REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505241207
Antonia Giovane Vieira da Silva1
Orientadora: Profa. Esp. Naianne Georgia Sousa de Oliveira2
Resumo
A segurança do paciente no centro cirúrgico é um aspecto fundamental da assistência em saúde, exigindo uma gestão eficaz de riscos por parte dos enfermeiros. Este estudo tem como objetivo investigar a atuação do enfermeiro na promoção da segurança e prevenção de eventos adversos durante procedimentos cirúrgicos. Trata-se de uma revisão bibliográfica, realizada entre janeiro e abril de 2025, com base em artigos científicos, diretrizes e documentos normativos. A análise dos dados demonstrou que a implementação de protocolos padronizados, o uso de listas de verificação e a capacitação contínua da equipe são estratégias eficazes para minimizar riscos e melhorar os desfechos cirúrgicos. Além disso, a comunicação eficiente e a cultura de segurança foram identificadas como fatores essenciais para a redução de erros. Os resultados reforçam a importância do papel do enfermeiro na gestão de riscos e apontam para a necessidade de diretrizes mais rigorosas e programas educativos voltados para a segurança do paciente no ambiente cirúrgico.
Palavras-chave: Segurança do paciente; Gestão de riscos; Enfermagem cirúrgica; Centro cirúrgico; Eventos adversos.
Abstract
Patient safety in the surgical center is a key aspect of healthcare, requiring effective risk management by nurses. This study aims to investigate the role of nurses in promoting safety and preventing adverse events during surgical procedures. It is a literature review conducted between January and April 2025, based on scientific articles, guidelines, and regulatory documents. Data analysis showed that implementing standardized protocols, using checklists, and providing continuous staff training are effective strategies for minimizing risks and improving surgical outcomes. Additionally, effective communication and a safety culture were identified as essential factors in reducing errors. The results highlight the importance of nurses in risk management and emphasize the need for stricter guidelines and educational programs focused on patient safety in the surgical environment.
Keywords: Patient safety; Risk management; Surgical nursing; Surgical center; Adverse events.
1. INTRODUÇÃO
No contexto do centro cirúrgico, a gestão de riscos e a promoção da segurança do paciente são aspectos fundamentais para garantir a qualidade da assistência prestada. A complexidade dos procedimentos cirúrgicos, aliada à multiplicidade de fatores envolvidos, exige uma atuação qualificada, multidisciplinar e proativa dos profissionais de saúde, especialmente dos enfermeiros. Esses profissionais desempenham um papel crucial na prevenção de eventos adversos, na minimização de complicações pós-operatórias e na promoção de boas práticas assistenciais, fundamentais para a obtenção de resultados positivos para os pacientes. Neste estudo, busca-se aprofundar a compreensão sobre a atuação do enfermeiro na gestão de riscos no ambiente cirúrgico, evidenciando as estratégias e protocolos adotados para garantir a segurança do paciente durante os procedimentos.
A segurança do paciente, sendo uma prioridade global na saúde, é estabelecida por organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), que enfatizam a importância de ações sistemáticas para mitigar riscos e melhorar a qualidade da assistência. O centro cirúrgico é um ambiente dinâmico e altamente complexo, no qual variáveis como falhas na comunicação entre os membros da equipe, erros de medicação, contaminação dos materiais cirúrgicos e falhas nos equipamentos podem comprometer a segurança do paciente. Nesse cenário, o enfermeiro ocupa uma posição estratégica, não apenas no controle e mitigação de tais riscos, mas também na implementação de protocolos, na educação contínua da equipe e no monitoramento das condições que possam comprometer a segurança.
Dentro desse contexto, surge o questionamento central desta pesquisa: de que forma os enfermeiros podem otimizar a gestão de riscos e garantir a segurança do paciente durante os procedimentos cirúrgicos? A atuação proativa dos enfermeiros, pautada no conhecimento técnico e científico, bem como na adesão a protocolos institucionais e regulamentações da profissão, é essencial para assegurar práticas seguras e a melhoria constante dos processos assistenciais. Portanto, entender como a gestão eficiente dos riscos impacta diretamente na qualidade do cuidado cirúrgico e nos desfechos clínicos dos pacientes é uma preocupação central deste estudo.
A relevância desta pesquisa se justifica pela necessidade de explorar as estratégias implementadas pelos enfermeiros para assegurar a segurança do paciente no ambiente cirúrgico, uma vez que o tema é diretamente relacionado à redução de eventos adversos e à melhoria dos indicadores assistenciais em saúde. Além disso, a atuação do enfermeiro em contextos de alta complexidade, como o centro cirúrgico, é uma responsabilidade crescente, dada a demanda por resultados cada vez mais eficazes e seguros.
A importância da equipe de enfermagem no centro cirúrgico é respaldada por regulamentações nacionais e internacionais, como a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem (Lei nº 7.498/1986), a Resolução nº 599/2021 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), e a Norma Regulamentadora nº 32 (NR-32) do Ministério do Trabalho. Essas normativas estabelecem diretrizes específicas para garantir a segurança do paciente em todos os ambientes de assistência à saúde, especialmente no contexto cirúrgico, reforçando o papel imprescindível do enfermeiro na gestão de riscos, na educação contínua e na garantia de um ambiente assistencial seguro e eficiente.
Diante desse cenário, o objetivo central desta pesquisa é investigar de forma aprofundada a atuação do enfermeiro na gestão de riscos e na promoção da segurança do paciente no centro cirúrgico. Busca-se, assim, analisar os principais riscos enfrentados neste ambiente, avaliar as estratégias adotadas pelos enfermeiros para a prevenção de eventos adversos e compreender o impacto dessas intervenções na melhoria dos desfechos clínicos dos pacientes. Este estudo visa contribuir para o aprimoramento das práticas de segurança no centro cirúrgico, oferecendo subsídios importantes para o fortalecimento da atuação do enfermeiro e, consequentemente, para a melhoria da qualidade da assistência prestada aos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado entre janeiro de 2025 e abril de 2025 e consiste em uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa, com o objetivo de analisar criticamente a literatura disponível sobre a gestão de riscos e a segurança do paciente no centro cirúrgico. A pesquisa foi conduzida a partir da revisão de artigos científicos, livros e diretrizes institucionais que abordam o tema.
A coleta de dados foi realizada de forma sistemática em bases eletrônicas como PubMed, Scopus, Web of Science, SciELO e Lilacs. Inicialmente, foram identificados 120 estudos que abordavam a temática da pesquisa. Após a aplicação dos critérios de exclusão, foram descartados 30 artigos por serem repetitivos, 25 por não estarem disponíveis em português, inglês ou espanhol, 15 por não apresentarem texto completo acessível e 30 por não se concentrarem especificamente no papel do enfermeiro na gestão de riscos no centro cirúrgico. Ao final do processo de seleção, permaneceram 20 artigos que foram analisados detalhadamente para compor a base teórica deste estudo.
Foram incluídos estudos que abordavam diretamente a atuação do enfermeiro na gestão de riscos e segurança do paciente no centro cirúrgico, publicados nos últimos 10 anos, salvo leis e diretrizes publicadas anteriormente, e disponíveis em português, inglês ou espanhol. Estudos que não tratavam especificamente do tema, que não apresentavam texto completo ou que fossem repetitivos foram excluídos.
Os dados coletados foram analisados qualitativamente por meio da síntese narrativa e análise temática, buscando identificar padrões, tendências e lacunas na literatura revisada. As informações foram categorizadas conforme sua relevância para a pesquisa, permitindo uma discussão aprofundada sobre a atuação do enfermeiro na gestão de riscos no centro cirúrgico.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo cirúrgico é uma jornada complexa repleta de desafios e riscos, tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde envolvidos. Como afirmou o renomado cirurgião Atul Gawande (2014, p. 17), “A cirurgia tem mais a ver com o julgamento e a experiência do que com a destreza manual”. A importância da tomada de decisões e da experiência clínica no manejo de complicações durante o procedimento.
Ademais, observa-se que a segurança do paciente no ambiente cirúrgico depende não apenas de decisões técnicas, mas também da preparação institucional e da atuação integrada da equipe multidisciplinar. O enfermeiro, neste cenário, assume papel estratégico, atuando como elo entre a gestão do cuidado e a execução prática dos protocolos assistenciais. Essa atuação envolve tanto a vigilância constante quanto a mediação de decisões críticas em tempo real.
Um dos principais desafios enfrentados pelos pacientes durante a cirurgia é o risco de complicações pós-operatórias. “Em qualquer cirurgia, o risco de complicações existe e deve ser compreendido pelo paciente” (MAYER JR., 2019, p. 78). Complicações como infecções, sangramento excessivo e reações adversas à anestesia podem prolongar a recuperação e aumentar o tempo de internação.
Além disso, a ansiedade pré-operatória pode ser uma barreira significativa para os pacientes. Como mencionado em um estudo da Universidade de São Paulo, “A ansiedade pré-operatória é comum e pode impactar negativamente os resultados cirúrgicos, aumentando o risco de complicações” (USP, 2022, p. 223). A preocupação com o procedimento e seus possíveis resultados pode afetar a resposta do corpo à anestesia e ao estresse da cirurgia.
Tabela 1 – Fatores de risco cirúrgico com impacto direto sobre a recuperação pós-operatória
Fatores de Risco | Impacto Potencial | Intervenções de Enfermagem |
Infecção hospitalar | Prolongamento da internação, reinternações | Controle asséptico, protocolos de esterilização |
Ansiedade pré-operatória | Instabilidade hemodinâmica, complicações anestésicas | Apoio psicológico, escuta qualificada |
Erro na administração de medicação | Reações adversas, falhas terapêuticas | Conferência rigorosa de prescrição e dose |
Falhas na comunicação | Execução incorreta de procedimentos | Briefings, checklists e comunicação clara |
Fonte: Elaborado pelo autor (2025).
Os dados reforçam que o enfermeiro é um agente fundamental na identificação e mitigação de riscos. As intervenções diretas, como o uso de checklists e apoio psicológico, promovem segurança e reduzem desfechos negativos.
Durante o processo cirúrgico, também é crucial considerar os aspectos psicológicos dos pacientes, pois o estado emocional pode influenciar diretamente os resultados. Conforme destacado por Smith et al. (2018, p. 56), “A saúde mental dos pacientes antes da cirurgia pode afetar a recuperação pós-operatória e a experiência geral do paciente”. Portanto, abordagens que visam a redução da ansiedade e o suporte psicológico pré-operatório são fundamentais para promover melhores desfechos.
Outro risco importante durante o processo cirúrgico é a possibilidade de erro médico. “Os erros cirúrgicos são eventos adversos sérios que podem ter consequências devastadoras para os pacientes e suas famílias” (LEAPE, 2017, p. 112). Erros como a realização de procedimentos incorretos, falhas na comunicação da equipe cirúrgica e negligência na higienização podem resultar em danos irreversíveis.
Além das ações assistenciais, o enfermeiro também atua na esfera administrativa, garantindo que todos os insumos estejam disponíveis e em conformidade com os padrões sanitários. Essa função, muitas vezes invisível, é determinante para a fluidez do ato cirúrgico e a prevenção de falhas estruturais que possam comprometer o procedimento.
Outro fator relevante a ser considerado é a importância da preparação física dos pacientes antes da cirurgia. Segundo um estudo de Johnson e colaboradores (2020, p. 102), “A otimização do estado físico antes da cirurgia pode reduzir significativamente o risco de complicações e acelerar o processo de recuperação”. Estratégias como exercícios físicos supervisionados e dieta balanceada podem contribuir para uma melhor resposta ao procedimento cirúrgico.
É crucial reconhecer o papel essencial da comunicação entre os pacientes e a equipe médica. Como afirmado pelo Instituto de Medicina (2015, p. 45), “A comunicação eficaz é fundamental para garantir a segurança do paciente e o sucesso do tratamento cirúrgico”. Uma comunicação clara e transparente pode ajudar a reduzir a ansiedade do paciente, melhorar a compreensão dos procedimentos e garantir que todas as preocupações sejam abordadas adequadamente.
No ambiente desafiador do centro cirúrgico, os enfermeiros desempenham um papel crucial na implementação de estratégias e protocolos de segurança, visando prevenir eventos adversos e promover práticas seguras. Como destacado por AORN (2018, p. 11), “a segurança do paciente é a principal prioridade durante qualquer procedimento cirúrgico”. Os enfermeiros adotam medidas rigorosas, desde a verificação pré-operatória de todos os equipamentos e materiais até a garantia de uma comunicação eficaz entre os membros da equipe.
No contexto da segurança do paciente, a qualidade dos equipamentos e instrumentos cirúrgicos desempenha um papel crucial. Conforme observado por White et al. (2019, p.. 124), “A manutenção adequada dos equipamentos cirúrgicos é essencial para evitar falhas durante o procedimento”. Investimentos em tecnologia médica avançada e políticas de manutenção rigorosas são necessários para garantir a segurança e eficácia dos procedimentos.
Tabela 2 – Atribuições do enfermeiro no centro cirúrgico relacionadas à segurança do paciente
Etapas do processo | Atuação do enfermeiro cirúrgico |
Pré-operatório | Verificação de exames, preparo físico e psicológico, conferência de documentação |
Intraoperatório | Monitoramento contínuo, assistência à equipe médica, manutenção da assepsia |
Pós-operatório | Controle da dor, avaliação de sinais vitais, prevenção de infecções e mobilização precoce |
Gestão e supervisão | Implementação de protocolos, treinamento de equipe, controle de materiais e equipamentos |
Fonte: Elaborado pelo autor (2025).
A atuação do enfermeiro é abrangente e estratégica, sendo essencial em todas as fases da assistência cirúrgica. A combinação entre cuidado técnico e gerencial assegura a continuidade e qualidade da assistência.
A atuação do enfermeiro também se estende à educação continuada da equipe multiprofissional. A capacitação periódica dos profissionais de saúde é essencial para manter os protocolos de segurança atualizados e para desenvolver habilidades que reduzam falhas humanas. De acordo com Silva e Sousa (2020), a prática de simulações clínicas e treinamentos in situ contribui para a melhoria da comunicação e da resposta rápida diante de eventos adversos no centro cirúrgico.
As simulações realísticas, inclusive com cenários de crise, têm se mostrado eficazes na construção de competências críticas, como liderança, tomada de decisão sob pressão e trabalho em equipe (CARVALHO et al., 2020).
Outro aspecto relevante é a rastreabilidade dos materiais utilizados durante os procedimentos. A correta identificação e o registro de lote, validade e integridade dos materiais e instrumentais cirúrgicos permitem um controle mais efetivo em casos de infecção ou falhas técnicas. Essa responsabilidade geralmente recai sobre o enfermeiro, que atua em conjunto com a equipe de CME (Central de Material e Esterilização), conforme normas da ANVISA e da AORN (2018), garantindo o uso seguro dos insumos.
A rastreabilidade também permite ações rápidas em caso de alertas sanitários, como recolhimentos de lotes contaminados, reforçando a segurança do paciente e a responsabilidade institucional (ANVISA, 2021).
Ademais, a promoção de uma cultura de segurança institucional está intimamente ligada à liderança do enfermeiro no centro cirúrgico. Quando os profissionais de enfermagem assumem posturas proativas frente às práticas inseguras e fomentam o reporte de incidentes sem punição, cria-se um ambiente colaborativo e transparente. Essa cultura é essencial para identificar falhas latentes e prevenir danos futuros, conforme preconiza o Programa Nacional de Segurança do Paciente (BRASIL, 2013).
Estudos demonstram que instituições com uma cultura de segurança consolidada apresentam menores taxas de eventos adversos e maior engajamento dos profissionais de saúde na adoção de práticas seguras (RODRIGUES et al., 2020).
Por fim, destaca-se a importância da escuta ativa como ferramenta de cuidado e prevenção de riscos. O enfermeiro, ao acolher dúvidas, medos e expectativas do paciente no pré-operatório, não apenas humaniza o atendimento, mas também identifica precocemente sinais de sofrimento emocional, que podem interferir na resposta fisiológica à cirurgia. Essa abordagem holística contribui para uma recuperação mais eficaz e reduz complicações evitáveis.
A escuta ativa também fortalece o vínculo terapêutico e melhora a adesão ao tratamento, aspectos fundamentais para a humanização da assistência no ambiente cirúrgico (FERREIRA; LIMA, 2021).
Além disso, conforme ressaltado por Silva e Sousa (2020, p. 35), os enfermeiros no centro cirúrgico são responsáveis por assegurar a correta identificação do paciente, do procedimento a ser realizado e do local da intervenção, conforme protocolos institucionais e padrões de segurança estabelecidos. Essas práticas são fundamentais para evitar erros de identificação e procedimentos equivocados, minimizando potenciais danos ao paciente.
No que tange à esterilização e manuseio adequado de instrumentos cirúrgicos, os enfermeiros seguem rigorosos protocolos, conforme observado por Souza et al. (2019, p. 72). Essas diretrizes incluem a esterilização de materiais, a organização adequada das salas cirúrgicas e a adoção de técnicas assépticas durante todo o procedimento. Tais medidas visam reduzir o risco de infecções hospitalares e complicações pós-operatórias.
Outro aspecto crucial é a preparação e monitoramento dos pacientes antes, durante e após o procedimento cirúrgico. De acordo com Johnson et al. (2017, p. 88), os enfermeiros realizam avaliações minuciosas, verificam os sinais vitais e garantem a administração correta de medicamentos e fluidos intravenosos, garantindo a segurança e o bem-estar do paciente em todas as etapas do processo cirúrgico.
Os enfermeiros desempenham um papel fundamental na promoção da segurança no centro cirúrgico, implementando estratégias e protocolos que visam prevenir eventos adversos e garantir práticas seguras. Por meio de sua expertise e comprometimento, contribuem significativamente para a qualidade e eficácia dos cuidados prestados aos pacientes durante os procedimentos cirúrgicos.
No contexto dinâmico e desafiador do centro cirúrgico, a atuação do enfermeiro desempenha um papel crucial na gestão de riscos e na promoção da segurança do paciente. Conforme destacado por Silva e Sousa (2020, p. 45), os enfermeiros são responsáveis por implementar protocolos e diretrizes que visam reduzir eventos adversos e garantir práticas seguras durante os procedimentos cirúrgicos. Essas medidas incluem a verificação pré-operatória de todos os equipamentos, a correta identificação do paciente e do procedimento a ser realizado, além da organização adequada das salas cirúrgicas.
Segundo Johnson et al. (2017), os enfermeiros desempenham um papel fundamental na avaliação e monitoramento dos pacientes antes, durante e após a cirurgia, contribuindo para a detecção precoce de complicações e a redução de riscos. Através da análise criteriosa dos sinais vitais e do gerenciamento adequado de medicamentos e fluidos intravenosos, os enfermeiros garantem a segurança e o bem-estar dos pacientes, minimizando potenciais complicações pós-operatórias.
A gestão eficaz da dor pós-operatória é um aspecto fundamental do cuidado cirúrgico. Como ressaltado por Brown et al. (2021, p. 88), “O controle adequado da dor não apenas melhora o conforto do paciente, mas também pode reduzir complicações associadas à imobilidade prolongada”. Protocolos de analgesia multimodal e acompanhamento próximo da equipe de enfermagem são essenciais para garantir uma recuperação tranquila.
No que diz respeito aos indicadores de qualidade, Souza et al. (2019, p. 80) enfatizam a importância da atuação do enfermeiro na coleta e análise de dados relacionados aos resultados cirúrgicos e à satisfação do paciente. Esses indicadores permitem avaliar a eficácia das práticas implementadas, identificar áreas de melhoria e promover uma abordagem centrada no paciente, visando sempre a excelência no cuidado.
Além disso, os indicadores de qualidade são ferramentas essenciais para avaliação de desempenho da equipe cirúrgica, orientando decisões gerenciais baseadas em evidências (LOPES et al., 2022).
Por conseguinte, é fundamental reconhecer o impacto positivo da atuação do enfermeiro na gestão de riscos e na segurança do paciente no centro cirúrgico. Através de sua expertise e comprometimento, os enfermeiros contribuem significativamente para a redução de complicações pós-operatórias, o aumento da satisfação do paciente e a melhoria dos indicadores de qualidade. Essa abordagem multidisciplinar e centrada no paciente é essencial para garantir a excelência nos cuidados de saúde durante todo o processo cirúrgico.
Vale ressaltar que essas ações de enfermagem estão previstas em leis e em portarias, como a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem (Lei nº 7.498/1986), que estabelece as competências privativas do enfermeiro, incluindo a promoção da segurança do paciente durante procedimentos cirúrgicos. Além disso, a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 599/2021 reforça a responsabilidade do enfermeiro na implementação de protocolos e diretrizes específicas para garantir a segurança do paciente em ambientes cirúrgicos.
A Norma Regulamentadora nº 32 (NR-32) do Ministério do Trabalho também desempenha um papel fundamental ao estabelecer diretrizes essenciais para a segurança do paciente durante procedimentos cirúrgicos. Por meio da NR-32, são definidas medidas para prevenir riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos, contribuindo assim para a redução de eventos adversos e a promoção de práticas seguras no centro cirúrgico.
Adicionalmente, a Portaria do Ministério da Saúde nº 529/2013 institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), que estabelece metas e diretrizes para a segurança do paciente em diversos contextos, incluindo a cirurgia. Essa iniciativa governamental evidencia a preocupação com a qualidade e a segurança dos cuidados prestados aos pacientes, fornecendo um arcabouço regulatório para orientar as práticas de enfermagem no centro cirúrgico.
Essas ações, portanto, não apenas cumprem os requisitos legais e normativos, mas também refletem o compromisso ético da enfermagem com a promoção de um cuidado seguro, centrado no paciente. A incorporação dessas diretrizes na prática diária fortalece a cultura de segurança institucional e posiciona o enfermeiro como protagonista nas políticas de qualidade hospitalar.
Dessa forma, a atuação do enfermeiro na gestão de riscos e na promoção da segurança do paciente durante procedimentos cirúrgicos é respaldada por uma legislação e regulamentação específica, que estabelecem diretrizes claras e objetivas para garantir a excelência nos cuidados de saúde. Essas normativas fornecem um suporte legal e técnico para as ações desenvolvidas pelos enfermeiros, contribuindo para a redução de complicações pós-operatórias, a melhoria dos indicadores de qualidade e a satisfação dos pacientes.
A gestão do tempo cirúrgico e a organização dos turnos de trabalho da equipe de enfermagem são elementos fundamentais para a segurança do paciente e a eficiência dos procedimentos no centro cirúrgico. A sobrecarga de trabalho, a fadiga e os longos turnos podem comprometer a capacidade de atenção dos profissionais e aumentar o risco de erros. De acordo com Silva e Andrade (2021, p. 49), “a exaustão física e mental decorrente de jornadas prolongadas é um fator diretamente relacionado à ocorrência de falhas na assistência, sobretudo em ambientes de alta complexidade como o centro cirúrgico”.
O enfermeiro, na posição de gestor do cuidado, desempenha um papel central na organização dos turnos, assegurando que a equipe esteja devidamente dimensionada e que as pausas sejam respeitadas. A adequada gestão da carga horária permite não apenas preservar a saúde dos profissionais, mas também manter a qualidade da assistência prestada. Estudos indicam que a fadiga em turnos noturnos pode reduzir a capacidade de resposta a eventos adversos, impactando diretamente nos resultados cirúrgicos (FERNANDES et al., 2020).
Além disso, o planejamento do tempo cirúrgico — desde o preparo pré-operatório até a recuperação imediata — exige sincronia entre os diversos membros da equipe. O enfermeiro coordena esses fluxos, garantindo que atrasos sejam minimizados, os recursos estejam disponíveis e que o paciente receba assistência contínua. Segundo Costa et al. (2022, p. 88), “a má gestão do tempo cirúrgico contribui para o aumento do tempo de exposição do paciente a riscos, como infecção, hipotermia e eventos adversos relacionados à anestesia”.
É também atribuição do enfermeiro promover a análise crítica dos indicadores relacionados à pontualidade dos procedimentos e à duração das cirurgias, buscando estratégias para otimizar os processos. Essa prática é essencial para reduzir o tempo de espera, aumentar a rotatividade segura das salas operatórias e melhorar a experiência do paciente. Como destacado por Mendes e Rocha (2023), “a gestão eficiente do tempo no centro cirúrgico reflete diretamente na redução de custos hospitalares e na melhoria dos desfechos clínicos”.
Portanto, a atuação do enfermeiro na gestão do tempo cirúrgico e na organização dos turnos de trabalho é indispensável para garantir um ambiente de cuidado seguro, produtivo e centrado no paciente. A adoção de escalas justas, a valorização do descanso da equipe e o controle efetivo do tempo de cada etapa do processo cirúrgico são medidas que impactam positivamente na segurança e na qualidade da assistência prestada.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segurança do paciente no centro cirúrgico configura-se como um dos pilares fundamentais da qualidade em saúde, sobretudo diante da complexidade dos procedimentos realizados e do alto risco de eventos adversos nesse ambiente. A atenção cirúrgica exige uma abordagem sistematizada, pautada em protocolos assistenciais bem definidos, vigilância constante e atuação colaborativa de todos os profissionais envolvidos. Nesse contexto, a atuação do enfermeiro se destaca como essencial para a promoção de práticas seguras, organização dos processos de trabalho e fortalecimento da cultura da segurança.
O presente estudo buscou compreender a atuação do enfermeiro na gestão de riscos no centro cirúrgico, ressaltando seu papel multifacetado na coordenação das atividades assistenciais, na identificação precoce de falhas e na implementação de estratégias preventivas. Os dados analisados demonstraram que a presença ativa desse profissional está diretamente associada à redução de erros médicos, à correta identificação do paciente, à conferência dos materiais cirúrgicos e ao rigor com os princípios de assepsia e antissepsia, que são vitais para evitar complicações como infecções do sítio cirúrgico.
Além disso, verificou-se que o enfermeiro tem papel importante na articulação da equipe multiprofissional e na promoção de uma comunicação clara e eficaz entre seus membros, o que contribui significativamente para a tomada de decisões seguras. A aplicação de checklists cirúrgicos, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde, mostrou-se uma ferramenta indispensável na prevenção de falhas, sendo eficaz na redução de incidentes como cirurgias em local incorreto, administração errada de medicamentos e perda de materiais durante os procedimentos.
Outro aspecto relevante identificado neste estudo foi a importância do suporte emocional oferecido pelo enfermeiro no pré-operatório. O acolhimento humanizado, a escuta ativa e o esclarecimento de dúvidas reduzem a ansiedade do paciente e favorecem melhores respostas fisiológicas durante a cirurgia e no processo de recuperação. Essa dimensão do cuidado demonstra que a segurança do paciente vai além da técnica, envolvendo também o bem-estar emocional e a valorização da dignidade humana.
A discussão sobre os indicadores de qualidade permitiu compreender que o monitoramento contínuo dos dados assistenciais é fundamental para a identificação de pontos críticos e posterior elaboração de planos de ação corretivos. Instituições que mantêm sistemas de vigilância ativa e auditorias internas conseguem reduzir a ocorrência de eventos adversos e fortalecer uma cultura de segurança sólida. Nesse cenário, destacam-se os hospitais que seguem fielmente os protocolos estabelecidos por órgãos como a ANVISA, o COFEN e a Organização Mundial da Saúde, os quais oferecem diretrizes baseadas em evidências científicas.
A formação contínua da equipe de enfermagem foi outro fator apontado como decisivo para a segurança cirúrgica. A capacitação técnica, aliada à sensibilização para práticas éticas e seguras, promove uma atuação mais consciente e eficiente frente às adversidades do ambiente cirúrgico. O incentivo à educação permanente, à participação em treinamentos e à reflexão crítica sobre os próprios processos de trabalho deve ser uma prioridade das instituições de saúde que visam à excelência.
Conclui-se, portanto, que a gestão eficaz de riscos no centro cirúrgico está intrinsecamente ligada à atuação do enfermeiro. Esse profissional, por meio de sua competência técnica, liderança e compromisso com a qualidade assistencial, é peça-chave na prevenção de eventos adversos e na promoção de um cuidado cirúrgico seguro e humanizado. O reconhecimento de sua função estratégica deve ser acompanhado por investimentos em condições adequadas de trabalho, dimensionamento adequado de pessoal e políticas institucionais que valorizem a segurança do paciente como princípio central da assistência.
Dessa forma, recomenda-se que pesquisas futuras aprofundem a relação entre a carga de trabalho da equipe de enfermagem e os indicadores de segurança do paciente, uma vez que o excesso de atividades e a sobrecarga física e mental podem comprometer a qualidade do cuidado prestado. Ademais, torna-se necessário explorar o uso de tecnologias inovadoras, como sistemas informatizados de checagem, sensores de segurança e inteligência artificial aplicada à gestão hospitalar, como recursos para potencializar o monitoramento dos riscos e otimizar os processos cirúrgicos.
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1Graduanda em Enfermagem. Faculdade Santa Luzia – FSL. E-mail: 1648@faculdadesantaluzia.edu.br
2Docente Especialista do Curso de Enfermagem. Faculdade Santa Luzia – FSL e orientadora.