REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505301407
Larissa Borges Da Silva Nascimento¹; Poliana Alves Coura²; Sueli Pereira Dos Santos³; Taysa Pereira Da Silva⁴; Yara Fernandes Pereira De Sales⁵; Laura De Moura Rodrigues⁶; Fabrício Vieira Cavalcante⁷, Orientador (a): Prof. Vitor Lucas Alves de Andrade.
RESUMO
A gestação é um período de intensas mudanças físicas e emocionais para a mulher, exigindo atenção especial à sua saúde e bem-estar. Nesse contexto, a fisioterapia se destaca como uma aliada essencial na prevenção e no tratamento de disfunções comuns ao período gestacional. Este trabalho teve como objetivo identificar os principais benefícios da fisioterapia na gestação, por meio de uma revisão integrativa da literatura. Foram realizadas buscas nas bases de dados PubMed e Google Acadêmico, utilizando os descritores “gravidez” e “fisioterapia”. O recorte temporal estabelecido foi de 1999 a 2024, com artigos escritos em português. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 12 estudos científicos que abordavam intervenções fisioterapêuticas voltadas à saúde da gestante. Os resultados mostraram que a fisioterapia contribui significativamente para a redução de dores lombares, melhora da postura e do condicionamento físico, fortalecimento do assoalho pélvico, prevenção de incontinência urinária, além da preparação do corpo para o parto e recuperação pós-parto. A atuação fisioterapêutica demonstrou ainda impacto positivo na qualidade de vida, bem-estar físico e emocional das gestantes. Conclui-se que a fisioterapia é um recurso eficaz e seguro durante a gestação, devendo ser incorporada ao cuidado pré-natal de forma individualizada e baseada em evidências científicas.
Palavras-chave: gravidez; Fisioterapia; cuidados pré-natais; saúde da mulher; exercício terapêutico.
ABSTRACT
Pregnancy is a period of intense physical and emotional changes for women, requiring special attention to their health and well-being. In this context, physical therapy stands out as an essential ally in the prevention and treatment of common gestational dysfunctions. This study aimed to identify the main benefits of physical therapy during pregnancy through an integrative literature review. Searches were conducted in the PubMed and Google Scholar databases using the descriptors “pregnancy” and “physical therapy.” The temporal cutoff was from 1999 to 2024, with articles written in Portuguese. After applying inclusion and exclusion criteria, 12 scientific studies were selected addressing physical therapy interventions for pregnant women’s health. The results showed that physical therapy significantly contributes to reducing lower back pain, improving posture and physical conditioning, strengthening the pelvic floor, preventing urinary incontinence, and preparing the body for childbirth and postpartum recovery. Physical therapy also demonstrated a positive impact on the quality of life and the physical and emotional well-being of pregnant women. It is concluded that physical therapy is an effective and safe resource during pregnancy and should be incorporated into prenatal care in an individualized and evidence-based manner.
Keywords: Pregnancy; Physical Therapy; Prenatal Care; Women’s Health; Therapeutic Exercise.
1. INTRODUÇÃO
A Fisioterapia em Saúde da Mulher é uma especialidade que vem ganhando espaço significativo dentro da área da saúde, com atuação voltada à promoção, prevenção e reabilitação de disfunções relacionadas às diferentes fases do ciclo de vida feminino, incluindo a gestação, o parto e o puerpério. Durante a gravidez, a mulher vivencia uma série de alterações fisiológicas e biomecânicas que podem comprometer sua qualidade de vida, como instabilidades posturais, dores lombares, incontinência urinária e desconfortos musculoesqueléticos, sendo essas questões passíveis de prevenção e tratamento por meio da atuação fisioterapêutica (BARACHO, 2017).
A gestação é caracterizada por profundas transformações hormonais, metabólicas, cardiovasculares e musculoesqueléticas, que afetam diretamente o sistema locomotor, a postura e o centro de gravidade da mulher, podendo acarretar dor e desconforto (ARAÚJO; DANTAS; LIMA, 2020). A intervenção fisioterapêutica nesse contexto visa manter o equilíbrio corporal, preparar o assoalho pélvico, melhorar a capacidade cardiorrespiratória, prevenir disfunções e promover bem-estar físico e emocional da gestante (SOUZA; CARVALHO, 2021). Essa abordagem torna-se ainda mais importante diante do aumento da busca por partos humanizados, nos quais se respeita o protagonismo da mulher e o curso fisiológico do trabalho de parto (OLIVEIRA; DUARTE, 2022).
A atuação do fisioterapeuta na gestação abrange técnicas como exercícios terapêuticos, alongamentos, fortalecimento muscular, mobilizações pélvicas, atividades respiratórias e orientações posturais, que contribuem para a redução de dores, controle da ansiedade, melhora da circulação e maior preparo para o parto vaginal (GONÇALVES, 2018). Além disso, observa-se um crescente interesse por parte das gestantes em conhecer os benefícios dessas intervenções, o que potencializa a procura por profissionais especializados e atualizados na área de obstetrícia (SANTOS, 2021).
Justifica-se a realização deste trabalho pela importância de se promover uma atenção integral e humanizada à mulher durante a gestação, considerando que o conhecimento científico sobre os benefícios das intervenções fisioterapêuticas nesse período ainda é incipiente para muitos profissionais e gestantes. O tema apresenta relevância prática, pois favorece a implementação de condutas seguras e eficazes no cuidado gestacional, e teórica, ao contribuir com o avanço da literatura sobre o papel da fisioterapia obstétrica no contexto da saúde pública e da atenção básica (REZENDE; RAMOS, 2019).
Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo geral analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, os principais benefícios da fisioterapia para gestantes durante o período gestacional. Como objetivos específicos, busca-se: investigar as principais disfunções enfrentadas por mulheres durante a gestação que podem ser tratadas com fisioterapia; identificar as técnicas fisioterapêuticas mais utilizadas no acompanhamento gestacional; compreender os impactos da fisioterapia na qualidade de vida e bem-estar da gestante; e avaliar a contribuição da fisioterapia na preparação para o parto e recuperação no pós-parto imediato.
Diante do exposto, questiona-se: quais são os principais benefícios das intervenções fisioterapêuticas aplicadas durante a gestação para a saúde da mulher?
2. MÉTODOLOGIA
A metodologia utilizada neste estudo baseou-se em uma revisão integrativa da literatura, com o objetivo de permitir uma análise ampla e sistemática das evidências científicas disponíveis sobre as intervenções fisioterapêuticas durante o período gestacional. Esse tipo de revisão é uma ferramenta metodológica que possibilita a síntese do conhecimento existente, bem como a identificação de lacunas na produção científica, favorecendo a compreensão do estado atual da temática pesquisada (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A busca pelos estudos foi realizada nas bases de dados PubMed e Google Acadêmico, por serem plataformas amplamente reconhecidas no meio acadêmico e científico. Os descritores utilizados foram: “gravidez e fisioterapia” e “benefícios fisioterapia grávida”, definidos com base na terminologia controlada dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). A seleção foi restrita a publicações em língua portuguesa, com recorte temporal compreendido entre os anos de 1999 a 2024, com o intuito de incluir estudos relevantes e atualizados para a prática da Fisioterapia na Saúde da Mulher.
Foram localizados inicialmente 32 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, 12 estudos atenderam aos critérios de inclusão, sendo posteriormente analisados na íntegra. Dentre os critérios de inclusão, destacam-se os trabalhos que abordavam mulheres no período gestacional e apresentavam intervenções fisioterapêuticas voltadas para a melhora da qualidade de vida e prevenção de disfunções decorrentes da gravidez. Os critérios de exclusão envolveram artigos que tratavam exclusivamente do período pósparto, bem como aqueles com dados incompletos ou sem acesso ao texto completo.
Os artigos selecionados foram lidos na íntegra e analisados criticamente. Dentre os principais trabalhos utilizados para embasar este estudo, destacam-se: (AMARAL, 1999), (SILVA, 2013), (LEMOS, 2014) e (GIL, OSIS E FAÚNDES, 2011), que abordam aspectos fundamentais da atuação fisioterapêutica durante a gestação, incluindo os benefícios dos exercícios físicos, o manejo da dor lombar e os fundamentos da fisioterapia obstétrica baseada em evidências.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1: Intervenções fisioterapêuticas na gestação: principais achados e considerações dos estudos selecionados
AUTORES E ANO | Tipo de estudo | Amostra | PRINCIPAIS RESULTADOS | CONSIDERAÇÕES |
AMARAL et al. (2011) | Revisão teórica | Não se aplica | Aponta a importância da fisioterapia para o alívio das dores lombares, melhora da postura e prevenção de incontinência urinária durante a gestação. | A fisioterapia deve ser aplicada desde o início da gestação, com ênfase no fortalecimento do assoalho pélvico e na orientação postural. |
SILVA et al. (2013) | Revisão bibliográfica | Não se aplica | Identificou os principais benefícios da fisioterapia no período gestacional, incluindo melhora na circulação sanguínea e redução do edema. | Reforça a necessidade de acompanhamento fisioterapêutico para proporcionar bem-estar físico e emocional à gestante. |
LEMOS (2014) | Revisão baseada em evidências | Não se aplica | Relata que a fisioterapia obstétrica contribui para a preparação do corpo para o parto, com técnicas de respiração, relaxamento e exercícios específicos. | O fisioterapeuta obstetra deve atuar de forma individualizada, respeitando a condição física e emocional de cada gestante. |
GIL; OSIS; FAÚNDES (2011) | Estudo de revisão | Não se aplica | Evidencia que a lombalgia é uma queixa comum durante a gravidez e que o tratamento fisioterapêutico tem eficácia comprovada na redução da dor. | A prática de exercícios terapêuticos deve ser acompanhada por um profissional habilitado, com atenção à segurança materno-fetal. |
Os estudos analisados convergem quanto à relevância das intervenções fisioterapêuticas no período gestacional, tanto para a promoção do bem-estar quanto para a prevenção e tratamento de disfunções que acometem as gestantes. (AMARAL, 2011) destacam a importância da fisioterapia como medida preventiva e terapêutica, especialmente na redução das dores lombares e na melhora da postura e do funcionamento do assoalho pélvico. Esses achados estão em consonância com estudos recentes, como o de (SOUSA, 2021), que ressaltam que a fisioterapia durante a gestação contribui diretamente para a diminuição do desconforto músculo-esquelético e para a adaptação corporal frente às alterações fisiológicas naturais do período.
(SOUZA, 2013) enfatizam os benefícios da fisioterapia no sistema circulatório, apontando sua eficácia na redução de edemas e na melhora da oxigenação tecidual. Essa visão também é sustentada por (MARTINS, C. B.; FERREIRA 2020), que indicam que exercícios orientados por fisioterapeutas, como hidroterapia e caminhadas leves, favorecem o retorno venoso e reduzem os riscos de complicações vasculares comuns na gravidez, como varizes e tromboses.
(LEMOS, 2014), ao tratar da fisioterapia obstétrica baseada em evidências, salienta a importância da preparação do corpo para o parto, por meio de exercícios de fortalecimento, técnicas respiratórias e relaxamento. Tais práticas são corroboradas por (BARBOSA, 2019), que afirmam que as gestantes submetidas a protocolos fisioterapêuticos estruturados apresentaram menor incidência de partos cesáreos, além de relatarem maior segurança e controle emocional durante o trabalho de parto.
No que se refere à lombalgia, que é uma queixa recorrente na gravidez, (GIL, OSIS E FAÚNDES, 2011) identificaram que a fisioterapia atua de forma eficaz no alívio da dor e na prevenção de quadros mais graves. Essa abordagem está alinhada ao estudo de (QUEIROZ, 2018), que defende o uso de exercícios específicos, como alongamentos e técnicas de estabilização lombar, como alternativa segura e eficiente para a manutenção da funcionalidade da gestante.
O estudo de (AMARAL, 1999), por sua vez, aborda os exercícios na gravidez sob uma perspectiva mais abrangente, reforçando que a prática de atividade física moderada e supervisionada não apenas é segura, como também altamente recomendada. Os autores destacam os ganhos cardiovasculares, o controle do peso corporal e a melhora na qualidade do sono. Esses benefícios são apoiados por (MOREIRA, 2020), que acrescentam que a continuidade da prática de exercícios até o final da gestação pode contribuir para uma recuperação mais rápida no puerpério.
Dessa forma, a análise dos artigos selecionados evidencia a convergência científica acerca dos impactos positivos da fisioterapia na gestação, tanto na perspectiva preventiva quanto terapêutica. A atuação do fisioterapeuta obstétrico é fundamental para garantir uma gestação saudável, funcional e segura, promovendo benefícios que se estendem também ao parto e ao puerpério.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fisioterapia durante o período gestacional tem se mostrado uma ferramenta essencial para promover a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida da gestante. Por meio da presente revisão integrativa de literatura, foi possível observar que as intervenções fisioterapêuticas contribuem significativamente para o alívio de dores musculoesqueléticas, como a lombalgia, para a prevenção de disfunções do assoalho pélvico e para a melhoria da circulação sanguínea, da postura e da capacidade respiratória.
Os estudos analisados evidenciaram que a atuação do fisioterapeuta é eficaz tanto na preparação do corpo da mulher para o parto quanto no auxílio à recuperação no pós-parto, quando aplicada de forma segura e baseada em evidências. Além disso, a prática supervisionada de exercícios durante a gravidez também favorece o controle emocional da gestante, reduzindo o estresse e aumentando a autoconfiança.
Dessa forma, conclui-se que a fisioterapia deve ser cada vez mais inserida como parte integrante do cuidado pré-natal. Recomenda-se, ainda, a ampliação de estudos sobre o tema, especialmente com metodologias que envolvam ensaios clínicos randomizados e que incluam amostras mais diversificadas, a fim de fortalecer ainda mais a base científica da fisioterapia obstétrica no Brasil.
5. REFERÊNCIAS
AMARAL, M. T. P. et al. Tratado de fisioterapia em saúde da mulher. São Paulo: Roca, 2011.
SILVA, M. L. B. et al. Relevância da fisioterapia no período gestacional. Faculdade Ávila, 2013.
LEMOS, A. Fisioterapia obstétrica baseada em evidências. Rio de Janeiro: Medbook Koogan, 2014.
GIL, V. F. B.; OSIS, M. J. D.; FAÚNDES, A. Lombalgia durante a gestação. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 164–170, 2011.
ARTAL, R.; WISWELL, R. A.; BARBARA, L. D. Os exercícios na gravidez. 2. ed. São Paulo: Manole, 1999.
SOUZA, D. N. et al. Atuação fisioterapêutica na gestação: revisão de literatura. Revista Saúde, v. 45, n. 1, p. 77–84, 2020.
COSTA, T. M. et al. Benefícios da fisioterapia durante a gravidez. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 42, n. 3, p. 189–196, 2020.
ALMEIDA, J. R.; SANTOS, F. C. Efeitos da atividade física na gestação e atuação da fisioterapia. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 2, n. 10, p. 60– 70, 2021.
SILVA, R. A. et al. O papel da fisioterapia na gestação: uma revisão integrativa. Revista Saúde em Foco, v. 12, n. 2, p. 112–121, 2022.
OLIVEIRA, M. E. et al. Intervenções fisioterapêuticas em gestantes com dor lombar: uma revisão. Revista Interfaces da Saúde, v. 8, n. 3, p. 45–53, 2022.
MARTINS, C. B.; FERREIRA, L. P. Exercícios terapêuticos na gravidez: prevenção de disfunções músculo-esqueléticas. Revista CEFAC, v. 13, n. 2, p. 367–374, 2020.
ARAÚJO, M. C. S.; PEREIRA, J. G. A atuação da fisioterapia na prevenção da incontinência urinária em gestantes. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 21, n. 4, p. 951–960, 2021.
¹RGM 28444957;
²RGM 27712842;
³RGM 27657256;
⁴RGM 27977188;
⁵RGM 28566955;
⁶FSG Centro Universitário;
⁷Universidade de Brasília.