REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412301603
Daniela de Sousa Guedes Pacheco1;
Jorge Alfonso Morales Donoso2;
Cristiane Maria Fernandes de Melo3
RESUMO
O hemangiossarcoma (HSA) é um tumor maligno, invasivo e indiferenciado do endotélio dos vasos sanguíneos, com capacidade metastática, sendo de ocorrência maior em cães. É uma neoplasia que apresenta tanto caráter genético, tendo predisposição em raças como Pastor alemão, Golden retriever e Labrador retriever, entretanto cães mais expostos a luz solar são também predispostos, principalmente de pelagem clara. Esse trabalho de conclusão de curso tem como objetivo relatar um caso de hemangiossarcoma em cão da raça pinscher. Foi atendido na clínica veterinária da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Campos Gerais, um cão, da raça pinscher, com 9 anos de idade, que apresentava um nódulo na região inguinal próximo ao pênis. Durante a avaliação foi proposta a realização da coleta de material para hemograma, bioquímica sanguínea e avaliação citológica. Para avaliação citológica o animal foi submetido a técnica de capilaridade, e durante avaliação microscópica foram evidenciadas células de aspecto ovoide a fusiformes, com intenso pleomorfismo, anisocariose e citoplasma celular basofílico, com nucléolos evidentes e anisonucleólise. Ainda foram visualizadas intensa quantidade de hemácias ao fundo da lâmina, bem como células neutrofílicas, sendo o diagnóstico final sugestivo de hemangiossarcoma. O animal foi submetido a ultrassonografia para observação de metástase, quadro que não foi observado. Após isso, foi submetido a nodulectomia, a fim de enviar o material para histopatologia. No exame histopatológico foi confirmado o laudo citológico, evidenciando hemangiossarcoma dérmico. Esse trabalho torna-se importante para comunidade científica, uma vez que o hemangiossarcoma cutâneo em cães da raça pinscher é raro, contribuindo para outros pesquisadores e médicos veterinários clínicos e patologistas.
Palavras-chave: câncer, endotélio vascular, pinscher, neoplasia de células mesenquimais.
ABSTRACT
Hemangiosarcoma (HSA) is a malignant, invasive and undifferentiated tumor of the endothelium of blood vessels, with metastatic capacity, and is more common in dogs. It is a neoplasm that is both genetic and predisposed to breeds such as the German Shepherd, Golden Retriever and Labrador Retriever. However, dogs that are more exposed to sunlight are also predisposed, especially those with light coats. This course conclusion paper aims to report a case of hemangiosarcoma in a pinscher dog. He was treated at the veterinary clinic of the Campos Gerais Faculty of Science and Technology, a 9-year-old pinscher who had a lump in the inguinal region near his penis. During the evaluation, it was proposed that material be collected for blood count, blood biochemistry and cytological evaluation. For cytological assessment, the animal was submitted to the capillary technique, and microscopic evaluation revealed cells with an ovoid to fusiform appearance, with intense pleomorphism, anisokaryosis and basophilic cell cytoplasm, with evident nucleoli and anisonucleolysis. Intense amounts of red blood cells were also seen at the bottom of the slide, as well as neutrophilic cells, and the final diagnosis was suggestive of hemangiosarcoma. The animal underwent ultrasound to check for metastasis, which was not observed. He was then submitted to nodulectomy in order to send the material for histopathology. The histopathological examination confirmed the cytological report, showing dermal hemangiosarcoma. This study is important for the scientific community, since cutaneous hemangiosarcoma in pinscher dogs is rare, contributing to other researchers and clinical veterinarians and pathologists.
Keywords: cancer, vascular endothelium, pinscher, mesenchymal cell neoplasm.
1. INTRODUÇÃO
O hemangiossarcoma é uma neoplasia maligna, também denominada como angiossarcoma ou hemangioendotelioma, que afeta células endoteliais dos vasos sanguíneos, extremamente invasivo e metastático, que acomete além dos vasos, qualquer outro órgão vascularizado, uma vez que suas células são de linhagem endotelial (Flores et al., 2012; Guberman et al., 2015).
Os locais acometidos podem ser fígado, pulmões, coração e rins, além de cavidade oral, coração, fígado, pulmões, rins, ossos, bexiga, útero, língua e retroperitônio. De acordo com sua localização pode ser classificado em visceral ou não visceral (Nardi, et al, 2023).
Apesar de menos comuns, as manifestações cutâneas podem ocorrer tanto na epiderme e tecido subcutâneo, apresentando caráter primário ou metastático (Guedes, et al, 2016) A neoplasia não visceral canina desenvolve-se mais frequentemente nos tecidos cutâneos (derme e hipoderme), com ou sem invasão nos tecidos subcutâneo e muscular. Ainda é relatado o hemangiossarcoma muscular, que é considerado menos comum (Mullin e Clifford, 2020).
Em relação ao hemangiossarcoma cutâneo, cães de pelo curto, com pouca pigmentação e alta exposição ao sol tem maior probabilidade de apresentar a enfermidade, que é mais comum nas regiões abdominal, prepucial e membros anteriores (Freitas et al., 2019).
As raças de cães mais acometidas são Whippet, Labrador Retriever, Pastor Alemão, Golden Retriever, Boxer e American Pit Bull, sem predileção por sexo. Além disso, acomete principalmente cães entre oito e 13 anos de idade, com pele despigmentada, pelo curto e rarefeito (THAMM, et al., 2007).
O diagnóstico é dado através de exames histopatológicos dos tumores primários ou metastáticos, e o tratamento tem como base reestabelecer o paciente, para que ele esteja pronto para a realização de procedimentos, tais como a quimioterapia ou excisão cirúrgica (Freitas, et al., 2019).
Diante disso, o objetivo desse trabalho de conclusão de curso é abordar sobre o atendimento de um cão da raça pinscher com hemangiossarcoma dérmico.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Etiopatogenia
O hemangiossarcoma se origina no endotélio vascular, sendo uma neoplasia mesenquimal altamente metastática. Por se comumente observada no tecido epitelial, a maior prevalência cutânea nesses animais está relacionada à menor proteção contra a radiação solar, pois a baixa pigmentação da pele de determinadas raças e a cobertura capilar levam a maior exposição solar (Sziveck et al., 2012).
Outros fatores como alterações actínicas, tais como dermatose solar são frequentes nesses pacientes, o que confirma a influência da radiação solar no desenvolvimento desta neoplasia (Sziveck et al., 2012). Uma das possíveis causas da ontogênese do hemangiossarcoma é a mutação das células endoteliais vasculares diferenciadas, evidenciadas nos quadros de malignidade. Outro fator é a interrupção da diferenciação das células-tronco hemangioblásticas (Pimentel, 2019).
Além disso, o fator básico de crescimento fibroblástico (FGF) compõe a família dos receptores da tirosina quinase, que possuem papel importante na regulação da angiogênese, ou seja, afetam diretamente no crescimento e desenvolvimento tumoral (Frenz et al., 2014; Murakami et al., 2008), sendo importante para proliferação, crescimento, desenvolvimento e diferenciação celular embrionária de um organismo durante toda vida; importante também como promotores de crescimento tumoral (Halper, 2010).
A morfologia do hemangiossarcoma é variada dentro de uma mesma massa tumoral. Ademais, o tumor se manifesta de maneira não encapsulada, mal delimitado e exibe áreas dispersas de sangramento e necrose. O tecido é formado por células endoteliais imaturas, ovóides a fusiformes, dispostas em camadas sólidas que formam canais tortuosos rudimentares que contêm hemácias (Freitas et al.; 2019).
As alterações hematológicas geralmente associadas ao hemangiossarcoma são anemias e trombocitopenias. A anemia apresentada nessa neoplasia é caracterizada pela redução de eritrócitos, do valor do hematócrito e concentração de hemoglobina no sangue periférico, causada por quadros hemorrágicos intracavitários e hemólise angiopática. A trombocitopenia é comum em neoplasias esplênicas e quando se trata do hemangiossarcoma, é uma alteração secundária (Camboim, et al. 2017).
Também ocorre coagulação intravascular disseminada, que se manifesta devido aos sangramentos espontâneos e ativação da hemostasia primária e secundária (Jericó, 2015).
2.2. Sinais clínicos
Geralmente, essa neoplasia se apresenta como nódulos ou pápulas superficiais solitários ou múltiplos de cor avermelhada a enegrecida, com manifestações clínicas localizadas e limitadas, com sangramentos (Mullin et al., 2020; Ward et al., 1994)
Por sua vez, no hemangiossarcoma visceral, os órgãos mais importantes acometidos são o baço, o fígado, o mesentério e os pulmões, como relatado anteriormente. Nesses quadros ocorre intensa hemorragia interna, perceptível pela distensão abdominal, com quadro de efusão pleural e pericárdica. É comum o hemangiossarcoma metastizar para o miocárdio, provocando arritmias, intolerância a exercícios físicos, dispneia, ascite, redução dos sons cardíacos e pulso jugular (Freitas, et al, 2019; Nardi et al., 2025).
Quanto a sintomatologia geral, o animal apresenta letargia, sinais de depressão, anorexia, massa abdominal palpável, hemoperitônio, mucosas hipocoradas e choque (Nardi e Jack, 2023).
2.3. Diagnóstico
O diagnóstico do hemangiossarcoma cutâneo é realizado por meio de exames clínicos, como a biópsia da lesão, seguida de análises histopatológicas.
Exames complementares como a avaliação sanguínea, pode-se observar presença de glóbulos vermelhos nucleados denominados eritroblastos, que são causados pela infiltração de células malignas na medula óssea, hematopoiese e hipoesplenismo associado à infiltração neoplásica (Filgueira et al., 2012).
Ademais, na avaliação oncológica exames laboratoriais de sangue são importantes as análises bioquímicas renal e hepática, tais como: ureia, creatinina, alanina aminotransferase (AST), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina, gama glutamil transferase (GGT) e albumina (Freitas, et al, 2019).
Todas essas avaliações iniciais acima são importantes nos casos de metástase ou não, uma vez que o fígado é responsável pelo metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas (Thrall, et al., 2007), e é considerado um órgão acometido por essa neoplasia e anatomicamente próximo ao baço.
Por isso, as alterações bioquímicas estão relacionadas a possíveis metástases ou locais de tumores primários, que incluem enzimas hepáticas elevadas como alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina, além de hipoalbuminemia, hipoglobulinemia, uréia e creatinina aumentadas (Freitas, et al, 2019)
Os exames de imagem como a radiografia de tórax e abdômen, bem como ultrassonografia, devem ser realizados para averiguar metástases. Em seguida, geralmente faz-se a biópsia para avaliação histopatológica (Nardi, et al, 2023).
No caso do hemangiossarcoma cutâneo observado nesse relato de caso, destacou-se nódulos discretos, firmes e de cor semelhante, muitas vezes confundidos com hematomas, como relatado por (Nardi, et al, 2023).
A Imagionologia ajuda a identificar estruturas recém-formadas na cavidade abdominal e torácica, indicando tumores primários e/ou metástases. A ultrassonografia do abdômen é muito útil e imagens em tempo real permitem avaliar ecogenicidade da ferida (Freitas, et al, 2019).
A obtenção de um diagnóstico patológico confiável se dá através de um exame de biópsia (Nardi, et al, 2023), que podem ser realizadas com imagens ecográficas de ultrassom, o que evita procedimentos mais invasivos, como laparotomia ou toracotomia exploradora.
2.4. Tratamento
O tratamento pode envolver a nodulectomia, seguida de terapias complementares, como quimioterapia ou radioterapia, dependendo do estágio e da disseminação da doença (VIVAN, 2020; WARD et al., 1994). A quimioterapia pode ser realizada com doxorrubicina isoladamente ou combinado com inibidores microtúbulos (vincristina) e agentes alquilantes (ciclofosfamida) (Freitas et al, 2019).
Além disso, a utilização de inibidores das cicloxigenases 2 (COX 2), denominados Coxibes, faz parte do protocolo de tratamento antineoplásico, uma vez que este medicamento apresenta função de limitar a carcinogênese, através de mecanismos de ação como: diminuição da apoptose celular, inibição da atividade das metaloproteinases (enzimas que promovem aumento da atividade mitótica e disseminação tumoral), aumento do metabolismo dos xenobióticos. Além disso, podem ser utilizadas opções terapêuticas que incluem imunomoduladores e eletroquimiotarapia (Freitas, et al, 2019).
2.5. Prognóstico
O prognóstico do hemangiossarcoma, devido a sua alta capacidade metastática é considerado reservado a desfavorável. Porém vários fatores como grau e tipo histológico, tamanho do tumor, localização, invasão e padrão das margens cirúrgicas, localização primária e idade do paciente contribuem para obtenção deste prognóstico (Freitas et al., 2019).
3. RELATO DE CASO
Foi atendido na Clínica Médico Veterinária da Faculdade de Ciências e Tecnologias de CamposGerais/MG – FACICA, um cão, da raça Pinscher, com 9 anos de idade, macho, não castrado. Durante a realização da anamnese foi notado que o animal apresentava apatia, mucosas hipocoradas, ausência de dentição e presença de um nódulo próximo ao pênis (figura 1).
Figura 1. Pinscher, 9 anos de idade, atendido na Cínica veterinária FACICA, com massa aderida próxima a região peniana. 2024 (Fonte: Arquivo Pessoal).
Durante o exame clínico, foram observados os seguintes parâmetros como escore corporal – 2; ausência de dentição; frequência cardíaca (FC) – 97 batimentos por minuto (bpm), frequência respiratória (FR) – 40 movimentos por minuto (mpm), temperatura retal (TR) – 38,7º Celsius, mucosas oral e ocular normocoradas; lnfonodo inguinal reativo (próximo ao nódulo) e um nódulo com tamanho de 3 centímetros próximo a região peniana.
Foram propostos exames complementares como hemograma, avaliação bioquímica renal e hepática, citologia, radiografia, ultrassonografia e histopatologia. Para o exame hematológico e bioquímica sanguínea, foi colhida amostra de sangue através da veia cefálica, com utilização de seringa de 5 ml, e acondicionamento do sangue em tubo contendo EDTA e ativador de coágulo. Já para a citologia foi coletado material nodular, através da técnica de capilaridade.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na primeira avaliação hematológica o animal apresentou eosinofilia relativa. Por sua vez, no segundo hemograma o animal apresentava os parâmetros normais, como observado abaixo (tabela 1).
Tabela 1 – Análise hematológica de um cão pinscher realizado na Clínica Veterinária da FACICA, na cidade de Campos Gerais, Minas Gerais. Minas Gerais, 2024.
Série Vermelha | Resultados | Parâmetros normais |
Eritrócitos M/μL | 7,86 M/μL | 5,65 – 8,87 |
Hemoglobina g/dL | 18,2 g/dL | 13,1 – 20,5 |
Volume globular % | 50,6 % | 37,3 – 61,7 |
VMC fL | 64,4 fL | 61,6 – 73,5 |
CHCM g/dL | 36,0 g/dL | 32,0 – 37,9 |
Série branca | ||
Leucócitos totais K/μL | 8,02 K/μL | 5,05 – 16,76 |
Neutrófilos segmentados % | 51 K/μL | 2,95 – 11,64 |
Neutrófilos bastonetes % | – | – |
Eosinófilos % | 13 K/μL | 0,06 – 1,23 |
Basófilos % | 0,0 K/μL | 0,00 – 0,10 |
Linfócitos % | 25 K/μL | 1,05 – 5,10 |
Monócitos % | 11 K/μL | 0,16 – 1,12 |
Plaquetograma K/μL | 149 K/μL | 148 – 484 |
Além disso, os parâmetros bioquímicos sanguíneos estavam normais: nitrogênio uréico- 25 mg∕dL (7 – 27 mg∕dL), creatinina – 0,8 mg∕dL (0,5 -1.8 mg∕dL), albumina – 3,2 g∕dL (2,2 – 3,9 g∕dL), glicose – 80 mg∕dL (70 – 143 mg∕dL),aspartato aminotransferase (AST) – 40 U∕L (0- 50 U∕L) e fosfatase alcalina – 79 U∕L (23 – 212 U∕L). Entretanto, a alanina aminotransferase (AST) estava discretamente aumentada – 186 U∕L (10 – 125 U∕L).
Na citologia do material nodular, as células apresentaram aspecto ovoide a fusiformes, dispersas, com intenso pleomorfismo. Foi também elucidado anisocariose e citoplasma das células basofílico, com celularidade mostrando nucléolos evidentes e anisonucleólise. Ainda foi visualizada intensa quantidade de hemácias ao fundo da lâmina, bem como células neutrofílicas, sendo o diagnóstico final sugestivo de hemangiossarcoma. (figura 2). O exame citológico foi condizente com outros relatos de caso (Camboim. et al., 2017; Alexandre, 2023).
Figura 2 – Citologia de nódulo coletado próximo a região peniana, de um cão Pinscher, 9 anos de idade, atendido na clínica veterinária FACICA, Campos Gerais, Minas Gerais. 2024 (Fonte: Acervo da FACICA).
No exame radiográfico do tórax, o animal apresentou silhueta cardíaca dentro da normalidade, ocupando menos de 2∕3 da cavidade torácica, padrão vascular com vasos pulmonares, da artéria aorta e veia cava caudal sem alterações. Além disso, o diafragma estava integro, traqueia com lúmen trajeto e densidade parietal preservados, o esôfago não era visível e estruturas ósseas preservadas.
Por sua vez, foi evidenciada na ultrassonografia da região abdominal que o fígado apresentava dimensões preservadas, margens finas e superfície lisa e vesícula biliar com paredes normoespessas. A cavidade gástrica estava com presença de gás, bem como as alças intestinais. O baço com dimensões, textura e ecogenicidade preservadas (figura 3). Os rins na topografia habitual apresentaram arquitetura e dimensões preservadas, e a bexiga com repleção moderada, com conteúdo ecogênico em suspensão (minerais /cristais/celularidade). Além disso, os linfonodos inguinais não apresentaram alterações sonográficas. É comum a ocorrência de quadros de metástase para órgãos como baço, fígado e pulmões como abordado acima, situação que não foi observada nesse relato. Deve-se elucidar a importância de continuidade nos atendimentos pelos clínicos veterinários que atenderam o animal, a fim de observar possíveis recidivas.
Figura 3. Baço apresentando na ultrassonografia dimensões, textura e ecogenicidade preservadas. Fonte: Arquivo Pessoal da FACICA.
Após retirada do nódulo durante procedimento cirúrgico realizado na clínica veterinária da FACICA, o material foi encaminhado para exame histopatológico e acondicionado em formol a 10%.
No exame histopatológico foi evidenciada a pele com epiderme apresentando pequena área ulcerada, com a derme superficial à profunda caracterizando proliferação neoplásica composta por células mesenquimais, com formação de espaços vasculares pequenos e grandes, preenchidos por sangue, eventualmente contendo microtrombos, além de pequenas áreas sólidas. Além disso, as células neoplásicas apresentaram morfologia fusiforme, com citoplasma eosinofílico pouco distinto, por vezes contendo pequenos vacúolos. O núcleo estava ovalado, com cromatina grosseira e nucléolo evidente. O diagnóstico através da histopatologia foi hemangiossarcoma dérmico.
O paciente apresentado neste caso mostrou algumas das características que predispõe ao hemangiossarcoma, tais como: animais do sexo masculino e idade acima de 7 anos. Porém o mesmo não se enquadra nas raças predispostas (Freitas, et al, 2019), por ser um pinscher e não possuir a pele pouco pigmentada e pelos curtos, o que torna esse relato diferenciado.
A realização do diagnóstico se deu pelo exame clínico, com identificação do tumor em região próxima ao pênis, e através de exames complementares como citológico e histopatológico, além disso, o exame de imagem se mostrou importantíssimo para descartar qualquer possibilidade de metástase, confirmando a classificação em tumor não visceral. Essa neoplasia na forma cutânea raramente apresenta quadros de metástase, como relatada nos trabalhos de (Wahakara et al., 2023; Camboim et al., 2017; Paiva et al., 2020).
A ressecção cirúrgica realizada mostrou-se eficiente como forma de tratamento, uma vez que o animal não apresentava metástase, confirmada pelos exames complementares e o prognóstico do animal é favorável, visto o sucesso do tratamento. O tratamento cirúrgico, quando não metastizado tem obtido sucesso mesmo sem tratamentos quimioterápicos, apresentando sobrevida entre 780 a 987 dias (Nardi, et al, 2023).
Entre os diagnósticos diferenciais dessa neoplasia destacam-se no hemangiossarcoma visceral, o leiomioma, mesenquinoma, mixossarcoma, lipossarcoma, sarcoma histiocítico e sarcoma indiferenciado (Macfwen´s, 2001 apud, Pinto, 2015). Quanto aos diferenciais voltados para neoplasias epiteliais, mesenquimais e redondas cutâneas tem-se: hemangioma, papiloma, carcinoma, mastocitoma e tumor venéreo transmissível (Paula et al., 2009).
5. CONCLUSÃO
O paciente apresentado refere-se a um cão da raça Pinscher, diagnosticado com hemangiossarcoma cutâneo dérmico, o que diferencia de outros casos relatados na literatura. O paciente nesse relato não apresentou metástase durante avaliação radiográfica e ultrassonográfica, diante disso o tratamento de eleição foi a nodulectomia, que promoveu recuperação satisfatória com completa recuperação, reabilitação e prognóstico favorável.
Deve-se atentar que além da avaliação citológica, é indicado o exame histopatológico para diagnóstico final, uma vez que é mais preciso para finalizar o diagnóstico e esclarecer sobre os diferenciais de outras neoplasias. Embora o resultado da cirurgia e a evolução do caso tenham sido positivos, o prognóstico do paciente é animador. O animal nesse caso continuará em avaliação para possíveis quadros de recidiva e metástases.
6. REFERÊNCIAS
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1 Aluna do curso de medicina veterinária da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Campos Gerais, Campos Gerais, Minas Gerais, Brasil
2 Professor do curso de medicina veterinária da FACICA. E-mail: jorgemoralesdonoso@gmail.com
3 Professora do curso de medicina veterinária da FACICA. E-mail: crisalicemelo@gmail.com