HIPERTENSÃO GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

GESTATIONAL HYPERTENSION: A REVIEW OF THE LITERATURE

HIPERTENSIÓN GESTACIONAL: UNA REVISIÓN DE LA LITERATURA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10120359


Maria Clara Lustosa Veras1
Romulo de Morais Lima2
Naryelly Stelyte Gomes da Silva3
Dara Maria Pontes Gomes4
José Lopes Pereira Junior5
Andressa Lima Ramos6
Ayane Araújo Rodrigues7


RESUMO

INTRODUÇÃO: A hipertensão gestacional desenvolve-se antes ou durante a gravidez, estando, muitas vezes, associada a uma gravidez de alto risco, que ocorre quando a mulher apresenta uma ou mais patologias relacionadas, desencadeando um risco potencial para a gravidez, além de contribuir para outras doenças. Está entre as Síndromes Hipertensivas Gestacionais (SHG) por agrupar várias patologias associadas à hipertensão. Dentro das SHG, a pré-eclâmpsia ou doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG) merece atenção especial, pois ocorre como forma isolada ou associada à hipertensão arterial crônica. OBJETIVO: Conhecer e descrever os fatores de risco associados à pré e à pós- hipertensão gestacional; compreender as principais complicações decorrentes da hipertensão gestacional e conhecer as condutas farmacológicas e não farmacológicas. METODOLOGIA: O referido estudo teve por base uma revisão narrativa de literatura, a qual foi realizada por meio de uma pesquisa aplicada com caráter exploratório e descritivo, realizada nas seguintes bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO); Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); U.S. National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a busca dos artigos, utilizou-se o operador booleano “AND” e os seguintes descritores: “atenção primária”, “pré-eclâmpsia”, “hipertensão”. Foram utilizados artigos nos idiomas português e inglês, publicados de 2018 a 2022. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A pesquisa busca contribuir com outros trabalhos acadêmicos e científicos, além de fornecer informações a pacientes acometidas por hipertensão gestacional, visando ao conhecimento de sua situação clínica, tendo em vista o efeito positivo da terapia farmacológica na hipertensão gestacional.

Palavras-chave/Descritores: Atenção primária, pré-eclâmpsia, hipertensão, gravidez.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Gestational hypertension develops before or during pregnancy and is often associated whith a high-risk pregnancy, which occurs when the woman has one or more related pathologies, triggering a potential risk for the pregnancy, in addition to contributing to for other diseases. It is among the Gestational Hypertensive Syndromes (HGS) because it groups several pathologies associated with hypertension. Within the SHG, pre-eclampsia or specific hypertensive disease of pregnancy (DHEG) deserves special attention, as it occurs as an isolated form or associate with chronic arterial hypertension. OBJECTIVE: Knowing and describe the risk factors associated with pre and post gestational hypertension, understand the main complications resulting from gestational hypertension and know the pharmacological and non-pharmacological management of. METHODOLOGY: This study was based on a narrative literature review, which was carried out through an applied research with an exploratory and descriptive character, carried out in the following electronic databases: Scientific Electronic Library Online (SciELO); Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS); U.S. National Library of Medicine (PubMed) and Virtual Health Library (VHL). To search for articles, the Boolean operator “AND” was used and the following descriptors: “primary care”, “pre-eclampsia”, “hypertension”. Articles in Portuguese and English, published from 2018 to 2022 were used. FINAL CONSIDERATIONS: The research seeks to contribute to other academic and scientific works, in addition to providing information to patients affected by gestational hypertension, aiming at the knowing their clinical situation, considering the positive effect of pharmacological therapy on gestational hypertension.

Keywords/Descriptors: Primary care, pre-eclampsia, hypertension, pregnancy. RESUMEN INTRODUCCIÓN: La hipertensión gestacional se desarrolla antes o durante el embarazo y suele estar asociada a un embarazo de alto riesgo, que ocurre cuando la mujer presenta una o más patologías relacionadas, desencadenando un riesgo potencial para el embarazo, además de contribuir a otras enfermedades. Se encuentra dentro de los Síndromes Hipertensivos Gestacionales (SHG) porque agrupa varias patologías asociadas a la hipertensión. Dentro de las SHG, la preeclampsia o enfermedad hipertensiva específica del embarazo (DHEG) merece especial atención, ya que se presenta como forma aislada o asociada a hipertensión arterial crónica. OBJETIVO: Conocer y describir los factores de riesgo asociados a la hipertensión pre y pos gestacional; comprender las principales complicaciones derivadas de la hipertensión gestacional y conocer las conductas farmacológicas y no farmacológicas. METODOLOGÍA: Este estudio se basó en una revisión narrativo de la literatura, que se realizó a través de una investigación aplicada con carácter exploratorio y descriptivo, realizada en las siguientes bases de datos electrónicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO); Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS); A NOSOTROS. Biblioteca Nacional de Medicina (PubMed) y Biblioteca Virtual en Salud (BVS). Para la búsqueda de artículos se utilizó el operador booleano “AND” y los siguientes descriptores: “atención primaria”, “preeclampsia”, “hipertensión”. Se utilizaron artículos en portugués e inglés, publicados entre 2018 a 2022. CONSIDERACIONES FINALES: La investigación busca contribuir a otros trabajos académicos y científicos, además de brindar informaciones a las pacientes afectadas por hipertensión gestacional, visando conocer su situación clínica, considerando el efecto positivo de la terapia farmacológica sobre la hipertensión gestacional. Palabras clave/Descriptores: Atención primaria, preeclampsia, hipertensión, el embarazo.

1.     INTRODUÇÃO

A gravidez é um evento integrante do ciclo de vida da mulher, marcado por alterações hormonais, emocionais, sociais e culturais (SONCINI et al., 2019). Apesar de este fenômeno possuir caráter universal, também se atribui caráter de especificidade, uma vez que é vivenciado de forma individual, sendo um acontecimento pleno de subjetividades e caracterizações, portanto, adentrando no campo de vida familiar e no cenário sociocultural das mulheres. Por ser parte complementar do ciclo reprodutivo, deveria suceder sem imprudência, porém, sérias intercorrências físicas e disparidades sociais ou econômicas a afetam, trazendo como consequências os riscos reprodutivos (OLIVEIRA GONÇALVES; THEODOROPOULOS, 2020).

Nessa situação, a assistência ao pré-natal destaca-se por acolher a mulher desde o início da gestação, visando identificar e administrar condições clínicas e comportamentais que tragam riscos à gestação, possibilitando que o Sistema Único de Saúde (SUS) atue integralmente na promoção e, muitas vezes, na recuperação da saúde das mulheres (PEDRAZA; LINS, 2021; SOUZA et al., 2020). Dessa forma, os cuidados prestados devem ser humanizados, qualificados e hierarquizados de acordo com o risco gestacional. Para isso, é essencial a compreensão, por parte dos profissionais envolvidos no processo assistencial, acerca da importância de sua atuação e da necessidade de aliar o conhecimento técnico específico ao compromisso com um resultado satisfatório da atenção materno-fetal (ALVES et al., 2021).

A Hipertensão Arterial (HA) é uma doença crônica, a qual podemos definir como uma condição clínica quanto ao nível pressórico, em que há a medida da pressão máxima e mínima. Pode ser classificada em Pressão Arterial Sistólica (PAS) normal 120-129 e/ou Pressão Arterial Diastólica (PAD) 80-84. Acima de PAS maior ou igual a 140 mmHg e/ou PAD medida maior ou igual a 90 mmHg é considerado HA em estágio 1. Além disso, tem-se também a hipertensão no período gestacional (CAMPBELL et al., 2023). A HA possui condições multifatoriais, que dependem de fatores genéticos/características epigenéticas, ambientais e sociais (SANTOS; CAPOBIANCO, 2019).

Denomina-se hipertensão gestacional quando há Pressão Arterial Sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg e/ou Pressão Arterial Diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, sendo uma das doenças mais faladas em gestações de alto risco (OLEGÁRIO et al., 2023). É um tipo de hipertensão que se desenvolve antes ou durante a gravidez, no entanto, muitas vezes está associada a uma gravidez de alto risco, que ocorre quando a mulher apresenta uma ou mais patologias relacionadas, desencadeando um risco potencial para a gravidez, além de contribuir para outras doenças (COSTA et al., 2020). A afirmação “hipertensão na gravidez” ou “hipertensão gestacional” recebe a denominação geral de Síndrome Hipertensiva Gestacional (SHG), que inclui hipertensão arterial sistêmica crônica, pré-eclâmpsia, doença arterial específica da gravidez (DAHG) e síndrome HELLP (hemolytic anemia, elevated liver enzymes and low platelet count) (LINS et al., 2022; GALVÃO; CAVALLI; SANDRIM, 2022).

Os fatores de risco para o desencadeamento das SHG são: história familiar ou pessoal de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, raça, genética, idade nos extremos da fase reprodutiva, obesidade, hipertensão, diabetes, nefropatias, dietas hipoproteicas e hipersódicas, baixa escolaridade e atividade profissional fora do domicílio, primigestas, gestações múltiplas, hidropisia fetal e neoplasia trofoblástica (FERREIRA et al., 2021; CRUZ NETO et al., 2022). No Brasil, a pré-eclâmpsia (PE) é a principal patologia que ocasiona parto prematuro terapêutico, estimando-se uma incidência de aproximadamente 1,5% e 0,6% para eclampsia; já a hipertensão crônica está presente em 0,9-1,5% das gestantes (GOMES; SAMPAIO, 2022).

O diagnóstico inicial de uma paciente com Hipertensão Arterial (HA) engloba a confirmação do problema através da história clínica, de exame físico, exames laboratoriais (análise de urina, potássio plasmático, creatinina plasmática, glicemia em jejum, estimativa do ritmo de filtração glomerular, colesterol total, HDL e triglicerídeos plasmáticos e ácido úrico plasmático) e exames de imagem, como o eletrocardiograma convencional, a suspeita e o reconhecimento da causa secundária, além da análise em relação ao risco cardiovascular (MICHEA et al., 2022). Ademais, as lesões de órgão-alvo (LOA) e as patologias análogas também devem ser observadas (RISK, 2018).

O tratamento da hipertensão gestacional inclui tanto a terapia não medicamentosa, como a mudança do estilo de vida, quanto a medicamentosa, que deve ser iniciada através da monoterapia pelos fármacos conhecidos de primeira linha (nifedipina de ação prolongada ou betabloqueadores, metildopa – excetuando o uso do atenolol) (COSTA et al.,2021; OLIVEIRA et al., 2021). Já a utilização de Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA), de Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina (BRA) e de Inibidor Direto da Renina (IDR) é contraindicada na gestação (CAMPBELL et al., 2023).

Diante disso, considera-se a hipertensão gestacional uma importante doença específica da gravidez. Além disso, sabe-se que as síndromes hipertensivas ligadas à gestação estão entre as causas mais frequentes de morbimortalidade materna. Desse modo, esta revisão foi realizada com o objetivo de esclarecer os fatores de risco associados à pré e à pós-hipertensão gestacional, e como as falhas ocorridas no pré-natal podem influenciar na manifestação da HG.

2.     METODOLOGIA

O referido estudo teve por base uma revisão narrativa de literatura realizada por meio de uma pesquisa aplicada com caráter exploratório e descritivo. A pesquisa pretendeu demonstrar alterações da hipertensão gestacional, tornando possível o desempenho de um questionamento abrangente, com o intuito de estimular a construção de pensamentos críticos sobre o tema abordado, fazendo com que o material construído sirva para a criação de diretrizes capazes de modificar a realidade atual, compreendendo o cenário da Atenção Básica no que diz respeito à Hipertensão arterial e aos possíveis fatores para pré-eclâmpsia.

Diante disso, os resultados encontrados foram demonstrados de forma qualitativa, por meio de informações adquiridas através de fontes secundárias de revisão bibliográfica. Tal método teve o intuito de agregar informações que possuíssem impacto social sobre o tema escolhido, tendo em vista a apresentação de conceitos, o estudo de problemáticas metodológicas e a análise de evidências e teorias.

Para realizar a pesquisa bibliográfica foi utilizado o portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que apresenta uma coleção composta por fontes de informação da área da saúde que são desenvolvidas e atualizadas regularmente por uma ampla Rede de Colaboração, com coordenação técnica e metodológica da BIREME. Entre as bases de dados da Coleção BVS, destaca-se: bases de dados internacionais e nacionais (Brasil) de saúde em geral; temáticas de áreas especializadas da saúde; e, ainda, os recursos educacionais – Campus Virtual em Saúde Pública (CVSP). Além disso, foram utilizadas também bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online – SciELO; Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs; U.S. National Library of Medicine (PubMed) e o Google Acadêmico.

A pesquisa foi realizada entre os meses de fevereiro e outubro de 2022. Para a busca dos artigos utilizou-se o operador booleano “AND” e os seguintes descritores: “atenção primária”, “pré-eclâmpsia”, “hipertensão”, que foram verificados pelo Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e pelo Medical Subject Headings (MeSH). Logo, a pesquisa baseou-se na seguinte equação de busca: “(atenção primária) AND (hipertensão) AND (pré-eclâmpsia)”. Dessa forma, foi possível utilizar ferramentas disponíveis em cada banco de dados para selecionar as publicações de interesse a partir dos filtros de idioma, da disponibilidade, do tipo de estudo e do tempo.

A planificação da pesquisa incluiu o levantamento de dados secundários e a revisão de literatura, de modo a verificar a compatibilidade dos artigos que foram selecionados e sua relevância para a pesquisa. Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos gratuitos disponíveis on-line e publicados nos últimos cinco anos (2018 a 2022), artigos publicados em inglês e português, que retratem a essência da temática proposta. No que se refere aos critérios de exclusão, foram: artigos anteriores a 2018, aqueles que não contemplaram, na íntegra, a temática referente à revisão integrativa ou não evidenciaram sua metodologia.

Nessa temática, foi construído o estudo dos artigos selecionados, de modo que se tornou possível a realização de uma síntese dos dados obtidos através dos artigos, expondo-os de forma organizada e descritiva. Além disso, os resultados foram apresentados na forma qualitativa, permitindo analisá-los crítica e sistematicamente, possibilitando observação, contagem, descrição e classificação dos dados, com o intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o tema desta revisão bibliográfica (Souza et al., 2010).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Gravidez

A gravidez simboliza um momento na vida da mulher em que ocorrem diversas transformações fisiológicas (SANTOS LOPES et al., 2019). Neste período, desenvolve-se uma sequência de pequenas e constantes alterações fisiológicas que impactam todo o corpo da mulher, com a finalidade de acomodar o feto. Nesse sentido, diversas são as mudanças que ocorrem no corpo de uma mulher grávida, entre elas: fisiológicas, hormonais, morfológicas, metabólicas, circulatórias etc. Sendo assim, o organismo expressa um feedback como resposta à nova realidade a qual está submetido, consequentemente, provoca sinais e sintomas indesejados (SOUZA et al., 2023; SILVA et al., 2022).

Ademais, a cada período gestacional surgem novos obstáculos, dificuldades na compreensão das alterações corporais, aflições frente a si própria e em relação ao meio social inserido, gerando impactos na aceitação de si mesma. Além de todas as modificações físicas, a responsabilidade do seu papel diante do feto dá lugar a inseguranças e limitações que modificam a vida e a autoestima da mãe (DIAS et al., 2021). Em vista disso, o organismo passa por mudanças em praticamente todos os sistemas, alterações tanto emocionais quanto físicas (TESTA; BORGES; BORTOLOTTO, 2018). Essas modificações resultam da interação dos hormônios, cuja finalidade é promover adaptações no corpo da mulher, preparando-a para a gestação (FONSECA et al., 2021).

Ao longo do primeiro trimestre surgem os primeiros sintomas e as transformações corporais que influenciam na percepção da grávida, gerando anseios e angústias que provocam uma diminuição da autoestima (ALVES; BEZERRA, 2020). No segundo trimestre, as modificações corporais tornam-se mais nítidas, expressando o início da relação mãe-filho e sociedade, fortalecendo a construção da relação com o feto. Por fim, no terceiro trimestre, impasses psicológicos intensificam-se, devido a uma nova fase de adaptações fisiológicas e anatômicas (ganho de peso, fadiga, tontura, enjoo), sociais, assim como questões relacionadas ao parto e ao puerpério (UNGER et al., 2020).

Diante disso, o aumento do peso corporal decorre dos volumes maternos de nutrientes e gorduras, do acréscimo de tecidos maternos, entre estes, na placenta, no útero, nos seios e no tecido adiposo, na composição de líquido amniótico, no aumento do líquido extracelular e no volume sanguíneo, além do desenvolvimento do feto (LANA et al., 2020). Dessa maneira, é importante salientar que o aumento de peso durante a gestação está drasticamente relacionado às complicações nutricionais, que podem desencadear consequências como o diabetes mellitus gestacional, as síndromes hipertensivas da gravidez, a retenção de peso pós-parto e a macrossomia fetal (PEREIRA; OLIVEIRA; CARNEIRO, 2019; PINHEIRO et al., 2023).

As más condições de estado nutricional pré-gestacional ou gestacional e o ganho de peso inadequado possuem relação com o retardo do desenvolvimento intrauterino, a prematuridade e o baixo peso do bebê ao nascer (DELGADO et al., 2020). Por isso, no terceiro trimestre a gestante fica vulnerável a complicações gravídicas, devido ao aumento fisiológico do volume sanguíneo e do crescimento fetal, promovendo a elevação dos níveis pressóricos, ocasionando alterações metabólicas e vasculares relacionadas ao aumento do risco cardiovascular materno (COSTA et al., 2022).

No período gestacional, a alimentação adequada é de grande importância para o crescimento e o desenvolvimento da criança e para a saúde da mãe, tornando-se, então, essencial o consumo de micronutrientes (CUNHA et al., 2022; PAZZA; MACIEL, 2020). Nesse sentido, a vitamina D é fundamental para a absorção de cálcio e fósforo, pois previne que a gestante apresente, como consequências, diabetes gestacional, aborto espontâneo, nascimento prematuro, além de diminuir o rico de pré-eclâmpsia.

Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS) é aconselhável a suplementação de polivitamínicos, fósforo, cálcio e ácido fólico, e os pertencentes ao complexo B, uma vez que estes agem no desenvolvimento de células nervosas, prevenindo contra malformações do tubo neural e no crescimento, além de proteger a mãe do desenvolvimento de anemia megaloblástica (EL BEITUNE et al., 2020). Em associação ao sistema respiratório, por motivo das adaptações gestacionais, a função respiratória é afetada, em razão do crescimento do útero, que desencadeia alterações anatômicas. A frequência de desordens respiratórias cresce com a evolução da gestação (OLIVEIRA GONÇALVES; SOUZA; MORAIS GOUVEIA, 2019).

Segundo o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), do Ministério da Saúde, no ano de 2020 o Brasil apresentou um total de 2.730.145 nascidos vivos, contados segundo o local de residência da mãe, dos quais, 301.635 eram da região Norte, 770.688 do Nordeste, 1.052.399 do Sudeste, 374.949 do Sul e 230.474 da região Centro-Oeste, de acordo com os dados evidenciados na Tabela 1 a seguir. O nascimento é um dos eventos vitais e seu monitoramento pode contribuir para o conhecimento da situação de saúde de uma população e para a avaliação de políticas e ações de vigilância e atenção à saúde na área da saúde materno-infantil.

Tabela 1 – Nascidos vivos por residência da mãe segundo região

REGIÃONASCIM P/RESID.MÃE
Região Norte301.635
Região Nordeste770.688
Região Sudeste1.052.399
Região Sul374.949
Região Centro-Oeste230.474
TOTAL2.730.145

Fonte: Brasil, 2020.

Pode-se mencionar alguns sinais e sintomas que são manifestados nas gestantes, tais como: amenorreia, náusea com ou sem vômito, aumento e ternura dos seios, aumento da frequência de micção sem disúria, fadiga, entre outros. Deve-se suspeitar de gravidez sempre que uma mulher em idade fértil perde (atrasa) seu período menstrual, ou seja, ela observa uma semana ou mais sem o período esperado (GALHANAS; FRIAS, 2022).

Além disso, a suspeita clínica aumenta se o indivíduo relatar também qualquer atividade sexual sem o uso de anticoncepcional ou inconsistência contraceptiva. No entanto, mesmo as pacientes que relatam o uso contínuo de anticoncepcionais podem engravidar, devido a problemas de uso, pois nenhum método é 100% eficaz. Além disso, a atividade sexual nem sempre é relatada com precisão (MELO et al.,2020).

O diagnóstico de gravidez é baseado principalmente em mensurações de gonadotrofina coriônica humana na urina ou no sangue, mas o ultrassom também é um método de diagnóstico preciso. A história e o exame físico não são métodos muito sensíveis de detecção precoce, todavia, conhecer as características de uma gravidez normal pode ser útil para alertar o médico sobre a possibilidade de uma gravidez anormal, como gravidez ectópica, ou a presença de distúrbios de alerta (LUBIANCA; CAPP, 2021).

De acordo com Andrade et al. (2022), em 2017, aproximadamente 295 mil gestantes morreram, em todo o mundo, em decorrência de transtornos no ciclo gravídico-puerperal. As complicações gestacionais estão relacionadas com as condições pré-existentes, tanto as socioeconômicas quanto as ambientais, orgânicas, biológicas, químicas e ocupacionais. Assim, as principais complicações no período gestacional incluem Diabetes Gestacional, Eclâmpsia, Hipertensão Arterial gestacional, Pré-eclâmpsia, e Infecções do Trato Urinário (ASSIS et al., 2022; CARNEIRO et al., 2022).

A mortalidade materna decorre das desigualdades entre países pobres e ricos, além de refletir as iniquidades no interior dos próprios países. O risco de morrer durante a gestação, o parto ou o pós-parto aumenta proporcionalmente à diminuição das condições socioeconômicas de uma região. Melhores condições de vida e acesso a serviços de saúde de qualidade poderiam evitar aproximadamente 98% dos óbitos; por isso, muitas mortes maternas são resultado de graves violações dos direitos humanos (ANDRADE et al., 2022; SANTOS et al., 2023).

3.2 Hipertensão Arterial

A Hipertensão Arterial (HA) é uma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT), determinada por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ ou medicamentoso) excedem os riscos (WEHRMEISTER; WENDT; SARDINHA, 2022). Trata-se de um problema cuja etiologia é multifatorial, ou seja, depende de fatores genéticos/epigenéticos, ambientais e sociais, definidos por elevação persistente da pressão arterial (PA), ou seja, PA sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, mensurada com a técnica correta, em pelo menos dois momentos diferentes, na ausência de medicamentos anti-hipertensivos (RIBEIRO; UEHARA, 2022).

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) atinge mais de 30% da população adulta, ou seja, mais de um bilhão de pessoas, e se apresenta como o principal motivo de morte prematura em todo o mundo. Além disso, o peso da doença é considerado desproporcional quando se compara com os países de baixa e média renda, locais em que se encontram dois terços dos casos, em maior parte devido ao aumento de fatores de riscos nessas populações nos últimos tempos. Cerca da metade das pessoas que vivem com hipertensão arterial não possuem conhecimento sobre sua condição, o que as submete a risco de complicações médicas evitáveis e óbito (MADEIRA et al., 2022).

Os dados de predomínio no país alteram-se consoante o procedimento utilizado. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013, 21,4% (IC 95% 20,8- 22,0) dos adultos brasileiros afirmaram ser hipertensos. Quando se consideram as medidas de Pressão Arterial aferidas e o uso de medicação anti-hipertensiva, a porcentagem de adultos com PA maior ou igual que 140 por 90 mmHg atingiu cerca de 32,3% (IC 95% 31,7- 33,0) (MALTA et al., 2022).

Além do que, constatou-se que a predominância da HA foi maior entre homens. Como previsto, teve aumento com a idade, devido aos critérios, atingindo 71,7% para as pessoas acima de 70 anos. Já em 2017, houve um total de 1.312.663 óbitos, com taxa de 27,3% para doenças cardiovasculares. Tais enfermidades representaram 22,6% dos óbitos prematuros no Brasil (entre 30 e 69 anos). No intervalo de aproximadamente uma década (2008 a 2017), foram estimadas 667.184 mortes atribuíveis à Hipertensão Arterial no Brasil (FONSECA et al., 2023).

Entre os fatores de riscos para o desenvolvimento da hipertensão, conforme as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2020), sobressaem-se a genética, a idade avançada, o sexo, a etnia, o sobrepeso ou a obesidade, o consumo elevado de sódio, o sedentarismo, a ingestão de álcool, além das causas socioeconômicas, incluindo menor escolaridade, condições de moradia inadequadas, baixa renda familiar e falta de atividade física (SANTOS DIAS et al.,2021).

Consoante a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), estima-se que 1.130 milhão de pessoas no mundo têm diagnóstico de hipertensão arterial, e menos de uma em cada cinco possui controle da doença. Nessa perspectiva, destacam-se como principais contribuintes para o alto e crescente predomínio da hipertensão arterial, as dietas não saudáveis, principalmente o exagero no consumo de sódio, a baixa ingestão de potássio, a falta de atividade física e o consumo de bebidas alcoólicas (OLIVEIRA et al., 2021).

Diante disso, a obesidade apresentou-se como a principal condição antropométrica relacionada à HAS. Sem dúvidas, a obesidade é um fator predisponente das doenças cardiovasculares (BERNARDES et al., 2023). Isso se torna ainda mais grave, uma vez que o Brasil é considerado o quinto país com maior predomínio de obesos, em que 21% das pessoas com obesidade na população possuíam mais de 18 anos, em 2013. Assim como a obesidade, a falta de atividade física cotidiana eleva as chances de se desenvolver doenças cardiovasculares, principalmente HAS (MARQUES et al., 2020).

O tabagismo e a ingestão abusiva de álcool são fatores de risco para doenças cardiovasculares. As consequências do tabaco e do álcool no sistema circulatório são deletérias, uma vez que estes provocam um aumento do risco para HAS (MORAES; CARVALHO, 2022). Os avanços dos estudos epidemiológicos abordam que, embora a baixa ingestão de bebidas alcoólicas leves possa ser benéfica à saúde, a utilização abusiva de álcool está intimamente relacionada à maior mortalidade cardiovascular. A nicotina faz com que o calibre do vaso reduza, consequentemente, elevando a pressão arterial, intensificando o risco de desenvolver HAS e promovendo uma maior variabilidade nos níveis pressóricos, podendo gerar lesões nos órgãos-alvo (SILVA; ANDRADE, 2023).

Em síntese, os pacientes com hipertensão arterial sistêmica apresentam disfunção endotelial, em que ocorre um desequilíbrio entre substâncias vasodilatadoras e vasoconstritoras que prejudica a função vascular (PARRA-GÓMEZ et al., 2023). Além disso, a hipertensão possui como consequência o enrijecimento progressivo e a perda de complacência das grandes artérias (PEZZI JÚNIOR et al., 2022).

Devido à condição pró-inflamatória da HAS, pode ocorrer a ativação excessiva das vias de coagulação e plaquetas, bem como de células imunes que irão secretar citocinas, peptídeos antimicrobianos e diversas enzimas, além de produzir radicais de oxigênio e outros mediadores com a finalidade de eliminar os patógenos. No entanto, a ativação exagerada dessas células de defesa pode gerar danos ao epitélio respiratório, intensificando a resposta inflamatória local e reduzindo a função pulmonar (MELO et al., 2022; RIBEIRO; UEHARA, 2022).

A hipertensão costuma se manifestar de forma silenciosa, ou seja, a maioria da população não apresenta sintomas, aumentando o perigo/risco de vida do cidadão. Apesar disso, a sintomatologia pode aparecer quando a pressão está muito elevada, ou em algumas pessoas de forma atípica. As principais manifestações clínicas são dores no peito, cefaleia, tonturas, zumbido no ouvido, astenia, visão turva e sangramento nasal (FERNANDES et al., 2022).

A hipertensão arterial, de acordo com a V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, é classificada em três tipos, conforme os estágios classificados pelos níveis de pressão arterial. O estágio I corresponde à pressão acima de 140/90 e abaixo de 160/100. O estágio II ocorre acima de 160/100 e abaixo de 180/110. Já o estágio III é marcado pela pressão acima de 180/110 (PASSOS et al., 2021; UNGER et al., 2020). A HAS primária é a forma mais prevalente de hipertensão em adultos. É quando ocorre o aumento da pressão, que se dá com o envelhecimento, principalmente se relacionado com o aumento da rigidez da parede arterial (MALTA et al., 2023).

A avaliação inicial de um paciente com hipertensão arterial (HA) engloba a comprovação do diagnóstico, a suspeita e o reconhecimento da causa secundária, além da análise do risco cardiovascular (MAGALHÃES FEITOSA; NADRUZ JÚNIOR, 2019). As lesões de órgão-alvo (LOA) e os problemas relacionados precisam ser investigados. As medidas que se integram nesta avaliação é a aferição da pressão arterial (PA), no consultório ou fora dele, aplicando-se a técnica correta e usando equipamentos aprovados e regulados; a coleta da história médica (pessoal e familiar); a execução do exame físico e a análise clínica e laboratorial. Ademais, recomendam-se avaliações gerais a todos os pacientes com HAS, e observações adicionais somente para grupos específicos (ZARDETO-SABEC, 2019).

A hipertensão arterial é uma condição normalmente assintomática. Em vista disso, necessita ser examinada em toda consulta médica, e em programas capacitados para realização de triagem populacional. As verificações da Pressão Arterial (PA) devem ser executadas em intervalos regulares, com a periodicidade consoante a classificação de PA. Indivíduos sadios com uma Pressão Arterial excelente no consultório (< 120/80 mmHg) ou com PA normal (120-129/80-84 mmHg) precisam ter a PA mensurada novamente, no mínimo, anualmente e nas consultas médicas (KUIAVA et al., 2021).

Pacientes com pré-hipertensão (130-139/85-89 mmHg) necessitam ter a Pressão Arterial aferida anualmente ou, preferivelmente antes, em virtude das altas taxas de avanço para HA. Outrossim, nos casos suspeitos de Hipertensão Mascarada, a Medida Ambulatorial da PA ou a Medida Residencial da PA precisam ser praticadas a fim de identificar a que tipo o paciente pertence (BARROSO et al., 2021; MALACHIAS, 2021).

Evidencia-se que a maioria dos indivíduos hipertensos precisam de tratamento farmacológico, sobretudo com os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA). Pacientes com hipertensão arterial sistêmica sem terapia anti-hipertensiva possuem maior taxa de mortalidade quando comparados aos pacientes hipertensos com tratamentos anti-hipertensivos (LIMA; NUNES, 2019).

Com base nos estudos abordados na literatura, pacientes com e sem tratamento anti-hipertensivo obtiveram resultados laboratoriais semelhantes, sem diferenças nos resultados clínicos. Ademais, devido à Hipertensão Arterial ser uma doença crônica, seu manejo carece de tratamento com medidas farmacológicas e não farmacológicas no decorrer de toda a vida. Desse modo, é fundamental investigar a adesão à terapia medicamentosa e aos hábitos de vida dos indivíduos hipertensos (MILL, 2022).

3.3 Hipertensão gestacional

A hipertensão gestacional é conceituada como a ocorrência de pressão arterial sistólica ≥140 mmHg ou diastólica ≥90 mmHg, em duas ocasiões, com pelo menos quatro horas de intervalo após 140 dias, ou seja, 20 semanas de gestação, em mulheres normotensas. Estima-se que a Síndrome Hipertensiva Gestacional (SHG) esteja presente entre 5% e 8% de todas as mulheres grávidas no mundo. No Brasil, a SHG é a primeira causa de mortalidade materna, sendo a maior responsável pelo elevado número de óbitos perinatais, além do aumento significativo de neonatos com sequelas (JACOB et al., 2022).

A hipertensão arterial é a intercorrência mais comum do período gestacional e puerperal, apontada como a primeira causa de mortalidade materna no Brasil, principalmente, quando evolui para suas formas mais graves, por exemplo, a eclâmpsia e a síndrome de HELLP (CESAR et al., 2021). Alguns fatores de risco para Hipertensão Gestacional, enunciados por Silva (2021), incluem: raça negra; nuliparidade; gravidez gemelar; pré-eclâmpsia na gravidez prévia; hipertensão arterial; doença renal crônica; diabetes mellitus tipo I ou tipo II; diabetes gestacional; obesidade; história de trombofilia; fertilização in vitro; história familiar de pré-eclâmpsia; lúpus eritematosos sistémico, baixo nível socioeconômico e idade materna avançada.

Os problemas hipertensivos da gestação compõem algumas das principais causas de mortalidade materna e perinatal em todo o mundo (FERNANDES et al., 2019). A hipertensão crônica está presente em 0,9-1,5% das grávidas, e estima-se que a pré-eclâmpsia (PE) complica de 2 a 8% das gestações globalmente (BARROSO et al., 2021). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 76 mil mães e 500 mil bebês no mundo vêm a óbito por causa da pré-eclâmpsia e de distúrbios hipertensivos na gestação, anualmente. Essas informações se tornam mais alarmantes quando o estudo identificou que a hipertensão gestacional é responsável por 25% das mortes maternas na América Latina, e por 5 a 7% das gestantes brasileiras (SANTOS NASCIMENTO et al., 2021).

Ademais, é de suma importância a identificação dos sinais e sintomas da hipertensão gestacional, pois o tratamento precoce é essencial. Nesse contexto, os que mais se destacam são edema de membros, faciais, proteinúria, desconforto ao deambular e respiratório. Além disso, discorre também que se a gestante apresentar mais de um dos sintomas, Pressão Arterial Diastólica ≥ 110 mmHg, proteinúria ≥ 2,0g/ 24hs, oligúria, creatina > 1,2mg/dL, cefaleia associada a anormalidades visuais, dor na região epigástrica, plaquetopenia, elevação das enzimas hepáticas, ela pode ser encaminhada para o acompanhamento de pré-natal de alto risco, pois tem probabilidade de desenvolver a doença, se já não estiver com ela em andamento em sua gestação.

Marques et al. (2020) realizaram um estudo quantitativo, do tipo transversal, que demonstra que um pré-natal hábil possibilita a redução de perinatais negativos, por exemplo: baixo peso ao nascer, parto prematuro e complicações obstétricas. Diante disso, a gestação classifica-se como de alto risco quando a probabilidade de um resultado adverso para a mulher ou para o feto for maior que o esperado para a sociedade, e houver determinantes ou fatores de riscos (NASCIMENTO et al., 2022).

 Assim, grande parte dos perigos estão relacionados a condições pré-existentes ou a complicações da gravidez, sejam elas por causas ambientais, orgânicas, biológicas, químicas e ocupacionais, como por exemplo: Hipertensão Arterial gestacional, Pré-eclâmpsia, Eclâmpsia, Diabete gestacional e Infecções do Trato Urinário, como também podem estar associadas a condições sociais e demográficas desfavoráveis (ALVES et al., 2021).

O diagnóstico de HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica) em gestantes é efetuado a partir de medidas pressóricas de pressão arterial, algumas vezes complementadas por exames laboratoriais especiais, análises clínicas e epidemiológicas, mas a primeira intervenção, muitas vezes, é tardia, pois a paciente nem sempre é sintomática. Portanto, quando os sintomas são característicos, pode haver complicações sistêmicas pré-existentes e até danos a órgãos-alvo, como cérebro, coração, pulmões e rins. Se não diagnosticada e cuidada precocemente, a morbidade e mortalidade são altas (SOUSA et al., 2019).

Para evitar erros de diagnóstico de hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia/eclâmpsia pode-se seguir os critérios de diagnóstico do American College of Obstetricians and Gynecologists, sendo eles: pressão arterial sistólica acima de 140mmHg e pressão arterial diastólica acima de 90mmHg em dois momentos diferentes, com intervalo mínimo de 4 horas, ou pressão arterial sistólica e diastólica de 160 mmHg e 110 mmHg. No entanto, a Pressão arterial elevada (sistólica 140 mmHg; diastólicas 90 mmHg), após a 20ª semana gestacional, sem proteinúria e/ou os sintomas e sinais supracitados, é utilizada para o diagnóstico de hipertensão gestacional (GALVÃO; CAVALLI; SANDRIN, 2022).

O tratamento da hipertensão gestacional é constituído tanto pela terapia não medicamentosa, como a modificação do estilo de vida, quanto pela a medicamentosa, que deve ser estabelecida primeiramente através da monoterapia pelos fármacos conhecidos como de primeira linha (nifedipina de ação prolongada ou betabloqueadores, metildopa – excetuando o uso do atenolol) (COSTA et al.,2021). Já a utilização de Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA), de Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina (BRA) e de Inibidor Direto da Renina (IDR) é contraindicada na gestação (CAMPOS; MATTOS; GOMES, 2023).

Segundo a diretriz brasileira de hipertensão arterial (HA), o início da medicação para gestantes com hipertensão abaixo de 160/110 mmHg é ainda controverso, a não ser em gestantes com lesão de órgão-alvo (LOA). Além disso, a diretriz traz estudos de revisão sistemática os quais mostram que tratar Hipertensão Arterial leve a moderada não reduz significativamente a morbidade materna, fetal e do recém-nascido. Além disso, a hipertensão gestacional é responsável por elevado número de partos prematuros, baixo peso ao nascer, restrições no crescimento intrauterino, sofrimento fetal e abortamento, fatores que geram diversas complicações para a mãe e para o feto (BARROSO et al., 2021).

3.4 Pré-eclâmpsia/Eclâmpsia

A pré-eclâmpsia (PE) é caracterizada por apresentar hipertensão arterial de início recente (PA sistólica >140 mmHg e PA diastólica > 90 mmHg), em duas situações com pelo menos 4 horas de intervalo, seguida por um ou mais aspectos: disfunção de órgãos maternos (hepático, renal, neurológico) e hematológico, alteração uteroplacentária, como restrição de crescimento fetal ou achados anormais de ultrassom com Doppler do fluxo sanguíneo uteroplacentário (BURTON et al., 2019; PERES; MARIANA, CAIRRÃO, 2018). Ademais, os fatores de risco para o desenvolvimento de pré-eclâmpsia englobam primeira gestação, múltipla gravidez prévia, diabetes ou hipertensão preexistente, má nutrição, mola hidatiforme e história familiar de pré-eclâmpsia (COELHO; SIQUEIRA, 2022).

A condição de pré-eclâmpsia (PE) geralmente envolve mulheres normotensas previamente saudáveis, após 20 semanas de gestação, mais comumente no terceiro trimestre, sem fatores de risco conhecidos ou partos anteriores, sendo uma patologia predominantemente da primigesta (GARDIKIOTI et al., 2022). Em primeiro lugar, vale destacar que a placenta das pacientes com pré-eclâmpsia mostra sinais de envelhecimento prematuro, inclusive degeneração, depósitos hialinos, calcificação e congestão. A decídua materna também mostra hemorragia e necrose, com trombose das artérias espiraladas e infartos difusos (DUHIG; VANDERMOLEN; SHENNAN, 2018). É considerada uma das causas mais comuns de mortalidade materna nos EUA e no mundo desenvolvido.

A etiologia da pré-eclâmpsia é multifatorial, tendo a patogênese elucidada por uma predisposição genética, placentação deficiente, tolerância imunológica danificada devido a uma resposta inflamatória sistêmica elevada e a um desequilíbrio angiogênico (PHIPPS et al., 2019). Além disso, sua fisiopatologia é composta de duas fases pré-clínica e clínica, em que na primeira fase encontram-se alterações no desenvolvimento placentário e modificações no útero, com origem da hipóxia do tecido placentário, apresentando como consequência o desenvolvimento de estresse oxidativo e excesso na produção de fatores de inflamação e antiangiogênicos. Já na segunda fase, o distúrbio na placenta e os fatores liberados causam danos sistêmicos ao endotélio, que terá como manifestação a hipertensão e o acometimento de órgãos-alvo (PERAÇOLI et al., 2019).

A PE é um distúrbio hipertensivo da gestação que equivale a uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna e perinatal de forma global. Possui incidência global de 4,6%, que varia dependendo do país ou região, simbolizando uma das quatro principais razões de mortalidade materna, mesmo em países desenvolvidos (MIRABITO COLAFELLA et al., 2020; KHEDAGI; BELLO, 2021). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% das gestantes com PE vão a óbito, em razão das complicações na gestação. O Brasil assume a posição de segundo lugar em relação às mortes maternas, atingindo cerca de 5 a 17% das grávidas (FERREIRA et al., 2019).

A Pré-eclâmpsia exprime um perigo à saúde da mulher acometida não só durante a gravidez. As pacientes com PE manifestam sintomas de hipertensão, edema e proteinúria, além disso, correm o risco de terem exacerbação dos reflexos tendinosos profundos, hipertensão maligna ou descolamento prematuro da placenta (CUNHA SOARES et al., 2019).

O córtex renal apresenta isquemia cortical, que pode resultar em necrose franca e insuficiência renal aguda e, consequentemente, alterar os resultados dos testes de função hepática. Portanto, a remoção do feto seria a alternativa definitiva para cura dessa síndrome, que abrange uma taxa de mortalidade alta tanto para a mãe quanto para o concepto (ABRAHAM; KUSHELEVA, 2019).

É importante frisar que a eclâmpsia é mais um dos distúrbios hipertensivos da gravidez, caracterizada por ser um processo patológico associado ao diagnóstico de pré-eclâmpsia, podendo acontecer antes do parto, durante o parto e até 6 semanas após o parto (LEE; BRAYBOY; TRIPATHI, 2022). O principal achado encontrado no exame físico são crises tônico-clônicas generalizadas, que, em geral, duram cerca de 60 a 90 segundos. Um estado pós-ictal encontra-se presente após a atividade convulsiva.

Nesse contexto, a paciente pode apresentar sintomas de alerta, como dores de cabeça, alterações visuais, dor abdominal e aumento da pressão arterial antes do início da atividade convulsiva. Silva Santana et al. (2019) relatam ainda que a tríade edema, proteinúria e hipertensão são os sinais clássicos da doença hipertensiva gestacional que ocasionam a pré-eclâmpsia e, em casos mais graves, a convulsão característica do quadro.

Um aumento na massa placentária, como em múltiplas gestações, aumenta o risco para pré-eclâmpsia e eclâmpsia, assim como o edema placentário ocorrendo em gravidezes com complicações por hidropisia fetal possuem um papel primordial na sua etiologia. Ademais, as gestações molares, que afetam a arquitetura placentária, também apresentam maior risco de complicação (BARROS; SANTOS, 2023.

O diagnóstico de PE deve ser presumido nas gestantes em que hipertensão arterial e proteinúria significativa surgirem após a 20ª semana de gestação (exceto na mola hidatiforme, quando a PE pode surgir antes da 20ª semana). Se o aumento da PA e a proteinúria ocorrerem após a 20ª semana em uma primigesta com história familiar (principalmente irmã ou mãe) de PE ou eclâmpsia, a probabilidade de acerto no diagnóstico de PE será maior do que 90% (FEBRASGO, 2017; LINS et al., 2022).

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Febrasgo (2017), em vista da maior agilidade para o diagnóstico, são consideradas adequadas avaliações em amostra isolada de urina, que tenham relação proteinúria/creatininúria (ambas em mg/dl) igual ou superior a 0,3. Na ausência dessas possibilidades diagnósticas pode ser considerada proteinúria com pelo menos 1+ em fita reagente, desde que assegurada a qualidade do método. Diferentemente de recomendações anteriores, a intensidade de proteinúria não deve mais ser associada ao prognóstico materno ou pautar decisões isoladamente.

Assim, na ausência de proteinúria, o diagnóstico de PE pode ser baseado na presença das seguintes manifestações clínicas: cefaleia, turvação visual, dor abdominal ou exames laboratoriais alterados, como plaquetopenia (menos que 100.000/mm³), elevação de enzimas hepáticas (o dobro do basal), comprometimento renal (acima de 1,1 mg/dl ou o dobro do basal) ou ainda edema pulmonar e distúrbios visuais ou cerebrais, como cefaleia, escotomas ou convulsão (MIRANDA et al., 2019).

Considera-se, então, para o diagnóstico de pré-eclâmpsia, a hipertensão após a vigésima semana, um dos critérios a seguir (POON et al., 2019):

  1. Proteinúria significativa (relação P/C > 0,3; > 1,0 g/l em fita reagente);
  2. Disfunções orgânicas maternas;
  3. Perda de função renal (creatinina > 1,1 mg/dl);
  4.  Disfunção hepática (aumento de transaminases pelo > 2 vezes o limite superior normal; epigastralgia);
  5. Complicações neurológicas (estado mental alterado; cegueira; hiper-reflexia com clônus, escotomas, turvamento visual, diplopia, Doppler da artéria oftálmica materna com peak/ratio > 0,78);
  6.  Complicações hematológicas (plaquetopenia, CIVD < hemólise);
  7. Estado de antiangiogênese (PLGF < 36 pg/ml ou relação sFlt-1/PIGF > 85);
  8. Disfunção uteroplacentária (CIUR assimétrico; Doppler umbilical alterado, principalmente se presente também Doppler alterado nas duas artérias uterinas maternas).

O tratamento da eclâmpsia consiste no uso do sulfato de magnésio (SM). Segundo estudos baseados na literatura, o SM apresenta maior segurança e eficácia do que a Fenitoína, o Diazepam ou Coquetel lítico (composto por Clorpromazina, Prometazina e Petidina) na prevenção de convulsões frequentes na eclâmpsia. Ademais, o SM possui baixo custo, fácil administração e provoca sedação (MANGOGNA et al., 2019). Dessa forma, o uso deste medicamento é indicado para casos de eclâmpsia e síndrome HELLP, além de pré-eclâmpsia com quadro clínico ou laboratorial alterado, inclusive de difícil controle da hipertensão (TOWSEND et al., 2019).

É essencial monitorar os reflexos, a função da creatinina e o débito urinário com a administração de magnésio. Mulheres com pré-eclâmpsia grave, com mais de 34 semanas de gestação e instáveis do ponto de vista materno ou fetal, devem ser submetidas ao parto assim que a mãe estiver estabilizada (MESQUITA et al., 2022). Além disso, está associada a complicações materno-fetais, incluindo AVE, eclâmpsia, falência orgânica múltipla, restrição do crescimento fetal, morte intrauterina e trabalho de parto prematuro (BRASIL, 2022).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o objetivo deste trabalho, a proposta metodológica e os dados obtidos com sua elaboração, compreendemos que inúmeros fatores podem desencadear a hipertensão gestacional. Neste trabalho, os fatores mais identificados foram o diagnóstico inadequado, a idade, a etnia, o aparecimento de gestações múltiplas e os hábitos alimentares.

Em relação ao diagnóstico correto, notou-se que esteve relacionado à elevada taxa de proteínas, conhecida como proteinúria, conforme encontrado na literatura. Em relação ao cuidado ofertado após diagnóstico, percebeu-se que é um fator de suma importância para uma boa evolução da gravidez sem complicações maiores e para a garantia do cuidado integral em todas as fases da gestação.

Por outro lado, o cuidado após o parto foi mencionado como estratégia do acompanhamento integral, principalmente em mulheres que apresentam quadro de pré-eclâmpsia grave. É importante mencionar que, em quadros graves, é necessário o encaminhamento para a atenção especializada, e a contrarreferência também deve ser realizada quando necessário, fato que foi observado neste trabalho.

Diante disso, surge a necessidade de um modelo assistencialista consolidado para pacientes com risco de hipertensão ocasionada pela gestação e, consequentemente, pré-eclâmpsia, que possa reduzir o número de óbitos com causa definida. Esta pesquisa dá um direcionamento aos estudantes (graduandos) e profissionais da área de saúde acerca dos fatores de risco presentes na hipertensão.

Em suma, este estudo foi construído com objetivo de contribuir para o desenvolvimento e o aprimoramento de estratégias e cuidados médicos e de enfermagem que visem ao diagnóstico precoce e à identificação de fatores de risco que contribuam para o aparecimento de doenças hipertensivas durante a gravidez.

Por fim, as limitações deste estudo incidem na quantidade de bases de dados utilizadas para pesquisa, bem como nos idiomas de publicação, na quantidade de artigos selecionados, considerando os critérios adotados para pesquisa e na quantidade de artigos utilizados e, por fim, no fato de não terem sido incluídos artigos publicados no ano corrente, ou seja, 2023.

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1ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3620-2566
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí, Instituto de Educação Superior do Vale do
Parnaíba, Brasil
E-mail: mariaclaralveras@gmail.com

2ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7221-3281
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí, Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba, Brasil E-mail: romulotimao.2014@gmail.com

3ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4010-2768
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí, Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba, Brasil E-mail: naryellystelyte19@hotmail.com

4ORCID: https://orcid.org/0009-0009-0012-8753
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí, Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba, Brasil E-mail: darapontes2017@icloud.com

5ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5621-7469
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí, Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba, Brasil E-mail: jose.junior@iesvap.edu.br

6ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5364-1782
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí, Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba, Brasil
E-mail: andressalimaramos@gmail.com

7ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7792-6993
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí, Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba, Brasil E-mail: ayane.rodrigues@iesvap.edu.br