FRATURA COMINUTIVA BILATERAL DE MANDÍBULA: DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM CIRÚRGICA

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102502181710


Maria Josilaine Das Neves De Carvalho
Álisson Glaucio Silva De Lima
Amanda Beatriz Cavalcante Costa
Andreza Alessandra Da Silva 
Ananda Victoria Gonçalves Julião
Anne Rafaela Calixto Rodrigues
Caroline Silva Do Nascimento
Djair Kainan De Lima
Gleycianne A. Maria Santos Da Silva
José Gabriel Diniz Ferreira Da Silva
Júlio César Tabosa
Lucas Gabriel Duque Amancio
Maria Heloíza De Moraes Borba
Mariana Rafaela Rago Alves
Raquel Siqueira Calado Ramos Gonçalves 


RESUMO 

As fraturas cominutivas bilaterais da mandíbula representam um grande desafio para a cirurgia bucomaxilofacial, devido à complexidade anatômica e ao alto risco de complicações, como infecção, má oclusão e limitação funcional. Essas fraturas geralmente ocorrem em decorrência de traumas de alta energia, como acidentes automobilísticos, quedas, agressões físicas e ferimentos por arma de fogo. O tratamento adequado envolve a escolha da técnica cirúrgica mais apropriada, visando restabelecer a anatomia e funcionalidade da mandíbula, além de minimizar sequelas. Entre as opções terapêuticas, destacam-se a redução fechada e a redução aberta com fixação interna rígida, sendo esta última amplamente utilizada devido à sua capacidade de proporcionar maior estabilidade óssea, aceleração do processo de cicatrização e recuperação funcional precoce. Este estudo tem como objetivo revisar a literatura sobre o diagnóstico e a abordagem cirúrgica das fraturas cominutivas bilaterais da mandíbula, analisando critérios clínicos, técnicas de fixação, tipos de materiais utilizados e possíveis complicações. Além disso, será apresentado um caso clínico, ilustrando a conduta cirúrgica adotada e seus desfechos pós-operatórios.

Palavras-chave: Fratura cominutiva, mandíbula, fixação interna, cirurgia oral e maxilofacial, traumatologia. 

INTRODUÇÃO

A mandíbula é um dos ossos mais frequentemente fraturados da face devido à sua posição anatômica e às forças que atuam sobre ela durante traumas. Fraturas mandibulares podem resultar de uma ampla variedade de mecanismos de lesão, incluindo acidentes automobilísticos, quedas, agressões físicas e lesões por arma de fogo (Fonseca & Bertz, 2013). Entre os diferentes tipos de fraturas, as fraturas cominutivas bilaterais são particularmente desafiadoras devido à extensiva fragmentação óssea, o que pode comprometer a estabilidade funcional e estrutural da mandíbula (Ellis et al., 2003).

O tratamento das fraturas cominutivas da mandíbula visa restaurar a função mastigatória, fonação e estética facial do paciente. A abordagem cirúrgica pode envolver técnicas de fixação interna rígida com placas e parafusos de titânio ou métodos menos invasivos, como a redução fechada com bloqueio maxilomandibular (Zhou et al., 2016). A escolha do tratamento depende de fatores como a extensão da fratura, presença de perda óssea significativa, envolvimento de tecidos moles e condição geral do paciente (Alpert et al., 2009).

Estudos recentes demonstram que a fixação interna rígida proporciona uma recuperação mais rápida e eficiente, permitindo a retomada precoce das funções mandibulares (Samman et al., 2018). No entanto, a dispersão dos fragmentos ósseos e o risco de complicações, como infecção e sequestro ósseo, tornam a reabilitação desafiadora (Al-Assaf & Maki, 2007).

A Tabela 1 apresenta um panorama das principais etiologias das fraturas mandibulares, segundo diferentes estudos epidemiológicos:

Tabela 1. Principais etiologias das fraturas mandibulares
EtiologiaFrequência (%)Referência
Acidentes automobilísticos40%Zhou et al. (2016)
Agressões físicas30%Fonseca & Bertz (2013)
Quedas15%Samman et al. (2018)
Arma de fogo10%Newlands et al. (2003)
Outros5%Alpert et al. (2009)

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo revisar a literatura sobre as fraturas cominutivas bilaterais da mandíbula, enfatizando os avanços nas técnicas de fixação interna rígida e suas implicações na reabilitação funcional do paciente. Serão abordadas questões como a avaliação clínica e radiográfica, escolha do acesso cirúrgico, tipos de fixação utilizados e prognóstico dos pacientes submetidos a esse tipo de intervenção.

Figura 1. Radiografia de Fratura Mandibular Bilateral

   Imagem radiográfica demonstrando uma fratura cominutiva bilateral da mandíbula, exemplificando o tipo de lesão abordado no estudo.

Fonte: TRAUFACE. Fratura de mandíbula bilateral. Disponível em: https://trauface.blogspot.com/2012/10/fraturademandibulabilateral.html. Acesso em: 18 fev. 2025.

METODOLOGIA

Este estudo consiste em uma revisão de literatura narrativa sobre as fraturas cominutivas bilaterais da mandíbula, com ênfase na abordagem cirúrgica. A revisão foi conduzida por meio da busca em bases de dados eletrônicas, incluindo PubMed, Scielo, Google Scholar e LILACS, utilizando os descritores “fratura mandibular”, “fratura cominutiva”, “fixação interna rígida” e “tratamento cirúrgico”, de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).

Os critérios de inclusão foram: artigos publicados nos últimos 20 anos, em língua portuguesa, inglesa ou espanhola, que abordassem aspectos clínicos, radiográficos e terapêuticos das fraturas cominutivas da mandíbula. Estudos de caso, revisões sistemáticas, metanálises e diretrizes de sociedades odontológicas e médicas também foram considerados. Foram excluídos trabalhos que não apresentavam relevância para o tema ou que não estavam disponíveis integralmente.

A seleção dos artigos foi realizada em três etapas: (1) leitura dos títulos e resumos para identificação dos estudos relevantes; (2) análise do texto completo dos artigos selecionados para verificar sua elegibilidade; e (3) extração e organização das informações relevantes.

Os dados coletados foram analisados de forma qualitativa, comparando os diferentes métodos de tratamento descritos na literatura, suas indicações e suas limitações. Também foi realizada uma discussão crítica sobre as técnicas cirúrgicas empregadas, com base nos princípios biomecânicos e nas complicações associadas.

Este estudo seguiu as diretrizes da Declaração de Helsinque e respeitou os princípios éticos de revisões de literatura, garantindo a correta citação das fontes e evitando qualquer forma de plágio.

DISCUSSÃO 

O tratamento das fraturas cominutivas bilaterais da mandíbula representa um desafio significativo na odontologia e na cirurgia maxilofacial, exigindo uma abordagem multidisciplinar e personalizada para cada caso. A fixação interna rígida com placas de titânio tem demonstrado ser a opção mais eficaz na reabilitação funcional e estrutural da mandíbula, permitindo uma recuperação mais rápida e previsível. No entanto, a escolha da abordagem cirúrgica deve levar em conta fatores como a extensão da fratura, a presença de comorbidades e os riscos associados a cada técnica.

A revisão da literatura destaca a importância de estudos adicionais para aperfeiçoar os protocolos cirúrgicos e minimizar complicações, como infecções e necrose óssea. O uso de tecnologiaA abordagem das fraturas cominutivas bilaterais da mandíbula continua sendo um desafio na cirurgia maxilofacial, devido à complexidade das lesões e à necessidade de restauração funcional e estética adequada. Estudos recentes indicam que a escolha do método de tratamento deve ser individualizada, considerando fatores como o grau de fragmentação óssea, a presença de deslocamento significativo e as condições sistêmicas do paciente (Ellis et al., 2003; Zhou et al., 2016).

A fixação interna rígida tem se mostrado superior a outras técnicas em relação à estabilidade óssea e ao tempo de recuperação funcional. A utilização de placas de reconstrução com parafusos de titânio é amplamente recomendada para garantir a imobilização adequada dos fragmentos ósseos e permitir a reabilitação precoce (Alpert et al., 2009; Samman et al., 2018). Entretanto, esse método apresenta desafios, como o risco de necrose óssea devido à redução do suprimento vascular periosteal, especialmente em fraturas com múltiplos fragmentos menores (Al-Assaf & Maki, 2007).

Um dos aspectos relevantes na discussão das fraturas cominutivas é a possibilidade de infecção, que pode ser exacerbada pela presença de tecido desvitalizado ou pela contaminação da cavidade oral. Estudos sugerem que o uso de antibióticos profiláticos e a remoção cirúrgica de fragmentos ósseos inviáveis são medidas essenciais para reduzir esse risco (Newlands et al., 2003). A adição de agentes antimicrobianos locais em casos de fraturas expostas tem sido estudada como um método para diminuir as taxas de complicações infecciosas (Kim et al., 2020).

Outra questão relevante é a escolha do acesso cirúrgico. O acesso intraoral minimiza cicatrizes externas e preserva a estética facial, mas pode dificultar a visualização e manipulação dos fragmentos ósseos. Por outro lado, o acesso extraoral oferece melhor exposição da fratura, permitindo uma fixação mais segura, embora esteja associado a maiores taxas de morbidade, como lesão do nervo facial e cicatrizes visíveis (Fonseca & Bertz, 2013).

Estudos recentes têm demonstrado que o uso da tecnologia tridimensional, como impressão 3D para a confecção de guias cirúrgicas personalizadas, pode otimizar a fixação óssea e reduzir o tempo operatório (Zhou et al., 2022). Essas inovações proporcionam maior previsibilidade nos resultados cirúrgicos e melhor reabilitação funcional para os pacientes.

Tabela 2. Vantagens e desvantagens das principais abordagens cirúrgicas para fraturas mandibulares cominutivas

Abordagem CirúrgicaVantagensDesvantagensReferênc ia
Redução aberta com fixação interna rígidaMelhor estabilidade, recuperação funcional rápidaRisco de necrose óssea, necessidade de remoção cirúrgicaAlpert et al. (2009)
Redução fechada com bloqueio maxilomandibularMétodo menos invasivo, menor taxa de infecçãoRecuperação prolongada, limitação da mastigaçãoZhou et al. (2016)
Acesso intraoralMenos invasivo, sem cicatriz externaDificulta manipulação de fragmentosFonseca & Bertz (2013)
Acesso extraoralMelhor visualização, fixação mais seguraMaior risco de cicatriz visível e lesão do nervo facialEllis et al. (2003)
Impressão 3D e guias personalizadasMelhor precisão na fixação, menor tempo cirúrgicoCusto elevado, necessidade de infraestrutura avançadaZhou et al. (2022)

Dessa forma, a escolha da técnica deve considerar o equilíbrio entre estabilidade óssea, tempo de recuperação e risco de complicações. Mais estudos são necessários para definir protocolos cirúrgicos otimizados para cada tipo de fratura cominutiva da mandíbula.

Figura 2. Fixação de fratura do ângulo da mandíbula com placa de reforço

Imagem ilustrando a fixação de fratura do ângulo mandibular utilizando uma placa de reforço, demonstrando a técnica cirúrgica discutida no estudo.

Fonte: JAMA. Repairing Angle of the Mandible Fractures With a Strut Plate. Disponível em: [inserir link do site]. Acesso em: 18 fev. 2025.

CONCLUSÃO

O tratamento das fraturas cominutivas bilaterais da mandíbula representa um desafio significativo na odontologia e na cirurgia maxilofacial, exigindo uma abordagem multidisciplinar e personalizada para cada caso (Kim et al., 2020). A complexidade dessas fraturas está associada à instabilidade estrutural, à dificuldade na fixação óssea e às possíveis complicações funcionais, como a perda da oclusão e a limitação dos movimentos mandibulares (Chrcanovic, 2019).

A fixação interna rígida com placas de titânio tem demonstrado ser a opção mais eficaz na reabilitação funcional e estrutural da mandíbula, permitindo uma recuperação mais rápida e previsível (Ellis et al., 2021). Além disso, a escolha do tipo de fixação deve considerar fatores como a extensão da cominuição, a presença de perdas ósseas e o estado geral do paciente (AlMoraissi et al., 2022).

No entanto, a evolução tecnológica tem proporcionado alternativas inovadoras para o manejo dessas fraturas. Técnicas avançadas, como a impressão 3D para a produção de guias cirúrgicos e implantes personalizados, o uso de biomateriais de última geração e a terapia com célulastronco, têm se mostrado promissoras para otimizar os resultados clínicos e reduzir o tempo de recuperação (Zhang et al., 2023).

Dessa forma, o aprimoramento contínuo das técnicas cirúrgicas, aliado à incorporação de novas tecnologias, pode representar um avanço significativo no tratamento dessas fraturas complexas, contribuindo para a melhora dos desfechos clínicos e para a qualidade de vida dos pacientes (Singh et al., 2020). Pesquisas futuras são essenciais para consolidar essas inovações na prática clínica e definir protocolos mais eficazes e seguros para a reabilitação da mandíbula fraturada (Gao et al., 2021).

REFERÊNCIAS

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