GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E SUAS COMPLICAÇÕES: UMA REVISÃO  DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505171902


Rhayza Ferro Pereira Dias1; Deliane Alves Ferreira2; Francisca Medrade Oliveira3; Dennifer Naiara Alves de Souza e Silva4; Ana Maria Nascimento de Oliveira5; Amanda dos Santos sá Monteiro6; Orientador: Pedro Henrique Rodrigues Alencar7


Resumo

A gravidez na adolescência é um tema relevante na saúde pública devido aos  impactos físicos, emocionais e socioeconômicos que acarreta. Este estudo trata-se de uma  revisão de literatura com o objetivo de analisar as principais complicações obstétricas e  os fatores de risco associados à gravidez na adolescência, bem como a efetividade das  políticas públicas voltadas para essa população. A pesquisa foi realizada nas bases de  dados SciELO, Periódicos CAPES e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), contemplando  publicações entre 2019 e 2024. Foram selecionados 14 estudos, seguindo critérios de  inclusão que priorizaram artigos em português, disponíveis na íntegra e classificados  como pesquisas originais ou revisões sistemáticas. Os resultados indicam que a gravidez  precoce está associada a um maior risco de complicações obstétricas, como parto  prematuro e hipertensão gestacional, além de desafios sociais, como evasão escolar e  vulnerabilidade econômica. Conclui-se que a ampliação de políticas públicas eficazes e  programas de educação sexual são essenciais para a redução dos índices de gravidez na  adolescência e suas complicações. 

Palavras-chave: Gravidez na adolescência; Complicações obstétricas; Saúde  reprodutiva; Políticas públicas. 

Abstract

Teenage pregnancy is a relevant issue in public health due to the physical,  emotional and socioeconomic impacts it causes. This study is a literature review with the  objective of analyzing the main obstetric complications and risk factors associated with  teenage pregnancy, as well as the effectiveness of public policies aimed at this population.  The research was conducted in the SciELO, CAPES Periodicals and Virtual Health  Library (BVS) databases, covering pu1blications between 2019 and 2024. Fourteen  studies were selected, following inclusion criteria that prioritized articles in Portuguese,  available in full and classified as original research or systematic reviews. The results  indicate that.early pregnancy is associated with a higher risk of obstetric complications,  such as premature birth and gestational hypertension, in addition to social challenges,  such as school dropout and economic vulnerability. It is concluded that the expansion of  effective public policies and sex education programs are essential to reduce the rates of  teenage pregnancy and its complications.  

Keywords: Teenage pregnancy; Obstetric complications; Reproductive health; Public  policies. 

INTRODUÇÃO 

A gravidez na adolescência é considerada uma condição de alto risco e uma  questão de saúde pública, com implicações significativas para a saúde física, emocional  e social da adolescente e de seu filho. Essa situação pode comprometer o desenvolvimento  educacional, profissional e pessoal da jovem, além de afetar diretamente a qualidade de  vida da criança nascida desse contexto (SOUZA et al., 2021; FERREIRA & LIMA,  2020). 

No âmbito da saúde pública, a gestação na adolescência impõe desafios para o  sistema de saúde, que precisa oferecer um acompanhamento pré-natal específico e  adaptado às necessidades dessa população. Complicações como parto prematuro,  hipertensão gestacional e baixo peso ao nascer são mais frequentes nesse grupo, exigindo  uma atenção especializada e contínua durante toda a gestação (SILVA et al., 2020;  CORTEZ et al., 2021). 

O início da vida sexual sem a devida orientação e o desconhecimento sobre  métodos contraceptivos são fatores frequentemente apontados como causas do aumento  das taxas de gravidez precoce. A ausência de programas de educação sexual nas escolas  e a resistência cultural em discutir o tema contribuem para que adolescentes entrem na  vida adulta sem informações adequadas sobre sexualidade e saúde reprodutiva (MENDES  & CARDOSO, 2021; DAMASCENO & CARDOSO, 2023). 

Além disso, aspectos sociais e econômicos influenciam diretamente esse  fenômeno. A gravidez precoce é mais comum entre adolescentes de baixa renda, que  vivem em contextos de vulnerabilidade social e com limitado acesso aos serviços públicos  de saúde. Nessas condições, o risco de exclusão escolar e dependência financeira aumenta  significativamente, perpetuando um ciclo de pobreza e desigualdade (PEREIRA, 2023;  OLIVEIRA & AGUIAR, 2021). 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que a gravidez na adolescência  é um problema global, mas que atinge com maior intensidade os países em  desenvolvimento, onde barreiras culturais e estruturais dificultam o acesso a políticas  públicas eficazes. Essa realidade também é observada no Brasil, onde os índices de  gravidez precoce permanecem elevados, especialmente nas regiões Norte e Nordeste  (COSTA et al., 2023; BRASIL, 2023). 

A falta de acolhimento e de estratégias de atendimento humanizado nos serviços  de saúde contribui para a fragilidade do cuidado com as adolescentes gestantes. Muitas  delas relatam experiências de julgamento, despreparo profissional e ausência de suporte  emocional, o que afeta diretamente o vínculo com os serviços e o seguimento adequado  do pré-natal (SANCHES et al., 2019; SANTOS et al., 2022). 

Outro fator preocupante é o impacto emocional da gravidez precoce. A  adolescência é um período de transformações físicas e psicológicas, e a gestação pode  acentuar sentimentos de medo, insegurança e isolamento. A falta de suporte familiar e  comunitário pode levar ao desenvolvimento de quadros depressivos e ansiosos, muitas  vezes tratados de forma inadequada com medicamentos psicotrópicos, que apresentam  riscos para o feto (MOUSINHO et al., 2022). 

Nesse cenário, a atuação multiprofissional torna-se essencial. O trabalho de  enfermeiras obstétricas, psicólogos, assistentes sociais e educadores pode contribuir para  o acolhimento e a redução das complicações associadas à gravidez na adolescência.  Intervenções interdisciplinares e políticas públicas integradas são fundamentais para  oferecer suporte às gestantes adolescentes e promover a saúde materno-infantil  (CARVALHO & OLIVEIRA, 2023; SANTOS & OLIVEIRA, 2019). 

A prevenção da gravidez precoce exige uma abordagem ampla, que envolva a  escola, a família e os serviços de saúde. Investimentos em educação sexual, acesso gratuito a métodos contraceptivos, campanhas informativas e formação de profissionais  de saúde para o acolhimento qualificado são medidas que podem reduzir os índices de  gravidez na adolescência e suas complicações (MENDES & CARDOSO, 2021). 

Diante desse contexto, este estudo justifica-se pela importância de compreender  as múltiplas dimensões que envolvem a gravidez na adolescência, desde os fatores de  risco até as consequências clínicas e sociais. O objetivo desta pesquisa é analisar, por  meio de uma revisão de literatura, as principais complicações obstétricas associadas à  gestação precoce, bem como avaliar a efetividade das políticas públicas voltadas à  prevenção e ao cuidado com as adolescentes gestantes no Brasil. 

REFERÊNCIAL TEÓRICO 

1. Gravidez na Adolescência e Complicações Obstétricas 

A gravidez na adolescência é considerada de alto risco obstétrico devido às  particularidades fisiológicas e sociais que envolvem essa faixa etária. O organismo da  adolescente, por ainda estar em fase de desenvolvimento, pode não estar totalmente  preparado para as exigências da gestação, o que aumenta a probabilidade de  intercorrências clínicas. Estudos indicam que adolescentes grávidas apresentam maior  incidência de trombofilias hereditárias, condições que afetam a coagulação sanguínea e  podem comprometer tanto a saúde da mãe quanto a do feto (DAMASCENO &  CARDOSO, 2023). 

Além dos fatores biológicos, o contexto social exerce forte influência sobre os  desfechos da gravidez na adolescência. Adolescentes em situação de vulnerabilidade  social tendem a apresentar maior risco de desenvolver hipertensão gestacional, diabetes  e outras complicações obstétricas. A análise da Classificação de Robson, por exemplo,  tem evidenciado uma concentração de complicações clínicas em adolescentes de faixas  etárias mais precoces e com menor suporte socioeconômico (CORTEZ et al., 2021;  BRASIL, 2023). 

Diante disso, o acompanhamento pré-natal deve ser adaptado às necessidades das  adolescentes, com abordagem específica e individualizada. A detecção precoce das  complicações, a orientação contínua e o acesso aos exames laboratoriais adequados são  estratégias essenciais para reduzir os riscos e promover uma gestação mais segura. Nesse  sentido, políticas públicas voltadas para essa população devem incluir a capacitação das  equipes de saúde para o atendimento humanizado e eficaz das gestantes adolescentes  (MENDES & CARDOSO, 2021).

2. Assistência de Enfermagem Obstétrica 

A enfermagem obstétrica desempenha papel fundamental no cuidado à gestante  adolescente, atuando de forma humanizada e acolhedora. O vínculo estabelecido entre a  enfermeira e a gestante contribui para a adesão ao pré-natal e para a promoção de práticas  seguras no trabalho de parto. A presença constante da profissional de enfermagem durante  o processo gestacional favorece o empoderamento da adolescente e reduz o estresse  relacionado à experiência do parto (SANCHES et al., 2019). 

Estudos apontam que o suporte emocional fornecido pela equipe de enfermagem  impacta positivamente na vivência do parto, especialmente quando se trata de  adolescentes que, muitas vezes, enfrentam esse momento de forma solitária. A escuta  ativa, o acolhimento e a educação em saúde são ferramentas utilizadas pela enfermagem  para garantir um cuidado integral, respeitando as particularidades da paciente e  promovendo um ambiente de confiança (SANTOS et al., 2022). 

Além do acompanhamento clínico, as enfermeiras obstétricas são responsáveis  por ações educativas que visam o esclarecimento sobre sinais de alerta, cuidados com o  recém-nascido e planejamento reprodutivo pós-parto. A qualificação profissional e o  compromisso com a humanização do parto contribuem para a redução de intervenções  desnecessárias e para o fortalecimento do protagonismo da gestante no processo de  nascimento (CARVALHO & OLIVEIRA, 2023). 

3. Distúrbios Hipertensivos em Adolescentes 

Entre as principais causas de morbimortalidade materna em adolescentes estão os  distúrbios hipertensivos da gestação, especialmente a pré-eclâmpsia e a hipertensão  gestacional. Essas condições são frequentemente diagnosticadas de forma tardia, devido  à baixa frequência das consultas pré-natais ou à dificuldade de acesso a serviços  especializados. Em regiões mais vulneráveis, a ausência de suporte médico qualificado  contribui para o agravamento dos casos (CORTEZ et al., 2021). 

A hipertensão na gravidez está diretamente relacionada a desfechos adversos  como parto prematuro, restrição do crescimento fetal e óbito neonatal. Estudos realizados  em populações adolescentes revelam que a prevalência dessas complicações é superior  quando comparada a gestantes adultas, evidenciando a necessidade de estratégias  específicas para esse grupo (DAMASCENO, 2023; BRASIL, 2023). 

A prevenção e o monitoramento dos distúrbios hipertensivos exigem uma  abordagem multidisciplinar que inclua não apenas a assistência médica, mas também ações educativas e sociais. A promoção de hábitos saudáveis, o controle do estresse e a  adesão ao tratamento são fatores decisivos para a redução dos riscos. Dessa forma,  políticas públicas que ampliem o acesso à saúde e promovam a equidade no atendimento  pré-natal são fundamentais (SILVA et al., 2021). 

4. Ganho de Peso Gestacional em Adolescentes 

O ganho de peso gestacional adequado é um dos principais indicadores de saúde  materna e fetal, estando diretamente relacionado ao desenvolvimento intrauterino do bebê  e à evolução saudável da gravidez. No entanto, adolescentes grávidas frequentemente  enfrentam dificuldades em atingir os níveis recomendados de peso devido a fatores como  insegurança alimentar, baixa escolaridade e desconhecimento sobre nutrição (SANTOS  et al., 2022). 

A ausência de orientação nutricional específica agrava o quadro, resultando em  consequências como restrição do crescimento fetal, aumento do risco de parto prematuro  e complicações neonatais. Pesquisas mostram que muitas gestantes adolescentes não  recebem o devido acompanhamento nutricional durante o pré-natal, o que prejudica a  adoção de hábitos alimentares saudáveis e o controle do ganho ponderal ao longo da  gestação (BRASIL, 2023). 

Nesse sentido, a implementação de programas nutricionais voltados para  adolescentes grávidas torna-se essencial. Tais programas devem incluir ações de  educação alimentar e fornecimento de suplementação adequada, especialmente em  contextos de vulnerabilidade social. O envolvimento da equipe multiprofissional, com  destaque para nutricionistas e enfermeiros, é imprescindível para garantir o sucesso  dessas intervenções e contribuir para a saúde materna e neonatal (CARVALHO &  OLIVEIRA, 2023). 

5. Impacto Psicossocial da Gravidez na Adolescência 

A gravidez precoce traz importantes repercussões psicológicas e sociais,  interferindo no desenvolvimento emocional da adolescente e influenciando  negativamente sua trajetória de vida. O abandono escolar, a interrupção de projetos  pessoais e a sobrecarga emocional imposta pela maternidade precoce são fatores que  geram sofrimento psíquico e sentimentos de isolamento (MOUSINHO et al., 2022). 

Além das mudanças físicas e hormonais, a adolescente grávida pode enfrentar o  estigma social, o julgamento moral e a rejeição por parte da família ou da comunidade.  Essa realidade agrava os quadros de ansiedade e depressão, aumentando a vulnerabilidade emocional dessa população. Estudos revelam que muitas adolescentes recorrem ao uso  de medicamentos psicotrópicos sem acompanhamento profissional, o que eleva o risco  de efeitos colaterais tanto para a mãe quanto para o feto (OLIVEIRA & AGUIAR, 2021). 

Diante desse contexto, é fundamental a oferta de apoio psicossocial por meio de  serviços especializados, como psicologia, assistência social e grupos de apoio. Tais  estratégias promovem o fortalecimento da autoestima, o acolhimento e o enfrentamento  das dificuldades decorrentes da gravidez precoce. Políticas públicas inclusivas, que  garantam suporte emocional e educacional, são decisivas para minimizar os impactos  psicossociais da gestação na adolescência (SILVA et al., 2021). 

6. Mortalidade Materna e Intercorrências Obstétricas 

A mortalidade materna entre adolescentes ainda representa um grave problema de  saúde pública, principalmente em regiões com limitada estrutura de atendimento  obstétrico. A falta de acesso a serviços especializados, o início tardio do pré-natal e a  baixa qualidade do acompanhamento contribuem significativamente para o agravamento  de intercorrências obstétricas (SILVA et al., 2021). 

Entre as principais causas de mortalidade estão as hemorragias, infecções,  eclâmpsia e complicações decorrentes de partos mal assistidos. A ausência de  profissionais capacitados para identificar e intervir nas emergências obstétricas aumenta  os riscos de óbito materno e neonatal. Muitos desses casos poderiam ser evitados com  ações preventivas e estrutura adequada de saúde (MOUSINHO et al., 2022). 

Assim, o fortalecimento da atenção básica, com equipes treinadas para o  atendimento pré-natal e obstétrico de adolescentes, é imprescindível para a redução da  mortalidade materna. Investimentos em capacitação profissional, ampliação do acesso a  exames e monitoramento contínuo da gestação são estratégias que devem ser priorizadas  nas políticas de saúde voltadas para esse público (BRASIL, 2023). 

7. Influência dos Aspectos Biológicos e Sociais na Gravidez Adolescente 

Os fatores biológicos e sociais estão intrinsecamente relacionados à ocorrência da  gravidez na adolescência e às suas complicações. A imaturidade fisiológica da  adolescente, aliada à ausência de conhecimento sobre o próprio corpo, contribui para uma  gestação de maior risco e com maior vulnerabilidade a complicações (PEREIRA, 2023). 

Do ponto de vista social, adolescentes de baixa renda, com baixa escolaridade e  inseridas em contextos de exclusão, apresentam maior probabilidade de engravidar precocemente. A precariedade das condições de vida, a violência doméstica, o abuso  sexual e a ausência de diálogo familiar sobre sexualidade são fatores que aumentam  significativamente os índices de gravidez precoce (OLIVEIRA & AGUIAR, 2021). 

Portanto, é necessário adotar uma abordagem intersetorial que envolva a saúde, a  educação e a assistência social, a fim de promover o desenvolvimento integral dos  adolescentes. Programas de apoio socioeducativo, políticas de proteção social e acesso  universal à educação sexual são pilares para a prevenção e o enfrentamento da gravidez  na adolescência e de suas consequências (SILVA et al., 2020). 

METODOLOGIA 

Este estudo caracteriza-se como uma revisão de literatura integrativa, cuja  finalidade é reunir, analisar e sintetizar publicações científicas recentes que abordam a  gravidez na adolescência e suas principais complicações obstétricas. A abordagem  metodológica adotada permitiu uma análise ampla e sistemática da produção acadêmica  sobre o tema, possibilitando o levantamento de evidências relevantes para subsidiar a  discussão e compreensão da problemática. 

A coleta de dados foi realizada entre os meses de janeiro e março de 2025,  utilizando como fontes as seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online  (SciELO), Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior  (CAPES) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Essas bases foram selecionadas por sua  relevância na área da saúde, abrangência de publicações em língua portuguesa e acesso  gratuito a artigos completos. 

Para a realização da busca, foram utilizados descritores controlados extraídos dos  Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “gravidez na adolescência”, “complicações  obstétricas”, “saúde reprodutiva” e “políticas públicas”. Os descritores foram combinados  com os operadores booleanos AND e OR, a fim de refinar os resultados e garantir a  inclusão de artigos que abordassem especificamente a temática proposta. A estratégia de  busca foi aplicada individualmente em cada base, respeitando suas particularidades e  filtros de pesquisa. 

Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos artigos foram: (1)  publicações no idioma português; (2) artigos disponíveis na íntegra; (3) estudos  publicados no período de 2019 a 2024; e (4) artigos classificados como pesquisas originais, revisões de literatura ou revisões sistemáticas que abordassem direta ou  indiretamente a gravidez na adolescência e suas complicações. 

Foram excluídos da análise: (1) artigos repetidos nas bases de dados; (2) trabalhos  que tratassem exclusivamente de gravidez em outras faixas etárias que não incluíssem  adolescentes (10 a 19 anos, segundo a OMS); (3) editoriais, cartas ao leitor, resumos de  eventos científicos, dissertações, teses e monografias; e (4) artigos que não apresentassem  dados empíricos ou não abordassem complicações obstétricas ou políticas públicas  relacionadas. 

Após a aplicação dos critérios de elegibilidade, foram inicialmente identificados  138 artigos, sendo 121 na BVS, 15 nos Periódicos CAPES e 2 na SciELO. Após a leitura  dos títulos, resumos e a exclusão de duplicatas, foram selecionados 14 artigos para análise  final: 7 da BVS, 6 dos Periódicos CAPES e 1 da SciELO, conforme mostra o fluxograma  1. 

Fluxograma 1. Fluxograma do processo seletivo dos artigos sobre o tema proposto,  para inclusão e exclusão. 

Fonte: Autoria própria, 2025. 

Para a análise dos dados, adotou-se a técnica de análise temática qualitativa,  permitindo a categorização do conteúdo dos artigos selecionados em temas recorrentes.  Os artigos foram lidos na íntegra, sendo identificadas categorias como: (1) complicações  obstétricas mais frequentes; (2) assistência de enfermagem obstétrica; (3) distúrbios  hipertensivos; (4) ganho de peso gestacional; (5) impacto psicossocial; (6) mortalidade  materna; e (7) influências biológicas e sociais. 

A partir dessas categorias, os dados foram organizados de forma descritiva,  buscando identificar convergências e divergências nos achados dos estudos analisados.  Essa sistematização permitiu construir um panorama crítico da literatura recente,  contribuindo para uma compreensão ampliada da realidade vivida pelas gestantes  adolescentes no Brasil. 

RESULTADOS 

Os artigos analisados nesta revisão revelam um conjunto abrangente de  complicações e fatores associados à gravidez na adolescência, abordando aspectos  biológicos, socioeconômicos e psicológicos que afetam o bem-estar da mãe e do feto. A  seguir, será apresentado um fluxograma que sintetiza as principais complicações e fatores  associados à gravidez na adolescência, facilitando a visualização e compreensão das inter relações entre os diferentes elementos identificados na literatura. O Quadro 1, apresentado  a seguir, sintetiza essas informações. 

Quadro 1. Caracterização dos estudos.

Fonte: Autoria própria, 2025. 

As complicações obstétricas observadas nas gestantes adolescentes incluem  distúrbios hipertensivos, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Damasceno et al. (2023)  apontam que a gravidez em adolescentes está relacionada a um risco aumentado de  condições hipertensivas, como a pré-eclâmpsia, devido à imaturidade biológica e  condições socioeconômicas adversas. Esse achado é complementado por Cortez et al.  (2021), que analisaram complicações clínico-obstétricas na adolescência usando a  Classificação de Robson e observaram um aumento de desfechos desfavoráveis em  gestações adolescentes, incluindo partos prematuros e cesáreas de emergência. 

A pesquisa de Carvalho e Oliveira (2023) revela que gestantes adolescentes  apresentam maior frequência de baixo peso ao nascer, o que está diretamente associado à  inadequação do ganho de peso gestacional e ao estado nutricional pré-gestacional. O  ganho de peso inadequado, muitas vezes devido à falta de orientação e de acesso a uma  dieta equilibrada, compromete o crescimento fetal e eleva o risco de complicações neonatais, como discutido também por Santos et al. (2022). Esses fatores refletem uma  insuficiência de acompanhamento pré-natal específico para as necessidades das  adolescentes, exacerbando o risco de problemas de saúde para o bebê. 

O estudo de Mousinho et al. (2022) evidencia a alta prevalência do uso de  medicamentos psicotrópicos entre gestantes adolescentes, refletindo uma vulnerabilidade  psicológica que caracteriza essa fase da vida e se intensifica durante a gestação. A falta  de suporte emocional e social adequado, somada ao estresse e ansiedade típicos de uma  gravidez não planejada, aumenta a necessidade de apoio psicológico, porém o uso de  psicotrópicos pode acarretar riscos ao desenvolvimento fetal, incluindo potenciais efeitos teratogênicos. 

Além disso, Oliveira e Aguiar (2021) discutem as repercussões psicológicas e  emocionais da gravidez precoce, mencionando que a gravidez na adolescência traz um  impacto emocional significativo, o que pode resultar em maior suscetibilidade à  depressão. O uso inadequado de psicotrópicos sem orientação adequada pode piorar o  prognóstico gestacional e afetar a saúde mental da mãe e do bebê. 

Os fatores socioeconômicos são determinantes na gravidez precoce, conforme  abordado por Damasceno et al. (2024) e Pereira (2023), que identificaram uma correlação  entre baixa escolaridade, renda familiar reduzida e taxas mais elevadas de gravidez na  adolescência. Esses fatores limitam o acesso a informações sobre saúde reprodutiva e  contribuem para uma inadequação no uso de métodos contraceptivos, como também  discutido pelo Ministério da Saúde (2023). 

Os estudos destacam que, em áreas menos favorecidas, adolescentes têm maior  probabilidade de engravidar devido a uma combinação de vulnerabilidades econômicas e  acesso restrito a programas de educação sexual e de saúde reprodutiva. A falta de acesso  a esses recursos e a ausência de políticas públicas eficazes dificultam o controle da  gravidez precoce e expõem essas adolescentes a um ciclo contínuo de pobreza e exclusão  social. 

DISCUSSÃO 

Damasceno et al. (2023) apontam que a gravidez na adolescência está fortemente  associada ao aumento de riscos obstétricos, como pré-eclâmpsia e parto prematuro. Esses  achados reforçam a necessidade de um acompanhamento pré-natal especializado para  reduzir as complicações materno-fetais. Além disso, a imaturidade biológica das  adolescentes pode contribuir para maior incidência de partos cesáreos e complicações  neonatais, exigindo atenção dos serviços de saúde.

Outro ponto abordado por Damasceno et al. (2023) é o impacto socioeconômico  na saúde das gestantes adolescentes. A vulnerabilidade social, aliada à falta de suporte  familiar e profissional, pode agravar os riscos obstétricos. Estratégias de intervenção  precoce e suporte multidisciplinar são essenciais para minimizar esses impactos e garantir  uma gestação mais segura. 

Mousinho et al. (2022) analisaram o uso de medicamentos psicotrópicos entre  gestantes adolescentes e destacaram que muitas dessas jovens enfrentam quadros de  depressão e ansiedade. O uso inadequado desses medicamentos pode resultar em efeitos  prejudiciais ao feto, exigindo maior rigor na prescrição e acompanhamento psiquiátrico  durante a gestação. 

Além disso, Mousinho et al. (2022) ressaltam que a falta de suporte emocional  adequado contribui para um maior risco de transtornos psicológicos. Programas de apoio  psicológico e assistência social poderiam auxiliar na redução da necessidade de  medicamentos psicotrópicos e melhorar o bem-estar dessas adolescentes. 

Pereira (2023) enfatiza a correlação entre gravidez precoce e baixa escolaridade.  Adolescentes com menor nível de instrução tendem a ter menos acesso a informações  sobre saúde reprodutiva e contracepção, o que aumenta a incidência de gestações não  planejadas. A implementação de programas educativos e políticas públicas eficazes pode  reduzir significativamente esses índices. 

No estudo de Pereira (2023), também é abordada a questão do impacto financeiro  da gravidez precoce. Muitas adolescentes abandonam os estudos e enfrentam dificuldades  na inserção no mercado de trabalho, perpetuando um ciclo de pobreza. Investir em  políticas públicas que promovam inclusão educacional e oportunidades de capacitação  profissional é fundamental para quebrar esse ciclo. 

Sanches et al. (2019) destacam a importância da assistência obstétrica humanizada  para adolescentes grávidas. A presença de enfermeiras obstétricas durante o pré-natal e o  parto pode reduzir complicações e proporcionar um atendimento mais seguro e acolhedor.  Além disso, a assistência qualificada melhora a experiência da gestante e promove maior  adesão ao acompanhamento médico. 

Outro aspecto relevante apontado por Sanches et al. (2019) é a necessidade de  capacitação profissional para lidar com gestantes adolescentes. Muitas adolescentes  relatam experiências negativas no atendimento de saúde devido à falta de sensibilidade  dos profissionais. Capacitar equipes médicas para oferecer um atendimento humanizado pode melhorar significativamente os desfechos obstétricos e psicológicos dessas jovens  mães. 

CONCLUSÃO 

Esta revisão de literatura sobre a gravidez na adolescência e suas complicações  aponta para uma realidade desafiadora e complexa, onde questões biológicas,  socioeconômicas e de saúde mental se entrelaçam, criando um cenário que exige uma  abordagem integrada de saúde pública. As evidências demonstram que gestantes  adolescentes enfrentam maiores riscos obstétricos, como distúrbios hipertensivos, parto  prematuro e baixo peso ao nascer, que são agravados pela inadequação do  acompanhamento pré-natal e pela vulnerabilidade socioeconômica. Esses desfechos são  especialmente críticos em contextos onde o acesso a recursos médicos e a suporte  emocional é limitado, destacando a importância de políticas públicas e programas de  saúde reprodutiva para adolescentes. 

Os dados também indicam que o apoio psicológico e social é fundamental, visto  que as gestantes adolescentes são mais suscetíveis ao uso de psicotrópicos e a transtornos  emocionais decorrentes da falta de suporte adequado. Além disso, a atuação de  profissionais de saúde, como as enfermeiras obstétricas, mostrou-se essencial para um  atendimento mais humanizado e capaz de minimizar as complicações durante o trabalho  de parto. 

Em sintese, a prevenção da gravidez na adolescência deve ir além do controle de  natalidade, sendo necessário um investimento em educação, saúde e políticas inclusivas  que ofereçam suporte contínuo para jovens em situação de vulnerabilidade. Dessa forma,  é possível não só melhorar a saúde materna e neonatal, mas também proporcionar um  futuro mais promissor para adolescentes e suas famílias. 

REFERÊNCIAS 

ANDRADE, Julio Rezende de et al. A história obstétrica de gestantes com trombofilias  hereditárias. Clin. Biomed. Res. 2019;39(2). Disponível em:  https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/86858/pdf. Acesso em: 06 de novembro de 2024. 

BRASIL. Ministério da Saúde. SAÚDE DOS ADOLESCENTES. Gravidez na  adolescência: saiba os riscos para mães e bebês e os métodos contraceptivos disponíveis  no SUS. Feveriero de 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/fevereiro/gravidez-na-adolescencia-saiba-os-riscos-para maes-e-bebes-e-os-metodos-contraceptivos-disponiveis-no-sus. Acesso em: 28 de  outubro de 2024. 

CARVALHO, Rillary Maria de Sousa; OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Silva. Baixo  peso ao nascer associado a fatores de risco maternos e neonatais. Revista Sustinere, [S.  l.], v. 11, n. 1, p. 251–262, 2023. Disponível em: https://www.e publicacoes.uerj.br/sustinere/article/view/59453. Acesso em: 6 nov. 2024. 

CORTEZ, Mirelly Barbosa et al. Análise das complicações clínico-obstétricas em  gestantes adolescentes segundo a Classificação de Robson. Rev. Enferm. UERJ, Riode  Janeiro,2021;29:e49539. Disponível em: https://www.e publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/49539/37937. Acesso em:  01 de novembro de 2024.  

DAMASCENO, Ana Alice de Araújo; CARDOSO, Marly Augusto. Parturientes  adolescentes em Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil: características socioeconômicas e  obstétricas. Ciência & Saúde Coletiva, 29(1):1-12, 2024. Disponível em:  https://www.scielo.br/j/csc/a/QMpJVXbVBFv6nFf3Jn3WCxb/?format=pdf&lang=pt.  Acesso em: 28 de outubro de 2024. 

DAMASCENO, Ana Alice de Araújo. Gestantes em Cruzeiro do Sul, Acre:  características demográficas e socioeconômicas, ocorrência e fatores associados aos  distúrbios hipertensivos na gravidez. SÃO PAULO-SP, 2023. Disponível em:  https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6143/tde-06032023-141239/publico/DamascenoAAA_DR_R.pdf. Acesso em: 04 de novembro de 2024. 

MOUSINHO, Carlos Eduardo Cesar et al. Avaliação do uso de medicamentos  psicotrópicos durantea gravidez e a lactação: uma scoping review. Brazilian Journal of  Development, Curitiba, v.8, n.3, p. 18405-18434,mar., 2022. Disponível em:  https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/45216/pdf. Acesso  em 06 de novembro de 2024.

OLIVEIRA, Bruna de Souza; AGUIAR, Ricardo Saraiva. Repercussões na saúde da  mulher adolescente devido a gravidez precoce: uma revisão narrativa. Saúde Coletiva  (Barueri), [S. l.], v. 11, n. 68, p. 7363–7374, 2021. Disponível em:  https://revistasaudecoletiva.com.br/index.php/saudecoletiva/article/view/1442. Acesso  em: 6 nov. 2024. 

PEREIRA, Raquel Jacob. Aspectos Sociais e Biológicos da Gravidez na Adolescência.  Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo,  v.9.n.10. out. 2023. Disponível em:  https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/11585/5615. Acesso em: 28 de outubro  de 2024. 

SILVA, Isabelle Oliveira Santos da et al. Intercorrências obstétricas na adolescência e a  mortalidade materna no Brasil: uma revisão sistemática. Brazilian Journal of Health  Review, Curitiba, v.4, n.2, p. 6720-6734mar./apr.2021. Disponível em:  https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/27297/21592.  Acesso em: 01 de novembro de 2024. 

SANTOS, Samira Fernandes Morais dos et al. Fatores associados à adequação do ganho  de peso gestacional de adolescentes brasileiras. Ciência & Saúde Coletiva, 27(7):2629- 2642, 2022. Disponível em:  https://www.scielo.br/j/csc/a/DWYpQZj7NtqLrVFbJyhggLC/?format=pdf&lang=pt.  Acesso em 06 de novembro de 2024. 

SANCHES, Maria Elisângela Torres de Lima et al. Atuação da enfermeira obstétrica na  assistência ao trabalho de parto e parto. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2019;  27:e43933. Disponível em: https://www.e publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/43933/32728. Acesso em 28  de outubro de 2024.


1 Acadêmico do 8º período do curso de graduação em enfermagem Universidade Paulista –UNIP. isa_filhadopai@hotmail.com
2Acadêmico do 8º período do curso de graduação em enfermagem Universidade Paulista –UNIP.  delianeferreira17@gmail.com
3Acadêmico do 8º período do curso de graduação em enfermagem Universidade Paulista –UNIP.  Franmedrade2014@gmail.com
4Acadêmico do 8º período do curso de graduação em enfermagem Universidade Paulista –UNIP.  Naiara27jb@icloud.com
5Acadêmico do 8º período do curso de graduação em enfermagem Universidade Paulista –UNIP.  anamarianasc08@gmail.com
6Acadêmico do 8º período do curso de graduação em enfermagem Universidade Paulista –UNIP.  amandasantossa422@gmail.com
7Professor do curso graduação em enfermagem Universidade Paulista –UNIP