019).
Ao analisar a ocorrência das complicações relacionadas ao local, dentre as 254 punções realizadas, 34,6% tiveram complicações. Encontrou-se que, as punções realizadas na região do deltóide foram as que mais complicaram, das 52, 28 (53,8%) apresentaram complicações, nas demais regiões, como região anterolateral da coxa, 127 punções realizadas e 40 complicações identificadas (31,5%); abdome, 61 punções realizadas e 19 complicações identificadas (31,1%); região subclavicular, 11 punções realizadas e 1 complicação identificada (9,1%); na região interescapular foram realizadas 3 punções e nenhuma complicação identificada (GUEDES et al., 2019) .
Ainda conforme a análise dos estudos, a maioria das complicações apresentadas, seria devido à falta de conhecimento sobre a técnica, cabe ao enfermeiro orientar sua equipe com treinamentos (BOLELA et al., 2022; GUEDES et al., 2019.
4. Discussões
Através desse estudo foi possível identificar quais são os maiores entraves relacionados à prática da hipodermóclise. Nota-se na maioria dos artigos que a equipe de enfermagem desconhece a técnica devido à falta de capacitação, pode-se atribuir esse fato a escassez de publicações sobre o assunto.
Comparando outro estudo com o da amostra em questão, não foram identificadas informações importantes que comprovam que os benefícios da hipodermóclise são mais vantajosos em relação aos das vias tradicionais, aumentando o risco de viés nos estudos, reduzindo a força das evidências. Com isso identifica-se a necessidade de novos estudos com rigor metodológico relevante. Pois a produção de melhores evidências contribuirá para o aumento da competência profissional (SAGANSKI, 2018).
Em outro estudo analisado, relaciona-se às complicações da HD à ausência de protocolos ou mesmo equipe treinada para punção e manutenção da via SC nas instituições de saúde. No Brasil a maioria dos fármacos por HD é de uso off-label, sua indicação não consta em bulas ou protocolos, sendo a administração baseada nas práticas assistenciais das instituições, dificultando os profissionais de conhecerem fármacos que apresentam risco de causar irritação ou necrose tecidual (PONTALTI et al., 2018).
Diante da análise dos estudos contidos nesta amostra pôde-se identificar que o maior desafio para utilização da hipodermóclise na prática é a falta de conhecimento referente à técnica.
5. Considerações finais
O objetivo do estudo foi atingido, porém apresentou dificuldades de reconhecimento dos descritores e palavras-chaves nos artigos para compor a amostra do estudo. Ainda como fator limitador destacou-se a baixa produção científica sobre o assunto, evidenciando a necessidade de realização dos estudos científicos nessa temática que contribuem para que outros profissionais possam ter acesso a esse método, vencendo os desafios.
O estudo apresenta algumas limitações como a impossibilidade de se calcular medidas preditivas que favoreçam melhores práticas de cuidados, bem como de se determinar a causalidade das complicações advindas do uso da via subcutânea na infusão de medicamentos e soluções em pacientes em cuidados paliativos. Contudo, propicia achados que contribuem para a elucidação do uso dessa modalidade terapêutica.
A hipodermóclise é um método antigo e espera-se que se torne uma ferramenta regular na prática da enfermagem na atualidade, pois, os benefícios relacionados a essa via podem agregar melhoria do atendimento e na qualidade de vida do paciente.
Referências
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ZANELLA, L. C. Métodos Quantitativo e Qualitativo de Pesquisa. Livro Texto de Metodologia de Pesquisa. 2013; 2ª ed., Unidade 5, 100 p.
1Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais / Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (HC-UFMG/EBSERH);
2Hospital Universitário Professor Alberto Antunes da Universidade Federal de Alagoas (HUPAA-UFAL/EBSERH);
3Secretaria Estadual de Saúde do Mato Grosso do Sul (SES-MS); Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (HUMAP-UFMS/EBSERH);
4Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS/EBSERH);
5Hospital Universitário do Piauí (HU- UFPI/EBSERH);
6Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Pernambuco (HC-UFPE/EBSERH);
7Discente de Enfermagem pela PUC Minas Coração Eucarístico;
8Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (HUWC-UFC/EBSERH)
9Hospital Universitário Júlio Bandeira da Universidade Federal de Campina Grande (HUJB-UFCG/EBSERH);
10Hospital Universitário de Brasília (HUB-UNB/EBSERH);
11Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM/EBSERH);
12Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD/EBSERH);
13Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (HUMAP-UFMS/EBSERH);
14Universidade Estadual de Montes Claros;
15Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU/EBSERH);
16Maternidade Escola Assis Chateaubriand da Universidade Federal do Ceará (HUWC-UFC/EBSERH).