HIPERTENSÃO ASSOCIADA A DOENÇA RENAL CRÔNICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

HYPERTENSION ASSOCIATED WITH CHRONIC KIDNEY DISEASE: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

HIPERTENSIÓN ASOCIADA A ENFERMEDAD RENAL CRÓNICA: UNA REVISIÓN INTEGRATIVA DE LA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10045685


Kaira Ventorin Figueira1
Naimi de Souza França Barroso2
Soraia Richelle Alvarenga Esquerdo3
Annemarie Gracielly de Souza Loescke4


Resumo 

Os rins são responsáveis pela manutenção da homeostase, sendo assim, consegue desempenhar o papel de eliminação de substâncias nocivas ao organismo além de regular os volumes dos líquidos corporais. Os rins são responsáveis pela manutenção da homeostase, sendo assim, consegue desempenhar o papel de eliminação de substâncias nocivas ao organismo além de regular os volumes dos líquidos corporais. De acordo com o Ministério da Saúde (2014), indivíduos com pré disposições de saúde, idosos, hipertensos, obesos, entre outros, possuem maior susceptibilidade de desenvolverem doenças renais crônicas. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar os impactos da hipertensão na função renal, o que pode resultar na doença renal crônica, através de uma revisão integrativa da literatura. Nesta pesquisa, a busca de dados nas plataformas digitais foi realizada dentro do período de 2017 a 2021. Verificou-se, que a presença de pressão arterial elevada, associada à rigidez das artérias, leva a um aumento da pressão nas arteríolas aferentes que, por sua vez, causa hiperfusão e hiperfiltração glomerular, comprometendo o processo de auto-regulação renal, que podem resultar, em casos mais graves, na falência renal. Através disso, destaca-se a importância de consultas periódicas a médicos e especialistas e um diagnóstico clínico cedo, pois quando detectado necessita de uma intervenção nutricional dietética com acompanhamento profissional, que visa a qualidade de vida do paciente no decorrer de seu tratamento.

Palavras-chave: Rins; Doenças renais crônicas; Hipertensão; Pressão arterial; Diagnóstico clínico.

Abstract 

The kidneys are responsible for maintaining homeostasis, therefore, it manages to play the role of eliminating harmful substances to the body in addition to regulating the volumes of body fluids. The kidneys are responsible for maintaining homeostasis, therefore, it manages to play the role of eliminating harmful substances to the body in addition to regulating the volumes of body fluids. According to the Ministry of Health (2014), individuals with pre-provisions of health, the elderly, hypertensive, obese, among others, are more likely to develop chronic kidney disease. Thus, the present work aims to analyze the impacts of hypertension on renal function, which can result in chronic kidney disease, through an integrative review of the literature. In this research, the search for data on digital platforms was carried out within the period from 2017 to 2021. It was found that the presence of high blood pressure, associated with stiffness of the arteries, leads to an increase in pressure in the afferent arterioles that, by in turn, it causes glomerular hyperfusion and hyperfiltration, compromising the process of renal auto-regulation, which can result, in more severe cases, in renal failure. Through this, the importance of periodic consultations with doctors and specialists and an early clinical diagnosis is highlighted, because when detected, it requires a dietary nutritional intervention with professional monitoring, which aims at the patient’s quality of life during the course of their treatment.

Keywords: Kidneys; Chronic kidney diseases; Hypertension; Blood pressure; Clinical diagnosis.

1. Introdução 

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e a Doença Renal Crônica (DRC) são frequentemente associadas, visto que a HAS apresenta fatores de riscos que podem contribuir para o desenvolvimento da DRC. Tais fatores podem estar relacionados ao estilo de vida do paciente e/ou fatores genéticos (WANG MB et al.,2019). A Insuficiência Renal Crônica (IRC) está relacionada com a falha durante o processo da filtração sanguínea, ou seja, problema associado à função do néfron (AGUIAR et al., 2020).

Os rins são responsáveis pela manutenção da homeostase, sendo assim, consegue desempenhar o papel de eliminação de substâncias nocivas ao organismo além de regular os volumes dos líquidos corporais (XAVIER et al., 2018). De acordo com o Ministério da Saúde (2014), os indivíduos com maior susceptibilidade de desenvolverem DRC são aqueles com diabetes, os hipertensos, idosos, portadores de obesidade (IMC > 30 Kg/m²), tabagistas, que realizam uso de nefrotóxicos ou com histórico de doença do aparelho circulatório, sendo possível a prevenção na realização do tratamento ou controle dos fatores de risco modificáveis: diabetes, hipertensão, obesidade, tabagismo, entre outros.

De acordo com pesquisas realizadas por Aguiar et al. (2020) relataram que 1,42% dos 60.202 entrevistados, com 18 anos ou mais, referiram ser portadores de DRC, sendo a proporção de portadores de DRC autorreferida no sexo feminino foi 1,48% e no sexo masculino 1,35%. A prevalência de DRC foi maior nos indivíduos com 65 anos de idade ou mais (3,13%). Além disso, o estudo relatou que a prevalência de DRC é maior entre fumantes e ex-fumantes e naqueles que referiram inatividade física (AGUIAR et al., 2020).

A Doença Renal Crônica (DRC), patologicamente, corresponde a uma perda da função renal, uma vez que, o órgão efetor possui como um de seus mecanismos a filtração sanguínea de certas substâncias não correspondentes com a funcionalidade do organismo. Com isso, associa-se que tal fato está relacionado à morbimortalidade de alguns indivíduos, obtendo assim um custo elevado em relação aos cuidados com a saúde (Gaitonde, Cook & Rivera, 2017). Nesta situação, DRC classifica-se em cinco estágios de agravamento, sendo este calculado de acordo com a funcionalidade do indicador de filtração glomerular – capacidade de realizar a filtração sanguínea (NEFROCLÍNICAS, 2020).

O diagnóstico de DRC implica no uso imediato de tratamentos que substituem a função renal. Dentre os tratamentos alternativos estão disponíveis: hemodiálise, diálise peritoneal (DP) e transplante renal (NEGREIROS et al., 2019). O tratamento hemodialítico visa realizar o processo da filtração sanguínea através de uma máquina específica que visa o controle da pressão arterial (SANTOS POZZA et al., 2015). Com a retirada do órgão efetor diante da falha de seu funcionamento a realização do transplante renal pode ser uma decisão advindo do profissional médico, sendo considerada um tanto conturbada aos pacientes diante da necessidade de haver um longo tratamento medicamentoso, além de uma grande necessidade de restrição física e alimentar e aceitação do enxerto (Quintana, Weissheimer & Hermann, 2011).

A DRC possui diversas causas e fatores em seu diagnóstico, é caracterizada pelo período prolongado e, em sua grande maioria, assintomático. Com isso, quando iniciado o tratamento, efeitos colaterais são significativamente altos onde o paciente está sujeito a sofrer danos sociais e até mesmo psicológicos alterando a qualidade de vida do indivíduo sendo de extrema importância o envolvimento de estratégias que auxiliem como uma forma de estratégia para auxiliar esses aspectos comportamentais e assim melhorando o bem estar físico e mental durante esse processo difícil (Rêgo LW, Martins G, Salviano CF, 2019).

A associação de causa e efeito entre a DRC e a hipertensão, têm-se que declínios na função renal são tipicamente associados com aumentos na pressão arterial e, consequentemente, elevações sustentadas de PA aceleram a progressão do declínio da função renal. Sendo, este feedback positivo prejudicial, observado em experimentos com animais e, posteriormente, em ensaios clínicos. Além disso, é importante ressaltar que a pressão arterial elevada está presente na maioria dos pacientes com DRC, com uma prevalência de 70-80%, e apenas a minoria tem controle adequado da pressão arterial (BUCHARLES, 2018).

Portanto, o presente estudo de revisão integrativa tem como objetivo analisar os impactos da hipertensão na função renal, o que pode resultar na doença renal crônica. Para este, foram utilizados artigos publicados nos anos de 2017 a 2021 em plataformas de dados, como PubMed e ScienceDirect.

2. Metodologia 

O estudo trata-se de uma pesquisa do tipo revisão integrativa de literatura, de natureza exploratória e descritiva com abordagem qualitativa. Por meio dessa metodologia, é possível analisar os estudos mais relevantes disponíveis na literatura e utilizar as evidências disponíveis no campo científico de forma sistemática e ordenada, permitindo o aprofundamento do conhecimento do tema realizada por meio de levantamento bibliográfico (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). A pesquisa de revisão integrativa proporciona o levantamento de estudos de referência publicados sobre o tema a fim de compilar o conhecimento científico existente, apresentar justificativas para a condução do estudo e identificar lacunas (CONFORTO; AMARAL; SILVA, 2011).

Desse modo, a formulação de uma problemática, que dará início a revisão, é possível ser bem estruturada e delimitada tendo como etapas 1) a enunciação da pergunta de pesquisa; 2) fundamentação teórico-empírica das hipóteses e 3) detalhamento dos modos de investigação – entre eles a apresentação dos critérios de seleção, modo de coleta dos dados e procedimento na análise dos dados (TUNES, 2018).

O levantamento bibliográfico consistiu em acesso a artigos publicados em revistas científicas eletrônicas da área da saúde, dentre eles a bases de dados PubMed e ScienceDirect tendo como questão norteadora “Qual a relação entre a doença renal crônica e a hipertensão arterial sistêmica?”. Para tal, adotou-se a estratégia PICO para o direcionamento da revisão de literatura a fim de desenhar o estudo consoante ao tema. Esse acrônimo é representado no presente estudo pelos seguintes itens: P) População (pacientes com doença renal crônica); I) Intervenção (hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal); C) Comparação (prevalência de pacientes com DRC e HAS comparados com os pacientes que apresentam somente DRC); O) Desfecho ou resultados (resultado observado com a pesquisa bibliográfica referente ao tema); T) Tempo (estudos publicados nos últimos 5 anos – entre 2010 e 2021) (RICE, 2013).

Os artigos foram selecionados pela leitura criteriosa dos títulos, resumos e, em seguida, dos artigos na íntegra. Os critérios de inclusão definidos foram a seleção de artigos disponibilizados completos, gratuitos, publicados no ano de 2017 a 2021, em língua inglesa e portuguesa, independentemente do método de pesquisa utilizado e que fossem pertinentes ao título estabelecido para este estudo. Foram excluídos da pesquisa, artigos que não foram disponibilizados na íntegra, publicados antes de 2017, que se encontravam em qualquer outro idioma que não os supracitados, que estavam duplicados e que não se adequavam aos objetivos almejados.

Os termos foram inseridos em inglês, da seguinte forma: “Hypertension” associado pelo operador booleano “AND” ao termo “Chronic kidney disease” e “Relationship”.  A partir das estratégias de elegibilidade utilizadas foram encontrados 69.350 artigos, sendo 38 artigos no PubMed e 66.267 no Science direct. Após a leitura dos títulos e dos resumos, foram pré-selecionados 50 artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Em seguida à aplicação dos critérios de exclusão, 27 artigos foram retirados em razão de duplicidade e/ou não atendimento à proposta desta revisão integrativa. Ao fim, 23 foram artigos selecionados para comporem o presente trabalho. O quadro 1, exemplifica o número de estudos selecionados conforme a descrição anterior. 

Tabela 1. Fluxo de seleção das publicações para análise no presente estudo

Fonte: Autores, 2022.

3. Resultados e Discussão 

O objetivo desse estudo foi apresentar e discutir os achados da literatura referentes a associação entre a hipertensão e a doença renal crônica e com isso apresentar problemáticas envolvendo essas duas doenças. Foi encontrado um total de 69.350 artigos nas bases de dados, das quais foram utilizadas a plataforma PubMed e ScienceDirect. Excluíram-se aqueles cujas temáticas fugiram do foco do estudo destes, 50 atenderam critério de inclusão e 23 artigos foram elegíveis, sendo 18 artigos da plataforma PubMed e 5 artigos da plataforma ScienceDirect, pois atenderam o objetivo da pesquisa e constam nas referências da pesquisa e na tabela a seguir. Os artigos analisados foram publicados em periódicos internacionais em 2017 a 2021, todos em língua inglesa. Esses trabalhos selecionados consistem em estudos prospectivos e retrospectivos, relatos de casos, metanálises, capítulos de livro e revisões sistemáticas. Dessa forma, podemos observar as subcategorias analisadas conforme mostra a Tabela 1, correspondendo aos títulos, autores, ano da publicação, objetivo e estudo e banca de dados. 

Quadro 1 – Síntese dos estudos que atenderam aos critérios de elegibilidade, segundo autor e ano de publicação, título, objetivo de estudo e banco de dados

Autores / AnoTítuloObjetivo de EstudoBanco de Dados
FLYTHE, J. et al., (2019)The relationship of volume overload and its control to hypertension in hemodialysis patients.Diagnóstico, epidemiologia, fisiopatologia e consequências clínicas de hipertensão e sobrecarga de volume em pacientes em HD.PubMed
TOWSEND, R (2020)Pathophysiology of Hypertension in Chronic Kidney Disease.Analisar a epidemiologia da hipertensão arterial em doença renal crônica, assim como compreender a desregulação dos fatores tradicionais na manutenção da pressão arterial, e informações sobre os papéis emergentes da inflamação, influência do sistema imunológico associado.PubMed
HERMIDA, R. et al., (2018)Risk of incident chronic kidney disease is better reduced by bedtime than upon-awakening ingestion of hypertension medications.Investigar se a terapia com toda a dose diária de medicamentos ≥1 hipertensão na hora de dormir exerce uma maior redução no risco de doença renal crônica incidente (DRC) do que a terapia com todos os medicamentos ao acordar.PubMed
MD PORTER, A. et al., (2019)Hypertensive Chronic Kidney Disease.Demonstrar o processo fisiopatológico, manifestações clínicas assim como terapias e mecanismos uma vez que, a doença renal crônica hipertensiva (DRC) foi recentemente remodelada pela descoberta de alelos de risco associados à doença renal.ScienceDirect
CASTRO et al., 2020Função renal alterada: prevalência e fatores associados em pacientes de risco.Identificar a prevalência de taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) alterada e fatores associados em usuários do sistema único de saúde com Diabetes Mellitus e/ou com Hipertensão Arterial Sistêmica de alto risco para doença cardiovascular.ScienceDirect
AGUIAR, et al., 2020Fatores associados à doença renal crônica: inquérito epidemiológico da Pesquisa Nacional de Saúde.Identificar a prevalência da doença renal crônica (DRC) autorreferida no Brasil e caracterizar os fatores associados a essa enfermidade.ScienceDirect
SARMENTO et al. (2017)Prevalência de causas primárias de doença renal terminal (DRCT) clinicamente validadas em uma capital do Nordeste do Brasil.Estimar a prevalência das causas de DRCT em uma capital do Nordeste brasileiro.ScienceDirect
PUGH; GALLACHER; DHAUN, 2019Management of hypertension in chronic kidney disease.Analisar e identificar o melhor manejo terapêutico para a DRC e HAS quando associadas.PubMed
NERBASS, et al., 2020Centro Brasileiro de Diálise 2020.Relatar dados epidemiológicos do Censo Brasileiro de Diálise 2020, patrocinado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.PubMed
BARROSO, et al., 2020Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020.Conciliação de informações médicas acerca da Hipertensão Arterial.PudMed
JESUS NADABY et al., 2018Qualidade de vida de indivíduos com doença renal crônica em tratamento dialítico.Mensurar a qualidade de vida dos indivíduos com DRC; comparar QV entre pacientes em relação ao grupo normativo e identificar os determinantes associados.ScienceDirect
AMARAL et al., 2019Prevalência e fatores associados à doença renal crônica em idosos.Verificar a prevalência da doença renal crônica e os fatores a ela associados em idosos (> 60 anos).PubMed
DEBBIE; TOWNSEND, 2019Pathophysiology of Hypertension in Chronic Kidney Disease.Identificar a fisiopatologia em associação com HAS e DRC.PudMed
WILLIAMS et al., 2018Diretrizes ESC/ESH 2018 para o manejo da hipertensão arterial.Identificar e analisar do manejo da hipertensão arterial.PubMed
SLANH., 2018Sociedade Latino Americana de Nefrologia e Hipertensão (SLANH).Verificar dados da nefrologia associado com a hipertensão arterial.PudMed
NEVES et al., 2020.Censo Brasileiro de Diálise: análise de dados da década de 2009-2018.Apresentar dados do inquérito da Sociedade Brasileira de Nefrologia sobre pacientes com doença renal crônica dialítica em julho de 2018, fazendo análise comparativa dos últimos 10 anos.PudMed
SESSO et al., 2019Inquérito Brasileiro de Diálise Crônica 2017.Apresentar dados da pesquisa da Sociedade Brasileira de Nefrologia sobre pacientes com doença renal crônica em diálise em julho de 2017.PudMed
DUARTE; HARTMANN., 2018A autonomia do paciente com doença renal crônica: percepções do paciente.Conhecer a autonomia do paciente renal crônico frente ao tratamento dialítico e a percepção da equipe de saúde frente a este processo.PudMed
FERNANDES et al., 2018Qualidade de vida em transplantes renais.Traçar o perfil sociodemográfico, compreender o significado do transplante renal e impacto na vida.PudMed
ZOU et al., 2021Tendências mundiais na prevalência de hipertensão e progresso no tratamento e controle de 1990 a 2019: uma análise agrupada de 1.201 estudos representativos da população com 104 milhões de participantes.Medir a prevalência de hipertensão arterial e o progresso em sua detecção, tratamento e controle de 1990 a 2019 para 200 países e territórios.PudMed
KUAUR R; KAUR M; SINGH J., 2018 Disfunção endotelial e hiperatividade plaquetária no diabetes mellitus tipo 2: insights moleculares e estratégias terapêuticasAnalisar informações disponíveis no contexto da disfunção endotelial e plaquetária no DM2.PubMed
CAMPANA et al.,2020Hipertensão na doença renal crônica em tratamento conservador.Analisar os processos terapêuticos dos pacientemente com hipertensão arterial assim como identificar a fisiopatologia da doença.PudMed
OLIVEIRA, J et al., 2019Da Hemodiálise a Diálise Peritoneal: Experiências de pacientes sobre a mudança de tratamento.Conhecer as percepções dos usuários com insuficiência renal crônica que realizavam a diálise peritoneal e vivenciaram previamente a hemodiálise, acerca da mudança de tratamento.PudMed

Fonte: Autores, 2022.

As doenças que afetam o sistema renal causam, aproximadamente, 850 milhões de mortes anuais no planeta e a sua incidência aumenta anualmente em 8% (CASTRO et al., 2020). Caracterizada por perda progressiva da função dos néfrons com consequente perda da capacidade de filtração glomerular, a DRC afeta silenciosamente a maior parte dos indivíduos acometidos pela doença, com isso sua detecção tardia auxilia para o comprometimento do controle e tratamento respectivamente, diante dos estágios avançados que a doença pode alcançar (AGUIAR, et al., 2020), sendo estes representados na Tabela 2 do artigo. 

Tabela 2. Estágios de doença renal crônica de acordo com os valores da taxa de filtração glomerular (NATIONAL KIDNEY FOUNDATION)

EstágioTFG mL/min/1,73 m²Definição
1≥90Lesão renal com TFG normal ou aumentada 
260-89Lesão renal com redução leve da TFG 
330-59Redução moderada da TFG
415-29Redução grave da TFG 
5< 15 ou diáliseFalência renal
Fonte: Autores, 2022.

No entanto, apesar de existirem critérios consagrados para o diagnóstico de DRC, o fato de a progressão da doença ser assintomática contribui para que, na maior parte dos casos o diagnóstico seja feito quando o indivíduo apresenta um estágio avançado da doença, quando infelizmente há limitações de ações que preservem a função renal (CASTRO et al., 2020). 

Em virtude de ser uma doença silenciosa, a sintomatologia inicial envolve inapetência, náuseas e vômitos, edema e aumento da pressão arterial (PA), deixando vago o diagnóstico de DRC (JESUS NADABY et al., 2018). Neste sentido, identificar a função renal diminuída precocemente e fazer o encaminhamento imediato para a equipe multidisciplinar são etapas essenciais no manejo de pacientes com DRC, pois possibilitam a educação pré-diálise e a implementação de medidas preventivas que retardam, ou mesmo interrompem, a progressão para os estágios mais avançados da DRC, diminuindo, consequentemente, os riscos de morbidade e mortalidade iniciais (PUGH; GALLACHER; DHAUN, 2019). 

 Após estudos realizados por Sarmento (2017), certificou-se como fatores causais de perda funcional renal patologias, por exemplo como a diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, glomerulopatias, entre outros favorem a disposição de DRC. Sendo que a hipertensão arterial sistêmica é estabelecida como segunda causa de DRC.

A relação entre HAS e DRC é complexa. A HAS é uma causa comumente relatada de DRC (DEBBIE; TOWNSEND, 2019). Dentre os mecanismos, é importante ressaltar que a tensão arterial permanentemente alta no interior dos vasos sanguíneos resulta em deterioração do endotélio vascular, resultando em alterações funcionais e estruturais (AMARAL et al., 2019). Fisiologicamente, o controle do fluxo renal é de responsabilidade do rim, que apresenta a capacidade de diminuir e/ou aumentar a resistência das arteríolas aferente e/ou eferente (FLYTHE; BANSAL, 2019). 

O funcionamento fisiológico do sistema renal é imprescindível para a proteção dos rins contra as variações de tensão arterial sistêmicas (DEBBIE; TOWNSEND, 2019). Dessa forma, estudos realizados por Kaur et al (2018) indicam que as lesões renais relacionadas com HTA, sugerem que a perda de auto-regulação do fluxo sanguíneo renal na arteríola aferente resulta em transmissão de pressões elevadas para o glomérulo não protegido com subsequente hiperfiltração e hipertrofia glomerular. 

Como estratégias no tratamento da HAS e DRC destaca-se o bloqueio do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA) que é então realizada através de um inibidor (IECA) juntamente com seu bloqueador de receptor (BRA) (CAMPANA; BRANDÃO, 2020), reduzindo a taxa de lesão renal e declinando o nível do TFG assim como a diminuição da excreção renal proteica. Como pode ser visto em Pugh et al (2019), o controle de níveis pressóricos da PA em pacientes com DRC auxilia para a diminuição da progressão da doença, pois patologicamente ambas se encontram associadas, dado isso, durante o processo terapêutico há importância de combinar medicamentos anti-hipertensivos para que seja possível alcançar PA alvo, levando em consideração que apenas o uso de terapias não medicamentosas não são suficientes para uma redução adequada da PA, uma vez  que, falência funcional renal quando estabelecida em sua fase inicial possui como um dos fatores terapêuticos a restrita ingestão proteica assim como o controle da hipertensão arterial. 

Com relação aos tratamentos para DRC, é importante ressaltar que estes podem variar de acordo com o quadro clínico que o paciente apresenta. Atualmente, os tratamentos mais utilizados incluem: Hemodiálise (HD), a diálise peritoneal (Dp) e o transplante renal (TP) (WILLIAMS et al., 2018). Dados da Sociedade LAtino-Americana de Nefrologia e Hipertensão (SLAHN) indicam que a taxa média de prevalência de pacientes em terapias renais substitutivas (incluindo diálise e transplante), na América Latina era de 805 a cada milhão de indivíduos. Da mesma forma, através de estudos realizados por Neves (2020) foi possível constatar o aumento crescente nas taxas de incidência e prevalência em diálise, ao ser comparado com o Censo Brasileiro de Diálise de 2017 (SESSO et al., 2019).

A HD é o tratamento dialítico mais utilizado, seu mecanismo de ação baseia-se na remoção de solutos acumulados em pacientes com perda total, ou quase total, da função renal, sendo esta uma medida calculada através da TFG. Apesar de apresentar ínfimos benefícios, este tratamento pode acarretar em efeitos colaterais que culminam em alterações do padrão fisiológico do ser humano, com complicações agudas, crônicas e nutricionais (PUGH; GALLACHER; DHAUN, 2019). A DP utiliza mecanismo semelhante à HD, no entanto, o processo ocorre dentro do corpo do paciente, com auxílio de um filtro natural que atua como substituto dos rins. Estudos indicam que este tratamento permite maior autonomia e flexibilidade ao paciente, possibilitando ao mesmo a possibilidade de retornar às suas atividades diárias, influenciando na melhoria da qualidade de vida dos pacientes (DUARTE; HARTMANN, 2018).

 No entanto, os tratamentos dialíticos acabam sendo uma fonte de estresse permanente para o indivíduo, refletindo em seu âmbito social e laboral, além da perda da autonomia (em casos de HD) e impossibilidade de locomoção e lazer (FERNANDES et al., 2018). Dessa forma, o transplante renal atua como um tratamento que fornece anos de vida com alta qualidade para pacientes com DRC. De acordo com estudos realizados por Fernandes (2018), pacientes que passaram pelo transplante renal, associaram tal intervenção médica à reconquista da saúde, liberdade e autonomia, refletindo de forma direta no desempenho de atividades diárias. 

Quanto à escolha da terapêutica, esta é realizada então através da equipe profissional juntamente com a necessidade do paciente, entretanto de acordo com Oliveira (2019) muitos pacientes se sentem inseguros com o diagnóstico diante da falha de comunicação médico-paciente e não realizam a terapêutica inicial, com isso, a mudança ocorre por alteração clínica da função renal por exemplo, feito isso, por vezes a hemodiálise que seria adotada já não pode mais ser realizada, optando então pela alternativa seguinte, diálise peritonal. 

De acordo com estudo de Zou (2021), baseado na prevalência da hipertensão arterial entre os anos de 1990 a 2019 com participação de 104 milhões de indivíduos foi possível observar que houve melhorias significativas no quesito controle e terapêutica nos países estudados no decorrer do tempo por conta da melhoria das taxas de detecção principalmente, perdendo apenas para a África Subsaariana e Oceania, entretanto, observa-se que, houve aumento em doenças associadas a HAS diante o crescimento populacional e envelhecimento. Em 20 anos a incidência dobrou entre idades de 30 a 79 anos. 

Já o estudo de Souza baseava-se no perfil epidemiológico da morbimortalidade nas regiões do Brasil, e com isso foi possível analisar a alta incidência da DRC entre o período de 2014 a 2019, tendo destaque nas faixas etárias de 60 a 69 anos, totalizando 22,20% das demais idades com predomínio na região sudeste com 45,69% no quantitativo de internações e 47,05% em óbitos. Diante os dados obtidos, é possível observar que, os gastos adquiridos em cada região possuem ligação com a incidência em cada localidade além da estrutura hospitalar que cada uma oferece.  

Através dos estudos analisados, é importante destacar a busca por um diagnótico prévio com um especialista e uma maior qualidade de vida. Em casos mais graves, a diálise (diálise peritoneal, hemodiálise) ou o transplante renal podem ser indicados. Em casos de prevenção e cuidados prévios, o uso terapeutico vem se destacando. A escolha da terapêutica a ser utilizada é realizada então através da equipe profissional juntamente com a necessidade do paciente e uma mudança de habitos para uma rotina mais saudavel. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos levantamentos feitos nesta revisão integrativa da literatura, permitiu a compreensão a respeito do comprometimento renal causado pela hipertensão arterial. Verificou-se que a presença de PA elevada, associada à rigidez das artérias, leva a um aumento da pressão nas arteríolas aferentes que, por sua vez, causa hiperfusão e hiperfiltração glomerular. Consequentemente, o processo de auto-regulação renal é impedido e desenvolvem-se complicações, que podem resultar, em casos mais graves, na falência renal.

Dado este ponto, o diagnóstico precoce da doença renal crônica juntamente com a hipertensão arterial sistêmica permite a utilização de terapias que possuem como fatores fundamentais o retardo do agravamento da doença, sendo então orientadas de acordo com o estágio renal o qual se encontra. O diagnóstico clínico quando detectado necessita de uma intervenção nutricional dietética com acompanhamento profissional, que visa a qualidade de vida do paciente no decorrer de seu tratamento, ou seja, a utilização de alvos não farmacológicos pode influenciar na diminuição da pressão arterial auxiliando para melhores resultados terapêuticos, uma vez que, se trata de uma doença crônica, com um viés de alta complexidade e mudança diária da rotina.

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Centro Universitário Aparício carvalho, Brasil1

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8796-5507
Centro Universitário Aparício carvalho, Brasil2

ORCID: https://orcid.org/0009-0009-1400-7098
Centro Universitário Aparício carvalho, Brasil3

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1893-3699
Centro Universitário Aparício carvalho, Brasil4