HEMORRHOIDECTOMY: EPIDEMIOLOGY IN BRAZILIAN REGIONS FROM 2009 TO 2019
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10368222
Autor: Francisco Norberto Netto;
Coautores: Lara Cabral Schiavoni; Brena Terra Crespo; Marina Raquel Garuffe Norberto; Luís Guilherme Cangussu Vasconcelos Silva; Murillo Santana dos Santos; Natalia Parreira Arantes
Resumo
A doença hemorroidária é uma das patologias anorretais mais comuns, fazendo parte do diagnóstico diferencial das afecções benignas do canal anal. Seu tratamento varia de acordo com a localização dos sintomas presentes, podendo ser classificado em clínico, conservador ou cirúrgico. Este artigo tem por objetivo analisar o panorama de procedimentos de hemorroidectomia realizados no Brasil nos últimos dez anos e correlacioná-lo com o contexto atual. Trata-se de uma pesquisa observacional, transversal e descritiva, através de uma revisão sistemática da literatura sobre o tema “hemorroidectomia”, sem distinção da técnica cirúrgica realizada. Os dados foram obtidos pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) entre fevereiro de 2009 e fevereiro de 2019, avaliando os gastos públicos, número de procedimentos, caráter de atendimento, complexidade, óbitos e média de permanência hospitalar. No período analisado, foram observadas 277.112 internações para a realização de hemorroidectomia no Brasil. Analisando as regiões brasileiras, a que obteve maior número de internações foi o Sudeste. Considerando-se que ainda há uma certa resistência quanto à realização de cirurgias por parte da população brasileira, a hemorroidectomia pode ser estimulada quando bem indicada pelo cirurgião responsável, visto que o procedimento se mostrou seguro. Além disso, os gastos foram satisfatórios e, em alguns casos, a cirurgia é a única opção terapêutica. Portanto, uma revisão da epidemiologia dos últimos dez anos apresentou grande relevância clínica, científica e acadêmica, pois os dados obtidos fortificam a implantação de medidas de política pública e o incentivo à notificação e à alimentação de dados do SUS.
Palavras-chave: Hemorroidectomia; Epidemiologia; Hemorroida.
Abstract
Hemorrhoidal disease is one of the most common anorectal pathologies, being part of the differential diagnosis of benign anal canal disorders. Its treatment varies according to the location of the symptoms present and can be classified as clinical, conservative or surgical. This article aims to analyze the panorama of hemorrhoidectomy procedures performed in Brazil in the last ten years and correlate it with the current context. This is an observational, cross-sectional and descriptive research through a systematic literature review on the theme “hemorrhoidectomy”, without distinction of the surgical technique performed. The data were obtained from the Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS) between February 2009 and February 2019, assessing public spending, number of procedures, character of care, complexity, deaths and average length of hospital stay. During the analyzed period, 277,112 hospitalizations were observed for hemorrhoidectomy in Brazil. Analyzing the Brazilian regions, the one with the highest number of hospitalizations was the Southeast. Considering that there is still some resistance to surgery by the Brazilian population, hemorrhoidectomy can be stimulated when well indicated by the surgeon, since the procedure proved to be safe. In addition, the expenses were satisfactory and, in some cases, surgery is the only therapeutic option. Therefore, a review of the epidemiology of the last ten years has shown great clinical, scientific and academic relevance, since the data obtained strengthen the implementation of public policy measures and the incentive to notify and feed SUS data.
Keywords: Hemorrhoidectomy; Epidemiology; Hemorrhoid.
Introdução
A doença hemorroidária é uma das patologias anorretais mais comuns, fazendo parte do diagnóstico diferencial das afecções benignas do canal anal e que, muitas vezes, é erroneamente diagnosticado. Seu tratamento varia de acordo com a localização dos sintomas presentes, podendo ser classificado em três categorias distintas, sendo elas as seguintes: clínico, conservador ou cirúrgico1.
O tratamento das hemorroidas pode ser classificado em três categorias distintas, sendo elas as seguintes: modificações da dieta e do estilo de vida; procedimentos ambulatoriais não cirúrgicos; tratamento cirúrgico1,2.
As mudanças do estilo de vida e dieta são aplicáveis a todos os pacientes, sendo muitas vezes o único tratamento necessário nos pacientes com doença de 1º e 2º graus. Modificações dos hábitos evacuatórios e de higiene pessoal, evitando o uso do papel higiênico, também são recomendáveis1,2.
Uma gama de procedimentos ambulatoriais está descrita na literatura que, dentre eles, pode-se citar a ligadura elástica, escleroterapia, crioterapia, fotocoagulação por infravermelho, diatermia e eletrocoagulação. Estas técnicas podem ser utilizadas em doença de 1º grau, alguns casos de 2º grau e casos bem selecionados de 3º grau3,4.
A indicação clássica de cirurgia no tratamento das hemorroidas acontece nos casos de 3º e 4º grau, estimando-se em 5% a 10% a necessidade do tratamento operatório. A recorrência é incomum após tratamento cirúrgico, e este é definido como o método terapêutico mais eficaz1,3,5.
No Brasil, os artigos publicados e as informações de relevâncias epidemiológicas nacionais sobre hemorroidectomia ainda são escassos. Desta forma, é de suma importância ter conhecimento de dados epidemiológicos para uma maior compreensão do cenário nacional no que diz respeito a este procedimento cirúrgico. Além disso, é necessário elucidar as taxas de mortalidade, custos para o SUS e tempo de internação, por exemplo.
Este trabalho tem como objetivo analisar o panorama de procedimentos de hemorroidectomia realizados no Brasil durante 10 anos e correlacionar os dados obtidos com o contexto atual.
Materiais e Métodos
Realizou-se uma revisão sistemática da literatura, sob uma coleta observacional, descritiva e transversal sobre o tema “hemorroidectomia”, sem distinção da técnica cirúrgica realizada. Os dados foram disponibilizados no DATASUS – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) – por um período de dez anos, iniciado em fevereiro de 2009 até fevereiro de 2019, avaliando valor de gastos públicos, complexidade, taxa de mortalidade, óbitos, média de permanência e caráter de atendimento.
Resultados
No período analisado, foram observadas 277.112 internações para a realização do procedimento de hemorroidectomia no Brasil, representando um gasto total de R$ 100.378.152,29, sendo 2010 o ano com maior número de internações (30.014), e 2014 o ano responsável pelo maior valor gasto durante o período (R$ 11.331.993,37).
Do total de procedimentos, 218.204 foram realizados em caráter eletivo, 58.908 em caráter de urgência, tendo sido todos os procedimentos considerados de média complexidade. A taxa de mortalidade total nos 10 anos estudados foi de aproximadamente 0,02526 %, correspondendo a 70 óbitos, tendo sido 2015 o ano com taxa de mortalidade mais alta, computando 11 óbitos, enquanto no ano de 2009 apresentou a menor taxa, de 2 óbitos apenas. A média de permanência total de internação foi de 1,6 dias.
A região brasileira com maior número de internações foi a Sudeste com 124.688 internações, seguida das regiões Nordeste com 72.6766, Sul com 42.042, Centro-Oeste com 20.042 e, por último, a região Norte com 17.684 internações (Gráfico 1). Dentre as unidades da federação, o estado de São Paulo concentrou a maior parte das internações, contabilizando 67.015. O Sudeste brasileiro apresentou a maior taxa de mortalidade, com um total de 39 óbitos, seguida pela região Sul, na qual foram estimados 11 óbitos. Já a região Norte apresentou a menor taxa neste mesmo período, com 3 óbitos apenas (Gráfico 2).
Gráfico 1: Relação do número de procedimentos entre as regiões brasileiras.
Gráfico 2: Relação do número de óbitos pelas regiões brasileiras.
Discussão
Este artigo é um estudo retrospectivo baseado na coleta de dados de pacientes usuários do SUS portadores de doença hemorroidária que foram submetidos a hemorroidectomia, operados em decorrência de seus sintomas. Desta forma, foi possível compreender, diante dos dados obtidos, uma taxa mínima de mortalidade nesses últimos 10 anos analisados. Por conseguinte, segundo as evidências epidemiológicas, o risco de morte para o paciente é perto de zero.
Considerando-se que, no Brasil, ainda é possível encontrar certa resistência quanto a realização de procedimentos cirúrgicos por parte da população, a hemorroidectomia deve ser estimulada quando bem indicada pelo cirurgião responsável. Além disso, os custos com os procedimentos cirúrgicos demonstraram satisfatórios, tendo em vista a necessidade da cirurgia como única terapêutica proposta para alguns pacientes. A regionalização da enfermidade apresenta grande relevância, uma vez que pode guiar o redirecionamento de verbas e métodos terapêuticos mais modernos para regiões com maior índice de incidência1,3,5.
Considerações finais
Mediante ao exposto, pode-se concluir que, na literatura disponível atualmente, existem poucos dados epidemiológicos sobre a real situação do país, em números absolutos e relativos, do cenário de medidas terapêuticas para correção da Doença Hemorroidária. Portanto, uma revisão da epidemiologia dos últimos 10 anos apresenta grande relevância científica, acadêmica e clínica, visto que os dados obtidos corroboram para discussões de medidas de política pública e um incentivo a notificação e alimentação de dados do SUS.
Declarações
Os autores declaram não possuírem quaisquer conflitos de interesse diretos ou indiretos.
Referências
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