FONOAUDIOLOGIA NO DESENVOLVIMENTO DE FALA DO DEFICIENTE AUDITIVO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202505172105


Matheus Almeida Petrilo Machado
Orientador: Amanda Almeida Machado


RESUMO

A fonoaudiologia desempenha um papel crucial no desenvolvimento da fala de indivíduos com deficiência auditiva. Este campo da saúde dedica-se a promover a comunicação efetiva, auxiliando pessoas com dificuldades auditivas a desenvolverem a capacidade de falar e compreender a linguagem. Por meio de abordagens terapêuticas direcionadas e tecnologia assistiva, os fonoaudiólogos colaboram com as famílias e os pacientes a fim de superar os desafios impostos pela perda auditiva, facilitando a integração social e melhorando a qualidade de vida. Desta forma, o estudo tem como objetivo apresentar a importância da estimulação do desenvolvimento de linguagem e desenvolvimento da comunicação oral em indivíduos com deficiência auditiva, visando uma melhor comunicação. A metodologia utilizada para este estudo foi baseada em uma revisão de referências bibliográficas, incluindo artigos científicos e publicações em plataformas acadêmicas, como o Scielo, que evidenciam a relevância da atuação fonoaudiológica no acompanhamento e reabilitação de pessoas com deficiência auditiva. Por fim, a pesquisa evidenciou que a intervenção fonoaudiológica é essencial para o desenvolvimento da linguagem e habilidades de comunicação oral em pessoas surdas, destacando a importância de um acompanhamento especializado e individualizado. A fonoaudiologia contribui significativamente para a inclusão social e educacional dos deficientes auditivos. No entanto, a falta de preparo das escolas, com a escassez de profissionais capacitados e recursos adequados, limita o acesso pleno à educação de qualidade. Além disso, é necessário que as políticas públicas garantam o acesso a serviços especializados desde os primeiros anos de vida, promovendo programas que integrem saúde e educação. Contribuindo para o desenvolvimento das habilidades comunicativas e para a inclusão social e educacional de deficientes auditivos. Também foram identificadas limitações, como a falta de estudos longitudinais que investiguem os efeitos a longo prazo das abordagens de oralização, o que abre espaço para futuras pesquisas nesse campo.

Palavras-Chaves: Fonoaudiologia; Linguagem; Deficiente Auditivo; Comunicação; Intervenção.

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da linguagem é fundamental para o crescimento humano, pois está intimamente ligado ao processo de aprendizagem. Por meio da linguagem, o indivíduo organiza pensamentos, aprimora a comunicação e estabelece relações interpessoais, sendo a base para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Para que esse processo ocorra de forma plena, é necessário o funcionamento adequado das estruturas neurobiológicas e sociais desde os primeiros anos de vida (NEUROSABER, 2021).

Segundo Santos et.al (2008), o primeiro sentido do ser humano a se desenvolver é a audição. Esta, surge antes mesmo de nascermos, por volta da 16º semana de gestação, onde o feto já pode começar a responder estímulos. Ademais, auxilia na interação dos pais e de outras pessoas, o qual auxiliará na formação da linguagem da criança, ou seja, quanto maior a exposição de forma positiva e consciente, maior será seu desenvolvimento.

A surdez ou perda auditiva pode ter um impacto significativo no desenvolvimento da linguagem, já que a audição desempenha um papel essencial na aquisição e aprimoramento da fala. Quando a surdez não é identificada precocemente, o desenvolvimento linguístico pode ser comprometido, dificultando a comunicação da criança. Por isso, a identificação precoce da surdez ou perda auditiva é crucial, permitindo que medidas, como a estimulação adequada, sejam tomadas em tempo hábil, o que resulta em menores prejuízos e favorece o desenvolvimento linguístico e social (MENDES, 2021).

A estimulação da linguagem e o desenvolvimento da oralização em indivíduos com deficiência auditiva são estratégias importantes para promover a comunicação entre surdos e ouvintes, contribuindo para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida A oralização, por meio da leitura labial e do uso dos mecanismos vocais remanescentes, permite ampliar as possibilidades comunicativas do indivíduo surdo ao longo de sua vida (MOUTEIRA, 2018).

Entretanto, ainda existem barreiras sociais e educacionais, como a escassez de intérpretes de LIBRAS, professores capacitados e escolas preparadas para acolher esse público. Essa realidade impacta negativamente a aprendizagem e a socialização de crianças e jovens com deficiência auditiva (MOUTEIRA, 2018).

Nesse contexto, o fonoaudiólogo atua na prevenção, avaliação e intervenção dos distúrbios da comunicação, sendo fundamental no processo de aquisição da linguagem oral em indivíduos surdos. Sua atuação visa potencializar as habilidades linguísticas e comunicativas, favorecendo a compreensão mútua e a integração social. (MENDES, 2021).

Diante do exposto, este estudo tem como objetivo apresentar a importância da estimulação do desenvolvimento da linguagem e da oralização em indivíduos com deficiência auditiva, visando favorecer a comunicação e a inclusão social.

1.1 Desenvolvimento da linguagem 

O desenvolvimento de linguagem é um fator essencial para o desenvolvimento humano, pois está diretamente relacionado ao processo de aprendizagem. À medida que a linguagem se desenvolve, é possível aprimorar, organizar e associar os recursos comunicativos. Além disso, ela atua nos aspectos da fala e, consequentemente, no aprendizado da leitura e da escrita (MOUSINHO, et al, 2008).

Para que esse processo ocorra de forma plena, é necessário o funcionamento adequado dos aspectos neurobiológicos e sociais, ou seja, das estruturas cerebrais e da interação social desde o nascimento (Brites, 2021). Segundo Santos et al. (2008), esse desenvolvimento ocorre em diferentes etapas, que acompanham os marcos do desenvolvimento infantil. O desenvolvimento da fala, por exemplo, depende de aspectos motores e, principalmente, linguísticos, envolvendo a aquisição da comunicação por meio de linguagem não verbal, produção de sons, organização em estruturas silábicas, formulação de palavras e frases, e o estabelecimento de diálogos.

A estimulação do desenvolvimento da linguagem e a oralização no indivíduo surdo são de extrema importância. A oralização visa capacitá-lo para uma comunicação mais acessível com ouvintes, utilizando mecanismos como a voz e a leitura labial, o que proporciona melhor qualidade de vida em todas as fases da vida (Dias et al., 2006).  

Capovilla (2000) aponta que os alunos surdos enfrentam inúmeras dificuldades no ambiente escolar, principalmente em razão das abordagens educacionais inadequadas adotadas ao longo do tempo. A ausência de professores capacitados em Libras, a falta de intérpretes e de materiais didáticos acessíveis comprometem significativamente o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o limitado e excludente. Essas falhas estruturais geram impactos negativos não apenas no desempenho escolar, mas também no desenvolvimento social, emocional e futuro profissional dos estudantes surdos.

Tal consideração é apresentada uma vez que, os surdos continuam sendo prejudicados, pois ainda há uma baixa demanda de intérpretes de LIBRAS, professores, e escolas capacitadas a receber esse público. Não o bastante, essa situação gera interferências na aprendizagem e interação social, já que os demais alunos considerados “típicos” não tem o domínio da linguagem de sinais (DIAS, et al, 2006). 

Portanto, a oralização tem como objetivo central promover uma comunicação eficaz entre surdos e ouvintes, facilitando a compreensão mútua e contribuindo para o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo com deficiência auditiva.

1.2 O sistema auditivo

O sistema auditivo é formado pelo órgão sensorial da audição, pelas vias auditivas do sistema nervoso e por estruturas cerebrais que tem a função de captar, transformar e transmitir ao córtex as informações sonoras, as quais serão interpretadas e armazenadas (BOÉCHAT, 2003).

Em virtude do exposto, é importante conhecer esse sistema, uma vez que é requisitado para os processos comunicativos, principalmente nos casos em que há perda auditiva (FERREIRA, 2021). 

Segundo Da Silva (2018), o órgão sensorial da audição é dividido em três partes, a orelha externa, a orelha média e a orelha interna. A orelha externa é composta pelo pavilhão auricular e pelo conduto auditivo, tendo como função captar e amplificar os sons, conduzindo-os em forma de vibração até a membrana timpânica. A orelha média, por sua vez, é formada pela membrana timpânica e pela cadeia ossicular, constituída pelos ossos martelo, bigorna e estribo, cuja principal função é transformar as vibrações sonoras em vibrações mecânicas. Já a orelha interna é composta pela cóclea, estrutura em formato de caracol que contém as células sensoriais chamadas células ciliadas, responsáveis tanto pela audição quanto pelo equilíbrio, por meio do labirinto. Essa região também converte a energia mecânica em sinais elétricos que serão interpretados pelo cérebro.

O conjunto dessas estruturas e funções sem que haja alguma deficiência ou patologia, fazem com que o sistema auditivo funcione da forma correta. No qual, o som passa pelo conduto auditivo, fazendo com que haja uma vibração da membrana timpânica, que é transmitida pela cadeia ossicular, até que chegue a cóclea, fazendo que haja uma vibração das células ciliadas, se transformando em impulsos elétricos, que são enviados para o nervo auditivo, chegando até o cérebro, que reconhece a informação, e nos permite ouvir e compreender a mensagem enviada (FERREIRA, 2021).

Contudo, esse sistema pode ser afetado de diferentes formas, como por exemplo, as células ciliadas, são muito importantes para audição, pois as mesmas não se renovam, e com o passar dos anos elas vão “morrendo”, dessa forma é comum que com o envelhecimento, tenha perdas auditivas, conhecidas como a presbiacusia (DIAS, et al, 2006).

Não obstante, deve-se ter cuidado também com exposição de ruídos constantes e volumes altos, pois devido a essa exposição, essas células podem ser “destruídas”, causando assim uma perda auditiva (DA SILVA, 2018).

1.3 Desenvolvimento da linguagem no deficiente auditivo

Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento das habilidades auditivas e da linguagem, pois é nesse período que o sistema auditivo central atinge o ápice da maturação. Em casos de perda auditiva, é muito importante que o diagnóstico seja feito precocemente, a fim de minimizar os prejuízos no desenvolvimento da linguagem, bem como das habilidades auditivas e cognitivas. Por isso, o tempo entre a suspeita de deficiência auditiva, o diagnóstico e a intervenção deve ser o mais curto possível (SOBREIRA, 2015).

O mesmo autor, ainda pontua que a deficiência auditiva afeta diretamente o desenvolvimento da linguagem, e esse impacto pode variar conforme o tipo e o grau da perda auditiva. Entre os tipos de perda, a perda auditiva neurossensorial de grau severo a profundo é a que mais compromete o desenvolvimento linguístico, dificultando a aquisição e o progresso da linguagem oral.

A aquisição da linguagem depende da integridade do sistema auditivo e, quando há uma perda dessa magnitude, torna-se crucial a intervenção fonoaudiológica, aliada ao uso de dispositivos de amplificação sonora, para que a criança tenha a oportunidade de desenvolver a fala, facilitando sua aprendizagem e expansão do conhecimento (MENDES et al, 2021).

Há diferentes maneiras de abordar o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem do surdo, orientadas pelas perspectivas educacionais adotadas, podendo ser oral ou bilíngue. A abordagem oral prioriza a reabilitação auditiva e a aquisição da fala, com práticas que se distanciam dos usos sociais da linguagem, buscando adaptar o indivíduo a uma sociedade predominantemente ouvinte. A abordagem bilíngue, por outro lado, defende que a criança surda deve adquirir sua língua natural, a língua de sinais, através da interação com a comunidade surda, enquanto a língua oral e/ou escrita é ensinada como segunda língua, baseada nas competências linguísticas já desenvolvidas na primeira língua (PIRES, 2018).

1.4 Correlação da atuação fonoaudiológica no desenvolvimento da linguagem do deficiente auditivo

No que diz respeito às diferentes formas de atuação com pessoas surdas, a Fonoaudiologia geralmente se fundamenta nos princípios da reabilitação, concentrando-se no desenvolvimento da linguagem e da comunicação. Isso reflete uma visão que busca “corrigir um defeito” com o objetivo de equiparar o sujeito surdo aos padrões considerados normais (CAPOVILLA, 2000).

Um recurso essencial para a reabilitação de pessoas com deficiência auditiva é o Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). O AASI funciona captando, amplificando e conduzindo os sons até o ouvido da pessoa com deficiência auditiva (BOSCOLO, 2006).

A fase de seleção e adaptação da prótese é um momento em que os pais costumam estar muito ansiosos, lidando com o impacto do diagnóstico de surdez e buscando respostas para muitas perguntas. O papel do fonoaudiólogo é escutar e esclarecer as dúvidas, receios e preocupações dos pais. Além de orientar e responder a essas questões, o fonoaudiólogo deve ter plena consciência de suas responsabilidades tanto com os pais quanto com as crianças que utilizarão o aparelho (SANTOS, 2008).

Em outros casos, dependendo do grau de perda auditiva, o uso do AASI não é um equipamento de reabilitação auditiva adequado, podendo ser indicado o Implante Coclear (IC). Uma vez que, este é o principal avanço no tratamento de pessoas com perda auditiva severa e/ou profunda bilateral que não obtêm benefício com o aparelho de amplificação sonora individual (MELO, 2012).

A realização do IC durante o período de neuroplasticidade do sistema auditivo, permite que crianças implantadas precocemente desenvolvam habilidades auditivas e linguísticas de maneira comparável a crianças ouvintes, especialmente quando acompanhadas por terapia fonoaudiológica. Embora o IC ofereça importantes benefícios para crianças com deficiência auditiva, o dispositivo em si proporciona principalmente a percepção dos sons ambientais e da fala. E para que ocorra um desenvolvimento auditivo e linguístico, é essencial, entre outros fatores, a realização de terapia fonoaudiológica com colaboração ativa entre profissionais e familiares (BOÉCHAT, 2003).

2. JUSTIFICATIVA

A relevância deste estudo reside na análise do papel da fonoaudiologia no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem em indivíduos com deficiência auditiva, com ênfase na surdez. A comunicação, enquanto uma ferramenta essencial para a interação humana, está diretamente ligada ao desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos indivíduos, já que a linguagem facilita a expressão de pensamentos, sentimentos e a troca de informações de maneira ilimitada.

Nesse contexto, é de suma importância o processo de estimulação da linguagem, além da intervenção voltada para a oralização, uma vez que a leitura labial se apresenta como um recurso importante para a compreensão durante a comunicação entre surdos e ouvintes. A utilização da oralização contribui para uma comunicação mais eficaz, tanto no entendimento quanto na expressão, favorecendo a inclusão social e o desenvolvimento das habilidades comunicativas.

Por conseguinte, o indivíduo surdo que recebe o suporte adequado para a oralização tem mais chances de ser plenamente compreendido, o que reflete positivamente em sua integração escolar, profissional e social, promovendo uma maior qualidade de vida.

3. HIPÓTESES

  • A intervenção fonoaudiológica desempenha um papel crucial no desenvolvimento da fala de indivíduos com deficiência auditiva, contribuindo para com a linguagem e comunicação.
  • A intervenção fonoaudiológica contribui parcialmente para o desenvolvimento da fala de indivíduos com deficiência auditiva.

4. OBJETIVOS

4.1 Objetivo geral

Apresentar a importância da estimulação do desenvolvimento de linguagem e oralização do indivíduo surdo, tendo em vista melhor comunicação. 

4.2 Objetivos específicos

  • Descrever a importância da linguagem oral para o desenvolvimento humano;
  • Destacar o sistema auditivo, enfatizando as deficiências auditivas; 
  • Expor o desenvolvimento da linguagem no deficiente auditivo;
  • Analisar como a fonoaudiologia impacta na aquisição e desenvolvimento de linguagem do deficiente auditivo; 
  • Fundamentar a importância da atuação fonoaudiológica na reabilitação da pessoa com deficiência auditiva, com base em referências bibliográficas.

5. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho configura-se como uma pesquisa de revisão bibliográfica, baseada em fontes acadêmicas e científicas que abordam a atuação da fonoaudiologia no desenvolvimento da linguagem de indivíduos com deficiência auditiva.

A seleção dos materiais será realizada a partir de bases de dados reconhecidas, considerando artigos, livros e diretrizes de referência na área da fonoaudiologia. Serão analisados estudos que discutem a importância da estimulação da linguagem oral, o impacto da deficiência auditiva no desenvolvimento comunicativo e as abordagens terapêuticas utilizadas para a reabilitação auditiva e linguística.

A pesquisa seguirá critérios de relevância e atualidade, garantindo uma abordagem fundamentada e embasada em evidências científicas para destacar a importância do acompanhamento fonoaudiológico na reabilitação de pessoas com deficiência auditiva.

5.1 Desenho da pesquisa

Será realizada uma pesquisa descritiva, de caráter qualitativo, baseada em revisão bibliográfica. O estudo terá como foco a análise de publicações científicas que abordam a importância da fonoaudiologia no desenvolvimento da linguagem de indivíduos com deficiência auditiva.

A pesquisa seguirá as seguintes etapas: levantamento de fontes acadêmicas em bases de dados reconhecidas, seleção criteriosa de artigos e livros que discutam a estimulação da linguagem oral, análise das abordagens terapêuticas utilizadas na reabilitação auditiva e linguística, e, por fim, síntese dos dados coletados para fundamentar a relevância do acompanhamento fonoaudiológico no desenvolvimento da comunicação de pessoas com deficiência auditiva. 

5.2 Riscos e benefícios da pesquisa

A pesquisa não apresenta riscos, uma vez que será realizada por meio de revisão bibliográfica, sem envolvimento direto de participantes ou coleta de dados clínicos.

Os benefícios da pesquisa estão relacionados à ampliação do conhecimento sobre a importância das intervenções fonoaudiológicas no desenvolvimento da linguagem de indivíduos com deficiência auditiva. Os achados poderão contribuir para a formação e atualização de fonoaudiólogos, bem como para profissionais da saúde e da educação, evidenciando a relevância das abordagens terapêuticas e estratégias para o desenvolvimento de linguagem do surdo.

5.3 Metodologia de análise 

Os dados foram analisados a partir da revisão de literatura, considerando estudos científicos, artigos e publicações acadêmicas sobre a atuação fonoaudiológica no desenvolvimento da linguagem de indivíduos com deficiência auditiva. As coletas dos dados foram realizadas na plataforma SciELO, onde foram encontrados 86 artigos que respondam a pergunta norteadora da pesquisa: qual a importância da fonoaudiologia na oralização do deficiente auditivo. No entanto, nem todos atenderam aos critérios estabelecidos para a pesquisa. Para a seleção dos materiais, foram adotados critérios de inclusão, como idioma em português, abrangência de todas as faixas etárias e recorte temporal de 2000 a 2025, totalizando 25 anos de publicações. Como critérios de exclusão, foram descartados artigos que não atendiam a esses parâmetros ou que não abordavam diretamente o tema do trabalho. Após a análise, os achados foram discutidos de forma comparativa, com embasamento teórico, a fim de evidenciar a importância das intervenções fonoaudiológicas no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem do surdo.

6. RESULTADOS

Tabulação dos artigos utilizados na revisão.

A seguir, apresentamos a tabulação dos artigos utilizados na revisão, com o objetivo de compilar e sintetizar as principais conclusões de diferentes estudos sobre o desenvolvimento da linguagem, oralização e a atuação da fonoaudiologia no contexto dos surdos. Os artigos selecionados abordam uma ampla gama de temas relacionados à comunicação de surdos, incluindo a importância da estimulação precoce, os benefícios da oralização e da leitura labial, as abordagens bilíngues, e as contribuições da fonoaudiologia para o desenvolvimento da linguagem. Cada estudo destaca a relevância da adaptação das práticas educacionais e terapêuticas para melhor atender as necessidades da comunidade surda, promovendo a inclusão e a qualidade de vida dos indivíduos surdos.

 DISCUSSÃO 

Com base nos estudos analisados, é possível afirmar que o desenvolvimento da linguagem e a oralização do indivíduo com deficiência auditiva são temas amplos, que envolvem aspectos biológicos, sociais, educacionais e culturais. A linguagem, sendo uma das principais formas de interação humana, depende de um sistema auditivo funcional para se desenvolver plenamente, como destacam Santos et al. (2008) e Ferreira (2021). Nesse sentido, a identificação precoce da perda auditiva, associada à intervenção adequada, é fundamental para minimizar os impactos no desenvolvimento da fala e da comunicação (Mendes et al., 2021; Sobreira, 2015).

Tradicionalmente, a oralização foi considerada o principal meio para inserir a pessoa surda no convívio com ouvintes, como defendem autores como Capovilla (2000), Almeida (2015), Martins (2011) e Toffolo et al. (2017). Esses estudos demonstram que, por meio do uso de leitura labial, treino auditivo e uso de tecnologias como o Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) e o Implante Coclear (IC), é possível desenvolver habilidades comunicativas importantes para a inclusão social e escolar do surdo oralizado (Boscolo, 2006; Melo, 2012; Santos, 2008).

Por outro lado, há uma crescente valorização da Libras como primeira língua da pessoa surda, defendida por autores como Moura et al. (2021), Mouteira (2018), Pires (2018) e Bertoletti (2017). Esses estudos reforçam a importância de práticas educacionais bilíngues, que considerem a Libras como língua natural da criança surda e o português como segunda língua. Essa abordagem não apenas respeita a identidade cultural da comunidade surda, mas também promove um desenvolvimento linguístico mais completo e inclusivo.

A atuação do fonoaudiólogo, nesse cenário, deve ser pautada por uma visão ética e humanizada, como defendem Novaes et al. (2012) e Ribeiro et al. (2020). Cabe a esse profissional realizar intervenções eficazes que considerem tanto os aspectos técnicos da reabilitação auditiva quanto às dimensões sociais e culturais da comunicação. Além disso, a escuta ativa dos familiares e a orientação adequada são fundamentais no processo de adaptação aos dispositivos auditivos e à escolha do percurso linguístico da criança.

Autores como Ribeiro, Solange Lucas et al. (2020) e Academia de Libras (2019) também ressaltam a diversidade dentro da própria comunidade surda, apontando diferenças entre surdos oralizados e não oralizados, e destacando a necessidade de respeitar diferentes formas de comunicação. A tecnologia e os recursos pedagógicos inclusivos, como discutido por Ribeiro, Sátila Souza et al. (2020), também desempenham papel importante no acesso à educação e no desenvolvimento das habilidades comunicativas dos surdos, especialmente no ensino superior.

Diante disso, conclui-se que tanto a oralização quanto a Libras são estratégias válidas no processo de desenvolvimento da linguagem do indivíduo surdo. No entanto, é fundamental que essas práticas não sejam vistas como excludentes, mas sim como complementares, a partir de uma abordagem bilíngue e inclusiva. O respeito à identidade surda, a escuta das necessidades individuais e o acesso à comunicação, seja ela oral ou sinalizada, devem guiar as práticas de todos os profissionais envolvidos. A promoção do desenvolvimento linguístico e comunicativo pleno exige uma articulação entre saúde, educação, família e sociedade, pautada no conhecimento científico, na empatia e na valorização da diversidade humana.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da linguagem no indivíduo surdo é um processo que vai além da aquisição da fala ou do domínio da Libras, trata-se do acesso pleno à comunicação, à expressão de pensamentos e à construção de identidade. A análise dos estudos evidencia que tanto a oralização quanto a língua de sinais são caminhos legítimos e eficazes, desde que respeitem as particularidades de cada sujeito. A adoção de uma abordagem bilíngue, que valorize simultaneamente a Libras como primeira língua e o português como segunda, emerge como uma alternativa inclusiva e eficaz para o desenvolvimento linguístico e cognitivo da pessoa surda.

Nesse contexto, é essencial que a atuação dos profissionais envolvidos, especialmente fonoaudiólogos e educadores, seja pautada por uma visão ética, empática e baseada em evidências científicas, promovendo o direito à comunicação e ao aprendizado de forma justa. A participação ativa da família, aliada a políticas públicas inclusivas e ao acesso a tecnologias e práticas pedagógicas adequadas, completa o suporte necessário para garantir que o indivíduo surdo desenvolva plenamente sua linguagem, sua autonomia e seu potencial humano.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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