FUTEBOL E O PROCESSO MOTOR EM CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS: REVISÃO DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10251624


Auzilene Correa da Costa
Eduardo Oliveira Costa
Gabriel Passos Penha
Iolanda de Fátima Araújo
Orientador: Elvis Geanderson Lima


RESUMO 

O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica que tem como objetivo  encontrar artigos que identifiquem a influência da prática do futebol no  desenvolvimento motor em crianças com idade de 7 a 10 anos. Para a coleta de  informações foram utilizadas as bases de dados do Scielo, PubMed e Capes, as  publicações deveriam ocorrer entre os anos de 2018 a 2023, totalizando assim 5  artigos utilizados. Os resultados obtidos foram bem-sucedidos, concluindo que o  esporte escolhido auxilia no processo de desenvolvimento tanto social quanto o motor,  porém, deve ser acompanhado de um profissional habilitado. É comum observar cada  vez mais a prática do futebol ser passada entre pais e filhos, tomando uma proporção  enorme em todo o Brasil e no mundo. Nota-se que o futebol tem papel fundamental  na vida dos brasileiros, visto que pode ser utilizado como forma recreativa, de  desenvolvimento corporal e funcional, desenvolvimento social e muitas vezes é a sua  prática que impede que jovens sigam o caminho errado em sua vida. Porém, para que  o futebol impacte positivamente na vida de jovens e que realmente lhe sejam  alcançadas melhorias em seu desenvolvimento, é fundamental ter um instrutor ou  educador físico que demonstre o que é necessário para que o jovem evolua sem riscos  ao seu corpo e com foco total nas partes onde podem ser desenvolvidas levando em  consideração a idade do indivíduo. Caso não aja o papel do educador física, existe o  risco do indivíduo ter lesões musculares ou acelerar uma parte de seu  desenvolvimento que não estava pronta para isso naquele momento, o que pode  acarretar sérios problemas ao decorrer dos anos. 

Palavras-Chave: Desenvolvimento Motor, Crianças, Futebol e Habilidade Motoras.

ABSTRACT 

The present work is a bibliographical review that aims to find articles that identify  the influence of playing football on motor development in children aged 7 to 10 years.  To collect information, the Scielo, PubMed and Capes databases were used.  Publications should occur between the years 2018 and 2023, thus totaling 5 articles  used. The results obtained were successful, concluding that the chosen sport helps in  the process of both social and motor development, however, it must be accompanied  by a qualified professional. It is common to see more and more football being played  between parents and children, taking on a huge proportion throughout Brazil and the  world. It is noted that football plays a fundamental role in the lives of Brazilians, as it  can be used as a form of recreation, body and functional development, social  development and it is often its practice that prevents young people from following the  wrong path in their lives. However, for football to have a positive impact on the lives of  young people and for improvements in their development to really be achieved, it is  essential to have an instructor or physical educator who demonstrates what is necessary for young people to evolve without risk to their body and with focus. total in the parts where they can be developed taking into account the individual’s age. If the  role of the physical educator does not play a role, there is a risk that the individual will have muscle injuries or accelerate a part of their development that was not ready for it at that time, which can lead to serious problems over the years. 

Keywords: Motor Development, Children, Soccer and Motor Skills.

INTRODUÇÃO 

O presente trabalho abordará sobre a atuação do futebol no desenvolvimento  motor de crianças com faixa etária de 7 a 10 anos e explanaremos as fases  do desenvolvimento, visto que de acordo com Kolb & Whishaw (2002) quando a  área cerebral amadurece é esperado que ocorram comportamentos correspondentes  a aquela área, desde que a função seja estimulada e o futebol é um desses métodos  de estímulos. 

Este esporte que nasceu na antiguidade, 206 A.C. até 220 D.C. após  uma guerra e tornou-se um esporte de elite na Chin, conforme explicitado por Leite &  Rodrigues (2018). Tendo como seu criador o grande imperador amarelo, o esporte se  popularizou após o imperador se divertir com o estômago de um falecido comandante  inimigo, afirma Chunjiang (2008, p. 31). Em relação ao desenvolvimento motor, este  é uma habilidade intrínseca do indivíduo desde os primeiros meses de vida que se  consubstancia em um processo de ganho de novas habilidades e capacidades  ao longo da vida, onde é a capacidade do indivíduo de se movimentar conforme a  necessidade momentânea, preceitua Silva (2022).  

O esporte é vinculado ao desenvolvimento motor, Gallahue, Ozmun &  Goodway (2013) explicam que tem impacto significante nos movimentos  especializados da criança, que presenciam melhoras em habilidades locomotoras e  estabilizadoras. Gallahue, Ozmun & Goodway (1982) afirma que as crianças adquirem  as habilidades motoras em decorrência de sua vivência, onde muitas não são  refinadas. Bilibio et al (2017) exprime que a aquisição de habilidades motoras  complexas é aprendida por crianças de 05 a 10 anos e que as regras dos esportes  facilita este aprendizado, além do esporte ser um estímulo ao potencial motor do  indivíduo, visto que Malina & Bouchard (2002) o desempenho motor envolve diversas  funções musculares e biomecânicas, relacionadas com a qualidade e execução de habilidades. 

A presente pesquisa encontra sua justificativa no fato de que todos os esportes  têm seu nível de contribuição para o desenvolvimento motor da criança,  conforme demonstrado por Popovic, B; Gusic, M et al (2020). Porém, o futebol por ser  um esporte mais popular entre as pessoas (HELAL,1997), já que demonstra maior incidência. A problemática central é descobrir como o futebol se comporta em relação  ao desenvolvimento motor das crianças. 

É notória a relevância desta pesquisa como um todo, assim abrangendo  desde cursos especializados em Educação Física até o aprendizado dos pais e  responsáveis por crianças visto o fato de que caso não exista um acompanhamento  por um profissional de educação física com a criança à época de seu desenvolvimento  motor, este pode sofrer consequências em seu corpo, como afirmam Tani, Basso e  Correa (2012).  

Por meio da revisão de literatura, o presente trabalho trará ao leitor  diversos autores que exprimem suas opiniões e resultados sobre o tema abordado,  sempre com o foco principal nos resultados do futebol em relação ao desenvolvimento  motor da criança e comparando com crianças que praticam outros esportes ou que  não praticam nenhum. 

Diante do exposto, o presente trabalho será dividido em seis partes, onde  o primeiro capítulo abordará o conceito de desenvolvimento motor e trará  suas classificações. O segundo capítulo tem como objetivo demonstrar a história do  futebol e como este chegou ao Brasil. Após este, no terceiro capítulo, será  demonstrado como o professional de educação física pode ter relevância em todo este  processo. No quarto capítulo será demonstrada a metodologia e os resultados  desta. Posteriormente a este, no quinto capítulo, tem-se a discussão, onde será  levantado os estudos de autores para embasar o presente trabalho. Por fim, no sexto  capítulo, será apresentada a conclusão, baseada em todo o exposto no presente  projeto.

OBJETIVOS 

Objetivo Geral: 

Sintetizar, analisar e avaliar as pesquisas existentes para determinar a  influência da prática do futebol no desenvolvimento do processo motor de crianças de  7 a 10 anos. 

Objetivo Específico: 

1. Identificar e revisar estudos de pesquisa que abordam o impacto da prática  regular de futebol no desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais  (por exemplo, corrida, salto, equilíbrio) em crianças de 7 a 10 anos;  

2. Avaliar o efeito da participação em programas de futebol na melhoria de  habilidades específicas do esporte (por exemplo, dribles, passes, chutes) em  crianças dessa faixa etária, com base nos estudos revisados; 

3. Analisar possíveis fatores moderadores, como gênero, nível de aptidão física  inicial, duração da prática e qualidade do treinamento, que podem influenciar a  relação entre futebol e desenvolvimento do processo motor em crianças; 

4. Sintetizar as principais conclusões dos estudos revisados e fornecer  recomendações para pais, treinadores e profissionais de saúde sobre como  promover um desenvolvimento saudável do processo motor por meio da prática  do futebol em crianças de 7 a 10 anos.

1. O DESENVOLVIMENTO MOTOR E SUAS CLASSIFICAÇÕES. 

O desenvolvimento motor ocorre através de uma alteração comportamental,  seja relacionado à idade, a postura e o ambiente o qual a criança convive. (XAVIER,  2018). É uma evolução neural que proporciona uma integração sensorio-motor  através do sistema nervoso central. (ANDRADE & LUFT, 2004 apud FONSECA,  1988). 

Todo o comportamento envolve processos neurais específicos, que ocorrem desde a percepção do estímulo até a efetivação da resposta selecionada. Esses processos neurais possibilitam o comportamento e o aprendizado, que acontecem de maneiras diferentes no cérebro. À medida  que uma determinada área cerebral amadurece, a pessoa exibe comportamentos correspondentes àquela área madura, desde que tal função seja estimulada (ANDRADE & LUFT, 2004). 

Os autores Gallahue, Ozmun & Goodway (2013) afirmam que o  desenvolvimento funciona como uma ampulheta (figura 1) e as separa em 4 fases,  sendo elas a fase motora reflexiva, motora rudimentar, motora fundamental e motora  especializada e estes variam de acordo com a faixa etária. 

Figura 1 Desenvolvimento Motor (Gallahue e Ozmun, 2013, pg. 76) 

Como podemos observar a fase motora reflexiva é o primeiro movimento do ser  humano e este ocorre ainda dentro do útero e dura até 1 ano de idade, é a partir dela  que o bebê recolhe informações sobre o ambiente. A fase motora reflexiva é subdivida  em reflexos primitivos, são considerados de sobrevivência, como fixação e sucção, fazendo-o se nutrir e os reflexos posturais são considerados como capacidade e não  habilidades, sendo usados de formas inconsciente. Essa mesma fase é dividida em 2  estágios, sendo eles: codificação de Informações, onde os centros cerebrais  produzem reações involuntárias e estímulos para que o bebê consiga se nutrir e se  proteger através dos movimentos e o estágio de decodificação de informações que  inicia apenas no 4º mês, onde os movimentos são inibidos, ou seja, o bebê reage aos  estímulos sensoriais armazenados e não apenas por reação aos estímulos  (GALLAHUE, OZMUN & GOODWAY, 2013). 

A segunda fase é a de movimentos rudimentares e também está dividida em 2  estágios, sendo estes o pré-controle e o de inibição de reflexos. Nesta fase ocorre os  movimentos são previsíveis, como estabilização da cabeça e pescoço, agarrar e  soltar, além dos movimentos de arrastar, engatinhar e caminhar, devendo ocorrer até  o 2º ano de idade (GALLAHUE, OZMUN & GOODWAY, 2013). 

Os movimentos fundamentais são a terceira fase, a qual a criança desenvolve  vários movimentos e iniciar a explorar as capacidades motoras, como chutar, correr,  pular, arremessar, apesar dessas capacidades, a criança ainda deve confundir as  direções e sua localização no espaço, os movimentos bilaterais (como pular) não  estão refinados e brincadeiras longas e minuciosas não terão sucessos. Diferente das  outras fases, esta é dividida em 3 estágios: o estágio inicial, que ocorre de 2 a 3 anos  de vida, estágio elementar dos 4 a 5 anos de vida e o estágio maduro de 6 a 7 anos  de vida (GALLAHUE, OZMUN & GOODWAY, 2013). 

A última fase é denominada de movimentos especializados, nela que ocorre as  habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais, os autores  explicam que as habilidades estabilizadoras a criança atua contra a gravidade, como  levantar o tronco. As Locomotoras elas agem na localização do seu corpo em relação  a um ponto fixo, como pular e as manipulativas são divididas em grossas (chutes) e  finas (cortar). Existem 3 estágios: Transitório, de 7 a 10 anos, normalmente nessa  faixa etária o tempo de reação é lento, ou seja, não há coordenação visual-manual,  porém, os relacionamentos, identidade e as associações já estão desenvolvidas,  devido a isso os jogos de lideranças são importantes. O segundo estágio é o de  aplicação, de 11 a 13 anos e o de utilização permanente que acontece a partir dos 14  anos (GALLAHUE, OZMUN & GOODWAY, 2013).

Na adolescência, entre 10 a 20 anos, é esperado que aconteça as habilidades  em jogos esportivos, mas também é marcada pela a autoconsciência das manobras  físicas e pessoais em determinados esportes, por isso deve-se melhorar a  competência e assim reduz a procura por novos esportes e especializa-se em suas  habilidades (ANDRADE & LUFT, 2004). 

As mudanças no comportamento motor são decorrentes da modulação da atividade neural em função da experiência. As vivências motoras modularão a atividade neural tornando-a mais sincronizada e eficiente caracterizando a aprendizagem motora do indivíduo. A atenção continua sendo importante para a aprendizagem motora, porém, o significado do estímulo passa a ser cada vez mais determinante do que este indivíduo vai ou não aprender com eficiência (ANDRADE & LUFT, 2004). 

No fim da adolescência, início dos 20 anos, a ampulheta é virada e é nessa  faixa etária que os indivíduos iniciam a fase adulta e suas responsabilidades, devido  a elas, “as restrições de tempo limitam a aquisição de novas habilidades de movimento  e a manutenção das habilidades cujo domínio havia sido alcançado na infância e na  adolescência” (GALLAHUE, OZMUN & GOODWAY, 2013, p. 78). “Com o avanço da  idade adulta e o envelhecimento, algumas habilidades motoras ficam limitadas, o que  compromete os movimentos” (SILVA, 2022). 

1.1 A HISTÓRIA DO FUTEBOL 

São poucos os documentos que datam os jogos com bolas praticados com os  pés na antiguidade, porém é possível notar que essas práticas reuniam diversas  pessoas, mesmo sendo um esporte quase sem regras e de violento. Carvalho e  Marchi (2006) citam que no Japão existia o kemari como esporte utilizando uma bola  com os pés. Já na Grécia se tinha uma prática denominada Epyskiros, que mais à  frente foi levada a Roma com o nome de Harpastum, conforme preceituam Carvalho  e Marchi (2006). 

Leite e Rodrigues (2018) afirmam que na China, por volta da Dinastia Han (206  A.C. até 220 D.C.) foi criado o cuju, que tem como significado “chutar a bola”. De  acordo com os autores, reza a lenda que a prática foi criada por Huangdi, o “Imperador  Amarelo”. Chunjiang (2008, p. 31) explica que após derrotar as tropas das tribos  vindas do Sul, comandadas por Chiyou, Huandghi teria arrancado o estômago de  Chiyou, enchido com palha, fazendo uma bola, e dado aos seus soldados para que chutassem. Após este ocorrido, o cuju se tornou uma prática muito realizada e popular  entre os imperadores e a elite da china. 

Simons (2008, p. 46) afirma que as bolas feitas na Dinastia Han eram “exóticas  esferas de brocado de seda”, onde eram preenchidas com penas ou cabelo. Continua  o autor afirmando que na Dinastia Tang foi quando o cuju se popularizou mais ainda,  onde um empreendedor local colocou uma bexiga inflada dentro da bola de seda.  Além disso, preceitua Simons (2008, p .33) que foi a partir desta dinastia que cada  time teria apenas um único gol e que ganhava a partida quem fizesse mais gols. 

Porém, o futebol moderno teve seu surgimento no século XIX, na Inglaterra,  como afirma Oliveira (2012). O esporte estava tão praticado nas ruas da Inglaterra  que o parlamento inglês publicou uma lei onde seria proibida a prática de futebol nas  ruas, porém houve uma grande objeção por parte da população e assim foi-se  revogada esta lei, preceitua Oliveira (2012). Na época o futebol ainda não era um  esporte, pois ainda só era praticado pela alta sociedade e eles tinham outras  prioridades, como esgrima. 

Helal (1997) afirma que o futebol só veio a ter um leve regimento por volta de  1870, onde começou a ser mais praticado pelos trabalhadores em suas folgas aos  sábados, conquista essa com muita luta ela classe trabalhadora. 

Ainda pela Inglaterra, Carvalho e Marchi (2006) afirmam que a taça mais antiga  de futebol teria advindo do país britânico, que teve sua competição ocorrida em 1871,  porém a profissionalização do futebol só começou no ano de 1885 na Inglaterra e  apenas em 1886 que foi-se criado o Comitê Internacional do país objetivando o  estabelecimento de regras do futebol (Gehringer, 2010). 

O crescimento do futebol foi tamanho que se começou a ser disseminado pela  Europa prática e em 1904 foi criada a Fédération Internationale de Football  Association (FiFA), sendo responsável por organizar as partidas de futebol em todo o  mundo, além de grandes campeonatos, como a Copa do Mundo, afirma Gehringer  (2010).

1.1.1 A HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL. 

Charles Miller, ao sair do Brasil em direção a Europa, com intuito de educar-se,  aprendeu sobre o futebol e apaixonou-se pelo esporte. Ao voltar para o Brasil, trouxe  os ensinamentos que aprendeu na Inglaterra para o Brasil, junto de bolas, uniformes  e um livro de regras, conforme dispõe Melo (2000). 

Helal (2007) exprimi que o futebol teve seu início no Brasil por meio das grandes  cidades e em espaços públicos, porém ao primeiro momento o esporte atraiu a jovem  elite, que se organizava em clubes ou quadras de colônias de imigrantes para poder  praticar o esporte.  

A transição do esporte amador para o profissional teve marcado em si  intrinsicamente os aspectos raciais. Como exemplo disto, apenas em 1920, pelo Clube  de Regatas Vasco da Gama é que se teve o primeiro jogador profissional negro no  cenário futebolístico. Oliveira (2012) expõe que: 

A equipe de negros, mestiços e pobres montada pelo Vasco da Gama para a  disputa do campeonato de 1923, causa grande impacto na estrutura recém organizada do futebol do Rio de Janeiro. A conquista do título carioca de 1923 pela equipe Cruz Maltina culmina com ruptura por parte das equipes amadoras e brancas do Fluminense, Botafogo, Flamengo, América Bangu e São Cristóvão, que fundaram em 1924 a Associação Metropolitana de Esportes Amadores (OLIVEIRA, 2012, p. 173). 

Após a ruptura racial no futebol, o esporte cresceu cada vez mais, até que o  Brasil ganhou o apelido de País do Futebol. Desta forma, pode-se perceber que até  os dias atuais o futebol tem extrema importância para toda a população brasileira, que  encanta desde a criança mais nova até o velho mais idoso.

2. A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO PARA O  DESENVOLVIMENTO MOTOR DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 

Com a grande importância do futebol para o brasileiro, surgiram as escolas de  futebol, que tem como objetivo de ensinar a criança e ao adolescente mais sobre o  esporte a praticá-lo com maestria. Freire (2006) afirma que as escolinhas de futebol  se iniciaram quando houve a profissionalização do esporte e nos lugares onde era  escasso a prática do mesmo. 

Segundo Tani (1987, p. 22) “é na educação física para esta faixa escolar que  se inicia todo um processo que poderá influenciar positiva ou negativamente o  desenvolvimento da criança”. Freire (2009) concorda com o autor supracitado e afirma  que as habilidades motoras devem ser desenvolvidas por meio da educação física e  que estas habilidades necessitam gerar consequências na estrutura cognitiva, social  e afetiva do aluno. 

O profissional da educação tem um papel importante em todo o processo de  aprendizagem do menor na iniciação do esporte. Tani, Basso e Correa (2012)  exprimem que o professor de educação física deve tem como dever selecionar o  conteúdo que melhor se encaixa as características do aluno, juntamente com ter a  habilidade de poder lecionar a ele tudo sobre o esporte e de uma maneira interativa.  Além disso, continuam os autores ao afirmar que nem todos os professores têm essa  habilidade, visto que a especialização esportiva precoce é um exemplo da falha do  professor, onde prejudica o desenvolvimento motor do aluno com experiências aos  quais ele ainda não está preparado para vivenciar. 

Além do desenvolvimento motor, ao ligar o esporte a uma educação de  qualidade, as crianças e adolescentes adquirem o sentimento de participarem da  sociedade, além de conseguir desenvolver outras áreas além do desenvolvimento  motor, como por exemplo coordenação motora e a atenção, como afirma Frisseli e  Mantovani (1999). 

Educadores Físicos que estão na posição de treinadores de escolinhas também  tem o papel de ser o exemplo para quem ele está ensinando. Para Raakman (2010)  o comportamento do treinador no cenário competitivo tem relação direta com a  conduta de seus jogadores, assim, caso o treinador tenha atitudes negativas com o árbitro, seus alunos espelharão os mesmos atos, assim gerando condutas negativas,  podendo estes padrões gerar danos emocionais e psicológicos na criança. 

Desta forma, o educador precisa ter a consciência sobre os objetivos do  processo formativo da criança, sempre colocando o ensino e o aprendizado acima da  competição, visto que como já demonstrado, se feito de forma errada, pode trazer  graves prejuízos a formação da criança.

METODOLOGIA 

Para método de pesquisa escolhido foi uma revisão de literatura tendo como  base publicações entre 2018 a 2023 que investigassem a relação entre a prática do  futebol e o desenvolvimento do processo motor em crianças com idades entre 7 e 10  anos, de ambos os sexos, a fim de encontrar evidencias claras em como o futebol  atua nas habilidades motoras fundamentais e especificas. A pesquisa realizou-se  entre os meses de setembro e outubro de 2023. 

O critério de exclusão deu-se por ano de publicação inferior e superior ao  determinado, além pesquisas incompletas, duplicadas, relatórios de estágios e  trabalhos de conclusão de curso, pesquisas com pagamento em dólar, idades  inferiores ou superiores a escolhida e outros tipos de esportes. 

Para a busca de dados foram utilizados os seguintes descritores:  “desenvolvimento motor; motor development”, “habilidades motoras; motor skills”,  “futebol; soccer”; “crianças; children” em português e inglês, nos principais bancos de  dados do Scielo, PUBMED, Portal de Periódicos do Capes. 

Após a utilização dos descritores e a determinação dos anos, a leitura ocorreu  por títulos, resumos e metodologia. Após a conclusão das leituras, definiu-se o total  de 05 artigos dentro das limitações escolhidas, descritos no fluxograma 1, página 22.

Fluxograma 1. Artigos recolhidos após análise. (Autor, 2023)

RESULTADOS

Tabela 1 Artigos selecionados após avaliação dos critérios de inclusão e exclusão (Autor, 2023).

DISCUSSÃO 

O estudo de Prado et al. (2020) utilizou-se de 44 crianças, com faixa etária  entre 07 e 10 anos e utilizou o Teste de Coordenação Corporal para Crianças – KTK  (Korper Koordination test fur kinder), onde é composto por 04 tarefas com o objetivo  de visualizar as facetas da coordenação corporal total e o domínio corporal, sendo  estas tarefas: Equilíbrio à retaguarda – ER; Saltos Monopedais – SM, Saltos Laterais  – SL; Transposição Lateral – TL. 

Os conteúdos das tarefas apresentaram dificuldades variadas, visto que as  dificuldades aumentam na medida em que os indivíduos se tornam mais velhos. A  diferenciação por idade seguiu certos critérios, sendo estes: Aumento de altura,  aumento de velocidade e maior precisão na execução medida, como exemplo, em  função do maior número de acertos em uma determinada quantidade de tentativas. 

Após os procedimentos, foi possível identificar que as crianças mais velhas tem  desenvolvimento maior que os mais novos em decorrência de terem mais experiência.  Afirmam os autores que o desenvolvimento motor pode ser relacionado com a idade,  porém não depende dela para se desenvolver.  

Por fim, os autores concluíram o estudo resultando em um desenvolvimento  motor bom para ambos os grupos, porém como se já era esperado, o futebol influencia  positivamente o desenvolvimento motor das crianças. 

Assim, os pesquisadores demonstraram que a experiência traz melhores  resultados. Corroborando o demonstrado e utilizando dados mais abrangentes,  Popovic et al. (2020) também por meio do método KTK quis avaliar o desempenho de  alunos de futebol, porém comparando-os com alunos que faziam esportes variados e  teve resultados diversos dos primeiros pesquisadores, este mostrou que o grupo  poliesportivo teve desempenho significativamente melhor em todos os testes de  coordenação motora em comparação ao grupo futebol. 

As crianças de ambos os grupos apresentaram resultados semelhantes em  relação a aptidão física, assim, após amostragem dos resultados, os autores  chegaram à conclusão de que as crianças matriculadas no poliesportivo apresentam  níveis de coordenação significativamente mais elevados do que as que praticam  futebol.

Os resultados obtidos pelos pesquisadores demonstraram que a atividade  física organizada estimula o desenvolvimento motor adequado das crianças, porém  nos testes de velocidade e agilidade o grupo de crianças matriculadas no futebol se  destacou, aja vista que utilizam as pernas para poder praticar, assim fortalecendo-as  mais que a do grupo poliesportivo. 

Logo, por mais que o utilizando uma base de jogadores de futebol, o  pesquisador percebeu que o esporte em si ajuda no desenvolvimento motor da  criança, não sendo algo único e exclusivamente do futebol. 

Utilizando um viés diferente, com foco disperso dos demais Bozkut et al (2020)  procuraram descobrir se haveria transferência de aprendizado de uma perna para  outra em alunos que fizessem futebol, o estudo consistiu em aquecimentos para os  alunos, incluindo exercícios de corrida e mobilidade articular. Assim, os autores  concluíram que a transferência de ambos os membros não ocorreram de forma  igualitária e a idade é um fator. 

Pasko et al. (2021) procuraram descobrir, por meio de seus estudos, se a idade  dos jovens influenciaria diretamente em seus tempos de reação, utilizando o teste  Shapiro-Wilk e avaliando a aptidão física por meio da correlação de Spearman, após  os testes, os resultados mostraram que houveram diferenças significativas nos testes  individuais, tanto para o tempo de reação quanto para o tempo motor, em relação ao  grupo mais jovem de todos, que obteve maior tempo.  

Assim, a pesquisa mostrou que o melhor nível de habilidades cognitivas foi  apresentado na faixa etária dos 14 aos 16 anos, onde tiveram resultados semelhantes.  O grupo de faixa etária mais baixa teve os resultados mais baixos em todos os testes,  assim demonstrando que com a idade o nível de capacidade cognitiva se desenvolve  até os 14 anos.  

É interessante que as crianças participem de algum esporte, além da educação  física escolar e não precisa ser obrigatoriamente o futebol, mas sim, qualquer outro  que estimule a curiosidade e a vontade de praticar, então, a coordenação motora será  desenvolvida. Sem o esporte as crianças poderão não desenvolver ao máximo suas  capacidades motoras e perceptivas, é o que afirma Santos et al. (2020).

CONCLUSÃO 

Após todo o exposto, foi demonstrado que, por meio do futebol, as crianças  conseguem ter um desenvolvimento motor superior do que as que não praticam  qualquer tipo de esporte. Porém, as crianças que praticam algum esporte diferente do  futebol, também mostraram um aumento significativo em seu desenvolvimento, assim  demonstrando que outros esportes também são de suma importância para o  desenvolvimento para a criança. Muito praticado pelos brasileiros, o futebol é um dos  primeiros contatos que uma criança tem com práticas e exercícios que exijam  concentração, desenvolvimento motor, equilíbrio e dentre outras coisas, assim os  desenvolvendo no decorrer desta prática 

Ter um profissional de educação física durante o processo de aprendizagem e  crescimento da criança enquanto faz um esporte teve sua relevância garantida  quando levado em consideração a necessidade deste para trazer a criança exercícios  que sejam compatíveis com seu nível atual de crescimento e desenvolvimento, assim  também existindo consequências e lesões a criança de forma geral, o que assim  melhora a qualidade corporal do indivíduo e o faz treinar com mais foco e mais  segurança, o que é imprescindível para crianças de todas as idades. 

Diante de todos os estudos levantados, é possível declarar que o esporte, em  especial o futebol, é de extremo benefício para a criança, seja esta de 07 a 10 anos  ou menos, pois não traz apenas impactos relevantes no desenvolvimento motor dela,  mas em outras áreas de sua vida como um todo, além de ser uma forma de entretê-la e demonstrar aos pais a capacidade de seus filhos.

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