HÁBITOS ALIMENTARES DURANTE A GESTAÇÃO: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A POSSÍVEL INFLUÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

EATING HABITS DURING PREGNANCY: AN INVESTIGATION ON THE POSSIBLE INFLUENCE ON THE EVELOPMENT OF AUTISM SPECTRUM DISORDER (ASD)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202408051533


Ana Letícia Carneiro1
Sara Avelar de Souza2,
Bianca Altrão Ratti Paglia3


RESUMO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica complexa que impacta o desenvolvimento social, comunicativo e comportamental. Este trabalho investiga a relação entre os hábitos alimentares das gestantes e o desenvolvimento do TEA em seus filhos, com foco na suplementação de ácido fólico (vitamina B9). Estudos anteriores sugerem que o ácido fólico é essencial para o fechamento do tubo neural durante o desenvolvimento embrionário, mas seu excesso pode estar relacionado ao aumento do risco de autismo. O estudo utiliza uma metodologia qualitativa e uma revisão bibliográfica abrangente, analisando artigos publicados entre 2017 e 2024 em bases de dados como SciELO, PubMed, Google Scholar e Web of Science. A revisão da literatura destaca a importância da regulação epigenética no desenvolvimento neurológico do TEA, influenciada por níveis adequados de ácido fólico durante a gravidez. No entanto, existe uma lacuna significativa no entendimento completo dessa relação, especialmente quanto à interação de diversos nutrientes e seus impactos no neurodesenvolvimento. Conclusivamente, embora a suplementação de ácido fólico seja uma medida de saúde pública essencial para prevenir defeitos do tubo neural, é crucial um monitoramento cuidadoso para evitar possíveis riscos de autismo. A pesquisa enfatiza a necessidade de mais estudos para elucidar os mecanismos exatos e identificar biomarcadores confiáveis que possam auxiliar no diagnóstico precoce e nas intervenções preventivas para melhorar os resultados de saúde das crianças em risco de desenvolver TEA.

Palavras-chave: Hábitos alimentares. Gestação. Transtorno do Espectro Autista.  

ABSTRACT

Autism Spectrum Disorder (ASD) is a complex neurological condition that impacts social, communicative, and behavioral development. This study investigates the relationship between the dietary habits of pregnant women and the development of ASD in their children, focusing on folic acid (vitamin B9) supplementation. Previous studies suggest that folic acid is essential for neural tube closure during embryonic development, but its excess may be related to an increased risk of autism. The study uses a qualitative methodology and a comprehensive literature review, analyzing articles published between 2017 and 2024 in databases such as SciELO, PubMed, Google Scholar, and Web of Science. The literature review highlights the importance of epigenetic regulation in the neurological development of ASD, influenced by adequate levels of folic acid during pregnancy. However, there is a significant gap in the complete understanding of this relationship, especially regarding the interaction of several nutrients and their impacts on neurodevelopment. In conclusion, although folic acid supplementation is an essential public health measure to prevent neural tube defects, careful monitoring is crucial to avoid potential risks of autism. The research highlights the need for further studies to elucidate the exact mechanisms and identify reliable biomarkers that can aid in early diagnosis and preventive interventions to improve health outcomes in children at risk of developing ASD.

Keywords: Dietary habits. Pregnancy. Autism Spectrum Disorder.

1  INTRODUÇÃO

O autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição neurológica complexa que afeta o desenvolvimento e o funcionamento social, comunicativo e comportamental de uma pessoa. Nesse sentido, a interação social é um dos fatores que se destacam na dificuldade de comunicação, podendo ser identificada antecipadamente durante a infância, prejudicando a comunicação social.(GRIESI-OLIVEIRA; SERTIE, 2017) 

Segundo Griesi-Oliveira e Sartie (2017), estima-se que o TEA afeta 1% da população, no qual há um maior predomínio entre os homens. Diante disso, é constatado modificações tanto genéticas quanto ambientais, como por exemplo, os genes da família SHANK (SHANK1, SHANK2 e SHANK3) relacionados com o autismo idiopático. Logo, a influência externa,  como os hábitos maternos, refletem no desenvolvimento embrionário.

Sendo assim, o diagnóstico é baseado em uma avaliação abrangente e individual nos diversos âmbitos sociais, necessitando de uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde especializados na área.(CARVALHO et al., 2012). 

Nesse sentido, o período gestacional tem grande relevância nessa série de mudanças fisiológicas e comportamentais que influenciam diretamente o desenvolvimento fetal, como por exemplo os hábitos alimentares que tem se destacado como um fator determinante para a saúde do bebê. (SILVA, 2020). 

De acordo com MAIA et al. (2019), um dos alimentos que predispõem ao TEA é a vitamina B9, também chamada de ácido fólico, que pode ser consumida através de frutas, folhas verdes e outros. Essa vitamina é de suma importância pois auxilia no desenvolvimento do tubo neural, no entanto esse fechamento também pode se manifestar simultaneamente com o desenvolvimento do TEA, dessa maneira alguns estudos apontam como uma das possíveis razões responsáveis pelo crescimento do autismo.

Diante disso, embora estudos epidemiológicos tenham sugerido associações entre determinados fatores alimentares e o risco de TEA, há uma lacuna significativa no entendimento da natureza e extensão dessa relação. A complexidade dos hábitos alimentares, que envolvem a interação de diversos nutrientes e compostos, demanda uma investigação aprofundada para discernir padrões específicos e compreender os mecanismos potenciais por trás dessa associação.

Nesse contexto, a presente pesquisa busca explorar uma dimensão ainda pouco compreendida: a possível relação entre os hábitos alimentares das gestantes e o desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em seus filhos.

2  DESENVOLVIMENTO

Segundo Bezerra (2024), a regulação epigenética desempenha um papel crucial no desenvolvimento neurológico do Transtorno do Espectro Autista (TEA), contribuindo para o aumento da incidência de transtornos neurocognitivos e neurocomportamentais. Esse fator é evidenciado por alterações epigenéticas que podem influenciar a expressão gênica durante o desenvolvimento neurológico.

Diante disso, garantir níveis adequados de ácido fólico para mulheres grávidas é de suma importância. A suplementação é uma medida reconhecida para prevenir defeitos do tubo neural, como a espinha bífida e a anencefalia, condições graves que podem ter impactos significativos na saúde e desenvolvimento do feto. Além disso, também é uma iniciativa de saúde pública amplamente recomendada devido aos seus comprovados benefícios na prevenção de tais defeitos. (CRUZ et al, 2021)

Apesar de a linha de pesquisa sobre a suplementação de ácido fólico e sua relação com o desenvolvimento do TEA ainda estar em desenvolvimento, estudos preliminares de acordo Cruz et al (2021), sugerem que níveis adequados de folato durante a gravidez podem desempenhar um papel protetor contra o desenvolvimento de transtornos neurocognitivos. 

Este estudo buscou ampliar a detecção de biomarcadores confiáveis para o diagnóstico precoce e acompanhamento gestacional relacionados ao desenvolvimento neurológico do neonato. A identificação de tais é vital para intervenções precoces, que podem melhorar significativamente os resultados de saúde para crianças em risco de desenvolver TEA.

Por último, vale destacar que o fechamento do tubo neural, ativado pela suplementação de ácido fólico, ocorre em uma fase crucial do desenvolvimento embrionário. Durante esta fase, a formação do sistema nervoso central está em andamento, e quaisquer deficiências nutricionais, como a falta de folato, podem ter efeitos duradouros. Mudanças no status materno de folato, devido à nutrição pré-natal inadequada, estão associadas a alterações epigenéticas que podem influenciar o risco de TEA. Assim, garantir uma adequada suplementação de ácido fólico é uma medida preventiva essencial para a saúde neurodesenvolvimental do feto.

3  METODOLOGIA

A pesquisa aborda a metodologia qualitativa, que será conduzida através de uma pesquisa bibliográfica. Dessa forma, a literatura utilizada buscará estudos que já abordaram a temática de modo a diversificar diferentes perspectivas, com base em fontes como sites eletrônicos, SciELO (Scientific Electronic Library Online), PubMed, Google Scholar, Web of Science e revistas como a Revista Científica ITPAC e a Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Logo, o instrumento será a utilização de palavras chaves, cujo objetivo é contextualizar e relacionar o tema da pesquisa: autismo, excesso de ácido fólico, hábitos alimentares e gestação. 

Os critérios de inclusão irão abordar artigos publicados entre 2017 e 2024, disponíveis na íntegra para leitura, nas línguas inglesa, portuguesa e espanhola. Além disso, serão adicionados artigos que correspondem aos descritores utilizados e que estejam dentro da faixa temporal estabelecida. Aqueles que não se enquadraram no período estabelecido ou que não estejam relacionados com o tema proposto para a pesquisa foram excluídos.

Para aprimorar a abrangência da pesquisa, foram adicionados sinônimos, indexações e termos relacionados, bem como suas variações ou derivações. Os termos de busca, tanto em português quanto em inglês, descreveu as seguintes palavras-chave: “Autismo”, “Transtorno do Espectro Autista”, “Folato”, “Ácido Fólico”, “Embriogênese”, “Tubo Neural”, “Gestação” e “Desenvolvimento do Sistema Nervoso Embrionário”, combinados utilizando o banco de informações. Diante disso, esta revisão aborda estudos que investigam a reposição de micronutrientes durante a gestação, com especial atenção para a suplementação de ácido fólico, e exploram possíveis associações entre o ácido fólico, o neurodesenvolvimento e o TEA, tanto positivas quanto negativas. Também, quando necessário, referências a estudos clássicos foram incluídas para enriquecer a análise. Os artigos que atenderam aos critérios estabelecidos foram agrupados para facilitar a análise e garantir a precisão dos resultados.

Sendo assim, a partir dos objetivos gerais e específicos foi realizada uma leitura prévia dos materiais selecionados, com intuito de adquirir um conhecimento como parte do fenômeno observado. E com isso, baseando-se nas leituras observou-se uma carência de publicações em torno da temática.

4  CONCLUSÃO

Considerando as consequências dos hábitos alimentares durante a gestação, existe a necessidade de um maior aprofundamento sobre o tema e seu impacto, atentando-se para a prevenção de distúrbios epigenéticos, a fim de diminuir o número  de neonatos com transtornos neurocognitivos. 

Ademais, é essencial novas formas de tratamento e cuidados para gestante, através de parâmetros que sejam capazes de apontar as principais causas que levam a esses transtornos.       

Espera-se a partir dos resultados obtidos que, essa pesquisa bibliográfica forneça compreensões valiosas, visando melhorias tangíveis no âmbito da saúde.  Essas medidas têm o potencial não apenas de reduzir a incidência de transtornos, mas também de melhorar significativamente a qualidade de vida da saúde materno-fetal, a fim de diminuir o número  de neonatos com transtornos neurocognitivos. 

5  REFERÊNCIAS

BEZERRA, J. N.. Implicações clínicas das descobertas em genética e epigenética do autismo. Revista Ft. Ciências da Saúde, Medicina, Volume 28 – Edição 132/MAR 2024. 17/03/2024.  Disponível em: < https://revistaft.com.br/implicacoes-clinicas-das-descobertas-em-genetica-eepigenetica-do-autismo/

CARVALHO, J. A. D. et al. Nutrição e autismo: considerações sobre a alimentação do autista. Revista Científica do ITPAC. Araguaína, v. 5, n. 1, jan./2012. Disponível em: https://assets.unitpac.com.br/arquivos/revista/51/1

CRUZ,  I. C. L.;  SOUSA, B. M. da S.;  PEREIRA, T. B.;  SOUZA, I. M. V.; MACHADO, Fernanda de Melo Franco. O desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista está relacionado com a suplementação de altas doses de ácido fólico no período periconcepcional? Research, Society and Development, v. 10, n. 16, e88101623392, 2021. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/356898900_O_desenvolvimento_do_Transtorno_do _Espectro_Autista_esta_relacionado_com_a_suplementacao_de_altas_doses_de_acido_folico _no_periodo_periconcepcional

GRIESI-OLIVEIRA, K.; SERTIE, A. L.. Transtornos do espectro autista: um guia atualizado para aconselhamento genético. Revendo Ciências Básicas. Einstein (São Paulo) 15 (2). AprJun 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eins/a/YMg4cNph3j7wfttqmKzYsst/?lang=pt#

MAIA, C. S.; MENEZES, K. M. C. de; TENORIO, F. das C. A. M.; QUEIROZ JÚNIOR, J. R. A. de; MACIEL, G. E. de S.. Transtorno do espectro autista e a suplementação por ácido fólico antes e durante a gestação. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 68, n. 4, p. 231-243, dez. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S004720852019000400231&lng=en&nrm=iso  

SILVA, João Batista De Menezes. A correlação do excesso de ácido fólico na gestação e o transtorno do Espectro Autista (TEA). Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 12, Vol. 09, pp. 152-166. Dezembro de 2020. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/acido-folico


1Acadêmica do Curso de Medicina, Campus Maringá-PR, Universidade Cesumar – UNICESUMAR. analeticarneiro@gmail.com

2Acadêmica do Curso de Medicina, Campus Maringá-PR, Universidade Cesumar – UNICESUMAR. saraavelaar@gmail.com

3Orientadora, Doutora em Biociências e Fisiopatologia, Docente no Curso de Medicina, Campus Maringá-PR, Universidade Cesumar – UNICESUMAR.