FISIOTERAPIA VOLTADA À INCAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10078141


Juliana Da Silva De Jesus1
Ronney Jorge De Souza Raimundo2


RESUMO

O idoso com Doença de Alzheimer (DA) apresenta um comprometimento no desempenho de suas atividades da vida diária, o que impacta diretamente na sua autonomia e segurança. Porém, a fisioterapia oferece tratamentos eficazes para reduzir o déficit da funcionalidade desses pacientes. Objetivo: Descrever as intervenções fisioterapêuticas que auxiliam no tratamento da deficiência funcional de idosos com DA. Metodologia: Revisão de literatura com abordagem qualitativa. A busca do material bibliográfico deu-se por meio dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Doença de Alzheimer, idoso com deficiência funcional, modalidades fisioterápicas, em periódicos da área da saúde publicados nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e em sites governamentais. Resultado: Foram encontradas 160 publicações, das quais 144 artigos na SciELO, 11 na BVS, 3 na CAPES e 2 textos em sites do Ministério da Saúde. Foram selecionados 16 artigos que farão parte da discussão. Conclusão: Identificou-se a eficácia da fisioterapia no tratamento dos idosos com DA. Exercícios que estimulam cognição, equilíbrio, força muscular, capacidade aeróbica, coordenação motora, mobilidade, de acordo com o estágio da doença, são fundamentais no tratamento.

Palavras-chave: Envelhecimento; Doença de Alzheimer; Incapacidade funcional; Fisioterapia.

ABSTRACT

Elderly people with Alzheimer’s Disease (AD) generally have impaired performance of their activities of daily living, which has a direct impact on their autonomy and safety. However, physiotherapy offers effective treatments to reduce these patients’ functional deficits. Objective: To describe the therapeutic interventions that help treat functional impairment in elderly people with AD. Methodology: Literature review with a qualitative approach. The bibliographic material was searched using the Health Sciences descriptors (DeCS): Alzheimer’s disease, elderly with functional impairment, physiotherapy modalities, in health journals published in the Scientific Electronic Library Online (SciELO), Virtual Health Library (BVS), Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES) databases and on government websites. Result: 160 publications were found, including 144 articles in SciELO, 11 in the VHL, 3 in CAPES and 2 texts on Ministry of Health websites.  16 articles remained for discussion. Conclusion: The effectiveness of physiotherapy in treating the elderly with AD was identified. Exercises that stimulate cognition, balance, muscle strength, aerobic capacity, motor coordination, mobility and, according to the stage of the disease, are fundamental in the treatment.

Keywords: Elderly; Alzheimer’s Disease; Functional capacity; Physiotherapeutic interventions.

1 INTRODUÇÃO

A perspectiva de aumento de vida vem se tornando uma realidade mundial, já que a taxa de fecundidade apresenta declínio e a taxa de mortalidade vem baixando, mostrando um cenário com menos crianças e mais idosos. A longevidade é considerada uma das principais conquistas da humanidade no século passado. Até o ano de 2050, o número de pessoas com cem anos ou mais, no mundo, deverá aumentar quinze vezes. O Censo de 2010 apontou que a cada 30,7 idosos, o país tinha 100 jovens até 14 anos. De acordo com o Censo 2023, o Brasil tem 55 idosos para cada 100 jovens (IBGE, 2023).

Sendo assim, conforme Costa et al. (2021), o percurso de vida passou a representar novos desafios para os países em desenvolvimento, carentes de ações efetivas para garantir a qualidade de vida dos idosos. A grande dificuldade está em distinguir os idosos sadios (senescentes) dos idosos com patologias (senis). Dentre as patologias, a demência é impactante para o idoso, sua família e a sociedade. 

Costa et al., (2021) esclarece que, com o envelhecimento, ocorrem perdas celulares que levam a um prejuízo cognitivo, porém, esse fato não significa necessariamente demência. Apesar dos idosos apresentarem esquecimento à medida que a idade aumenta, muitos com mais de oitenta anos conservam total lucidez, o que leva ao entendimento de que, embora a probabilidade da DA aumente com a idade, a velhice, por si só, não provoca o mal.

A DA é um tipo de demência caracterizada por uma deterioração cognitiva gradual, que inclui perda de memória e desorientação temporal e espacial. A DA não apenas impacta a esfera cognitiva dos indivíduos, mas também compromete sua capacidade funcional de forma significativa (SOARES et al., 2023).   

Dados estatísticos alarmantes destacam a crescente prevalência da DA em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS), estima a existência de aproximadamente 50 milhões de pessoas vivendo algum tipo de demência e esse número tende a aumentar consideravelmente nas próximas décadas, já que projeções indicam que esse quadro poderá triplicar até 2050 (OMS, 2021). A Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ) calcula que, no Brasil, haja aproximadamente 1,2 milhão de casos de DA, sendo que grande parte desses pacientes ainda não tem a confirmação do diagnóstico, pois no começo essa demência é erroneamente conhecida como “caduquice” (ABRAZ, 2023).

Por ser a DA uma das principais causas de incapacidade em idosos, impondo consideráveis custos sociais e econômicos relacionados aos cuidados de saúde e ao suporte dos cuidadores, entende-se que a preservação da capacidade funcional pode aliviar o fardo das famílias e do sistema de saúde. Além disso, a independência funcional está diretamente ligada à qualidade de vida do paciente bem como à dos seus cuidadores (SANTOS, 2020).

A fisioterapia oferece intervenções terapêuticas que não se limitam apenas aos aspectos motores, mas também consideram os desafios cognitivos e comportamentais enfrentados pelos indivíduos com DA, proporcionando uma abordagem integral de cuidado.

O meu interesse por esse tema justifica-se por querer entender melhor como a atividade física sistematizada contribui para melhorar as funções cognitivas e o declínio motor. A revisão de literatura trará esclarecimentos sobre as melhores intervenções terapêuticas para melhorar a capacidade funcional dos idosos com DA. Dessa forma, o estudo é um auxílio ao profissional fisioterapeuta no conhecimento da correta intervenção a ser realizada.

O objetivo geral a ser alcançado é descrever as abordagens e intervenções fisioterapêuticas mais eficazes para preservação e recuperação da capacidade funcional de idosos com DA. Os objetivos específicos são: explorar a fisiopatologia e os estágios da DA; apresentar abordagens fisioterapêuticas para tratar os déficits motores e cognitivos do idoso com DA.

Sendo assim, esse estudo buscará respostas para a seguinte questão: Quais as intervenções fisioterapêuticas mais eficazes para tratar a incapacidade funcional em idosos com DA?

2 METODOLOGIA

Esse estudo é uma revisão de literatura com abordagem qualitativa. Nesse delineamento metodológico, publicações anteriores sobre o assunto oferecem aos estudantes pesquisadores o contato direto com tudo que já foi desenvolvido. Os resultados das pesquisas são narrados, discutidos e sintetizados e o tema pode ser estudado sob outro ponto de vista (SAMPIERE; COLLADO; LÚCIO, 2006).

Buscou-se o material bibliográfico em periódicos da área da saúde publicados nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Também se pesquisou em sites de instituições governamentais como o Ministério da Saúde. O acesso deu-se por meio dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Doença de Alzheimer, idoso com deficiência funcional, modalidades fisioterápicas.

Os critérios de inclusão previamente definidos ajudaram na seleção dos artigos para o estudo: incluir estudos publicados no período entre 2018 e 2023, textos disponibilizados na íntegra e com acesso gratuito ao site de busca, publicações no idioma português que abordassem de forma ampla o tema proposto. Como critérios de exclusão foram considerados:  publicações anteriores ao ano de 2018; artigos que apresentavam só o resumo, as publicações com acesso pago, os escritos em outro idioma que não fosse o português.

Na SciELO, foram encontrados 144 artigos; na Biblioteca Virtual da Saúde, 11; na CAPES, 3; e 2 textos em manuais do Ministério da Saúde. A primeira seleção ocorreu com a leitura de todos os títulos, selecionando-se aqueles que evidenciassem pelo menos um dos descritores.Aplicando-se os critérios de inclusão e exclusão, restaram 42 (quarenta e duas) publicações. Após leitura dos resumos, selecionou-se 22 (vinte e dois) textos avaliados como importantes para alcançar o objetivo. Fez-se a leitura cuidadosa e atenta dos artigos em sua totalidade, excluindo-se os estudos que abordavam de maneira insuficiente o tema. Nessa última etapa, foram selecionadas 16 (dezesseis) publicações as quais farão parte da discussão sobre as modalidades fisioterapêuticas no tratamento da incapacidade funcional do idoso com DA. Para dar mais clareza, o fluxograma a seguir mostra o processo de seleção dos artigos:

3 REFERECIAL TEÓRICO

3.1 DOENÇA DE ALZHEIMER

A ideia de demência como diminuição progressiva das faculdades mentais começou a ser desenvolvido no início do século XX, quando um grupo de estudiosos, do qual participava o neurologista alemão Aloïs Alzheimer, descobriu as placas senis e os emaranhados neurofibrilares que definem atualmente a demência, associados à desorientação temporal e espacial (BITENCOURT et al., 2018).

Uma paciente de Alois Alzheimer foi internada em 1901, aos 51 anos, em uma instituição para doentes mentais. De acordo com o marido da paciente, ela vinha apresentando delírios de perseguição, ciúme excessivo, desorientação no tempo e no espaço, déficits de memória e problemas de fala. Quando ela morreu, aos 55 anos, Alzheimer requisitou o prontuário e o cérebro para exames patológicos e detectou um problema nos neurônios que pareciam atrofiados em várias áreas cerebrais, com placas estranhas e fibras retorcidas enroscadas umas nas outras e concluiu, então, que o fenômeno ocorria no cérebro de idosos. A presença desses emaranhados neurofibrilares na região do córtex frontal e do hipocampo, áreas responsáveis pela memória, explica o desenvolvimento da DA (BITENCOURT et al., 2018; SILVA; LESSA; ARAÚJO, 2021).

Após os estudos do neurologista alemão, a doença cujo nome Doença de Alzheimer foi utilizado pela primeira vez em 1910, ficou esquecida até a década de 60, já que não havia interesse nem recursos financeiros para pesquisar males da velhice. Com o aperfeiçoamento da gerontologia, a partir da segunda metade do século XX, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, o idoso passou a ser estudado em todos os seus aspectos (SILVA; LESSA; ARAÚJO, 2021).

As alterações cerebrais iniciam antes do aparecimento dos sintomas. A DA começa na região do hipocampo e invade outras áreas que influenciam na cognição e atinge as funcionalidades básicas. Nesse momento, o tratamento é bastante eficaz, mas de início essas atitudes do idoso são confundidas com envelhecimento normal, “caduquice”, e o tratamento começa tardiamente. Depois, aparece a deterioração das funções cognitivas, chegando ao estado vegetativo num período de aproximadamente 10 a 15 anos após os primeiros sintomas (SILVA et al., 2018; BITENCOURT et al., 2018). 

A causa da DA é desconhecida, mas acredita-se que seja geneticamente determinada, porém sem transmissão genética direta a todas as gerações. Pode que seja transmitida a predisposição à doença e, junto a outros fatores de risco, o idoso poderá ou não desenvolvê-la.

O principal fator de risco é a idade. A prevalência aos 60 anos é de 1%; a cada 5 anos, dobra; sendo assim, 30% a 40% dos idosos com mais de 85 anos podem desenvolver DA (SILVA; LESSA; ARAÚJO, 2021).

A comunidade médica segue um padrão de evolução dos sintomas em 3 (três) estágios, conforme o grau de dependência e o nível de comprometimento cognitivo: inicial, intermediário e avançado. Apesar de não haver uma delimitação exata entre os estágios, os pacientes apresentam determinadas características que permitem localizar o avanço da doença (MADUREIRA et al., 2018; SILVA et al., 2018).

O estágio inicial é caracterizado por déficits na memória recente e diminuição no desempenho das atividades diárias, embora as realize com independência. Descuida-se com a aparência, sai de casa para ir à igreja, por exemplo, anda por um tempo e esquece o motivo de ter saído. É possível também que o seu desempenho em leitura vá ficando deficiente, grave muito pouco do que lê e ouve, o que faz com que repita várias vezes a mesma pergunta (MADUREIRA et al., 2018).

No estágio intermediário da DA, a perda da memória se acentua e o paciente passa a apresentar dificuldade em reconhecer pessoas, em lembrar dos nomes de membros da família, do número do telefone e do seu endereço. Torna-se agressivo e incapaz de exercer julgamentos e autocensura. Não consegue compreender as situações de risco, cuidar das finanças pessoais, fazer compras, tomar decisões e planejar atividades sequenciais. Nessa fase, ele precisa do auxílio de cuidadores, pois não consegue executar atividades cotidianas como tomar banho, alimentar-se, vestir-se. Esquece os nomes de objetos comuns, diz coisas que não fazem sentido, não encontra a palavra adequada para expressar opinião, não compreende as conversas de outras pessoas. Iniciam-se as dificuldades motoras com prejuízo na marcha (MADUREIRA et al., 2018; BITENCOURT et al., 2018).

No estágio avançado da doença, o paciente não reconhece as pessoas próximas, depende totalmente de um cuidador devido à intensidade das alterações cognitivas. A capacidade intelectual, a iniciativa e a fala estão deterioradas, tem alucinações, ora irrita-se facilmente ora torna-se apático e emudece. Não reconhece parentes, amigos e locais próximos. Geralmente acamado, necessita de cuidadores em horário integral. Entretanto, os distúrbios neuropsiquiátricos são apontados como o problema maior, já que diminuem a qualidade de vida do paciente que, nessa fase, está preso ao leito ou à poltrona até atingir o estado vegetativo. O tempo em que permanece no leito favorece as infecções pulmonares, a pneumonia por aspiração, a embolia e patologias relacionadas à dependência (MADUREIRA et al., 2018; BITENCOURT et al., 2018).

Para apoiar a hipótese diagnóstica, avalia-se o histórico neuropsicológico do paciente associado a exames de imagem e laboratoriais que têm como objetivo excluir outras patologias, pois nenhum deles é conclusivo para o diagnóstico da DA, embora pesquisas tenham trazido avanços. Testes para avaliar o funcionamento cognitivo e anamnese detalhada permitem ao médico suspeitar da DA. Por ser de presunção clínica, já que a formação de placas senis e emaranhados neurofibrilares só é confirmada através de autópsia, a percepção da família é fundamental para o diagnóstico (GLISOI; SILVA; GALDURÓZ, 2018; CIRQUEIRA, 2023).

Quanto aos tratamentos, uma das alternativas é o farmacológico; porém, apresenta pouco resultado e causa efeitos colaterais graves. Sendo assim, usa-se tratamentos não farmacológicos para reduzir/retardar os declínios cognitivos e motores, muitas vezes associado ao farmacológico. A prática de exercícios fisioterápicos voltados à melhora motora promove também a melhora da função cognitiva (GLISOI; SILVA; GALDURÓZ, 2018; MARINHO, 2020).

Os idosos com DA são assistidos por equipe multidisciplinar que atua com atividades físicas, estimulação cognitiva e fisioterapia para conservar ou retardar as funções cognitivas e as capacidades funcionais. Os profissionais da equipe, antes de começar as intervenções fisioterapêuticas, avaliam a capacidade funcional e a função cognitiva.

3.2 A INCAPACIDADE FUNCIONAL EM IDOSOS COM DA

A capacidade funcional do idoso é a habilidade em realizar as atividades cotidianas com independência e decisão: banhar-se, vestir-se, alimentar-se, dentre outras. A progressão da DA favorece deficiências na flexibilidade, agilidade, força, equilíbrio, o que afeta diretamente a capacidade funcional mesmo no estágio mais leve da doença, segundo Trevisan, Knorst e Baptista (2022).

O tratamento depende dos sintomas e limitações de cada idoso, por isso as intervenções fisioterápicas devem ser personalizadas. Para que haja um tratamento individualizado, antes e durante, testes são usados para verificar o grau e a evolução do paciente. No início da doença, precisa ser avaliada a força muscular, as alterações posturais, a capacidade pulmonar e, com mais cautela, avalia-se a coordenação motora, o equilíbrio, a marcha e a imagem corporal (DIAS et al., 2020).

O Índice Barthel está entre os testes mais usados para medir o nível de independência do idoso quanto à mobilidade e cuidados pessoais (MARINHO, 2020).

Pode ser usado o Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer, cujas questões, com a ajuda dos familiares ou cuidadores, detectam o desempenho em certas funções: controle do próprio dinheiro, fazer compras, cuidar da própria medicação, acender e apagar a chama do fogão, lembrar dos compromissos (CASTILHOS et al., 2019).

Para avaliar a função cognitiva, utiliza-se testes neuropsicológicos, por exemplo, o Mini Exame do Estado Mental (MEEM), questionário que rastreia as perdas cognitivas. Mede funções incluindo aritmética, memória e orientação (BITENCOURT et al., 2018).

A Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) é bastante aplicada para verificar o equilíbrio e o risco de quedas. O Timed Up and Go (TUG) avalia o tempo de reação e de movimento e a velocidade com que a tarefa é executada. Para Santos, Gonçalves e Banini (2022), o TUG é um teste fácil de executar, de baixo custo e bastante eficácia para verificar o equilíbrio funcional.

3.2.1 INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS E A INCAPACIDADE FUNCIONAL

A intervenção fisioterapêutica em pacientes idosos com DA tem como objetivo principal retardar o avanço da doença observando-se o estágio da doença de maneira individual. Após compreender os diferentes níveis de limitações funcionais, poderão ser prescritas abordagens interdisciplinares, visando preservar ou reduzir as limitações físicas, cognitivas e emocionais (SILVA et al., 2018).         

A fisioterapia, inicialmente realizada 2-3 vezes por semana, exerce um papel importante em cada fase da doença. Na fase inicial, exercícios aeróbicos preservam a força muscular, o equilíbrio e a coordenação. A cinesioterapia, nessa fase, previne complicações cardíacas, articulares e respiratórias. Os exercícios respiratórios melhoram o equilíbrio, aumentam a capacidade pulmonar, evitam acúmulo de secreção e reduzem o risco de pneumonia. Os exercícios em grupo enquanto conversam: caminhada, hidroginástica, Pilates, bicicleta por, no mínimo, 30 minutos, melhoram a função respiratória e a memória, pois a atrofia do hipocampo cerebral pode ser reduzida. Todos esses exercícios também servem para que o paciente diminua a ansiedade (SILVA, 2018; MACHADO et al., 2021).

O risco de quedas pode ser afastado pelo fortalecimento muscular dos membros superiores e inferiores para melhorar o equilíbrio. O Treinamento Físico Multimodal (TFM) melhora as funções cognitivas e a força muscular nos membros inferiores (SILVA et al., 2018).

Na fase intermediária, pode haver sérias deficiências motoras, logo os exercícios fisioterapêuticos devem assemelhar-se às atividades diárias para aumentar a atividade intelectual e motora e incentivar a independência. Por exemplo, caminhada com algo na cabeça para treinar o equilíbrio, andar de lado, agachamento encostado à parede, movimentos de corpo com bambolê.  Para evitar o cansaço, podem ser realizados em domicílio, com o auxílio de um cuidador, várias vezes por dia (MACHADO et al., 2021).

No estágio avançado, se o idoso estiver acamado, a fisioterapia deve ser diária, com fisioterapeuta, para evitar a perda da massa muscular, dores e dificuldades com a higiene. Podem ser usados recursos fisioterapêuticos como: TENS, ultrassom, infravermelho. Silva et al. (2018) acrescentam que a fisioterapia auxilia nos cuidados com a rigidez muscular por meio de exercícios de amplitude de movimentos e alongamento da musculatura para prevenir as úlceras de decúbito (escaras).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para melhor entendimento, apresenta-se os artigos selecionados para atender o objetivo do estudo, na Tabela 1, em ordem cronológica, informando o ano da publicação, autores, título, objetivo e conclusão de cada estudo.

Tabela 1 – Material bibliográfico

Fonte: Pesquisa da autora (2023).

Todos os estudos defenderam que os idosos com DA podem beneficiar-se muito com a fisioterapia e descreveram o trabalho de equipe multidisciplinar como fundamental.

De acordo com Costa et al. (2021), as intervenções fisioterapêuticas para idosos com DA dependem da estimulação cognitiva que pode ser alcançada com jogos de memória, palavras-cruzadas, quebra-cabeças, o que corrobora os resultados da pesquisa de Dias et al. (2020), onde alguns exercícios propostos eram executados erroneamente ou com dificuldade por não compreenderem a execução. As atividades cognitivas não servem apenas para estimular o cérebro, mas também resultam em uma sensação de realização para o paciente, promovendo uma melhora geral na autoestima e um bem-estar físico e emocional, importantes para vencer os desafios diários.

As intervenções fisioterapêuticas necessitam da contribuição e participação ativa tanto dos familiares quanto dos cuidadores. O esforço coletivo entre a equipe multidisciplinar, paciente, familiares e cuidadores é indispensável para alcançar os resultados desejados da fisioterapia, pois são eles que manterão a continuidade do cuidado nas atividades no domicílio. Essa união enriquece a qualidade das intervenções e proporciona um ambiente de apoio contínuo.                             

A complexidade de distinguir condições cognitivas na DA, de outros sintomas, é destacada por Cirqueira et al. (2023) em suas pesquisas. O processo diagnóstico não é uma tarefa simples, pois encontra diversos desafios para diferenciar a DA de outros distúrbios cognitivos. No entender de Silva (2021), com a ajuda de tecnologia avançada de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional e a Tomografia por emissão de Pósitrons (PET), temos agora uma compreensão incomparável das alterações cerebrais associadas à DA.

Machado et al. (2021) apresentaram uma forma diferente de abordagem fisioterapêutica com abordagens lúdicas como: jardinagem, leitura de jornais, dança, musicoterapia, participação regular da vida social e até trabalhos domésticos.

Atividades fisioterapêuticas de alongamento, fortalecimento muscular, equilíbrio e marcha com idosos com DA foram utilizadas em pesquisa de Castilho Jr. et al. (2019). Comparando os resultados na pré e na pós intervenção, houve melhora significativa na marcha e no uso da toalete e os pacientes mostraram-se mais ativos e independentes do que no início.

Dias et al. (2020) aplicaram um protocolo de intervenções fisioterapêuticas dividida em 3 fases: preparatória, ativa e de desaquecimento. A 1ª fase continha atividades de alongamento, mobilidade e flexibilidade articular. A fase ativa envolvia equilíbrio, coordenação motora, força muscular, mobilidade de tronco e braços e duplas tarefas para cognição. No desaquecimento, exercícios de relaxamento, de expressão facial, respiratórios e automassagem facial. Houve avanço tanto na função psicomotora quanto no desempenho motor, logo, as intervenções foram benéficas para a saúde funcional, mobilidade e redução dos riscos de quedas.

Silva, Lessa e Araújo (2021) comentaram que a DA atinge mais as mulheres. Os últimos censos mostraram que a longevidade é maior na população feminina, fenômeno conhecido como “feminização”. Para Dias et al. (2020), as diferenças de gênero expressas no comportamento (a mulher procura atendimento médico mais vezes) interferem no diagnóstico precoce das doenças e na mortalidade.  Diferentemente de todos os estudos analisados, Silva, Lessa e Araújo (2021) encontraram outros motivos para que a DA atinja mais mulheres. Para os autores, o fator genético é responsável por mais de 20 genes associados à DA. O fator APOE é o fator de risco mais forte e a mulher que apresenta o APOE4 é mais propensa a desenvolver DA.

Duzentos e cinquenta e seis fisioterapeutas foram convidados por Trevisan, Knorst e Baptista (2022) para participarem de estudo sobre o objetivo da fisioterapia nos cuidados com pacientes com DA. A alternativa mais citada foi “retardar a progressão das perdas motoras”. Em nenhum momento foi citado que a intervenção terapêutica é específica para cada fase, o que exige condutas personalizadas da equipe multidisciplinar, embora essa classificação em fases dependa da avaliação dos sintomas que limitam cada uma das fases e da subjetividade do médico, da família e dos cuidadores.

Glisoi, Silva e Galduróz (2018) acreditam que a melhora alcançada pela prática do exercício físico já predispõe o idoso à melhora da função cognitiva.   

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grande desafio para cuidar dos pacientes idosos com DA é a incorporação de novos tratamentos e o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar que, devido ao alto custo, não estão ao alcance de todas as famílias em razão da complexidade do sistema de saúde brasileiro: poucos recursos financeiros para tão alta demanda.

A percepção das dificuldades de acesso ao diagnóstico, o desconhecimento dos sintomas e as falsas crenças sobre a incapacidade funcional são fatores prejudiciais ao diagnóstico precoce.   Apesar da DA ser incurável, a intervenção fisioterapêutica desde a primeira fase da doença, proporciona ao paciente uma melhor qualidade de vida. Os exercícios retardam as limitações impostas pela DA, evitandooutras complicações de saúde.Porém, precisa-se considerar o contexto em que o idoso adoentado vive: o meio tanto pode facilitar o controle e o retardo dos sintomas quanto pode ser adoecedor. As primeiras manifestações acontecem com a perda da memória de curto prazo, mas os tratamentos visam também melhorar a parte comportamental.

O objetivo das abordagens fisioterapêuticas deve ser explicado ao paciente para que o tratamento seja bem aceito. O fisioterapeuta é importante para orientar a família e os cuidadores quanto aos cuidados do paciente, inclusive quanto às adaptações que precisam ser feitas no domicílio para que facilite e prorrogue a participação nas atividades diárias e reduza o risco de quedas; quando o paciente está acamado, o fisioterapeuta precisa orienta sobre como transferir ou movimentar o paciente na cama

Identificou-se a eficácia da fisioterapia no tratamento do idoso com DA. Exercícios que estimulam a cognição, o equilíbrio, a força muscular, a mobilidade, a capacidade aeróbica, personalizados e de acordo com o estágio da doença são fundamentais.

REFERÊNCIAS

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Graduanda do Curso de Fisioterapia nas Faculdades Integradas IESGO. Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia nas Faculdades Integradas IESGO1

Prof. Mestre e Doutor em Ciências de Saúde2