HIMATANTHUS DRASTICUS (JANAGUBA) – PLANTA COM PROPRIEDADES FITOTERÁPICAS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

HIMATANTHUS DRASTICUS (JANAGUBA) – PLANT WITH PHYTOTHERAPEUTIC PROPERTIES: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248110717


Viviane Brito Andrade1*
Cristieli Nunes da Silva Lima1
Vanessa Aparecida Soares2
Maria Raquel Manhani2


Resumo

            O uso de plantas medicinais é um hábito muito comum no Brasil desde os povos indígenas, sendo este costume perpetuado até os dias atuais por diversas comunidades e classes sociais em diversas regiões do mundo. Uma das plantas que apresenta ampla utilização em território brasileiro é Himanthus drasticus, popularmente conhecida principalmente como janaguba. Seu uso é justificado pela população pelos possíveis efeitos fitoterápicos que os componentes de seu extrato podem possuir, dentre eles são citados a atividade antitumoral, anti-inflamatórias e antibacterianas, além de seu efeito gastroprotetor, entre outros. Essas possíveis propriedades motivam a realização de estudos científicos com o intuito de elucidar quais componentes do extrato vegetal de janaguba podem estar envolvidos, permitindo seu emprego de maneira segura e eficaz por meio de medicamentos fitoterápicos. Por isso, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica crítica a respeito da literatura científica existente até o momento e que abordem estudos referentes ao potencial terapêutico do “leite” de janabuba por meio de estudos in vitro, pré-clínicos e clínicos. Pode-se concluir que há necessidade de uma maior quantidade de estudos, pois as literaturas consultadas demonstraram informações conflitantes, além de até o momento, nenhum estudo clínico ter sido de fato realizado.

PalavraschaveHimanthus drasticus. Janagúba. Atividade antimicrobiana e anti-inflamatória. Fitoterápicos. Medicina popular.

Abstract

The use of medicinal plants is a widespread practice in Brazil, dating back to indigenous peoples and persisting today across various communities and social classes throughout the country. Himanthus drasticus, commonly known as janaguba, is one such plant widely employed in Brazil. Its popularity stems from potential phytotherapeutic properties, including antitumor, anti-inflammatory, antibacterial, and gastroprotective effects. To elucidate the active components and enable safe and effective herbal medicine development, this study aims to critically review existing in vitro, pre-clinical, and clinical research on janaguba “milk.” Our findings indicate a scarcity of conclusive evidence, with conflicting results among studies and an absence of clinical trials.

Key-words:  Himanthus drasticus. Janagúba. Antimicrobial and anti-inflammatory activity. Phytotherapeutics. Folk medicine.

1. Introdução

O uso de plantas medicinais é um hábito muito comum da humanidade desde os povos antigos que buscavam nessas substâncias a cura para males que os acometiam. O aumento do uso de plantas medicinais como opção de tratamento vem ocorrendo por todas as classes sociais em diversas regiões do mundo (HAIDA et al., 2009). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998), estima-se que 65-80% da população dos países em desenvolvimento acreditam na medicina tradicional como tratamento primário, e 85% são baseados em extratos de plantas (ALMEIDA, MONTEIRO et al., 2017).

A busca constante por novas vias eficazes no tratamento de doenças tem sido justificada a partir do entendimento dos limites dos medicamentos convencionais e do grande número de efeitos adversos envolvidos em sua utilização, prejudicando o andamento do tratamento e motivando os pacientes a buscarem tratamentos menos agressivos, sendo, portanto, os tratamentos oriundos de vias naturais, uma possível alternativa, como é o caso dos medicamentos fitoterápicos (SOARES et al., 2020).

Mundialmente, são catalogadas cerca de 250 mil espécies vegetais, das quais aproximadamente 120 mil, quase 50%, são encontradas no Brasil. Essa ampla variedade está dividida em classes diversas de produtos naturais, tornando-as uma fonte inesgotável de moléculas que podem ter potencial terapêutico. (VITAL, 2017). Apesar de o Brasil possuir essa enorme biodiversidade de plantas (constituída principalmente pelo bioma do cerrado), pouco foi explorado, com projeções de estudos para apenas cerca de 5 mil plantas pertencentes à flora brasileira e com investigações mais completas e aprofundadas para apenas 0,4% da flora nacional (ABREU, ABREU, 2020).

Por mais que a cultura do uso de plantas medicinais seja um hábito bastante presente no país desde os povos indígenas, muitas plantas não possuem validação científica para o uso seguro e eficaz como fitoterápicos. Em 2006, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos, lançada em 2001, que expande e apoia pesquisas que busquem o potencial terapêutico da flora e fauna nacional, certificando as propriedades medicamentosas dessas plantas, garantindo seu uso seguro e os reconhecendo por meio de pesquisas da biodiversidade brasileira (SILVA, 2007).

De acordo com as Práticas Integrativas e Complementares do caderno de atenção básica do Ministério da Saúde (2012), que passou por atualização recente em 2022, por causa dos avanços e descobertas de novos fitoterápicos, foram implementados programas e legislações que visam valorizar plantas medicinais e derivados, tendo em vista o potencial de crescimento que  o Brasil oferece no setor, a demanda da população brasileira e pela necessidade de normatização das experiências  no SUS (Sistema Único de Saúde) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).

Já em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) lançou uma cartilha com o objetivo principal de instruir a população sobre o uso de forma segura de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos, bem como definir e explicar diferentes nomenclaturas relacionadas a esta temática (ANVISA, 2024).

Uma planta bastante conhecida principalmente na região Nordeste do país e que tem sido amplamente empregada como objeto de estudo referente às suas propriedades terapêuticas é a Himatanthus drasticus. A espécie Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel é predominante no Brasil, e é bastante conhecida em alguns estados como no Maranhão e no Ceará. Seus diversos nomes populares são tiboma, pau-de-leite, jasmin-manga, raivosa, leiteira, janaúba e janaguba, sendo o último, o nome mais comum (BAUDALF; SANTOS, 2013, MOUSINHO et al., 2011, SANTOS et al., 2018). Himanthus drasticus pertence a um pequeno gênero Apocynaceae composto por apenas 13 espécies, presentes em diversos locais da América do Sul (MOUSINHO et al., 2011, SANTOS et al., 2018), que possui grande importância por conter diversos compostos químicos com ações farmacologicamente ativas (ALMEIDA et al., 2017). 

A janaguba, como é mais popularmente conhecida aqui no Brasil (Figura 1) é caracterizada como uma árvore de porte médio, podendo atingir cerca de 7 metros de altura, com flores brancas e aromáticas (COUTINHO, 2013). Seu fruto tem a forma de chifre e pode chegar até 30 cm de comprimento e conter cerca de 40 sementes (AMARO et al., 2006, MATOS, 2013). No Brasil, é encontrada nos estados de Minas Gerais, Sergipe, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Roraima, Pará e Maranhão, sendo na Chapada do Araripe, no Ceará, sua maior incidência de exploração descontrolada (FONSÊCA; SANTOS, 2017).

Figura 1: Himatanthus drasticus e suas folhas, flores e galhos.

Fonte: Fonsêca, Santos (2017)

O látex produzido pela planta tem sido o protagonista quando o assunto é tratamento de algumas enfermidades, empregando a medicina natural em regiões do país que não possuem acesso facilitado aos tratamentos convencionais (BAUDALF; SANTOS, 2013, ALMEIDA et al., 2017, SANTOS et al., 2018). É obtido por meio de incisão na casca da árvore e seu armazenamento é feito através de sua diluição em água, com posterior filtração e acondicionamento em frascos para sedimentação, resultando em um precipitado esbranquiçado, com um sobrenadante levemente rosado (SOARES; FRAGA et al., 2015). Apesar do modesto número de publicações sobre suas propriedades farmacológicas, este látex vem sendo popularmente empregado no tratamento de enfermidades como, por exemplo, gastrite, hemorroidas, anemia, inflamações e até mesmo câncer (BAUDALF; SANTOS, 2013, ALMEIDA et al., 2017, SANTOS et al., 2018).

Diante do exposto, este trabalho teve por finalidade elaborar uma revisão crítica da literatura existente até o momento sobre a janaguba, agrupando as publicações convergentes, que se mostraram promissoras referentes às propriedades farmacológicas, bem como sobre sua atividade antibacteriana, além de correlacionar os compostos químicos presentes nesta planta com as propriedades benéficas descritas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

            O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica com teor descritivo e qualitativo referente à literatura científica existente sobre os potenciais farmacológicos, antitumorais e antimicrobianos do leite de janaguba, obtido do látex da planta Himanthus drasticus, a fim de verificar seu potencial uso terapêutico.

2.1. Obtenção dos Dados

Os dados para esse estudo foram obtidos por meio da consulta às bases de dados: NCBI (National Center for Biotechnology Information), Pubmed, Web of Science, Science Direct e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Como descritores foram utilizados os seguintes termos em português: Himatanthus drasticus, plantas medicinais, medicamentos fitoterápicos, atividade antitumoral de extratos de plantas, atividade antimicrobiana de extratos vegetais, efeitos anti-inflamatórios de Himanthus drasticus, propriedades medicinais. Pesquisas empregando termos em inglês também foram realizadas empregando-se os seguintes descritores: medicinal plants, herbal medicine e antitumoral and antimicrobial activity of Himanthus drasticus. Foram considerados como dados relevantes para a construção deste trabalho, artigos, dissertações, portarias de órgãos regulamentadores e teses referentes ao tema em questão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Composição química do leite de janaguba e suas propriedades terapêuticas

A janaguba está distribuída por quase todo o território brasileiro (BAUDALF; SANTOS, 2013, ROCHA et al., 2020). Suas árvores podem chegar a ter até sete metros de altura e possuem caules de cascas rugosas com predominância de tecidos laticíferos (AMARO et al., 2006). Além disso, análises realizadas com o intuito de avaliar a composição química de algumas partes da planta, revelaram a presença de alcaloides, taninos, saponinas, triterpenos e cumarinas com potencial antimicrobiano, anti-inflamatório, antiviral e antioxidante (LUZ et al., 2014).

A janaguba é amplamente comercializada em sua forma leitosa, obtida pela mistura de seu látex em água. Diversos estudos vêm tentando elucidar e demonstrar os efeitos e potenciais farmacológicos dos componentes deste extrato por meio de testes in vitro e estudos pré-clínicos in vivo, que apontam para a presença de propriedades anti-inflamatórias, antitumorais, gastroprotetora tanto do látex (ALMEIDA et al., 2017, SOARES et al., 2016), quanto de outras partes da planta como cascas e folhas e em seus extratos hidroalcóolicos (COUTINHO, 2013).

Pereira et al. (2022) realizaram um levantamento bibliográfico sobre o etnoconhecimento de plantas medicinais, prática antiga, construída por meio de observações em culturas populares e costumes, passado de geração em geração. Esses conhecimentos empíricos são responsáveis pelo uso medicinal de plantas e, dentre inúmeras existentes. a janaguba é uma das encontradas neste cenário, e vem sendo alvo promissor de pesquisas para fins terapêuticos. Dentre algumas características fitoquímicas identificadas na planta e seus potenciais, destacam-se: os taninos, por serem responsáveis por precipitar proteínas, interceptando o oxigênio e estabilizando radicais, além de proteger o organismo de lesões, impedindo que radicais livres destruam lipídios, aminoácidos e bases do DNA; as saponinas, amplamente usadas como adjuvantes para aumentar a absorção de outros medicamentos através do aumento da solubilidade e interferência nos mecanismos de absorção e  para aumentar a resposta biológica; evitando danos à célula; os triterpenos, que quando isolados demonstraram atividades biológicas, tais como: anti-inflamatória, antinociceptiva, antioxidante, hepatoprotetora, efeito sedativo, antialérgica, antimicrobiana, antiangiogênica e alta seletividade anticancerígena; as cumarinas, que possuem atividade anti-inflamatória, antimicrobiana, anticoagulante, reduzindo o excesso de proteína nos tecidos e fluidos associados ao tratamento de linfoedema, antifúgico, antitumoral, pesticida, tratamento de asma, antioxidante e adjuvante na terapêutica do cancro.

Ribeiro et al. (2023) citam que a espécie possui em sua composição química iridóides, triterpenos, flavonoides, alcaloides, taninos, cumarinas, saponinas, esteróis e minerais. Especificamente em seu látex é encontrado compostos bioativos como: esteróides, saponinas, terpenos, triterpenos e açúcares redutores. Os triterpenos possuem 30 átomos de carbono, formados pela união de duas cadeias de C15, cada uma delas constituída por três unidades isoprênicas, unidas na direção cabeça-cauda pertencente à classe dos terpenos. O crescente número de estudos é atribuído a espécie devido ao seu variado espectro farmacológico, relacionadas aos compostos triterpenos pentacíclicos, inseridos no grupo promissor de metabólitos secundários de plantas, servindo como candidatos ou protótipos de novos medicamentos, principalmente de origem anti-inflamatória, antidepressivo, gastroprotetor e antimicrobiano. Porém, mesmo com todos estes benefícios descritos na literatura, estudos são necessários para elucidar o potencial medicinal destas substâncias de maneira isolada e em conjunto, além da necessidade de estudo clínicos.

3.2. Propriedades farmacológicas: atividades antimicrobiana, antitumoral e anti-inflamatória do leite de janaguba

A partir de conhecimentos empíricos o látex da janaguba é usado por comunidades rurais de São Luís-MA, como um fitoterápico para diversos tipos de enfermidade, recomendado para tratamento e prevenção de doenças em seres humanos devido a sua ação anti-inflamatória, estimulante de imunidade, ação antitumoral, antifúngica, vermífuga, anti-anêmica, gastrites e artrites (NASCIMENTO et al., 2018). Dentre os compostos presentes na espécie destaca-se os antioxidantes que atuam inibindo e/ou diminuindo efeitos provocados por radicais livres através de diferentes mecanismos, que além de ser importante no combate aos processos oxidativos, evitando danos no DNA e macromoléculas, ameniza danos cumulativos que podem desencadear doenças como o câncer, cardiopatias e cataratas (ROCHA et al., 2020). Estudos e experimentos com a janaguba são cada vez mais realizados, buscando comprovação científica das propriedades fitoterapêuticas e medicinais pregado pelas comunidades (REIS et al., 2022).  

Apesar de vários benefícios já terem sido citados na literatura, um estudo realizado por Rocha et al. (2020) demonstrou resultados negativos referentes à atividade anti-inflamatória avaliada em camundongos. Neste estudo, os autores avaliaram o potencial anti-inflamatório do látex em água, forma normalmente comercializada. Os testes foram realizados em camundongos propositalmente submetidos à aplicação de xileno em suas orelhas, para induzir a formação de edemas (inflamação). Os camundongos foram alocados em três grupos principais: um controle positivo, com aplicação de dexametasona e xileno; um controle negativo, com utilização de solução salina e xileno e o grupo amostral que foi submetido ao leite de janaguba e xileno. Os testes foram realizados tanto para aplicação oral quanto para aplicação tópica e em ambos, os resultados não demonstraram a influência do leite de janaguba na diminuição do padrão de inflamação, bem como na diminuição do tamanho dos edemas. A inibição do crescimento do edema e a diminuição da inflamação foi verificada apenas no grupo de camundongos referentes ao controle positivo, na qual um anti-inflamatório foi administrado (dexametasona), sugerindo, portanto, que o leite de janaguba para este caso específico não apresentou efeito anti-inflamatório.   

            Rocha e seus colaboradores (2020) avaliaram ainda o potencial antimicrobiano do leite de janaguba contra as bactérias patogênicas Staphylococcus aureus (ATCC 14458), Escherichia coli (ATCC 111775), Salmonella choleraesuis (ATCC 14028), Klebsiella pneumoniae (ATCC 10031), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 25619) e Enterobacter aerogenes (ATCC 13048), e verificaram que não houve inibição do crescimento destas cepas, não apresentando, portanto, efeito antimicrobiano.

            Quando o efeito gastroprotetor do leite de janaguba é avaliado, resultados promissores são encontrados na literatura. Camundongos submetidos propositalmente a lesões gástricas pela ingestão oral de etanol absoluto e de indometacina (potente inibidor de prostaglandinas envolvidas na citoproteção da mucosa gástrica), foram estudados com o intuito de verificar o efeito gastroprotetor do leite de janaguba. As cobaias foram tratadas por meio da ingestão de diferentes quantidades de leite de janaguba, sacrificadas e as lesões foram analisadas e comparadas com um grupo controle que não passou pelo tratamento. A partir dos resultados obtidos, foi possível observar que o leite de janaguba apresenta propriedade antiulcerogênica, ou seja, promove benefícios terapêuticos frente a desordens gastrointestinais, porém, uma maior quantidade de estudos se faz necessária para elucidar o mecanismo de ação e de como o leite de janaguba age nessas lesões (COLARES et al., 2008).

            Em relação ao efeito antitumoral, Fonsêca e Santos (2017) realizaram um estudo in vitro que avaliou a citotoxidade do extrato etanólico e metanólico das folhas de H. drasticus, obtendo resultados promissores, empregando um sal tetrazólio amarelo de brometo de 3-[4,5-dimetil-tiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazólio, mais comumente conhecido como MTT (método usado para avaliação da atividade metabólica celular), utilizando uma concentração de 10 mg/mL do extrato obtido contra três linhagens de células tumorais testadas. Com base nos resultados obtidos, a fração metanólica se mostrou mais promissora, pois para as células SF-295 (câncer de cérebro) e PC-3 (câncer de próstata) uma inibição de 75 % do crescimento tumoral foi verificada, enquanto, para a linhagem celular HCT-116 (câncer de colo), a inibição de crescimento foi superior a 90%, sugerindo, portanto, que algum componente presente no extrato metanólico de fato apresentou atividade antitumoral.

            Magrin (2020) realizou ensaios in vivo, empregando a tintura do látex da janaguba Synadenium grantii para avaliar o efeito antitumoral em cadelas com neoplasias mamárias. Seus resultados demonstraram diminuição da rigidez dos tumores e um aumento do estímulo da resposta linfocitária, porém não houve mudanças muito significativas quando comparado ao grupo controle. Por conta disso, estudos com grupos amostrais maiores são necessários, visto que apenas 10 cadelas foram empregadas neste estudo. Um ponto positivo foi o fato de que nenhum efeito colateral referente ao tratamento realizado foi observado por todo o período dos testes (90 dias), o que possibilita a repetição destes resultados sem maiores desconfortos aos pacientes.

Um estudo realizado por Sousa et al. (2010), utilizou extrato metanólico de folhas de H. drasticus para avaliação da atividade antitumoral in vitro em camundongos com sarcoma 180. Para o estudo, os animais foram divididos em 5 grupos: padrão, tratado com ciclofosfamina, CTX – 10 mg/Kg (droga sintética amplamente utilizada em protocolos quimioterápicos); controle – NaCl 0,9 %; grupo I – extrato – 200 mg/Kg, grupo II – extrato – 300 mg/Kg e grupo III – extrato – 400 mg/Kg. O tratamento foi realizado por via oral durante 7 dias, no oitavo dia os camundongos foram sacrificados e os tumores pesados. Resultados significativos das análises histopatológicas foram observados com alterações nos níveis hepáticos, renais e pulmonares. Atividade antineoplásica também foi verificada com redução tumoral significativa em comparação com o grupo controle para os grupos tratados com doses contendo maiores concentrações de extrato (grupos II e III), com taxas de inibição de 67,7% e 68%, respectivamente. Em contrapartida, o grupo I, tratado com doses menores de extrato, apresentou uma inibição tumoral de apenas 32,8%.

Outra observação importante foi que na análise microscópica o controle revelou ascite hemorrágica, tumor sólido e invasivo, aderido à epiderme e bem vascularizado, diferentemente do padrão apresentado pelos grupos II e III, os quais apresentaram tumores sólidos, bem descritos e menos vascularizados. Porém, mesmo com os resultados significativos obtidos neste estudo, os autores citam que a atividade antitumoral da janaguba ainda não foi completamente elucidada, sendo necessária uma maior quantidade de estudos referentes às substâncias existentes na composição da planta e de como elas podem ser futuramente empregadas de maneira eficaz (SOUSA et al., 2010).

4. Conclusão

            A janaguba é uma planta bastante empregada popularmente, e seu leite (forma pela qual é amplamente comercializada e utilizada em diversas regiões do país), possui evidências científicas controvérsias referentes aos seus efeitos antimicrobianos, antitumorais e anti-inflamatórios. Uma possível justificativa para tal fato, pode ser a forma como esse leite é preparado, visto que isso pode ocasionar na extração de maiores ou menores quantidades de seus compostos bioativos.

            Ademais, uma maior quantidade de estudos que abordem essas características se faz necessário, visto que até o momento, nenhum estudo clínico foi de fato realizado, não obtendo na literatura, portanto, embasamento científico para a utilização em seres humanos, e os resultados obtidos nos estudos pré-clinicos (empregando camundongos), e in vitro (na qual avaliam os efeitos antitumorais e antibacterianos), são ainda conflitantes.

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1 Discente do Curso de Bacharelado em Química Industrial – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP Suzano, Suzano, SP, Brasil.

2 Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP Suzano, Suzano, SP, Brasil.

Autor correspondente: vivisbrito19@gmail.com; cristielinunes10@gmail.com