GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE PÚBLICA: ESTRATÉGIAS INTEGRADAS PARA UM SISTEMA SUSTENTÁVEL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412261611


José Ernesto dos Santos Filho1
Emmanuelle Silveira Maciel2
Solange Alves da Silva3
Lancciane Nilian Celino Reis4
Ana Carolina Botto Barros Felix5
Cristiane de Castro Barcelos 6
Karen de Fátima Figueroa Bohórquez7
Ellen Alvim Nascimento8
Neide Moreira de Souza9
Jussara Barreto Moura Almeida10
Alexandra Ribeiro Coelho11
Gabriela Eiras Ortoni12
Mayara Rayanne Teixeira Laudiano Peres13
Guilherme Rodrigues dos Santos14


Resumo

A gestão do trabalho e a educação permanente em saúde são pilares fundamentais para o fortalecimento dos sistemas de saúde pública. Esses eixos permitem a qualificação contínua dos profissionais, promovendo competências alinhadas às demandas sociais e às transformações do setor. A integração entre educação e serviço potencializa a eficiência das práticas, incentivando inovações e soluções adaptadas aos contextos locais. Além disso, estratégias integradas contribuem para a construção de um sistema sustentável, com equipes capacitadas para atuar de forma resolutiva e humanizada. Assim, investir na articulação entre formação, trabalho e políticas públicas é essencial para superar desafios e garantir o direito universal à saúde.

Palavras-chave: gestão do trabalho, educação permanente, saúde pública, qualificação, sustentabilidade.

Introdução

A gestão do trabalho e a educação permanente são pilares essenciais para a sustentabilidade e a eficiência do sistema de saúde pública. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta desafios complexos que demandam estratégias inovadoras para alinhar a capacitação dos profissionais à gestão eficiente dos serviços. A integração entre esses dois eixos, gestão do trabalho e educação permanente, promove o desenvolvimento contínuo das competências dos trabalhadores e fomenta uma cultura de aprendizado constante, necessária para a adaptação às transformações no campo da saúde.

A educação permanente em saúde é definida como uma estratégia educacional que parte da problematização do cotidiano do trabalho e busca articular ensino e serviço, com o objetivo de qualificar as práticas profissionais. Esse conceito é sustentado por políticas públicas como a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), que estabelece diretrizes para a formação e o desenvolvimento dos trabalhadores do SUS. Segundo Pinto et al. (2021), a educação permanente contribui significativamente para a melhoria dos processos de trabalho, ao integrar as dimensões técnica, política e ética no cotidiano das práticas de saúde.

A gestão do trabalho, por sua vez, tem como foco a organização e valorização do trabalho em saúde, considerando a complexidade das relações entre os trabalhadores, usuários e gestores. Entre os desafios dessa gestão, destaca-se a necessidade de criar condições de trabalho dignas, estabelecer vínculos empregatícios adequados e implementar políticas que favoreçam o bem-estar e a produtividade dos profissionais. Lima et al. (2022) enfatizam que a gestão do trabalho eficaz é um elemento estratégico para garantir a sustentabilidade do SUS, pois impacta diretamente a qualidade dos serviços ofertados.

A integração desses dois eixos exige abordagens inovadoras e participativas que contemplem as especificidades dos territórios e a diversidade do perfil dos trabalhadores do SUS. Estratégias como a criação de espaços de cogestão, o incentivo à educação interprofissional e a utilização de tecnologias digitais são apontadas como alternativas viáveis para fortalecer essa integração. De acordo com Silva e Araújo (2020), o uso de tecnologias digitais na educação permanente tem potencial para ampliar o alcance das capacitações, especialmente em regiões remotas, e favorecer o compartilhamento de boas práticas entre equipes de saúde.

No contexto da saúde pública, a sustentabilidade do sistema depende de uma gestão integrada que responda de maneira efetiva às demandas de saúde da população e às condições de trabalho dos profissionais. Nesse sentido, a articulação entre gestão do trabalho e educação permanente não apenas fortalece o SUS, mas também contribui para a promoção da equidade, da qualidade e da eficiência dos serviços prestados. Este estudo busca explorar as estratégias que podem ser adotadas para consolidar essa integração, considerando as experiências já realizadas no Brasil e as tendências internacionais na área.

Assim, o presente trabalho está estruturado em torno de três eixos principais: a análise das políticas públicas de educação permanente em saúde, a discussão sobre os desafios e avanços da gestão do trabalho no SUS e a proposição de estratégias integradas para a sustentabilidade da saúde pública. Por meio dessa abordagem, espera-se contribuir para o debate sobre a transformação e o fortalecimento do sistema de saúde, tendo como foco a valorização dos trabalhadores e a melhoria da qualidade dos serviços.

Objetivos

Objetivo Geral

Analisar e propor estratégias integradas de gestão do trabalho e educação permanente em saúde pública, visando fortalecer a qualificação dos profissionais, a integração entre serviços, educação e comunidade, e a construção de um sistema de saúde sustentável, eficiente e centrado nas necessidades da população.

Objetivos Específicos:

  1. Identificar desafios e oportunidades na gestão do trabalho em saúde pública.
  2. Avaliar práticas de educação permanente para qualificação profissional.
  3. Propor estratégias integradas para a sustentabilidade do sistema de saúde.
  1. Identificar desafios e oportunidades na gestão do trabalho em saúde pública

A gestão do trabalho em saúde pública enfrenta desafios complexos que impactam diretamente a qualidade dos serviços prestados e a sustentabilidade do sistema de saúde. Entre os principais desafios estão a precarização do trabalho, a rotatividade de profissionais, a distribuição desigual da força de trabalho e a carência de políticas efetivas de valorização dos trabalhadores da saúde. Esses fatores comprometem a motivação e a capacidade técnica dos profissionais, resultando em prejuízos à assistência e à promoção da saúde (SOUZA et al., 2022).

Além disso, a pandemia de COVID-19 evidenciou fragilidades estruturais no sistema de saúde, como a sobrecarga de profissionais e a necessidade de maior investimento em estratégias que promovam bem-estar e segurança no ambiente de trabalho. O fortalecimento da gestão do trabalho, portanto, exige ações articuladas que integrem educação permanente, condições adequadas de trabalho e políticas de incentivo e reconhecimento profissional (CUNHA & LIMA, 2021).

Por outro lado, também existem oportunidades para melhorar essa gestão. A adoção de tecnologias digitais, como plataformas de telemedicina e sistemas de gestão de recursos humanos, tem o potencial de otimizar processos e ampliar o alcance das ações de saúde. Além disso, a implementação de modelos de gestão participativa pode promover maior engajamento dos trabalhadores, garantindo que suas demandas sejam consideradas no planejamento e execução de políticas (BRASIL, 2023).

Assim, identificar os desafios e oportunidades na gestão do trabalho em saúde pública é fundamental para promover uma força de trabalho qualificada, valorizada e alinhada às necessidades do sistema de saúde. Isso requer o desenvolvimento de estratégias intersetoriais, baseadas em evidências, que combinem inovação tecnológica e fortalecimento das políticas públicas.

2.  Avaliar práticas de educação permanente para qualificação profissional

A educação permanente em saúde (EPS) é um modelo estratégico para a qualificação profissional e a melhoria contínua dos serviços de saúde. Baseada em processos pedagógicos que valorizam a experiência prática e o diálogo entre profissionais, gestores e a comunidade, a EPS é orientada pela articulação entre ensino, trabalho e a realidade do sistema de saúde. Esse modelo contribui para a superação de práticas fragmentadas e para a construção de saberes que atendam às demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) e da sociedade.

A avaliação das práticas de EPS é essencial para identificar desafios, mensurar impactos e aprimorar estratégias. Estudos recentes apontam que ações de educação permanente bem estruturadas promovem maior integração das equipes, melhoria na qualidade do atendimento e empoderamento dos trabalhadores para lidar com situações complexas e inovar na prática cotidiana. Por outro lado, desafios como a falta de financiamento, resistência à mudança e escassez de recursos pedagógicos ainda limitam o alcance dessas práticas em diversas regiões do Brasil.

No contexto atual, a qualificação profissional em saúde exige abordagens interdisciplinares e alinhadas às transformações tecnológicas e sociais. Iniciativas como o uso de plataformas digitais e a oferta de cursos híbridos têm ganhado destaque, especialmente após a pandemia de COVID-19. Essas práticas facilitam o acesso ao conhecimento e permitem uma maior abrangência nas ações de capacitação, especialmente em locais remotos.

Portanto, a avaliação contínua das práticas de EPS deve considerar indicadores como o impacto no desempenho profissional, a satisfação dos trabalhadores e a melhoria nos indicadores de saúde da população. Além disso, é fundamental que as políticas públicas apoiem e ampliem os investimentos em programas de educação permanente, garantindo que os trabalhadores da saúde estejam capacitados para responder às necessidades do SUS e às mudanças no cenário global de saúde.

3.  Propor Estratégias Integradas para a Sustentabilidade do Sistema de Saúde

A sustentabilidade do sistema de saúde é um desafio global que requer estratégias integradas para assegurar a eficiência, acessibilidade e qualidade dos serviços prestados à população. Uma abordagem integrada envolve ações coordenadas entre os diversos atores do sistema de saúde, incluindo governo, sociedade civil, setor privado e a própria população. Tais estratégias precisam considerar aspectos econômicos, sociais, ambientais e tecnológicos para criar um modelo que seja financeiramente viável e capaz de atender às demandas atuais e futuras.

Uma das principais iniciativas para a sustentabilidade é o fortalecimento da atenção primária à saúde (APS). A APS desempenha um papel central na prevenção de doenças e promoção da saúde, contribuindo para a redução da sobrecarga dos níveis secundário e terciário de atenção. Para isso, é necessário investir em recursos humanos, infraestrutura e tecnologias digitais, como sistemas de prontuário eletrônico e telemedicina, que facilitam o acesso ao cuidado e promovem a continuidade do atendimento.

Além disso, políticas de financiamento baseadas em eficiência e resultados podem otimizar o uso dos recursos. Isso inclui a adoção de modelos de pagamento por desempenho, que recompensam provedores de saúde pela qualidade e eficácia do atendimento em vez de simplesmente pelo volume de serviços prestados. Simultaneamente, estratégias de promoção da saúde e educação sanitária são fundamentais para engajar a população no autocuidado e na adoção de hábitos saudáveis, reduzindo assim a prevalência de doenças crônicas e transmissíveis.

Por fim, a integração de tecnologias emergentes, como inteligência artificial e análise de big data, pode melhorar a gestão de recursos e a tomada de decisões no sistema de saúde. Estas ferramentas possibilitam prever demandas, identificar áreas críticas e personalizar intervenções, contribuindo para um uso mais eficiente dos recursos.

A sustentabilidade do sistema de saúde exige um compromisso contínuo e uma visão de longo prazo, que equilibre eficiência econômica, justiça social e inovação tecnológica. A implementação de estratégias integradas não só promove a resiliência do sistema, mas também assegura um futuro mais saudável para todos.

Metodologia

Este estudo foi conduzido por meio de uma revisão bibliográfica, com o objetivo de analisar as estratégias integradas na gestão do trabalho e educação permanente em saúde pública para a construção de um sistema sustentável. A pesquisa foi realizada em bases de dados reconhecidas, como PubMed, Scielo e Google Scholar, utilizando os descritores: “gestão do trabalho em saúde”, “educação permanente em saúde” e “sustentabilidade no sistema de saúde”. Os critérios de inclusão abrangeram artigos publicados entre 2019 e 2024, disponíveis em português, inglês ou espanhol, e com foco em políticas públicas, estratégias de capacitação profissional e modelos de gestão integrados.

A análise dos artigos seguiu os princípios da abordagem qualitativa, com leitura exaustiva dos textos selecionados, categorização das estratégias e identificação de boas práticas. Também foram utilizados documentos oficiais do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde para embasar a discussão e contextualizar os achados.

Resultados

Os resultados evidenciaram que a gestão do trabalho e a educação permanente em saúde são elementos complementares e fundamentais para a sustentabilidade do sistema público de saúde. As principais estratégias identificadas incluem:

  1. Fortalecimento da Educação Permanente: Programas de capacitação contínua foram destacados como essenciais para a atualização de profissionais de saúde, promovendo práticas baseadas em evidências e maior eficiência no atendimento.
  2. Integração entre Educação e Serviços de Saúde: A articulação entre instituições de ensino e unidades de saúde mostrou-se eficaz na formação de profissionais preparados para os desafios do SUS, com ênfase na regionalização do cuidado.
  3. Incorporação de Tecnologias na Gestão do Trabalho: Ferramentas digitais, como sistemas de gestão de recursos humanos e plataformas de ensino à distância, foram amplamente citadas como facilitadoras da educação permanente e da alocação eficiente de profissionais.
  4. Políticas de Valorização Profissional: Estratégias de remuneração baseada em desempenho, planos de carreira e suporte psicossocial foram identificadas como motivadores para retenção e engajamento dos trabalhadores de saúde.

Os estudos revisados também apontaram barreiras, como a insuficiência de recursos financeiros, resistência à mudança e desigualdades regionais no acesso à educação permanente.

Conclusão

A gestão do trabalho e a educação permanente em saúde pública desempenham papéis estratégicos na sustentabilidade do sistema de saúde, especialmente em contextos de alta demanda e recursos limitados. Estratégias integradas, que alinhem a formação e o desenvolvimento contínuo dos profissionais às necessidades do SUS, são fundamentais para melhorar a qualidade dos serviços, otimizar recursos e garantir equidade no acesso.

Este estudo reforça a importância de políticas públicas que priorizem a capacitação e valorização dos trabalhadores de saúde, além de investimentos em tecnologias que facilitem a integração entre ensino e prática. Assim, é possível construir um sistema de saúde mais resiliente e sustentável, capaz de enfrentar os desafios futuros.

Referências

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Mendes, E. V. (2020). O Desafio da Gestão do Trabalho no SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz.


1 Doutorando em Saúde Pública
Instituição: Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (CABA – AR – UCES) E-mail: ernestosantosprofessor@gmail.com

2 Doutoranda em Saúde Pública
Instituição: Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (CABA – AR – UCES)
E-mail: dra_emmanuellemaciel@hotmail.com