FRATURA PENIANA COM ROTURA COMPLETA DE URETRA DURANTE RELAÇÃO SEXUAL: UM RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8433318


Isaque Donizett Silva de Souza1; Anderson Ramos2;  Elias Pereira da Silva Junior3; Mateus Henrique Verplotz4; Jhonny Rocha De Oliveira5; Amanda Nardi Zanluchi6; Gabriel Peteno Magnusson7; Bruno Henrique Pazza Pereira8; Marco André Reis Pinheiro9; Gabriel Mazzutti Cambraia10; Flávia Fernanda de França11; Aline Marchioro Neves12; Cassio Hideo Noso13


INTRODUÇÃO 

A fratura do pênis é uma emergência  urológica pouco usual, e pode ser descrita  como trauma peniano fechado. As lesões de  genitália externa costumam ocorrer motivadas  por traumas na maioria das vezes durante o ato  sexual em posições nas quais a tensão sobre o  pênis é elevada, no entanto existem casos de  trauma durante masturbação ou mesmo  durante o sono, caso esse conhecido como  “rolling on the bed” no qual a ereção acontece  durante a fase REM do sono e o homem rola na  cama sobre o pênis ocasionando a lesão. (3)  

Usualmente as lesões ocorrem afetando a  túnica albugínea, um tecido conjuntivo fibroso  situado logo abaixo da fáscia de Buck e  atingem então os corpos cavernosos  unilateralmente ou bilateralmente. Nos casos  mais graves da lesão, e aí sim mais raros,  ocorre ainda a ruptura conjunta da uretra e do  copo esponjoso, sendo a ruptura da uretra  passível de ser classificada como completa ou  incompleta. Os sinais característicos de lesão  uretral são uretrorragia e retenção urinária  adicta à estase urinária causada pela lesão. (1) 

O diagnóstico de fratura peniana é baseado  na história do trauma e no exame clínico.  Estatisticamente a história mais comum da  lesão é ocorrida no intercurso sexual, com a  parceira em posição superior ocorrendo o erro  na penetração sendo o pênis traumatizado pelo  impacto. O tratamento mais adequado para  essas emergências é a intervenção cirúrgica em  até 48 horas, visando a diminuição da  probabilidade de complicações posteriores  como disfunção erétil, curvatura peniana  importante, impotência sexual. (1) 

A administração de antiinflamatórios, o  resfriamento do pênis em conjunto à  administração de analgésicos garantem uma  boa recuperação no período pós cirúrgico.  

RELATO DE CASO 

Paciente N.L.S., 33 anos, casado natural e  procedente do município de Toledo PR  (Tempo do trauma até o atendimento). 

Entrada no Hospital Bom Jesus por  procura direta ao setor da emergência com  queixas de dor peniana leve, uretrorragia  discreta e retenção urinária. Durante ato  sexual ouviu um “click” (ou estralo) seguido de  dor forte, perda da ereção e aumento de  volume em base de pênis. 

Exame físico demonstrava edema  importante em base peniana, maior à esquerda  e pequeno coágulo em meato uretral.  

Imediatamente encaminhado ao centro  cirúrgico. Realizada incisão circular a 1 cm  abaixo do sulco balano prepucial e  desenluvamento do pênis até a base.  

Identificado lesão de ambos corpos  cavernosos, (sendo maior a esquerda) e  secção completa da uretra peniana. Realizada  sutura de corpos cavernosos com pontos  separados de Vicryl 2-0. 

Figura 1. Nessa imagem é possível observar a  extensão da lesão de corpos cavernosos,  corpo esponjoso e uretra. 

Reparo de lesão uretral com pontos  separados de Caprofil 4-0 e sondagem  vesical com Foley 16. Paciente evoluiu bem  no pós operatório imediato e foi liberado no  dia seguinte. Permaneceu com sonda de Foley 16 durante 3 semanas. Manteve bom  padrão miccional. Posteriormente realizou  uretrocistografia retrógrada e miccional  demonstrando área de anastomose com  bom calibre e sem resíduo pós miccional.  Realizou também urofluxometria  considerada normal.  

Figura 2. Nesta imagem é possível observar a uretrorrafia já realizada com boa recuperação morfológica dos tecidos  afetados pela lesão.

Figura 3. Nesta figura é possível observar postectomia realizada com boa estabilização morfológica dos  tecidos afetados. 

Figura 4. Nesta figura é possível observar uretrocistografia retrógrada que demonstra ausência de  áreas de estenose uretral.

Figura 5. Nesta figura é possível observar urofluxometria que demonstra padrão miccional normal.

DISCUSSÃO 

O diagnóstico de fratura peniana é  predominante clínico devido a apresentação  característica da lesão, bem como a presença  de edema e hematoma volumoso na região da  base do pênis. Em casos mais graves pode  ocorrer rotura da uretra, com presença de  uretrorragia e/ou retenção urinária que pode ser  sinalizada pela presença de uretrorragia, como  também pela consequente estase urinária.  Embora seja controverso o tratamento ideal da  fratura peniana, existem teorias que sugerem a  utilização de gelo analgésicos e antibióticos na  recuperação da lesão, no entanto essa medida  causa complicações em parcela significativa da  população. Modernamente o tratamento  cirúrgico precoce é considerado mais adequado  em relação a tratamentos conservadores devido  ao menor grau de eventuais sequelas  terapêuticas (4) . 

Ainda assim existe a necessidade do  diagnóstico diferencial da ocorrência da  ruptura da veia dorsal do pênis, que tem  uma apresentação clínica similar à fratura  peniana. O estabelecimento da distinção  entre esses dois diagnósticos muitas vezes  só é possível mediante abordagem cirúrgica,  que é o tratamento de escolha para ambas  as condições (5). No caso em tela  considerando a apresentação do paciente  quando da admissão no serviço de pronto  socorro, optou-se pela exploração cirúrgica  precoce visando diminuir a possibilidade de  complicações ao tratamento da lesão.  

Embora o tratamento cirúrgico precoce  reduza a incidência de sequelas, 6 a 25%  dos pacientes que passam pela abordagem  cirúrgica precocemente, apresentarão  complicações devido à fratura de pênis, tais  como: curvatura peniana acentuada, dor  durante a ereção, disfunção erétil, priapismo,  necrose de pele, fístula arteriovenosa,  estenose uretral, entre outras (6). Assim o  prognóstico terapêutico em relação ao  restabelecimento funcional do paciente leva  em consideração a necessidade de  preservação de bom calibre no lúmen uretral.  Com esse objetivo a manutenção da sonda  Foley 16, prescrita durante 3 semanas ao  paciente visou minimizar as chances da  estenose uretral.   

Métodos diagnósticos complementares e  de imagem solicitados para avaliar com  maior precisão a extensão e localização  previamente auxiliam à cirurgia, no entanto  quando há evidências clínicas de lesão  uretral a abordagem cirúrgica no menor  tempo possível configura-se como método  mais adequado, considerando o aumento  das chances de sequela quanto maior for o  intervalo entre a ocorrência da lesão e o  estabelecimento da conduta terapêutica.  

CONCLUSÃO 

O diagnóstico de fratura peniana tem  fundamentação eminentemente clínica, sendo  de ocorrência incomum nas emergências  urológicas.  

A lesão com rotura completa de uretra é rara,  porém deve suspeitar-se quando o paciente  apresenta sangramento uretral associado a  estase urinária.  

O tratamento emergencial de escolha é a  abordagem cirúrgica, pois minimiza a chance  de ocorrência de complicações. Ainda assim é  de extrema necessidade acompanhar os  pacientes no período pós cirúrgico, com o  objetivo de sanar complicações associadas a  lesão como curvatura peniana acentuada, dor  durante a ereção, disfunção erétil, priapismo,  necrose de pele, fístula arteriovenosa,  estenose uretral, entre outras afecçoes. 

REFERÊNCIAS 

1- Carvalho Júnior AM, Melo FM, Félix GAL,  Sarmento JF, Capriglione MLD. Fratura de pênis  com trauma de uretral: relato de caso. Rev Col  Bras Cir. [periódico na Internet] 2013;40(4).  Disponível em URL: http://www.scielo.br/rcbc  

2- Bertero EB, Campos RSM, Mattos Jr D.  Penile fracture with urethral injury. Braz J Urol.  2000;26(3):295-7  

3- Alves LS. Fratura de pênis. Rev Col Bras Cir.  2004;31(5):284-6 

4- Koifman L, Cavalcanti AG, Manes CH, R  Filho D, Favorito LA. Penile fracture: experience  in 56 cases. Int braz j urol. 2003;29(1):35-9.  

5- Barbosa N: ruptura da veia dorsal imitando a  fratura do pênis. BJU int 1999; 84:179-80. 

6- Eke N. Fracture of the penis. Br J Surg.  2002;89:555-65


1https://orcid.org/0000-0002-9101-041X
4https://orcid.org/0000-0001-5790-8835
5https://orcid.org/0000-0001-8037-5619
6https://orcid.org/0000-0003-0083-7786
7https://orcid.org/0000-0003-0711-5663
8https://orcid.org/0000-0001-9666-3228
9https://orcid.org/0000-0003-3553-9279
10https://orcid.org/0009-0008-5523-6869
11https://orcid.org/0000-0003-3954-282X
12https://orcid.org/0009-0003-1765-9207
13https://orcid.org/0009-0008-1789-7404