FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DO IMOBILISMO NO IDOSO PÓS-FRATURA DE QUADRIL

PHYSIOTHERAPY IN THE PREVENTION OF IMMOBILITY IN THE ELDERLY AFTER HIP FRACTURE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505282011


Juliane de Andrade Bassanelli1
Luanna Amaral Felix Silva1
Maria Julia Perez Ribeiro1
Profª Ma. Ana Carolina Lacerda Borges2


RESUMO

A fratura de quadril em idosos é uma das condições mais comuns e graves, sendo um fator importante de risco para a perda de autonomia e aumento da mortalidade. O imobilismo, que frequentemente acompanha esse tipo de lesão, pode agravar o quadro clínico e comprometer a recuperação. Nesse contexto, a implementação precoce de técnicas fisioterapêuticas específicas pode reduzir significativamente o risco de complicações associadas à imobilidade, como a atrofia muscular, trombose venosa profunda e perda da funcionalidade. Este trabalho investigou, por meio de uma revisão integrativa, as intervenções fisioterapêuticas voltadas à prevenção do imobilismo em idosos pós-fratura de quadril, analisando seus efeitos sobre a recuperação funcional. Foram incluídos estudos publicados entre 2019 e 2024, selecionados na base PubMed. Os resultados demonstraram que intervenções como estimulação elétrica transcutânea (TENS), mobilização precoce, programas de reabilitação domiciliar e prescrições individualizadas de exercícios apresentam eficácia significativa na redução da imobilidade e na melhoria da funcionalidade. Conclui-se que a fisioterapia precoce e estruturada exerce papel essencial na reabilitação e na qualidade de vida dos idosos.

Palavras-chave: Fisioterapia. Fratura de quadril. Idoso. Imobilismo. Reabilitação.

1.  INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que traz consigo uma série de desafios à saúde, destacando-se entre eles o aumento da incidência de fraturas em idosos, especialmente as fraturas de quadril. (OMS, 2020), representando um dos principais fatores de morbidade e mortalidade entre os indivíduos mais velhos.

A fratura de quadril em idosos é uma condição comum, porém grave, que pode resultar em perda funcional significativa e dependência prolongada (Santos et al., 2020), podendo levar ao agravamento de condições pré-existentes, como sarcopenia, perda de independência funcional e até mesmo complicações sistêmicas, como trombose venosa profunda e pneumonia (Santos, Oliveira, 2020).

A maioria das fraturas de quadril ocorrem em pessoas por volta dos 80 anos de idade, sendo 4 vezes mais comum em mulheres e resultam de uma simples queda da própria altura, o tratamento pode ser cirúrgico ou conservador (não cirúrgico), este último implica em longos períodos de repouso no leito, imobilizações com gesso, trações e redução da fratura (Handoll, Parker, 2008).

Assim, o imobilismo é um fator crítico que contribui para a perda de autonomia e a deterioração da qualidade de vida dos idosos aumentando o risco de novas quedas (Costa; Silva; Lima., 2019).

 A fisioterapia desempenha um papel central na reabilitação dos idosos acometidos por fratura de quadril, especialmente quando aplicada precocemente (Pereira; Lopes, 2021). Diante disso, este estudo tem como objetivo investigar as intervenções fisioterapêuticas que contribuem para a prevenção do imobilismo e para a recuperação funcional dos idosos, promovendo a sua reinserção nas atividades de vida diária.

2.  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DE LITERATURA

A fratura de quadril, além de ser uma das lesões mais comuns entre os idosos, está associada a uma significativa morbimortalidade, com elevado risco de complicações devido à imobilização prolongada. Estudos sugerem que a imobilização pode gerar perda de força muscular, dificuldades respiratórias e até mesmo agravamento de comorbidades preexistentes (Pereira et al., 2021). 

A fisioterapia emerge como uma ferramenta crucial, para recuperação de força, mobilidade, equilíbrio, com consequente retorno às atividades de vida diária, visando a prevenção da imobilidade, mortalidade e colaborando para reabilitação dessa população (Rocha, 2022).

3.  METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de cunho descritivo e exploratório. A busca foi realizada na base de dados PubMed, utilizando os descritores: “hip fracture”, “immobility”, “physiotherapy” e “elderly”. Foram incluídos artigos publicados entre 2019 e 2024, disponíveis gratuitamente, com foco na reabilitação fisioterapêutica de idosos pósfratura de quadril. Os critérios de inclusão contemplaram estudos originais, revisões sistemáticas, ensaios clínicos e metanálises que abordassem intervenções fisioterapêuticas com resultados sobre a prevenção do imobilismo, o resultado das buscas pode ser visto no quadro 1.

Quadro 1: Descritores para busca de dados

Fonte: Próprio autor, 2025.

Foram excluídos da revisão artigos que tratavam de intervenções para outras condições ortopédicas ou de saúde que não envolveram fraturas de quadril ou que não ofereceram dados sobre a eficácia das intervenções fisioterapêuticas.

Após aplicação dos critérios de elegibilidade, sete artigos foram selecionados para análise e discussão. Assim, os artigos que atenderam aos critérios de inclusão foram analisados de acordo com o tipo de intervenção fisioterapêutica aplicada, os desfechos observados, e as implicações para a qualidade de vida dos idosos.

A partir da extração dos dados relevantes, foi realizada uma síntese integrativa das intervenções mais eficazes, com possíveis comparações entre os tipos de tratamento e seus efeitos no combate ao imobilismo e na reabilitação pós fratura de quadril dos pacientes. Em seguida, foram determinadas as temáticas para a discussão que agregaram positivamente a realização do projeto, assim, categorizando, analisando e discutindo o conteúdo encontrado.

4.  RESULTADOS E DISCUSSÕES

A reabilitação precoce após fraturas de quadril, especialmente em pacientes idosos, é amplamente reconhecida como um fator essencial para a recuperação funcional e a redução das complicações pós-cirúrgicas. Estudos recentes demonstram que intervenções físicas precoces, como mobilização e fisioterapia, podem melhorar significativamente os resultados pós-operatórios.

Elboim-Gabyzon et al. (2019) destacam que a aplicação de estimulação elétrica transcutânea (TENS) resultou em uma redução significativa da dor pós-operatória, além de melhorar a mobilidade dos pacientes nas primeiras fases do pós-cirúrgico. A técnica, embora ainda considerada experimental, tem mostrado potencial para acelerar a recuperação funcional logo após a cirurgia.

Siminiuc et al. (2024), em um estudo sobre a mobilização precoce, indicam que intervenções fisioterapêuticas focadas em mobilizações frequentes durante o pósoperatório imediato contribuem para melhores desfechos no momento da alta hospitalar. A mobilização precoce, além de melhorar a recuperação da mobilidade, auxilia na diminuição de complicações associadas à imobilização prolongada, como trombose e atrofia muscular.

Ambos os estudos, de Elboim-Gabyzon et al. (2019) e Siminiuc et al. (2024), convergem para a ideia de que intervenções imediatas e frequentes são cruciais para o sucesso da reabilitação, embora com metodologias diferentes – a utilização do TENS no primeiro caso e mobilização manual no segundo.

Karlsson et al. (2020) investigaram a eficácia da reabilitação domiciliar interdisciplinar, envolvendo fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e médicos geriátricos, e demonstram que essa abordagem resulta em significativas melhorias na independência das atividades diárias dos pacientes. O estudo enfatiza a importância de um acompanhamento contínuo e adaptado ao contexto do paciente idoso, que frequentemente apresenta limitações funcionais e comorbidades. 

Já Magaziner et al. (2019), por sua vez, exploraram a reabilitação domiciliar, com foco específico na melhoria da deambulação através de um programa de fisioterapia multifacetada. Embora ambos os estudos tratem da reabilitação domiciliar, Karlsson et al. (2020) ampliam a intervenção ao incluir uma equipe interdisciplinar, sugerindo que a integração de múltiplas especialidades pode trazer benefícios ainda maiores do que a simples aplicação de um protocolo fisioterapêutico.

A aplicação de diretrizes clínicas no tratamento pós-cirúrgico de fraturas de quadril é outro ponto central nas discussões recentes sobre reabilitação. McDonough et al. (2021) fornecem orientações baseadas na Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, abordando de maneira sistemática as necessidades de reabilitação para pacientes idosos. Tais diretrizes, segundo os autores, são essenciais para garantir uma abordagem padronizada e eficiente no manejo de fraturas de quadril, respeitando as especificidades do paciente idoso. 

Por outro lado, Che et al. (2023) reforçam a importância da prescrição individualizada de exercícios físicos como parte da reabilitação, mostrando que programas de exercícios bem estruturados podem melhorar significativamente a função motora e reduzir complicações como atrofia muscular e trombose. 

Enquanto McDonough et al. (2021) focam na importância das diretrizes clínicas para a padronização do tratamento, Che et al. (2023) enfatizam a personalização das intervenções, sugerindo que ambos os aspectos – diretrizes gerais e terapias individualizadas – são igualmente importantes para o sucesso da reabilitação pós-cirúrgica.

A análise desses estudos revela que a combinação de abordagens inovadoras e tradicionais oferece um caminho promissor para a reabilitação precoce pós-cirurgia de fratura de quadril. A utilização de tecnologias como o TENS, conforme apontado por Elboim-Gabyzon et al. (2019), combinada com práticas fisioterapêuticas manuais e exercícios prescritos individualmente, conforme defendido por Che et al. (2023), contribuem para a recuperação funcional dos pacientes. 

Além disso, os benefícios da reabilitação domiciliar interdisciplinar, como demonstrado por Karlsson et al. (2020), apontam que a colaboração entre diferentes especialidades pode ser decisiva para a otimização da recuperação, especialmente em pacientes com múltiplas comorbidades.

Nesse contexto, a revisão dos artigos do presente trabalho, identificou as principais intervenções fisioterapêuticas eficazes na prevenção do imobilismo em idosos pós-fratura de quadril, destacando melhora na funcionalidade dos pacientes, com diminuição do tempo de recuperação e redução de complicações associadas à imobilização. 

Evidencia-se, portanto, a importância de um protocolo de fisioterapia precoce e estruturado, com abordagens que favoreçam a mobilização precoce e a recuperação funcional, reduzindo as complicações típicas do imobilismo.

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão de literatura evidenciou que a intervenção fisioterapêutica precoce e estruturada é fundamental para prevenir o imobilismo em idosos pós-fratura de quadril. Entre as intervenções fisioterapêuticas mais eficazes, destacaram-se a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) para controle da dor pós-operatória, a cinesioterapia para recuperação da amplitude de movimento articular e força muscular, os exercícios terapêuticos específicos para melhora do equilíbrio estático e dinâmico, e a reabilitação domiciliar interdisciplinar para promoção da independência nas atividades de vida diária.

A abordagem interdisciplinar, envolvendo fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e médicos geriátricos, mostrou-se particularmente eficaz na reabilitação de idosos com múltiplas comorbidades, evidenciando a importância da integração entre diferentes especialidades para otimização dos resultados terapêuticos.

Os achados desta revisão reforçam a necessidade de implementação de protocolos fisioterapêuticos específicos para idosos pós-fratura de quadril, considerando suas particularidades funcionais e comorbidades associadas. Recomenda-se que futuras pesquisas investiguem a eficácia de novas tecnologias e abordagens terapêuticas, bem como a elaboração de protocolos específicos que considerem as diferentes fases da reabilitação e as necessidades individuais dos pacientes idosos.

REFERÊNCIAS

CHE, Yan-Jun et al. Effects of rehabilitation therapy based on exercise prescription on motor function and complications after hip fracture surgery in elderly patients. BMC Musculoskeletal Disorders, v. 24, n. 1, p. 817, 2023.

COSTA, J. F.; SILVA, M. A.; LIMA, R. S. Efeitos do imobilismo em idosos pósfratura de quadril. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 22, n. 1, p. 45-52, 2019.

ELBOIM-GABYZON, Michal et al. Effects of transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) on postoperative pain and mobility after hip fracture. Clinical Interventions in Aging, p. 1841-1850, 2019.

FAIRHALL, Nicola J. et al. Interventions for improving mobility after hip fracture surgery in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 9, 2022.

FREIRE, Gabriel H. E. et al. Panorama da morbidade hospitalar por fratura de quadril no Brasil. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 4, p.625-636, 2024.

HANDOLL, Helen H. G.; PARKER, Martyn J. Conservative versus operative treatment for hip fractures in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 3, 2008.

KARLSSON, Åsa et al. Effects of geriatric interdisciplinary home rehabilitation on independence after hip fracture. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 101, n. 4, p. 571-578, 2020.

MAGAZINER, Jay et al. Effect of home-based physical therapy on ambulation after hip fracture. JAMA, v. 322, n. 10, p. 946-956, 2019.

MCDONOUGH, Christine M. et al. Physical therapy management of older adults with hip fracture. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 51, n. 2, p.CPG1-CPG81, 2021.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Envelhecimento e saúde: um desafio global. Genebra: OMS, 2020.

ROCHA, Paula et al. Safety-promoting interventions for older adults with hip fracture. Journal of Personalized Medicine, v. 12, n. 5, p. 654, 2022.

SANTOS, L. S.; OLIVEIRA, A. R. Prevenção do imobilismo em idosos com fratura de quadril. Revista Brasileira de Fisioterapia Geriátrica, v. 12, n. 2, p. 130-138, 2020.

SIMINIUC, Daniel et al. Rehabilitation after surgery for hip fracture – impact of prompt and frequent physiotherapy. BMC Geriatrics, v. 24, n. 1, p. 629, 2024.


1Discentes do Curso de Fisioterapia – Centro Universitário Módulo
2Docente do Curso de Fisioterapia – Centro Universitário Módulo