FLEXIBILIDADE E MOBILIDADE NO CROSSFIT: PAPEL NO DESEMPENHO FÍSICO E PREVENÇÃO DE LESÕES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248091340


Vianna, Pâmella Barreiro Bittencourt 1
Lima, Michel Leonardo Ferreira de 2, 3
Marques, Silvio Rodrigues 2, 4


RESUMO

Levando em consideração que exercícios de flexibilidade e mobilidade são importantes para os padrões de movimento e prevenção de lesões, esta pesquisa teve como objetivo discutir sobre a importância da introdução de exercícios de mobilidade durante o aquecimento de praticantes do CrossFit e qual o seu papel no desempenho físico e prevenção de lesões nestes praticantes. Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica, que teve como objetivo a mobilidade articular, flexibilidade, relação entre a flexibilidade e força muscular no CrossFit e o perfil de lesões em praticantes de CrossFit. Foi realizada uma ampla revisão de literatura utilizando as publicações de artigos, em inglês e português, disponíveis em bibliotecas virtuais e base de dados científicos encontrados no Google Acadêmico, SciELO e PubMed. Sendo assim, fez-se necessária a seleção de diversos autores e artigos publicados nos últimos anos. Como critério de exclusão, foram descartados artigos que não tratavam essencialmente da flexibilidade e mobilidade articular e sobre aspectos relacionados ao CrossFit.  Os resultados observados, apesar de limitados, concluem que a flexibilidade e mobilidade desempenham um papel fundamental na prevenção de lesões e aprimoramento do desempenho no CrossFit, resultando numa melhor eficiência dos padrões de movimento, fazendo com que o atleta suporte altas cargas em posições de grande amplitude articular de maneira mais segura.

Palavras-chave: Flexibilidade. Mobilidade Articular. CrossFit. Lesões no CrossFit.

ABSTRACT

Taking into account that flexibility and mobility exercises are important for movement patterns and injury prevention, this research aimed to discuss the importance of introducing mobility exercises during the warm-up of CrossFit practitioners and their role in performance physical and injury prevention in these practitioners. For this, a bibliographical research was carried out, which aimed at joint mobility, flexibility, the relationship between flexibility and muscular strength in CrossFit and the injury profile in CrossFit practitioners. A broad literature review was carried out using article publications, in English and Portuguese, available in virtual libraries and scientific databases found on Google Scholar, SciELO and PubMed. Therefore, it was necessary to select several authors and articles published in recent years. As an exclusion criterion, articles that did not essentially deal with flexibility and joint mobility and aspects related to CrossFit were discarded. The results observed, although limited, conclude that flexibility and mobility play a fundamental role in preventing injuries and improving performance in CrossFit, resulting in better efficiency of movement patterns, making the athlete support high loads in positions of great joint range in a safer way.

Keywords: Flexibility. Joint Mobility. CrossFit. CrossFit Injuries

1 INTRODUÇÃO

            Atualmente, as pessoas estão cada vez mais em busca de uma melhor qualidade de vida. Com isso, a procura pela prática de exercícios físicos vem aumentando a cada dia, principalmente aqueles que visem uma melhora do condicionamento através de exercícios que desenvolvam melhor suas habilidades e algumas das valências físicas que são de suma importância, não só para o meio esportivo, como principalmente para a vida diária (Andrade et al., 2018).

            Sendo assim, pode-se destacar o CrossFit, que é um método de treinamento que a cada dia vem crescendo cada vez mais sua prática no mundo. Trata-se de uma metodologia moderna de treinamento caracterizado pela prática de exercícios esportivos e funcionais, frequentemente modificados onde são realizados em alta intensidade (Andrade et al, 2018).

            Surgido na década de 90 e desenvolvido pelo treinador Greg Glassman, o CrossFit foi adotado como método de treinamento de militares das forças armadas dos Estados Unidos e difundido pelo mundo a partir dos anos 2000, quando teve seu termo patenteado (Paine et al, 2010).   

            Segundo Dominsk (2018), o CrossFit engloba três categorias fundamentais de movimento: os cíclicos como corrida, remo e pular corda, os relacionados ao levantamento de peso, envolvendo tanto o levantamento olímpico como o levantamento básico, além dos movimentos ginásticos, como barras, flexões, argolas, entre outros. Dessa forma, a modalidade visa aprimorar amplamente as aptidões físicas do praticante, incluindo a resistência cardiorrespiratória, resistência muscular, força, flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão (Macêdo e Silva, 2020).    

A flexibilidade, um elemento significativo da condição física, está associada à saúde e ao desempenho atlético, e pode ser descrita como a “[…] qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos necessária para a perfeita execução de qualquer atividade física eletiva, sem que ocorram lesões anátomo-patológicas” (Pavel; Araújo, 1983, p.7, apud Farinatti, 2000). Desta forma, quando uma pessoa é flexível, ela possui maior liberdade de movimento, o que é essencial para a realização de atividades diárias e esportivas. Além de contribuir para uma postura adequada e uma coluna vertebral mais alinhada, músculos alongados e flexíveis tendem a diminuir as dores nas costas, tensões musculares e promovem a manutenção da autonomia (Fidelis et al, 2013).

Por outro lado, a mobilidade, refere-se à habilidade de executar movimentos que viabilizam maiores amplitudes de movimento necessários para as atividades funcionais (Kisner; Colby, 2016). Para alguns autores, ela pode levar a melhorias agudas em indivíduos com funções neuromusculoesqueléticas intactas, além disso, ela também pode tanto otimizar a performance física do indivíduo quanto pode aumentar o risco de lesões quando esta apresentar disfunção (Silvino, 2022).

            A flexibilidade e mobilidade são fundamentais na manutenção de uma saúde abrangente e de qualidade de vida. Esses dois aspectos estão intimamente ligados e contribuem para o funcionamento adequado do corpo, bem como para a prevenção de lesões e o envelhecimento saudável. Sua importância aumenta ainda mais à medida com que a pessoa envelhece, pois, a tendência natural do corpo é perder gradativamente esses dois elementos com o passar do tempo. No entanto, a prática regular de exercícios que promovem esses aspectos pode retardar esse processo e contribuir para um envelhecimento saudável (Fidelis et al., 2013).

            Sendo assim, além da qualidade de vida, ambos serão essenciais para o desempenho esportivo de um atleta, desempenhando papéis fundamentais na prevenção de lesões, na melhoria do desempenho atlético e otimização da técnica esportiva. O trabalho de mobilidade pode promover ganhos significativos de amplitude de movimento, o que se tornará um ponto positivo dentro do CrossFit, por ser um método que utiliza movimentos do levantamento de peso, ginásticos e cíclicos, além de fazer com que o atleta suporte altas cargas em posições de grandes amplitudes (Silvino, 2022).

Porém, apesar de muito se falar sobre a melhora das capacidades físicas do atleta, a flexibilidade e mobilidade já é algo pouco praticado dentro das rotinas de treinamento de CrossFit. Com isso, devido a sua negligência, muitos praticantes e atletas acabam desenvolvendo problemas posturais, diminuição da vascularização local e o aparecimento de lesões, principalmente, nas articulações de ombros e joelhos, entre outros locais (Andrade et al., 2018). Uma vez que, essa falta pode ter um impacto significativo afetando a biomecânica do movimento, a estabilidade articular e a forma como ocorre a distribuição de cargas sobre os músculos e articulações.

            “Diante disso é de extrema importância que os praticantes ou atletas de CrossFit possuam um bom nível de mobilidade e flexibilidade, para a realização dos exercícios de força propostos na modalidade” (Andrade et al., 2018, p. 2). Visto que, por ser uma modalidade que exige extremamente do físico e da demanda metabólica, a flexibilidade pode garantir um sucesso atlético e a mobilidade, através de movimentos específicos, podendo gerar uma melhor eficiência nos padrões de movimento através da propriocepção e da melhoria do trabalho articular (Ersoy U et al, 2018; Silvino, 2022).

2 OBJETIVOS

Esta pesquisa teve como objetivo discutir sobre a importância da introdução de exercícios de flexibilidade e mobilidade durante o aquecimento de praticantes do CrossFit e qual o papel delas no desempenho físico e prevenção de lesões nestes praticantes.

3 METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão bibliográfica de literatura com base em dados de artigos publicados na língua vernácula, nas principais bases: SciElo, Google Acadêmico e PubMed. Foram incluídos artigos de revisão, pesquisas qualitativas e quantitativas, estudos comparativos e livros relacionados ao assunto que foram publicados nos últimos anos. A pesquisa foi feita com base nas palavras-chave: flexibilidade e mobilidade articular, relação entre a força e flexibilidade em praticantes de CrossFit, CrossFit e lesões do CrossFit. Como critério de exclusão, foram descartados artigos que não tratavam essencialmente da flexibilidade e mobilidade articular e sobre aspectos relacionados ao CrossFit. Além disso, alguns artigos também foram identificados, porém excluídos por conterem informações duplicadas.

            Ao todo foram identificados 49 trabalhos relevantes, sendo estes, 43 artigos identificados em diferentes bases de armazenamento. Sendo 8 no SciElo, 10 no PubMed e 20 consultas feitas no Google Acadêmico, além de serem consultados 5 livros textos, clássicos que sustentaram conceitualmente. Além destes, 6 trabalhos foram excluídos por apresentarem pelo menos um critério de exclusão/ duplicatas.

Figura 1- Fluxograma da metodologia da etapa de seleção dos estudos

 

4 DISCUSSÃO

4.1 Classificação das Articulações     

Para se entender sobre os efeitos fisiológicos básicos da mobilidade articular, é importante entender sobre os componentes que estão associados a uma maior mobilidade. E como propriamente é dita, a mobilidade articular é o movimento realizado na articulação para que se alcance maiores amplitudes de movimento durante a fase ativa (Silvino, 2022).

             Segundo Neumann (2011, p.28) “uma articulação é a junção ou ponto de pivô entre dois ou mais ossos. Além disso, elas também transferem e dissipam as forças produzidas tanto pela gravidade quanto pela ativação muscular”.

            Para ele, a artrologia, o estudo da classificação, estrutura e função das articulações, é vital para o estudo geral da cinesiologia, pois fornece a base anatômica necessária para compreender o funcionamento articular. O envelhecimento, a imobilização prolongada, e condições patológicas como traumas e doenças afetam a estrutura e a função das articulações. Esses fatores também influenciam significativamente a qualidade e a quantidade dos movimentos humanos.

            Desta forma, Neumann (2011) classifica as articulações de acordo com sua funcionalidade e seu grau de movimento, onde, as sinartroses são articulações que possuem pouco ou quase nenhum movimento, devido à sua alta composição de tecido conjuntivo, o que reforça a articulação, fazendo também com que elas sejam classificadas como articulações fibrosas e cartilaginosas. Enquanto que, as diartroses, são articulações que possuem mais movimento, sendo estas, as que mais compõem a estrutura musculoesquelética do corpo humano. Seus movimentos são mais soltos e fluidos justamente por conta do líquido sinovial que lubrifica essas estruturas, fazendo com que se tenha maior facilidade para se movimentar, também podendo ser classificadas como articulações sinoviais.

4.2 Flexibilidade e Mobilidade    

A flexibilidade é um importante componente físico relacionado à saúde e, também ao componente atlético, conceituada como um alongamento muscular a fim de se atingir maiores amplitudes articulares durante a execução de algum movimento (Badaro et al, 2007).

            Andrade et al. (2018) se refere à ela como a capacidade de movimento das articulações dentro de uma determinada faixa, além de ser influenciada pela viscoelasticidade dos músculos, ligamentos e outros tecidos. Assim, ela desempenha um papel crucial nos treinos de CrossFit devido à ampla gama de exercícios que requerem uma mobilidade eficaz. Os autores ainda complementam que indivíduos com pouca flexibilidade podem enfrentar problemas como lesões, redução da circulação local, problemas posturais, entre outros, tornando-a um componente essencial de qualquer programa de treinamento, especialmente para aqueles que buscam o alto desempenho físico.

            Já a mobilidade articular está relacionada à capacidade do corpo de se mover com grande amplitude de forma eficiente e sem restrições, essa definição vai além da flexibilidade que tem relação apenas com os tecidos moles, músculos (Barbanti, 2010), e inclui as articulações. Portanto, é importante avaliar e trabalhar tanto a mobilidade quanto a flexibilidade para melhorar o desempenho no CrossFit, devido à natureza dos movimentos.

4.3 Fatores influenciáveis na flexibilidade    

            Sua realização pode ser multifatorial, sendo relacionada a fatores como sexo, idade, medidas antropométricas, fatores genéticos e patológicos. Segundo Dantas (2005) e Achour Júnior (2009) apud Andrade et al. (2018) a flexibilidade também pode variar de acordo com a hora do dia, a temperatura e o nível de atividade física do indivíduo. 

4.4 Influência da flexibilidade e mobilidade para o desempenho físico   

A flexibilidade e mobilidade desempenham um papel crucial no desempenho esportivo, onde, o alongamento pode aumentar a amplitude de movimento e diminuir a rigidez, influenciando a capacidade do atleta de executar movimentos eficientes e reduzir o risco de lesões (Kay; Blazevich, 2012). Alguns estudos científicos destacam a importância desses dois componentes para o sucesso no esporte.    

Para Kaczorowska et al. (2020), no CrossFit, apesar de se trabalhar com movimentos funcionais, ele é caracterizado por ser um treinamento de alta intensidade e que utiliza altos níveis de cargas, o que levará à necessidade de exercícios que melhorem a mobilidade do atleta e que terão um papel importante na prevenção de lesões durante o treinamento. Além disso, sua principal conclusão foi o aumento da pontuação de teste FMS após a aplicação do método MobilityWOD, o que resultou em risco reduzido para lesões através de exercícios de mobilidade que aumentaram a mobilidade nas articulações.    

            Badaro et al. (2007) também destacar um estudo de Contursi, de 1986, onde cita que a flexibilidade é uma característica importante para atletas e sua ênfase nos músculos e articulações será específica de acordo com as exigências da modalidade esportiva. Ele ainda cita o aumento da flexibilidade geral em ginastas e capoeiristas se comparado aos jogadores de futebol. Portanto, é fundamental para os atletas e treinadores compreenderem essas demandas específicas e adaptarem seus programas de treinamento de flexibilidade de acordo com as necessidades de cada esporte, visto que, o CrossFit possui muitos movimentos ginásticos. 

            Entretanto, Andrade et al. (2018)citam que outro fator que pode influenciar no desempenho entre homens e mulheres é: assim como as mulheres tendem a ter maiores níveis de flexibilidade do que os homens, os homens apesentam uma força muscular muito maior do que as mulheres, sendo este, associado com a questão hormonal, devido aos níveis mais elevados de testosterona presente no sexo masculino.

            Segundo Fleck e Kraemer (2006), o aumento de massa muscular em mulheres tende a ser menor em comparação com os homens, mesmo quando participam do mesmo programa de treinamento. Pois, o aumento da massa muscular ocorre por uma variedade de fatores, incluindo a relação entre os níveis de estrogênio e testosterona, predisposição genética, entre outros fatores. Além do que, Andrade et al. (2018) reportam que mulheres possuem valores inferiores de força absoluta, tanto em membros inferiores como nos membros superiores, por apresentarem músculos com tamanhos e pesos diferentes dos homens.

            Por fim, Andrade et al. (2018) ainda citam um estudo de Simão et al. (2007) onde afirmam que os níveis de força muscular nas mulheres também podem ser influenciados de acordo com a fase do ciclo menstrual, onde, o desempenho melhora nas fases intermediárias do ciclo (2ª e 3ª) em relação à primeira fase.  

4.5 Aquecimento Geral 

O aquecimento, independente da modalidade esportiva, tem como objetivo elevar a temperatura corporal (TC), a frequência cardíaca, a demanda por oxigênio, o fluxo sanguíneo e a viscosidade do fluido articular. Esse aquecimento é necessário para que o metabolismo energético fabrique ATP para que haja a contração muscular. É a partir desse movimento e das contrações musculares geradas que haverá o aumento da temperatura muscular em poucos segundos (Racinais S et al., 2017).   

            Petrofsky S. J. (2013) sugere que o calor gerado pelo exercício aeróbico durante o aquecimento também modifica as características viscoelásticas dos músculos e dos demais tecidos colágenos, preparando-os para um aumento na flexibilidade dos tecidos moles antes da prática da atividade física.

            Com isso, faz-se necessário o uso do aquecimento geral já nos primeiros minutos da atividade, de forma que prepare o corpo como um todo e auxilie na melhora do desempenho do praticante. Para Bishop (2003), realizar um aquecimento de 5 a 10 minutos, com intensidades em torno de 40 a 60% do Vo2 máx. de cada indivíduo já é favorável para o aumento do desempenho.

4.6 Alongamento Estático X Alongamento Dinâmico  

            Para Barroso (2012) e Stevanovic et al. (2019), o alongamento estático, como propriamente dito, é aquele em que a pessoa alonga algum músculo se mantendo parada numa mesma posição por um período de 15 a 30 segundos de duração. Porém, a prática de protocolos de alongamento utilizados para treinar flexibilidade nem sempre são utilizados por atletas e praticantes de fitness no aquecimento.

Segundo Stevanovic et al. (2019), os procedimentos consistem na execução de uma série de exercícios unilaterais específicos, direcionados aos grupos musculares que serão envolvidos no treinamento. Geralmente, esses exercícios são realizados de maneira passiva até que o limite subjetivo de dor seja atingido, permanecendo na posição por um período de 15 a 30 segundos. Esse intervalo de tempo sugerido, permite que o músculo se adapte gradualmente à posição estendida.

            Para Aguilar A. J. et al. (2012), durações mais curtas de alongamento por músculo, dentro de um aquecimento, com uma duração em torno de 30s, são mais interessantes porquê não afetam negativamente o desempenho, especialmente se o atleta for mais treinado, em contrapartida, alongamentos estáticos mantidos por mais de 90s podem resultar em perda de força. Isso está relacionado à capacidade do músculo de manter a tensão após um período prolongado de alongamento, o que pode afetar negativamente o desempenho em atividades que requerem força máxima imediatamente após o alongamento.  

            Sendo assim, Sato et al. (2020), sugerem que protocolos de alongamento estático não são tão interessantes se comparados a outros métodos de alongamento devido a maior utilização de alongamentos dinâmicos e também devido aos estudos que demonstraram uma diminuição da força muscular por conta da duração prolongada. Entretanto, ele pode ser apropriado se aplicado de maneira correta, com durações mais curtas (de 15 a 30 segundos) e junto a protocolos específicos para um melhor desempenho no aquecimento.

            Por outro lado, Stevanovic et al. (2019) apontam que exercícios de flexibilidade dinâmicos são altamente recomendados para realizar antes do treino. Eles desempenham um papel crucial tanto no aspecto funcional quanto no fisiológico, sendo aplicáveis na preparação para atividades esportivas. De acordo com eles, os alongamentos dinâmicos têm o efeito de elevar a temperatura muscular, estimular a produção de energia, reduzir o acúmulo de lactato no sangue e nos músculos, além de promover a glicogenólise, a glicólise, podendo até mesmo resultar na degradação de fosfato de alta energia durante o exercício.

            Para Herda et al. (2013), esse tipo de alongamento envolve a repetida extensão dos músculos, o que pode resultar no aumento da temperatura das fibras musculares, na redução da viscosidade e no aumento da flexibilidade. Até o momento, existem informações limitadas sobre os mecanismos que explicam o aprimoramento da amplitude de movimento (ADM), e não se sabe ao certo se as mudanças na capacidade de tolerância ao estiramento são tão influentes quanto nas modalidades de alongamento estático e FNP.

            Jaggers et al. (2008) citam que os mecanismos pelos quais o alongamento dinâmico aprimora o desempenho muscular têm sido apontados como o aumento da temperatura muscular e corporal, possivelmente uma potenciação pós-ativação (PPA) no músculo estendido, resultante de contrações voluntárias do músculo antagonista, estimulação do sistema nervoso e/ ou diminuição da inibição dos antagonistas. Portanto, pode-se afirmar que o alongamento dinâmico pode aprimorar a capacidade de desenvolvimento de força rápida. Parte superior do formulário

            Sendo assim, para Servo et al. (2020) torna-se interessante se pensar na aplicação de um protocolo de alongamento dinâmico para ser introduzido durante o aquecimento da prática do CrossFit. Visto que, ao longo dos anos os alongamentos sofreram adaptações com relação à sua especificidade, onde alguns pesquisadores já retratam que essa especificidade dos exercícios de alongamento dinâmico em um aquecimento pode ser o fator crítico que permite melhorar o desempenho e terão efeitos adicionais em comparação com outros tipos de protocolos de alongamentos dinâmicos encontrado por outros autores.

            Neste tipo de alongamento durante o aquecimento, pode haver uma aplicação mais rápida da força durante o desempenho que será seguido. Pois esta descoberta se tornou valiosa dada à natureza crítica do tempo dentro de ambientes competitivos, visto que, dentro desses eventos atléticos o resultado pode ser decidido pela diferença de centésimos de segundo (Curry B.S et al., 2009).

            Sendo assim, para Langdown (2018), os programas de flexibilidade dinâmica devem envolver o corpo todo de forma que imite os movimentos específicos de cada esporte individual, englobando tanto os movimentos mais simples como os mais complexos. Esse protocolo pode ser realizado de 5 a 10 minutos antes do treino do dia. E para se desenvolver um programa de flexibilidade e mobilidade adequado ao esporte é importante uma análise dos movimentos necessários, tornando-se uma aplicação funcional e fisiológica à preparação de atividades esportivas.

4.7 Aquecimento Específico     

Alencar et al. (2010) explica que o aquecimento específico geralmente é o último procedimento de um aquecimento ativo, e que ocorre após a aplicação dos exercícios de mobilidade, justamente pela sua especificidade e introdução ao exercício físico principal. Como propriamente dito, ele serve para trabalhar partes específicas do corpo ou os tipos específicos de movimento de acordo com cada modalidade.

            Para Dantas (2003), ele consiste em um trabalho muscular localizado afetando de forma benéfica os mecanismos neurotransmissores, fazendo com que estes sofram um ensaio antecipando os movimentos a serem executados posteriormente, possibilitando uma intimidade prévia com estes movimentos.

            Com isso, a natureza das atividades dependerá da natureza do esporte ou dos exercícios a serem executados, como por exemplo, o treino de CrossFit, onde será composto por exercícios específicos de técnica para o que irá realizar posteriormente. Um bom aquecimento específico é fundamental para o WOD (Workout of the Day), que significa o treino do dia (Paine et al., 2010). Baptista e Brandão (2022) ainda complementam que, no CrossFit, geralmente os protocolos de treinamento envolvem o Warm Up, ou também aquecimento; exercícios específicos e de aprimoramento da técnica, conhecidos como Skills, para preparar o corpo para o WOD de forma adequada e evitar lesões durante a execução de algum movimento e os alongamentos finais.

4.8 CrossFit e sua metodologia

Segundo Kaiser et al. (2022), o CrossFit surgiu como um método de treinamento de alta intensidade no início dos anos 90, pelo treinador Grag Glasman. O objetivo é incentivar o praticante a desenvolver condicionamento físico amplo e inclusivo, preparando-o para enfrentar diversos desafios. No começo dos anos 2000, o termo CrossFit foi patenteado, tornando-se uma marca globalmente conhecida. Com duração entre 45 e 60 minutos, sua divisião de treinos se compõe em quatro fases: Warm up, Skill, Workout of the day (WOD) e os alongamentos finais. O Warm Up é o aquecimento, que tem como principal objetivo, elevar a temperatura corporal e preparar o corpo de forma geral para o que será trabalhado durante o treino do dia, a fim de se evitar lesões e promover a segurança da realização dos movimentos.

            O Skill é o momento dedicado à aprendizagem da técnica/tarefa e seu aprimoramento durante o treinamento, portanto, este momento é muito relevante para aluno e instrutor (Kaiser et al., 2022). 

            O WOD será a parte principal da aula e é onde o praticante será desafiado e deverá tentar superar os seus desafios. Podendo variar de 6 a 25 minutos, o WOD ainda pode ser dividido em modelos como: RFT (rounds for time), que significa por tempo; AMRAP (as many reps/rounds as possible) quando é feito o máximo de repetições ou rounds possíveis durante um determinado tempo e EMOM (every minute on the minute), que é um treino já pré-definido sobre quantas repetições serão feitas dentro de um minuto (Da Silva-Grigoletto et al., 2020).

            E o alongamento é efetuado após a conclusão do WOD para que o corpo volte a ‘calma’ e diminua a probabilidade de lesões (Ruivo; Anes-Soares; Ruivo, 2019).

Portanto, para Kaiser et al. (2022), para alcançar os objetivos estabelecidos, é crucial que o instrutor realize exercícios de mobilidade e estabilidade antes do WOD, visando proporcionar um treino seguro e eficaz para os praticantes. Eles ainda alertam que quando se é praticada a modalidade de forma incorreta e com um aquecimento ineficiente, os praticantes estão propensos a desenvolverem lesões, acompanhadas de dor, desconforto e até mesmo levando a incapacidade de continuar treinando.

            Kaiser et al. (2022) ainda complementam que é de extrema importância o conhecimento do instrutor sobre os aspectos fisiológicos que envolvem a elaboração dos exercícios de mobilidade e estabilidade, a fim de melhorar o desempenho do aluno já no pré-treino. Afinal, compreender sobre como o corpo funciona, especialmente com relação a esses dois componentes, é crucial para projetar programas de treinamento eficazes e seguros, refletindo numa melhor qualidade de vida. 

4.9 O perfil de lesões em praticantes de CrossFit.  

            O Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) sugere os benefícios do CrossFit, porém destaca o quão perigoso ele pode ser para o desenvolvimento de lesões. Afinal, ele é um programa de treinamento que leva o corpo ao extremo e, se houver a execução incorreta e excessiva dos exercícios, poderá acarretar em lesões musculoesqueléticas, lesões ligamentares e até rabdomiólise (Chachula et al., 2016; Dominski et al., 2018). 

            Para Dominski et al. (2018), há um grande crescimento da preocupação no meio científico com relação ao risco de lesões associadas ao CrossFit, devido à sua natureza intensa e repetitiva e quais requisitos técnicos necessários para uma maior segurança durante a prática da modalidade. Ele ainda elege os ombros como os mais afetados durante a prática, seguido pelas costas e as articulações dos joelhos. Outros estudos também citam as regiões dos punhos, coxas, pernas e pés como regiões que podem sofrer lesões, porém numa prevalência menor. Além disso, o sexo também tem relação com a prevalência de lesões, onde os homens apresentam maior risco para lesões em relação às mulheres, tendo em vista que elas consultam mais seus treinadores para dúvidas e supervisão quando comparado aos homens. E a presença de lesões prévias também está associada ao desenvolvimento de novas lesões.

            O ombro é a principal articulação acometida por lesões devido aos treinamentos de CrossFit. Esse resultado está relacionado à execução de alguns exercícios que vêm sendo considerados lesivos – como overhead squat, push press, kettlebel swing e snatch – por possuírem uma elevada amplitude de movimento do complexo do ombro, característica que pode aumentar o risco de lesão, visto que movimentos acima da linha articular do ombro predispõem a lesões devido à redução do espaço subacromial (Dominski et al., 2018).

            Segundo Weisenthal et al. (2017), os movimentos da ginástica olímpica na modalidade, revelam uma notável disparidade nas áreas corporais mais suscetíveis a lesões, sendo o ombro a região mais afetada frequentemente, representando mais de 41% das lesões entre os praticantes. A origem comum dessas lesões costuma estar ligada à redução da estabilidade escapulotorácica, o que também pode estar associado a desequilíbrios musculares, principalmente devido à fraqueza dos músculos serrátil anterior e trapézio fibras inferiores.

            Summitti et al. (2016) também são autores que apontam que os praticantes atribuíram exercícios de ginástica como principal causa de lesão, como o kipping pull-up, ring muscle-up, push-up e ring dip

            Dominski et al. (2018) ainda lembram que, além dos exercícios ginásticos, o CrossFit também incorpora exercícios derivados do levantamento de peso olímpico. Um exemplo notável é o overhead squat, um movimento que exige bastante da articulação do ombro devido às posições de flexão extrema, abdução e rotação interna, o que amplia o potencial de ocorrência de lesão.

            Portanto, devido à frequência significativamente alta de lesões no ombro identificada nos estudos, recomenda-se uma abordagem mais cautelosa em relação aos exercícios ginásticos e levantamento de peso tanto para os praticantes quanto para os profissionais que supervisionam a execução desses movimentos. Isso inclui a atenção especial a fatores como esforço excessivo e técnica inadequada, além de serem apontados pelos atletas como causas de lesões em 35 e 20% dos casos, respectivamente (Dominski et al., 2018).   

            Além disso, participantes com novas dores ou dores persistentes nas articulações relataram que, dos exercícios típicos do CrossFit listados, a dor nas costas foi mais agravada por levantamentos terra e kettlebell swing, a dor no joelho foi agravada principalmente por saltos na caixa (box jumps), e a dor no ombro e no cotovelo foi agravada pelo ring dips (Chachula et al., 2016).   

            Porém, Dominski et al. (2018) também ressaltam que, apesar do número de incidências de lesões no CrossFit, não há evidências de que a ocorrência de lesões seja maior no CrossFit do que em outros esportes em que esse índice se assemelha ao relatado em esportes como levantamento de peso, ginástica e rugby. Além disso, esses fatores estão diretamente associados a habilidade atlética, o número de horas de treino, a participação em competições e a supervisão do treinamento.   

4.10 Relação da flexibilidade e mobilidade articular com as lesões no CrossFit

Estudos apontam que quando o aluno possui uma boa mobilidade articular e estabilidade eles apresentam um menor índice de risco para lesões, principalmente aqueles que já sejam praticantes da modalidade há mais de um ano, visto que, através da consciência corporal adquirida, eles tenham um bom condicionamento físico e estejam preparados para execução dos exercícios (Kaiser et al., 2022).

            Servo et al., (2020) destaca queapesar de seus inúmeros benefícios à saúde, o Crossfit é uma modalidade de alta intensidade onde utiliza-se altas cargas, o que faz com que aumente o índice de lesões dentro do esporte. Além de sua metodologia utilizar constantemente movimentos repetitivos e de alta intensidade, através de corridas, saltos, exercícios ginásticos e do levantamento de peso olímpico (LPO).

            Para Silva (2017), o LPO, por exemplo, é um tipo de levantamento de peso olímpico usado como um tipo de treinamento do CrossFit. Ele também é usado em outras modalidades esportivas para desenvolver o desempenho físico, por ter um alto padrão de execução similar a outros esportes e ser praticado de um modo de intensidade altamente elevada e uma taxa de alta velocidade, além da força e a potência que são geradas mecanicamente durante a execução do movimento, aumentando a produção de força muscular no momento do treinamento. Tibana et al. (2015) ainda destacam que ele contém duas fases de movimento: o arranco (conhecido com snatch) e o arremesso, sendo este dividido em duas fases: clean e jerc. Esses tipos de movimentos são usados nos treinamentos para alunos e atletas que tem o objetivo de produzir uma certa potência com cargas leves ou pesadas, buscando uma alta performance do nível de aumento da força muscular.

            Entretanto, Everett (2015) explica que a falta de flexibilidade acaba provocando uma certa limitação da execução e técnica dos movimentos, provocando pressão sobre as articulações e gerando lesões graves. A amplitude articular é necessária para um bom desenvolvimento técnico e da força muscular. Vale ressaltar que a falta de flexibilidade e mobilidade dos tornozelos, quadril, coluna, ombro e punhos também podem limitar a execução deste exercício e gerar lesões.

            Para Florêncio et al. (2020) o agachamento deve ser feito com máxima amplitude, preservando a curvatura lombar, o que, se não for feito de forma consciente, poderá resultar num aumento da tensão no local e aumentar o risco para lesão.

Além disso, para Silvino (2022) é de extrema importância que o profissional de Crossfit utilize em suas aulas movimentos de flexibilidade e mobilidade articular dos MMII como estratégia de prevenção de lesões em articulações como joelhos e tornozelos, visto que, são articulações muito exigidas durante a execução do air squat, overhead squat, deadlift e medicine ball clean.

Sendo assim, pode haver uma diminuição desses riscos através de exercícios de mobilidade, visto que sua eficiência está diretamente relacionada à mobilidade articular, uma vez que, sua função é melhorar os padrões de movimento, auxiliando as articulações para a estabilização do corpo. Além disso, quando a estabilidade e força são priorizadas antes da mobilidade pode haver diminuição do desempenho e ineficiência do movimento (Silvino, 2022).

5 CONCLUSÃO

Desta forma, pode-se concluir que a flexibilidade e mobilidade podem desempenhar um papel fundamental na prevenção de lesões e aprimoramento do desempenho técnico e atlético no CrossFit, uma vez que, a depender desses componentes também, a execução técnica adequada é fundamental para o desempenho eficaz, fazendo com que o atleta suporte altas cargas em posições de grande amplitude articular de maneira mais segura.

Além disso, tendo em vista que as pesquisas são limitadas quando trata-se de flexibilidade e mobilidade dentro do CrossFit, é de extrema importância a preocupação do profissional em introduzir exercícios que melhorem a amplitude de movimento para um melhor desempenho atlético e, principalmente, prevenção de lesões. Afinal, essa prevenção, não está somente relacionada a impedir ou minimizar as disfunções que o atleta está propenso a desenvolver dentro do esporte, mas também, relacionada a impedir o surgimento de sequelas oriundas de alguma disfunção sofrida anteriormente, o que será de extrema importância para a manutenção da performance.

O CrossFit, por ser uma modalidade de alta intensidade e que exige o uso de altas cargas, necessita extremamente da flexibilidade para o sucesso atlético, resultando numa melhor eficiência dos padrões de movimento, além de refletir numa maior capacidade de recuperação do corpo após os treinos. Enquanto que a falta da flexibilidade e mobilidade pode limitar sua versatilidade e desempenho geral, sendo preocupante para o atleta e podendo causar lesões nas articulações.

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1 – Gestora Técnica da Alta Performance Assessoria e Consultoria;

2 – Docente da Universidade Estácio de Sá;

3 – Coordenador Acadêmico do Instituto Realizando Futuro;

4 – Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Programa de Pós-graduação em Ciências da Atividade Física, Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO); Laboratório de Pesquisas Clínicas e Experimentais em Biologia Vascular (BioVasc).