FORMAÇÃO DE GESTORES ESCOLARES E OS IMPACTOS NA APRENDIZAGEM DOS ESTUDANTES: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7506222


Pamela Santos de Almeida do Carmo


Resumo

Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a formação continuada dos gestores e quais impactos essa formação podem causar no melhor desenvolvimento dos estudantes. Foi realizado um levantamento bibliográfico de período de 2017 a 1022 nas bases de dados Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, o Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o banco eletrônico SciELO. Foram utilizadas as palavras “capacitação” e “gestores escolares”, onde encontramos 2497 resultados em dissertações, 8949 em teses e 31 em artigos científicos. Foram selecionados 24 dissertações, 16 teses e 13 artigos, após leitura de resumos, foram selecionados 20 documentos, entre os quais se encontram 6 dissertações, 3 teses e 10 artigos. Os documentos selecionados foram agrupados em cinco categorias: 1) Formação Continuada de Gestores; 2) Políticas Educacionais; 3) Certificação de Diretores; 4) Formação do Gestor Escolar e Resultados Educacionais; 5) Liderança.

Palavras chave: Formação de gestores. Aprendizagem. Impacto. Estudantes. Resultados. Revisão de literatura

INTRODUÇÃO

A Educação pública brasileira apresenta muitos desafios a serem vencidos, especialmente depois do retorno presencial, após o isolamento social imposto pela pandemia da COVID 19 e para que essas barreiras sejam ultrapassadas o papel do gestor escolar tem sido considerado de extrema importância. A gestão escolar perpassa por diferentes esferas que precisam ser cuidadas de perto para que a escola se desenvolva em todos os seus aspectos. Ser capaz de gerir recursos financeiros de forma eficiente é tão importante quanto ser capaz de manter o clima escolar adequado entre os integrantes da comunidade escolar.

 A escola é um local de aprendizado, aprendizado esse que será utilizado em toda a vida do educando. E para isso este espaço físico precisa ser adequado para o desenvolvimento das habilidades do estudante e construção dos conhecimentos. O gestor que executa seu trabalho de forma assertiva é capaz de fazer estabelecer um vínculo entre os procedimentos administrativos e os processos formativos, sempre observando e incentivando seus pares no alcance de seus melhores desempenhos, de acordo com as necessidades da escola.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional determina em seu artigo 64 que a formação de profissionais da educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional, para educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação (especialização). (BRASIL, 1996). O olhar para o tema em questão é fundamental quando pensamos no percurso de uma instituição de ensino. 

Diante disto, a construção deste trabalho de revisão de literatura, pretende fazer levantamentos sobre as formações oferecidas a esses gestores para dar suporte de conhecimentos técnicos para efetivação de suas atribuições visando promover melhorias na qualidade da educação.

REFERENCIAL TEÓRICO

O ato de liderar uma escola envolve fatores diversos e desafiadores, pois já faz tempo que a figura do gestor escolar deixou de ser apenas relacionada a afazeres administrativos e burocráticos.  Por lidarem com tantas dimensões, diretores precisam ser capazes de articular as complexidades que permeiam indivíduos, a sociedade e a própria instituição escolar (LÜCK, 2000). Numa perspectiva de equilíbrio e integração, o papel conciliador da direção é operado de maneira a reunir as diversas interfaces e áreas de ação da escola, com vistas a buscar um ideário comum de educação (LÜCK, 2009). Isso envolve manter relações com professores, funcionários, alunos, pais, comunidade e, além disso, amplia os horizontes do próprio trabalho, que não se restringe mais àqueles tidos como “meramente burocráticos”, mas estão sujeitos a situações inusitadas, completamente imprevisíveis (LÜCK, 2009; PARO, 2015).

A figura e a atuação do gestor/líder escolar são de extrema importância para um bom desempenho dos estudantes e para um melhor desenvolvimento da escola, conforme estudos recentes nos apontam (Abrucio, 2010; Oliveira & Carvalho, 2018; Siqueira, 2020). Porém, mesmo tendo muita importância nos processos formativos dos estudantes e na construção da carreira de muitos docentes, o gestor escolar no Brasil não tem um processo de formação bem estruturado, as políticas públicas que olham para esse lado ainda são “rasas” e precisam de muito aperfeiçoamento e priorização.

Pesquisas recentes nos mostram o quanto é relevante a manutenção de práticas de formação inicial e continuada dos ocupantes do cargo de liderança escolar, segundo Souza (2010 p: 7)

A gestão escolar corresponde ao conjunto de funções, procedimentos e práticas administrativas e pedagógicas que visam a assegurar a implementação de meios para a efetivação do processo de ensino e aprendizagem. Para assegurar qualidade e bons resultados na atuação da escola é fundamental que o ingresso no cargo tenha a formação mínima e também busque complementá-la através da formação continuada. 

Neste sentido, a formação continuada é uma possibilidade de oportunizar aos gestores escolares uma forma de estarem em constante aprendizado, proporcionando assim, momentos de reflexão sobre suas práticas, trocas de experiências profissionais, debates de idéias e construção de novos conhecimentos. Ao longo do percurso dos gestores na profissão, pudemos refletir, aprender, desaprender, reestruturar o aprendizado, fazer descobertas, testar hipóteses, elaborar novas práticas e reconstruir seus saberes. (LIMA, 2013).

MÉTODOS E TÉCNICAS

Com o intuito de reunir e analisar conhecimentos produzidos sobre a formação de Gestores Escolares no Brasil. Para tanto, adotamos a pesquisa bibliográfica como procedimento metodológico. Segundo Gil (2002, p.44), “[…] a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Sendo assim, é possível que o pesquisador tenha um olhar ampliado sobre o tema de sua pesquisa. Quando o pesquisador tem contato com materiais que já foram elaborados e registros feitos como base em seu interesse de estudos, sua pesquisa se torna legítima e permite que o mesmo se aprofunde ainda mais em seus estudos.

Serviram-nos como fontes a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, o Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o banco eletrônico SciELO. 

A pesquisa, desenvolvida durante o segundo semestre de 2022, organizou-se ao redor das palavras-chave: Formação, Gestores Escolares e Impacto Educacional, presente nos títulos, resumos e palavras-chave, e de seus correspondentes em inglês. Foram analisados trabalhos publicados entre 2017 e 2022. Não foram pesquisados artigos, livros, teses ou dissertações escritas por pesquisadores brasileiros ou não em revistas internacionais e em outros tipos de publicações internacionais, tampouco, em revistas com menores classificações. Nesse sentido, é necessário reconhecer os limites desta pesquisa e a importância de que novos estudos sejam feitos para complementar os inúmeros esforços de sistematização da literatura sobre formação de gestores que até agora foram realizados no país. Deste modo, o corpus da análise foi constituído por 20 documentos, entre os quais se encontram 10 artigos, 3 teses e  6 dissertações. 

O conjunto de materiais encontrados nos levou a organizar sua divisão em dois agrupamentos: No primeiro, reunimos pesquisas que oferecem um panorama geral sobre a formação continuada de gestores no Brasil. Em seguida, trazemos a literatura que versa sobre a temática da importância da formação de gestores para um melhor desenvolvimento dos estudantes, com base em estudos de caso. 

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

1) A FORMAÇÃO CONTINUADA DE GESTORES NO BRASIL

Nos últimos anos o número de artigos, dissertações e teses com a temática de gestão escolar têm evidenciado a importância da discussão de tal temática, o que faz relevante análise dos aspectos qualitativos desta pesquisa. Dourado (2007) afirma que a discussão sobre políticas e gestão da educação no Brasil tem sido objeto de vários estudos no cenário nacional e internacional. 

Como pensar a formação do gestor escolar? Dentre os desafios encontrados pelo gestor está a garantia da participação efetiva da comunidade escolar nas tomadas de decisões, usando assim o princípio da gestão democrática. Será um determinante para ampliar a discussão sobre a temática?

Os estudos analisados pela presente pesquisa mostram que é necessário investir na formação do gestor de forma a atender as reais necessidades dos mesmos e as demandas da escola. Este fator é de relevância, pois o que é necessário para esse profissional, seriam formações continuadas que abordam temas pertinentes a suas atribuições. O que pretendemos deixar claro é que todo o tipo de formação é válido, mas o gestor educacional deve ter essa constante atualização garantida, para melhoria do seu desempenho. (Souza 2017 p.82)

Neste sentido, o quadro abaixo traz as categorias de assuntos relacionados à pesquisa.

DISTRIBUIÇÃO DE TRABALHOS POR CATEGORIA DE ANÁLISE

Analisando o quadro é possível perceber que quando se trata do tema de formação continuada de gestores os estudos são predominantemente de dissertações de mestrado, já os estudos de teses são os que se encontram em menor quantidade. Observando a segunda categoria, que se diz respeito a políticas educacionais, encontramos predominância nos artigos científicos. Quando falamos sobre certificação de diretores encontramos registros somente em uma tese de doutorado. Ao tratarmos da formação de gestores e os impactos educacionais, novamente temos a prevalência de artigos científicos e por fim, no que se dia respeito à liderança encontramos registro sinete em artigos científicos. A análise comparativa a cima indica que o tema de formação de gestores é o mais citado dentre os documentos estudados nesta pesquisa, fato corroborado com a importância e relevância de pesquisar, investigar e agir nesta causa, porém, ainda temos que avançar muito neste sentido. Para Vieira e Vidal (2014), existem poucos estudos sobre essa categoria de profissionais no Brasil, lacuna que possivelmente está associada à relativa indefinição sobre a matéria no país, nas últimas décadas” (p. 49). E neste sentido alguns autores já apontam sobre a necessidade de maior abordagem no campo acadêmico no que se refere à gestão escolar (Cária & Andrade, 2016; Martins & Silva, 2011; Oliveira, 2015.)

 Sobre o tipo de abordagem metodológica das pesquisas aqui já descritas foi possível observar a predominância das pesquisas qualitativas sobre as quantitativas. Nas pesquisas que trazem de cunho prático há o uso de pesquisa de estudos de caso survey, análise de entrevistas, análise de relatórios de dados e aplicação de questionários. Já nas pesquisas qualitativas estão a pesquisa bibliográfica e a documental na maioria dos trabalhos.

2) A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE GESTORES PARA UM MELHOR DESENVOLVIMENTO DOS ESTUDANTES E ALCANCE DE MELHORES RESULTADOS

Ao falarmos sobre a relação entre o trabalho desenvolvido pelo gestor escolar e os resultados alcançados pela escola, nos debruçamos sobre uma tese e dois artigos. A tese apresenta um estudo qualitativo exploratório, buscou-se compreender e identificar a associação entre aspectos relacionados ao perfil e a formação do gestor escolar e a efetiva oferta de ensino com qualidade, considerando a evolução das escolas no Ideb entre 2011 e 2015 como referência para mensuração da influência da atuação do gestor escolar nos resultados educacionais obtidos pelas escolas (RAFACHO, 2019. p.238). E constatou que a “associação entre a intensidade, influenciada pela motivação profissional, com a qual os gestores escolares conduzem as ações escolares e os resultados educacionais obtidos da escola, não somente em relação ao Ideb, mas, principalmente, em relação à formação dos alunos”. (RAFACHO, 2019.p. 243). O primeiro artigo nos trás a seguinte consideração, segundo Oliveira & Carvalho, 2018, podemos inferir que a liderança do diretor favorece um clima institucional adequado para um trabalho pedagógico mais eficaz, o que, por sua vez, é propício para o bom desempenho dos alunos. Em relação ao segundo artigo, os autores comprovam que o modelo proposto, o construto Gestão Escolar, impactou o Desempenho Escolar. A gestão escolar influenciou a variância dos resultados da Prova Brasil-2015 de matemática, dos estudantes do 9º ano das escolas da rede de ensino público do Espírito Santo. (B.C., & Lacruz, A.J., & Américo, B.L Hélio., & Filho.Z, 2019) 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estado da arte reforça a importância de investigações sobre a temática no campo educacional, ao mesmo tempo em que oferece subsídios provenientes de outros campos das humanidades. Tais contribuições indicam caminhos a serem percorridos para a compreensão de como é possível melhorar os índices da educação nacional por meio de um olhar mais atento às lideranças educacionais. Perceber e potencializar a capacidade dos gestores trás benefícios tanto no que se diz aos resultados educacionais, quanto na promoção de um melhor clima escolar para docentes e toda comunidade escolar. Ao mesmo tempo em que realça a relevância do tema, da importância da formação continuada de gestores, nos leva a refletir sobre a urgência da temática proposta constar na agenda governamental.

Considerando-se a importância do tema formação continuada de gestores, é de extrema relevância que o Brasil adote esse tema como prioridade no desenvolvimento de suas políticas. Pois o papel que os gestores escolares exercem é de extrema importância para a promoção de uma educação igualitária e de qualidade para os estudantes.  Debater este tema no campo acadêmico é urgente para que seja possível subsidiar evidências e repertório para a criação e implementação de políticas públicas para os gestores escolares.

Em suma, desenvolver um enfoque sobre formação continuada de gestores escolares significa oferecer melhores condições de aprendizagem aos estudantes e melhoria na qualidade da educação brasileira. O panorama da produção científica acerca do tema aponta para a necessidade do empreendimento de estudos sobre a formação deste público que nos permitam conhecer toda a gama de complexidade que os gestores precisam lidar para exercerem sua liderança inspiradora, tanto para docentes quanto para estudantes. Desse modo, delineiam-se novas pistas para os estudos na área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abrucio, F. (2010). Gestão escolar e qualidade da educação: Um estudo sobre dez escolas paulistas. Estudos & Pesquisas Educacionais, (1), 241-274.

Cária, N. P., & Andrade, N. L. (2016). Gestão democrática na escola: Em busca da participação e da liderança. Revista Eletrônica de Educação, 10(3), 9-24.

DOURADO, Luís Fernando. Políticas e gestão da educação básica no Brasil: limites e perspectivas. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 921-946, out. 2007.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

Gobbi, B.C., & Lacruz, A.J., & Américo, B.L Hélio., & Filho.Z. Uma boa gestão melhora o desempenho da escola, mas o que sabemos acerca do efeito da complexidade da gestão nessa relação? Nov. 2019.

LIMA, V. M. M. Necessidades formativas docentes como subsídios para uma política de formação contínua em serviço. In: LEITE, Y.U.F.; MILITÃO, S.C.N; LIMA, Vanda Moreira Machado (Orgs). Políticas  Educacionais  e  qualidade  da escola pública. 1.ed. Curitiba, PR: CRV, 2013.p. 127-154

LÜCK, H. Perspectivas da gestão escolar e implicações quanto à formação de seus gestores. Em Aberto, Brasília, v. 17, n. 72, p. 11-33, fev./jun. 2000.

 ___________. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora Positivo, 2009.

Oliveira, A. C. P. (2015). As relações entre direção, liderança e clima escolar em escolas municipais do Rio de Janeiro [Tese de Doutorado]. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação do Centro de Teologia e Ciências Humanas, Pós-Graduação em Educação

Oliveira, A. C. P., & Carvalho, C. P. C. (2018). Gestão escolar, liderança do diretor e resultados educacionais no Brasil. Revista Brasileira de Educação, 23, Artigo e230015.

Martins, A. M., & Silva, V. G. D. (2011). Estado da arte: Gestão, autonomia da escola e órgãos colegiados (2000/2008). Cadernos de Pesquisa, 41(142), 228-245.

PARO, V. H. Diretor escolar: educador ou gerente? São Paulo: Cortez, 2015.

RAFACHO, SÉRGIO. O Efeito Gestor Escolar: a Relação Entre a Atuação e a Formação do Gestor Escolar e os Resultados Educacionais em Escolas Públicas Estaduais da Região Metropolitana de Belo Horizonte.‘ 27/02/2019 274 f. Doutorado em EDUCAÇÃO Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, Belo Horizonte CATÁLOGO DE TESES E DISSESTARÇÕES DA CAPES  <disponível  emhttps://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=7806711>

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Souza Júnior Antônio de. A necessidade da formação dos gestores escolares. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 105 f .2017