Dra. Natalia Aquaroni Ricci (SP)
Professora Doutora do Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID).
CONTEXTUALIZAÇÃO: A síndrome da fragilidade é definida pela diminuição da homeostasia do organismo e da resistência aos estressores, resultando em declínio cumulativo de múltiplos sistemas, causando vulnerabilidade a desfechos adversos [1]. É uma síndrome de alta prevalência, estando presente em 9% dos idosos da comunidade [2], aumentando para 40% em idosos hospitalizados [3] e alcançando até 52% em idosos de instituições asilares [4]. O fenótipo da fragilidade apresenta cinco critérios: 1) perda de peso não intencional, 2) fadiga autorreferida, 3) diminuição da velocidade da marcha, 4) fraqueza muscular e 5) baixo nível de atividade física [1]. A presença de 3 ou mais critérios indica fragilidade, 1 ou 2 critérios constitui a pré-fragilidade e nenhum critério é considerado idoso robusto [1]. É importante que a Fisioterapia reconheça esta classificação para poder atuar de forma a evitar o surgimento da síndrome nos casos robustos, prevenir sua evolução e agravos nos idosos pré-frágeis e frágeis, ou mesmo atuar para a reversão destes casos.
DESENVOLVIMENTO: O primeiro passo para a atuação na fragilidade é desmistificar entre os fisioterapeutas alguns conceitos errados relacionados à síndrome, como ser algo normal do envelhecimento humano, sinônimo de incapacidade e uma condição sem reversão. O segundo passo é a realização da avaliação para a identificação dos estados de fragilidade. A avaliação é peça chave no plano de cuidado fisioterapêutico, pois vai direcionar as estratégias e intervenções a serem implementadas a cada caso. Existem diversos instrumentos de avaliação da fragilidade, sendo os mais utilizados o fenótipo da fragilidade pelo Cardiovascular Health Study, o Índice da Fragilidade (FI), a Edmonton Frail Scale, o Indicador de Fragilidade Tilburg (TFI) e a Clinical Frail Scale (CFS). O terceiro passo é utilizar intervenções com evidência de benefícios na síndrome. Dentre as possíveis intervenções fisioterapêuticas, os exercícios de fortalecimento muscular apresentam maior nível de evidência para retardar ou reverter a fragilidade [5]. E o quarto e último passo, é estar sempre alerta quanto à ocorrência de eventos adversos (hospitalização, quedas) e reavaliar periodicamente o idoso para alterar seu plano de tratamento em conformidade com suas necessidades e o mais breve possível. Ainda neste contexto, o fisioterapeuta deve incluir o diálogo sobre a síndrome com o idoso, familiares e cuidadores para aumentar a aderência, satisfação e corresponsabilidade com o plano terapêutico a ser instituído.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A fisioterapia tem papel de alta relevância no tratamento da fragilidade, pois sua atuação tem impacto direto nos cinco critérios do fenótipo da síndrome. Deste modo, é importante que os fisioterapeutas independentemente do local de atuação, atenção básica, ambulatório, clínica ou hospital, tenham conhecimento para identificar e intervir nos diferentes estágios de fragilidade.
REFERÊNCIAS:
1. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2001;56(3):M146-56.
2. Andrade JM, Duarte YAO, Alves LC, Andrade FCD, Souza-Junior PRB, Lima-Costa MF, et al. Perfil da fragilidade em adultos mais velhos brasileiros: ELSI-Brasil. Rev Saude Publica. 2018;52 Supl 2:17s.
3. Joosten, E., Demuynck, M., Detroyer, E., Milisen, K., 2014. Prevalence of frailty and its ability to predict in hospital delirium, falls, and 6-month mortality in hospitalized older patients. BMC Geriatr. 14, 1.
4. Kojima G. Prevalence of Frailty in Nursing Homes: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Am Med Dir Assoc. 2015 Nov 1;16(11):940-5.
5. Travers J, Romero-Ortuno R, Bailey J, Cooney MT. Delaying and reversing frailty: a systematic review of primary care interventions. Br J Gen Pract. 2019;69(678):e61-e69.