FISIOTERAPIA PÉLVICA COMO INTERVENÇÃO PRÉ-NATAL: IMPACTO NA PREPARAÇÃO BIOMECÂNICA E DESFECHOS OBSTÉTRICOS DO PARTO VAGINAL

PELVIC FLOOR PHYSICAL THERAPY AS A PRENATAL INTERVENTION: IMPACT ON BIOMECHANICAL PREPARATION AND OBSTETRIC OUTCOMES OF VAGINAL DELIVERY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202511302302


Gabriela Fernanda Rosa dos Santos2
Ari Assis da Silva2
Laynna Beatriz dos Santos Costa2
Liziane do Socorro Soares da Silva2
Valéria Cristina Silva Cavalcante
Orientador: Wellinton da Silva e Silva1


Resumo

Introdução: A fisioterapia pélvica é uma especialidade terapêutica de crescente relevância na obstetrícia, voltada à preparação da musculatura do assoalho pélvico durante a gestação e ao acompanhamento do parto normal. Essa prática busca otimizar os desfechos obstétricos e favorecer o parto humanizado, considerando as adaptações biomecânicas ocorridas no período gestacional. Objetivo: Analisar a eficácia da fisioterapia pélvica na preparação pré-natal e durante o parto normal, considerando desfechos obstétricos, satisfação materna e prevenção de disfunções pós-parto. Metodologia: Revisão narrativa e qualitativa da literatura nacional e internacional, com busca sistemática nas bases Google Scholar, Periódicos CAPES e SciELO, utilizando os descritores “fisioterapia pélvica”, “parto normal”, “assoalho pélvico”, “preparação para o parto”, “biomecânica pélvica” e “fisioterapia obstétrica”, em português e inglês. Foram incluídos artigos completos publicados entre 2001 e 2020, excluindo-se duplicados, textos incompletos ou fora da temática. A análise seguiu os princípios da análise de conteúdo de Bardin (2016). Resultados: Foram identificados 45 estudos; após triagem, nove artigos compuseram o corpus final. Os achados indicaram benefícios da fisioterapia pélvica, como redução do tempo de trabalho de parto, menor incidência de traumas perineais, aumento da força e consciência muscular do assoalho pélvico e diminuição da incontinência urinária no pós-parto. Observou-se, entretanto, heterogeneidade metodológica entre os estudos, quanto a protocolos, duração e desfechos avaliados. Conclusão: A fisioterapia pélvica é eficaz e segura para otimizar os desfechos do parto vaginal e promover o parto humanizado. Recomenda-se a realização de estudos com delineamento mais robusto e amostras maiores, visando padronização de protocolos e consolidação das evidências disponíveis.

Palavras-chave: Fisioterapia Pélvica. Parto Normal. Assoalho Pélvico. Biomecânica Pélvica. Fisioterapia Obstétrica.

Abstract

Introduction: Pelvic physical therapy is a therapeutic specialty of increasing relevance in obstetrics, focused on the preparation of the pelvic floor muscles during pregnancy and the follow-up of normal delivery. This practice seeks to optimize obstetric outcomes and favor humanized delivery, considering the biomechanical adaptations that occur during pregnancy. Objective: To analyze the efficacy of pelvic physical therapy in prenatal preparation and during normal delivery, considering obstetric outcomes, maternal satisfaction, and prevention of postpartum dysfunctions. Methodology: Narrative and qualitative review of the national and international literature, with a systematic search in the Google Scholar, CAPES and SciELO databases, using the descriptors “pelvic physiotherapy”, “normal delivery”, “pelvic floor”, “preparation for childbirth”, “pelvic biomechanics” and “obstetric physiotherapy”, in Portuguese and English. Full articles published between 2001 and 2020 were included, excluding duplicates, incomplete texts, or texts outside the theme. The analysis followed the principles of content analysis by Bardin (2016). Results: 45 studies were identified; after screening, nine articles composed the final corpus. The findings indicated benefits of pelvic physical therapy, such as reduced labor time, lower incidence of perineal trauma, increased pelvic floor muscle strength and awareness, and decreased urinary incontinence in the postpartum period. However, methodological heterogeneity was observed among the studies, regarding protocols, duration, and outcomes evaluated. Conclusion: Pelvic physical therapy is effective and safe to optimize vaginal delivery outcomes and promote humanized delivery. Studies with a more robust design and larger sample sizes are recommended, aimed at standardizing protocols and consolidating the available evidence.

Keywords: Pelvic Physiotherapy. Normal Birth. Pelvic Floor. Pelvic Biomechanics. Obstetric Physiotherapy.

1. INTRODUÇÃO

A fisioterapia pélvica tem adquirido relevância crescente no campo obstétrico, consolidando-se como uma especialidade voltada ao preparo funcional da musculatura do assoalho pélvico ao longo da gestação. Esse tipo de intervenção baseia-se no entendimento de que a gravidez provoca alterações biomecânicas importantes, exigindo treinamentos específicos para que a gestante esteja mais bem preparada no momento do parto. Dessa forma, as técnicas fisioterapêuticas aplicadas no pré-natal podem favorecer de maneira significativa os resultados do parto vaginal (Araujo et al., 2025). O fortalecimento do movimento em defesa do parto humanizado também tem estimulado a busca por práticas que respeitem e potencializem a fisiologia do nascimento.

Historicamente, a preparação para o parto assumiu diferentes formas, variando entre tradições culturais e abordagens médicas contemporâneas. Entretanto, a criação de protocolos estruturados de fisioterapia pélvica é um avanço relativamente recente na assistência obstétrica brasileira. No contexto do parto natural, esse tipo de intervenção tem papel essencial no fortalecimento, coordenação e controle da musculatura perineal, elementos diretamente associados a melhores desfechos (Marinho; Andrade, 2022). Esse avanço evidencia uma mudança na compreensão do parto como um processo fisiológico que pode ser qualificado por intervenções direcionadas.

Durante a gestação, o aumento volumétrico do útero e as alterações hormonais modificam a dinâmica pélvica, podendo comprometer a funcionalidade do assoalho pélvico quando não há preparo prévio. A biomecânica do parto envolve a combinação de contrações uterinas, relaxamento perineal e ajustes posturais maternos, aspectos que podem ser aprimorados mediante técnicas fisioterapêuticas específicas (Campos et al., 2023). Além disso, a fisioterapia contribui para o desenvolvimento da consciência corporal, favorecendo o manejo da dor e o desempenho materno durante o parto.

A atuação do fisioterapeuta na sala de parto representa um marco na assistência obstétrica, pois permite a aplicação de técnicas que intensificam os efeitos do treinamento prénatal. A presença desse profissional possibilita intervenções imediatas que facilitam a progressão natural do parto, reduzem riscos e aprimoram os desfechos obstétricos (Borges; Vasconcelos, 2023). A integração entre o preparo ao longo da gestação e o suporte durante o trabalho de parto configura um modelo assistencial mais completo.

A prevenção de lesões perineais é um dos principais objetivos das práticas fisioterapêuticas no parto, já que o fortalecimento e a coordenação muscular adequados podem diminuir significativamente a ocorrência de lacerações (Barbosa; Freitas, 2022). Paralelamente, a preparação correta do assoalho pélvico atua na prevenção de disfunções urinárias no pósparto, condição comum entre puérperas brasileiras (Silva et al., 2024).

Os estudos analisados indicam que a fisioterapia gera benefícios tanto antes quanto após o parto, contribuindo para o incentivo ao parto vaginal e para melhores condições maternas e neonatais. A literatura nacional, contudo, apresenta limitações metodológicas, como amostras pequenas e protocolos variados, o que reforça a necessidade de investigações mais rigorosas. Além dos impactos clínicos, a fisioterapia pélvica traz benefícios sociais e econômicos, pois melhora a qualidade do cuidado e pode reduzir custos ao evitar complicações e intervenções desnecessárias. Assim, esta revisão se justifica por fortalecer o embasamento científico que apoia a ampliação da fisioterapia pélvica nos serviços de pré-natal, auxiliando gestores na criação de protocolos mais eficazes.

Diante desse cenário, mostra-se essencial sistematizar a produção científica brasileira sobre fisioterapia pélvica no parto vaginal, identificando seus benefícios comprovados, lacunas existentes e perspectivas para sua adoção mais ampla nas práticas de saúde.

2. MÉTODO

Inicialmente, realizou-se a seleção dos trabalhos. Para isso, foram considerados apenas artigos originais, disponíveis integralmente, publicados em português ou inglês e que tratassem especificamente da atuação da fisioterapia pélvica no parto normal. Publicações duplicadas, incompletas, não indexadas ou que não se relacionassem ao objetivo da pesquisa foram excluídas, o que permitiu delimitar claramente o escopo investigado.

Com os critérios definidos, prosseguiu-se a busca sistemática nas bases SciELO, Periódicos CAPES e Google Scholar. Os termos utilizados refletiam diferentes dimensões da temática, incluindo fisioterapia pélvica, parto normal, assoalho pélvico, preparação para o parto e biomecânica pélvica, bem como suas versões em inglês. Esses descritores foram selecionados com o intuito de abranger tanto aspectos biomecânicos quanto clínicos e funcionais do cuidado fisioterapêutico no período gestacional.

O uso dos Descritores em Ciências da Saúde e das ferramentas da Biblioteca Virtual em Saúde contribuiu para uma busca mais precisa. A combinação dos descritores com operadores booleanos permitiu ajustar o alcance dos resultados, identificando estudos mais pertinentes ao tema proposto.

O recorte temporal compreendeu o período entre 2001 e 2020, abrangendo vinte anos de produção científica e possibilitando observar a consolidação e o desenvolvimento da fisioterapia pélvica no contexto obstétrico. Inicialmente foram identificadas 45 publicações, distribuídas entre as três bases consultadas. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade, nove estudos permaneceram e compuseram o conjunto final analisado.

A leitura e o tratamento dos dados foram realizados manualmente, favorecendo maior proximidade com o conteúdo e permitindo interpretação contextualizada dos achados. Para facilitar a comparação entre os estudos, informações como autores, ano, tipo de pesquisa, objetivos e principais resultados foram sistematizadas em um quadro-síntese.

A análise seguiu procedimentos de análise temática, envolvendo leitura exploratória, categorização e interpretação dos conteúdos à luz das orientações apresentadas por Bardin. A leitura também se articulou com reflexões sobre a produção discursiva no campo obstétrico, permitindo compreender de que modo a fisioterapia pélvica tem sido apresentada, discutida e legitimada na literatura.

A etapa de interpretação dos resultados baseou-se nos referenciais de análise de conteúdo apresentados por Bardin (2016), com foco na pré-seleção, exploração e síntese dos dados. A leitura dos artigos também dialogou com a noção foucaultiana de produção discursiva, permitindo identificar como a fisioterapia pélvica é construída e legitimada no campo obstétrico (Foucault 2008).

3. RESULTADOS

Foram encontrados 45 estudos nas plataformas Google Scholar, Periódicos Capes e SciELO. Após a verificação por intermédio dos critérios estabelecidos previamente, 9 artigos foram selecionados para compor os resultados. A sequência das etapas de busca e triagem pode ser visualizada na Figura 1. As características centrais de cada estudo, como autoria, ano, finalidade, delineamento e achados, foram sintetizadas no Quadro 1.

Figura 1: Fluxograma do processo de seleção de artigos. O número de artigos em cada etapa está indicado entre parênteses.

Fonte: Os autores, 2025.

Quadro 1: Síntese dos artigos selecionados para revisão.

Autores/AnoTítulo do EstudoObjetivoTipo de EstudoPrincipais Resultados
Mørkved et al., 2003Treinamento dos músculos do assoalho pélvico durante a gravidez para prevenir a incontinência urináriaAvaliar a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico durante a gestação.Ensaio clínico randomizado controladoO grupo treinado apresentou menor prevalência de incontinência urinária durante a gestação (32% vs 48%) e no pós-parto (20% vs 32%).
Salvesen e Mørkved, 2004Ensaio clínico randomizado de treinamento muscular do assoalho pélvico durante a gravidezInvestigar o efeito do treinamento pélvico sobre o tempo de trabalho de parto.Ensaio clínico randomizadoRedução da segunda fase prolongada (24% vs 38%), com tendência à menor duração média do parto.
Labrecque et al., 2000Ensaio randomizado de massagem perineal durante a gravidez: sintomas perineais três meses após o partoAvaliar o impacto da massagem perineal durante a gestação.Ensaio clínico randomizadoNão houve diferença significativa na função perineal três meses após o parto; benefício imediato limitado.
Stamp et al., 2001Massagem perineal no trabalho de parto e prevenção de trauma perineal: ensaio clínico randomizadoVerificar se a massagem perineal durante o parto previne traumas perineais.Ensaio clínico randomizadoRedução da necessidade de episiotomia e da gravidade de lacerações perineais no grupo de intervenção.
Stafne et al., 2012O exercício regular, incluindo o treinamento dos músculos do assoalho pélvico, previne a incontinência urinária e anal durante a gravidez?Analisar o efeito de exercícios regulares com Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (PFMT) na incontinência urinária e anal.Ensaio clínico randomizadoMenor prevalência de incontinência urinária e anal no grupo ativo (p = 0,004).
Mason et al., 2010O papel dos exercícios pré-natais dos músculos do assoalho pélvico na prevenção da incontinência urinária de esforço pós-partoAvaliar a eficácia de exercícios supervisionados no controle da incontinência pós-parto.Ensaio clínico randomizadoRedução significativa da incontinência urinária de esforço em mulheres que realizaram o treinamento.
Ko et al., 2011Um estudo controlado randomizado de exercícios pré-natais para a musculatura do assoalho pélvico para a prevenção e tratamento da incontinência urináriaInvestigar o efeito dos exercícios pélvicos supervisionados na prevenção da incontinência.Ensaio clínico randomizado controladoMelhora significativa dos sintomas urinários e da qualidade de vida (UDI-6 e IIQ7).
Peláez et al., 2014Treinamento da musculatura do assoalho pélvico incluído em um programa de exercícios na gravidez: ensaio clínico randomizadoAvaliar o impacto do Treinamento dos músculos do assoalho pélvico associado a programas de exercícios gestacionais.Ensaio clínico randomizadoRedução da incidência de incontinência urinária e melhora da força muscular.
Pires et al., 2020Efeitos do treinamento da musculatura do assoalho pélvico em gestantes: estudo de intervençãoVerificar os efeitos de um programa de fisioterapia pélvica estruturado em gestantes.Estudo de intervençãoAumento da força muscular do assoalho pélvico e redução da perda urinária, sem efeitos adversos.
Fonte: Os autores, 2025.

O conjunto final analisado demonstra que a fisioterapia pélvica é uma intervenção eficaz na preparação física e funcional da gestante para o parto. Foram incluídos nove ensaios clínicos realizados entre 2000 e 2020, que avaliaram os efeitos do Treinamento dos músculos do assoalho pélvico (PFMT) e de técnicas fisioterapêuticas aplicadas durante a gestação e o trabalho de parto.

No estudo conduzido por Mørkved et al. (2003), verificou-se queda significativa na ocorrência de incontinência urinária durante a gestação (32% contra 48%) e após o parto (20% contra 32%) em mulheres submetidas ao PFMT. De forma análoga, Stafne et al. (2012) observaram menor prevalência de sintomas urinários no grupo de exercício combinado (p=0,004), confirmando o papel preventivo da fisioterapia pélvica. Ademais, no estudo de Salvesen e Mørkved (2004), gestantes treinadas apresentaram menor número de partos com segunda fase prolongada (24% contra 38%), indicando melhor controle muscular e eficiência biomecânica durante o parto.

No tocante às lesões perineais, Stamp et al. (2001) detectaram redução tanto para a necessidade de episiotomia quanto na gravidade das lacerações. Em contrapartida, Labrecque et al. (2000) não observaram diferença significativa três meses após o parto, sugerindo que o benefício da técnica ocorre principalmente de forma imediata.

Mason et al. (2010) relataram redução da incontinência urinária de esforço em mulheres que realizaram exercícios supervisionados, enquanto Ko et al. (2011) observaram melhora dos sintomas urinários e da qualidade de vida. Além disso, Peláez et al. (2014) confirmaram que a inclusão do treinamento pélvico em programas de exercícios físicos durante a gestação reduz a incidência de incontinência urinária e melhora a força muscular. Ademais, Pires et al. (2020) também verificaram aumento da força do assoalho pélvico e redução da perda urinária após um programa de fisioterapia pélvica supervisionada, com boa adesão e sem efeitos adversos.

Portanto, a literatura analisada indica que a fisioterapia pélvica promove o desempenho funcional e contribui para um parto mais seguro, com menor risco de lesões e disfunções urinárias nos períodos em questão.

4. DISCUSSÃO

O levantamento científico reforça que a fisioterapia pélvica é um método seguro e eficaz no preparo gestacional, com efeitos positivos sobre o tônus muscular e sobre os desfechos obstétricos. Em diferentes contextos, os ensaios clínicos analisados mostraram que o treinamento do assoalho pélvico reduz sintomas urinários, melhora a força muscular e auxilia no controle durante o trabalho de parto.

Esse comportamento é compatível com os resultados relatados por Mørkved et al. (2003) e Stafne et al.  (2012), que demonstraram reduções significativas da incontinência urinária durante a gestação e após o parto, um estudo conduzido por Li et al. (2020) confirmou esse efeito, evidenciando diminuição de até 29% na ocorrência de incontinência urinária entre gestantes submetidas ao treinamento (RR = 0,71; IC 95% = 0,62–0,82). 

De modo semelhante, Lee et al. (2021) verificaram que programas supervisionados em grupo reduziram a prevalência de incontinência tanto durante a gravidez (RR = 0,67) quanto no pós-parto (RR = 0,66), resultado que reforça a efetividade do treinamento quando há acompanhamento profissional. Além disso, outro estudo acrescenta que o fortalecimento muscular pélvica melhora o controle esfincteriano e a propriocepção corporal, indicando impacto funcional mais amplo do que apenas o controle urinário (Usmani et al., 2022).

No que se refere ao trabalho de parto, Salvesen e Mørkved (2004) observaram redução da duração da segunda fase entre gestantes treinadas, o que sugere melhor coordenação muscular e eficiência durante o esforço expulsivo. Resultados semelhantes foram obtidos por Giannakoulas et al. (2024), que analisaram 30 ensaios clínicos randomizados e demonstraram associação entre o treinamento do assoalho pélvico e menor risco de lacerações perineais graves (RR = 0,50; IC 95% = 0,31–0,80), além de melhora da performance muscular durante o parto. Esses achados evidenciam que a fisioterapia pélvica não atua somente na prevenção de disfunções, estendendo-se à melhoria da mecânica obstétrica.

Os trabalhos sobre a massagem perineal apresentaram resultados complementares. Stamp et al. (2001) relataram menor taxa de episiotomia e lacerações graves, enquanto Labrecque et al.(2000) não observaram efeitos de longo prazo. Essas divergências são parcialmente esclarecidas pela metanálise de Miranda et al. (2023), que demonstrou melhora significativa da função perineal no pós-parto imediato em nulíparas submetidas à associação entre massagem perineal e treinamento muscular pélvico no final da gestação. 

De modo semelhante, um estudo observou a redução de até 40% na ocorrência de lacerações de terceiro e quartos graus (RR = 0,60; IC 95% = 0,45–0,81), ainda que sem efeito significativo sobre a taxa de episiotomia. As evidências indicam que o preparo perineal deve ser considerado uma medida preventiva adjuvante, especialmente quando associado ao treinamento muscular (Zhang et al., 2021).

Quanto à supervisão fisioterapêutica, Mason et al. (2010) e Ko et al.(2011) destacaram que o acompanhamento profissional aumenta a adesão e potencializa os resultados. Da mesma forma, outro estudo avaliou a efetividade de programas supervisionados ao longo de sete anos e constatou benefícios persistentes sobre o controle urinário e a força muscular, além de custoefetividade superior quando o treinamento é iniciado ainda na gestação (Zhou et al., 2021). Esses dados estão em concordância com os achados de Peláez et al. (2014) e Pires et al.  (2020), que observaram ganhos mensuráveis de força muscular e redução de sintomas urinários em intervenções supervisionadas.

De modo geral, quando os indicadores deste estudo são confrontados com pesquisas recentes, observa-se alinhamento entre as conclusões disponíveis. Entretanto, ainda há heterogeneidade nos protocolos, especialmente em relação à duração e frequência das sessões. Estudos recentes, como os de Lee et al. (2021) e Usmani et al.(2022), destacam que programas estruturados com, no mínimo, três sessões semanais e duração superior a doze semanas apresentam melhores resultados, reforçando a necessidade de padronização dos parâmetros metodológicos. Assim, a implementação de protocolos baseados em evidências pode ampliar a efetividade clínica e a aplicabilidade da fisioterapia pélvica nos serviços de atenção pré-natal. 

5. CONCLUSÃO

O estudo realizado evidencia que a fisioterapia pélvica se apresenta como uma estratégia eficaz e segura para a preparação da gestante para o parto. Além disso, mostram também que o treinamento da musculatura do assoalho pélvico contribui para o fortalecimento perineal e para um melhor desempenho funcional durante o trabalho de parto. Também foram verificadas a diminuição de episódios de incontinência urinária e a redução do risco de traumas perineais entre as mulheres que realizaram exercícios supervisionados.

Além disso, recursos como a massagem perineal e a prática regular de exercícios orientados demonstram potencial para aprimorar a biomecânica pélvica e favorecer a progressão fisiológica do parto. Tais intervenções ainda ampliam a percepção corporal da gestante e fortalecem sua confiança, aspectos que contribuem para seu protagonismo no momento do nascimento. Apesar dos benefícios observados, as pesquisas avaliadas apresentam limitações, especialmente relacionadas ao tamanho das amostras e à falta de uniformidade entre os protocolos adotados, o que reforça a necessidade de novos estudos com maior rigor metodológico.

Em suma, incluir a fisioterapia pélvica no cuidado pré-natal e no acompanhamento do parto representa uma medida viável e efetiva, em consonância com as diretrizes de humanização da assistência obstétrica. Sua implementação pode auxiliar na redução de cesarianas não indicadas, minimizar complicações e promover melhores condições de saúde para a mãe, evidenciando sua relevância dentro do cuidado integral à gestante.

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¹Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário do Norte (UNINORTE); Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN).
²Graduando(a) do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN).