GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NO DISTRITO FEDERAL: ANÁLISE E REFLEXÃO SOBRE OS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE.

ADOLESCENT PREGNANCY IN THE FEDERAL DISTRICT: ANALYSIS AND REFLECTION ON EPIDEMIOLOGICAL DATA FROM THE STATE DEPARTMENT OF HEALTH.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10668637


Danilo Bueno Naves¹;
Thiago Figueiredo De Castro²;
Bruno Pereira Stelet².


RESUMO

O presente estudo oferece uma investigação detalhada e reflexiva sobre a gravidez entre adolescentes na região, entre 2012 e 2021. Através de uma metodologia de análise retrospectiva dos dados do SINASC, disponíveis no Info Saúde DF, o estudo identifica tendências e padrões na incidência de gravidez em adolescentes de 10 a 19 anos, subdividindo em grupos de 10 a 14 anos e 15 a 19 anos. Os resultados apontam para uma diminuição geral dos nascimentos entre adolescentes, refletindo o sucesso de políticas de educação sexual e saúde reprodutiva. Contudo, a proporção estável de nascimentos entre as faixas etárias mais jovens e mais velhas destaca a necessidade de estratégias diferenciadas para cada grupo. A conclusão ressalta a importância de abordagens adaptadas às especificidades de diferentes faixas etárias para a continuidade efetiva na prevenção da gravidez na adolescência, enfatizando a necessidade de evolução contínua das políticas públicas e estratégias de saúde, promovendo o bem-estar e a saúde reprodutiva das jovens no Distrito Federal.

Palavras-chave: Adolescência. Gravidez. Análise retrospectiva. Distrito Federal.

ABSTRACT

The present study offers a detailed and reflective investigation into pregnancy among adolescents in the region, between 2012 and 2021. Using a retrospective analysis methodology of SINASC data, available at Info Saúde DF, the study identifies trends and patterns in the incidence of pregnancy in adolescents aged 10 to 19 years, subdividing into groups of 10 to 14 years and 15 to 19 years. The results point to a general decrease in births among teenagers, reflecting the success of sexual education and reproductive health policies. However, the stable proportion of births between the youngest and oldest age groups highlights the need for differentiated strategies for each group. The conclusion highlights the importance of approaches adapted to the specificities of different age groups for effective continuity in the prevention of teenage pregnancy, emphasizing the need for continuous evolution of public policies and health strategies, promoting the well-being and reproductive health of young women in the Federal District.

Keywords: Adolescence. Pregnancy. Retrospective analysis. Federal District.

INTRODUÇÃO

A gravidez na adolescência é definida como o período que vai dos 10 aos 19 anos. Esse é um período que compreende inúmeras mudanças psicossociais que podem interferir na maneira como o indivíduo percebe a si mesmo e o mundo a sua volta¹. A adolescência é um processo de ativação de hormônios sexuais que desencadeiam uma série de mudanças físicas e psicológicas, que por si levam a alguns conflitos com os pais, relacionado com uma busca de uma identidade própria, inseguranças e amor que muitas vezes se confundem com paixão e desejo.

Nesse sentido, as relações sexuais na adolescência, levam em conta o ponto de vista de cada pessoa, mas com influências sociais, e as decisões tomadas nesse período da vida, podem influenciar de maneiras diferentes, tanto a vida do indivíduo como sujeito, como a da sociedade como um todo. Umas das grandes consequências do desconhecimento sexual nessa fase da vida, é a gravidez que se desenvolve na adolescência.

A gravidez na adolescência está intimamente ligada com o período em que se tem a primeira relação sexual, acontecendo muitas vezes como um descuido pessoal de ambos os parceiros, e como resultado dessas gestações se tem alguns problemas sociais que se desencadeiam a partir daí, como dificuldades de vida, em aspectos psicossociais, financeiros e/ou principalmente na qualidade de vida, do casal, em especial da mãe adolescente e de seus filhos.²

No contexto da saúde pública ainda persiste um discurso normativo que considera a gravidez na adolescência um fator de risco social, reduzindo a gravidez na adolescência como resultado da pobreza, precariedade e falta do acesso aos serviços públicos de saúde, sendo muitas vezes considerada um reforço à pobreza e a marginalidade. Essa visão persistente no discurso normativo da saúde pública trata-se de uma visão reducionista. Ainda que a gravidez na adolescência se encontre associada a um contexto de desvantagem social, é necessário entender que sua existência já se dá em uma realidade pontuada por interrupções na trajetória escolar, oportunidade restritas e poucas opções de vida.³

A gestação na adolescência pode representar um problema no âmbito da Saúde Pública ou um problema social. Este estudo tem por objetivo, realizar uma análise detalhada e reflexiva dos dados epidemiológicos fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde sobre a gravidez na adolescência no Distrito Federal. Busca-se identificar tendências, padrões e mudanças na incidência de gravidez entre adolescentes de diferentes faixas etárias (10 a 14 anos e 15 a 19 anos) ao longo do período de 2012 a 2021. Além disso, o estudo visa compreender os fatores contribuintes para as tendências observadas, avaliando o impacto de políticas públicas e programas de saúde na prevenção da gravidez na adolescência.

METODOLOGIA

Essa pesquisa teve como metodologia a análise retrospectiva de dados da secretaria de saúde do Distrito Federal entre os anos de 2012 a 2021, analisando a proporção de nascidos vivos de mães adolescentes e a distribuição dos partos de adolescentes. Os partos de mães adolescentes foram separados por Regiões Administrativas de acordo com o local de residência de cada mãe adolescente. Além disso, foi realizado uma análise da regional de saúde, pois muitas vezes a Região Administrativa não foi informada.

O cálculo da proporção de nascidos vivos de mães adolescentes foi feito da seguinte forma: número de nascidos vivos de mães com idade até 19 anos no Distrito Federal, em um determinado ano, dividido pelo número total de nascido vivos no Distrito Federal, neste mesmo ano. O cálculo da proporção de nascidos vivos de mães adolescentes por Regiões

Administrativas foi feito da seguinte forma: Número de nascidos vivos de mães com idade até 19 anos em um determinado ano, em uma determina Região Administrativa do Distrito Federal dividido pelo número total de partos, nesse mesmo ano, na mesma região.

Todos os dados epidemiológicos usados nessa pesquisa foram adquiridos do banco de dados disponíveis no site Info Saúde DF da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, na área da Sala de Situação. Esse site centraliza todos os dados do SINASC (Sistema de Informação Sobre os Nascidos Vivos) do Distrito Federal, sendo alimentados semanalmente. Esse site é de acesso público à toda população.

Foi realizada pesquisa no portal de dados BVS, Bireme e UpToDate em busca de literatura atualizada e relacionada com esses dados epidemiológicos. Sendo utilizados como filtro estudos realizados nos últimos 5 anos e estudos do tipo Estudo de Prevalência e Revisão Sistemática e usado como descritor Gravidez na adolescência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da aplicabilidade da metodologia descrita, realizou-se a análise dos dados do SINASC, entre os anos de 2012 e 2021. Foram observados que em pacientes com 10 a 14 anos, dentre o período descrito, houve ao todo 1.692 partos; enquanto com pacientes entre 15 e 19 anos, houve ao todo 38.600 partos, conforme detalhados na tabela 1 abaixo:

Tabela 1: Partos de pacientes entre 10 e 19 anos

Ano10 a 14 anos15 a 19 anosNascimentos na AdolescênciaPercentual Nascimentos na AdolescênciaNascimentos Totais
20123646.7417.10515,12%46.992
20133676.9607.32715,14%48.381
20143606.6967.05614,71%47.973
20153246.1106.43413,54%47.518
20162795.6835.96213,32%44.772
20172325.4415.67312,46%45.509
20182525.2475.49912,06%45.573
20192574.9875.24411,87%44.172
20202004.6174.81711,23%42.870
20211814.2104.39110,59%41.451
Fonte: Elaboração própria, 2024.

Sequencialmente avaliou-se os dados referente aos nascimentos de acordo com cada grupo focal dentro do período em estudo. O gráfico 1 abaixo, apresenta os dados referente à uma análise da totalidade dos nascimentos entre 2012 e 2021.

A análise retrospectiva dos dados epidemiológicos sobre nascimentos totais no Distrito Federal, abrangendo o período de 2012 a 2021, revela tendências e variações significativas. Inicialmente, observa-se uma tendência geral de declínio no número de nascimentos ao longo desta década. Esta tendência é ilustrada pela diminuição gradual dos nascimentos, partindo de 46.992 em 2012 para 41.451 em 2021. Este declínio progressivo no número total de nascimentos pode ser indicativo de mudanças demográficas ou sociais na região, possivelmente refletindo alterações nas taxas de fecundidade ou na composição etária da população.

Interessantemente, apesar dessa tendência decrescente geral, os dados anuais apresentam variações notáveis. Um exemplo claro dessa flutuação é o aumento observado de 2012 para 2013, onde o número de nascimentos subiu de 46.992 para 48.381. Este aumento, seguido por uma leve diminuição nos anos subsequentes, sugere a influência de fatores anuais específicos que podem ter afetado as taxas de natalidade. Estas variações anuais podem ser atribuídas a uma gama de fatores, incluindo mudanças nas políticas públicas, condições econômicas ou mesmo fenômenos sociais que afetam a decisão de ter filhos.

Além disso, a análise destaca 2013 como o ano com o maior número de nascimentos ao longo da década, contrastando com 2021, que registrou o menor número de nascimentos. Este contraste entre o pico e o ponto mais baixo dentro do período estudado pode oferecer insights valiosos sobre as dinâmicas de natalidade na região. O pico de 2013 pode ser explorado em futuras investigações para entender os fatores que contribuíram para este aumento, enquanto a diminuição contínua até o ponto mais baixo em 2021 pode indicar tendências demográficas mais amplas e persistentes.

Seguindo com o estudo, analisou-se o total de nascimentos na adolescência dentro do período em estudo. O gráfico 2 e 3 apresentam os dados estudados, sendo que o gráfico 3 apresenta em forma de porcentagem o histórico do total de nascimentos na adolescência:

A análise dos dados sobre os nascimentos na adolescência no Distrito Federal entre 2012 e 2021 oferece insights valiosos sobre as tendências da gravidez na adolescência na região. Observa-se uma diminuição consistente tanto no número absoluto quanto no percentual de nascimentos na adolescência ao longo deste período.

Inicialmente, em 2012, foram registrados 7.105 nascimentos na adolescência, representando 15,12% do total de nascimentos naquele ano. Esta proporção se manteve praticamente estável em 2013, com 7.327 nascimentos (15,14%). No entanto, a partir de 2014, inicia-se uma tendência de declínio tanto no número absoluto quanto no percentual de nascimentos na adolescência. Em 2014, o número caiu para 7.056 (14,71%), seguido por uma redução mais acentuada em 2015 para 6.434 (13,54%).

Este padrão de diminuição prossegue nos anos subsequentes. Em 2016, foram registrados 5.962 nascimentos na adolescência (13,32%), e este número continuou caindo ano a ano, atingindo 5.673 (12,46%) em 2017, 5.499 (12,06%) em 2018, 5.244 (11,87%) em 2019, 4.817 (11,23%) em 2020, até chegar a 4.391 (10,59%) em 2021. A variação anual percentual mostra um declínio contínuo, indicando uma tendência consistente de redução da gravidez na adolescência na região ao longo da década.

Essa tendência de diminuição pode ser reflexo de várias iniciativas, como programas de educação sexual, maior acesso a métodos contraceptivos, ou mudanças nas atitudes sociais e comportamentais dos adolescentes. A consistência dessa tendência ao longo dos anos sugere que os fatores contribuintes para a redução da gravidez na adolescência no Distrito Federal são sustentáveis e eficazes.

Seguindo, o gráfico 4 apresenta a quantidade dos nascimentos na adolescência entre os 10 e 14 anos de idade.

A análise dos dados sobre os nascimentos entre adolescentes de 10 a 14 anos no Distrito Federal, ao longo do período de 2012 a 2021, revela uma tendência importante. O número de nascimentos nesta faixa etária mostra uma diminuição significativa ao longo da década. No início do período estudado, em 2012, foram registrados 364 nascimentos de mães entre 10 e 14 anos. Este número permaneceu relativamente estável em 2013, com 367 nascimentos, e 360 em 2014. No entanto, a partir de 2015, observa-se uma tendência de declínio acentuado. Em 2015, o número caiu para 324 e continuou diminuindo nos anos seguintes, alcançando 279 em 2016, 232 em 2017, um ligeiro aumento para 252 em 2018, mas depois caindo novamente para 257 em 2019, 200 em 2020 e finalmente 181 em 2021.

A média de nascimentos nesta faixa etária ao longo do período estudado foi de aproximadamente 282, com uma tendência clara de redução ao longo dos anos. Este padrão de declínio pode ser interpretado como um indicativo de melhorias em políticas de educação sexual, acesso a serviços de saúde reprodutiva e maior conscientização entre adolescentes sobre gravidez e métodos contraceptivos. Adiante com o estudo, o gráfico 5 apresenta a quantidade dos nascimentos na adolescência entre os 15 e 19 anos de idade.

A análise dos dados sobre os nascimentos entre adolescentes de 15 a 19 anos no Distrito Federal, de 2012 a 2021, destaca uma tendência de declínio significativa na quantidade de nascimentos nesta faixa etária ao longo da década. Em 2012, foram registrados 6.741 nascimentos de mães adolescentes entre 15 e 19 anos. Este número subiu ligeiramente em 2013, alcançando 6.960, o que representa o valor mais alto durante o período analisado. Após 2013, observa-se uma tendência constante de diminuição. Em 2014, o número de nascimentos caiu para 6.696 e continuou a diminuir nos anos seguintes, chegando a 6.110 em 2015, 5.683 em 2016, e 5.441 em 2017. Esta tendência de declínio se manteve nos anos seguintes, com 5.247 nascimentos registrados em 2018, 4.987 em 2019, 4.617 em 2020, e finalmente caindo para 4.210 em 2021. A média de nascimentos nesta faixa etária ao longo do período estudado foi de aproximadamente 5.669.

Este padrão de redução nos nascimentos entre adolescentes de 15 a 19 anos é um indicativo importante de mudanças nas práticas reprodutivas e comportamentais desta faixa etária. Pode refletir o impacto de programas educativos, maior acesso a serviços de saúde reprodutiva e contraceptivos, além de uma maior conscientização sobre as implicações da gravidez na adolescência. Fechando as análises, o gráfico 6 abaixo trás um comparativo entre os dados apresentados nos gráficos 4 e 5 acima.

A análise comparativa dos dados de nascimentos entre adolescentes de 10 a 14 anos e de 15 a 19 anos no Distrito Federal, ao longo do período de 2012 a 2021, revela aspectos cruciais sobre a dinâmica da gravidez na adolescência em diferentes faixas etárias. Essa comparação mostra que, embora a gravidez seja mais prevalente entre as adolescentes de 15 a 19 anos, há uma parcela significativa de nascimentos entre as mais jovens, de 10 a 14 anos, que não deve ser negligenciada.

Em 2012, os dados mostram 364 nascimentos de adolescentes de 10 a 14 anos, em contraste com 6.741 nascimentos de adolescentes de 15 a 19 anos. Esta proporção manteve-se relativamente estável ao longo dos anos, evidenciando que os nascimentos entre as adolescentes mais jovens, apesar de menos frequentes, representam uma fração consistente do total de nascimentos na adolescência. Em 2013, por exemplo, houve um ligeiro aumento para 367 nascimentos entre as mais jovens, comparado a 6.960 entre as mais velhas. A partir de 2014, começou-se a observar uma leve diminuição nos nascimentos em ambas as faixas etárias.

Interessantemente, a tendência de declínio nos nascimentos foi mais acentuada entre as adolescentes de 15 a 19 anos. Por exemplo, em 2021, os nascimentos de adolescentes de 10 a 14 anos caíram para 181, enquanto os de 15 a 19 anos reduziram significativamente para 4.210. Este declínio pode ser atribuído a uma série de fatores, incluindo melhores programas de educação sexual, maior acesso a serviços de saúde reprodutiva e um aumento na conscientização sobre as consequências da gravidez precoce. A proporção média de nascimentos entre as duas faixas etárias ao longo dos anos se manteve em torno de 4,9%, sugerindo que as estratégias de prevenção da gravidez na adolescência estão impactando ambos os grupos de forma proporcional.

Destaca-se também que a tendência decrescente na incidência de nascimentos na adolescência no Distrito Federal, no período entre 2012 e 2021. Esta diminuição é perceptível tanto no grupo etário de 10 a 14 anos quanto no de 15 a 19 anos. Em 2012, as pacientes adolescentes correspondiam a 10,57% do total de nascimentos, com 4.965 nascimentos na faixa etária de 10 a 19 anos, de um total de 46.992. Em contraste, em 2021, essa proporção caiu para 6,76%, com 2.802 nascimentos na faixa etária de 10 a 19 anos, de um total de 41.451.

Essa análise destaca a necessidade de políticas públicas e programas educacionais que sejam diferenciados, abordando as necessidades específicas de diferentes grupos etários dentro da adolescência. Para as adolescentes mais jovens, estratégias mais direcionadas são necessárias, considerando os desafios únicos e os fatores de vulnerabilidade que enfrentam. Já para as adolescentes mais velhas, o foco deve continuar sendo o reforço das estratégias atuais, que têm contribuído para a redução na gravidez na adolescência.

Pois, embora a redução na proporção de nascimentos na adolescência possa refletir uma série de fatores, incluindo mudanças nas políticas de saúde, melhores oportunidades educacionais e maior acesso a métodos contraceptivos, ainda é preocupante notar que os nascimentos na adolescência continuam a compor uma proporção significativa do total de nascimentos. O grupo de 15 a 19 anos consistentemente registrou um número maior de nascimentos em comparação ao grupo de 10 a 14 anos durante o período analisado. Contudo, o fato de ainda haver nascimentos registrados na faixa etária de 10 a 14 anos indica a persistência de uma questão complexa que exige ações direcionadas para sua resolução. Portanto, apesar dos avanços, ainda há a necessidade de esforços continuados e focados para reduzir ainda mais a gravidez na adolescência, principalmente em áreas de renda média baixa, conforme identificado no resumo deste estudo.

A taxa de gravidez na adolescência no Brasil é superior à média mundial. Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde afirmam que 14% de todos os nascimentos no Brasil em 2020 foram de mães com menos de 19 anos. Embora a taxa seja menor do que em anos anteriores, ainda é pior do que em outros países latino-americanos, como Argentina, Chile, Costa Rica, Peru e Uruguai, segundo o escritório latino-americano do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Dados compilados pelo projeto “Gestação e Parto na Adolescência: Estudo de Coorte de 100 Milhões de Brasileiros” desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos em Saúde (CIDACS-Fiocruz) também mostram o impacto da desigualdade e do racismo sobre as adolescentes.⁴

No contexto do Brasil, além das meninas em situação de desvantagem social, a gravidez na adolescência ocorre com maior frequência entre as meninas com menor escolaridade, renda e acesso aos serviços públicos. A discussão sobre este tema assume, assim, uma urgência acrescida, uma vez que as mães pré-termo têm muitas vezes menos acesso a informações de prevenção e são também mais vulneráveis a comportamentos violentos.⁵

Em 2018, a UNICEF recolheu 22 projetos que a organização considerou bem-sucedidos e publicou-os numa publicação intitulada “Múltiplas trajetórias: Práticas que ajudam a reduzir a gravidez indesejada na adolescência”. Esta publicação reúne ações em diversas cidades brasileiras, impulsionadas pelo terceiro setor e poder público, onde são consideradas exitosas no combate à gravidez na adolescência. Uma delas é do Distrito Federal: o Adolescentro, uma unidade de saúde secundária voltada para o atendimento de adolescentes com transtornos mentais, vítimas de violência sexual e questões de diversidade e seus familiares.⁶

No Distrito Federal, além do Adolescentro, podem ser encontradas outras ações voltadas para a redução da gravidez na adolescência. A Lei Regional nº 4.349, de 26 de junho de 2009, estabelece a política de prevenção e atendimento à gravidez na adolescência no Distrito Federal. A política visa promover a prevenção da gravidez precoce por meio de ações em serviços de saúde e escolas; orientação sobre métodos contraceptivos; atendimento psicológico, atendimento ambulatorial e pré-natal. Outras ações também podem ser destacadas: Em 2020, 19 unidades públicas de saúde do Distrito Federal receberam o Selo UNFPA de Qualidade no Atendimento ao Adolescente – Chega Mais, o selo busca atendimento e atenção aos jovens credenciados que atuam nos serviços profissionais e públicos de saúde do Distrito Federal.⁴

Em 1998, 23% dos nascimentos no Brasil e 22% no Distrito Federal eram adolescentes; em 2018, esse número diminuiu para 16% e 10%, respectivamente. Apesar do declínio, a gravidez na adolescência ainda requer atenção especial do Estado e da sociedade, pois pode comprometer a possibilidade de as meninas exercerem seus direitos à educação, saúde e autonomia. Os custos da gravidez precoce e do parto vão além do indivíduo, afetando famílias, comunidades e economias. Existem impactos psicológicos e de saúde, incluindo riscos de mortalidade materna e de saúde infantil, bem como perturbações na educação, aprendizagem e consequente redução do capital humano, em detrimento do desenvolvimento nacional. ⁴

Organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) recomendam que métodos e diretrizes operacionais sejam baseados nos princípios e valores dos direitos humanos e sexuais, independentemente de raça, gênero, religião, econômico ou social, utilizando informações precisas e criteriosas cientificamente comprovadas. Especialistas acreditam que é necessário promover educação sobre saúde sexual, como planejamento familiar e métodos contraceptivos, especialmente métodos contraceptivos de longa duração, como dispositivos intrauterinos. Informações qualificadas para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e empoderamento devem estar disponíveis de forma universal para que os serviços de saúde possam garantir o acesso aos métodos contraceptivos independentemente da presença dos pais ou responsáveis. ⁶

CONCLUSÕES

A sexualidade é uma dimensão fundamental da experiência humana, abrangendo aspectos biológicos, emocionais, sociais e éticos. No contexto brasileiro, a legislação reflete uma preocupação crescente com a proteção de crianças e adolescentes no espectro da sexualidade, particularmente no que diz respeito às relações sexuais envolvendo menores de 14 anos. A legislação brasileira classifica qualquer ato sexual com menores de 14 anos como estupro de vulnerável, independentemente do consentimento, reconhecendo a incapacidade legal desse grupo etário para consentir com atos sexuais. Essa postura legal sublinha a importância de políticas e práticas educacionais voltadas para a promoção da saúde sexual e reprodutiva, ao mesmo tempo que busca proteger os direitos e a integridade física e emocional de crianças e adolescentes. Desta forma, concluiu-se que a gravidez nessa faixa etária não apenas traz consigo desafios significativos para a saúde e o bem-estar da adolescente e da criança, mas também levanta questões legais e éticas complexas que exigem atenção cuidadosa da sociedade e dos órgãos governamentais.

Além disso, a conclusão do estudo sobre a gravidez na adolescência no Distrito Federal, baseada na análise de dados de 2012 a 2021, revela tendências importantes e implicações significativas para políticas públicas e estratégias de saúde. Primeiramente, observou-se uma tendência geral de declínio no número de nascimentos entre adolescentes, tanto nas faixas etárias de 10 a 14 anos quanto de 15 a 19 anos. Este declínio sugere o impacto positivo de iniciativas de educação sexual, melhor acesso a serviços de saúde reprodutiva e maior conscientização sobre as consequências da gravidez precoce. A consistência dessa tendência ao longo dos anos indica que as ações implementadas são sustentáveis e eficazes.

Importante destacar, no entanto, é a manutenção da proporção de nascimentos entre as faixas etárias mais jovens e mais velhas. Isso ressalta a necessidade de políticas e programas que sejam diferenciados e adaptados às necessidades específicas de diferentes grupos etários dentro da adolescência. Para as adolescentes mais jovens, estratégias focadas em educação e conscientização sobre saúde reprodutiva e sexualidade são fundamentais. Para as adolescentes mais velhas, a continuidade e reforço das estratégias atuais são essenciais para manter a tendência de redução da gravidez na adolescência.

Além disso, a análise aponta para a necessidade de investigação contínua sobre os fatores subjacentes que influenciam a gravidez na adolescência. Isso inclui fatores sociais, econômicos e culturais que podem impactar as decisões reprodutivas das adolescentes. A compreensão desses fatores é crucial para o desenvolvimento de políticas e programas mais eficazes e direcionados.

Em conclusão, o estudo sobre a gravidez na adolescência no Distrito Federal evidencia uma redução significativa nos nascimentos entre adolescentes, refletindo o sucesso de iniciativas de prevenção e educação. No entanto, ressalta também a necessidade de abordagens continuadas e adaptadas às especificidades de diferentes faixas etárias. É fundamental que as políticas públicas e estratégias de saúde continuem a evoluir e a se adaptar, garantindo a eficácia no enfrentamento da gravidez na adolescência e promovendo o bem-estar e a saúde reprodutiva das jovens no Distrito Federal. A atenção a essas tendências e a aplicação de aprendizados a partir desses dados são cruciais para futuras intervenções e para a sustentabilidade de longo prazo dos esforços de prevenção da gravidez na adolescência.

REFERÊNCIAS

  1. CURBELO, Aliucha Díaz; BOZA, Alejandro Jesús Velasco; LÓPEZ, Jerjes Iván Gutiérrez; MESA, Julio Abelardo Muro; SEVILLANO, Juan Carlos Álvarez. Embarazo en la adolescencia, un problema de salud en el policlínico “Efraín Mayor Amaro” del Cotorro, La Habana. Revista Cubana de Obstetricia y Ginecología, Vol. 45, No. 2 (2019) revginecobstetricia.sld.cu/index.php/gin/rt/printerFriendly/450/379
  2. RIBEIRO, Lucas Nogueira Simoes. Gravidez na adolescência: prevenção e conscientização. Universidade Federal de São Paulo Universidade Aberta do SUS, São Paulo, 2020.
  3. RIBEIRO PM, Gualda DMR. Gestação na adolescência: a construção do processo SaúdeResiliência. Escola Anna Nery. 2011 Jun;15(2):361–71.
  4. CODEPLAN. Retratos Sociais DF 2018: O perfil sociodemográfico da população negra do Distrito Federal, Brasília, 2020.
  5. HELENA, G. et al. Gravidez na adolescência e fatores associados com baixo peso ao nascer. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia; 30(5): 224-31, 2018.
  6. SOUZA, K. de; et al. Gravidez na adolescência e impactos no desenvolvimento infantil. Adolescência & Saúde, volume 4, no 1. 2017.

¹RESDIENTE EM MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE DA SES/DF, DANILONAVES@GMAIL.COM
²PRECEPTOR DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE SES/DF