HÁBITOS DA AUTOMEDICAÇÃO EM PACIENTES ODONTOLÓGICOS DE UMA FACULDADE DE ODONTOLOGIA EM MINAS GERAIS

SELF-MEDICATION HABITS IN PATIENTS FROM A DENTAL SCHOOL OF MINAS GERAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7812059


Mariele Ferraz De Oliveira1
Isabela Celine de Carmo Ferreira2
Marcella Ribeiro Freitas3
Gustavo Coutinho Brum4
Pedro Bezerra France Azevedo5
Sara Vieira Medeiros6
Eveline Ferraz de Oliveira7
Marcelo Tarcísio Martins8


RESUMO

Introdução: A automedicação é um problema de saúde pública mundial, esta prática é utilizada para diminuir os sintomas relacionados a dor, porém isso pode gerar riscos ao indivíduo. Objetivo: Verificar os hábitos da automedicação dos pacientes odontológicos em casos de sintomas associados à dor orofacial e/ou odontogênica, e analisar suas principais causas e consequências. Método: Os dados foram obtidos através de um questionário contendo 18 questões de múltipla escolha sobre os hábitos da automedicação, aplicado a pacientes atendidos na clínica escola de uma faculdade de odontologia em Juiz de Fora – MG, seguido de análise estatística teste qui-quadrado. Resultados: 86% relataram já terem praticado a automedicação, sendo os motivos de origem orofacial mais comuns: dor de cabeça/cefaleia (67%), dor de dente espontânea (32%) e induzida (17%), dores na ATM/nuca/pescoço (29%), infecções/inflamações de dente (26%), dor na face (25%), dente com mobilidade (6%), lesões orais (4%) e outros motivos (8%). Conclusão: Os medicamentos mais citados na prática da automedicação em casos de sintomas associados a dor orofacial e/ou odontogênica foram: analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios. O principal motivo para a automedicação foi a dor de cabeça/cefaleia.

Palavras-Chaves: Inquéritos e questionários; automedicação; odontologia.

ABSTRACT

Introduction: Self-medication is a worldwide public health problem. The practice is used to reduce symptoms related to pain, but this can generate risks to the individual. Objective: To verify the habits of self-medication of dental patients in cases of symptoms associated with odontogenic orofacial pain and analyze its main causes and consequences. Method: Data were obtained through a questionnaire containing 18 multiple-choice questions about self-medication habits, applied to patients seen at the school of a dental school in Juiz de Fora – MG, followed by statistical analysis, chi-square test. Results: 86% reported having practiced self-medication, the most common reasons of orofacial origin being: headache (67%), spontaneous (32%) and induced (17%), pain in the ATM/neck (29%), tooth infections/ inflammations (26%), pain in the face (25%), tooth with mobility (6%), oral lesions (4%) and other reasons (8%). Conclusion: The most cited drugs in the practice of self-medication in cases of symptoms associated with dental pain were analgesics, antipyretics and anti-inflammatory drugs. The main reason for self-medication was headache.

Keywords: Surveys and questionnaires; self-medication; dentistry.

1 RELEVÂNCIA CLÍNICA

A importância do presente estudo foi mostrar como a prática de automedicação está presente no ambiente odontológico, podendo ser essa conduta a responsável por ocasionar malefícios à saúde dos pacientes.

2 INTRODUÇÃO

A automedicação constitui uma prática universal, presente nas mais diversas sociedades e culturas, independentemente do seu grau de desenvolvimento socioeconômico. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de brasileiros são adeptos da automedicação1.

A Organização Mundial da Saúde (1998) define automedicação como a seleção e o uso de medicamentos sem prescrição ou supervisão de um médico ou dentista. A automedicação se tornou um problema de saúde pública, em que fatores econômicos, políticos e culturais são contribuintes para sua expansão e alastramento no mundo². Existem variadas formas para sua prática, sendo elas: compartilhar fármacos com membros da família ou do meio social, adquirir medicamento sem receita, reaproveitar prescrições antigas ou até mesmo desobedecer a prescrição, alterando dosagem e período indicado na receita. Contudo, a automedicação tem o propósito de tratar ou aliviar sintomas percebidos pelo paciente, sendo uma forma comum de auto atenção à saúde³.

Segundo alguns autores, o comportamento de automedicação é influenciado por vários fatores, dentre eles: condições socioculturais3, grande disponibilidade de medicamentos no mercado4, falta de programas educativos sobre os riscos da automedicação e publicidade farmacêutica5.

No Brasil, a maior parte da população tem pouca informação com relação aos medicamentos, além disso, a obrigatoriedade da apresentação da receita médica é negligenciada, fazendo com que a prática da automedicação seja um risco6. Os pacientes que frequentam clínicas odontológicas têm como principal queixa a dor orofacial e dor de dente, segundo Navabi e colaboradores (2021), a dor de dente severa e a dificuldade em conseguir atendimento odontológico podem levar ao consumo desnecessário de medicamentos7. Em alguns casos, esses medicamentos são muitas vezes associados com antibióticos, que podem acarretar problemas como efeitos adversos.8

A relevância desse estudo parte da evidência dos dados que mostram que a prática da automedicação é comum na população, sendo bastante prevalente tanto para as dores orofaciais quanto para dor de dente9.

Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo verificar os hábitos da automedicação dos pacientes odontológicos em casos de sintomas associados à dor orofacial e/ou odontogênica, além disso, analisar quais são as principais causas e consequências.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora – SUPREMA, sendo observados e respeitados todos os requisitos e normas da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde durante sua execução cujo número de referência de aprovação é nº 3.522.364. Trata-se de um estudo transversal observacional retrospectivo, de caráter descritivo, em que foi avaliada a prática da automedicação em pacientes odontológicos de uma clínica escola de uma Faculdade de Odontologia em Juiz de Fora – MG. A amostra, probabilística, foi composta por 150 pacientes, sorteados de forma aleatória do banco de dados de pacientes atendidos em uma clínica escola da referida faculdade, onde os critérios de inclusão foram pacientes submetidos à tratamento odontológico na clínica, sem distinção de sexo e acima de 18 anos, e os critérios de exclusão foram pacientes não alfabetizados, pacientes com necessidades especiais, que não podem responder por si e crianças.

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 100 pacientes compuseram a amostra estudada nesta pesquisa.

Os dados foram coletados pela aplicação de um questionário, baseado e adaptado do estudo de Servidoni et al.6, para se adequar ao âmbito odontológico, cujas perguntas foram desenvolvidas com o intuito de medir atitudes frente a automedicação, e a ferramenta utilizada neste estudo foi a escala de Likert, na qual a resposta “SIM” caracteriza o item totalmente positivo, “ACHO QUE SIM” caracteriza o item parcialmente positivo, o “TALVEZ” seria o neutro, já a resposta “NÃO” e “ACHO QUE NÃO” seriam os itens totalmente negativo e parcialmente negativo, respectivamente. O questionário foi aplicado na sala que antecede o atendimento na clínica odontológica da faculdade, entre setembro e novembro de 2019.

Foram coletados o sexo e a idade, preservando a identidade dos participantes. Em seguida, foi preenchido o questionário contendo 18 perguntas de múltipla escolha sobre o tema da automedicação com diferentes enfoques.

Para a avaliação da prática de automedicação em pacientes odontológicos, foi utilizado o software estatístico Statistical Package for the Social Sciences, versão 15.0(SPSS 15.0). Os dados métricos (idade) foram descritos utilizando mínimo, máximo, média e desvio padrão. Os dados categóricos (frequências) foram descritos utilizando frequência e percentuais. Para dados politômicos categóricos foi utilizado o teste qui-quadrado e para dados categóricos dicotômicos utilizou-se a prova exata de Fisher. O nível de significância adotado foi de p≤0,05.

4 RESULTADOS

Dentre a amostragem de 100 participantes, 68 (68%) eram do sexo feminino e 32 (32%) do sexo masculino. Para comparar se houve diferença significativa entre o sexo dos pacientes e a prática da automedicação foi utilizado o teste qui-quadrado. O nível de significância adotado foi p≤ 0,05. Na comparação entre sexo e prática da automedicação foi obtido nível de significância de p=0,782, o que configura ausência de diferença estatística entre os grupos comparados, ou seja, o perfil feminino é idêntico ao perfil masculino quanto a prática da automedicação.

A faixa etária dos participantes da pesquisa foi de 44 anos, variando dos 19 aos 76 anos de idade (DP ± 15anos). Quando questionados (tabela 1) sobre a prática da automedicação, 86% dos pacientes relataram já terem praticado, enquanto apenas 14% negaram, como demonstrado na linha: pergunta 1 (P1). As demais perguntas (P) com respectivas: frequências e percentuais de respostas, também são apresentadas pela Tabela 1.  A pergunta 12 (P12) é apresentada em forma de gráfico pelo gráfico 1.

Tabela 1: Questionário de avaliação do perfil de automedicação dos pacientes odontológicos em casos de sintomas associados à dor orofacial e odontogênica.

Para a pergunta 2 (P2): 62 participantes (66,7%) relataram que o medicamento era para uso próprio, enquanto apenas 2,2% justificaram que o medicamento era para outro membro da família. Porém, 31,2%, relataram o uso da medicação para si e para familiares. Na terceira pergunta (P3), 57% declararam não ter esquecido ou perdido a receita médica no momento da compra, ou pelo menos achavam que não. Em contrapartida, 25% relataram que perderam a receita no ato da compra.

Quando questionados sobre a indicação do uso (P4), a maioria dos participantes afirmaram que receberam ou acha que receberam aconselhamento do farmacêutico ou balconista durante a aquisição do medicamento, enquanto apenas 14% informaram não ter pedido conselho ao farmacêutico ou balconista no momento da compra. Além disso, 67% dos participantes da pesquisa declararam que já receberam orientações de terceiros para a compra do medicamento (P5), sendo citados os familiares (em 48% dos casos) amigos (20%), vizinhos (4,1%) e outros (4,1%).

No que diz respeito à receita médica (P6), apenas 5,1% dos participantes disseram que talvez tenham se baseado em receitas antigas e 34,3% relataram não ter utilizado receitas antigas. Entre os 60,6% dos participantes que se basearam em receitas antigas, 86% deles relataram que as receitas pertenciam a eles próprios, enquanto 14% utilizaram a indicação de receitas antigas direcionadas para outra pessoa. Já em relação à apresentação obrigatória da receita (P7), 50% afirmaram que o medicamento necessitava de receita ou pelo menos achavam que sim, mesmo os tendo comprado sem a apresentação da mesma, enquanto aproximadamente 41% disseram que não necessitava ou pelo menos acharam que não necessitava da apresentação da receita.

Da amostra, 70 participantes afirmaram que seguiram ou acharam que seguiram as orientações da bula (P8), e entre os que afirmaram que não seguiram, a maioria utilizou a medicação seguindo as instruções do farmacêutico/balconista (54,8%) ou as instruções de familiares (25,8%).

No que se refere à solução do motivo/doença (P9), 89 participantes afirmaram que sim ou pelo menos acharam que o medicamento solucionou o motivo do uso (90,8%), 5% disseram que talvez tenha solucionado e apenas 4% relataram não ter solucionado. Quando questionados sobre uma possível automedicação futura (P10), 49% dos pacientes informaram que se automedicaria novamente pois seu problema havia sido resolvido, 43% relataram que talvez se automedicaria novamente e apenas 8% afirmaram que não, pois não havia sido eficiente.

Ao serem questionados sobre as consequências provocadas pela automedicação (P11), 90,6% afirmaram que foram positivas, enquanto apenas 9,4% disseram que foram negativas, como demonstra a Tabela 1.

Aplicou-se o teste qui-quadrado dos valores para comparar se houve diferença significativa entre a possibilidade de práticas futuras e consequências da automedicação (p=0,091), a inferência entre essas possibilidades não foi significante na amostra estudada (p≤0,05).

Quando questionados sobre a data da última consulta (P12) odontológica (Gráfico 1), 41,40% dos participantes relataram ter ido ao dentista de 7 a 15 dias atrás, 12,10% relataram ter ido de 15 a 30 dias, 21,20% foram ao dentista de 2 a 4 meses atrás; 14,10% foram a mais de 5 meses, e 10,10% dos participantes relataram não lembrar da data da última consulta ao dentista. Esses dados são demonstrados no gráfico a seguir (Gráfico 1).

Gráfico 1: Data da última consulta ao dentista

Pelo questionário aplicado, procurou-se apresentar e entender quais medicações são mais utilizadas e o motivo/doença para tal utilização. Foram obtidos os seguintes resultados: 77% citaram o uso de analgésicos e antitérmicos, a mesma porcentagem foi encontrada para anti-inflamatórios, já 71% utilizaram medicamentos para gripe e resfriado, 40% anti-histamínicos, 34% relataram ter usado antibióticos, 8% corticoides sistêmicos (via oral), 7% antidepressivos, 7% ansiolíticos, e apenas 2% relataram ter usado outro medicamento, sendo citados os fitoterápicos. Esses dados estão representados no gráfico a seguir (Gráfico 2).

Gráfico 2: Tipos de medicações

Na relação dos motivos ou doenças que os pacientes acreditavam possuir para justificar a automedicação, foram encontrados os seguintes resultados: 67% dos participantes relataram o uso de medicação para casos de dor de cabeça/cefaleia, 32% para dor de dente espontânea, 29% já utilizaram para dores na ATM/nuca/pescoço, 26% já usaram medicação para infecções/inflamações de dentes, 25% para dor na face, 17% para dor de dente induzida (causada por estímulo), 6% relataram automedicação para dente com mobilidade, 4% para lesões orais e 8% tiveram outros motivos, tais como: alergias, ansiedade, dores na coluna/joelho e reumatismo. Dados representados no gráfico a seguir (Gráfico 3).

Gráfico 3: Automedicação, motivos e doenças

Aplicando-se o teste qui-quadrado e adotando nível de significância de p≤0,05, foi possível relacionar o uso dos tipos de medicações com o motivo/doença que o voluntário acreditava ter. Como resultado foram encontrados o uso de analgésicos para dor de cabeça/cefaleia (p=0,001); anti-inflamatórios para ATM/nuca/pescoço (p=0,004) e lesões/infecções de dente (p=0,024); antibióticos para dor de cabeça/cefaleia (p=0,045); antialérgico para dor de cabeça/cefaleia (p=0,019) e para outros motivos (p=0,043); ansiolíticos para ATM/nuca/pescoço (p=0,002); corticoides sistêmicos (VO) para dor de cabeça (p=0,035), dor na face (p=0,022), dor de dente espontânea (p=0,012) e dor de dente induzida (p=0,027); remédios para resfriado e gripe para dor de cabeça/cefaleia (p=0,03).

Em relação ao uso do medicamento, 13,3% dos participantes fizeram uso por apenas 1 dia; 20,4% usaram por 2 dias; 48% utilizaram por 3 a 5 dias; 18,3% relataram ter utilizado por 5 dias ou mais.

5 DISCUSSÃO

No presente estudo, cerca de 86% dos voluntários já se automedicaram, sendo que na análise quanto ao sexo, não mostrou significância (p≤0,05) com a automedicação, ou seja, a automedicação é feita igualmente por ambos os sexos. No entanto, em outras pesquisas, essa associação foi encontrada, segundo estas, as mulheres tendem a fazer uso de medicamentos em todas as fases da vida, devido ao maior direcionamento para cuidados à saúde do que os homens2,3,8,9,10,11.

Estudos realizados por Simon et al.11(2015) e Aldeeri et al.12(2018), observaram alta prevalência de indicação de medicamentos por farmacêuticos ou balconistas11,12. Fato que corrobora com esta pesquisa, pois somente 11% negaram tal situação.

Além da indicação por farmacêuticos ou balconistas, foi possível verificar também que grande parte das situações de automedicação ocorreram por indicação de terceiros (60%), situação também descrita no estudo realizado por Silva et al.13(2011), em que foram constatados mais casos de indicação dos fármacos por parte dos familiares (51,2%), seguido dos médicos (33,1%) e por conta própria (20,8%)13. A indicação de familiares também foi a principal fonte descrita no estudo de Gowdar et al.9(2021), diferente de outros estudos, em que a maioria dos participantes realizaram a automedicação sem nenhuma indicação13,14, ou baseado na experiência anterior de tratamento de doenças semelhantes13,15.

Adamo et al.16(1991) relataram que a reutilização de receitas médicas antigas teve um papel importante na prática da automedicação, assim como no presente estudo, visto que mais da metade dos participantes afirmaram já terem se baseado em receitas antigas, utilizando as próprias e até mesmo as receitas de outras pessoas (13%). Esse resultado se assemelha com os resultados do estudo de Loyola et al.3(2002), no qual a automedicação foi baseada em prescrições anteriores3.

Segundo Adamo et al.16(1991), o médico é introdutor do medicamento no ambiente familiar, e mesmo sem intenção, é o principal ocasionador do processo de automedicação16. Em estudos semelhantes15, a experiência anterior com o fármaco liderou as motivações para a automedicação em pacientes odontológicos17, enquanto outros estudos apontaram o medo do tratamento18, a falta de tempo9,12, e a dificuldade de acesso ao serviço odontológico11 como os principais motivos.

No estudo realizado por Servidoni et al.6(2006), o número foi relativamente baixo das medicações que necessitavam de apresentação obrigatória da receita médica no momento da compra6, levando em consideração a resolução vigente RDC nº 138/2003, baseada em critérios como índice terapêutico, toxicidade, legislações internacionais e lista de medicamentos essenciais. Já no presente estudo, considerando a resolução atual RDC nº 98/2016, a compra de medicamentos que necessitavam de receita foi maior comparado aos que não precisavam, talvez isso se deva ao fato da revisão e substituição da norma anterior, com a atualização das regras para o enquadramento de medicamentos isentos de prescrição (MIP’s) baseada em sete regras, sendo elas: tempo de comercialização, perfil de segurança, indicação para tratamento de doenças não graves, uso por curto período, ser manejável pelo paciente, baixa toxicidade e não apresentar potencial de dependência.

Além disso, alguns participantes ficaram em dúvida sobre a obrigatoriedade da receita, este fato colabora na percepção de que é necessária a apresentação da prescrição na aquisição de medicamento, visto que o uso incorreto de uma medicação pode acarretar riscos à saúde. Bhattarai e colaboradores em 2020 sugeriram a necessidade do controle da disseminação de medicamentos e restrição racional da disponibilização de medicamentos ao público sem receita médica17.

Em pesquisas como a de Domingues et al.19(2017) e Navabi et al.7(2021), as classes de analgésicos e anti-inflamatórios representaram mais que a metade do consumo na automedicação7,19, o que se assemelha a outros estudos9,11,12,14,17,18 em que essas classes foram as mais utilizadas nessa prática. Os analgésicos são medicamentos indicados para alívio da dor, o que também corrobora a sua grande utilização de forma não prescrita. É importante ressaltar que o consumo de analgésicos/antigripais/anti-inflamatórios é favorecido pela facilidade de sua aquisição, uma vez que são medicamentos de venda livre20.No presente estudo, os analgésicos/antitérmicos e anti-inflamatórios também foram a classe farmacológica mais utilizada entre os medicamentos não prescritos, seguidos pelos medicamentos para resfriado e gripe.

Segundo Matos et al.21(2018), a cefaleia é responsável pela maior parte dos casos de automedicação21, fato semelhante ao encontrado no presente estudo, visto que a dor de cabeça/cefaleia lideram os motivos de automedicação com 67%, seguido de dor de dente e dores na ATM/nuca/pescoço. Em contrapartida, outros estudos recentes que tiveram também pacientes odontológicos como amostra, apontaram a dor de dente como o principal problema associado à automedicação7,9,11,12,17.

Smith et al.22(2004) relataram que os analgésicos utilizados de forma abusiva resultam na regulação dos receptores de serotonina presentes no cérebro. Quando estimulados ou regulados, esses receptores podem induzir a ocorrência de enxaqueca, levando a um estado de hiperalgesia que é prolongada pelo uso de outros medicamentos22.

Em pacientes com DTM, o tratamento deve ser baseado na eliminação dos fatores etiológicos envolvidos e na diminuição da sintomatologia, por isso o uso de medicamentos é parte do tratamento e não a única forma de controle dos sintomas. Segundo Tomie e colaboradores8(2022), os analgésicos e anti-inflamatórios foram os mais utilizados em pacientes com DTM, 46,4% e 34,4% respectivamente, o que corrobora com os resultados do presente estudo, já que a utilização de anti-inflamatórios foi significante para pacientes com dores na ATM/nuca/pescoço.

Segundo Silva et al.23(2016), o uso de anti-inflamatórios não esteroidais inibem as cicloxigenases, que impedem a liberação de prostaglandinas, sendo assim, o quadro inflamatório no local se faz de maneira mais branda. Os anti-inflamatórios não esteroidais em dosagens recomendadas, mostram efeitos no controle da dor e do edema23. Isso justifica o motivo pelo qual neste estudo, foi significante o uso de anti-inflamatórios para lesões/ infecções orais.

Na presente pesquisa foi relatado o uso de antibióticos para redução da dor de cabeça, porém não foi encontrado na literatura nada que justificasse esse uso. Percebe-se esta relação (antibiótico/dor de cabeça) como um fator confundidor aos pacientes quanto as classes medicamentosas. De acordo com Aquino et al.10(2010), o uso de antibióticos contribui para o mecanismo de resistência bacteriana, fato este que já se apresenta como um problema de saúde pública mundial. Embora esse tipo de medicamento deva ser dispensado apenas com a apresentação da receita, muitos estabelecimentos realizam a venda sem a prescrição10.

Segundo Damiani et al.24(2001), os corticoides podem suprimir a inflamação pelo aumento da síntese de várias proteínas anti-inflamatórias, esses medicamentos são potentes inibidores de reações alérgicas e inflamatórias24. Por esse motivo, no presente estudo foi possível observar a prevalência do uso de corticoides para dor de dente, seja ela induzida ou espontânea, visto que a polpa do dente pode estar em processo inflamatório devido à exposição do nervo, por origem periodontal, lesões de cárie ou traumatismos.

Mense25(2003), relatou que pacientes com dores na ATM, face e pescoço geralmente não conseguem relaxar os músculos entre as contrações, os músculos permanecem em contração constante levando a isquemia muscular, dor e fadiga25. Um outro estudo sobre dor orofacial observou também que a dor pode ser causada por tensão emocional, distúrbios do sono, fadiga e ainda por esforço, travamento ou bruxismo8. Por esse motivo, foi observado no presente estudo a utilização significante de ansiolíticos, pois esse medicamento atua no controle do processo agravante (tensão emocional) das dores orofaciais e pescoço, em geral.

Foi constatado nesta pesquisa que a grande maioria dos participantes se automedicaria novamente, justamente pelo fato de que o medicamento solucionou o motivo do uso. Quase a totalidade dos participantes não apresentaram reações adversas aos medicamentos, embora seja importante ressaltar a necessidade da realização de campanhas de conscientização da população em geral quanto ao correto uso dos fármacos. Para isso, é necessária a participação de profissionais da área da saúde, da regulamentação governamental e fiscalização pelas autoridades competentes.

6 CONCLUSÕES

Os medicamentos mais citados na prática da automedicação em casos de sintomas associados a dor orofacial e odontogênica foram: analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios. O principal motivo para a automedicação foi a dor de cabeça/cefaleia. As consequências negativas da automedicação, como a alergia, foram pouco relatadas. A baixa percepção de consequências negativas, sinaliza a necessidade de esclarecimento à população sobre os riscos desta prática.

Como limitação deste estudo a desinformação sobre a finalidade das classes de medicamentos e sua indicação, confundiu a amostra desta pesquisa, contudo, sugerimos que pesquisas futuras façam um esclarecimento com salas de espera e palestras sobre o tema, para diminuir este fator confundidor.

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1Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.marieleferraz.oliveira@gmail.com / 0000-0001-7013-7182
2Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.isabelacelinecf@gmail.com / 0000-0001-5571-8907
3Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.marcellaribeirofreitas@outlook.com / 0000-0001-7968-553X
4Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.coutinho.odonto@gmail.com / 0000-0003-4636-8911
5Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.pedro.azevedo2012@bol.com.br / 0000-0002-5136-3827
6Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.sara.vieiramed@gmail.com / 0000-0003-4994-139X
7Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.evelineferraz@msn.com / 0000-0002-5747-830X
8Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, FCMS-JF (SUPREMA), Juiz de Fora, MG, Brasil.mtmart@gmail.com / 0000-0003-2943-6433