URBAN HIERARCHY AND HETERARCHY: INTERFACE WITH THE DIFFERENT REGIONALIZATIONS FOR THE REGIONAL POLO CITIES OF THE NORTH OF RIO GRANDE DO SUL
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411301206
Everton Hernani dos Santos1
Resumo
A pesquisa realizada teve como foco abordar as regionalizações existentes para a região Norte do Rio Grande do Sul, tanto a nível estadual através das Regiões Funcionais e dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento, como nacional a partir da Região de Influência das cidades (REGIC) através do IBGE, com suas Regiões Intermediária e Regiões Imediatas, assim, fazendo uma análise das contribuições das duas regionalizações para os estudos da rede urbana. O artigo também faz uma interface com as questões de rede e hierarquia urbana, analisando a centralidade das cidades de Passo Fundo e Erechim na realidade do Norte do Rio Grande do Sul, analisando algumas variáveis econômicas. Para chegar aos resultados foi realizada uma análise bibliográfica dos temas e conceitos, bem como um estudo do IBGE, e da REGIC, trazendo elementos também do projeto citado em nota de rodapé sobre as RF e COREDES. Entende-se que ambas as regionalizações permitem uma análise meticulosa do Norte gaúcho, elas se complementam para estudos mais qualificados sobre a rede urbana no Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: Rede Urbana; Território; Articulações.
Abstract
The research carried out focused on approaching the existing regionalizations for the North region of Rio Grande do Sul, both at the state level using the Functional Regions and Regional Development
Councils, and nationally using the Region of Influence of the cities (REGIC), by the IBGE, with its Intermediate Regions and Immediate Regions, thus analyzing the contributions of the two regionalizations to the studies of the urban network. The article also makes an interface with the questions of network and urban hierarchy, analyzing the centrality of the cities of Passo Fundo and Erechim in the reality of the North of Rio Grande do Sul, analyzing some economic variables. In order to reach the results, a bibliographic analysis of the themes and concepts was carried out, as well as a study by the IBGE and REGIC, also bringing elements of the project mentioned in a footnote about the RF and COREDES. It is understood that both regionalizations allow a meticulous analysis of the North of Rio Grande do Sul, they complement each other for more qualified studies on the urban network in Rio Grande do Sul.
Key words: Urban Network; Territory; Articulation.
1 Introdução
O artigo produzido tem como objetivo central abordar as diferentes regionalizações utilizadas para a região norte do estado do Rio Grande do Sul, realizando uma análise de cada regionalização e, também, uma comparação dessas diferentes divisões e classificações do espaço territorial, com distintos critérios e finalidades, principalmente para efeito de planejamento.
A primeira se refere à regionalização proposta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio das Regiões de Influência das cidades (REGIC), em sua última atualização do ano de 2018, lançado em 2020 que propõe uma regionalização para todos os estados, em nível nacional. Para esse estudo, se analisará, inicialmente, o Regic 2018 (IBGE, 2020) para o estado do Rio Grande do Sul.
A segunda trata de abordar acerca de uma regionalização específica do Rio Grande do Sul, por meio das Regiões Funcionais de Planejamento (RFs) e seus respectivos espaços subdivididos em Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES), regionalização essa proposta pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, pela Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SEPLAG/RS), com a finalidade de distribuição do orçamento participativo, do planejamento regional e da proposição de políticas públicas visando qualificar o desenvolvimento regional.
Ambas as regionalizações possuem, portanto, finalidade administrativa do espaço e serão explicitadas no decorrer do presente texto. Para efeito de foco analítico e comparativo entre as propostas de regionalização e seus significados, como um exercício acadêmico, trabalhamos nesse artigo com um recorte espacial da pesquisa, de âmbito regional, dentro do território estadual, selecionando as cidades de Passo Fundo e Erechim, uma vez que essas duas cidades são de importante significância para a localidade onde estão inseridas, a porção norte do RS.
Com isso surge a necessidade de analisar quais são as diferentes regionalizações existentes para essas cidades, no sentido de verificar sua importância para a análise da rede urbana. Tal análise se refere aos seus aspectos hierárquicos, com o foco nessas cidades polarizadoras de população e de atividades econômicas – como a oferta de postos de trabalho e da prestação de serviços (principalmente na área de apoio ao agronegócio).
O artigo também tem a intencionalidade de fazer uma ponte aos estudos de hierarquia e heterarquia urbana, uma vez que ambas as formas de regionalização trabalham, consequentemente, com essa temática. Dessa maneira, o trabalho investigativo se utilizou de aportes bibliográficos característicos das temáticas da rede urbana, com autores como Roberto Lobato Correa, Rosa Moura, Débora Wernek, Márcio Catelan, entre outros e com base nos estudos de fontes como o IBGE/REGIC, SEPLAG/RS, além de publicações da Rede de Pesquisas sobre Cidades Médias (ReCiMe). Com essa abordagem os aportes teórico-metodológicos são descritivos e bibliográficos, sendo produzida uma análise por meio dos conhecimentos, das informações e conteúdos já elaborados e construindo um diálogo através deles.
A estrutura do trabalho conta para além desse item introdutório, com o segundo subtítulo que trata de discutir os conceitos de hierarquia e heterarquia urbana, além de abordar o conceito de rede urbana, o qual se torna imprescindível à discussão no momento em que a rede urbana é onde ocorrem essas relações. O terceiro subtítulo “Regionalização do REGIC (IBGE, 2020) para a região de Passo Fundo e Erechim” começa a análise da regionalização para as cidades do norte gaúcho a partir da região de influência das cidades. O quarto subtítulo “Regionalização do Estado: regiões funcionais e COREDES” continua o diálogo com a abordagem estadual sendo iniciadas as comparações entre as regionalizações e os apontamentos. O texto é encerrado com a síntese dos resultados e alguns apontamentos que compõem o subtítulo final, as “considerações finais”.
2 Rede Urbana: Hierarquia e heterarquia – uma discussão acerca dos conceitos
Ao trabalhar com os conceitos de hierarquia e heterarquia urbana, é preciso compreender inicialmente o conceito de rede urbana, pois é na rede urbana que ocorrem todas essas relações, é onde ganham forma as práticas espaciais. Na obra organizada por Leila Dias e Rogério Leandro Lima da Silveira a importância do conceito de rede toma forma nos apontamentos.
[…] a ideia da rede certamente ilumina um aspecto importante da realidade – chama a atenção para a complexidade das interações espaciais, resultantes do conjunto de ações desencadeadas em lugares mais ou menos longínquos. Assim, a rede representa um dos recortes espaciais possíveis para compreender a organização do espaço contemporâneo. (DIAS; SILVEIRA, 2021, p.26).
Os estudos da rede urbana dão conta de atender as questões mais amplas dos estudos urbanos, aumentando a escala de análise para o regional e as interações que existem e ocorrem entre as cidades. Podendo com isso analisar e compreender o espaço contemporâneo, o conceito de rede urbana surge de muitas pesquisas e antigas, que partiam do sentido literal da palavra rede, mas verificando o mais contemporâneo entende-se por rede:
Qualquer tipo de fluxo – das mercadorias às informações – pressupõe a existência de redes, cuja primeira propriedade é a capacidade de conexão, de ligação. Assim, o conceito de rede, consagrado e antigo, é recorrentemente acionado, dado que a multiplicação das redes passa a caracterizar as relações de uma sociedade que se organiza sob estratégias de circulação e comunicação, pautadas, cada vez mais, na instantaneidade e simultaneidade. (MOURA, WERNECK, 2011, p.26).
Utilizando da passagem de Rosa Moura e Debora Werneck para essa interpretação, entendemos a rede urbana como sendo capaz e tendo o papel de fazer a conexão e a ligação. A rede urbana é composta por várias cidades que fazem conexão umas com as outras, pensando na circulação e comunicação, com o avanço da tecnologia e dos meios de conexão à rede necessita uma velocidade maior na circulação, momento em que as autoras falam sobre “instantaneidade e simultaneidade”, a pressa que a modernidade exige nos tempos contemporâneos.
A rede urbana é composta por elementos fixos e pelos fluxos, os fixos se materializam no espaço, chegando a artificialidade cada vez mais fácil, são imóveis e onde se localiza a parte mais técnica. (MOURA; WERNECK, 2001). Os fluxos constituem em movimento.
São sistemas de ações, imbuídos também de artificialidade, numa dialética na qual os “elementos fixos permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que também se modificam”. (SANTOS, 1999, p.50).
A rede urbana é composta por nós, e esses nós são os pontos de conexão, os pontos que exercem o poder, e possuem a referência. Nos nós da rede onde é exercido o poder são localizados todos os elementos que força, política, administrativa, economia e social, são onde as decisões são tomadas, podendo ser representado por uma cidade que age de forma expressiva com as demais de seu entorno, podemos assim considerar que nesse caso Passo Fundo e Erechim/RS, cidades dessa pesquisa são os nós dessa rede urbana.
Tratam-se de cidades com elementos necessários, para dar suporte as cidades de seu entorno, Passo Fundo, ainda abrangendo muito além do que as cidades de seu entorno, como será possível analisar no próximo capitulo.
Uma rede urbana compreende, pois, a organização do conjunto das cidades e suas zonas de influência, a partir dos fluxos de bens, pessoas e serviços estabelecidos entre si e com as respectivas áreas rurais, constituindo-se “em um reflexo social, resultado de complexos e mutáveis processos engendrados por diversos agentes sociais” (CORRÊA, 2001, p.424).
Entendemos, então, a rede urbana como esse conjunto de cidades, uma organização que funciona através dos fluxos entre essas, existindo zonas de influência que fazem fluir as relações da rede. O que movimenta a rede são as relações existentes dentro dessas cidades, os movimentos das pessoas entre as cidades, os movimentos de serviços e também de mercadoria, de acordo com as demandas de cada cidade da rede urbana.
As maiores cidades de cada rede urbana sempre desempenhando um papel mais centralizador dos serviços, pessoas e das relações mais intensas, seja por sua característica ou pela necessidade de pessoas de outras cidades de buscar por serviços que não encontram nas outras cidades da rede urbana, seja pelo porte da cidade, no qual cidades pequenas tem menos recursos para oferta de serviços que uma cidade média ou grande.
Nesse momento que se torna importante os estudos sobre a hierarquia e heterarquia urbana, no momento em que a escala começa a se tornar significante dentro da rede urbana. Na qual, uma cidade grande possui mais serviços que uma cidade média é por isso fornece uma gama maior de serviços, e assim sucessivamente para todas as escalas a rede.
As centralidades urbanas e sua hierarquia são determinadas pela concentração de bens e serviços especializados e pelo grau de complexidade que apresentam, razão pela qual os dados disponibilizados possuem a qualidade de estarem organizados e mapeados conforme os deslocamentos das cidades em busca de serviços de saúde de baixa, média e alta complexidade. (MOURA; NAGAMINI; FERREIRA, 2021, p.14).
A rede urbana é organizada hierarquicamente devido as diferenças na concentração de bens e serviços, enquanto umas cidades ofertam inúmeros serviços e bens, outras vão em busca e se deslocam na rede urbana, justamente em busca desses serviços. Assim, o conceito de hierarquia vai ganhando forma, no momento em que há essa diferença na oferta e demanda de bens e serviços, muito ligado ao porte da cidade, visto que cidades pequenas se deslocam para cidades médias e cidades médias para cidades grandes, porem esse deslocamento usado como exemplo não é regra, uma vez que cidades de porte pequeno localizadas próximas a cidades grandes fazem deslocamento direto a esses grandes núcleos. Logo a seguir figura 01 esclarece essa explicação.
Figura 01: Hierarquia Urbana.
Elaborador: O autor (2022).
Em relação ao exemplo abordado estamos nos dirigindo ao esquema clássico atual, no qual a metrópole nacional age de forma direta em todas as esferas da rede urbana, assim as cidades de nível até local são influenciadas por ela. E a vila se dirigindo a cidade local para buscar os bens e serviços necessários. Sposito (2010) contribui na interpretação das relações das cidades na rede.
[…] relações entre cidades de uma rede urbana, ainda que pequenas, podem se estabelecer com cidades de outras redes urbanas e de outros portes, sem que haja a intermediação daquelas que, segundo a constituição hierárquica anterior, estão em posição superior à das cidades pequenas ou médias. (SPOSITO, 2010, p. 52).
Existe uma pertinência muito grande em fazer estudos sobre hierarquia urbana e entregar resultados.
[…] existem informações que, se consideradas em políticas públicas, contribuem para transformar a hierarquia de cidades em uma rede articulada, capilarizada e dotada de condições de oferta de bens e serviços urbanos que permitem seu usufruto com maior igualdade às pessoas e regiões do território. Desconsiderá-las, como no caso da pandemia, reforça-se a desigualdade social e, ao fazê-lo, evidencia-se a fragilidade e a incapacidade do Estado em dar resposta, principalmente, às ações emergenciais. (MOURA; NAGAMINI; FERREIRA, 2021, p.16).
O estudo em hierarquia urbana além de entregar mais material para outras pesquisas, ainda pode contribuir de forma direta no desenvolvimento de cidade e redes, no momento em que pode fomentar políticas públicas no sentido de ajustar problemas existentes a nível local, podendo até viabilizar a articulação de relações entre cidades de uma mesma rede urbana.
Contemplando ainda as discussões sobre hierarquia urbana, alguns autores ainda trabalham com o conceito de heterarquia urbana, no objetivo de compreender as relações mais complexas existentes na rede urbana, Catelan usa como exemplo São Paulo para defender a ideia da Heterarquia urbana, uma vez que as relações existentes são complexas demais e ultrapassam o conceito de hierarquia urbana.
A heterarquia urbana é, assim, a possibilidade de compreensão dos interstícios gerados na estruturação hierárquica da rede urbana e na complexa trama de interações espaciais urbanas interescalares. Se, no processo de hierarquização das cidades, constituem-se centros de comando, no que tange às atividades econômicas, por outro lado, amplia-se a complexidade de centros que outrora eram considerados em patamares hierárquicos de menor complexidade técnica e econômica. (CATELAN, 2012, p.60).
As complexidades existentes que tornam a utilização do conceito de hierarquia urbana ultrapassado, segundo Catelan, são as de nível econômico e também no que diz respeito a técnica. Também há um aumento considerável da complexidade dos centros, combinação de fatores que segundo o autor torna-se necessária uma revisão do conceito quando trabalhado com determinadas complexidades nas redes.
3 Regionalização do REGIC (IBGE, 2020) para a região de Passo Fundo e Erechim
Como forma de organizar o espaço brasileiro o instituto em nível nacional o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística desenvolve mudanças na forma de organizar o território através da Região de Influência das Cidades, estudos desenvolvidos a partir de 1993 e atualizados em diversos anos, cujo último é de 2018. Visto que anteriormente dentro de cada unidade federativa existiam as mesorregiões e dentro dessas grandes regiões existiam as microrregiões, que foram vigentes de 1989 a 2017.
O Rio Grande do Sul, por exemplo, estado que nos interessa nessa pesquisa possui dentro dessa forma de regionalizar, sete grandes mesorregiões (IBGE):
- Noroeste Rio-grandens
- Nordeste Rio-Grandense
- Centro Ocidental Rio-Grandense
- Centro Oriental Rio-Grandense
- Metropolitana de Porto Alegre
- Sudoeste Rio-grandense
- Sudeste Rio-grandense
Pelo estudo do IBGE de 1990, Passo Fundo e Erechim, estão localizadas na mesorregião do Noroeste rio-grandense, com suas respectivas microrregiões, microrregião de Passo Fundo e microrregião de Erechim (Figura 02).
Figura 02: RS – Microrregiões Geográficas de Passo Fundo e de Erechim
Fonte: Atlas.
Essa primeira regionalização do IBGE coloca Passo Fundo e Erechim como principais cidades dentro de suas regiões, uma vez que levam os seus nomes. A regionalização das mesorregiões e microrregiões leva em consideração os limites políticos e administrativos. A escolha pelas mesorregiões foi fundamentada por alguns elementos. Segundo o IBGE, interpreta-se mesorregião como um espaço individualizado de um estado, seguindo algumas dimensões, o espaço social como determinante, os elementos naturais como condicionante e também, a rede de comunicação e de lugares como recurso de articulação espacial, dando ao espaço uma identidade que se construiu ao longo do tempo. (IBGE, 1990).
Em relação a microrregião “foram definidas como partes das mesorregiões que apresentam especificidades quanto a organização do espaço […] . […] Referem-se à produção agropecuária, industrial, extrativismo mineral ou pesca”. (IBGE, 1990). Em que pese a essa regionalização vale ressaltar que o que mais se levou em conta foram aspectos políticos administrativos e econômicos, o ultimo com um peso maior, como podemos visualizar.
Mas a regionalização que nos interessa nessa pesquisa é a proposta pela REGIC. Nela as regiões propostas são as imediatas e as intermediárias, e as motivações para suas criações foram um pouco diferente, onde também começam os estudos de hierarquia urbana. Nessa nova regionalização as chamadas mesorregiões passam a ser chamadas de Regiões geográficas intermediárias, e as microrregiões de Regiões geográficas imediatas.
A região torna-se, por meio dessa opção, uma construção do conhecimento geográfico, delineada pela dinâmica dos processos de transformação ocorridos recentemente e operacionalizada a partir de elementos concretos (rede urbana, classificação hierárquica dos centros urbanos, detecção dos fluxos de gestão, entre outros), capazes de distinguir espaços regionais em escalas adequadas. (IBGE, 2017).
Em relação a essa regionalização notamos muita diferença, começa a ser dada uma atenção maior a rede urbana, a ainda muito nitidamente a classificação hierárquica das centralidades urbanas (Quadro 01) e verificação de fluxos.
Quadro 01: Classificação da hierarquia urbana.
Fonte: IBGE.
Dentro dessa classificação hierárquica Passo Fundo possui uma classificação muito importante dentro da rede urbana, sendo uma capital regional B. Enquanto Erechim, é classificada como um centro sub-regional A. Importante destacar que dentro da regionalização do REGIC, Erechim pertence a região intermediária de Passo Fundo, notando a importância de Passo Fundo para a região e a importância de Erechim nas articulações dessa rede.
Figura 03: Mapa das regiões.
Elaboração: O autor (2022).
Na figura 03 analisamos no mapa as informações. Além de fazerem parte da mesma região intermediária as regiões imediatas possuem localidade próximas. No sentido da hierarquia urbana são as cidades mais expressivas dessa região intermediária, e sua importância pode ser analisada a partir do próximo mapa.
Por ofertarem bens e serviços e servirem as demandas que a contemporaneidade exige Passo Fundo e Erechim tem uma influência muito grande no norte do Rio Grande do Sul, principalmente Passo
Fundo. Esses bens e serviços vão desde o deslocamento para procura de melhores e mais qualificados sistemas de saúde, deslocamento para estudo, questões de mercado e compras, trabalho e economia.
Com isso os fluxos existentes dentro dessa rede urbana são fortes para essas duas cidades, as mais qualificadas por conta de suas próprias demandas e que mais atendem as demandas populacionais e econômicas que surgem nas outras cidades da região, como podemos analisar na Figura 04.
Figura 04: Influência na rede urbana.
Elaborador: O autor (2022).
Passo Fundo possui uma influência que vai além da rede urbana do norte gaúcho, se expandindo para outros estados do Brasil, áreas de fronteira do Rio Grande do Sul e região Sul. Por sua vez, Erechim tem um papel bastante importante a nível regional, quando estamos nos referindo a Região Intermediária de Passo Fundo, possui influência sobre algumas cidades na divisa com Santa Catarina, mas não chega a ter expressão no estado vizinho, se pensarmos que Passo Fundo estabelece relação com Chapecó, como notamos na figura 04.
4 Regionalização do Estado: regiões funcionais e COREDES
Em nível estadual Passo Fundo e Erechim são organizadas a partir do COREDE (Conselhos Regionais de Desenvolvimento). Segundo o atlas socioeconômico do Rio Grande do Sul, trata-se de uma organização com finalidade de promover políticas e ações para o desenvolvimento regional, com foco no desenvolvimento harmônico e sustentável. Atualmente existem 28 conselhos regionais e 9 regiões funcionais de planejamento. (ATLAS SOCIOECONOMICO, 2020).
Nessa regionalização Passo Fundo e Erechim estão ambas localizadas na Região Funcional de Planejamento 9. Passo Fundo sendo principal cidade da COREDE nomeada Produção, enquanto Erechim é a principal cidade da COREDE nomeada como Norte. Essa forma de regionalização não anula o REGIC para sua análise, uma vez que é utilizada das classificações da hierarquia urbana para as organizações realizadas pelo estado, por isso colocam Erechim e Passo Fundo como centros dentro de seus conselhos de desenvolvimento.
A figura 05 podemos analisar um mapa produzido por outros integrantes do projeto citado na nota de rodapé desde trabalho, o qual mostra a região funcional 9 contendo as suas COREDES, e também seus municípios.
Figura 05: Região funcional 9 e COREDES.
Elaboração: Brenda Eckel Machado e Cheila Seilbert (2022).
A caraterística dessa regionalização estadual é de dar fomento ao desenvolvimento, produzindo conselhos para pensar em nível das pequenas regiões e regiões funcionais para elaborar ideias com demais regiões. Uma finalidade bem integralizadora, uma vez que as microrregiões e mesorregiões não conseguem promover esse tipo de proximidade. Assim, as regiões são separadas pensando em aspectos físicos, econômicos, produtivos e particularidades.
No âmbito do projeto também foram produzidos materiais a fim de mostrar como funciona os fluxos de bens e serviços dentro das regiões funcionais, e como as cidades de interesse fazem parte da Região Funcional 9, a figura 06 mostra como funcionam os fluxos dentro dessa Região Funcional, e quais são as cidades que mais centralizam e atraem na realidade dos conselhos regionais de desenvolvimento da Região Funcional 9.
Figura 06: Deslocamentos da população economicamente ativa dentro dos COREDES.
Elaboradora: Carolina Rezende Faccin (2020).
Podemos a partir dessa figura fazer uma ponte aos estudos de hierarquia urbana, e aos estudos feitos pela REGIC, uma vez que o objetivo deste é trazer os deslocamentos pendulares ocorrentes na região funcional 9. Aqui analisamos que cada conselho regional possui uma cidade que detém a concentração de maiores deslocamentos, nesse caso em relação a saúde e educação, novamente identifica-se uma concentração bastante significativa em Passo Fundo e Erechim, mas podemos atentar para outras cidades bastante importantes dessa Região Funcional.
É o caso de Frederico Westphalen, Carazinho, Lagoa Vermelha, Tapejara, Marau, Soledade, Getúlio Vargas, Sarandi, Palmeira das Missões. Umas mais concentradoras que outras, podendo destacar Frederico Westphalen sendo uma das mais concentradoras da Região Funcional.
Em relação a oferta de postos de trabalho e a prestação de serviços, decidimos olhar de forma mais meticulosa ao que se refere a área do agronegócio. Passo Fundo é uma importante cidade na qual se consolida economicamente atividades do agronegócio, e mesmo que não entramos em conceitos do agronegócio na região e relação cidade-campo é importante alguns elementos serem explorados, Denise Elias menciona Passo Fundo como uma cidade centralizadora dentro da Região Produtiva Agrícola, e alguns elementos vem a encontro disso.
Poderíamos mencionar algumas regiões produtivas do agronegócio comandadas por cidades de porte médio, tais como Passo Fundo (RS), Dourados (MS), Uberlândia (MG), Sinop (MT), todas fortemente alicerçadas na produção e transformação de grãos, particularmente soja […]. (ELIAS, 2017, p.12).
Figura 07: Empregos formais por setor, 2019
Elaboradoras: Brenda Eckel Machado e Cheila Seilbert (2022).
Percebemos que é muito expressivo em Passo Fundo a oferta de empregos formais para agricultura, pecuária e relacionados, outras cidades como Carazinho e Nova Boa Vista também se mostram com uma porcentagem bastante expressiva de trabalhadores formais no setor primário da agricultura. Erechim aparece como a mais expressiva do conselho regional norte, mas ainda não como Passo Fundo. Essa figura mostra como o setor é importante para a Região Funcional, empregando grandes porcentagens.
A alta produtividade do setor primário na região se conecta a uma cadeia mecanizada de indústrias que dão apoio e fornecem subsídios e transformam boa parte da matéria prima produzida. (SILVEIRA; FACCIN, 2021, p.162).
O setor primário assim como os autores abordam é um dos mais importantes na região, se intensificando com a ajuda dessa cadeia mecanizada mencionada. Assim, se justifica porque esse setor mobiliza tantos trabalhadores assalariados, representando uma significativa porcentagem. Devemos atentar também aos dados de Valor adicionado bruto e PIB.
Figura 08: Valor Adicionado Bruto e PIB, 2018.
Elaboradoras: Brenda Eckel Machado e Cheila Seilbert (2022).
As maiores cidades da região apresentam o setor de serviços como o mais forte no valor adicionado bruto. Ainda aparece o setor da indústria, da agropecuária e serviços públicos. A região é marcada por muitos municípios de população pequena, e em muitos desses municípios a principal atividade é relacionada ao setor agropecuário, sendo produzido frangos, suínos e as monoculturas de soja, trigo e cevada. Importante destacar que a indústria e os setor de serviços apresentam-se ligados também a economia agrícola. (SILVEIRA; FACCIN, 2021).
Entendemos então que Passo Fundo e Erechim possuem uma centralidade muito evidente dentro da região. Centralizando serviços que dizem respeito a interesses de saúde e educação, mas também em relação a economia, e também ligado a economia do agronegócio. As pequenas cidades da região possuem um papel fundamental na medida que suas atividades bastante ligadas ao setor primário demandam muitas vezes deslocamento para cidades como Erechim e Passo Fundo, assim dinamizando a rede urbana.
5 Considerações finais
Entende-se com a finalização desta análise que ambas as regionalizações, a da Região de Influência das Cidades e as regiões funcionais e conselhos regionais de desenvolvimento, se complementam e contribuem para os estudos regionais no norte do Rio Grande do Sul.
Ambas têm finalidades para fim de planejamento regional, e nos oferecem diferentes atributos para analisar isso, uma vez que a Regionalização da Região de Influência das Cidades atenta mais para questões hierárquicas, a fim de identificar os movimentos que ocorrem na rede urbana. E as regiões funcionais vem a atender os interessem que o estado tem sobre o desenvolvimento das regiões tentando através dos COREDES e (RFs) uma análise mais meticulosa de cada região.
Assim, identificamos a importância que Passo Fundo e Erechim exercem dentro das suas regiões, como centros de ofertas de bens e serviços, onde ocorrem os maiores fluxos regionais, mas também se identifica outras cidades centralizadoras, no nível dos COREDES, como Frederico Westphalen, nesse sentido comprovasse a importância em analisar a rede urbana pelas duas regionalizações.
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1 Mestrando em Geografia, Universidade Federal da Fronteira Sul – Chapecó e Erechim, Brasil Integrante do Projeto “Cidades Médias, Gestão territorial e Desenvolvimento Regional no Rio Grande do Sul eveersanttos@gmail.com