REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11659015
Michelle do Socorro Gomes Pantoja1
Mílvio da Silva Ribeiro2
RESUMO
A presente pesquisa trata do estudo sobre a relevância do uso do gênero textual Meme nas aulas de Língua Portuguesa, com o seguinte tema: GÊNERO “MEME”: Um instrumento facilitador para o ensino de língua portuguesa na E.M.E.F. Dinorá Tavares Gonçalves, Cametá-PA. O objetivo é identificar os benefícios do gênero ao processo de ensino e aprendizagem dos alunos do 9° ano, analisando as estratégias metodológicas desenvolvidas pelos docentes na inserção do memes como instrumento facilitador no processo de ensino e aprendizagem. Além de verificar as práticas pedagógicas aplicadas pelos professores através do uso das tecnologias digitais na EMEF Profª Dinorá Tavares, descrevendo os recursos linguísticos que o uso da linguagem memética contribui no processo de ensino e aprendizagem nos lócus da pesquisa; identificando assim, as contribuições da linguagem memética na formação e desenvolvimento das competências linguísticas dos educandos. A proposta de investigação dessa pesquisa parte do interesse excessivo dos alunos pelos memes apresentados nas redes sociais, originado a seguinte problemática: De que forma o gênero meme possibilita benefícios ao processo de ensino aprendizagem de Língua Portuguesa? Abrindo leque para algumas questões norteadoras como: O meme consegue estimular e desenvolver o senso cognitivo do aluno em sala de aula? O aluno consegue entender o meme como uma construção textual carregada de significados? O aluno realmente gosta dos memes como instrumento pedagógico dentro do processo de letramento? Nessa perspectiva, o percurso metodológico para responder esses questionamentos inicia com uma pesquisa bibliográfica sobre o gênero textual Meme e a questão dos Multiletramentos; a segunda fase trata-se de um estudo de caso, de cunho qualitativo, com a coleta de dados e a aplicação de um questionário semiestruturado com perguntas fechadas e abertas, culminando com a observação não participante. A pesquisa foi realizada na EMEF Dinorá Tavares, localizada no município de Cametá/PA e teve como sujeitos de pesquisa 10 alunos selecionados aleatoriamente nas turmas regulares do 9º ano, que a partir da coleta de dados reuniu-se conteúdo para ser analisado. Conclui-se, desta forma, que a realização da presente pesquisa contribui significativamente para a docência de Língua Portuguesa e os impactos positivos que os memes possibilitam aos alunos do 9º no do ensino fundamental. Espera-se, em forma de parceria, contar com um aporte teórico que apoie os dados encontrados e contribuam para a realização dos objetivos.
PALAVRAS-CHAVES: Gênero Meme. Multiletramentos. Práticas pedagógicas.
I. INTRODUÇÃO
O sistema educacional brasileiro vive constantes transformações, na busca de uma proposta de ensino que supra as necessidades cognitivas dos alunos, deixando-os mais preparados para o mercado de trabalho. Porém, existe uma crise instalada no cenário da educação desde quando ela surgiu sistematicamente estruturada na sociedade, pois as metodologias e propostas de ensino ainda não conseguem atender a todas as demandas, uma vez que, dentro de uma sala de aula os níveis de aprendizagem são diferentes.
O mundo vive a disseminação tecnológicas, onde o homem dispõe de recursos que facilitam muito sua vida diária em todos os campos sociais, mas que ainda não é distribuído de forma igualitária para a população. Muitos de nossos alunos tem acesso à internet e as famosas redes sociais, que são viralizadas pelas demandas de recursos visuais e auditivos. Dentro desse contexto, surge a realidade do uso de estratégias de recursos e metodologias que possam contribuir com o processo educacional, já que mesmo se falando em inovação, a realidade de muitas escolas no Brasil, não colabora para que a tecnologia, por exemplo, seja adotada no dia a dia em sala de aula, prevalecendo o uso tradicional de lousa e conteúdo expositivo em diálogo e explicações, seguidos de atividades escritas.
Em aulas de língua portuguesa, acredita-se que os gêneros midiáticos, próprios das redes sociais, podem a ser mais utilizados em sala de aula, uma vez que, as crianças e adolescentes se identificam com esse universo. É preciso investir em estratégias que possam ressignificar a realidade docente e discente, pois hoje a educação não pode ser a mesma, apoiada apenas pelo pincel, quadro e livros didáticos.
Diante dessa e de outras complexidades no universo escolar, não ficamos estáticos ao longo desse processo. Construímos uma linhagem cheia de transformações que interferem diretamente no processo ensino e aprendizagem. O século XXI também é marcado por profundas evoluções tecnológicas, facilitando o acesso às informações virtuais. E tais expansões tecnológicas podem ser trazidas para o cotidiano escolar, combinado às habilidades e competências propostas pelo professor como mediador do conhecimento.
Almejamos por meio deste trabalho, buscar a resposta para a seguinte problemática: De que forma o gênero meme possibilita benefícios ao processo de ensino aprendizagem de Língua Portuguesa? Abrindo leque para algumas questões norteadoras como: O meme consegue estimular e desenvolver o senso cognitivo do aluno em sala de aula? O aluno consegue entender o meme como uma construção textual carregada de significados? O aluno realmente gosta dos memes como instrumento pedagógico dentro do processo de letramento?
Neste sentido esse estudo está relacionado incialmente com a linha de pesquisa: “Sociedade, Representações e Tecnologias (SRT)”, que segundo Nunes (2022, p. 6) “[…] dedica à investigação das práticas educativas, inclusão e formação docente em contextos educacionais. Desenvolve pesquisas especialmente relacionadas a educação especial e inclusão; educação infantil; ensino e aprendizagem; ensino de ciências; educação básica e superior. […]”. Neste contexto, entende-se que esta linha de pesquisa está diretamente a problemática existente no projeto para a maioria dos alunos, a escola acaba sendo o único lugar onde elas aprendem ler e escrever ou, pelo menos, onde têm acesso à leitura e escrita.
Em uma perspectiva social, esta pesquisa contribui para se indicar necessidades que precisam ser atendidas, por meio da análise do estado das instituições escolares no tocante à formação do cidadão e como está organizado o processo de ensino-aprendizagem, buscando, também, observar quais as políticas públicas de inclusão digital existentes neste ambiente que possibilitem estratégias resinificadas de ensino e de aprendizagem.
De âmbito pessoal e profissional, a presente pesquisa ruma direção a uma maior reflexão sobre questões educacionais do cotidiano profissional da pesquisadora, especialmente, pela disciplina de língua portuguesa. É relevante que se faça valer no contexto atual de ensino uma análise dos problemas que muitos alunos e alunas, principalmente das classes trabalhadoras, vêm enfrentando, ao longo dos anos de escolaridade. Cada vez mais, tem-se evidenciado que esses alunos e alunas enfrentam problemas relacionados ao aprendizado da língua materna (língua portuguesa). O objetivo aqui é identificar os benefícios do gênero ao processo de ensino e aprendizagem dos alunos do 9° ano, para isso meu objetivo geral é: Analisar as estratégias metodológicas desenvolvidas pelos docentes na inserção do memes como instrumento facilitador no processo de ensino e aprendizagem de língua portuguesa dos alunos do 9º ano; e objetivos específicos: Verificar as práticas pedagógicas aplicadas pelos professores através do uso das tecnologias digitais na EMEF Dinorá Tavares; Descrever os recursos linguísticos que o uso da linguagem memética contribui no processo de ensino e aprendizagem no lócus da pesquisa; Identificar as contribuições da linguagem memética na formação e desenvolvimento das competências linguísticas dos educandos.
O espaço de investigação da pesquisa foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Dinorá Tavares Gonçalves – localizada no bairro periférico da cidade de Cametá, que apresenta uma realidade preocupante quanto a motivação e interesse dos alunos pelas aulas de língua portuguesa, onde foram selecionados 07 alunos da turma do 9º ano do ensino fundamental II, considerando o baixo desempenho dos alunos nas avalições no âmbito escolar e nas avaliações em marga escala com o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).
A pesquisa trata-se de um estudo de caso, de cunho qualitativo, com abordagem fase inicial se constituirá no delineamento teórico, por meio de pesquisa bibliográfica através de livros, artigos e periódicos da internet, onde buscaremos evidenciar os principais teóricos que abordam a temática aqui proposta descritiva. A pesquisa aqui proposta é qualitativa e está dividia em duas modalidades de investigação, estudo bibliográfico e o estudo de caso, subsidiado por alguns autores que são referências nessa linha de pesquisa. Os instrumentos da coleta de dados serão observação e entrevista, com questionário semiestruturado e a análise de conteúdo seguirá a proposta de Bardin (1977), que defende uma análise crítica e reflexiva dos dados coletados dos informantes, no campo de pesquisa.
Uma proposta de trabalho educativo, com os diferentes gêneros textuais ou discursivos, deve estar ligada às demandas variadas de leitura comuns na atualidade, por isso, é preciso que conceitos, como gêneros discursivos estejam bem definidos.
Segundo os estudiosos, o primeiro teórico a esboçar um conceito sobre gêneros foi Mikhail Bakhtin, em sua obra Estética da Criação Verbal. Lá encontramos que gêneros são “Tipos relativamente estáveis de enunciados” (Bakhtin, 2003, p. 262). Mais tarde outros pesquisadores como Marcuschi (2008, p. 26) define como “Entidades comunicativas. São formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos”; seguindo o raciocínio, Marcuschi (2008, p.30) define que “Gêneros são: famílias de textos com uma série de semelhanças”. De acordo com Bortone e Martins (2008), os gêneros podem ser caracterizados quanto à: Intencionalidade, Informatividade e estrutura.
Os gêneros não aparecem somente na escrita. Eles também podem pertencer à oralidade. É complexo estabelecer limites precisos entre gêneros orais e escritos. Os locutores de rádio e televisão, geralmente, pelo que podemos perceber, baseiamse em materiais escritos. As informações são lidas, estudadas, e nós, interlocutores, recebemos estas notícias oralmente. O domínio discursivo, segundo Marcuschi (2008, p. 194):
é uma esfera da vida social ou institucional (religiosa, jurídica, jornalística, pedagógica, política, industrial, militar, familiar, lúdica etc.) na qual se dão práticas que organizam formas de comunicação e respectivas estratégias de compreensão. […] os domínios discursivos produzem modelos de ação comunicativa que se estabilizam e se transmite de geração para geração com propósitos e efeitos definidos e claros.
Na atualidade, o estudo dos gêneros textuais aponta para uma perspectiva diferente daquela apresentada por Aristóteles, e coexistem algumas correntes no Brasil, a partir das quais concorrem tendências distintas no tratamento com os gêneros textuais. Nesse contexto, as reflexões e os estudos, aqui, realizados, neste tópico, apontarão para o pensamento bakhtiniano e pelas pesquisas realizadas por Schneuwly/ Dolz. Assim, iniciamos com a definição de Bakhtin (2016 [1952-1953], p. 12), de gêneros textuais, como “tipos, relativamente, estáveis de enunciados, os denominados gêneros do discurso”, os quais circulam em cada uma das esferas da atividade humana. Assim, temos, na esfera escolar, cartazes, relatórios, resenhas, resumos, mapas. Na esfera jurídica, há regimentos, leis, contratos, procuração. Na esfera midiática, relacionamo-nos com blogs, talkshows, telejornais, entrevistas, reality shows. Assim, isso ocorre em tantas outras esferas das atividades humanas, umas com as quais temos mais contato, outras com pouco ou nenhum. Segundo Bakhtin:
A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multifacetada atividade humana e porque, em cada campo da atividade, vem sendo elaborado todo um repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que tal campo se desenvolve e ganha complexidade (Bakhtin, 2016 [19521953], p. 12).
O processo de comunicação ganha mais beleza a medida que o homem domina os recursos linguísticos e faz usos deles na interação com o próximo. Bakhtin (1981) segue seu pensamento defendendo que, o falante, quando se encontra em uma determinada situação linguística, este produz um conjunto de formas discursivas que são marcadas pelos contextos sociais e históricos, ou seja, essas formas sofrem mudanças nas estruturas, devido a esses contextos.
Para trabalhar com gêneros nas aulas, deve-se ter atenção às razões para a escolha, às características e às funções do tipo selecionado. Isso é essencial para elaborar bons planos de aula e para que gerem relatos de experiência excelentes.
Como nos ensina Bakhtin, gêneros textuais se definem, principalmente, pela função social. São textos que se realizam por uma (ou mais de uma) razão determinada em uma situação comunicativa (um contexto), para promover uma interação específica. Trata-se de unidades definidas pelos conteúdos, pelas propriedades funcionais, pelo estilo e pela composição, organizados em razão do objetivo que cumprem na situação comunicativa.
Os gêneros textuais, ou gêneros discursivos, são “tipos, relativamente, estáveis de enunciados” (Bakhtin, 2016 [1952-1953], p. 12) que circulam em esferas das atividades humanas.
Cada domínio discursivo possui seus gêneros, tanto na escrita quanto na oralidade. Na perspectiva do letramento, a abordagem dos gêneros na escola é pertinente por abordar ‘textos reais’ que circulam entre os alunos e aos quais eles têm acesso, o que reforça a perspectiva de que não atua sociedade, o saber ler e escrever não se resume a compilar signos, mas entender as entrelinhas e a leitura de mundo, onde as situações comunicativas expressas no texto possam falar com a realidade social do leitor.
Letrar, portanto, é dominar a língua, principalmente, a escrita, sendo um mecanismo de incluir o aluno ao universo das letras. Por fim, salientamos que o uso dos gêneros textuais na escola tem relação direta com as práticas de letramento, isto porque os gêneros circulam socialmente, fazem parte do dia a dia das pessoas, dos nossos alunos, para muito além dos muros escolares.
O Multiletramento surgiu na década de 1996, em Nova Londres, onde foi idealizada por uma equipe de estudiosos em letramento, também, chamada de Grupo de Nova Londres, GNL, que publicaram o aberto A Pedagogy of Multiliteracies – Designing Social Futures (Uma Pedagogia dos Multiletramentos — Desenhando Futuros Sociais). Segundo, Rojo e Moura, o documento redigido, defendia:
[…] a necessidade de a escola tomar, a seu cargo (daí a proposta de uma pedagogia), os novos letramentos emergentes, na sociedade contemporânea, em grande parte, mas não somente, devidos às novas TICs. Ainda, de levar em conta e incluir, nos currículos, a grande variedade de culturas, já presentes nas salas de aula, de um mundo globalizado, e caracterizada pela intolerância na convivência com a diversidade cultural, com a alteridade (Rojo; Moura, 2012, p. 12).
Esse conjunto originou uma demanda significante de instrumentos linguísticos, acessíveis, culturais e digitais, que alargaram as concepções educacionais de alunos e professores, diante de uma sociedade globalizada, o que exige cada vez mais que a escola esteja conectada à realidade social e individual de seus alunos.
O aluno já vive o universo digital no seu cotidiano e por isso ele precisa adentrar ao universo escolar, de forma que um seja extensão do outro, ou seja, o aluno precisa entender a escola como uma extensão da sua realidade, e o contrário também. Os textos multimodais são a reformulação textual do papel e caneta, reforçando ainda mais a necessidade de inserir as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, as TDIC, nas práticas escolares, pois amplia a diversidade cultural de produção e disseminação de textos, que originou a expressão Multiletramento, que Rojo e Moura entendem que:
[…] O conceito de Multiletramento, pois é bom enfatizar, aponta para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presentes nas nossas sociedades, principalmente, urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural da população e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos, por meio dos quais ela se informa e se comunica (Rojo; Moura, 2012, p. 13).
Esse contexto reforça o que o prefixo “multi” referido aos aspectos perceptíveis da atualidade que é a multiculturalidade social, que de acordo com Rojo e Moura (2012), são colaborativos, excedendo as relações de poder postas, e são mestiços, pois misturam linguagens, costumes, meios de comunicação social e civilizações.
Segundo Rojo e Moura (2012), é necessário que seja desenhada uma prática de imersão considerada componente cultural dos alunos, com uma análise sistemática e conscienciosa dos gêneros e designs, explanados em concordância com as realidades sociais e culturais de circulação e de produção.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) defende a precisão de trazer a tecnologia para as metodologias de ensino e analisa o Multiletramento como instrumento essencial nas práticas modernas de linguagem, pois a aprendizagem dos alunos com atividades que envolvem o multiletramento, admite, além do sentimento de protagonista do próprio aprendizado, ser capaz de desencadear atos de transformações sociais.
Permite, também, mais do que um “usuário da língua/ das linguagens”, nessa direção trazemos o gênero textual “memes”: alguém que veste um tanto que já tem e, mistura, remixa, demuda, redistribui, brotando novos sentidos, metodologia que alguns autores agregam à criatividade. Hoje em dia, os suportes vão muito além do livro impresso, e da mesma forma, os gêneros textuais se dividiram, e a configuração de produção foi alterada.
Hoje, existe uma grande porção de gêneros digitais que consente essa prática, que vai muito além do lápis, da borracha e do caderno, como tweets, memes, gifs, fanfics, stories em redes sociais diversas, blogs, mensagens instantâneas etc.
II LETRAMENTO DIGITAL E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EMEF DINORÁ TAVARES.
A discussão sobre letramento digital é uma temática muito ampla, uma vez que, trata-se de um processo que busca fundamentar e subsidiar as práticas pedagógicas de alfabetização que regem o processo de ensino e aprendizagem do sistema educacional brasileiro, no qual estamos inseridos, enquanto profissionais da educação. No Brasil, de acordo com avaliações nacionais, Qedu (2015), 66% dos alunos terminaram o 9º ano sem aprender o mínimo necessário em português, uma situação que se estende até o nível superior, onde ao menos 50% dos estudantes são considerados analfabetos funcionais, pois sem aprender a ler e escrever bem desde cedo, uma criança jamais irá dominar as outras áreas do conhecimento.
Magda Soares (1998) define Letramento como “um estudo ou condição que um grupo social ou um indivíduo adquire como consequência de ter dominado a escrita e suas práticas sociais”, o que contrasta veemente com alfabetização, que significa ter aprendido a ler e escrever. Magda Soares (2001), reforça o processo de letramento como a habilidade de ler e escrever, também outros estudiosos e pesquisadores brasileiros pontuam sobre o que é letramento. Angela Kleiman (2002), define letramento como “um conjunto de práticas sociais, de competência individual, com implicações nas formas pelas quais os sujeitos constroem relações de identidade e de poder”; Leda Tfouni (2002) define letramento como “um processo que focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade”.
Além destas importantes conceituações, os autores apresentam as diferenças norteadoras entre alfabetização e o letramento. Esta diferença nos auxiliará na construção de algumas respostas às perguntas como: ‘Conversar’ sobre o letramento é ampliar o horizonte da alfabetização, visto que ela está inserida nas abordagens do letramento.
Portanto, a alfabetização está voltada à aquisição da escrita, ao conhecimento de aspectos pertinentes ao nosso sistema de escrita. Já o letramento refere-se ao que fazemos com o sistema de escrita, como ‘ele’ serve, ou melhor, nos auxilia em nossa vida do dia a dia.
Soares (2003, p. 64) reflete acerca do que é ler, que para a autora:
é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler Grandes Sertão: Veredas de Guimarães Rosa… uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma história em quadrinhos, e não ser capaz de ler um romance, um editorial de jornal… Assim: ler é um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuum […].
Sob um ponto de vista mais amplo, alguém pode ser alfabetizado, mas não letrado, ou seja, embora domine o sistema alfabético, não consegue produzir, ler e interpretar textos nos diferenciados contextos nos quais surgem, em momentos diferenciados no convívio com outras pessoas, não se inserindo, portanto, em uma cultura letrada, ou seja, há quem saiba decifrar as línguas oral e escrita, mas não consegue entender o significado dentro do contexto comunicativo, não analisa, não interpreta, não é apto a fazer inferências.
Esse conceito deu visibilidade a fenômenos que são constituídos por ordenamentos mais amplos: o cultural, o social, o histórico e permite que compreendamos as condições socioculturais em que se dá a distribuição da cultura escrita dentro e fora da escola. As noções de letramento permitem compreender que quando se ensina a ler e escrever, se ensina também um modo de pensar o mundo “por escrito”.
Para participar deste universo é necessário criar um conjunto de representações mentais sobre o funcionamento desta cultura, assim como criar uma série de atitudes, disposições e comportamentos típicos da cultura escrita. Embora ler e escrever, decifrando e compreendendo os textos, seja um dos aspectos principais do letramento, não é o único determinante das condições de desenvolvimento destas disposições.
Ser alfabetizado, saber ler e escrever de forma funcional é condição básica para vivermos, plenamente, em sociedade, exercendo a nossa cidadania e tendo melhores oportunidades no mercado de trabalho. A partir do estudo da Língua Portuguesa, podemos nos apropriar dessas capacidades, sendo que, atualmente, a organização do currículo desse componente, nas escolas, é feita a partir da Base Nacional Comum Curricular.
A Língua Portuguesa é, atualmente, um dos componentes curriculares que compõe a área de Linguagens da BNCC, sendo estruturada a partir de eixos que procuram estabelecer as competências que os estudantes devem adquirir a partir das aulas.
Os aspectos pedagógicos que podem ser utilizados para que os alunos desenvolvam as habilidades propostas na BNCC, no componente curricular da Língua Portuguesa, é importante que saibamos que essa política educacional curricular se fundamenta no que estabelecem as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos, conforme o que consta na resolução CNE/CEB nº 7, de 14 de dezembro de 2010.
Os conhecimentos de gêneros, de textos, de língua, de norma-padrão e de diferentes linguagens (semioses) devem ser mobilizados em favor do desenvolvimento das capacidades de leitura, de produção e de tratamento das linguagens, que, por sua vez, devem estar a serviço da ampliação das possibilidades de participação em práticas de diferentes esferas/campos de atividades humanas (Brasil, 2018, p. 67).
Como professores dos anos finais do Ensino Fundamental, cabe-nos “[…] proporcionar, aos estudantes, experiências que contribuam para a ampliação dos letramentos, de forma a possibilitar as participações significativa e crítica nas diversas práticas sociais permeadas/constituídas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens” (BRASIL, 2018, p. 68).
Quando falamos do letramento, estamos nos referindo ao uso da Língua Portuguesa nas ações sociais, as quais realizamos diariamente, ao ler qual é o ônibus, uma placa que nomeia uma rua, verificar quem está ligando no celular, fazer uma pesquisa na internet, redigir uma lista de compras, comparar preços no supermercado, escrever uma mensagem de amor para o nosso companheiro ou a companheira etc.
Quando uma criança (ou um estudante da educação de jovens e adultos) aprende a Língua Portuguesa nos anos iniciais, ela, também, está adquirindo condições de realizar uma leitura e uma interpretação mais críticas daquilo que se coloca em sua volta, uma vez que “as práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem novos gêneros e textos cada vez mais multissemóticos e multimidiáticos, mas, também, novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e de interagir” (Brasil, 2018, p.68).
Na E.M.E.F. Dinorá Tavares, pudemos observar que as crianças de diferentes períodos chegam na escola com comportamentos diferentes, influenciadas pela convivência em sociedade, o que implica diretamente nas práticas pedagógicas. Um fator determinante no comportamento e aprendizagem das crianças são os avanços tecnológicos, pois uma criança que vive cercada de um universo recheado de recursos visuais e auditivos, com possibilidades de estar a todo momento interagindo com jogos, redes sociais e aplicativos conversacionais, sente-se estranha quando se depara com uma sala de aula restrita a aulas expositivas que limitam suas percepções de interação e informação.
Sabemos que é muito difícil competir com esse universo tecnológico, e por isso a E.M.E.F. Dinorá Tavares decidiu unir-se a ele, e buscar dentro de seus conteúdos, propostas metodológicas que facilitem a aprendizagem dos alunos. O uso de equipamentos tecnológicos é importante para prender a atenção do aluno, mas também é importante trazer seus recursos gráficos e audiovisuais como propostas de suporte pedagógico, e dentre esses recursos foram inseridas a linguagem memética como uma proposta de incentivo à leitura, pois o lugar onde nossos alunos mais leem é nas redes sociais, em espacial os memes, que além de apresentar uma configuração atrativa, ainda instiga o leitor a reflexão e análise de seus conteúdos, uma vez que, possui uma linguagem carregada de duplo sentido.
No contexto atual saber interpretar esses significados múltiplos, a partir de formatos diferentes de textos (multissemioses), é essencial para que não sejamos enganados, muitas vezes, com notícias falsas, por exemplo, também, conhecidas como Fake News, na atualidade, as quais desafiam, constantemente, a nossa capacidade de julgamento acerca do que é verdadeiro ou não. Afinal, uma Fake News costuma ser feita desde um simples texto de WhatsApp, por exemplo, até um texto que conjuga vários recursos de mídia.
III – METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa de abordagem qualitativa, uma vez que, ocorre quando o ambiente natural é fonte direta para a coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. (GIL, 1999).
Yin (2001, p. 32), sobre estudo de caso, destaca que:
Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. A investigação de um estudo de caso baseia-se em várias fontes de evidências e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados.
Ao partir dessa inserção, adotamos uma abordagem qualitativa de cunho explanatório, por entender que fenômenos sociais podem ser interpretados como fenômenos naturais quando viraliza em tal proporção que se torna parte da vivência diária do homem em sociedade.
Para Marconi e Lakatos (2011, p. 274), esse estudo refere-se ao levantamento com mais profundidade de determinado caso ou grupo humano sob todos os seus aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano.
É importante destacar, portanto, o cunho metodológico que organizará a presente pesquisa. Para tanto, trazemos a abordagem de Yin (2016), com o conceito de pesquisa qualitativa e com a pretensão estratégia de estabelecermos uma ideia coletiva de investigação empírica, visto que estaremos em contato direto e diário com estudantes e docentes.
A pesquisa em equipe oferece benefícios compensadores, tais como criar a oportunidade de reforçar a validade e confiabilidade de um estudo e dar mais atenção aos objetivos de triangulação (…). Essencialmente, a existência de múltiplos visitantes significa ter a oportunidade de usar múltiplos instrumentos de pesquisa no trabalho de campo, comparado com as limitações de observadores participantes sozinhos (YIN, 2016, p. 114).
Por fim, observar e captar as informações necessárias para essa pesquisa por meio da subjetividade das respostas, uma vez que o propósito da pesquisa não se dá em quantificar os dados, mas, sobretudo, entender o início e as causas do fenômeno para possível compreensão.
E, a fim de garantir a ética e o compromisso social a ser desempenhado durante todo o decorrer da pesquisa, será entregue aos participantes da pesquisa, um Termo de Consentimento, contendo os dados da pesquisa para possível aceite e conhecimento dos objetivos a serem contemplados, preservando-se sua imagem e sua identificação nominal.
A pesquisa foi desenvolvida na EMEF Dinorá Tavares, uma escola localizada na zona urbana do município de Cametá/PA, que diante da falta de interesse dos alunos pelas aulas de língua portuguesa, que, por conseguinte implica nas suas habilidades de letramento, a referida escola optou por propostas alternativas que atraíssem o interesse dos alunos para o universo das letras. Então, os memes da internet ganharam as salas de aulas, e isso acarretou algumas mudanças, uma vez que, nossos alunos leem bastante, mas nas redes sociais, pois eles são multifuncionais que não conseguem disponibilizar horas e horas para a leitura de textos longos.
O estudo de caso teve como ponto referencial a turma do 9º ano, pois esses alunos receberam propostas metodológicas de letramento subsidiadas pelo uso dos memes como recursos facilitador, de onde foi selecionado uma amostra de 10 alunos, de forma aleatória, visando assegurara a veracidade dos dados, pois ao usar critérios seletivos corre-se o risco de coletar dados exageradamente negativos como também positivos, pois ao selecionar usando um critério voltado para os que tem mais facilidade, certamente, os resultados serão muito positivos, mas por outro lado é importante lembrar que a aprendizagem não acontece de forma linear para todos e nem de forma sincronizada.
O objeto de estudo dessa pesquisa traça uma problemática em torno do meme como um instrumento facilitador nas aulas de língua portuguesa, caracterizando-se como um estudo de caso, por desenvolver uma análise com alunos de uma determinada turma. Dessa forma, o estudo desenvolvido é um modelo descritivo, por se tratar de um estudo de caso, de investigação qualitativa. Gil (2008, p. 58) entende o estudo de caso “caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado”.
Essa pesquisa se identifica com o modelo de delineamento de pesquisa descritiva que, segundo Gil (2008) tem o foco principal voltado para a descrição das características de determinada região ou acontecimento, ou o estabelecimento de relações variáveis, o que constitui o foco dessa pesquisa que busca informações de um seleto grupo de informantes, do qual pressupõe chegar a um diagnóstico e possíveis propostas para solucionar ou amenizar os problemas encontrados.
A observação foi o primeiro instrumento de coleta de dados usado para nortear as respostas necessárias para a problemática dessa pesquisa, pois é importante conhecer o ambiente e verificar se as situações levantadas realmente fazem parte daquele contexto, principalmente quando a queixa surge da desmotivação na aprendizagem, onde os alunos não sentem mais prazer em estudar com livros e materiais apostilados, e preferem os atrativos que a internet dispõem, que é uma situação que, eu, como professora atuante dessa instituição de ensino venho observando o desempenho dessa turma do 9º ano desde seu ingresso no fundamental II. Segundo Gil (2008) a observação “constitui elemento fundamental para a pesquisa”, uma vez que, ela é a um importante mediador para tracejar as etapas de um estudo, formulando problemas, construir hipóteses, definir variáveis, coletar dados e etc.
No sentido de potencializar nossas observações adotamos também como instrumento de coleta de dados a entrevista de cunho qualitativo, partindo do entendimento que, segundo Bogdan e Biklen (1994) ao pretender recolher dados do ambiente natural onde a ação ocorre, ou descrever situações vividas pelos participantes e interpretar esses dados, justifica a aplicação de uma abordagem qualitativa. Defendem ainda, que: “… A entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 134)
A entrevista permite ao pesquisador a coleta de dados mais próxima com o entrevistado podendo observar a intenção da resposta e a reação da pessoa diante da pergunta. Os autores ainda defendem que:
Em investigação qualitativa, as entrevistas podem ser utilizadas de duas formas. Podem constituir a estratégia dominante para a recolha de dados ou podem ser utilizadas em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras técnicas. Em todas estas situações a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo. (Bogdan e Biklen, 1994, p.134)
O pesquisador ao investigar seu objeto de estudo necessita de abordagens efetivas para coletar as informações de forma mais fiel o possível à realidade em estudo, a entrevista semiestruturada é uma das abordagens mais utilizadas por permitir ao entrevistado a possibilidade de informar e ao mesmo tempo expor seu ponto de vista sobre o que lhe está sendo questionado.
A EMEF Dinorá Tavares Gonçalves, localizada na Rua das Acácias, s/n, Bairro da Primavera, no município de Cametá/PA. Ela tem como mantenedora a Prefeitura Municipal de Cametá (PMC), coordenada pela Secretaria Municipal de Educação (SEMED). A escola está situada em um bairro periférico, sem planejamento urbano e sem saneamento básico, formado principalmente por famílias advindas de áreas ribeirinhas, povoamentos rurais e núcleos quilombolas, com baixo grau de escolaridade e pouca familiaridade com a vida urbana.
A estrutura familiar dos alunos dessa instituição de ensino é bem diversificada, são poucas famílias com estrutura familiar tradicional constituída de pai, mãe e filhos, pois a maioria os responsáveis são de mãe e avós, tios, padrinhos e conhecidos que se apresentam como responsáveis na escola. A escola oferece atendimento de aulas no ensino regular, do 1º ano do fundamental I até o 9º ano do fundamental II, disponibiliza, também de uma sala de AEE para atendimento especializados com as crianças PCD, estendendo esse atendimento especializado a crianças regularmente matriculadas em outra instituição de ensino que ainda não disponibiliza essa modalidade de ensino. A EMEF Dinorá Tavares tem uma biblioteca e disponibiliza projetos de leitura para alunos com dificuldade de letramento.
Os procedimentos de coleta dos dados foram divididos em duas etapas, apresentadas a seguir:
Os alunos selecionados para essa pesquisa foram escolhidos por estarem cursando o 9º ano do ensino fundamenta II, regularmente matriculados na EMEF Dinorá Tavares. A coleta de dados foi feita com um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas, que foram entregues aos mesmos de forma impressa, para que estes pudessem ler e responder de forma livre, expressando seus entendimentos e pontos de vistas, ficando à vontade para acrescentar mais informações se jugarem necessários.
A observação e registro fotográfico da escola e das atividades propostas com os alunos é a comprovação do lócus estrutural dessa pesquisa e a efetivação de que as atividades estão sendo aplicadas regularmente durante as aulas de ensino de língua portuguesa. Dessa forma, também verificar se esses alunos dispõem de um ambiente adequado e saudável para estudarem e desenvolverem sua habilidade cognitivas, verificando até que ponto o ambiente escolar está organizado e direcionado para estimular a leitura e a aprendizagem dos alunos.
IV – RESULTADOS
A turma entrevistada do 9º ano, é uma turma composta de 29 alunos frequentes, e que vivem realidades bem distintas quanto ao contexto social. Alguns precisam trabalhar para ajudar no sustento da casa, e que chegam muitas vezes desmotivados e cansados para participarem das aulas e acabam apresentando pouco rendimento nas aulas, mas que metodologias alternativas, como o uso dos memes é um ponto motivador e renovador de atenção e aprendizado.
É inevitável não comentar a presença acentuada da linguagem coloquial, que é uma forma comunicação que acontece em contextos de informalidade, principalmente, nas interações do cotidiano, e que está reproduzido nas respostas dos alunos, o que reforça a necessidade de construir propostas de ensino que estimulem e aperfeiçoe a linguagem e o interesse pelo universo da leitura.
É necessário comentar sobre o entendimento dos alunos quando comparam as aulas de português com as redes sociais, pois alguns deles, optaram pelas aulas de português, uma vez que, o entendimento que eles tem da internet e das redes sociais é que só servem como distração e não contribuem em nada para a formação deles, o que demonstra falta de um direcionamento para o uso dos recursos tecnológicos, pois as aulas de língua portuguesas são importantes sim, e podem ser mais prazerosas e atrativas se estiverem aliadas com a tecnologia digital. Neste sentido, Silva afirma:
O essencial não é a tecnologia, mas um novo estilo de pedagogia sustentado por uma modalidade comunicacional que supõe interatividade, isto é, participação, cooperação, bidirecionalidade e multiplicidade de conexões entre informações e atores envolvidos. Mais do que nunca. O professor está desafiado a modificar sua comunicação em sala de aula e na educação. Como diz Edgar Morin, “hoje, é preciso inventar um novo modelo de educação, já que estamos numa época que favorece a oportunidade de disseminar um outro modo de pensamento”. A época é essa!: a era digital, a sociedade em rede, a sociedade de informação, a cibercultura. (Silva, 2001, p. 14)
Diante da cultura que se constituiu com o surgimento da internet e suas tecnologias é imprescindível que cada vez mais os professores adaptem suas metodologias ao uso das tecnologias, de forma que a sala de aula seja vista como uma extensão do universo virtual, assim como o universo virtual seja entendido como extensão da sala de aula, pois a aprendizagem é um processo que envolve a escola com as transformações que a sociedade vive ao longo dos anos, e o aluno precisa viver isso dentro da sala de aula, para uma aprendizagem proveitosa e significativa.
Os alunos foram questionados se preferem ler um meme na internet ou um texto impresso, e a preferência maior é o meme. E a partir dessa preferência textual, os professores de língua portuguesa, na EMEF Dinorá Tavares, começaram levar os memes para dentro da sala de aula, relacionando-os diretamente com os conteúdos que são trabalhados, e isso chamou a atenção da turma, de modo geral.
Em 1997, como afirmam Michele Knobel e Colin Lankshear (2020) “a ideia de que os memes constituíam uma forma de texto ou um comportamento iterado, assumido de modo contagioso por meio de redes, já ganhava corpo”, o que reforça essa conceituação automática por parte de seus usuários, mesmo sem pesquisas cientificas aprofundadas, só o contato virtual os faz conceituar essa estrutura textual, pois entendem que é uma construção textual carregada de significados, sejam positivos ou negativos. Os autores Knobel e Colin Lankshear (2020, p. 91) descrevem os memes como uma “ideia particular, apresentada como um texto escrito, imagem, ‘movimento’ de linguagem, ou alguma outra unidade de ‘material’ cultural”, onde é importante ressaltar que sua estrutura textual pode contribuir para um cenário de imprecisão conceitual, pois seus discursos partem de experiências trocadas online.
Quando os alunos foram questionados sobre o uso dos memes nas aulas de língua portuguesa, 57% dos alunos responderam que são usados “mais ou menos”, ou seja, na visão deles é uma proposta textual que o professor não usa frequentemente; enquanto 29% afirmam que o professor de língua portuguesa usa sempre essa construção textual nas atividades propostas e nas avaliações. E, 14% dizem não perceber o uso dos memes nas abordagens do professor em sala de aula, o que nos remete a uma reflexão de como esses alunos estão se percebendo dentro do processo de ensino e aprendizagem, pois se o professor foi buscar uma construção textual, o meme, que tanto atrai a atenção nas redes sociais, por que alguns alunos não estão percebendo seu uso em sala de aula? Talvez a resposta esteja na forma de abordar, pois dentro da sala de aula a quantidade de recursos pedagógicos esbarra na questão financeira, o que obriga o professor a fazer adaptações, pois se não tem ferramentas tecnológicas ou o professor não sabe manusear o aparelho, logo ele vai adaptar a construções escritas ou impressas, e sem o uso da tecnologia digital, talvez a criança não observe que seu ponto de partida é de uma construção textual retirada da internet, ou mais específico, das redes sociais.
Quanto ao processo de interpretação textual, é evidente que a estrutura de um meme requer vários tipos de interpretação desde a estrutura textual até as imagens e sons agregados, tornando-se um contexto de interpretação mais amplo, se contrapondo ao texto escrito onde a interpretação ficam somente nas entrelinhas da mensagem proposta no texto.
É no mínimo curioso mais de 50% dos entrevistados apresentarem preferência pelo texto tradicional, na hora de trabalhar análise e interpretação textual, considerando o fato que entre um livro e as redes sociais virtuais, esses mesmos alunos optam pelas redes sociais e se dizem mais atraídos pelas construções miméticas, como já foi mencionado anteriormente aqui.
A língua é essencial nos processos interacionais do homem, Bakhtin (1979, p. 279) disse que, “todas as atividades humanas estão relacionadas ao uso da língua”, o que ressalta a importância de estudá-la e saber lidar com a diversidade comunicacional que ela proporciona, pois, o universo da linguagem vai mediar a comunicação por diversas estruturas textuais desde uma construção mais longa e rebuscada, até um desenho associado a uma frase. É preciso entender que, “um texto é uma proposta de sentidos e ele só se completa com a participação do seu leitor/ouvinte” (MARCUSCHI 2008, p. 94), contudo a fala dos Alunos se contrapõem a essa proposta de sentidos quando eles se referem aos memes usando falas como: “alguns meme que eu não consigo nem entender imagina interpretar”; “o meme tem muito pouca imagem e às vezes as figuras não se expressam bem”; “na internet a pessoa vê mas não absorve nada e nem entende”. Surge um questionamento importante, quanto ao conceito de discernimento sobre as construções textuais que esses alunos possuem, pois, o texto não segue um modelo único, ele se apresenta de muitas formas e cada uma com sua estrutura e intensão específicos, essenciais no universo das letras, e é preciso sim conhecê-las e saber trabalhar com elas.
Diante do meme como instrumento facilitador para o ensino de língua portuguesa, na EMEF Dinorá Tavares, o professor como mediador e formador de conhecimento precisa adotar um posicionamento crítico em relação ao ensino da língua portuguesa, considerando a forma de utiliza o texto em sala de aula, pois este é um mecanismo formador de sentidos, e explorar seus recursos é fundamental para uma aula construtiva e significativa. Inserir os memes dentro do contexto escolar é buscar na realidade cotidiana do aluno recursos para motivar o interesse pelas aulas de língua portuguesa, o que torna o meme, uma produção textual do universo digital, um recurso pedagógico facilitador na aprendizagem dos alunos.
O meme é uma produção textual, e como texto pode ser entendido como algo mutável, flexível e funcional, que Marcuschi (2008, p. 79) entende que “O texto se dá como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações alternativas e colaborativas”, ou seja, é algo único, mas adaptável, que possibilita novas reconstruções e leituras, onde o professor precisa despertar no aluno a motivação para compreender e adaptar o texto às suas necessidades comunicacionais, porque a linguagem é um campo vasto de interação.
V- CONCLUSÃO
A proposta de trabalhar os memes como instrumento facilitador de aprendizagem nas aulas de língua portuguesa, é buscar a vivência do aluno para dentro do contexto escolar de forma que ele se veja inserido no processo com abordagem que eles gostam de interagir durante o dia a dia. Porém, durante todo o processo constatamos, que a preocupação constante dos professores em aprimorar a qualidade do ensino, parte de uma realidade, onde aluno que estão cursando o 9º ano do ensino fundamental II, ainda transmitem muito da oralidade para suas produções escritas, assim como graves problemas de ortografia e pontuação, o que reflete aquilo que já foi debatido durante a construção desse trabalho, que os alunos não se sentem mais motivados com as aulas expositivas dos professores, pois são mais atraídos pelo universo virtual que está carregado de entretenimento, enquanto o professor, muitas vezes só tem a voz para usar como instrumento pedagógico para ensinar.
É muito difícil para o professor competir com os recursos tecnológicos, então a melhor opção é aliar-se a eles, pois é unanime a preferência dessa geração pela internet, mesmo que digam que prefiram a leitura de um livro impresso, por ter uma escrita mais elaborada ou ser mais rico em informações, mas é na internet e nas redes sociais que os alunos querem estar.
Falar sobre a aprendizagem dos alunos frente a um mundo que vive a revolução tecnológica é colocar sobre o professor uma responsabilidade muito grande de ensinar com quase nada de suporte material, e conseguindo construir propostas pedagógicas usando muito da criatividade, pois como a escola não dispõe de um laboratório de informática, o jeito é buscar alternativas impressas, desenhadas na lousa ou no caderno, representadas sonoramente.
Nascer em meio a tecnologia não é garantia de saber fazer bom uso dela, é preciso um direcionamento para transformar os recursos virtuais em aliados ao processo de ensino e aprendizagem. A proposta pedagógica de trazer os memes para dentro da sala de aula, como recurso didático, divide a opinião dos alunos, por acharem uma estrutura textual inadequada para o ambiente escolar, alegando falta de estrutura, informação e difícil de interpretar, o que proporciona mais uma leitura de que os alunos precisam entender que esses memes da internet já constituem um tipo de linguagem e pode sim ser trabalhada dentro de sala de aula como instrumento facilitador de aprendizagem, pois pela sua estrutura e construção textual possibilita uma aula mais dinâmica e atrativa.
O trabalho com memes nas aulas de língua portuguesa na EMEF Dinorá Tavares, transformou muitas situações dentro de sala de aula, primeiro foi a atenção do aluno e a participação no momento de socialização e discussão, pois a mistura da escrita a recursos visuais e algo que chama a atenção dos alunos, ainda mais quando se trata de um meme que traz o humor nas suas entrelinhas, ou seja, é uma proposta que trouxe resultados positivos para a aprendizagem.
O meme consegue chegar no aluno de uma forma que o texto tradicional não chega, daí a importância de buscar abordagens da vivência do aluno para depois adentrar nas estruturas mais complexas e sistemáticas. Alguns alunos ainda veem o meme como uma simples construção carregada de humor ou sarcasmo para entretenimento das redes sociais, mas outros já entendem que o meme é uma nova modalidade textual que nasceu na internet e precisa ser explorada na sala de aula, porque toda construção textual é carregada de sentido e transmite informações.
Podemos concluir que, iniciativas de propor situações de aprendizagem diferentes, nem sempre é bem aceita por todos, pois alguns vão achar inadequada, mas quando se trata dessa proposta dos memes como instrumento facilitador, fica evidente a tentativa de associar o ensino com as estruturas que os alunos gostam de ler nas redes sociais, o que torna um importante instrumento de aprendizagem. Porém, é urgente uma proposta de ensino que trabalhe mais as produções escritas dos alunos na EMEF Dinorá Tavares, de modo que eles entendam que a forma do falar nem sempre pode ser reproduzida na escrita, pois o falar é mais livre e mais espontâneo, mas quando você vai construir um texto escrito precisa ter mais cuidado com a organização das palavras.
O resultado dessa pesquisa mostra que a preocupação dessa instituição de ensino em buscar novos instrumentos para facilitar o ensino é uma iniciativa importante, para instigar e estimular o gosto pelas aulas de português, e que pode se estender as outras áreas de conhecimento, pois a dificuldade que os mesmos apresentam foram notórias no momento da entrevista quando começaram preencher os questionários, e no decorrer ficou evidente o teor contraditório ou a insegurança quanto ao que está sendo ensinado e da forma como está sendo trabalhado. As respostas dos alunos mostram que ainda precisam de muitos esclarecimentos sistemáticos, aprimoramento da escrita e dedicação nos estudos, pois o professor é apenas o mediador do conhecimento e o aluno precisa estar atento para absorver o máximo possível. E, que a investigação que iniciou nesse estudo de caso, seja base para mais estudos que venham contribuir com a qualidade de ensino de língua portuguesa, proposto na EMEF Dinorá Tavares, construindo um ensino significativo formador de pessoas críticas e preparadas para atuar no mercado de trabalho, assim como refletir sobre sua realidade.
Diante dessa situação, é necessária uma intervenção bem acentuada, com propostas de leitura, escrita e produções textuais de forma que o aluno amplie seu vocabulário e domine mais os recursos linguísticos, com menos uso de oralidade nas suas escritas.
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1Graduação em Letras Língua Portuguesa pela UFPA. (2004). Especialista em Língua Portuguesa: uma abordagem textual (2005). Curso de Língua Inglesa (2016). Mestranda no Programa de pósgraduação em Ciências da Educação pela Faculdade de Ciências Sociais Interamericana-FICS.
2Mílvio da Silva Ribeiro – Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará – PPGEO/UFPA. Professor na Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel FATEFIG. Pedagogo; Geógrafo. E-mail: milvio.geo@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1118-7152