FISSURAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10202511


Karoline Silva de Souza¹
Larissa Maricato Lima²
Samara Marques Ferreira³
José Francisco Melara4


RESUMO 

A alvenaria estrutural tem sido usada em larga escala nos empreendimentos devido sua acessibilidade. Por se tornar cada vez mais comum, os profissionais precisam estar atentos aos detalhes para que a construção possa trabalhar da melhor forma em todo o seu tempo de vida útil. 

As fissuras em alvenaria estrutural podem ser causadas por fatores como: variação de temperatura, retração e expansão, sobrecargas, recalques de fundação, erro de projeto, ou reações químicas. 

Falaremos nesse projeto quais causas levam as alterações citadas que resultam em fissuras, analisando os fatores de risco que podem ser prevenidos se o projeto for realizado de forma correta. Levando em consideração não somente a construção em si, como também seus arredores, uso futuro do edifício, bem como a execução assertiva da obra. 

As consequências dessas manifestações patológicas são: perda de estanqueidade, perda de resistência, possíveis danos estruturais, tensões no edifício, dentre outros. Por isso é importante que a alvenaria seja projetada e executada de acordo com as normas técnicas, avaliando sempre as condições em que estão inseridos. 

Palavras-chave: Fissuras, manifestações patológicas, alvenaria estrutural. 

ABSTRACT 

Structural masonry has been used on a large scale in projects due to its accessibility. To become increasingly common, professionals need to pay attention to details so that the construction can work at its best throughout its useful life.  

Cracks in structural masonry can be caused by factors such as: temperature variation, shrinkage and expansion, overloads, foundation settlements, design errors, or chemical reactions.  

In this project we will talk about the causes of the changes that resulted in cracks, analyzing the risk factors that can be avoided if the project is carried out correctly. Taking into consideration not only the construction itself, but also its surroundings, the future use of the building, as well as the correct execution of the work.  

The consequences of these pathological manifestations are loss of tightness, loss of resistance, possible structural damage, deep damage to the building, among others. Therefore, it is important that the masonry is designed and executed in accordance with technical standards, always evaluating the conditions in which it is located. 

Key words: Cracks, pathological manifestations, structural masonry. 

INTRODUÇÃO 

A alvenaria é um sistema construtivo que consiste em um conjunto de peças que ligadas, formam um elemento vertical coeso. Na alvenaria estrutural, as paredes portantes, também chamadas de paredes estruturais, compõem a estrutura da edificação e distribuem as cargas uniformemente ao longo das fundações. 

Esse sistema construtivo vem se desenvolvendo ao longo dos anos, tornando-se mais seguro, econômico e rápido de ser executado. Os componentes da alvenaria estrutural foram desenvolvidos com o objetivo de serem os mais baratos, resistentes, duráveis e leve possíveis. No entanto, essa busca por materiais ideais também pode levar a problemas de falhas nas construções. 

Como as fissuras são uma das patologias mais comuns em alvenaria estrutural, a identificação delas ajuda a diagnosticar sua origem. Isso é fundamental para definir a melhor forma de recuperação da alvenaria. 

É importante que as alvenarias estruturais sejam projetadas e executadas de acordo com as normas técnicas minimizando o risco de fissuras, para manter a construção em boas condições com manutenção periódica, evitando possíveis manifestações patológicas.

JUSTIFICATIVA 

Com o objetivo de obter informações preliminares acerca de manifestações patológicas em construções residenciais, suas origens, bem como os procedimentos mais apropriados para sua correção, e empregar essas informações para realizar comparações com os dados a serem coletados no estudo de caso. 

Nesse contexto, por meio das características e do histórico de ocorrência, este artigo busca identificar as principais razões para fissuras em alvenaria estrutural no Residencial analisado, visando prevenir essa patologia que impacta a estética, o conforto e a segurança do usuário. Além disso, propõe ações corretivas que possam ser implementadas para solucionar tais problemas. 

OBJETIVOS 

OBJETIVO GERAL 

Consolidar os principais aspectos a serem considerados durante a construção de edificações utilizando alvenaria estrutural, apresentando as informações de forma acessível para facilitar a compreensão. 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

Expor a origem da alvenaria estrutural e suas características. 

Rever conceitos e definições relacionados às patologias das edificações e aos elementos constituintes. 

Classificar as alvenarias de acordo com as causas, subdividindo-as em subgrupos. 

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

CONTEXTO HISTÓRICO 

Conforme KALIL (2007), a alvenaria estrutural representa um sistema construtivo tradicional utilizado ao longo de milhões de anos. Inicialmente, blocos de rocha eram empregados como elementos de alvenaria; no entanto, a partir de 4.000 a.C., a argila passou a ser trabalhada, viabilizando a produção de tijolos. 

Devido ao limitado conhecimento sobre as características resistentes dos materiais e aos procedimentos racionais de cálculo, as primeiras construções conhecidas pela humanidade apresentavam grandes espessuras. Isso é evidente nas Pirâmides de Gizé (2550 a.C.) e no edifício mais recente, Monadnock Building (1891) em Chicago, cujas paredes estruturais no térreo têm 1,8 metros de espessura. 

Edifício Monadnock no Chicago (HOLABIRD e ROCHE (1983)) 

No Brasil, durante o período colonial, a utilização de alvenaria estrutural difundiu-se através de pedra, tijolo de barro cru e taipa de pilão. As técnicas construtivas evoluíram rapidamente a partir do Império, com o emprego de tijolos de barro cozidos, permitindo a construção de edifícios com maiores vãos, exemplificado pela Estação da Luz em São Paulo – SP (CAVALHEIRO, 1998). 

A alvenaria estrutural foi reconhecida como uma técnica construtiva normatizada apenas no final da década de 1960 (MOHAMAD, 2014). Ao longo dos anos, houve adaptações e desenvolvimentos no país, contando atualmente com diversas normas da ABNT para cálculo, execução e controle de obras onde esta tecnologia construtiva foi integrada com sucesso (SABBATINI, 2003). 

Em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, não é incomum a construção de edifícios habitacionais de 10 a 20 pavimentos em alvenaria estrutural armada. 

CONTEXTO SOCIOLÓGICO 

Conforme os dados revisados pela Fundação João Pinheiro, referentes ao ano de 2019, o déficit habitacional em todo o Brasil atinge 5,8 milhões de moradias. O estudo também aponta uma tendência de aumento no déficit (citação). Com o intuito de enfrentar o déficit habitacional no país e viabilizar a aquisição da casa própria para famílias de baixa renda, o governo federal instituiu, em 2009, o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). 

De acordo com a Portaria Nº 269, de 22 de março de 2017, as construtoras responsáveis pela produção dos edifícios devem aderir às especificações exigidas pela Caixa Econômica. Contando com orçamentos pré-definidos, essas construtoras buscam constantemente métodos construtivos mais econômicos, sendo a alvenaria estrutural a opção mais viável até o momento presente. Isso tem orientado o cenário brasileiro para um acelerado desenvolvimento e uma crescente evolução das técnicas e estudos relacionados à alvenaria estrutural. 

COMPONENTES DA ALVENARIA ESTRUTURAL 

BLOCOS 

Conforme apontado por Ramalho e Corrêa (2003), os elementos blocantes, enquanto integrantes da estrutura de alvenaria, detêm a primordial responsabilidade na determinação das propriedades de resistência do sistema. 

Para a edificação de estruturas em alvenaria, é necessário utilizar blocos que estejam em conformidade com as exigências estabelecidas pela NBR 6136, empregando procedimentos de vibro-prensagem. Tais blocos podem ser produzidos de maneira informal em canteiros de obra ou em fábricas que não atendem aos requisitos adequados. Eles são compostos por uma mistura de cimento Portland, agregados e água, devendo apresentar uma aparência homogênea e compacta, com arestas nítidas, isentas de trincas, e textura com aspereza apropriada para a aderência de revestimentos. 

A resistência do bloco é definida pelo parâmetro Fbk, sendo estabelecido um índice mínimo de 4,5 MPa para paredes internas e externas com revestimento, e um índice mínimo de 6 MPa para paredes externas sem revestimento. 

Conforme mencionado por Manzione, a empregabilidade de módulos caracteriza-se pelo emprego da coordenação modular, uma técnica que elimina o uso de blocos com dimensões especiais, diminuindo a complexidade na execução da obra e simplificando a atividade da mão de obra. 

Família de Blocos 14×39 (Tauil e Nese (2010)) 

Família de Blocos 19×39 (Tauil e Nesse (2010)) 

Família de Blocos 14×29 (Tauil e Nese (2010)) 

ARGAMASSA DE ASSENTAMENTO 

Segundo Bedin (2002), atua como um adesivo que conecta os blocos, desempenhando a função de transferir esforços entre eles e acomodar pequenas deformações do conjunto, faz com que a resistência se torne uma característica secundária. Conforme Manzione (2004) a resistência da argamassa deve ser da mesma ordem de grandeza da resistência do bloco. 

GRAUTE  

De acordo com Manzione (2004), o graute é um microconcreto de elevada plasticidade, cuja função principal consiste em aumentar a resistência à compressão da parede, por meio do incremento na seção transversal do bloco. Quando associado à presença de armaduras em seu interior, o graute também contrapõe os esforços de tração que a alvenaria, por si só, não seria capaz de suportar. 

Conforme destacado por Manzione (2004), a determinação da resistência do graute está diretamente relacionada à resistência do bloco. Recomenda-se que a resistência característica do graute seja duas vezes superior à resistência do bloco, considerando que a resistência característica do bloco se refere à área bruta, sendo que o índice de vazios para os blocos é comumente de 50%. 

ARMADURA 

As armaduras metálicas são empregadas em conjunto com o graute, tendo como finalidade contrapor os esforços de tração. A tensão gerada pelos esforços de tração deve ser compatível com a deformação da alvenaria, sendo adotadas tensões de magnitude bastante reduzida. 

DESENVOLVIMENTO 

CONCEITOS E DEFINIÇÕES SOBRE ALVENARIA 

Tauil e Nese (2010) caracterizam alvenaria como o agrupamento de elementos justapostos, aderidos em sua interface por meio de uma argamassa apropriada, constituindo um elemento vertical coeso. As alvenarias podem ser não armadas, armadas e protendidas. 

Esse conjunto coeso desempenha múltiplas funções, tais como o fechamento de espaços, suporte de cargas provenientes da gravidade, garantia de segurança, resistência a impactos, à ação do fogo, isolamento e proteção acústica dos ambientes, contribuição para a manutenção do conforto térmico, além de prevenir a entrada de vento e chuva no interior dos ambientes. 

“Alvenaria Estrutural é o método construtivo em que se utilizam as paredes da edificação para suportar as cargas, substituindo os pilares e vigas presentes nos sistemas de concreto armado, aço ou madeira” (ROMAN et al., 1999). 

Conforme Mazer (2008), a alvenaria estrutural pode ser categorizada de três maneiras distintas, a saber: 

Em relação ao sistema estrutural empregado: 

A) Alvenaria estrutural armada: neste método, os elementos estruturais resistentes contêm armaduras passivas de aço inseridas nas cavidades dos blocos e, posteriormente, são preenchidas com graute, entendido como um microconcreto de grande fluidez (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, S/D). 

B)Alvenaria estrutural não armada: nesse procedimento, os elementos resistentes são os próprios blocos, sem a presença de armaduras com funções estruturais. 

C)Alvenaria estrutural protendida: é o sistema estrutural no qual existe uma armadura ativa (protendida) no elemento estrutural resistente. 

D)Alvenaria estrutural parcialmente armada: neste sistema, alguns elementos estruturais resistentes são concebidos com armaduras passivas, enquanto outros não possuem armaduras. 

Todos esses sistemas mencionados empregam vergalhões de aço na junção entre paredes com o propósito de prevenir o surgimento de patologias. As figuras 8, 9 e 10 ilustram exemplos desses sistemas. Quanto ao tipo de unidade utilizada: 

A)Alvenaria estrutural de tijolos: quando o material empregado para a construção da alvenaria é o tijolo. 

B)Alvenaria estrutural de blocos: quando o material utilizado para a construção da alvenaria é o bloco. Quanto ao material utilizado: 

A)Alvenaria estrutural cerâmica: é aquela que utiliza blocos ou tijolos cerâmicos. 

B)Alvenaria estrutural de concreto: é aquela que utiliza blocos ou tijolos de concreto. 

As figuras 11 e 12 exemplificam blocos cerâmicos e de concreto. 

CLASSIFICAÇÃO DAS FISSURAS 

As manifestações patológicas nas edificações se dão por vários fatores, dentre eles: execução incorreta, material de baixa qualidade, falha de projeto, condições climáticas, falta de planejamento, dentre outros. 

Essas patologias atingem diretamente a alvenaria de uma construção pois ela intercepta vários outros serviços no edifício. Sendo então, necessário que a execução das outras frentes seja realizada de maneira correta, pois qualquer desvio pode gerar patologia na alvenaria. 

As fissuras são as patologias mais comuns encontradas na alvenaria, por muitas vezes são confundidas com trincas e rachaduras, abaixo está a definição de cada uma: 

  • Fissuras: até 1mm de espessura, não apresentam risco a estrutura da construção e sua abertura é superficial. 
  • Trincas: de 1 a 3mm de espessura, podem interferir na estrutura da construção. • Rachaduras: mais de 3mm de espessura, apresentam grandes riscos a estrutura sendo necessário iniciar uma ação para tratativa com urgência. 

Diferença entre fissura, trinca e rachadura 

As fissuras são sinais de que algo está errado com a edificação. O problema pode ser simples, como uma má impermeabilização, ou mais complexo, como um erro de projeto. 

CAUSAS DAS FISSURAS EM ALVENARIAS 

Segundo Duarte (1998, p 10) as fissuras são causadas por tensões de tração. Sua direção é ortogonal à direção do esforço de tração atuante, e estas podem ser causadas por esforços de compressão agindo em direção ortogonal, por esforços de cisalhamento ou por tração direta. 

Os esforços atuantes aplicados com frequência sob a alvenaria reduzem sua resistência, causando fadiga e gerando fissuras. Esses esforços estão associados a sobrecarga da construção, vibrações de equipamentos no interior do prédio, movimentação de terra próximo ao edifício etc. Por esse motivo próximo a patrimônios tombados o ideal é que não sejam feitas grandes obras, para que estes não tenham modificações físicas ou estruturais. 

FISSURAS CAUSADAS POR SOBRECARGA  

Fissuras resultantes de sobrecarga excessiva geralmente se manifestam na vertical. Isso ocorre devido às forças transversais de tração aplicadas nas unidades, resultantes do atrito na superfície das juntas de argamassa com a face maior dos tijolos. Em termos gerais, quando a argamassa é comprimida, ela se deforma mais do que os tijolos, o que tende a se expandir lateralmente, transmitindo tração lateral aos tijolos. Esse tipo de esforço lateral é o responsável pelas fissuras verticais. 

Fissuras verticais devido à sobrecarga de carregamento 

As fissuras horizontais por sobrecargas ocorrem pela ruptura por compressão dos componentes, da junta de argamassa ou dos septos dos tijolos e blocos de furos horizontais, em função de excessivo carregamento de compressão na parede ou por possíveis solicitações de flexocompressão (SAHLIN, 1971; THOMAZ, 1989). 

Desta forma, a qualidade e a resistência dos componentes utilizados na construção das alvenarias são determinantes, uma vez que a falha por esmagamento sob cargas de compressão ocorre devido à incapacidade dos materiais em resistir a tais solicitações. 

Fissura horizontal por sobrecarga 

FISSURAS CAUSADAS POR VARIAÇÃO DE TEMPERATURA, RETRAÇÃO E EXPANSÃO 

Conforme estipulado pela ABNT NBR 16868-1, é necessário incluir no projeto a instalação de juntas verticais destinadas ao controle de fissuração em elementos de alvenaria, para que evitem a ocorrência de fissuras decorrentes de variações de temperatura, retração, expansão, variação brusca de carregamento e alterações nas dimensões verticais ou horizontais da parede. 

Junta de controle em parede de alvenaria estrutural 

São necessários alguns cuidados no planejamento dessas juntas:  

  • Atentar para a retração dos blocos: Em blocos cerâmicos, a presença de umidade causa expansão. Um aumento de 1% na umidade pode resultar em uma expansão de 0,02% no material. Isso significa que um aumento de 1% na umidade irá resultar em um aumento de 0,2 mm a cada 1 metro de comprimento. E para os blocos de concreto a retração ocorre devido à perda de água durante o processo de secagem da alvenaria (água da argamassa e do grout), sendo indicado para minimizar os danos a cura a vapor, segundo Sanchez (2020). 
  • Considerar a exposição solar das fachadas: Segundo Ritcher (2007) as fissuras nas fachadas ocorrem devido à incidência de umidade por infiltração de chuvas. Ritcher também identifica que essas manifestações patológicas ocorrem preferencialmente nas proximidades dos topos das alvenarias, onde são menores os esforços de compressão oriundos do peso próprio da edificação. 

Corte na alvenaria podendo observar a movimentação da argamassa e do bloco 

  • Juntas em áreas úmidas e próximo às aberturas das janelas: Por estarem em contato constante com a água e também a incidência solar, a variação de temperatura pode causar fissuras na retração e expansão dos elementos. 

FISSURAS CAUSADAS POR RECALQUE DE FUNDAÇÃO 

Entre as manifestações patológicas observadas no sistema de alvenaria estrutural, as fissuras resultantes do recalque de fundação podem ser classificadas como as mais sérias. A manifestação e a progressiva intensificação dessas fissuras indicam a presença de um problema significativo na base estrutural. Com o passar do tempo, esse cenário pode acarretar riscos substanciais tanto para a integridade da edificação quanto para a segurança de seus ocupantes. 

Conforme mencionado por Thomaz (2001), as variações de recalque podem originarse por diversas razões, como ilustrado nas figuras a seguir: 

Execução de fundação em sessões de corte e aterro: 

Fundações em corte e aterro. 

Fissuras pela influência de fundações vizinhas: 

Encontro de bulbo de tensões gerado por fundações próximas. 

Solo heterogêneo no local da construção: 

Diferentes tipos de solos encontrados 

As fissuras originadas por recalque de fundação tendem a se posicionar próximo ao pavimento térreo na edificação, porém essas fissuras podem ocorrer nos pavimentos superiores, depende da gravidade e do tipo de construção. A depender do direcionamento do recalque, as fissuras podem se apresentar de variadas formas, como mostra a Figura 16. De modo mais amplo, as fissuras decorrentes por recalque, são inclinadas para o local onde ocorreu o maior recalque. Vários profissionais admitem fissuras a 45º a problemas da fundação (DUARTE, 1998; MARCELLI, 2007). 

Diferentes locais de recalque 

FISSURAS CAUSADAS POR REAÇÕES QUÍMICAS 

Fissuras predominantemente horizontais são ocasionadas por reações químicas, resultando na expansão da junta de argamassa devido a alterações químicas indesejadas (THOMAZ, 1989). 

Componentes ou elementos fabricados com cal hidratada inadequadamente, ao serem submetidos à umidade além de sua vida útil, podem apresentar um aumento de volume de aproximadamente 100%, caso os óxidos livres hidratem. Essa expansão pode resultar em fissuras, descolamento, desagregações e pulverulências nos revestimentos de argamassa. 

Essas fissuras manifestam-se ao longo das juntas horizontais da alvenaria, onde há maior concentração de argamassa, apresentando eflorescências. As fissuras horizontais são mais frequentes no topo das paredes, onde o peso próprio da alvenaria exerce menor influência, como pode ser visto na figura a seguir (Thomaz, 1989). 

Fissuras horizontais por expansão da argamassa causada por reações químicas (DUARTE, 1998). 

FISSURAS CAUSADAS POR DETALHES CONSTRUTIVOS 

As fissuras decorrentes de detalhes construtivos surgem devido a deficiências e erros na execução, negligenciando, por exemplo, as propriedades físicas dos materiais, impermeabilidade e estanqueidade das alvenarias e das construções. Elementos estruturais ancorados na parede, falta de fixação adequada entre elementos de materiais distintos e a ausência de projeto são algumas das causas das fissuras posteriores (MAGALHÃES, 2004). 

A madeira, ao absorver umidade do meio em que está inserida, apresenta deformações naturais, introduzindo tensões naturais e podendo ocasionar fissurações (DUARTE, 1998). 

Essas fissurações apresentam direções predominantemente verticais, conforme ilustrado na figura. 

Fissuras verticais em parede de alvenaria por dilatação de tesouras de madeira (DUARTE, 1998). 

Paredes de alvenaria construídas com falta ou insuficiência de amarração podem resultar em fissuras verticais nestes pontos. A amarração deve ser realizada entre os tijolos e blocos que constituem as paredes e entre as paredes contíguas. Geralmente, a amarração é alcançada por meio do entrelaçamento geométrico dos tijolos ou blocos, ou pela inserção de elementos metálicos nas juntas de argamassa durante o assentamento, assegurando sua devida amarração. 

A ausência adequada de amarração entre os componentes ou entre as paredes pode resultar no surgimento de fissuras verticais 

MATERIAIS E METÓDOS 

A escolha do tema deste trabalho decorreu da elevada incidência de patologias em construções, resultantes de deficiências no projeto e na execução, utilização inadequada da edificação, ausência de manutenção, entre outras causas. Ademais, é relevante destacar que esta pesquisa contribui para a segurança da população em geral e para a implementação de intervenções visando corrigir as patologias. 

RESULTADOS  E DISCUSSÃO 

Em síntese, ressalta-se que a resolução de qualquer sinal de patologia é possível, contanto que a origem seja identificada e o tratamento seja conduzido com um padrão técnico satisfatório. Nesse contexto, a conclusão é que as evidências de patologia implicam riscos para a segurança dos usuários da edificação. Portanto, é aconselhável que todas as etapas da construção sejam realizadas por empresas ou profissionais capacitados, que estejam familiarizados com os procedimentos normativos de projeto e execução de obras, bem como os padrões técnicos inerentes à atividade. No caso de manifestações patológicas na obra, é recomendável que o profissional ou a empresa empregue todas as ferramentas disponíveis e conhecimento técnico para identificar e propor soluções de intervenções/recuperações. 

CONCLUSÃO 

Em resumo, a qualidade dos materiais empregados durante a execução da edificação está diretamente relacionada à resistência da alvenaria estrutural. A presença de fissuras, desencadeadas por reações químicas, resulta da expansão da junta de argamassa devido à alteração química de seus componentes. Em outras palavras, a utilização de materiais de qualidade duvidosa compromete o sucesso da edificação, tornando-se um fator gerador de patologias. 

Outro ponto crucial para prevenir manifestações patológicas é a qualidade da mão de obra. Falhas comuns, como falta de prumo, preenchimento inadequado das juntas e grauteamento incorreto, evidenciam a falta de capacitação da mão de obra empregada na alvenaria estrutural. Nesse contexto, o treinamento da mão de obra torna-se imperativo nesse processo construtivo emergente. O engenheiro não deve apenas fiscalizar a execução do serviço, mas também fornecer informações sobre o processo construtivo aos seus colaboradores, orientando o manuseio dos materiais e equipamentos, a ergonomia das atividades e as possíveis causas de patologias. 

Na alvenaria estrutural, a compatibilização dos projetos é igualmente essencial, uma vez que a falta dessa integração figura como um dos principais motivos para as manifestações patológicas. Em outras palavras, as decisões tomadas pelos projetistas nas fases iniciais determinam o sucesso ou o fracasso da implementação desse sistema construtivo. Ressalta-se que essa prática não é amplamente adotada em empresas de pequeno porte. 

As fissuras resultantes do recalque de fundação apontam para um fenômeno patológico que coloca em risco a segurança dos usuários. Geralmente localizam-se próximas ao pavimento térreo, podendo, em determinados casos, atingir os pavimentos superiores. Apresentam variação na abertura ao longo do comprimento onde ocorreu o recalque diferencial, assumindo configurações diversas devido à relação com o tipo da edificação e à presença de aberturas. 

Fissuras originadas por carregamento excessivo de compressão são geralmente verticais, embora possam manifestar-se em outras direções devido à presença de aberturas nas alvenarias. Frequentemente, quando isso ocorre, há uma tendência da fissura de se inclinar em direção ao canto da abertura. Além disso, fissuras horizontais provenientes de carregamento uniformemente distribuído também podem surgir nas edificações. 

As movimentações causadas nos componentes e elementos da edificação sujeitos a variações de temperatura assumem diversas configurações. No entanto, as fissuras típicas são horizontais e geralmente ocorrem próximo à laje, que é a zona de maior incidência de radiação solar. Quando essas aberturas ocorrem de forma transversal às lajes, as fissuras apresentam inclinações de aproximadamente 45°, sendo erroneamente diagnosticadas, por vezes, como recalque de fundação. 

Reações químicas podem provocar fissuras na alvenaria com configurações predominantemente horizontais, especialmente em fachadas, devido à maior exposição à umidade nessas regiões da edificação. 

Fissuras decorrentes de retração ocorrem devido a movimentações de elementos construtivos à base de cimento e independem das ações de cargas externas. Geralmente, manifestam-se nos últimos pavimentos, associadas à variação de temperatura, mas podem ocorrer em diversas partes da alvenaria. Suas configurações típicas incluem formas de mapa, fissuras verticais ou horizontais. 

Embora seja impossível construir edificações completamente livres de fissuras, medidas preventivas simples podem ajudar a minimizar o problema. O reconhecimento do comportamento dos componentes das edificações, a execução dos projetos, a previsão de sobrecargas, podem mitigar os problemas e evitar fissuras. Conclui-se que o conhecimento sobre as causas das fissuras é essencial para a prevenção e o reparo de falhas. A cautela na elaboração do projeto, especificação e utilização dos materiais, na execução e no uso da estrutura diminui consideravelmente problemas estruturais futuros. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO. Sistema construtivo: Alvenaria estrutural. Disponível em: http://www.comunidadedaconstrucao.com.br/. Acesso em 16/10/2023 DUARTE, R. B. Fissuras em alvenarias: causas principais, medidas preventivas e técnicas de recuperação. Porto Alegre: CIENTEC, 1998. (Boletim Técnico, 25). MAGALHÃES, E. F. Fissuras em alvenarias: Configurações típicas e levantamento de incidências no Estado do Rio Grande do Sul, 2004. Dissertação (Mestrado Profissionalizante) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 

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