RISK MANAGEMENT IN CULTURAL EVENTS WITH CROWDS IN PUBLIC PLACES: A STUDY ON THE EXISTING RISKS IN THE STREET CARNIVAL OF THE BEIRA-MAR CIRCUIT, SÃO LUÍS-MA, IN 2023
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10459523
Pedro Antonio Souza Leite¹; Wellinton de Assunção²; Lucio Flavio de Albuquerque Campos3; Mauro Sergio Silva Pinto4; Fernando Lima de Oliveira5; Moisés dos Santos Rocha6; Jean Robert Pereira Rodrigues7; Thayanne Alves Ferreira8; Italo Ramon Januario9; Abisaer Lima Lago Júnior10;
Resumo
Este estudo analisa riscos e propõe medidas de prevenção para o carnaval de rua no circuito Beira-Mar, em 2023, na cidade de São Luís – Ma. Durante o estudo, levantou-se a percepção de riscos sob o ponto de vista dos foliões, baseado em técnicas descritas nos estudos mais recentes. Foram desenvolvidas a análise preliminar de riscos e análise por árvore de falhas. As abordagens qualitativa e quantitativa foram combinadas para compreender os riscos e desenvolver estratégias eficazes. Utilizaram-se registros fotográficos para mapear áreas de interesse e identificar fatores de risco. Os resultados revelaram preocupações dos foliões em determinados fatores de risco, como venda de bebidas, venda de alimentos, trios elétricos, infraestrutura, localização próxima ao mar, policiamento, densidade populacional, problemas de saúde e estruturas provisórias. Essas informações subsidiaram o desenvolvimento de estratégias para prevenção e mitigação de riscos e forneceram orientações práticas aos organizadores e autoridades para promover um ambiente seguro.
Palavras-chave: Análise de riscos; Multidões; Eventos.
1. INTRODUÇÃO
As multidões se referem à concentração de grande número de indivíduos em um mesmo espaço, geralmente em locais públicos ou privados como parques, praias, ruas, bares e festas. Essas concentrações de pessoas podem acontecer por diversos motivos, como eventos culturais e esportivos, manifestações políticas, festejos populares, reuniões familiares e encontros sociais. Todavia, caso ocorram em demasia, sem nenhum tipo de controle ou planejamento antecipado, têm o potencial de gerar consideráveis problemas no âmbito da segurança pública e saúde.
No município de São Luís, os eventos culturais em locais públicos com grande quantidade de pessoas vêm ganhando cada vez mais notoriedade e atraindo mais público, a exemplo dos arraiais e programações juninas, as atrações Natalinas e de Ano Novo e os circuitos de Carnaval da Avenida Litorânea e Avenida Beira-Mar e mais corriqueiramente na Feirinha Dominical da Praça Benedito Leite, no Centro da capital maranhense.
Os principais riscos associados a este tipo de atividade são: riscos de incêndio, devido à grande quantidade de materiais inflamáveis e possibilidades de panes elétricas; riscos de tumulto e acidentes causados pela alta concentração de pessoas em espaço limitado, riscos de segurança devido a possibilidade de ocorrências de roubos, ações violentas e por fim, riscos de saúde pública.
É importante destacar que sempre existe um risco real de ocorrer acidentes graves e que os profissionais de segurança pública precisam estar preparados para agir em caso de necessidade. É imperioso enfatizar que mesmo que os acidentes não resultem em mortes, os ferimentos leves ou graves, físicos ou psicológicos acompanharão as vítimas e serão uma mancha na reputação do local, cidade ou evento.
Historicamente em um âmbito global, eventos desastrosos marcados pela reunião de grande público flutuante podem ser citados, como a ocorrida em 17 de dezembro de 1961 no Gran Circus Norte Americano em Niterói, que acabou por tornar-se o maior incêndio urbano da história do Brasil, deixando diversas mortes e sequelas físicas e psicológicas nos sobreviventes (Knauss, 2017) e o desastre no bairro de Itaewon (Coréia do Sul), onde em meio ao tumulto causado pela celebração do Halloween, após muito tempo devido ao isolamento pós pandemia, pereceram 153 pessoas e outras 150 ficaram feridas devido à grande aglomeração de pessoas em um espaço insuficiente (Perassolo, 2022, Folha de São Paulo).
Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi desenvolver estratégias para a prevenção dos riscos que podem gerar acidentes em aglomerações de pessoas no Carnaval de rua da Avenida Beira-Mar no ano de 2023, além de analisa-los. De forma mais específica buscou-se verificar histórico de desastres envolvendo multidões, analisar os riscos potenciais presentes nas aglomerações populacionais que ocorreram no local estudado a partir da coleta de dados e pesquisa bibliográfica, e soluções que podem vir a mitigar os riscos que existiram no Carnaval de rua da Avenida Beira-Mar em 2023.
Levando em consideração o atual cenário a respeito do gerenciamento dos riscos envolvendo as multidões em eventos culturais, como os carnavais das grandes capitais brasileiras, o interesse em realizar esse estudo surgiu mediante observação da necessidade de entender a dinâmica das aglomerações para poder controlar e gerenciar de maneira mais eficaz os riscos envolvidos nesses processos, garantindo a segurança das pessoas e prevenindo novas ocorrências.
Além do que já foi exposto, a falta de um bom gerenciamento de riscos durante os grandes eventos culturais pode gerar também uma influência negativa na economia, uma vez que, de acordo com Saldanha e Gonçalves (2019), o carnaval é uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil. Cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, reconhecidas como referências no carnaval brasileiro, oferecem programações abrangentes e diversas atividades culturais. Essas cidades se destacam internacionalmente como destinos carnavalescos, impulsionando a economia local com um aumento significativo nas vendas do setor de comércio e serviços, podendo chegar a incrementos de até 40%.
O carnaval é um dos eventos mais importantes e populares do Brasil, e dessa forma, gera uma grande movimentação econômica. Entender as multidões, eliminando ou mitigando os riscos que surgem a partir desta, pode ajudar a potencializar o aproveitamento monetário do evento ao viabilizar o oferecimento de produtos e serviços que atendam melhor às expectativas dos foliões.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Multidões
O senso comum sobre o termo “multidão” refere-se à reunião de muitas pessoas em um mesmo espaço com interesses comuns. Diversos estudiosos contribuíram com definições do conceito, que envolvem a interação e influência mútua entre pessoas que compartilham objetivos comuns. A multidão é estudada em várias disciplinas, como sociologia, psicologia, história e política.
De um ponto de vista psicológico, uma multidão se diferencia quando um grupo de indivíduos, sob certas circunstâncias, adquire características distintas, formando uma “alma coletiva” com características definidas temporariamente. A densidade e a proximidade de pessoas com interesses comuns distinguem um “aglomerado” de uma multidão. Um aglomerado não envolve interações significativas entre indivíduos, ao contrário das multidões.
No final do século XIX, a ciência começou a estudar o comportamento individual e coletivo em multidões, superando antigas explicações que associavam comportamentos de multidões a pessoas marginais ou desequilibradas. O aumento da população urbana na Europa nessa época levou a uma compreensão mais complexa das multidões. Estudiosos como Le Bon (1980) descreveram características típicas de multidões, como impulsividade, irritabilidade e falta de raciocínio crítico. Berlonghi (1995) categorizou onze tipos diferentes de multidões, oferecendo uma base sólida para análises, tomada de decisões e gestão de riscos.
A categorização de multidões, como proposta por Berlongui, é essencial para compreender seus comportamentos e características, permitindo a adoção de estratégias de prevenção e segurança adequadas para cada situação. Isso implica reconhecer que abordagens diferentes são necessárias para lidar com multidões de espectadores e manifestantes, conforme destacado no relatório Understanding Crown Behaviours (2009), do governo do Reino Unido, sobre Comportamentos de Multidões. Antecipar tais situações é crucial para evitar o caos e potenciais riscos. Em resumo, uma gestão eficaz de eventos com multidões requer consideração da natureza e intenção de cada público e planejamento adequado de intervenções e medidas de segurança.
A dinâmica de multidões envolve o estudo do comportamento de grandes aglomerações em situações de alta densidade, com riscos de superlotação e danos físicos. É crucial garantir a segurança em eventos de grande porte para evitar pânico e riscos à integridade das pessoas em locais lotados. As multidões têm comportamentos próprios, que podem levar a incidentes perigosos, como violência e debandadas induzidas pelo pânico. A densidade populacional e a facilidade de locomoção desempenham um papel importante nesse contexto. À medida que a densidade aumenta, as interações entre pedestres se intensificam, reduzindo a velocidade média do grupo.
A densidade de pessoas em tais eventos é crucial, com uma proporção de 3 pessoas por metro quadrado considerada ideal para manter a segurança e o fluxo adequado. O pânico em multidões pode levar a comportamentos irracionais, destacando a necessidade de compreender o comportamento da multidão em situações de risco. Keith Still (2000) é um especialista que compilou dados sobre catástrofes relacionadas a multidões em eventos, evidenciando a necessidade de prevenir futuras tragédias por meio da análise de padrões e tendências.
2.2 Eventos culturais
O termo “evento” é uma ferramenta de transmissão de mensagens e um recurso eficaz na comunicação e promoção, de acordo com Giácomo (1993). Originalmente, “evento” remetia a acontecimentos fortuitos, mas ao longo do tempo, passou a representar algo planejado. Giacaglia (2004) o define como um êxito ou ocorrido que proporciona um encontro entre pessoas com um propósito central. Matthews (2008) o descreve como um encontro coletivo planejado para diversos fins.
Quando se trata de megaeventos, Allen et al. (2003) os definem como acontecimentos de grande magnitude que impactam a economia regional e têm alcance midiático global. Getz (1997) enfoca os megaeventos com base em repercussões, estabelecendo critérios como mais de um milhão de visitantes e um orçamento mínimo de quinhentos milhões de dólares. Roche (2000) vê os megaeventos como “acontecimentos midiáticos produzidos” que afetam política, economia e tecnologia, servindo como plataforma de comunicação global.
Em resumo, o termo “evento” pode variar em sua definição, mas em geral, refere-se a acontecimentos planejados com um propósito específico que reúne pessoas em torno de uma atividade ou tema. Megaeventos são caracterizados por sua magnitude e impacto econômico, midiático e político.
Mason e Kerridge (2006) afirmam que eventos de diversas categorias, como culturais, sociais, científicos, esportivos, ambientais ou políticos, têm a capacidade intrínseca de causar impactos notáveis nas áreas onde ocorrem. Segundo Hall (1992), tanto o setor público quanto o privado costumam encarar eventos de maneira favorável, reconhecendo não apenas seus impactos econômicos, mas também os benefícios comerciais e promocionais que podem ser obtidos.
Pesquisadores, como Marujo (2015), destacam a importância de compreender tanto os aspectos positivos quanto os negativos decorrentes da realização de eventos. Esta pesquisa se baseia em Bowdin et al. (2006) e Small (2008), que enfatizam a relevância de avaliar as consequências socioeconômicas dos eventos, tanto para o desenvolvimento local quanto para o bem-estar das pessoas envolvidas.
Para tornar o amplo universo dos eventos mais compreensível, Britto e Fontes (2002) estabeleceram um padrão de classificação com base em critérios como categorias, áreas de interesse, porte, data de realização, entre outros. Eventos são vistos como uma ferramenta poderosa com impactos significativos, mas é essencial avaliar e compreender tanto os aspectos positivos quanto os negativos que podem surgir de sua realização.
2.3 São Luís
São Luís, que é a capital do estado do Maranhão, está localizada na ilha de Upaon-Açu, situada entre as baías de São Marcos e São José de Ribamar. Foi fundada em 8 de setembro de 1612, quando os franceses ocuparam a região e construíram o Forte de São Luís. No entanto, foi conquistada pelos portugueses em 1615 e posteriormente sofreu invasão holandesa. Somente em 1645, os holandeses foram expulsos e a ilha de São Luís foi efetivamente colonizada.
O mesmo braço colonizador, a mesma história, o mesmo sonho. Vieram os franceses, chegaram os portugueses, aportaram os holandeses e, de novo, a cidade e as matas ficaram portuguesas por serem brasileiras no casario e no dengue do povo. (IPHAN, 2006, p.16)
Figura 1: Localização do município de São Luís
Conforme os dados mais recentes divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município de São Luís conta com uma população de 1.115.932 habitantes (2021) e ocupa uma área de 582.974 m² (2022), tendo densidade demográfica de 1.215,69 hab/km² (2010), localizando-se no estado do Maranhão, de acordo com a figura 1.
A Avenida Beira-Mar, localizada no Centro de São Luís, é uma via icônica que oferece uma vista deslumbrante do pôr-do-sol às margens do Rio Anil. Além de ser um importante acesso à região histórica de São Luís, conhecida por sua arquitetura colonial, também é um polo comercial da cidade. O Circuito Beira-Mar foi criado em 2017 como parte do “Carnaval de Todos”, com investimento de sete milhões de reais, abrangendo o trecho da Praça Manoel Beckman até a Praça Maria Aragão. Foram realizados serviços de melhoria na infraestrutura, modificações temporárias no trânsito e reforço na segurança, com cerca de 1300 profissionais.
Figura 2: Vista da Avenida Beira-Mar, São Luís, Maranhão
O circuito obteve grande aprovação popular e se destacou por sua localização privilegiada, valorizando o Centro Histórico de São Luís. Nos anos seguintes, o circuito foi ampliado até a região da Praia Grande, ganhando ainda mais popularidade. Em 2020, o percurso foi estendido até a Casa do Maranhão. Devido à pandemia de Covid-19, o evento foi cancelado em 2021 e 2022, retomando em 2023. Nesse ano, estimou-se um público de aproximadamente 2 milhões e 96 mil pessoas nos circuitos Beira Mar e Litorânea, com um investimento de R$18,80 milhões.
O carnaval de rua do Circuito Beira Mar demonstrou evolução ao longo do tempo, com crescentes investimentos financeiros do Governo do Maranhão, refletindo o reconhecimento de seu potencial na região. É semelhante em grandiosidade ao carnaval de Salvador em alguns aspectos. Em 2023, o carnaval de rua no Circuito Beira Mar em São Luís foi caracterizado por sua estrutura física, localização, extensão, quantidade de frequentadores e duração, tornando-se um evento de destaque na região.
2.4 O papel do corpo de bombeiros
O artigo 144 da Constituição Federal de 1988 define as atribuições dos órgãos de segurança pública no Brasil, entre os quais se inclui o Corpo de Bombeiros Militar.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI – polícias penais federal, estaduais e distrital
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. (BRASIL, 1988)
A Lei nº 10.230 estabelece a organização básica do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA), atribuindo-lhe a responsabilidade de realizar atividades relacionadas à defesa civil, proteção contra incêndios, pânico e riscos ambientais. Isso inclui prevenção, combate e controle de incêndios, resgate em desastres, vistorias e fiscalizações em edificações de risco.
A missão do CBMMA enfatiza a importância da prevenção para evitar a necessidade de reparação de danos. Portanto, o órgão atua tanto na prevenção quanto no combate a eventos danosos. As normas técnicas do CBMMA, como as NTs 01, 12 e 46, estabelecem diretrizes para garantir a segurança contra incêndios e outros riscos ambientais em eventos e locais com grande público. A NT 01 orienta procedimentos administrativos para vistorias e licenciamento, a NT 12 aborda a segurança em centros esportivos e de exibição, e a NT 46 foca na legalização de eventos temporários, incluindo projeto técnico de segurança e vistorias.
Essas normas visam mitigar riscos, proteger vidas e garantir a segurança dos participantes em eventos culturais com grande público, como o Carnaval de rua do Circuito Beira Mar em 2023. Elas estabelecem critérios rigorosos para a prevenção e combate a incêndios, contribuindo para a segurança e bem-estar da população.
Queiroz (2015) enfatiza que a segurança pública está diretamente relacionada ao tamanho da população a ser protegida, e um contingente de bombeiros militares proporcional é necessário para atender essa demanda. O cálculo do efetivo dos bombeiros segue um modelo norte-americano, aceito por vários estados brasileiros, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso. Esse cálculo considera fatores estatísticos e científicos, resultando em uma variação de 1,5 a 2,5 servidores para cada 1.000 habitantes, levando em conta as características locais, como aglomerações, fronteiras, público flutuante, áreas de entretenimento e baixa renda.
E = Efetivo “ideal”.
N = Número de fatores de “risco”, a qual se acrescenta (0,2), quando se obtém 01 fator de risco, (0,4) com 02 fatores de risco e assim sucessivamente até que se atinja o máximo de até 05 fatores de risco, considerando então, (N= 1).
H = número de habitantes da cidade.
Valor (1,5) = variante que corresponde ao número de 1,5 agentes policiais (no caso analogamente, bombeiros) para cada 1.000 habitantes.
Valor (0,2) = variante que corresponde ao número de 0,2 agentes policiais (no caso analogamente, bombeiros) para cada 1.000 habitantes, que será multiplicada pelo número de risco, que não será considerado no cálculo para fixação de efetivo bombeiro militar.
A Constituição Federal, em seu Artigo 144, conferiu uma importância constitucional aos Corpos de Bombeiros Militares, designando-os como entidades responsáveis pela proteção coletiva e atribuindo-lhes tarefas relacionadas à Defesa Civil. Eles desempenham um papel crucial durante eventos como os carnavais de rua nas grandes capitais, implementando medidas de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação para garantir a segurança e o bem-estar dos foliões e minimizar os impactos negativos. O Decreto nº 10.593, de 2020, define o termo ‘proteção e defesa civil’ como o conjunto de ações que visam prevenir e reduzir os impactos de catástrofes, manter o bem-estar da população e restaurar a ordem social, tornando-a mais resistente. Portanto, os Bombeiros Militares devem estar alinhados com esses conceitos para aprimorar sua atuação nos carnavais de São Luís e garantir a segurança e a redução de riscos para a população.
2.5 Riscos e suas aplicações
O conceito de risco tem origem na palavra italiana “risico” ou “rischio”, relacionada à palavra árabe “rizq” que significa “aquilo que é providenciado”, indicando a possibilidade de um dano futuro ou iminente. Nos últimos anos, o risco tem sido uma questão amplamente estudada em diversos campos do conhecimento, incluindo ciências sociais, econômicas e geográficas, com uma abordagem multidisciplinar. Atualmente, o risco é mais voltado para a identificação de eventos futuros e sua probabilidade associada, sendo entendido como a incerteza em relação ao alcance de objetivos. A segurança está intimamente relacionada a esses conceitos, visando proteger a integridade das pessoas e de seus bens diante de situações de risco.
A ISO 31000:2009 define o risco como resultado das incertezas que afetam os objetivos, incluindo a falta de informações relacionadas a um evento, sua compreensão, consequências ou probabilidade. O PMI (Project Management Institute) define risco como eventos ou condições de incerteza que, se ocorrerem, podem afetar positiva ou negativamente os objetivos do projeto. O risco pode ser qualificado de diversas maneiras, incluindo perigo potencial, perigo mitigado e ameaça. O perigo potencial é uma situação capaz de causar danos e exige avaliação de risco e medidas preventivas. A ameaça refere-se a condições que podem causar danos à integridade de pessoas, seres ou coisas. A vulnerabilidade, que pode manifestar-se de várias formas, determina a capacidade de resposta do receptor diante das ameaças.
Em megaeventos, como festivais, jogos esportivos, shows e carnavais de rua, existem diversos riscos que podem impactar a saúde e segurança dos participantes, propriedade e infraestrutura. Esses riscos podem ser classificados em quatro categorias principais: riscos humanos, técnicos, naturais e biológicos. A natureza imprevisível do comportamento dos participantes pode levar a contingências e danos físicos e materiais, mesmo em eventos bem planejados.
Reis e Albuquerque (2014) descrevem dois procedimentos distintos para o gerenciamento de riscos em projetos: o gerenciamento de riscos, que se concentra na elaboração de estratégias de proteção contra riscos, bem como no acompanhamento e controle desses riscos ao longo do projeto, e a análise de riscos, que visa à identificação, avaliação e análise quantitativa e qualitativa dos riscos envolvidos. A gestão de riscos não é um processo com tempo definido, mas algo que ocorre simultaneamente às atividades do evento ou projeto, uma vez que novos riscos podem surgir durante o andamento do evento.
A norma ISO 31000, adotada no Brasil em 2009, juntamente com o Guia PMBOK, permite que gerentes de projeto compreendam os conceitos de risco, identifiquem riscos potenciais e desenvolvam estratégias para eliminá-los ou minimizá-los. A análise de riscos na fase inicial do projeto é fundamental para prever possíveis contratempos, mas a gestão contínua dos riscos também é essencial, pois fatores imprevisíveis podem afetar o planejamento e o orçamento do projeto. O gerenciamento de riscos é uma prática que pode trazer benefícios e vantagens competitivas para as organizações no contexto global. Ideias inovadoras podem contribuir para melhorar a gestão de prazos, reduzir custos e aprimorar a qualidade do projeto.
A norma ISO 31000 descreve o processo de gestão de riscos, que inclui comunicação e consulta contínuas com partes interessadas, identificação, análise, avaliação e tratamento de riscos e monitoramento para garantir a eficácia dos controles. A gestão de riscos deve ser parte integrante da gestão organizacional, incorporada à cultura e práticas da organização para garantir uma abordagem consistente e eficiente na lida com situações de risco.
A análise de riscos vai além da identificação de eventos adversos e inclui a avaliação de cenários sociais, políticos e econômicos que podem impactar a organização. Ela fornece informações essenciais para avaliar a necessidade de tratamento de riscos e ajuda na tomada de decisões em situações com diferentes níveis de risco. A análise de riscos pode ser realizada qualitativamente, semiquantitativamente, quantitativamente ou de forma combinada, dependendo das circunstâncias e dos recursos disponíveis.
A Análise Preliminar de Riscos (APR) é uma técnica que visa à identificação de perigos, análise de riscos e implementação de medidas de controle. Essa abordagem é aplicada em áreas, sistemas, procedimentos, projetos ou atividades específicas, com foco na identificação de perigos relacionados a eventos indesejáveis, como no caso do Carnaval de rua do Circuito Beira Mar em 2023. Na APR, são essenciais os graus de severidade e frequência das situações de risco, que permitem categorizar os incidentes em cenários de acidente, atribuindo a eles diferentes níveis de frequência e gravidade. A integração entre a severidade e a frequência forma uma Matriz de Risco, que é uma ferramenta para avaliar qualitativamente os graus de impacto e probabilidade.
Além da APR, a árvore de falhas é uma metodologia amplamente utilizada na análise de riscos ambientais. Ela representa graficamente as interconexões entre um evento crítico em potencial e as causas que levam a sua ocorrência. Esse método envolve a identificação das possíveis origens de um evento central, desdobrando-se em eventos intermediários, cada um com suas próprias causas específicas, até que não seja mais possível determinar o fator causador.
A combinação dessas técnicas pode proporcionar uma abordagem abrangente na identificação e análise de riscos, auxiliando na tomada de decisões embasadas e contribuindo para o desenvolvimento de um plano de gerenciamento de riscos eficiente para o Carnaval de rua do Circuito Beira Mar.
3. METODOLOGIA
Este estudo aplicado visa melhorar as questões atuais na sociedade Ludovicense ao analisar o gerenciamento de riscos em grandes aglomerações públicas. Ele usa métodos de pesquisa bibliográfica e estudo de caso para compreender a situação. Uma abordagem qualitativa e quantitativa é adotada, incluindo observação direta, questionários, e dados públicos para obter informações detalhadas. Os resultados combinados dessas análises buscam uma compreensão abrangente dos riscos envolvidos no Carnaval de rua da Avenida Beira-Mar e fornecer subsídios para estratégias eficazes de prevenção e gerenciamento de riscos em eventos públicos. Para o gerenciamento de riscos, são aplicadas a análise preliminar de riscos e a análise de árvore de falhas.
A realização do Carnaval de rua na Avenida Beira Mar em 2023, em São Luís, é uma oportunidade para impulsionar o desenvolvimento econômico e social, bem como o turismo na região. No entanto, a organização desse evento requer uma abordagem cuidadosa para lidar com seus desafios e riscos. A simulação de análise de risco em megaeventos, como o Carnaval, é um desafio devido à falta de conhecimento especializado nesse campo.
O estudo descreve a Análise Preliminar de Riscos (APR), que considera fatores de risco, causas, consequências, detecção e medidas mitigadoras. A metodologia usada envolve seis passos, incluindo a caracterização do Carnaval de rua em 2023 na Beira Mar, uma análise bibliográfica sobre a gestão de riscos no Carnaval de Salvador e a comparação das características comuns entre os dois carnavais. O plano de contingência da Defesa Civil de Salvador foi usado como referência para a análise de riscos do Carnaval na Beira Mar devido às semelhanças encontradas nos dois eventos.
O processo para criar a análise por árvore de falhas envolveu a seleção dos eventos perigosos mais relevantes e com maior probabilidade de causar acidentes ou incidentes durante o Carnaval. Foram escolhidos quatro eventos perigosos: roubos/furtos, ferimentos por objetos perfurocortantes, pisoteamentos e intoxicação por bebidas alcoólicas. Com base nessa seleção, análises por árvore de falhas foram desenvolvidas para identificar as possíveis causas e sequências de eventos que levam à ocorrência de cada evento perigoso. Essas análises foram realizadas por meio de pesquisa bibliográfica, pesquisa exploratória, obtenção de dados, registros fotográficos, busca de informações em secretarias estaduais ou municipais responsáveis por eventos e questionários de opinião. O estudo tem como objetivo gerenciar os riscos relacionados às grandes multidões em eventos culturais na cidade de São Luís, com foco no Carnaval de rua da Avenida Beira-Mar em 2023.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados relativos ao Carnaval de rua no circuito Beira Mar em 2023 destaca a necessidade de uma abordagem eficaz de gerenciamento de riscos em eventos de grande escala. Com mais de 2 milhões de pessoas reunidas durante cinco dias, a gestão da multidão, segurança, logística e prevenção de riscos torna-se um desafio crítico. A variação no público de um dia para outro, influenciada pela presença massiva de turistas, requer estratégias adaptativas para lidar com as distintas demandas e garantir o bem-estar dos participantes.
A observação aprofundada também evidencia a importância da atuação ativa das autoridades de segurança, com um grande número de abordagens, apreensões de armas e conduções a delegacias. Além disso, a disponibilização de transporte público gratuito e a presença de equipes especializadas, como brigadistas, seguranças e logística, são elementos cruciais para a manutenção da ordem e resposta eficaz em situações de emergência. Entretanto, destaca-se a necessidade de um efetivo maior de bombeiros militares, a fim de atender às demandas de segurança e saúde dos participantes de maneira mais ideal.
Verificando o quantitativo de bombeiros militares empregados no Carnaval de rua do circuito Beira Mar, conforme está demonstrado nas escalas de serviço divulgadas pelo Comando Operacional do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão, é revelada uma distribuição variável ao longo dos cinco dias de festividades. No primeiro dia (sábado), foram alocados 24 bombeiros, seguidos por 21 no segundo dia (domingo), 22 no terceiro dia (segunda-feira), 17 no quarto dia (terça-feira) e 32 no quinto dia (quarta-feira), este último sendo um evento gospel de menor proporção, conforme figura 17.
Figura 3: Quantitativo de Bombeiros Militares no Circuito Beira Mar
Utilizando o método de quantitativo de militares do modelo Norte-Americano, divulgado por Conforto (1998) no contexto do Carnaval de Rua do Circuito Beira Mar, foi calculado o efetivo “ideal”. Levando em consideração que foram utilizados 22 bombeiros militares na segunda-feira para um público de 416 mil pessoas (dia onde o evento teve o maior número de foliões), e que o número de fatores de risco é 3 dos 5 definidos pelo método americano (aglomerações, público flutuante, áreas de entretenimento), chega-se ao seguinte número ideal, conforme equação 1:
Nos demais dias, onde a média de foliões foi de 280 mil (SSP, 2023) este número ideal seria de 588 bombeiros militares por dia, totalizando cerca de 2637 somando os 4 dias de maior população no circuito Beira Mar. Traçando um comparativo do Carnaval de São Luís, com o da capital baiana, segundo o estudo de Santos et al (2016) sobre o Carnaval de Salvador de 2016 este evento reuniu mais de 1,2 milhões de foliões e a quantidade de bombeiros militares utilizada somando todos os dias foi de 2234 profissionais. Realizando o cálculo do efetivo, tendo como base o método americano, obtêm-se 2520 bombeiros como o número ideal. Percebe-se, então que o efetivo utilizado em Salvador se aproxima da quantidade de militares empregada na realidade (2234), ao contrário do caso do carnaval de rua do Circuito Beira Mar de São Luís em 2023, onde este número é muito inferior ao quantitativo ideal.
A compreensão dos dados apresentados evidencia a complexidade e a importância do gerenciamento de riscos em eventos com multidões, com foco específico no Carnaval de rua do circuito Beira Mar em 2023. Esses dados oferecem insights valiosos para o planejamento, implementação e avaliação das medidas de segurança, saúde e logística. O entendimento detalhado dos números e das tendências ajuda a identificar áreas de melhoria, destacando a necessidade de abordagens abrangentes e estratégias adaptativas para garantir um evento seguro e bem-sucedido.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa, foi realizado um questionário por meio do Google Forms, onde a amostra utilizada para essa análise foi composta por 310 participantes selecionados de maneira aleatória. Este questionário foi projetado para abordar aspectos relacionados à percepção de riscos durante o evento, incluindo situações potenciais de perigo e medidas de segurança percebidas pelos participantes.
No que diz respeito à composição de gênero dos respondentes, foram obtidos dados que permitem traçar um perfil diversificado, conforme figura 18. Entre os participantes, verificou-se que 50,6% (157) eram do gênero masculino, enquanto 48,7% (151) eram do gênero feminino enquanto 0,7% (2) preferiram não responder.
Figura 1: Questionário a respeito da percepção de riscos dos foliões sobre o Carnaval (Gênero)
Quanto à faixa etária dos respondentes, também foram coletadas informações relevantes que nos permitem identificar a distribuição percentual dos participantes em diferentes grupos etários. De acordo com a figura 19, observou-se que 44,8% (139) dos respondentes estavam na faixa etária dos 18-24 anos, 46,1% (143) estavam na faixa dos 25-34 anos, 6,5% (20) estavam na faixa dos 35-44 anos e 2,3%(7) estavam acima de 45 anos.
Figura 5: Questionário a respeito da percepção de riscos dos foliões sobre o Carnaval (Faixa Etária)
A análise dos dados coletados por meio do questionário aplicado durante o Carnaval de rua do circuito da Avenida Beira Mar em 2023 fornece insights importantes sobre a percepção dos foliões em relação à segurança e ocorrência de incidentes durante o evento. As 4 primeiras perguntas formuladas abordaram diversos aspectos relacionados à presença e preparo das equipes de segurança, bem como a sensação de segurança dos participantes.
1 – “Com que frequência você presenciou incidentes ou acidentes danosos à integridade física de algum indivíduo durante o circuito de carnaval de rua da Avenida Beira Mar em 2023?”
Na análise dessa pergunta, pode-se observar a partir da figura 20, que cerca de 25% dos participantes afirmaram ter presenciado incidentes ou acidentes danosos à integridade física com frequência moderada, enquanto 21% declarou perceber acidentes ou incidentes com frequência considerável e 12% declarou perceber as referidas ocorrências com alta frequência. Isso indica que um grupo significativo de foliões vivenciou situações de risco e perigo durante o circuito de carnaval de rua da Avenida Beira Mar em 2023. Esses incidentes podem variar desde pequenos acidentes até situações mais graves que envolvem lesões físicas.
Por outro lado, é de se notar que cerca de 40% dos participantes não presenciaram nenhum incidente ou acidente danoso à integridade física ou presenciaram de forma escassa. Isso pode indicar que, em certa medida, as medidas de segurança implementadas durante o evento foram efetivas para prevenir ou reduzir essas situações. Em âmbito global, é necessário investigar as causas desses incidentes e acidentes, bem como a efetividade das medidas de segurança existentes, a fim de implementar ações preventivas mais robustas e melhorar a segurança geral do evento.
Figura 5: Questionário a respeito da percepção de riscos dos foliões sobre o Carnaval (Frequência de incidentes presenciados)
2 – “Você estava presente durante algum acidente ou incidente ocorrido no evento?”
É possível inferir que 56% dos respondentes afirmaram ter estado presentes em algum acidente ou incidente durante o Carnaval de rua no circuito Beira Mar. Esses resultados demonstram a necessidade de um sistema de monitoramento eficiente para identificar e responder rapidamente a qualquer incidente que ocorra no local. É essencial que equipes de segurança, como policiais, bombeiros e seguranças privados, estejam bem preparadas e disponíveis para agir prontamente diante de qualquer emergência. Isso inclui desde ações de primeiros socorros até a evacuação segura de áreas em caso de necessidade.
3 – “Você percebeu a presença de equipes de segurança (polícia, bombeiros, seguranças privados) durante o evento?”
Figura 6: Questionário a respeito da percepção de riscos dos foliões sobre o Carnaval (Percepção da presença de equipes de segurança)
Conforme figura 21, foi verificado que 34% dos respondentes afirmaram ter percebido um número suficiente de equipes de segurança, enquanto 46% relataram ter percebido um número insuficiente. Esses resultados indicam que uma parcela considerável dos foliões não teve a percepção desejada da presença das equipes de segurança durante o Carnaval de rua no circuito Beira Mar. Essa constatação é preocupante, pois a percepção de um número insuficiente de equipes de segurança pode gerar uma sensação de vulnerabilidade e insegurança entre os participantes.
Para melhorar a percepção da presença das equipes de segurança, é essencial adotar medidas corretivas. Isso pode incluir o aumento do contingente de profissionais de segurança, o reposicionamento estratégico das equipes ao longo do circuito e a melhoria na sinalização e identificação visual desses profissionais.
4 – “Você acredita que as equipes de segurança presentes no evento estavam bem preparadas para lidar com situações de emergência?”
Figura 7: Questionário a respeito da percepção de riscos dos foliões sobre o Carnaval (Preparação de equipes de segurança em situações de emergência)
De acordo com a Figura 22, foi observado que 35% dos respondentes afirmaram acreditar que as equipes de segurança estavam bem preparadas. Por outro lado, 33% dos participantes declararam não saber avaliar a preparação das equipes, enquanto 17% acreditavam que as equipes de segurança estavam pouco preparadas.
Os resultados indicam uma divisão de opiniões entre os foliões em relação à preparação das equipes de segurança para lidar com situações de emergência. Aqueles que acreditam que as equipes estavam bem preparadas podem ter tido experiências positivas anteriores, confiança na visibilidade das equipes durante o evento ou conhecimento prévio sobre os treinamentos e protocolos adotados. Por outro lado, a parcela que não sabe avaliar pode refletir uma falta de informações claras sobre as capacidades e preparação das equipes de segurança. Isso ressalta a importância de fornecer aos foliões informações detalhadas sobre as medidas de segurança adotadas, treinamentos realizados e protocolos de resposta a situações de emergência.
Ainda dentro do questionário, foi perguntado a respeito da sensação de segurança dos foliões durante o circuito Beira Mar 2023, onde 40% se sentiu razoavelmente seguro, 34% se sentiu pouco seguro e 11% completamente inseguro, apenas 8% se sentiram muito seguros e 7% não soube avaliar. Esses resultados apontam para uma diversidade de percepções entre os foliões em relação à segurança do evento.
A presença de incidentes ou acidentes danosos à integridade física durante o evento pode impactar significativamente na percepção de segurança dos foliões. A ocorrência de situações desse tipo pode gerar insegurança e preocupação, afetando a confiança dos participantes no ambiente festivo. Através de perguntas anteriores neste questionário, a respeito da visualização de acidentes ou incidentes perigosos a integridade física, onde mais da metade presenciou ou participou, pode-se perceber uma relação entre essa sensação de insegurança e a ocorrência de experiências inseguras.
Ao serem perguntados sobre os tipos de ocorrências de risco se envolveram, os respondentes descreveram as seguintes situações, conforme figura 23:
Figura 8: Questionário a respeito da percepção de riscos dos foliões sobre o Carnaval (Ocorrências de risco que os foliões se envolveram)
É importante ressaltar que as brigas ou confusões entre pessoas foram mencionadas por 30% dos participantes. Esse dado indica que houve uma incidência considerável de situações de conflito e tensão durante o evento. As quedas ou escorregões foram relatados por 19% dos respondentes, revelando a existência de condições adversas, como superfícies escorregadias, desníveis ou obstruções, que podem levar a acidentes e causar lesões. Os ferimentos causados por objetos cortantes ou perfurantes e por objetos contundentes foram mencionados por 16% dos participantes em cada categoria. Esses dados explicitam a presença de elementos perigosos no ambiente festivo, como vidros quebrados, pedras ou outros objetos cortantes.
Outros tipos de acidentes não especificados foram mencionados por 9% dos respondentes. Por fim, 54% dos respondentes relataram não se envolver diretamente em nenhuma ocorrência durante o Carnaval de rua. Isso demonstra que uma parcela significativa dos foliões conseguiu desfrutar do evento sem enfrentar situações de risco ou incidentes prejudiciais à integridade física. No entanto, é importante ressaltar que mesmo para esse grupo, a implementação contínua de medidas de segurança é essencial para manter um ambiente seguro e preservar a experiência positiva de todos.
A análise dos dados obtidos em relação à pergunta sobre a divulgação adequada das informações sobre segurança e prevenção de acidentes antes do evento revela que 43% dos participantes não consideraram adequada a forma como essas informações foram divulgadas. Por outro lado, 27% dos respondentes consideraram a divulgação adequada, enquanto 19% afirmaram não saber avaliar. Esses resultados indicam uma lacuna na efetividade da divulgação das informações relacionadas à segurança e prevenção de acidentes antes do circuito de carnaval de rua da Beira Mar em 2023. A proporção significativa de participantes que não considerou adequada a forma como as informações foram divulgadas sugere que houve falhas na comunicação ou que as estratégias adotadas não foram eficazes o suficiente para alcançar e conscientizar o público-alvo.
Verificando os dados adquiridos em relação à perspectiva dos foliões sobre o principal risco associado à realização do Carnaval de Rua na Avenida Beira Mar em 2023 revela que 59% dos participantes consideraram que a maior probabilidade de ocorrer estava relacionada a roubos/furtos. Em seguida, 12,5% apontaram ferimentos causados por objetos cortantes ou pontiagudos como o principal risco. Outros riscos mencionados foram pisoteamento (8%), intoxicação por bebidas alcoólicas (7%), agressão física (7%), acidentes de trânsito (2%) e afogamento (1%).
A alta porcentagem de indivíduos que indicaram roubos/furtos como o principal risco reflete a preocupação com a segurança pessoal e a possibilidade de perdas materiais durante o evento. As respostas indicam a importância de medidas de segurança adequadas, como o reforço da presença policial, o monitoramento de áreas suscetíveis a roubos e a implementação de estratégias para prevenir e responder a agressões físicas. A conscientização sobre os perigos relacionados ao consumo excessivo de álcool e a necessidade de medidas preventivas para evitar acidentes de trânsito também são aspectos que merecem atenção.
A análise da questão sobre as medidas de segurança consideradas mais eficazes durante o Carnaval de rua (última questão levantada no questionário) permite traçar um paralelo entre as respostas dos participantes e suas experiências vividas. As opções de resposta indicadas pelos participantes são: aumentar o efetivo de bombeiros militares e policiais militares(233 respostas), implementar medidas para evitar a superlotação em determinados pontos do circuito (198 respostas), garantir iluminação e sinalização adequada(149 respostas), aumentar o número de postos de atendimento médico (148 respostas), aumentar o efetivo de segurança privada (67 respostas) e adotar ações como proibição de bebidas em garrafas de vidro e reforço no processo de revistas para controle do acesso de pessoas com possíveis armas brancas ou de fogo (medidas sugeridas).
Desta forma, é possível destacar os principais pontos abordados pelos participantes:
- A escolha de um aumento no efetivo de bombeiros militares e policiais militares como medida mais eficaz indica a confiança dos participantes na presença e atuação dessas equipes durante o Carnaval de rua. No entanto, é importante ressaltar que a eficácia dessa medida está diretamente relacionada ao número de profissionais disponíveis. É necessário avaliar se o contingente atual de bombeiros militares e policiais militares é adequado para atender às demandas específicas do Carnaval de rua, considerando a quantidade de foliões, a extensão do evento e a complexidade das situações de segurança que podem surgir. Nesta pesquisa, já foi demonstrado que o número de bombeiros militares empregados foi bem abaixo do ideal;
- O controle da capacidade em áreas específicas do evento é uma estratégia importante para garantir a circulação fluida e reduzir os riscos de acidentes decorrentes da superlotação. Quando uma área está excessivamente lotada, os participantes podem enfrentar dificuldades para se movimentar, o que pode levar a empurrões, quedas e até mesmo pisoteamentos. Além disso, em caso de emergências ou necessidade de evacuação, a superlotação pode dificultar a saída rápida e segura das pessoas;
- Uma iluminação adequada desempenha um papel crucial na prevenção de acidentes, pois permite que os foliões enxerguem claramente o ambiente ao seu redor. A falta de iluminação adequada pode criar áreas de sombra e obscuridade, aumentando o risco de quedas, tropeços e colisões com objetos ou com outras pessoas, aumenta também a sensação de insegurança por parte dos foliões.
Essa percepção de riscos e as preocupações expressas pelos participantes demonstram uma conscientização significativa sobre os perigos potenciais presentes em eventos de grande magnitude. Com base nesses resultados, é possível direcionar esforços para aprimorar as medidas de segurança, prevenção e controle de riscos no carnaval de rua do circuito Beira Mar. A identificação dos principais riscos percebidos pelos participantes, como acidentes, furtos, consumo abusivo de álcool e agressões físicas, oferece uma base sólida para o desenvolvimento de estratégias de mitigação específicas.
Desta forma, foram escolhidos os seguintes fatores de risco: Policiamento Mediano, Venda de Álcool, Venda de Alimentos, Localização próxima ao mar, Estruturas Provisórias, Densidade Populacional, Infraestrutura Geral, Problemas de Saúde, Trios Elétricos, Instalações Elétricas. Os principais eventos adversos ligados a estes fatores de risco são: aumento de ocorrências de furtos e roubos, agressões físicas e confrontos entre foliões, consumo excessivo de álcool e comportamentos violentos, Intoxicação alcoólica e casos de embriaguez, intoxicação alimentar, riscos de afogamento, colapsos estruturais, pisoteamentos, falhas elétricas, incêndios, eletrocussão, emergências médicas devido a superlotação, desidratação e exaustão, propagação de doenças contagiosas, acidentes e atropelamentos causados por descontrole dos veículos, choques elétricos e falhas nos equipamentos de som e iluminação.
Após identificação de fatores de riscos e suas consequências, buscou-se verificar suas causas, os métodos de detecção disponíveis, e a forma de eliminar ou reduzir os riscos foi constituída a APR.
Para mitigar os eventos adversos relacionados aos fatores de risco identificados no Carnaval do circuito Beira Mar, são propostas as seguintes medidas mitigadoras: Aumento da presença policial, fiscalizar e regular a venda de bebidas alcoólicas, realizar inspeções regulares nos estabelecimentos de alimentos, exigir certificação e treinamento adequado dos manipuladores, implementar medidas de segurança, como salva-vidas e sinalização de áreas perigosas próximas ao mar, fiscalização da montagem e instalação das estruturas provisórias Implementar medidas de controle de acesso, disponibilizar postos médicos e equipes de saúde em pontos estratégicos, estabelecer normas e regulamentações para a condução segura dos trios elétricos e vistoria das instalações elétricas do local.
Se tratando de Análise de Árvore de Falhas, a mesma fornece uma representação visual das falhas potenciais, estabelecendo uma relação de causa e efeito entre as falhas e suas causas raiz. No contexto do Carnaval de rua do circuito Beira Mar em 2023, a construção de uma árvore de falhas permitiu identificar as principais ameaças à segurança e entender suas origens, pois ao mapear as falhas potenciais e suas sub causas, é possível realizar um gerenciamento efetivos dos riscos e desta forma tomar medidas preventivas implementando estratégias de mitigação direcionadas aos eventos primários geradores dos eventos adversos presentes no topo da ‘’árvore’’.
No caso específico do Carnaval de rua do circuito Beira Mar em 2023, a árvore de falhas foi uma ferramenta essencial para analisar os riscos principais identificados durante a aplicação de questionário referente a percepção de riscos pelos foliões. Desta forma os respondedores escolheram os 4 eventos perigosos que podem ter a maior possibilidade de gerar acidentes ou incidentes (percepção dos próprios foliões). Sendo escolhidos por ordem de mais votados: roubos/furtos, ferimentos por objetos perfurocortantes, pisoteamentos e intoxicação por bebidas alcoólicas, estando, estas análises, presentes no Apêndice B.
A figura 9 apresenta o modelo de Análise por Árvore de Falhas aplicado para Ferimentos causados por objetos perfuro cortantes:
Figura 9: AAF para Ferimentos causados por objetos perfurocortantes
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como tema central o gerenciamento de riscos em eventos culturais que envolvem multidões, com foco específico no carnaval de rua do circuito Beira Mar, que ocorreu em 2023 na cidade de São Luís – Maranhão. Para abordar essa questão, foi realizada uma ampla pesquisa que englobou a revisão teórica de conceitos relacionados a multidões, desastres históricos ocorridos em eventos com grandes aglomerações, contextualização do município de São Luís e do circuito de carnaval da Beira Mar, tipos e classificações de eventos culturais, além do papel do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão e as normas técnicas da corporação referentes a eventos temporários. Além disso, foram abordados os conceitos de riscos, seus tipos e modos de gerenciamento, a fim de identificar e propor medidas efetivas de prevenção para o carnaval de rua do circuito Beira Mar em 2023.
Os objetivos propostos foram plenamente alcançados, permitindo uma análise abrangente dos riscos envolvidos no carnaval de rua do circuito Beira Mar em 2023 e a proposição de medidas efetivas de prevenção. A análise de riscos envolvidos no evento foi possível por meio de questionário para levantamento de dados a respeito da percepção de riscos dos foliões, proporcionando uma compreensão aprofundada de suas preocupações e expectativas em relação à segurança durante o carnaval de rua do circuito Beira Mar em 2023. Além disso, a realização de uma análise preliminar de riscos, incluindo a identificação de falhas e suas causas subjacentes por meio da análise por árvore de falhas, foi fundamental para atingir as metas iniciais desta pesquisa. Desta forma, foi possível constatar como podem ser analisados e mitigados os riscos atribuídos as aglomerações de pessoas no evento estudado.
Os resultados desta pesquisa forneceram insights significativos sobre o gerenciamento de riscos em eventos culturais que envolvem multidões. Através do levantamento da percepção de riscos por parte dos foliões, identificou-se as principais preocupações e expectativas. Isso permitiu compreender as áreas de maior vulnerabilidade e direcionar esforços para sua mitigação.
Após essa etapa, foi possível analisar os dados e a partir deles elaborar uma Análise Preliminar dos Riscos no evento, utilizando as respostas mais empregadas no questionário, bem como a exploração de pesquisas existentes que auxiliaram na identificação de boas práticas e lições aprendidas durante os grandes eventos, como o Carnaval de Salvador.
Utilizando os principais riscos escolhidos pelos foliões, na confecção do questionário, foi desenvolvida também uma Análise por Árvore de Falhas, onde elaboração da mesma revelou as possíveis falhas e suas causas subjacentes no contexto do carnaval de rua específico do Circuito Beira Mar em 2023.
Como resultado dessa pesquisa, foram propostas medidas de prevenção para o carnaval de rua do circuito Beira Mar em 2023, que visam à segurança dos foliões e à redução dos riscos associados ao evento. Essas medidas abrangem desde ações de reforço da segurança policial e controle de venda de bebidas alcoólicas, até a implementação de práticas de segurança estrutural, como vistorias constantes nas estruturas temporárias e instalações elétricas, bem como controle da quantidade de foliões que acessam o evento.
Além do impacto acadêmico, os resultados desta pesquisa também têm implicações práticas importantes. Eles fornecem subsídios concretos e direcionamentos para os organizadores do carnaval do estado e para as autoridades competentes responsáveis pela segurança do evento e prevenção de incidentes durante o evento. As medidas de prevenção propostas podem ser adotadas no planejamento, ao tentar sanar os erros observados no carnaval em 2023 que foram identificados neste trabalho, e na execução de novos eventos, visando a criação de um ambiente mais seguro e propício para a celebração cultural. A abordagem integrada entre a teoria e a prática fortalece a importância do tema e estabelece um vínculo direto entre o conhecimento científico e a aplicação real nas questões de segurança e gestão de riscos em eventos culturais com grandes multidões.
No entanto, é fundamental destacar que esta pesquisa apresenta algumas limitações inerentes que devem ser consideradas. Uma das limitações está relacionada à natureza das respostas obtidas no levantamento de percepção de riscos realizado com os participantes do carnaval de rua do Circuito Beira Mar em 2023. É importante reconhecer que essas respostas podem estar sujeitas a vieses individuais e subjetividades, o que pode influenciar a precisão e a representatividade dos resultados.
Uma forma de dirimir essa limitação, é que possíveis futuros estudos aprofundem ainda mais essa temática de forma que ampliem a amostra, contemplando um número maior e mais diversificado de participantes, uma vez que a atual pesquisa apresentou 310 respostas. Isso permitiria uma análise mais robusta e abrangente das percepções de riscos, considerando diferentes perspectivas e experiências dos foliões.
Portanto, a recomendação para futuros estudos é a realização de pesquisas de forma que venham a aprofundar a compreensão das percepções de riscos dos participantes, ampliando o espaço amostral. Outras recomendações seriam realizar uma padronização das análises de gerenciamentos dos riscos nos grandes eventos culturais que ocorrem rotineiramente no estado do Maranhão, bem como revisões e atualizações contínuas mediante o surgimento de novas diretrizes e protocolos referentes à temática.
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¹ Bacharel em Segurança Pública e do Trabalho – Universidade Estadual do Maranhão -mail: pedro.souza.leite@hotmail.com
² Docente do Curso de Engenharia de Produção – UEMA. Doutor em Engenharia Mecânica (UNICAMP). e-mail: wellinton@cct.uema.br
3 Doutorado em Biotecnologia -Universidade Federal do Maranhão – Instituição atual: Universidade Estadual do Maranhão – email: luciocampos@professor.uema.br
4 Doutorado em Engenharia Elétrica. Universidade Federal do Maranhão / FEUP – PT – Emaill: maurosergiospinto@gmail.com
5 Doutorado em Engenharia Aeronâutica e Mecânica – Instituto Tecnológico de Aeronáutica – Email: fernandolima@cct.uema.br2766
6 Doutorado em Engenharia Mecânica. Universidade Estadual de Campinas – : Universidade Estadual do Maranhão
7 Doutorado em Engenharia Mecânica. Universidade Estadual de Campinas – (UNICAMP) – Email: jrobert@cct.uema.br
8 Docente do Curso de Engenharia de Produção – UEMA. Doutora em Engenharia de produção (UFSC). e-mail: Thayanne.eng@gmail.com
9 Mestrado em Meteorologia – Universidade Federal de Alagoas. Email: italojanuario@hotmail.com
10 Mestrando em Defesa Civil – Universidade Federal do Pará. E-mail: abisaer.junior@gmail.com