GESTÃO DA MANUTENÇÃO DE PONTES DE CONCRETO ARMADO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202407312142


Diego Sebastian Carvalho de Souza;
Thiago Sebastian Carvalho de Souza.


RESUMO

O objetivo do trabalho foi promover a discussão sobre a gestão da manutenção de pontes de concreto armado. O arcabouço teórico utilizado, discutiu a tipologia do processo de manutenção, sua classificação e ferramenta e instrumentos. O plano de manutenção foi a base da gestão proposta. Como estudo de caso utilizou-se a Pontes Flavio de Miranda Gonçalves, situada no bairro de Vila Nova, no município de Barra Mansa – RJ. Como principal resultado discutiu-se a questão da gestão de manutenção, aplicando metodologias para a gerir este processo em uma ponte de concreto, de acordo com sua natureza, tempo e custo. Gerando um planejamento de manutenção eficiente.

ABSTRACT

The objective of the work was to promote discussion about the maintenance management of reinforced concrete pontess. The theoretical framework used discussed the typology of the maintenance process, its classification and tools and instruments. The maintenance plan was based on the management proposal. As a case study, the Flavio de Miranda Gonçalves Pontes was used, located in the neighborhood of Vila Nova, in the municipality of Barra Mansa – RJ. As a main result, the issue of maintenance management was discussed, applying methodologies to manage this process on a concrete pontes, according to its nature, time and cost. Generating efficient maintenance planning.

Palavras-Chave – Gestão; Manutenção; Pontes

1 – INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo discutir a gestão da manutenção de pontes de concreto armado. Justifica-se, porque o Brasil é um país dependente destas estruturas, que em sua maioria, são geridas por municípios com disparidades de recursos, gerando assim uma dificuldade de manutenção destas Pontes de Concreto.

A avaliação, inspeção e constatação, do estado das pontes de concreto são realizadas pelo método preconizado pela NBR ABNT –9452 Inspeção de Pontes, Viadutos e Passarelas de Concreto (2019). Essa metodologia consiste em dado de entrada para execução de manutenção corretiva ou preventiva, preditiva entre outros métodos, das pontes no país. Entretanto, é apenas uma parte do processo de manutenção destas estruturas.

Existem várias formas de implantação de análise e elaboração de programas de gestão baseadas em multicritérios como o método (TOPSIS) e em métodos que perfazem pela inspeção e valoração direta, qualitativa o como o método da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

A inspeção constitui-se uma parte do processo de gestão de pontes de concreto, pois confere uma pontuação ou valor a degradação dessas estruturas, entretanto é apenas parte de um complexo contexto a da gestão da manutenção, ou seja, a inspeção isoladamente não é métrica para definir como uma gestão irá ocorrer.

Nos trabalhos analisados sobre gestão das pontes, como os Manuais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT do governo Brasileiro (Manual de Recuperação de Pontes e Viadutos Rodoviários (2010) e Manual de Inspeção de pontes Rodoviárias (2004)), há discussão técnica é pautada apenas em termos das inspeções e reparos a degradação. Com isso, ignora-se fatores indispensáveis na gestão da manutenção das pontes de concreto armado, na qual o processo de inspeção faz parte, mas, não é um fim, outros procedimentos e análises devem ser realizados, para um planejamento eficiente e eficaz da manutenção das pontes de concreto armado.

Em muitas cidades do país, de médio e pequeno porte, não há uma gestão da manutenção, isso significa a falta de um plano de manutenção. Diferentemente do que acontece nestas pontes de concreto armado, sobre jurisdição federal.

2 – DESENVOLVIMENTO

2.1 Gestão da Manutenção

Para a ABNT- NBR 5462 (1994) a manutenção é considerada uma combinação de todas as atividades técnicas e gerenciais, incluindo atividades de supervisão, destinadas a manter ou devolver um item a uma condição capaz de desempenhar as funções exigidas.

Já as pontes de concreto armado, objeto deste trabalho, oferecem risco a sociedade, por isso, a importância da realização da gestão da manutenção dos seus elementos. A própria atividade sob qual estão submetidas, geram perda de sua capacidade funcional.

Almeida (2009) explica que ao longo da vida útil das pontes a capacidade resistente da estrutura vai em geral diminuindo e as solicitações e exigências funcionais aumentam. Assim, para garantir o nível de segurança desejado nas pontes e ir respondendo de forma satisfatória às exigências inerentes aos seus períodos de funcionamento é importante implementar um Sistema de Gestão da Manutenção de pontes de concreto.

A ABNT- NBR 5462 (1994), aplica o conceito de confiabilidade a gestão da manutenção, pelo risco, por isso, existe a necessidade de analisar as possíveis de falhas dos processos de concepção, reparação, restauração, utilização e manutenção das pontes de concreto armado.

Como estruturas que oferecem um risco, as pontes de concreto devem ter padrões claros e rígidos de durabilidade, para tal, faz-se necessário e a garantia da manutenção nas suas condições de uso. 

Para Souza e Ripper (1998), uma lista de possíveis causas de ineficiência em pontes de concreto é o erro humano durante o processo de projeto, construção e manutenção da ponte. Ele explica que já durante a construção muitas estruturas de pontes não funcionam adequadamente.

Outros motivos como exposição às intempéries envelhecimento da estrutura materiais de baixa qualidade, falta de manutenção também ocasionam o aparecimento de sintomas patológicos.

Portanto, como não há condições de refazer a pontes de concreto armado, o cuidado com a manutenção deve ser majorado, para garantir confiabilidade no processo de utilização e com isso, tornar o risco diminuto.

A NBR 5462(1994) no que tange ao processo de utilização sugestiona a análise do estado do elemento de acordo com níveis, capazes de orientar o processo de manutenção dos elementos, neste caso, da ponte de concreto. Como apresentado na Figura 1.

1- Níveis do elemento

Fonte: NBR 5462(1994)

Dentro destes estados apresentados pela Figura 1, a normativa conceitua o estado operacional quando o elemento da ponte, está desempenhando normalmente suas funções, ou seja, funcionamento esperado e normal, a sua antítese é o estado de incapacidade, que é a falta de condições que o elemento possui por determinada razão de desempenhar suas funções.

Pelo risco, perda material e de vida, as pontes e seus elementos não devem operar em estado crítico, ou seja, um estado de comprometimento das pontes de concreto armado que tem grande probabilidade de gerar evento adverso de grandes proporções.

Em muitas cidades no Brasil, as pontes foram construídas entre as décadas de 50 e 80, por isso, a questão do tempo de utilização e as mudanças de tráfego, tem potencial de alterar as condições de utilização previstas os projetos, mesmo com o horizonte de 20 anos, pois a tecnologia e o planejamento urbano de uma cidade podem variar ao longo do tempo.

Outra questão a ser abordada, neste tipo gestão em pontes de concreto são a tipologia no processo de manutenção. A manutenção pode ser dividida em preventiva, corretiva, preditiva.

Segundo Uesugui (2023) a manutenção preventiva é o processo que tem como objetivo diminuir a incidência de falhas e a interrupção do funcionamento valendo-se de métodos e padrões pré-estabelecidos. Essas manutenções acontecem de forma programada, pois já existe uma padronização, tem como efeito a diminuição do custo, porque existe um processo indissociável entre custo e manutenção. Neste tipo de manutenção é importante a parametrização entre o que deva ser trocado e a quantidade de inspeções. Para que haja equilíbrio entre custo e tempo.

Para Costa (2021) a manutenção corretiva pode ser caraterizada como o processo de restauração do elemento da ponte que está sujeito a falhas que a comprometem. Isso porque as características projetadas, possuem potencial de ocasionar a diminuição da capacidade da ponte em exercer sua função, no âmbito do desempenho esperado.

Ferreira (2018) conceitua a manutenção preditiva ou Manutenção Preventiva Baseada na Condição (MPC ou CBM), como uma modalidade de manutenção que prediz o tempo de vida útil dos seus componentes. Com isso estabelece condições para o tempo de vida seja bem aproveitado, além de prover uma redução de custos de manutenção e aumento da produtividade.

Como resultado da manutenção preditiva, espera-se um aumento dos intervalos dos reparos (manutenção corretiva) e dos reparos programados (manutenção preventiva).

2.2 Gestão da Manutenção por Análise de Multicritérios

Ribeiro (2021) explica que os métodos de Tomada de Decisão Multicritério (Multi-Criteria Decision Making – MCDM) são ferramentas utilizadas para identificar e quantificar a tomada de decisão a partir de diversos fatores a fim de comparar diferentes alternativas de ação.

As metodologias de MCDM apresentam a capacidade de agregar em sua abordagem múltiplos aspectos, muitas vezes conflitantes entre si com diferentes níveis de incertezas, dados ambíguos e incompletos e que demandam por opinião de diferentes especialistas de diferentes áreas.

Zelada (2021) apresenta o método TOPSIS, desenvolvido por Hwang e Yoon (1981) que avalia a distância em relação a uma solução ideal e a uma inversa, conhecida como anti-ideal, por meio de uma “taxa de similitude”.

Isso significa uma comparação entre as alternativas que estão mais próximas da solução ideal, e mais distantes, ou seja, a solução anti-ideal. Com isso, cria-se um padrão de medida baseada na proximidade.

Para uma assertiva comparação, neste método, é necessário a realização de etapas, e a escolha adequada dos critérios. Matos (2020) apresenta as etapas da construção do modelo TOPSIS na Figura 2.

Figura 2- Etapas da construção do TOPSIS

Fonte: Matos (2020)

Segundo Corrente (2023) na prática existe uma infinidade de critérios que podem ser utilizados, o gestor pode configurar a metodologia para escolha de critérios que fazem sentido a sua análise, inclusive escolher um critério raiz, que será pujante no processo de hierarquização e classificação.

O relatório realizado pela equipe da CNT (2023), sobre a infraestrutura das rodovias brasileiras apresenta alguns critérios de avaliação como parâmetro de análise das condições das pontes federais. De acordo com o Figura 3.

Figura 3- – Critérios de avaliação -CNT

Fonte: Pesquisa CNT de rodovias 2023.

Por meio de critérios é possível realizar a metodologia TOPSIS, que tem a finalidade de apurar a distância entre o comportamento esperado das pontes de concreto armado e o estado real da ponte, por meio da distância entre os parâmetros. No caso das pontes de concreto os critérios apresentados na Figura 3, foram parâmetros para pesquisa da CNT (2023), podendo ou não serem replicados de acordo com as necessidades dos municípios.

Chakraborty (2021) explica que estas distâncias são oriundas de alternativas que são classificadas por meio de um índice global calculado com base nas distâncias das soluções ideais. Este método precisa de uma parametrização, bem específica, realizada por profissionais, capazes de interpretar o cenário e realizar sua calibração.

Portanto, pode ser não aplicável a realidade dos municípios brasileiros, porque não dispõem de especialistas e recursos. Entretanto, pode ser aplicando a esfera federal, por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, do Brasil, como a autarquia está propondo.

Para o planejamento da gestão de manutenção das pontes de concreto, duas variáveis devem ser aplicadas a analise multicritérios, o custo e o tempo. Isso se explica pela necessidade dos processos de manutenção, estarem interligados com o planejamento financeiro das ações. Devendo resultar no equilíbrio entre a contenção do processo de deterioração das pontes e o dispendido que deverá ser realizado pelo órgão público. As análises e os métodos por si só, não tem a capacidade decisória, entretanto, são ferramentas importantes. Isso porque a arrecadação do órgão público, pode não ser compatível, com o tempo e a necessidade de realizar as manutenções previstas.

2.3 Método de inspeção baseada na NBR ABNT –9452

A ABNT –9452- Inspeção de Pontes, Viadutos e Passarelas de Concreto (2019) atribuiu valores de acordo com a avaliação das condições gerais das pontes e seus elementos, utilizando uma escala que varia de excelente, ótimo, regular, ruim e crítico. Dessa forma, avalia o grau de deterioração da ponte de concreto armado, que está diretamente relacionado à gravidade dos problemas detectados durante a inspeção. Como premissa a avaliação das pontes se dá por meio de parâmetros baseados em sua estrutura, funcionalidade e durabilidade. 

Os parâmetros estruturais são aqueles que dizem respeito à segurança estrutural e seus critérios se baseiam na norma ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de Concreto (2023).

Os parâmetros funcionais são diretamente relacionados aos requisitos geométricos e ao conforto dos usuários, adequados da ponte.

Já os padrões de durabilidade estão associados à vida útil da estrutura, amparados pela ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de Concreto (2023), fatores como recobrimento do concreto, nível de agressividade do ambiente e esbeltez.

De acordo com ABNT -NBR 9452(2019), para classificar o grau de degradação da ponte, usa-se uma metodologia para atribuir avaliação de sua condição, caracterização estrutural, caracterização funcional e caracterização de durabilidade. A esta será atribuída um conceito, por meio de nota de 1 a 5.  Assim sendo, a estrutura pode ser classificada como excelente, excelente, regular, ruim ou crítica. O que se refere a este trabalho é o grau de deterioração. É possível observar na Figura 3

A ABNT -NBR 9452(2019) prevê vários graus de detalhamento dependendo da tipologia da inspeção e das anomalias encontradas nas pontes.

Para realizar analise da degradação dos elementos das pontes utiliza critérios para classifica-los: Principal (P) quando o dano do elemento pode causar o colapso parcial ou total da obra; Secundários (S) o dano pode causar ruptura localizada; Complementares (C) quando o dano pode causar apenas comprometimento funcional.   

Depois desta classificação atribui notas que variam de 1 a 5 para cada elemento, como parâmetro a capacidade de gerar dano. Como apresentado nas Figuras 3, 4 e 5.

Figura 3 -Classificação da Estrutura

Nota de ClassificaçãoCondiçãoCaracterização EstruturalCaracterização FuncionalCaracterização Durabilidade
5ExcelenteA estrutura apresenta-se em condições satisfatórias, apresentando defeitos irrelevantes e isolados.A OAE apresenta segurança e conforto aos usuários.A OAE apresenta-se em perfeitas condições, devendo ser prevista manutenção de rotina.
4BoaA estrutura apresenta danos pequenos e sem comprometer a segurança estrutural.A OAE apresenta pequenos danos que não chegam a causar desconforto ou insegurança ao usuário.A OAE apresenta pequenas e poucas anomalias, que comprometem sua vida útil, em região de baixa agressividade ambiental.
3RegularHá danos que podem vir a gerar alguma deficiência estrutural, mas não há sinais de comprometimento da estabilidade da obra. Recomenda-se acompanhamento dos problemas. Intervenções podem ser necessárias a médio prazo.A OAE apresenta desconforto ao usuário, com defeitos que requerem ações de médio prazo.A OAE apresenta pequenas e poucas anomalias, que comprometem sua vida útil, em região de moderada a alta agressividade ambiental ou a OAE apresenta moderadas a muitas anomalias, que comprometem sua vida útil, em região de baixa agressividade ambiental.
2RuimHá danos que comprometem a segurança estrutural da OAE, sem risco iminente. Sua evolução pode levar ao colapso estrutural. A OAE necessita de intervenções significativa a curto prazo.OAE com funcionalidade visivelmente comprometida, com riscos de segurança ao usuário, requerendo intervenções de curto prazo.A OAE apresenta anomalias moderadas a abundantes, que comprometam sua vida útil, em região de alta agressividade ambiental.
1CríticaHá danos que geram grave insuficiência estrutural na OAE. Há elementos estruturais em estado crítico, com risco tangível de colapso estrutural. A OAE necessita intervenção imediata, podendo ser necessária restrição de carga, interdição total ou parcial ao tráfego, escoramento provisório e associada instrumentação, ou não.A OAE apresenta condições funcionais de utilização.A OAE encontra-se em elevado grau de deterioração, apontando problema já de risco estrutural e/ou funcional.
Fonte: ABNT 9452 (2019)

Figura 4 – Relevância dos elementos no sistema estrutural

ElementoSistema estrutural
Duas VigasGrelasCaixãoLajeGaleria
SuperestruturaVigaLongarinaPP
TransversinaSSSSS
LajeSSPPP
MesoestruturaTravessasPPPP
PilaresPPPP
Aparelho de apoioPPPP
EncontrosCortinaSSSS
Laje de transiçãoSSSSS
Muros de alaSSSSS
InfraestruturaBlocosPPPPP
SapatasPPPPP
Estacas, tubulaçõesPPPPP
ComplementaresBarreira rígidaCCCCC
Guarda-corpoCCCCC
Fonte: ABNT 9452 (2019)

Figura 5 – Verificação das anomalias segundo os parâmetros – Exemplo

Fonte: ABNT 9452 (2019)

A metodologia utilizada nas normas brasileiras faz uma análise do processo de deterioração de pontes e a priorização das medidas, entretanto, não constituem uma gestão completa da manutenção, pois não elencam a questão de custo, tempo e recurso, para sua execução.

2.4 Custo de Manutenção

De acordo com Almeida (2019) os custos estimados de reparação estão se tornando cada vez mais altos e os trabalhos de conservação deverão de preferência ser executados de forma individual para cada componente da ponte, para maior desempenho dessas partes da estrutura. Com as dificuldades econômicas que apresentam os órgãos públicos todas as manutenções devem ser programadas e executadas no seu devido tempo, mas tendo que ser constantes e eficientes.

Segunda a NBR 5674 – Manutenção das Edificações (2024), ao processo de manutenção, tem relação direta com o custo da estrutura para a sociedade, quanto mais preventiva for, menor o custo de recuperação e manutenção de qualquer edificação como apresentado na Figura 6.

Figura 6- Fases da Manutenção e sua relação com o custo

Fonte: Costa e Silva (2008)

Na Figura 6 o custo da manutenção corretiva é maior e pode ser explicado pela lei de evolução dos custos de manutenção. Para Fernandes (2019) o custo da intervenção, ou seja, da correção de um elemento de uma ponte, é dado por uma função matemática exponencial crescente, para cada fase de sua vida. Isso significa que na fase de concepção (projeto e execução) o custo é menor que na sua utilização, podendo multiplica-se por cinco os custos acumulados, formando a curva de tendência. 

O custo da manutenção de uma ponte de concreto armado é diretamente proporcional a sua utilização e a seu ciclo de vida. Para Ribeiro (2021) as atividades que compõem o ciclo de vida destes das pontes de concreto exigem grandes investimentos públicos, que nem sempre estão à disposição.

Conclui-se que ao longo do tempo, o processo de manutenção corretiva sempre demandará maior necessidade de detalhamento das atividades e desembolso.  

Já a manutenção preventiva garante a vida útil, com a menos dispêndio de valores, diferentemente do processo de manutenção corretiva, a depender do tempo das manutenções e dos critérios parametrizados, vinculados aos processos de gestão.

Todos os processos de manutenção são devem estar ajustados com o custo, para que não se tornem inexequíveis.

3 – METODOLOGIA

De acordo com Costa (2003) o plano de manutenção consiste em uma medida que pode trazer mais segurança, qualidade e confiabilidade para o sistema a sofrer a manutenção. Sendo assim, o plano de manutenção também tem a importância estratégica para a redução de custos operacionais e organização da empresa.

Para Soeiro (2017) o plano de manutenção é a combinação de duas ações básicas: planejar a atividade, para definir o que, como e em quanto tempo ela deve ser realizada, e programar a atividade, para definir quem, como e quando a realizar.

O tipo de manutenção empregado em pontes usualmente são as preventivas e corretivas, que respondem a uma determinada inspeção de acordo com a ABNT – NBR 9452(2019).

Para construção desta análise as diretrizes utilizadas são relacionadas a Manutenção Preventiva Baseada na Condição (MPC ou CBM), pois ao analisar a tipologia das manutenções, a mais adequada a cenário dos municípios brasileiros, ou seja, a sua tecnologia e recursos. Entretanto, dentro do plano de manutenção, também ocorrerá ações baseadas nas manutenções corretivas e preventivas.

Segundo Almeida (2009) a prioridade das ações de manutenção a serem realizadas nas pontes devem levar em consideração a sua estrutura, pelo risco, e os fatores políticos respectivas a entidade responsável pela ponte, assim cada ponte e cada munícipio devem estabelecer as prioridades necessárias ao bom funcionamento da ponte de concreto armado.

Portanto, a condição do município é uma das variáveis a serem analisadas na formulação do plano de manutenção da ponte. Justificando a tecnologia e padrões de gestão a serem utilizados.

Os dados de entrada serão confeccionados por meio de inspeção da ponte de acordo com a NBR 9452(2019) e análise de projeto caso município o possua.

Segundo Souza (2023) para determinar o plano de ação, equivalente ao plano de manutenção, nos processos de análise das deficiências das pontess de concreto armado, poderá ser utilizada a ferramenta 5W2H (what, why, who, where, when, how e how much), que contempla atividade, custo e tempo que são necessárias a gestão da manutenção.

Para este estudo, também foi utilizado a Matriz GUT para priorização das ações do plano de manutenção. De acordo com a ABNT- NBR 9452(2019) o risco ao usuário deve ser a motriz da avaliação, seja na estrutura ou na funcionalidade das pontes.

Os municípios brasileiros não possuem recurso para obtenção de tecnologia, que facilite o processo de gestão da manutenção, entretanto, com métodos assertivos, podem controlar a degradação das pontes, restaurando seu ciclo de vida.

4 – ESTUDO DE CASO   

A cidade de Barra Mansa está localizada no Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, possui uma população estimada pelo censo IBGE (2024) de 169.000 habitantes. Possui uma ponte de concreto entre os bairros Saudade e Vila Nova, denominada: Flávio de Miranda Gonçalves. Esta atravessa o Rio Paraíba do Sul, realizando a ligação entre os dois bairros, localizada pelas coordenadas: 22°31’31.37″S e 44°11’22.89″O.

A inspeção da ponte ocorreu 15/01/2024, como critério a ABNT- NBR 9452 (2019). Para este trabalho foi realizada do tipo visual, com o intuito de gerar dados para o estudo de caso.

Foram identificadas anomalias nos elementos complementares classificados como funcionais, pela ABNT- NBR 9452 (2019) e descritos como: pista de rolamento asfalto desgastado, drenagem existente e insuficiente, exposição de armadura no guarda corpo, junta elástica desgastada e irregularidades no piso do passeio. Nesta analise a drenagem da via foi considerada o maior grau de degradação. Como apresentado na Figura 7.

Figura 7- Verificação dos elementos funcionais da ponte

De acordo com a inspeção realizada, como critério a ABNT -NBR 9452(2019), item estruturas e durabilidade, local mesoestrutura foram encontradas fissuras nos pilares, umidade no tabuleiro, vegetação crescente e exposição da armadura no pilar. Como apresentada na Figura 8.

Figura 8 – anomalias na estrutura da ponte

No processo de busca das fontes não foram evidenciados, um plano de manutenção, projeto ou sistema responsável por gerir a manutenção das pontes do município.

5 – ANÁLISE E RESULTADOS

A primeira etapa do processo de análise e formulação da gestão da manutenção da ponte Flávio Miranda de Carvalho, foi a realização de busca por seu projeto e plano de manutenção existente e o levantamento do estado da ponte e seus elementos para compor os dados de entrada.                 

Como muitos municípios do Brasil, não foi evidenciado a documentação técnica do projeto, bem como plano sistemático para sua manutenção. Portanto, coube-nos realizar a inspeção visual de acordo com a ABNT -NBR 9452(2019), para fornecer os dados de entradas necessários para realização da gestão da manutenção da ponte de concreto armado.

A inspeção realizada resultou em uma série de elementos que foram subdivididos de acordo com a ABNT-NBR 9452(2019) em funcionais, estrutural e durabilidade, de acordo com a Figura 4, que necessitam de atenção no processo de gestão da manutenção desta ponte.  Como apresentado na Tabela 1.

De acordo com a Figura 5, extraída da a ABNT -NBR 9452 (2019) os elementos devem ser classificados por uma pontuação para discernir as anomalias a serem tratadas, gerando seu ranqueamento. Como visto na Tabela 1, item Pontuação. 

O resultado desta análise apresenta uma dicotomia, porque, o item de maior pontuação, 4 – drenagem insuficiente, não é o maior risco para estrutura, mas aquele que pode causar maior dano a curto prazo.

Já o resultado geral da avaliação das pontes, pontuação 3, condição regular, de acordo com a Figura 3, indica que a degradação da ponte tem potencializada a condição de gerar de deficiência estrutural e um desconforto ao usuário a médio prazo.

Nota-se uma diferença de resultado entre a pontes e o elemento respectivamente 3 e 4. Isso significa que um elemento, pode ou não, interferir nas condições gerais de degradação das pontes, por isso, ao o grau de significância representado pelas letras P, C e S, como apresentado na Figura 4.

Tabela 1 – Avaliação dos elementos da ponte

Avaliação dos elementos da Pontes
Elementos funcionaisPontuaçãoComponentes
 Asfalto desgastado1C
Drenagem existente e insuficiente4C
Exposição de armadura no guarda corpo1C
Junta de dilatação desgastada2C
Irregularidades no piso do passeio1C
Estrutura  
Fissuras nos pilares2S
Umidade1C
Crescimento da Vegetação1C
Durabilidade  
Exposição da armadura2S

Para elaboração de um plano de manutenção, há necessidade de escolher um método suprir os critérios de segurança da estrutura da ponte e dos usuários, por isso, realizou-se uma análise de priorização, por meio da Matriz GUT, afim de nortear as ações prioritárias do plano, que serão estratificadas por elementos. Como apresentado na Tabela 2.

Como resultado o primeiro conjunto de ações a serem priorizados para a realização do plano de manutenção, a drenagem com pontuação 27, a fissura nos pilares, com pontuação 18 e a exposição da armadura com pontuação 12. No que tange a análise da desta matriz, essas anomalias deveriam ser a prioridade no processo de gestão da manutenção.

Tabela 2 – Matriz de priorização

Matriz de Priorização
Elementos funcionaisGUTResultadoPrioridade
 Asfalto desgastado323182
Drenagem existente e insuficiente333271
Exposição de armadura no guarda corpo22145
Junta elástica desgastada322123
Irregularidades no piso do passeio32164
Estrutura     
Fissuras nos pilares332181
Umidade232122
Crescimento da Vegetação22283
Durabilidade     
Exposição da armadura322121

Após o processo de inspeção e análise do grau de deterioração dos elementos e da estrutura da ponte, a realização da priorização pela Matriz GUT, aplicou-se a ferramenta 5W2H.

Como parâmetros foi considerado custo zero todos os serviços que a prefeitura dispunha de mão de obra e materiais para sua realização, enquanto foi indicada a contratação de serviço de terceiros, os serviços específicos e que a prefeitura não dispõe de corpo técnico para sua realização.

Ao elaborar o plano de manutenção, foi necessário rever a priorização, pois há atividades que devem ser realizados de forma concomitante, ou respeitando sua natureza, pelas práticas de boa engenharia, exemplo disso é a questão do refazimento do asfalto desgastado, o refazimento da junta elástica, e o aumento da capacidade do sistema de pontes drenagem.

A questão do tempo e custo foram outros fatores que modificaram o processo de priorização, na gestão da manutenção desta concrete pontes. Isso se explica, pelo tempo que uma prefeitura está submetida aos processos da legislação para contratação de determinada atividade ou serviço. A atividade realizada por empresa terceirizada deve passar por processos rígidos licitatórios, ou seja, haverá competição pública para sua realização, e uma homologação da empresa vencedora, que terá um tempo para iniciar o serviço ou atividade. Plano de manutenção elaborado está sintetizado na Quadro 1.

Quadro 1 – 5W2H – Plano de Manutenção

O planejamento do processo de gestão da manutenção deve elabora um plano de manutenção em concordância com a capacidade de realização dos serviços e atividades propostas.

Outro fator que deve ser meticulosamente analisado é questão do tempo, pois os processos que envolvem liberação de recursos e tempo de execução considerados grandes, interferem diretamente no planejamento e execução das ações. A atividade deve ser pensada para aproveitamento máximo do recurso.

6 – CONCLUSÃO 

A gestão do processo de manutenção de uma ponte tem como arcabouço variáveis importantes que podem determinar a condição desta ponte de atender uma determinada população. Ao se debruçar sobre ferramentas e metodologias o gestor deve assegurar que estão de acordo com a realidade na qual a gestão está sendo efetivada.

O plano de manutenção é um elemento da gestão que facilita a visualização e o planejamento das atividades que garantem a integridade da ponte. Este instrumento da gestão da manutenção deve ser realizado de acordo com as atividades, custo, tempo e processos necessários para sua execução.

Dependendo do cenário, neste caso um município, a gestão da manutenção, pode ser realizado com mais ou menos tecnologia, entretanto não deve faltar o conhecimento técnico e o planejamento.

Na análise das atividades deve-se respeitar o processo de engenharia civil e aproveitamento de recursos, para que seja exequível as intervenções necessárias.

A manutenção deve ser pensada em todos os níveis a depender do estado da ponte. Isso significa que em um mesmo planejamento, faça-se a manutenção preventiva, preditiva ou corretiva.

7 – REFERÊNCIAS

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