FORTALECIMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA E DO SUS ATRAVÉS DO PROGRAMA NACIONAL TELESSAÚDE BRASIL REDES NO MATO GROSSO DO SUL, BRASIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410300922


Idalina Cristina Ferrari*1, 2
Ana Julia de Emilio Barbosa1
Edemilson Canale1
Newton Gonçalves de Figueiredo1
Valéria Regina Feracini Duenhas Monreal1
Marcia Bogena Cereser Tomasi3
Fabio Juliano Negrão4
Crhistinne Cavalheiro Maymone Gonçalves 5,6


RESUMO

O Telessaúde com o avanço tecnológico na comunicação tem permitido acesso à serviços em saúde ao interior dos países, democratizando as práticas de cuidado. O Estado de Mato Grosso do Sul integra-se a esse novo sistema global de saúde, melhorando a infraestrutura de telecomunicações e oferecendo serviços acessíveis e eficientes. Objetivo Geral: Descrever e quantificar as ações do Telessaúde no Mato Grosso do Sul, no contexto do plano de extensão do programa em 2018, executado de agosto de 2019 a março de 2021. Método: Foi realizada uma abordagem descentralizada multiprofissional direta de gestores e profissionais de saúde buscando por meio da educação continuada aumentar o uso da ferramenta disponível, com treinamentos e demonstrações no cenário real e aplicação para a melhoria na resolutividade diretamente na rede primária de atenção. Avaliado o período de 15 de agosto de 2019 a 31 de março de 2020 as ações do projeto Telessaúde em Redes vinculado à Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul. Resultados: A equipe de campo, composta por 4 coordenadores e 18 monitores, visitou 55 dos 79 municípios do estado até março de 2020, ativando 712 pontos de Telessaúde. Foram cadastrados 4.541 profissionais de saúde e realizadas 580 teleconsultorias. O trabalho de campo incluiu visitas de treinamento e cadastro no sistema do Telessaúde, e a criação de uma rede de comunicação baseada em aplicativos para orientação e troca de experiências. Discussão: A implantação do Telessaúde no Mato Grosso do Sul promoveu maior acesso à informação e assistência, integrando ensino e tecnologias de saúde. A presença física dos monitores e coordenadores foi crucial para a adesão ao programa. A saúde digital proporcionou benefícios significativos ao SUS, ampliando o acesso a serviços de saúde e melhorando a qualidade do atendimento, especialmente em regiões remotas e vulneráveis. Conclusão: O Telessaúde no Mato Grosso do Sul demonstrou ser um método eficaz e inovador para melhorar a atenção básica no SUS, promovendo a equidade no acesso à saúde e fortalecendo a integração dos serviços de saúde. A saúde digital representa uma oportunidade crucial para melhorar os indicadores de saúde e a qualidade de vida nas comunidades mais vulneráveis.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Tecnologia Social.

INTRODUÇÃO

O Telessaúde é integrado ao sistema mundial de saúde, fortemente relacionado à melhoria da infraestrutura de telecomunicações, com oferta de serviços mais baratos, acessíveis e fáceis de usar, incluindo o desenvolvimento de ferramentas que incorporam as plataformas individuais, como telefones celulares e tablets, junto com soluções baseadas em nuvem. Essas ferramentas vêm com a proposta de diminuir o custo sem interferir negativamente na qualidade do serviço e otimizar os indicadores de saúde e de assistência da população (Gagnon et al., 2020; Doarn et al., 2020).

As experiências com educação a distância remetem ao início do século XX, contudo, pesquisas, teorias e formalização dessa modalidade de educação tiveram maior adesão na década de 60, a partir de um movimento dos pesquisadores que atuavam com essa modalidade de ensino. Com a evolução e expansão desses processos, a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) definiu o Telessaúde como a prestação de serviços de atenção à saúde por meio do uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), de forma a superar barreiras geográficas e aproximar os serviços de saúde além de promover acesso e aprimorar a assistência com apoio à tomada de decisão pelos profissionais, compartilhamento e coordenação de recursos otimizando seu uso e garantindo a oferta qualificada de diferentes especialidades em saúde (OPAS, 2019).

No Brasil, o Programa Nacional de Telessaúde foi implantado em 2007, contendo ofertas de atividades de Educação Permanente em Saúde às Equipes de Estratégia Saúde da Família (EESF), a fim de qualificar seu processo de trabalho na Atenção Primária em Saúde (APS), consequentemente, ampliando sua resolutividade e melhorando as condições de saúde da população (Ministério da Saúde, 2019). No Mato Grosso do Sul, Estado de grande dimensão territorial e baixa densidade populacional, o Telessaúde foi implantado pela Portaria nº 2546/2011, e está vinculado à Secretaria de Estado de Saúde, como forma de ofertar qualificação, educação continuada, divulgação e fomento às ações e oferta de serviços de saúde, tais como: telediagnóstico, teleconsultoria, opinião formativa e aulas remotas (SES-MS, 2020).

A Saúde Digital no Brasil é coordenada pela Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI) do Ministério da Saúde, responsável por promover a transformação digital no sistema de saúde, incluindo a integração de diferentes plataformas e sistemas de informação em saúde. Entre suas atribuições está o desenvolvimento de políticas, diretrizes e estratégias para a digitalização dos serviços de saúde, facilitando o acesso e a utilização das tecnologias digitais por profissionais e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). A SEIDIGI também coordena ações voltadas para a telemedicina, a teleconsultoria e o telediagnóstico, buscando melhorar a qualidade e a eficiência dos serviços de saúde prestados à população (Ministério da Saúde, 2024).

Com a implantação do Telessaúde Brasil Redes no Mato Grosso do Sul, foi possível observar os principais desafios do Programa no Estado, sendo eles: necessidade de maior adesão das secretarias municipais de saúde na consolidação das teleconsultorias, carência de apoio real às Equipes de Saúde da Família, e a ampliação da oferta e do acesso às ações de teleducação. Na tentativa de superar esses desafios, houve um plano de extensão do Telessaúde, e perante isso, o objetivo do estudo é descrever e quantificar as ações do Telessaúde Mato Grosso do Sul, referente ao plano de extensão do programa no ano de 2018, no qual foi executado a partir de agosto de 2019 até março de 2021.

MATERIAIS E MÉTODOS

A construção e planejamento das ações do Telessaúde inseridas no plano de trabalho em Mato Grosso do Sul (MS), foram definidas de acordo com a pactuação publicada na Resolução nº 095/SES/MS, no Diário Oficial de 22 de dezembro de 2009. As ações de planejamento e execução foram realizadas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES/MS); Coordenadoria Estadual de Educação na Saúde, Escola de Saúde Pública “Dr. Jorge David Nasser” (ESP/MS) e a Escola Técnica do Sistema Único de Saúde “Profª. Ena de Araújo Galvão” (ETSUS) e da Coordenadoria Estadual de Atenção Básica da Diretoria Geral de Atenção à Saúde; em parceria com as instituições de Ensino Superior Governamentais e Privadas e a Rede Estadual de Inclusão Digital (REID). Planejamento aprovado em 11 de dezembro de 2009 após a avaliação gestora da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), para a utilização da ferramenta de Telerregulação e Teleconsultoria foi utilizada a plataforma do Telessaúde do Rio Grande do Sul.

Durante o desenvolvimento do planejamento de extensão do Telessaúde, em 2018, foi estabelecida uma nova abordagem (Figura 1) e lançado o edital de credenciamento N. 005/2018 – SES e N. 006/2018 – SES, com as vagas de Assistente administrativo, Analista de Sistemas, Web designer, Design gráfico, Monitor de Campo, Coordenador da Equipe de Campo, Gerente de Telerregulação e Teleconsultoria, Telerregulador, Teleconsultor, Coordenador Pedagógico, Apoio pedagógico, Tutor e Conteudista com o objetivo de credenciamento de Pessoas Físicas para atuar na execução da extensão do Telessaúde no Mato Grosso do Sul.

Figura 1. Fluxograma das ações de trabalho do plano de extensão do Telessaúde/MS

Essa nova abordagem buscou o contato direto da equipe de campo (coordenadores das macrorregiões e monitores de campo) com os profissionais de saúde que atuam na atenção básica. Para tal cobertura das unidades de saúde, o Estado foi dividido em 4 macrorregiões (Figura 2), com coordenadores responsáveis pelos monitores de campo, bem como pelo planejamento das visitas. Para descrever ações do plano de extensão do programa Telessaúde no ano de 2018, foram quantificadas as ações do trabalho realizado no período de 15 de agosto de 2019 até o dia 31 de março de 2020. Para o controle e análise diária do progresso das ações foi elaborado um formulário digital e conectado em tempo real de atividades realizadas pelos monitores de campo que foi construído pelos coordenadores de equipe de campo. Também foi criado um modelo de relatório mensal, descritivo, disponível a todo grupo de trabalho pela tecnologia de computação em nuvem.

Figura 2. Macrorregiões de saúde do Mato Grosso do Sul

Fonte: Os municípios inseridos em cada macrorregião estão disponíveis em: https://www.conass.org.br/pdf/planos-estaduais-de-saude/MS_PES-2016-2019-Versao-Final.pdf, p.60-62.

Como variáveis para a mensuração do cumprimento do plano de trabalho, foram utilizados os: i) Relatórios de trabalho diário e a comunicação com os monitores, sendo realizado o acompanhamento pelos coordenadores de campo das atividades realizadas pelos monitores; ii) Registro da realização de reuniões com Secretários Municipais de Saúde das Macrorregiões, coordenadores da Atenção Primária à Saúde dos municípios, coordenadores das Unidades Básicas de Saúde; iii) Participação nas reuniões das Comissões Intergestores Regionais – CIR / Comissão Intergestores Bipartite – CIB; presença na capacitação com a temática Atenção Primária e Vigilância em Saúde; iv) Participação no Encontro Estadual para o Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde; v) Participação nas apresentações do Telessaúde Redes MS das suas diretrizes para oferta de atividades do programa nacional e vi) reuniões presenciais e virtuais com as Secretarias de Saúde e com as unidades de saúde para incentivo do uso da plataforma do Telessaúde.

Os dados utilizados foram obtidos de acesso aberto dos sites do Governo Federal e Estadual.

RESULTADOS

No planejamento de 2018, a equipe do Núcleo Técnico Científico foi constituída com base na orientação do Manual do Telessaúde e adaptada à realidade de Mato Grosso do Sul, tanto no que diz respeito à organização nas 4 regiões de saúde, como no número de equipes no estado em junho de 2019 (557). A equipe de campo foi composta por 4 coordenadores e 18 monitores, contratados por meio do Edital 005/2018, para o trabalho em todos os 79 municípios do Mato Grosso do Sul.

Ao iniciar os trabalhos, a abrangência do Programa Telessaúde Brasil Redes MS nos 79 municípios de MS incluía 547 pontos ativos em unidades de saúde. Contudo, durante o desenvolvimento do trabalho de campo, percebeu-se que algumas unidades de saúde não estavam ativas na Plataforma do Programa Telessaúde, ou seja, não havia nenhum profissional da APS cadastrado. Como parte dos resultados foi realizado um trabalho focado na capacitação, cadastramento e reativação e atualização do cadastro dos profissionais no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Com essa iniciativa foram ativados mais 165 pontos, sendo: 65 pontos do Telessaúde na macrorregião de Campo Grande; 3 na macrorregião de Corumbá, 61 pontos na macrorregião de Dourados e 36 na macrorregião de Três Lagoas. Totalizando assim 712 pontos ativos atualmente em MS.

Para atingir os objetivos, os municípios pertencentes a cada Macrorregião de Saúde foram contactados e agendadas as visitas ao secretário de Saúde do Município e as Estratégias de Atenção Básica, realizadas pelos coordenadores e monitores de campo. Dos 79 municípios do MS, até março de 2020 foram visitados 55 municípios. Os outros 24 municípios onde a programação estava prevista para os meses de março, abril e maio de 2020, a agenda presencial foi suspensa em virtude da Pandemia do COVID-19 e foram utilizadas ferramentas de comunicação virtual para reuniões, treinamentos e para mitigar os efeitos da pandemia nas ações do Telessaúde.

Para a comunicação entre a Equipe do Telessaúde e os Secretários de Saúde Municipais foram utilizadas ferramentas de aplicativo de mensagens (WhatsApp®), contato através de e-mail e ligações via celular. Para as reuniões foram utilizados encontros virtuais com compartilhamento de arquivos e utilização de chat (conferência Web®) e reuniões virtuais (videoconferência), serviços da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa – RNP. Para o contato com os profissionais da atenção básica, fidelização e retirada de dúvidas, utilizou-se também aplicativos de comunicação.

No processo de construção, os Coordenadores de Campo efetuaram 307 visitas presenciais, pactuando as visitas de treinamento e cadastro no Sistema do Telessaúde e construindo a metodologia de aderência às práticas do Telessaúde com as secretarias de saúde municipais e as equipes de atenção básica nos municípios. Na Tabela 1, é demonstrada a quantidade de visitas realizadas pelos coordenadores de campo.

Tabela 1. Número de visitas realizadas pelos Coordenadores da Equipe de Campo, no período de agosto de 2019 a março de 2020, nas quatro regiões de planejamento de saúde:

Fonte: Coordenadoria Estadual de Telessaúde (CETEL/SES) AGO = Agosto/19, SET = Setembro/19, OUT = Outubro/19, NOV = Novembro/19, JAN = Janeiro/20, FEV = Fevereiro/20, MAR = Março/20

Para o desenvolvimento das ações de apresentação, capacitação, credenciamento e formação de vínculos foram realizadas pelos monitores de campo um total de 1.583 visitas, na Tabela 2, é possível observar as informações referentes ao descritivo mensal das visitas dos monitores aos profissionais da atenção primária da saúde de cada Macrorregião Campo Grande, Dourados, Três Lagoas e Corumbá.

Tabela 2. Visitas presenciais realizadas mensalmente, pelos monitores de campo, no período de agosto de 2019 a março de 2020:

Fonte: CETEL/SES AGO = Agosto/19, SET = Setembro/19, OUT = Outubro/19, NOV = Novembro/19, JAN = Janeiro/20, FEV = Fevereiro/20, MAR = Março/20

Os monitores de campo nas visitas presenciais cadastraram 4.541 profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, dentistas, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros. No mês de agosto foram realizados 303 cadastros de profissionais em virtude de termos iniciado as atividades em meado do mês, tivemos nos meses de setembro 1.304, outubro 1.294, novembro 835, no mês de dezembro foram 199; no mês de janeiro foram 112 cadastros ocorrendo esse declínio devido às atividades serem reduzidas em virtude do período de recesso de final de ano e pelo fato do Sistema de Emissão de Passagens e Diárias da Secretaria Estadual de Saúde estar indisponível para emissão, no mês de fevereiro obtivemos 440 cadastros, pois realizamos o levantamento através do CNES verificando os profissionais alocados nas unidades e os já cadastrados na Plataforma do Telessaúde, facilitando assim, a visualização dos mesmos que aguardam o cadastramento e capacitação, no mês de março houve 54 cadastros, sendo que esses poucos é devido à pandemia do COVID-19.

Esses cadastros resultaram em 580 teleconsultorias pelos profissionais da APS no período agosto/2019 a março/2020. Na Figura 3 pode ser observada a descrição da quantidade de teleconsultorias realizadas nas quatro macrorregiões de saúde do Mato Grosso do Sul.

Figura 3. Quantidade e distribuição temporal das ações de trabalho do Telessaúde/MS.

Fonte: CETEL/SES

A partir das necessidades e relatos dos atores do serviço, foi criada pelos coordenadores de campo uma rede de comunicação baseada nos aplicativos de comunicação, para orientações, trocas de experiência e orientações referentes ao Telessaúde. Para o enfrentamento da Pandemia da COVID-19, a partir da experiência com esses canais digitais no mês de março de 2020 foi criado um modelo digital de panfleto para divulgação das atividades com a descrição dos serviços ofertados, descrição das especialidades ofertadas na plataforma e passo a passo de como solicitar o serviço de teleconsultoria. Essa documentação foi distribuída pela equipe de campo, por meios das plataformas consolidadas 4.541 profissionais de saúde das equipes de APS.

DISCUSSÃO

Para o desenvolvimento da saúde pública, a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 2005, vem promovendo e fortalecendo mecanismos para a utilização do conhecimento científico nas políticas de saúde (OMS, 2019). No entanto, existe uma grande lacuna entre o conhecimento científico e os formuladores de políticas de saúde. A proposta executada nesse projeto, onde foi articulado o planejamento e o acesso à informação dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul tanto aos secretários de saúde, quanto aos profissionais do cuidado, promoveu um processo mais assertivo e com maior engajamento, frequentemente associado ao processo de formação de vínculo entre as equipes.

O processo de promoção de Políticas Informadas por Evidências (PIE) deve ser desenvolvido com aplicabilidade à realidade do cenário de saúde, com aceitabilidade das partes interessadas de forma a viabilizar a implementação dessas políticas mais transparentes e responsáveis, com melhor custo-benefício e resultados positivos (Lavis et al., 2020). A abordagem multiplataforma com a interface com reconhecimento dos sujeitos envolvidos, promovida pela escuta e a possibilidade de interação para troca do conhecimento, possibilitou que os formadores (monitores e coordenadores) replanejassem atividades e os formandos (profissionais de saúde) acessassem um processo de formação continuada.

Com a disseminação da Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus 2 (SARS-CoV-2) em todo o mundo, exigiu-se do processo de promoção à saúde uma rápida adaptação. A formação de uma rede de comunicação, ampla, rápida e direta, composta por redes sociais, aplicativos de conversa, telereuniões, teleaulas, correio eletrônico e telefonia entre outros, compartilhada com os diversos atores da gestão e do cuidado, dos municípios e do estado possibilitou uma resposta mais rápida ao desafio imposto ao projeto pela pandemia do COVID-19.

A saúde digital pode proporcionar ao Sistema Único de Saúde (SUS) uma série de benefícios, incluindo a ampliação do acesso a serviços de saúde, a redução de custos operacionais, a melhoria na qualidade do atendimento e o fortalecimento da integração entre os diferentes níveis de atenção. Para os profissionais de saúde, essas tecnologias oferecem ferramentas de suporte à decisão clínica, educação continuada e facilidades para a gestão de informações em saúde. Para as populações ribeirinhas, como as do Pantanal, e outras populações vulneráveis, a saúde digital possibilita a oferta de serviços especializados que muitas vezes são inacessíveis fisicamente, promovendo a equidade no acesso à saúde e melhorando os indicadores de saúde nessas comunidades.

O desempenho do número de visitas realizadas durantes os meses variou em virtude de feriados e pontos facultativos (municipais, estaduais e nacionais), período de deslocamento dentro dos municípios e viagens intermunicipais, e pela finalização da vigência do convênio ocorrido no mês de novembro de 2019, o que dificultou a elaboração do cronograma de viagens dos monitores e coordenadores. No mês de janeiro foram realizadas atividades administrativas nos núcleos regionais de saúde e visitas no município de origem de cada monitor e coordenador em virtude do Sistema de Emissão de Passagens e Diárias da Secretaria Estadual de Saúde estar indisponível para emissão. A partir do mês de março tivemos dificuldades em realizar as visitas/viagens devido à Pandemia mundial, COVID-19.

As Teleconsultorias no Estado do Mato Grosso do Sul passaram a ter maior incentivo com o Plano de Extensão do Programa Telessaúde por meio do trabalho realizado pela monitoria da equipe de campo. Como toda implantação, há um período para adesão, os profissionais estão no processo de criar rotina para sanar as dúvidas existentes e solicitar apoio ao Núcleo do Telessaúde com profissionais especializados, levando em consideração o processo educacional dos profissionais que leva um tempo para aderir e compreender a importância e o significado do trabalho. Considerando os profissionais idosos e profissionais que não têm afinidade com a tecnologia e por isso não utilizam as ferramentas e serviços ofertados na Plataforma do Telessaúde MS.

Em Mato Grosso do Sul, o processo de implantação aconteceu muito semelhante ao Estado de Santa Catarina. De acordo com Nilson et al. (2018), após a implantação do Telessaúde houve intensa divulgação dos serviços para gestores e profissionais de forma impressa, por áudio e vídeo, com visitas de campo, envio de e-mails, participação em eventos com oficinas ou apresentação de trabalhos, relatando as experiências e o potencial do apoio. A adesão e a utilização dos serviços estão condicionadas ao interesse individual, de equipe ou em termos de gestão local e de inclusão dos mesmos à rotina de trabalho (Nilson et al., 2020).

Percebeu-se que o apoio da equipe de campo às equipes da APS favoreceu a utilização da ferramenta do Telessaúde com influência positiva no que se refere ao número de teleconsultorias, bem como a participação em reuniões da Comissão Intergestores Bipartite e Comissão Intergestores Regional /CIB/CIR. Além disso, contribuiu com a divulgação e sensibilização dos gestores municipais quanto às ofertas de Telessaúde, propiciou novos aprendizados às equipes de campo e integrou as equipes aos representantes dos municípios. Ainda, destaca-se a riqueza do compartilhamento de atividades e ações realizadas, trazidas para discussões nas reuniões com Gerências do Núcleo Técnico Científico e Coordenação Estadual do Telessaúde.

CONCLUSÃO

Ao avaliarmos os resultados obtidos nesse projeto, foi possível observar a quebra de paradigmas envolvendo o acesso à informação, a assistência, o ensino e as tecnologias em saúde. A presença física dos monitores e coordenadores, seja com o gestor ou com o profissional de saúde, foi o acelerador do uso do programa Telessaúde Brasil Redes integrando o ensino da Escola de Saúde Pública Dr. Jorge David Nasser e a rede de atenção primária à saúde. Os serviços fomentados pelo meio de ferramentas e tecnologias da informação e comunicação fortaleceram e melhoraram a qualidade do atendimento da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde (SUS), demonstrando a importância do desenvolvimento de métodos inclusivos, inovadores e de custo acessível para o desenvolvimento do Estado e do País, trazendo facilidade de acesso às regiões interiores do país, melhorando o desempenho do cuidado em saúde.

A saúde digital hoje pode proporcionar ao SUS uma maior integração dos serviços de saúde, facilitar a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes, e ampliar o acesso a serviços de saúde especializados, especialmente em regiões remotas e vulneráveis. Para os profissionais de saúde, oferece ferramentas avançadas de suporte à decisão clínica e oportunidades contínuas de educação e treinamento. Para as populações ribeirinhas e outras vulneráveis, como as do Pantanal, a saúde digital representa uma oportunidade crucial para garantir a equidade no acesso à saúde, permitindo que serviços de qualidade cheguem a essas comunidades, melhorando significativamente seus indicadores de saúde e qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

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Gagnon, M. P.; Duplantie, J.; Fortin, J. P.; Landry, R. Implementing telehealth to support medical practice in rural/remote regions: What are the conditions for success? Implement Sci, 2020, v. 1, p. 1-18. doi:10.1186/1748-5908-1-18.

Lavis, J. N.; Oxman, A. D.; Lewin, S.; Fretheim, A. Ferramentas SUPPORT para a elaboração de políticas de saúde baseadas em evidências (STP). Health Research Policy System, 2020, p. 1-7.

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Nilson, L. G.; Maeyama, M. A.; Dolny, L. L.; Boing, A. F.; Calvo, M. C. M. Telessaúde: da implantação ao entendimento como tecnologia social. Rev bras tec Soc, 2020, v. 5, n. 1, p. 33-47. doi: 10.14210/rbts.v5.n1.2020.p33-47.

Organização Mundial da Saúde (OMS). Estratégias Globais de Saúde Digital. Genebra: OMS, 2019. Disponível em: https://www.who.int/ehealth/en/. Acesso em: 10 jul. 2024.

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Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES-MS). Plano de Trabalho do Programa Telessaúde Brasil Redes. Campo Grande: SES-MS, 2020. Disponível em: https://www.saude.ms.gov.br/planos-de-trabalho-telessaude/. Acesso em: 10 jul. 2024.

ANEXO

Nome do AutorContato (Email)ORCID IDResumo da Biografia (Currículo Lattes)
Idalina Cristina Ferrariidalina@uems.br0000-0003-1966-8134Prof. Dra. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS
Ana Julia de Emilio Barbosaanajulia@telessaude.ms.gov.brhttps://orcid.org/0000-0002-8701-9868Telessaúde Brasil Redes MS, Campo Grande – Mato Grosso do Sul
Edemilson Canaleedemilson.canale@telessaude.ms.gov.brhttps://orcid.org/0000-0002-9020-8002Telessaúde Brasil Redes MS, Campo Grande – Mato Grosso do Sul
Newton Gonçalves de Figueiredonewton.figueiredo@telessaude.ms.gov.brhttps://orcid.org/0000-0001-9171-4698Telessaúde Brasil Redes MS, Campo Grande – Mato Grosso do Sul
Valéria Regina Feracini Duenhas Monrealvaleria.duenhas@telessaude.ms.gov.brhttps://orcid.org/0000-0002-4257-8885Telessaúde Brasil Redes MS, Campo Grande – Mato Grosso do Sul
Marcia Bogena Cereser Tomasimarcia.tomasi@saude.ms.gov.brhttps://orcid.org/0000-0002-0823-814XSuperintendente de Saúde Digital/ SES/MS
Fabio Juliano Negrãofabio.negao@ufgd.edu.brhttps://orcid.org/0000-0002-0405-7157Prof. Dr. Docente do Curso de Medicina da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD
Crhistinne Cavalheiro Maymone Gonçalvescrhistinne.goncalves@saude.ms.gov.brhttps://orcid.org/0000-0001-6953-4965Secretaria Adjunta de Estado de Saúde – Mato Grosso do Sul, Prof. Dra. Da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande – MS

1 Telessaúde Brasil Redes MS, Campo Grande – Mato Grosso do Sul
*E-mail: idalina@uems.br

2 Prof. Dra. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS

3 Superintendente de Saúde Digital/ SES/MS

4 Prof. Dr. Docente do Curso de Medicina da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD

5 Secretaria Adjunta de Estado de Saúde – Mato Grosso do Sul

6 Prof. Dra. Da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande – Mato Grosso do Sul